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PPD/PSD: a "câmara alta" e a "câmara baixa"
É bem provável que, depois das "directas" de 31 de Maio, o PPD/PSD sofra mais uma "cisão". Nada de novo na "fisiologia" de um partido - "o mais português de Portugal" - onde convivem, desde sempre, duas "facções": a sua "câmara alta" (os "barões") e a sua "câmara baixa" (as "bases" e os seus "pastores" de circunstância). Sá Carneiro foi abandonado, logo em 1975, em Aveiro, pela então "câmara alta" com o pretexto de que ele era um perigoso e lunático "fascista". Vasco Graça Moura, por exemplo, lá estava na "linha da frente" destes "democratas". Os "barões" do PSD, pelo menos até aos anos oitenta, exibiam um terrível "complexo de esquerda" que se traduzia num temor reverencial perante o PS, Eanes, o Conselho da Revolução e as "conquistas revolucionárias". Imaginavam-se subtis e obviamente "socialistas". Em 1979, os que sobraram de Aveiro "partiram" o grupo parlamentar ao meio por causa do governo Mota Pinto, um dissidente de Aveiro que, menos de cinco anos depois, seria presidente do partido. Mais uma vez Sá Carneiro foi "acusado" de estar contra a "correcção" política da época que mandava não ser excessivamente contra o que estava.
Ou seja, até à vitória da AD, em Dezembro de 1979, Sá Carneiro era, para muita gente, um "populista" irresponsável. Para muitos, continuou a ser por causa da candidatura presidencial de Soares Carneiro. Quantos "barões" não correram a Belém a pedir desculpa a Eanes por "terem" de apoiar publicamente o infeliz general. E quantos não se fizeram de "distraídos" naquela derradeira campanha de Sá Carneiro. Os que ainda estão vivos, agora ao lado de Manuela Ferreira Leite, lembram-se certamente da figura que então fizeram. Sá Carneiro, para eles, nunca foi suficientemente "institucional", isto é, amante do "respeitinho" que veio a traduzir-se no "bloco central" (político e de interesses) desenvolvido a partir dos meados de oitenta, ora liderado pelo PS, ora pelo PSD. Muito do "baronato" que se tinha perdido pelo caminho por causa de Sá Carneiro começou a regressar. Outros "entraram" directamente às costas do "cavaquismo", o novo nome do "populismo" de outrora.
Velhos e novos "barões" acabaram por cansar Cavaco Silva que, em 1995, disse "basta". Daí em diante, o partido pertenceu-lhes sem nunca lhes ter exactamente pertencido. Logo no primeiro congresso pós-Cavaco, no Coliseu, a maioria da "câmara alta" esteve com Barroso mas perdeu para Nogueira na hora dos votos. Nogueira perdeu o País para Guterres e o partido, por falta de comparência das "notabilidades" desinteressadas pela falta do poder, entregou-se a Marcelo. uma intriga deu-lhe o pretexto para sair e passar a pasta a Barroso que estava "lá" quando Guterres fugiu.
As duas "câmaras" do partido uniram-se para levar a direita a um poder efémero, traído pela precoce saída de luxo do antigo maoísta para a Comissão Europeia. Santana Lopes é o que menos conta nesta miserável intendência. Ganhou na secretaria por recomendação expressa dos velhos e dos novos "barões" entretanto constituídos. Desperdiçou o que havia obtido em confronto directo com o eleitorado, em duas câmaras municipais, em nome da preservação, a qualquer preço, de um poder que Barroso e a sua ministra das Finanças haviam fragilizado, esta por causa da chamada "natureza das coisas". Lopes não percebeu que, ao recusar ouvir a nação, estava condenado. "Populista", disseram - e dizem - eles, hoje refugiados atrás de uma "nova" face, Ferreira Leite.
Marques Mendes foi o nome possível do interregno e o aceitável para as "elites". Obteve uma grande vitória autárquica sobre um Sócrates absoluto e, discretamente, apoiou o chefe de Estado. Estava a percorrer o difícil caminho para Damasco quando Menezes o derrubou. Menezes, em seis meses, tropeçou naturalmente no seu próprio impasse e na impaciência da "câmara alta" do partido.
Emergem Passos Coelho, Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, os dois primeiros da "câmara baixa" e a última da "câmara alta" do partido. Sucede que Ferreira Leite - e isto passou irresponsavelmente despercebido - disse para aí que, se sentir que não consegue derrotar Sócrates em 2009, vai-se embora. Quando? Três meses antes das eleições? Dois meses? Uns dias?
É por estas e por outras que termino como comecei. As "directas" de 31 de Maio não devem resolver nada de substancial. O PPD/PSD precisa "purgar" as duas "câmaras" que o têm vindo a minar. Se não for a bem, será a mal. No entanto, como na vida, às vezes há males que vêm por bem.
João Gonçalves (do blogue Portugal dos Pequeninos)
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