Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"(...) o país assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o país vive. Refiro-me a sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições em geral ... Foi essa sucessão, que criou uma grave crise de credibilidade do Governo (...)´´, ``(...) Entendi que a manutenção em funções do Governo, significaria a manutenção da instabilidade e inconsistência, entendi que se tinha esgotado a capacidade da maioria parlamentar para gerar novos Governos. Assim, e em face a uma situação cuja continuação seria cada vez mais grave para Portugal, entendi também em consciência, que só a dissolução parlamentar representava uma saída (...)".
Este texto quase poderia ter sido escrito por Montenegro nestes dias (se esquecermos as inevitáveis referências ao poder do Presidente da República em vez das circunstâncias de qualquer primeiro-ministro).
Não foi, foi escrito por Jorge Sampaio para justificar a dissolução de um parlamento, sem que, ao mesmo tempo, justificasse coisa nenhuma, porque nunca identificou que incidentes e declarações eram estas.
Naquela altura, tal como agora, o sistema político reagiu a um conjunto de opções da imprensa, que se repetiram noutras circunstâncias, como nos quatro anos de acusações a Passos Coelho (desde a Tecnoforma até à mais evidente deturpação de tudo o que dizia, passando pela promoção de qualquer grupinho de mais de uma pessoa que resolvesse inventar tretas sobre a situação do país, como a espiral recessiva e o segundo resgate que estava a ser preparado em Bruxelas, passando por grosseiras previsões económicas catastróficas, que nunca se verificaram).
E é sempre assim quando o PS está fora do poder, numa aliança objectiva de mau jornalismo e falta de escrúpulos por parte dos dirigentes do PS, que Sampaio institucionalizou no discurso de anúncio da dissolução do parlamento porque se "fartou de Santana Lopes", como anos mais tarde o próprio Sampaio disse.
Substância, nenhuma, conversa de taxista, a rodos.
Veremos que avaliação disto farão os eleitores, se preferem a progressiva degradação das instituições a que isto conduz, ou se preferem o reforço das instituições, penalizando os que vivem deste ambiente malsão, incluindo a penalização das opções da comunicação social que criam o caldo de cultura que tem vindo a contribuir fortemente para essa degradação das instituições.
Às vezes, com os inclementes apertos da vida, até o mais esclarecido crente, cede perante a fraqueza e reza pedindo a Deus que intervenha a seu favor. Como se o seu interlocutor fosse um maquiavélico arquitecto do destino de cada um, calculista ou indiferente à interferência que cada fenómeno terá nos infindáveis destinos que interagem na Criação, que cada criatura integra. Sou incapaz de julgar com severidade esta atitude, porventura ingénua, inocente, a que se usa chamar uma relação de cariz mercantilista com o Criador. O risco desse perfil de relação, com as situações pessoais mais trágicas, é a revolta e a zanga, perante o silêncio tornado ausência de Deus. Por isso somos convidados a confiar, a atender com humildade à passagem do Pai Nosso “Seja feita a Vossa Vontade”, a entrega incondicional da soberania da nossa vida ao Pai. Ou, no mesmo sentido, à resposta de Nossa Senhora ao Anjo Gabriel ‘Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,26-38).
Mesmo que muitas vezes isso vá contra os meus “interesses”, tidos como designação da “ordem” que eu gostava de ver à minha volta, no meu país e no mundo, tenho para mim que o Deus dos Cristãos é um Deus de Liberdade; ou seja não intervencionista. Mesmo que essa “abstenção” se confunda, nos momentos mais sombrios da existência, com ausência. A Liberdade que Jesus Cristo nos concedeu, únicos e irrepetíveis, desde logo em aderir ao seu Amor, de escolher o bem ou o mal, certamente estende-se a toda a criação, ao Universo. Uma coisa difícil de conceber, se atendermos às guerras ou desastres naturais e tantas trágicas injustiças, a que, por mais devotos que sejamos, nos constatamos impotentes para evitar.
Apesar de tudo isto, ou talvez também por isso, a oração, o diálogo com Deus, é absolutamente estruturante a quem pretenda permanecer crente na sua filiação. Em primeiro lugar, porque rezar é relação. Como no amor romântico ou filial, como numa amizade que se preze, a relação tem de ser alimentada, aprofundada, cultivada. Rezar é para isso fundamental. Interpelar Jesus Cristo, Deus nosso Senhor, na partilha das alegrias com que somos agraciados ou nas angústias que nos assaltam, é fazer relação, tirar a cabeça para fora da gruta de sombras e alienações que a nossa precaridade humana nos condiciona. Até o acto mecânico de rezar, continua e repetidamente, como acontece tantas vezes com um Terço oferecido a Nossa Senhora, ao final de um dia extenuante de trabalho, oferece-nos o benefício gratuito de libertação e relaxe das ansiedades e do fechamento.
Gosto muito da designação "Criador". Os Cristãos entendem que a relação do Criador com a Criatura é de Amor. A liberdade que outorga à Criação é também ela prova disso. Imagine-se que era ao contrário, que éramos condicionados, como marionetas, nos nossos gestos e atitudes, em prol de um quadro idílico… E depois, os crentes, assim como acreditam no poder da oração, acreditam que, sendo extremamente raros, os milagres, acontecimentos extraordinários que, incompreensíveis à luz dos sentidos, da inteligência e do conhecimento científico, acontecem.
Afinal a esperança acontece.
Antes de mais, gostaria de deixar claro que não faz sentido nenhum admitir-se que há uma cabala, só pessoas psicologicamente perturbadas, como Sócrates, é que se socorrem de teorias de conspiração para se defenderem de acusações.
De resto, nesta história toda de Montenegro, o único sítio em que se discute a teoria da cabala é num texto do Observador, sem uma única citação identificável, portanto, sem nenhuma certeza de que não seja tudo invenção do jornalista, incluindo as citações de terceiros que nem temos a certeza de que existam.
Este post começou a nascer na minha cabeça com uma notícia do Observador.
Depois de um dia ou dois a ser encharcado com a abertura de uma averiguação preventiva pelo ministério público, em função de três denúncias anónimas sobre a empresa da família Montenegro, fico a saber que denúncias são essas.
A primeira esgota-se no envio de uma fotocópia da primeira página do Expresso, nada mais que isso.
A segunda, é uma denúncia de de procuradoria ilícita, uma invenção de Alexandra Leitão (não a denúncia, mas a interpretação jurídica que suporta a acusação), denúncia essa sempre inútil porque a investigação do crime depende de queixa de interessados ou da Ordem dos Advogados.
A terceira é uma coisa qualquer de Ana Gomes sobre o papel dos casinos no branqueamento de capitais, sem nenhuma relação concreta com o assunto.
Acresce que li a primeira página do Expresso ("Montenegro prometeu, mas não entregou faturas da casa de Espinho à Polícia Judiciária"). Tanto quanto percebi, parece que o Expresso tem duas primeiras páginas diferentes.
Fui ler a notícia e parece que Montenegro entregou tudo à câmara e ao fisco, que a polícia judiciária consultou tudo e concluiu que não havia problema, mas o jornalista (e toda a estrutura editorial do Expresso) acha muito relevante que Montenegro tenha dito que ia entregar tudo à justiça e afinal tenha entregado às entidades competentes.
Para além de continuar a não dizer quanto foi o custo final da casa, coisa que o jornalista acha muito importante.
Para já não falar nas notícias diárias do Correio da Manhã, sugerindo esquemas (hoje era que os fiscais da câmara de Lisboa tinham sido aconselhados a não ir fiscalizar as obras das casas de Montenegro) levados a cabo por Montenegro, mas que nunca são confirmadas posteriormente, pelo menos, nos termos apresentados pelo jornal.
E ainda vou lendo comentadores, como Susana Peralta, hoje, no Público, que escreve esta coisa extraordinária "Mas será inconcebível que o lucro de uma empresa represente 87% da facturação?", sugerindo que é isso que se passa na empresa da família Montenegro, quando a informação sobre facturação e resultados líquidos é conhecida desde o debate da moção de censura do Chega, informação prestada por Montenegro nessa altura, e não tenho nenhuma relação com o que escreve Susana Peralta. Note-se que um zé dos anzóis como eu, a escrever num blog obscuro como eu, pode confundir conceitos económicos base ao ponto de chamar lucro a outra coisa qualquer, mas Susana Peralta é uma economista, professora de economia, numa das melhores escolas de economia e gestão do país.
A que propósito é que alguém convida Ana Gomes para comentadora do que quer que seja, se toda a gente sabe, de ginjeira, como funciona, ao ponto de não ser surpreendente que Ana Gomes apresente uma denúncia anónima sobre o matéria lateral, com o único objectivo de denegrir terceiros? Ou Anabela Neves?
Tenho ali guardada uma intervenção recente de Manuel Pinheiro para a ver depois das eleições do dia 18 de Maio, para ver se se confirma a minha tese de que a arrogância e auto-convencimento dos que decidem na comunicação social é um dos factores mais relevantes na promoção deste pântano mediático que se está nas tintas para a realidade, desde que possa ir alimentando histórias.
Sim, o nosso sistema político é fraquinho e muito permeável ao tráfico de influências e à corrupção, mas, em grande parte, limita-se a reagir a um contexto social, em que os jornalistas têm fortes responsabilidades na qualidade do debate público, que é miserável.
Se dúvidas houvesse, bastaria olhar para a forma como a generalidade da imprensa triturou Passos Coelho tanto quanto conseguiu, para agora o usar no papel de D. Sebastião para triturar Montenegro.
E para a forma simpática como sempre tratou Sócrates e António Costa, ao contrário de António José Seguro.
"Até quando teremos de suportar esta mediocridade?" pergunta João Miguel Tavares, cansado de toda a gente a quem recentemente os processos democráticos entregaram o poder em Portugal.
Não me interessa discutir se Montenegro é só esquemas, como alega João Miguel Tavares, o que me interessa é que, tenha cada um de nós a opinião que tiver, as acções ilegais são resolvidas pela polícia e o sistema de justiça, as acções não ilegais só têm uma maneira de ser resolvida, através das eleições.
A Democracia não é útil como processo de escolha dos melhores (nem as empresas empregam processos democráticos de escolha, nem os clubes de futebol fazem referendos para saber se contratam ou despedem alguém), a democracia serve para remover do poder aqueles a que, justa ou injustamente, o eleitorado quer retirar o poder, sem que para isso se tenha de recorrer à violência (a substituição de Passos Coelho, mesmo ganhando as eleições, por António Costa, é um bom exemplo de como os processos democráticos podem dar resultados sociais muito piores do que os que resultariam da avaliação racional do melhor para o país).
Nas actuais circunstâncias, podem-se escrever grandes tiradas sobre o que deveria ser o mundo ideal, ou pode-se olhar para as circunstâncias concretas das próximas eleições e avaliar qual é o melhor destino a dar ao voto que temos na mão (incluindo os que acham que se o voto é arma do voto, votando o povo, fica desarmado. O que é parcialmente verdade, até à eleição seguinte, o povo está desarmado).
Para além das escolhas de nicho (as pessoas que votam PAN porque querem pagar menos IVA nas consultas do veterinário, por exemplo), as próximas eleições servem para escolher um governo da AD ou do PS. Ou a AD tem um voto a mais que o PS, e governa, ou não tem, e governa o PS.
Quem quer um governo do PS, seja porque razão for, vota no PS, quem quer um governo da AD, ache ou não que Montenegro é só esquemas, vota na AD.
Sobra a enorme massa de eleitores que não querem um governo nem de um, nem de outro, sabendo, no entanto, que o governo será de um ou de outro (há os que acreditam, como disse André Ventura, que o Chega vai ganhar as próximas eleições, mas mesmo reconhecendo que isso não é impossível, parece-me suficientemente improvável que haja muita gente a acreditar nisso e as que acreditam têm o seu voto definido, tal como os que querem um IVA mais baixo nas consultas do veterinário).
Para essa grande massa de eleitores a pergunta central não é sobre quem querem no governo, é sobre quem não querem no governo, ou, usando o critério de João Miguel Tavares, quem nos deixa mais longe de ter de suportar esta mediocridade.
Estes, os que não querem nada do que vêem, mas querem ainda menos alguns que outros, há três votos úteis (úteis no sentido em que os votos são úteis para quem os recebe, não para quem vota).
Na AD, os que preferem um governo da AD a um governo do PS, na Iniciativa Liberal os que para além de preferirem um governo da AD a um do PS, acreditam que a AD vai ter mais um voto que o PS e preferem reforçar um parceiro potencial da AD.
Tudo o resto, que é como quem diz, os que acham pior ter um governo da AD a ter um governo do PS (o que inclui o voto no Chega que é, indirectamente, um voto a favor de um governo do PS), podem votar onde quiserem que o resultado prático é ter um governo do PS.
É poucochinho e era melhor que as alternativas fossem mais e melhores que esta melancolia?
Sim, é, mas o facto é que a escolha é entre achar-se que com um governo AD (no que se inclui um governo AD mais IL) estamos um bocadinho mais perto de suportar menos a mediocridade e achar-se que é com um governo do PS que o fardo de suportar esta mediocridade é menor.
Pronto, cá estamos na estaca zero, como aliás é nosso hábito. A história foi feia demais e não vale a pena repeti-la: a Esquerda tem força bastante para erguer versões amacacadas e quem a avaliará e daí tirará as devidas ilacções é o eleitorado; o que nesse domingo de Maio se decidir levantar da cama e ir às urnas...
Fica apenas a nota absolutamente factual dos esforços do PSD (que eu jamais faria) para que o Governo não caísse: as sucessivas delongas da sessão parlamentar - agora uma CPI em 15 dias, depois uma CPI em 60 dias..., e a arrogância de um PS profeta das negociações sem, simultaneamente, tirar uma vírgula à sua posição inicial.
Um espectáculo vergonhoso. Quanto mais sobe a oferta mais barato de torna o produto, mais escasseia a procura. O PSD acabou quase mendigando a aprovação da moção de confiança. Dando o flanco para que, do Chega ao PS, interpretassem o seu gesto como de medo de Montenegro face às consequências da CPI.
Afora a perda de tempo (e de eventuais prazos europeus para de lá trazer o metal sonante), nada de muito grave deverá suceder. A nova versão das três M's (Martins, Matias & Mortágua) tenderá a desaparecer do mapa e o PCP espera-se que não, em nome da profundidade discursiva e da bondade de Paulo Raimundo; o Livre é capaz de roubar umas sardinhas às três M' que, mesmo não sabendo cozinhar, ficarão furiosas. O PS não subirá e o Chega desce. Haverá votos a redistribuir e estou em crer que, quer a AD, quer a IL serão recompensados pela seriedade e coerência do seu trabalho.
Somos já dois a pensar assim: eu e o meu barbeiro. Com a diferença de que eu vou votar e ele não, diz que não lhe pagam para andar a "correr para lá". Não o contesto, não tenho coragem de o contestar...
Há muitos anos, no fim do curso, uma das minhas filhas tinha duas propostas de trabalho muito diferentes, quer no que lhe ofereciam, quer na natureza das tarefas, e ela, estando muito hesitante, pediu-me opiniões.
Na altura falei com um amigo meu ligado à gestão que me lembrou que as coisas tinham mudado desde que começámos a trabalhar, e estes miúdos não teriam empregos, teriam carreiras. Assim sendo, o mais sensato seria escolher a oferta que a deixasse em melhores condições no dia, inevitável, em que teria de sair do sítio para onde estava a entrar.
Mais tarde, quando outra das minhas filhas trabalhava na McKinsey, e eu pragueja contra a violência moral das condições de trabalho a que são sujeitos os miúdos que começam nas consultoras que seguem o modelo de negócio da McKinsey, ela lembrava-me, provavelmente com razão, que a principal razão para ser útil trabalhar para eles não era o que se passava naquele momento, mas a posição muito favorável em que se saía dessa consultora para outro lado em que houvesse condições de trabalho decentes.
A Montis, como empregadora, não deve ser o paraíso, paga relativamente mal, o futuro do emprego é relativamente incerto e o trabalho nem sempre é o mais fácil, o que justifica, pelo menos parcialmente, uma rotação dos seus trabalhadores maior do que eu acharia desejável.
Mas há, tanto quanto percebi, uma boa razão para essa elevada rotatividade: para quem queira trabalhar em conservação da natureza e em gestão do território, a Montis é uma boa escola, que investa e apoia o reforço da formação dos seus trabalhadores e, de maneira geral, quando as pessoas saíram da Montis, saíram para situações mais favoráveis cuja oportunidade foi aberta pelo seu trabalho anterior na Montis.
A direcção da Montis mandou ontem um mail aos seus sócios dando conta de que, tendo tudo acertado para a contratação de uma nova pessoa na Sexta-feira passada, na Segunda foi tudo por água abaixo, por desistência da pessoa a contratar.
Ontem, os EUA e a Ucrânia, conseguiram chegar a acordo na proposta, á Rússia, de um mês de cessar-fogo. O congelamento de apoio pelos EUA foi levantado. A proposta de acordo, muito provavelmente, será rejeitada pela Rússia.
Juntando este episódio, com o que se passou na Casa Branca, parece mais clara a estratégia geral de Trump. Em primeiro lugar, dar espectáculo. Fazer grandes demonstrações publicas, mesmo recorrendo á mais lamentável grosseria, de que é um indómito defensor dos interesses americanos, que não subordina a ninguém, nem a nenhumas justificações fofinhas. O que poderá calhar bem para o que ele considera ser o seu eleitorado (para alem de massajar o seu ego). Em segundo lugar, “explicar”, um percurso. Já não determinado com base em princípios abstractos, mas num claro roteiro. Demonstrou não estar ao lado da Ucrânia, que humilha e ofende. A quem corta, imediatamente o apoio. Para escassos dias depois, do alto do seu poder, obrigar a uma proposta de cessar-fogo, que imediatamente levanta o apoio que retirou. Torna-se um paladino da paz, abre o campo, (como desejo) para poder continuar a apoiar uma guerra, caso se verifique a esperada recusa da Rússia (finalmente quem deseja a guerra), que disse estar a ser mal-conduzida, que acabaria em 24 horas. Como poderia continuar a fazer o mesmo se tudo o resto nao mudasse? Ao mesmo tempo, consegue o que nenhuns presidentes, pelo menos desde Obama, tinham conseguido: que a Europa comece verdadeiramente a pensar ter de pagar pela sua defesa.
Trump tem um estilo indecoroso, mas é muito prematuro declarar que é um espião avençado de Putin, ou desprovido de qualquer tipo de eficácia.
O das tarifas é mais absurdo, mas também pode ter uma explicação, se não razoável, pelo menos compreensível. A grande base de apoio de Trump, são os menos favorecidos com a globalização, os trabalhadores indiferenciados que passaram a sofrer a concorrência de biliões de trabalhadores do resto do mundo. Não vivem pior do que viviam. Mas não prosperaram tanto como os trabalhadores menos indiferenciados, que hoje votam maioritariamente no partido democrático.
Esses trabalhadores querem repor a sua importância relativa e, para isso, á falta de políticas de redistribuição de rendimento (a mais adequada), ou aumentos significativos do salário mínimo (com custos económicos evidentes), acreditam que o caminho é reduzir a sua concorrência enquanto grupo laboral. Internamente, limitando a entrada de emigrantes, externamente, impedindo a concorrência de produtos industriais mais baratos, impondo tarifas esdrúxulas.
No combate aos emigrantes, a agressividade e brutalidade publica que coloca no tema, é contrabalançada por números mais baixos de deportações do que nos últimos tempos de Biden.
Não é impossível que Trump não perceba os benefícios do comercio internacional. Mas até declarou esperar uma recessão por via da imposição de direitos alfandegários. Mais uma vez, no entretanto, estará a fazer o que prometeu ao seu eleitorado.
É certo que Trump não se mostra um líder responsável, equilibrado, previsível e com valores consagrados no cerne das suas políticas. Não é certo que Trump não siga uma lógica, pouco elegante, e que em alguns casos não o tornam diferente de qualquer político tradicional. O cuidado com a base eleitoral, os votos, os desejos de parte da população americana, parecem explicar muitas das acções do actual presidente.
"Primeiro, quando o primeiro-ministro, perante a moção de censura do Chega, escolheu tergiversar, falando entre outras coisas, da recuperação de uma adega familiar, enquanto ocultava os contornos problemáticos da sua Spinumviva. ... Depois, soube-se que, contra todas as expectativas e ameaçando a razoabilidade, afinal as avenças da Spinumviva se mantinham activas. ... Entretanto, as pontas soltas iam-se acumulando: dos serviços de reestruturação de um grupo gasolineiro à aquisição a pronto de imóveis em Lisboa...". (Pedro Adão e Silva, hoje, no Público).
À força de ouvir o Bloco de Esquerda e o PS, entre outros agentes políticos, repetir à exaustão que Montenegro poderia ter matado o assunto que levou à queda do governo se, logo na moção de censura do Chega, escolhesse falar a sério da sua empresa, em vez de falar do número de laranjeiras que tinha e tentar vender a ideia de que a empresa que tinha feito era para gerir as suas heranças, comecei a duvidar de quando seria o momento em que o tinha ouvido descrever a actividade da empresa com pormenor, incluindo facturação e resultados, e descrever os clientes e serviços prestados, mesmo sem citar os seus nomes.
Poderia ter sido só na moção de censura do PC e, para além disso, não eram só os agentes políticos activos (e avençados como Pedro Adão e Silva, que é um avençado do Público, legitimamente, claro), era mesmo grande parte da comunicação social que, por acção ou omissão, não contestava esta ideia de que Montenegro disse tudo o que era relevante sobre a empresa, logo na sua primeira intervenção no debate da moção de censura do Chega.
Fui ver, como o Augusto Gil, e sugiro a qualquer pessoa que tenha dúvidas que comece a ouvir a partir do minuto vinte do debate da moção de censura do Chega.
É claríssimo, mas de uma limpidez cristalina, "mais branca que a neve pura", que a afirmação de que Montenegro andou a tergirversar e a falar de laranjeiras e a oferecer terrenos em vez de explicar, tintim por tintim, o que era e o que fazia a Spinumviva, é mentira.
Tal como com Cavaco, tal como com Passos Coelho, a questão central é que a esquerda tem carta de alforria para dizer as mentiras que quiser por parte de uma comunicação social de rastos e que esquece o essencial das regras da sua profissão, começando pela necessidade de verificação dos factos e a proibição do uso de fontes anónimas quando não existe qualquer risco potencial para essas fontes.
E é por isso (conheço bem o processo, a uma escala completamente diferente é o que acontece comigo em relação à calúnia permanente de que estou vendido, ou pelo menos rendido (há uns que acham que nem consigo vender o que digo, embora tente), aos interesses das celuloses) que Montenegro, ou qualquer outro político de que a imprensa não goste (também acontece com alguns de esquerda), não ganha nada em estar a dar trela aos jornalistas sobre um assunto sobre os quais eles tenham ideias perfeitamente definidas.
Não é preciso nenhuma cabala para isto acontecer, é o resultado inevitável das condições objectivas de produção, como diria o PC.
Como me dizia um comentador que tinha levantado a hipótese (sem qualquer base factual) de que o pico de facturação da Spinumviva em 2022 decorria das necessidades de financiamento de Montenegro para concorrer a presidente do PSD), quando o confrontei com a mais completa ausência de indícios nesse sentido, "não gosto de videirinhos".
E isso chegava-lhe, como chega a muita gente, para dizer as maiores alarvidades que contribuam para a degradação geral do debate público, sem que a comunicação social confronte quem quer que seja com as evidentes mentiras convenientes usadas na discussão pública.
Há de facto uma degradação das instituições, pode ser que Montenegro contribua para isso, Alexandra Leitão é uma verdadeira especialista nessa matéria (veja-se a forma como torpedeou qualquer discussão racional sobre os contratos de associação das escolas) mas é à falta de qualidade do jornalismo que temos de assacar grande parte da responsabilidade do que se passa na discussão política das democracias liberais ocidentais (é um quase pleonasmo, este "ocidentais", porque praticamente não há outras democracias liberais).
"Uma das suas fontes de rendimento em 2021 foi uma empresa de consultoria que criou em janeiro desse ano, com a mulher, Carla Neto Montenegro, e os dois filhos, dando como sede a nova casa da família. A Spinumviva, Lda, é uma consultora “de gestão e exploração agrícola, turística e empresarial”, que inclui no seu objeto de atividade a “orientação e assistência operacional às empresas ou a organismos (inclui públicos) em matérias muito diversas, tais como planeamento, organização, controlo, informação e gestão”, entre outros serviços.
O político teve 62,5% das quotas da Spinumviva até desistir delas e do cargo de gerência, que partilhava com a esposa em junho de 2022, após ter sido eleito presidente do PSD. A empresa faturou €68.000 em serviços prestados durante o seu primeiro ano, de acordo com o relatório e contas que apresentou. Há um ano Carla Montenegro passou a assumir 72,5% das quotas e a função de sócia-gerente".
Esta citação é de uma notícia do Expresso, de Maio de 2023, reforço, Maio de 2023. Na altura o foco da intriga era identificado no título da notícia: "Montenegro não declarou valor de casa com seis pisos", e o jornalista que escrevia a peça era Micael Pereira.
Nada na peça parecia ser relevante, pura coscuvilhice embrulhada numa suposta procura de transparência e legítimo escrutínio jornalístico.
Claro que o assunto foi cavalgado por adversários políticos de Montenegro (e os moralistas habituais nestas coisas, que alimentam o populismo), culminando numa denúncia anónima que obrigou o Ministério Público a investigar o assunto (já não era uma questão de declaração no tribunal constitucional, mas sim de favorecimento no licenciamento e na atribuição de um benefício fiscal), mas a origem é uma opção jornalística evidente, a de contrabandear coscuvilhice como jornalismo.
Sem surpresa, no dia 2 de Dezembro de 2024 (um ano e meio depois), depois de muita acusação infundada com base na opção jornalística citada, o Observador (como outros jornais), lá aparece com a notícia de que o inquérito tinha sido arquivado e não se viam sinais de qualquer irregularidade (nem mesmo na disparidade entre os gastos com a casa e os rendimentos de Montenegro, que a notícia citada inicialmente referia como sendo de cerca de 200 mil euros anuais, ou seja, 14 mil euros mensais, 14 meses, um bom rendimento, mesmo descontado as pesadas cargas fiscais que existem em Portugal para este tipo de rendimentos).
O Expresso, e o mesmo jornalista, voltou mais recentemente à carga, apesar de estar fartinho de saber da empresa da família Montenegro, como se demonstra pela citação que fiz da notícia de 2023.
A técnica jornalística é a mesma, contrabandear coscuvilhice como escrutínio jornalístico (como se demonstra pela frase com que abre a peça citada "A relação entre o grupo Solverde e Luís Montenegro é antiga e ainda não terminou", insinuando que Montenegro continua a manter relações profissionais com a Solverde).
Os jornalistas argumentam que é assunto com muito interesse porque a concessão do casino está a acabar e vai ter de ser decidida, portanto esta relação que se mantém (de acordo com o boato que os jornalistas promovem) revela um conflito de interesses que justifica toda a devassa subsequente.
A peça do jornal é toda sustentada numa característica transversal a quase todo o jornalismo actual e que consiste em fazer perguntas sem interesse nenhum, em tom de suspeita (por exemplo, o Observador, para noticiar que Montenegro respondeu às perguntas dos partidos, lista uma série de coisas que não se sabe, destacando a momentosa questão de não se saber quem foram os clientes responsáveis por 16% da facturação da empresa, sem que, naturalmente, os jornalistas do Observador se sintam obrigados a justificar qual é a relevância dessa informação).
Claro que os adversários políticos de Montenegro cavalgam as oportunidades criadas pela comunicação social, e o Partido Socialista decide fazer uma comissão de inquérito para poder ter acesso à documentação de uma empresa privada, sem que consiga explicar que indícios tem de que Montenegro mente, criando dúvidas razoáveis da prática de ilícitos que justifiquem uma devassa proto-judicial a terceiros.
É a coligação entre agentes políticos populistas (quer nos partidos, quer no comentariado) e uma comunicação social que desistiu de responder aos seus leitores e prefere falar em circuito fechado dentro de bolhas sociais completamente imunes à realidade, que irá ser referendada nas próximas eleições legislativas antecipadas.
Se Montenegro ganhar as eleições, é claríssimo que grande parte dos eleitores não atribuem ao jornalismo mais credibilidade que o Bloco de Esquerda atribui ao Chega, porque nenhum primeiro ministro acusado na imprensa (directa ou insidiosamente) como tem sido Montenegro poderia ganhar eleições, se a imprensa tivesse uma credibilidade sólida.
E imprensa sem credibilidade faz tanta falta como uma viola num enterro, como a falência de tantos jornais de facção demonstra, com especial destaque para o jornal que se apresentava como "a verdade a que temos direito".
P.S. Pedro Nuno Santos terá mentido de forma evidente na entrevista que deu ontem. As notícias não são de que mentiu, mas sim de que é acusado de mentir, escusando-se os senhores jornalistas a fazer o necessário escrutínio e apresentar aos seus leitores as suas conclusões. Depois queixem-se da crise da imprensa
Ensopado na rua ou a ver da janela as longas horas e dias de chuva torrencial, a saber das notícias de tempestades e trombas de água em todo o país a cada dois dias de três, vou imaginando: será que quando faltar água de bebida ou de rega em Agosto a culpa ainda vai ser das alterações climáticas?
A Montis continua a ter o saudável hábito de, todos os meses, mandar uma carta aos seus sócios para prestar contas do dinheiro que lhe é entregue.
Foi nessa carta que fiquei a saber que, no ano fiscal de 2023, houve umas quantas pessoas que decidiram alocar 0,5% do seu IRS à Montis, do que resultou um valor total de 5400 euros, entregues a semana passada pelas finanças.
Quando há pouco mais de dez anos quatro pessoas decidiram fazer a Montis (estas coisas são tão voláteis que as divergências de pontos de vista fizeram com que uma delas tenha saído do processo, mesmo antes de se ter conseguido formalizar a associação), tentou-se ver o que poderia ser a Montis daí a dez anos (ou seja, hoje).
Uma das coisas que se pretendiam (provavelmente aquela em que mais longe, negativamente, se ficou, em muitos outros aspectos foram ultrapassados os objectivos pretendidos) seria ter 750 sócios, a pagar uma quota anual de 20 euros, para que houvesse 15 mil euros por ano exclusivamente dependentes da capacidade da associação demonstrar a sua utilidade para pessoas comuns.
A ideia era de que seria bom pagar um secretariado que garantisse a independência da associação e a sua capacidade de funcionar, tanto mais que, estatutariamente, os membros dos órgãos sociais eleitos não podem prestar serviços à associação (já agora, até porque esta parte dos estatutos teve uma forte influência minha, isto distingue-me de Montenegro, a mim não me interessa manter zonas cinzentas que permitam dúvidas escusadas, mesmo quando são perfeitamente legais e aceitáveis, pelos custos reputacionais de longo prazo que podem trazer).
Hoje a Montis tem cerca de 350 sócios, a pagar uma quota de 25 euros, ou seja, directamente com origem nas quotas dos sócios estaremos a falar de cerca de 8 750 euros, longe dos tais 15 mil euros pretendidos (e isto sem entrar com a inflação destes 10 anos).
Mas há dez anos não se considerou a possibilidade de consignação do IRS, portanto, a base assente na vontade dos sócios e não sócios, assente na consignação de 0,5% do IRS e nas quotas dos sócios, dá origem a valores totais em torno dos 14 mil euros.
É já um valor bastante próximo dos 15 mil euros pretendidos, o que é uma fortíssima garantia de que a Montis se mantém dependente da vontade dos seus sócios e não de qualquer outra fonte de recursos (doações, patrocínios empresariais, projectos, etc.).
Com isso reduz-se também o risco do interesse dos seus funcionários em garantir o seu emprego desviar os recursos para os projectos com mais capacidade de atrair financiamento, mesmo que menos alinhados com os interesses dos sócios.
Para o ano fiscal de 2024, cuja declaração de rendimentos vai ser feita nos próximos meses, a consignação passou de 0,5% para 1%, como tinha assinalado aqui.
Se, como espero, continuar a haver pelo menos 350 pessoas a pagar quotas e um número indeterminado de pessoas a consignar o seu IRS à Montis, com a alteração da possibilidade de consignação de 0,5% para 1% o tal objectivo de ter o funcionamento base da Montis assegurado apenas pelos sócios parece-me perfeitamente plausível.
E a Montis é uma pequeníssima organização com objectivos muito focados, a produção de biodiversidade através de uma gestão de terrenos com esse objectivo.
O que esta medida de política significa para dezenas de outras organizações a que o Estado reconhece utilidade pública é muito relevante e traduz-se, forçosamente, no reforço da autonomia da sociedade civil face ao Estado.
O que me deixa muito satisfeito.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.
Palavra da salvação.
"enquanto primeiro-ministro, Montenegro detinha uma empresa com a mulher e os filhos, com sede em sua casa e o seu telemóvel como contacto, que continuou a prestar alegados serviços a um conjunto de clientes empresariais, angariados pelo próprio nas suas redes de influência política regionais. Sendo que o negócio de uma parte significativa desses clientes depende de concessões, decididas pelo Governo. ... trata-se de uma conduta não compatível com o exercício da função. ... o que já se sabe basta para não sabermos mais. ... bem mais funesta é a ideia de que o plesbiscito amnistia ilícitos ou práticas eticamente reprováveis."
Pedro Adão e Silva, no Público de hoje, a ser-me muito, muito útil para fazer um resumo do que tenho escrito sobre isto.
O texto que cito parece-me exemplar como resumo dos factos, mas também exemplar na demonstração das técnicas de manipulação para criar insinuações ilegítimas e contrabandear mentiras.
"enquanto primeiro-ministro, Montenegro detinha uma empresa com a mulher e os filhos, com sede em sua casa e o seu telemóvel como contacto"
Isto é factual e não tem nenhum problema, é legal e é legítimo que um primeiro ministro seja dono de uma empresa familiar, desde que não exerça nenhuma função nela (porque está em exclusividade de funções), não pratique nenhum acto do qual resultem conflitos de interesses e que a declare, incluindo actos ou actividades que possam configurar conflitos de interesses potenciais. Se a empresa é familiar, é normal a sede ser a casa de família. O telefone de contacto ser o que está no acto de constituição na sociedade não tem nenhuma relevância (a empresa vive da rede social da família, portanto não tem grande necessidade de outros meios de contacto que não os pessoais) e só é referido na caracterização da empresa para insinuar uma excepcionalidade que não existe (há milhares de empresas no país que funcionam assim e muitas mais que, não funcionando hoje assim, começaram assim).
"que continuou a prestar alegados serviços a um conjunto de clientes empresariais".
A primeia malandrice que pretende dar força a insinuações de ilegitimidade está neste "alegados", como se houvesse dúvidas de que os serviços foram prestados. Dúvidas teóricas qualquer um pode ter e são legítimas, mas qualquer pessoa pode fazer o que fiz: perguntei ao Observador como geria as obrigações decorrentes do Regulamento Geral de Protecção de Dados (talvez faça um post sobre a resposta, um dia destes). Ou seja, objectivamente não há nenhuma razão para aquele "alegados" para além da vontade de fazer uma insinuação sonsa.
"clientes empresariais, angariados pelo próprio nas suas redes de influência política regionais", sim, os clientes foram angariados por Montenegro para a empresa, quando o podia fazer, e fazem parte do activo da empresa, quando ele sai, uma demonstração de que, embora essencial num primeiro momento de angariação e início de actividade, a empresa se tornou autónoma num segundo momento. Mas, lá vem outra vez a sonsice da insinuação, "redes de influência política regionais", em vez de descrever o que é normal numa pequena empresa familiar de consultadoria em fases iniciais, a dependência da rede social dos promotores da empresa para a angariação dos seus primeiros clientes. O que está a ser dito é que os accionistas da Solverde e da Ferpinta (cuja actividade política é desconhecida) são condicionadas politicamente por Montenegro, o que é evidentemente absurdo e só se compreende quando se quer desvalorizar as explicações que Montenegro deu: os accionistas dessas empresas são amigos de Montenegro há muitos anos (o que, acrescentou Montenegro, o impediria sempre de tomar decisões sobre elas, independentemente de quaisquer relações profissionais).
"trata-se de uma conduta não compatível com o exercício da função" é a frase que explica as insinuações antes feitas, é apenas a partir de uma visão conspiracionista que a frase é sustentável, porque não tem qualquer sustentabilidade nos factos, se lhes retirarmos as insinuações.
"bem mais funesta é a ideia de que o plesbiscito amnistia ilícitos ou práticas eticamente reprováveis", era aqui que Pedro Adão e Silva queria chegar (o título da crónica demonstra-o, se houvesse dúvidas), ao novo argumento do PS para continuar, depois de perder as eleições (o argumento só tem interesse para essa hipótese, se o PS ganhar é um instante enquanto toda a gente que diz que as eleições não legitimam o comportamento de Montenegro passar a dizer que o povo demonstrou que não quer o comportamento de Montenegro), a usar o ataque pessoal em detrimento do ataque às políticas, na sua acção.
Só que, mais uma vez, Pedro Adão e Silva (e muitos mais gente, até de forma mais primária, Pedro Adão e Silva é bastante mais sofisticado que a maioria dos comentadores) faz uma malandrice, almalgando coisas certas (as eleições não lavam ilícitos, as questões de polícia não se resolvem com vitórias políticas, coisa sobre a qual já escrevi há mais de quinze anos a propósito de uma pessoa que nunca, mas nunca, me mereceu confiança e muito menos apoio político), com coisas absurdas, como dizer que as questões éticas e de carácter não se resolvem em eleições.
Se não for essa a via pela qual as pessoas comuns julgam o carácter, a ética e comportamento legal dos políticos, qual é a via alternativa?
"“Há margem para não haver eleições e eu faço esse apelo ao primeiro-ministro: se está preocupado com a estabilidade política no nosso país, não avance com a moção de confiança. Nós garantimos, da nossa parte, que não aprovaremos moções de censura, por razões de defesa da estabilidade”, afirmou Pedro Nuno Santos."
Há quem ache que a empresa da família Montenegro é apenas uma fachada para que Montenegro receba uns pagamentos de empresas privadas interessadas em influenciar as decisões do Governo. Entre estes está muita gente relevante do PS, ao ponto de, no Parlamento e em declarações formais (não num aparte qualquer), dizerem que o Primeiro-Ministro é um avençado.
Naturalmente, para quem pensa isto, não há discussão possível sobre a permanência do Primeiro-Ministro, é preciso removê-lo e, naturalmente, desencadear os processos judiciais que possam levar Montenegro à cadeia por "mercadejar" o seu cargo.
Há quem pense que a empresa da família Montenegro tem actividade real, mas os serviços são prestados por Luís Montenegro, em violação da constituição e das suas obrigações de Primeiro-Ministro. Entre estes está muita gente relevante relevante do PS que tem dito formalmente isto, nomeadamente em declarações oficiais do partido.
Naturalmente, para quem pensa isto, não há discussão possível sobre a permanência de um Primeiro-Ministro que viola grosseiramente as suas obrigações constitucionais, é preciso removê-lo e, se o Presidente da República não o faz como deveria, por estar em causa o regular funcionamento das instituições, é preciso removê-lo eleitoralmente.
Com mais ou menos variações sobre esta duas hipóteses, há um monte de gente que, partindo do princípio de que a mulher de Montenegro é uma dondoca inútil (Pedro Adão e Silva, por exemplo, acha que sendo ela educadora infantil, omitindo a sua segunda licenciatura, não tem hipótese de ter qualquer relevância na empresa, critério que, aparentemente, não aplicou a Aida Tavares, igualmente educadora infantil de formação) e os filhos uns incapazes de contribuir para a actividade de empresas a sério, por serem muito novos (não sendo como o pai de Pedro Nuno Santos, que fundou a sua empresa com 24 anos, com certeza sem quaisquer clientes, fornecedores e know-how iniciais angariados no seu círculo social), entende que tudo isto "cheira a esturro", como defende Susana Peralta.
E há os que, como eu, acham que dizer que os filhos são testas de ferro dos pais cheira a esgoto e é um bom indicador de que quando faltam factos, qualquer insinuação de belo recorte literário serve para denegrir terceiros, invertendo o ónus da prova, e considerando as pessoas e as empresas como criminosos que têm de provar a sua inocência (não, não sou eu que invento "o negócio dos casinos é melindroso, a vários títulos. Por um lado, depende de concessões do Estado ... Por outro lado, o jogo é uma actividade regulada muito para além da própria concessão ... Acresce que o negócio do jogo é permeável a actividades de financiamento do terrorismo e branqueamento de capitais e está sob a alçada da respectiva lei ... convém recordar que Portugal teima em não transpor a última Directiva Antibranqueamento de Capitais da União Europeia", etc., etc., etc., a propósito do facto de uma empresa que presta serviços de gestão de dados pessoais a outra empresa que opera legalmente, entre outras actividades, casinos).
Entre os diferentes grupos que acreditam numas e noutras coisas a discussão é infrutífera porque escasseiam os factos e abundam as suspeições, processos de intenções, percepções subjectivas e outras coisas que tais.
O que é manifestamente absurdo é o PS, por ausência de esclarecimento de Montenegro, dizem eles (embora não consigam explicar em que medida todos os esclarecimentos que pedem alteram a ideia de que a empresa é uma fachada ou depende do envolvimento do primeiro ministro na sua actividade) estar convencido de que o primeiro ministro é um avençado e não exerce o seu cargo em exclusividade e, ao mesmo tempo, estar a pedir-lhe para em nome da estabilidade (isto é, da manutenção de um avençado que é primeiro-ministro em part-time), retirar uma moção de censura que permitirá remover este bandido da chefia do governo.
Acho que já aqui o disse, mas não faz mal repetir-me: a política está uma coisa cada vez mais desagradável de seguir. É verdade que esteve bastante mais feia no período do PREC, mas a emergência que então se vivia, obrigava-nos a seguir os acontecimentos, mesmo que por vezes assustados. Hoje, a concorrência desenfreada dos inúmeros canais de notícias a transmitir “conteúdos” baratos em directo, ou seja, comentários repetitivos e previsíveis sobre o escândalo do momento, causa-me um enorme enfado. O problema é que o modelo de negócio das notícias capturou para a mesma lógica os partidos políticos, que de forma mais ou menos histriónica ou populista, num círculo vicioso, vão alimentando este circo infernal. Para mais, as pessoas mais interessantes de ouvir, que não gostam de insultos e berrarias, vão-se retirando desta ribalta contaminada – como os melhores na política.
Para um país cada vez mais disfuncional como o nosso, carente de tantas profundas reformas e de soluções de longo prazo (experimente-se andar de comboio, acorrer a uma urgência de hospital, ou a tantos outros serviços públicos) o fenómeno é dramático. A agressividade tóxica que vem invadindo o debate público, tornou-se numa cortina de fumo. Se por um lado isso aliena muitos dos protagonistas dedicados nesse jogo fatal, indiferentes às soluções quase sempre complexas, unicamente centrados em desqualificar o adversário, pelo outro afasta aqueles poucos que desinteressadamente resistem preocupados com a coisa pública.
Para todos esses, interessará saber que sucesso lhes reserva este estado de coisas, na sua luta quotidiana, pelo seu emprego, pelo seu negócio ou empresa, pela educação e saúde dos seus filhos e mais velhos. Esse mundo de fora da bolha não quer ser incomodado com intrigas, politiquices estéreis e escândalos insondáveis. Nada disso nos fala de soluções, de alternativas, de futuro. Nem da demografia, nem da sustentabilidade do país que ambicionávamos.
Se, sobre os comportamentos e opções da vida privada do primeiro-ministro recai suspeita de alguma ilegalidade, que o Ministério Público investigue tudo até ao osso. A devassa é uma legítima prerrogativa da Justiça.
O Partido Socialista entende que ao abrigo do art.º 13, nº3, alínea b, sub-alínea i) da lei 52/ 2019, de 31 de Julho, se justificam uma série de perguntas sobre a sociedade na qual Montenegro tem interesses por via da sua mulher, nomeadamente, lista de clientes, afectação de colaboradores, e mais umas quantas coisas do mesmo tipo.
Passo a citar as normas em questão.
"1 - Os titulares de cargos políticos e equiparados e os titulares de altos cargos públicos referidos nos artigos 2.º e 3.º, bem como os referidos no artigo 4.º apresentam por via eletrónica junto da entidade legalmente competente a definir nos termos do artigo 20.º, no prazo de 60 dias contado a partir da data de início do exercício das respetivas funções, declaração dos seus rendimentos, património, interesses, incompatibilidades e impedimentos, adiante designada por declaração única, de acordo com o modelo constante do anexo da presente lei, que dela faz parte integrante. ... 3 - A declaração referida também deve incluir os atos e atividades suscetíveis de gerar incompatibilidades e impedimentos, designadamente: ... b) A inscrição de interesses financeiros relevantes, que compreende a identificação dos atos que geram, direta ou indiretamente, pagamentos, designadamente: i) Pessoas coletivas públicas e privadas a quem foram prestados os serviços;"
O PS resolveu fazer uma interpretação maximalista (ou melhor, uma interpretação oscilante, que distingue empresas a sério de empresas de familiares de consultoria) destas normas, interpretação essa que significa que qualquer empresa de qualquer de político teria a sua lista de clientes devassada (por exemplo, uma ministra casada com um cabeleireiro em comunhão de adquiridos teria de expor a lista de clientes do cabeleireiro por se entender que qualquer pagamento de serviços ao cabeleireiro é um pagamento indirecto à ministra) a pedido de qualquer pessoa, com o objectivo de qualquer pessoa poder avaliar se há conflitos de interesse potenciais.
Na verdade, isto constitui uma inversão do ónus da prova, passa a partir-se do princípio de que as pessoas não cumprem a lei, e por isso se exige este nível de escrutínio, em vez de se partir do princípio de que quem acusa tem de indiciar o incumprimento da lei que justifica a investigação das entidades competentes.
Que o PS faça isto, nada contra, discute-se nas eleições, mas tenho pena desta degradação do PS pelo que implica de fragilização institucional, substituindo a discussão política pela investigação policial.
Em 1985, Almor Viegas, com o apoio do BPA (Banco Português do Atlântico), criou um programa de detecção de potencial, bastante competitivo (por exemplo, de cerca de 400 candidatos, num ano, 20 poderiam ser seleccionados para a fase imersiva do programa, e a selecção durava vários meses com várias fases), chamado "JEEP - Jovens Empresários de Elevado Potencial" (era num tempo em que não havia internet e que morreu antes da internet, depois de 12 edições, por isso não é fácil encontrar uma referência fácil e abrangente, mas se se procurar com o google, encontram-se referências várias).
Candidatei-me em 1985, com 25 anos, não fui seleccionado, tendo mais tarde voltando a candidatar-me, na sexta edição do programa (seis anos e quatro filhos depois), tendo sido seleccionado, nessa altura, provavelmente, com pouco mais de trinta anos (tenho algures cá em casa uma plaquinha a atestar que um dia fui um Jovem Empresário de Elevado Potencial, sendo certo que fui jovem e tive empresas, sobre o resto haverá com certeza divergências).
Note-se que a minha formação (arquitecto paisagista) não tinha nenhuma relação com empresas, o ambiente familiar era muitíssimo adverso à opção pela criação de empresas desde que um desastre empresarial do meu pai o tinha deixado com dívidas para o resto da vida, tendo de gerir um orçamento familiar limitado do lado das entradas, embora generoso do lado das saídas inerentes à criação de dez filhos e não havia capital que desse margem para ir falhando cada vez melhor até que alguma coisa resultasse.
Nessa primeira edição, no entanto, foi seleccionado um amigo meu, igualmente com 25 anos, meu colega de turma no liceu, a quem, a par da sua militância no Partido Comunista, nunca conheci sem estar a criar ou falir empresas (muitas vezes as duas coisas em simultâneo), desde sempre, ou seja, pelo menos desde os seus 16 anos, que foi quando o conheci.
Para não falar de Bill Gates, que fundou a Microsoft com 19 anos (mas tinha começado os seus negócios ainda antes), posso então falar de um miúdo que conheci bem, quando ele teria uns vinte anos, mais tarde conhecido como António dos milhões (em 2013, escrevia o Expresso "O percurso profissional de António dos Santos Nunes é igual às empresas que faz nascer: de rápido crescimento. Aos 24 anos, já pisou(e trabalhou) em todos os continentes do mundo, fundou uma organização não governamental (ONG) em Moçambique e despediu-se de uma das consultoras mais conceituadas para criar empresas ligadas ao comércio eletrónico (e-commerce) e colocá-las a dar milhões.", mas é fácil encontrar outras referências ao que vai fazendo por aí.
Para o que aqui me traz, o que me interessa é que António Nunes, aos 22 anos, enquanto estudante, fundou, com outras pessoas, a Move, que hoje é o que é. Conheci bem os primórdios dessa organização porque quer filhas minhas, quer sobrinhos estiveram envolvidos no seu início, ao ponto do primeiro grupo de seis voluntários que foram para a ilha de Moçambique desenvolver o programa de microcrédito que criaram, uma era minha filha (22 anos), outro era meu sobrinho e outra passou depois a ser minha sobrinha por afinidade, ou seja, conhecia todos eles (em que se incluía o fundador, com 22 anos) por serem cá de casa ou amigos dos de cá de casa e tinham todos 22 anos.
Quando estava à procura de algumas informações e ligações para este post, dei de caras com esta organização, que não conheço, mas cujo programa bandeira é "A empresa" que selecciona ideias de negócio criadas por alunos do ensino secundário.
Vai longo, muito longo, o intróito para o que queria dizer.
É estúpido, muito estúpido, o argumento de que é impossível um estudante de vinte anos ser capaz de ter um papel activo e relevante na gestão de uma base de dados, na perspectiva do Regulamento Geral de Protecção de Dados, que tem sido exaustivamente usado para dar livre curso à calúnia de que a Spinumviva é uma empresa de fachada que servia, essencialmente, para dar cobertura ao recebimento de pagamentos indevidos por parte de Luís Montenegro.
E, além de estúpido, é um argumento que diz mais da pequenez de quem o usa que da incapacidade de quem se pretende atingir.
Ontem, no blog da Montis, apareceu este post.
Pessoalmente é um grande gosto ler e ver as fotografias do post e passo a explicar porquê, apesar de já várias vezes ter escrito sobre este processo.
Em 2019 fizemos uma campanha de crowdfunding para comprar os terrenos de que trata o post.
Em 2020 voltámos a fazer outra campanha, agora para financiar a estratégia de reconversão dos eucaliptais que tínhamos comprado.
Há bastantes organizações ambientais portuguesas, várias delas que compram terrenos com objectivos de conservação da natureza, mas não conheço outra que tenha a estratégia que tem a Montis: o essencial, para a Montis (cada um faz as opções que entende) não é conservar o que é bom, o essencial é gerir o que não tem interesse nenhum de conservação para produzir biodiversidade, a prazo.
No caso, comprámos um eucaliptal não gerido desde o último corte, sem grande interesse de produção nem de conservação, com o solo completamente exaurido, praticamente como terra mineral à vista, e sem grande regeneração da vegetação natural.
A forma mais eficiente de reconverter esse eucaliptal seria cortar as árvores, matar as toiças com glifosato e investir na gestão subsequente, com objectivos de conservação.
Era a forma mais rápida de obter resultados "comunicáveis", mas para isso seriam precisos recursos que a Montis não tinha e optou-se por um modelo diferente, bastante mais lento e mais caro, de reconversão.
Parece um contrassenso dizer que não há recursos para executar uma opção mais barata e optar por uma solução mais cara, mas não é exactamente assim porque a natureza dos recursos é diferente e porque a solução mais cara pode ser executada mais lentamente.
Acrescem benefícios marginais, o principal dos quais é a demonstração de que qualquer pessoa, em qualquer eucaliptal, de qualquer dimensão, pode facilmente replicar este modelo de reconversão de eucaliptais, se quiser.
Essencialmente o que fizemos foi cortar as árvores (demorou tempo até encontrar um madeireiro interessado, demonstrando o pouco interesse que a madeira em pé tinha como activo económico) e pretendemos ir matando as toiças através da retirada regular de varolas, até à exaustão da raiz original.
Entretanto há um conjunto de acções de gestão que se vão fazendo, procurando aumentar o capital natural disponível, isto é, recuperando o solo completamente depauperado, para aumentar a capacidade de produzir biodiversidade, incluindo, naturalmente, a biodiversidade do solo (tendo, como benefício marginal, a retenção de carbono pelo aumento do teor de matéria orgânica no solo).
Marginal e complementarmente fazem-se umas plantações e, se bem me lembro, o espalhamento de algumas sementes, em particular, bolotas, mas isso é o menos, no processo.
O que me dá particular alegria é ver uma fotografia como esta.
Por vicissitudes várias, decorrentes dos recursos limitados da Montis, passa tempo excessivo entre as operações de corte ou eliminação das varolas, e portanto, como neste caso, as varolas já tinham alguma dimensão, dificultando a tarefa de as partir, mas isso traduz-se no que se vê na fotografia, naquela mancha de um verde mais glauco entre o centro e a esquerda.
Na prática, as toiças ainda vivas estão a funcionar como bombas de nutrientes, quer captando-os da atmosfera, quer mobilizando-os de camadas mais profundas do solo, aumentando a velocidade a que conseguimos trazer matéria orgânica para a camada superficial do solo, quando deixamos pelo chão as varas partidas e respectiva folhagem.
Demorará tempo - ainda só passaram cinco anos - mas o facto é que estamos, ao mesmo tempo, a reduzir a área de eucalipto sem interesse para a produção (que deve ser a maioria da área de eucalipto no país), a regenerar o solo, fixando carbono através do aumento do teor de matéria orgânica do solo e a aumentar a diversidade biológica, primeiro em grupos menos espectaculares (invertebrados, ervas, organismos microbianos do solo, fungos, etc.) e, progressivamente, aumentando a complexidade e diversidade do sistema.
Se acha que isto vale 25 euros por ano, o melhor é fazer-se sócio da Montis aqui.
Mas se não quer gastar dinheiro seu com isto, pode simplesmente dizer ao Estado que dos seus impostos, 1% devem ser entregues à Montis, em vez de se incluírem no imenso bolo do Orçamento de Estado.
Para isso, pode até já ir ao site das finanças indicar o que pretende, está tudo explicadinho aqui, de onde retiro um dos pontos da explicação:
"3). Em qualquer dos casos é necessário indicar:
Tipo de entidade que pretende apoiar: Pessoas coletivas de utilidade publica de fins ambientais
NIF da entidade - MONTIS 510976077
O tipo de consignação: “IRS”"
“Luís Montenegro cometeu um erro. E o erro foi não se ter desfeito por completo da empresa familiar que criou quando estava fora da política”.
Taxativo, o editor adjunto de política do Observador, Rui Pedro Antunes, aponta um erro a Luís Montenegro.
É uma opinião, perfeitamente legítima, tal como eu acho legítimo dizer que esta opinião demonstra um enorme desprezo pelos direitos individuais dos restantes membros da família Montenegro, que eram igualmente donos da empresa.
Aparentemente, Rui Pedro Antunes é contra a autonomia das mulheres num casamento, considerando que a mulher que Luís Montenegro não tem de ter opiniões nem tomar decisões que lhe dizem directamente respeito, tem de fazer o que o marido manda e ponto final.
Mais complicado, muito mais complicado, é o que, mais à frente, escreve.
A difamação é um instrumento político desde sempre e, consequentemente, as declarações difamatórias de Pedro Nuno Santos, ou doutro político qualquer, não justificam grande comentário e resolve-se em eleições.
A normalização da difamação nas redacções dos jornais, no entanto, acho que justifica um bocadinho mais de atenção.
“Era o momento para reconhecer o erro, desfazer-se por completo de uma empresa que sempre dependeu dele e dos seus contactos, pedir desculpa e seguir em frente. Reconhecer o que quase todos, incluindo no PSD e no Governo, já tinham percebido: que a família direta de um primeiro-ministro não deve continuar a receber avenças de empresas privadas que resultam única e exclusivamente da sua rede de conhecimentos e de amizades pessoais e políticas. É tão óbvio que não deveria ser preciso explicar isto”.
Vamos por pontos.
A angariação de clientes com base em amizades pessoais é o trivial nas relações humanas, todas as empresas do mundo têm, em maior ou menor grau, esta componente, portanto, sobre isto não há nada a dizer.
Mais complicado é dizer que a família directa de um primeiro-ministro não deve continuar a receber avenças de empresas privadas.
Não faço ideia do que Rui Pedro Antunes acha que é uma avença. Uma avença é um pagamento certo e periódico por troca de uma prestação de serviços.
O que se diz é que toda a família directa do primeiro-ministro não pode receber pagamentos de empresas privadas em troca de trabalho que executa.
Nem a lei, nem, convenhamos, o bom senso, dizem um disparate de tal calibre, claro que a família directa do primeiro-ministro pode trabalhar e receber o justo valor desse trabalho. Se é sob a forma de avença ou outra forma contratual qualquer, se é de empresas privadas, do Estado, de fundações ou do que quer que seja, é completamente irrelevante.
Difamação é o patamar seguinte, quando se resolve dizer que a empresa sempre dependeu de Montenegro.
Não porque não possa ser verdade, mas porque é afirmado sem qualquer indício minimamente objectivo.
Montenegro diz que se afastou da empresa em 2022, portanto, a empresa não depende dele há mais de dois anos.
Rui Pedro Antunes, está, portanto, a fazer duas acusações, uma grave, a de que Montenegro está a mentir, e outra muito grave, a de que o Primeiro-Ministro não está em exclusividade de funções.
Quando Montenegro saiu, a empresa contratou dois juristas para resolver o problema de ter ficado sem competências na área que era coberta por Luís Montenegro, indiciando que a empresa se terá autonomizado dele.
Os clientes, que tinham de facto sido angariados por Montenegro numa altura em que nada faria prever que hoje Montenegro fosse primeiro-ministro, mantiveram os contratos de prestação de serviços, indiciando que estavam satisfeitas com esses contratos, sugerindo que a empresa tinha deixado de depender de Montenegro.
O que faz, então, Rui Pedro Antunes afirmar que nada disto é assim, que é tudo uma mentira de Montenegro?
Nada, nenhum indício (nem falo de ser preciso ser completamente tonto para admitir a hipótese de o exercício das funções de primeiro-ministro dão tempo e oportunidade para que se faça uma perninha como principal activo de uma empresa deste tipo).
É isto que é a normalização da difamação e um grande contributo das redacções dos jornais para a degradação do regime.
“É tão óbvio que não deveria ser preciso explicar isto”.
Na Europa, durante décadas, cristalizou-se a ideia de que princípios e desejos (bons ou maus) se sobrepunham á realidade, às possibilidades, aos interesses. Obviamente não é exactamente assim. Nem no plano interno, nem no plano das relações internacionais.
Para esse estado de irrealidade, não se pode deixar de olhar para dois actores. Os partidos políticos (moderados de esquerda e direita), que criaram, ou não combateram, um clima de euforia desenfreado, preocupados com a conquista do poder. As populações, que exigiam vorazmente tudo, já, porque acreditavam ser possível e constituir um seu direito inalienavel.
Não se pode dizer que correu mal durante muito tempo. Grandes conquistas foram realizadas, parecia que nada se interpunha entre desejos e realidades. “Parecia” é a palavra-chave: depois de décadas de prosperidade, a desconsideração sistemática dos limites, expôs a utopia em que vivemos.
Na política, quando se tornou evidente o divorcio crescente entre as promessas e o resultado. O que levou os partidos de centro (normalmente no poder), a perderem uma imensa hegemonia do sistema. Os partidos radicais, sobretudo de direita, mas também de esquerda, representam, hoje, uma franja crescente dos parlamentos. Não é por acaso.
Na economia, a impiedosa regulação, o triunfo da sociedade sobre riscos, levou a Europa a atrasar-se relativamente aos EUA e a muitos outros países. É provável que continuemos no grupo dos mais ricos, mas não seremos dos mais ricos. Pior, quebrámos a idade de ouro, em que cada geração vivia necessariamente melhor do que a anterior.
No plano internacional, tornámo-nos irrelevantes. Afinal a História não acabou e ter armas, exércitos e força militar, voltou a ser relevante, mesmo para a nossa sobrevivência enquanto sociedades independentes. O papão russo, depois da queda do muro, parece tão vivo como nos velhos e maus tempos. E os EUA, decidiram que já não tinham interesses alinhados com os da Europa. Ou pelo menos, ao ponto de se encarregarem da sua defesa, da forma a que os Europeus desejam.
O choque, o sentimento de orfandade e traição, é ainda amplificado pelo estilo de Trump, que nos transporta diretamente da irrealidade, não para a realidade, mas para a brutalidade. Se o estilo de Trump é muito desagradável, não podemos deixar de reconhecer a sua legitimidade como presidente democraticamente eleito. E a legitimidade de os EUA não assumirem a defesa do que entendemos serem princípios éticos legítimos. A moralidade das nações, quase sempre se subordinou ao que se pensa serem os seus interesses. É uma realidade. Como é uma realidade que a defesa da Europa deve ( e até pode) ser assumida pelos Europeus, o que significa que, querendo, terão que fazer os sacrifícios necessários.
A Europa está metida num grande sarilho. As maiores ameaças podem ser as maiores oportunidades. Um banho de realismo e bom senso, pode ser o que a Europa precisa para sair da decadência em que mergulhou. Esperemos que assim seja.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Não "aumentou" impostos, teve de aplicar um resgat...
Tresanda a cheiro de água benta, que de resto é o ...
E não houve sempre, no tempo dele, uma "instituiçã...
Preservar o catolicismo em Portugal será mais simp...
Passos tentou!?Aumentou impostos, criou novos. Alg...