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“A Liberdade Portuguesa”, de Henrique Barrilaro Ruas, numa 2ª edição, que conta com mais quatro textos inéditos e um prefácio de Augusto Ferreira do Amaral, é a mais recente publicação da chancela Razões Reais da Real Associação de Lisboa, na sua missão de promover a Causa Real e as ideias que a sustentam. Adquira e conheça esta e outras obras de doutrina monárquica, aqui.

O medo de pasokar

por henrique pereira dos santos, em 21.03.25

Imediatamente depois das eleições que Passos Coelho ganhou, sem que tivesse maioria da Assembleia da República, Porfírio Silva escreveu um texto muito interessante: "E agora, esquerda?".

O ponto de partida era a possibilidade da morte de partidos, em concreto a ideia de que "Uma forma clássica de matar um partido é permitir que ele deixe de representar aqueles que prometeu representar".

Desde essa altura que estou convencido de que grande parte da actuação dos dirigentes do PS decorre do medo de acontecer ao PS o mesmo que aconteceu ao PASOK (ou ao partido socialista francês, por exemplo), isto é, um rápido desaparecimento eleitoral e crescente irrelevância política.

Desde essa altura, há nove anos, António Costa foi conseguindo conciliar o seu interesse pessoal de sobrevivência política com o seu interesse partidário de manter o PS relevante, absorvendo grande parte da extrema esquerda, para manter o seu partido como hegemónico nessa área, mesmo num contexto de perda relativa de peso da esquerda, e promovendo a extrema direita para enfraquecer o seu principal adversário.

Fazer a geringonça foi uma questão de sobrevivência politica de António Costa, mas foi também uma questão de impedir que, gerindo Passos Coelho o pós-troica, o PS fosse relegado para anos de oposição, eventualmente levando à sua pasokisação como, lucidamente, fez notar Porfírio Silva.

E, até agora, resultou.

Se eu fosse do PS, estaria agora, outra vez, com medo de pasokar.

A possibilidade real da direita (mais liberal ou menos liberal) governar em condições de alguma bonança económica, depois de António Costa ter desbaratado todo o seu capital político em manobras inconsequente e depois se ter pisgado para Bruxelas, deixando o partido à deriva porque os seus interesses divergiram dos do PS, pode resultar numa diminuição global da esquerda e, mais perigoso para o PS, aparecer um "portugal insubmisso" qualquer que ocupe o lugar de oposição à direita.

Se isso acontecer (não vejo ninguém, por enquanto, para desempenhar o papel da França Insubmissa), acentuar-se-á o desfasamento da esquerda com a realidade, dificultando a sua reconstrução como campo político gerador de governos.

Ora o PS, há muitos anos, não tem grande programa político para oferecer aos eleitores, sem o poder, que é como quem diz, sem a possibilidade de usar o Estado para fidelizar clientelas, o PS tenderá a definhar e, eventualmente, pasokar.

A opção de transformar dúvidas legítimas sobre Montenegro em acusações delirantes, que resulta de uma evidente radicalização do PS, só tem como efeito aumentar a velocidade de pasokização, a menos que alguém, no PS, resolva inverter o caminho.

Aparentemente, Medina estará disposto a, depois das eleições que tudo indica que o PS vai perder, pôr a render a sua declaração de voto na rejeição da moção de confiança.

Provavelmente, tal como eu, é hoje a direita do PS que tem medo da pasokização que a esquerda do PS usou para se tornar dominante no partido até 18 de Maio.

Um grande agradecimento a Luis Rosa e ao Observador

por henrique pereira dos santos, em 20.03.25

Esta peça do Observador é o que eu gostaria que fosse, dominantemente, o jornalismo.

Claro que se pode perguntar se o acesso à documentação não terá sido proporcionado por alguém ligado à empresa, violando deveres de confidencialidade em relação aos clientes e outras questões metafísicas do mesmo tipo.

Também se pode questionar o uso de fontes anónimas, mas não só o seu uso é restrito como não serve para contrabandear opiniões, serve para ajudar a interpretar a documentação e alargar os pontos de vista na interpretação da informação.

Certo, certo, é que se a imprensa funcionasse sempre assim, não só não estaríamos agora em campanha eleitoral (jamais os dirigentes do PS adoptariam o discurso que adoptaram, com insinuações gravíssimas, para justificar o absurdo da Comissão Parlamentar de Inquérito em que se empenharam, se a informação dominante no espaço público fosse a que resulta desta peça jornalística), como o espaço para a intriga, a insinuação não fundamentada, a difamação e outras formas ilegítimas de condicionar o debate público não seria o que é hoje, restringindo os efeitos socialmente negativos que decorrem do contexto de suspeição permanente e generalizada em que estamos metidos, promovido por uma imprensa que se esqueceu de regras básicas da profissão.

Obrigado Luís Rosa e obrigado Observador.

"Seja justo ou não"

por henrique pereira dos santos, em 19.03.25

A ideia foi consistentemente aplicada contra Passos Coelho.

Passos Coelho executou, com grande dignidade política (isto é, optando claramente pelo que entendia ser o bem comum sobre o que seria o seu, ou do seu partido, interesse político) um duríssimo programa de austeridade, com resultados muitíssimos bons.

A generalidade da imprensa malhou sem descanso em Passos Coelho (desde a Tecnoforma até à espiral recessiva e ao segundo resgate), sempre, sempre sem grande razão, negando as evidências do que os números do êxito do programa de ajustamento iam dando conta.

Quando a imprensa considerava evidente que Passos Coelho ia levar um arraso eleitoral, porque o povo não esqueceria as malfeitorias que lhe fez (ainda por cima, contra o melhor político da sua geração, repetiam incessantemente sobre António Costa), Passos Coelho ganhou as eleições, mas sem dimensão suficiente para se defender da canalhice de António Costa que optou sempre por não dizer que, perdendo, iria fazer um acordo com o PC e o BE, se tivesse deputados para isso.

Depois aguentou uns tempos a ser vilipendiado pela imprensa (e pelos seus inimigos, isto é, a gente que no PSD o queria ver pelas costas) que, quando não tinha mais nada para fazer, inventava umas coisas (a maior parte das vezes através da técnica da deturpação, como aconselhava António Aleixo "P'ra mentira ser segura/ e atingir profundidade,/ tem que trazer à mistura/ qualquer coisa de verdade) e depois o responsabilizava pela má imprensa, acusando-o de não saber comunicar.

É a fase em que estamos com Montenegro, a fase do justa ou injustamente, Montenegro tem de ser afastado por uma questão de sobrevivência do PSD.

Voltando a Passos Coelho, esta conversa desembocou em Rui Rio e na maioria absoluta do melhor político da sua geração, António Costa, ajudado também da inteligência excepcional de Marcelo Rebelo de Sousa, qualidades de um de outro amplamente reconhecidas, mas de que apenas os próprios parecem ter beneficiado, visto que se desconhece qualquer benefício para o país da superior qualidade política de António Costa e da superior inteligência de Marcelo Rebelo de Sousa.

Há só a chatice de haver umas eleições a 18 de Maio.

A insistência das classes dominantes em triturar os lentos rurais que não fazem parte da bolha político-mediática dominante pode funcionar a favor de Montenegro, tal como funcionou a favor de Passos Coelho, porque é bem possível que as pessoas comuns se cansem de tanta sobranceria e arrogância.

Camilo: a força indomável das letras portuguesas

por Daniel Santos Sousa, em 18.03.25

 

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Camilo foi muito maior do que o século XIX, não cabem rótulos, nem escolas, ou séquitos, a quem almejou maior liberdade. Sem mestre e sem discípulos foi um colosso das letras: poucos alcançaram tanto de forma tão arrojada e completa. Não entrando em paradoxos, encontramos particularidades com os contemporâneos. Se Eça almejou a corpulência perfeccionista de Flaubert, então Camilo superou a audácia laboriosa de Balzac ou a capacidade inventiva de Dumas. Mas ambos foram muito mais do que este mimetismo: Camilo e Eça dissociam-se e complementam-se ao mesmo tempo. Estilos e temperamentos diferentes, certamente.

Seria pois redutor colocar Eça como o escritor cosmopolita e Camilo como o autor provinciano. Eça o homem moderno e Camilo o homem do "Portugal antigo". Mas sem dúvida que representam sensibilidades e visões diferentes desse mesmo Portugal.

Assim como diferenciado se manteve da ilustre "Geração de 70". Não tão viajado como Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, nos livros encontrou a escapatória para entender a humanidade; nem empedernido foi de ânsias positivista como Oliveira Martins, Antero de Quental, Guerra Junqueiro ou Teófilo Braga. As modas eram para ele retalhos que mereciam ser martelados com a firmeza do verbo.

Ao contrário de Eça, estrangeirado a construir na distância geográfica o reportório literário do naturalismo, snob que almejava a França como ideal cultural, cujas famosas personagens e os conhecidos enredos foram observados muitas vezes telescopicamente (nem sempre mas nas obras cimeiras bem longe de Portugal); ao contrário do seu émulo literário, Camilo conviveu de perto com o povo, partilhando iguais mágoas e dissabores, sentindo a amargura que dilacerava as inteligências. Entre os seus conviveu e saboreou o mesmo aroma que preencheu milhares e milhares de páginas. No conflito existencial não perdeu a ânsia dos filósofos, onde a arte é o reduto para explorar os infernos insondáveis da alma humana.

Ao mesmo tempo romântico e naturalista, homem de aspirações metafísicas e preso à imanência terrena, revolucionário e contra-revolucionário, em todas as metamorfoses da vida encontrou espaço para ampliar a audácia literária. Cada personagem continha um pouco do seu próprio mistério. Narrativas que, não explorando tão cansativamente o mundo e a mente, nem perdendo o arrimo da acção na fórmula galicista de tudo reduzir ao racionalismo , Camilo desejou sobretudo contar uma boa história, mas elevada pela erudição e grande conhecimento da língua. Escrevia de rajada, pouco corrigindo, mas domando a letra com habilidade.

No final, Camilo terá sido muito mais completo, muito mais argucioso, muito mais profundo. Em todas as latitudes da arte conduziu o seu desaforo e desatino, a sua violência e candura, uma mesma força demolidora capaz de arrasar com os mais cândidos e tíbios vates que pululam nas Academias e nos salões. Literatos e lentes arrasou Camilo com audácia. A pena afiada perpassou os variados géneros literários, romance, conto, novela, poesia, teatro, crónica, crítica literária. Uma verdadeira galáxia literária, queixando-se o mesmo de ser um prisioneiro do trabalho. Martírio dos homens abençoados pelas musas.

Também bibliófilo, referia-se em carta ao amigo, o poeta Feliciano Castilho, aos seus "mil volumes sofríveis". Não fossem as dificuldades financeiras, as errâncias de um espírito indomável, e quem sabe que invejável biblioteca legaria. Alguns volumes foram ainda recuperados, cada página recheada de notas marginais onde não perde o lado mais cáustico.

Na biografia foi a conjugação do poeta e do aventureiro, com vicissitudes que igualavam os dramas que soube elaborar. Vida que chocou e invejou os contemporâneos. E no final de tudo, conduzido por essa mesma força robusta, decidiu o próprio fim. Camilo foi pois a força indomável das letras portuguesas.

O burro

por henrique pereira dos santos, em 18.03.25

"Muito boa gente desconfia de que Montenegro teve comportamentos duvidosos por uma razão bastante simples: se não houver o menor vestígio de trafulhice, então o desastre absoluto das suas explicações fariam dele o político mais burro do mundo. E burro Luís Montenegro não parece ser". (João Miguel Tavares na enésima crónica sobre as trafulhices de Montenegro que nunca explica quais sejam, hoje no Público, preocupado com a magna questão de saber quanto custou a casa de Espinho de Montenegro).

João Miguel Tavares, fiel leitor do Expresso, está convencido de que um dossier de facturas da obra da casa é a chave para se encontrar os tais "comportamentos duvidosos", contrariando a Polícia Judiciária, que investigou os tais "comportamentos duvidosos" mas não achou essencial consultar o dito dossier (limitou-se a pedir, num mail, uma cópia em formato digital, devem ter dado tanta importância ao dossier que nem uma deslocação para o consultar acharam justificada).

Cada um entretém-se com as teorias de conspiração que quer, claro, mas o que me interessa é o parágrafo final da crónica com que começo este post.

1) A desconfiança sobre os "comportamentos duvidosos" não advém de nada em concreto, mas do facto das explicações para perguntas fundamentais (qual é o preço final de uma casa, por exemplo) do visado serem um desastre;

2) Se as explicações do visado são um desastre, só podem ser por ser burro, ou esconder alguma coisa (por exemplo, esconder o preço final de uma casa);

3) Não sendo o visado burro, então está demonstrado que há "comportamentos duvidosos".

Uma maneira um bocado pitoresca de dizer que qualquer pessoa que não consiga demonstrar a sua inocência (por ser burro ou por não querer, é irrelevante) é, em princípio, culpado.

Aparentemente não existe a hipótese de alguém achar que não tem de responder a perguntas que acha irrelevantes sobre matérias que são do foro privado, seja quais forem as razões que tem para isso, incluindo achar que não tem de contribuir para a devassa que a imprensa se acha no direito de fazer, substituindo-se à polícia.

Não faço a menor ideia se Montenegro teve "comportamentos duvidosos", o mais provável é que sim, porque a santidade é rara e, provavelmente, todos nós, aqui e ali, tivemos comportamentos duvidosos.

Volto a citar uma frase para que há tempos me chamaram a atenção:

"“If we insist that public life be reserved for those whose personal history is pristine, we are not going to get paragons of virtue running our affairs. We will get the very rich, who contract out the messy things in life the very dull, who have nothing to hide and nothing to show and the very devious, expert at covering their tracks and ambitious enough to risk their discovery.”

Depois queixem-se do êxito dos demagogos que se apresentam como os grandes regeneradores morais da sociedade.

Domingo

II da Quaresma

por João Távora, em 16.03.25

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

Palavra da salvação.

Encontramo-nos a 18 de Maio

por henrique pereira dos santos, em 15.03.25

"(...) o país assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o país vive. Refiro-me a sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições em geral ... Foi essa sucessão, que criou uma grave crise de credibilidade do Governo (...)´´, ``(...) Entendi que a manutenção em funções do Governo, significaria a manutenção da instabilidade e inconsistência, entendi que se tinha esgotado a capacidade da maioria parlamentar para gerar novos Governos. Assim, e em face a uma situação cuja continuação seria cada vez mais grave para Portugal, entendi também em consciência, que só a dissolução parlamentar representava uma saída (...)".

Este texto quase poderia ter sido escrito por Montenegro nestes dias (se esquecermos as inevitáveis referências ao poder do Presidente da República em vez das circunstâncias de qualquer primeiro-ministro).

Não foi, foi escrito por Jorge Sampaio para justificar a dissolução de um parlamento, sem que, ao mesmo tempo, justificasse coisa nenhuma, porque nunca identificou que incidentes e declarações eram estas.

Naquela altura, tal como agora, o sistema político reagiu a um conjunto de opções da imprensa, que se repetiram noutras circunstâncias, como nos quatro anos de acusações a Passos Coelho (desde a Tecnoforma até à mais evidente deturpação de tudo o que dizia, passando pela promoção de qualquer grupinho de mais de uma pessoa que resolvesse inventar tretas sobre a situação do país, como a espiral recessiva e o segundo resgate que estava a ser preparado em Bruxelas, passando por grosseiras previsões económicas catastróficas, que nunca se verificaram).

E é sempre assim quando o PS está fora do poder, numa aliança objectiva de mau jornalismo e falta de escrúpulos por parte dos dirigentes do PS, que Sampaio institucionalizou no discurso de anúncio da dissolução do parlamento porque se "fartou de Santana Lopes", como anos mais tarde o próprio Sampaio disse.

Substância, nenhuma, conversa de taxista, a rodos.

Veremos que avaliação disto farão os eleitores, se preferem a progressiva degradação das instituições a que isto conduz, ou se preferem o reforço das instituições, penalizando os que vivem deste ambiente malsão, incluindo a penalização das opções da comunicação social que criam o caldo de cultura que tem vindo a contribuir fortemente para essa degradação das instituições.

Uma questão de Fé

por João Távora, em 14.03.25

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Às vezes, com os inclementes apertos da vida, até o mais esclarecido crente, cede perante a fraqueza e reza pedindo a Deus que intervenha a seu favor. Como se o seu interlocutor fosse um maquiavélico arquitecto do destino de cada um, calculista ou indiferente à interferência que cada fenómeno terá nos infindáveis destinos que interagem na Criação, que cada criatura integra. Sou incapaz de julgar com severidade esta atitude, porventura ingénua, inocente, a que se usa chamar uma relação de cariz mercantilista com o Criador. O risco desse perfil de relação, com as situações pessoais mais trágicas, é a revolta e a zanga, perante o silêncio tornado ausência de Deus. Por isso somos convidados a confiar, a atender com humildade à passagem do Pai Nosso “Seja feita a Vossa Vontade”, a entrega incondicional da soberania da nossa vida ao Pai. Ou, no mesmo sentido, à resposta de Nossa Senhora ao Anjo Gabriel ‘Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,26-38).

Mesmo que muitas vezes isso vá contra os meus “interesses”, tidos como designação da “ordem” que eu gostava de ver à minha volta, no meu país e no mundo, tenho para mim que o Deus dos Cristãos é um Deus de Liberdade; ou seja não intervencionista. Mesmo que essa “abstenção” se confunda, nos momentos mais sombrios da existência, com ausência. A Liberdade que Jesus Cristo nos concedeu, únicos e irrepetíveis, desde logo em aderir ao seu Amor, de escolher o bem ou o mal, certamente estende-se a toda a criação, ao Universo. Uma coisa difícil de conceber, se atendermos às guerras ou desastres naturais e tantas trágicas injustiças, a que, por mais devotos que sejamos, nos constatamos impotentes para evitar.

Apesar de tudo isto, ou talvez também por isso, a oração, o diálogo com Deus, é absolutamente estruturante a quem pretenda permanecer crente na sua filiação. Em primeiro lugar, porque rezar é relação. Como no amor romântico ou filial, como numa amizade que se preze, a relação tem de ser alimentada, aprofundada, cultivada. Rezar é para isso fundamental. Interpelar Jesus Cristo, Deus nosso Senhor, na partilha das alegrias com que somos agraciados ou nas angústias que nos assaltam, é fazer relação, tirar a cabeça para fora da gruta de sombras e alienações que a nossa precaridade humana nos condiciona. Até o acto mecânico de rezar, continua e repetidamente, como acontece tantas vezes com um Terço oferecido a Nossa Senhora, ao final de um dia extenuante de trabalho, oferece-nos o benefício gratuito de libertação e relaxe das ansiedades e do fechamento.

Gosto muito da designação "Criador". Os Cristãos entendem que a relação do Criador com a Criatura é de Amor. A liberdade que outorga à Criação é também ela prova disso. Imagine-se que era ao contrário, que éramos condicionados, como marionetas, nos nossos gestos e atitudes, em prol de um quadro idílico… E depois, os crentes, assim como acreditam no poder da oração, acreditam que, sendo extremamente raros, os milagres, acontecimentos extraordinários que, incompreensíveis à luz dos sentidos, da inteligência e do conhecimento científico, acontecem.

Afinal a esperança acontece.

O pântano mediático

por henrique pereira dos santos, em 14.03.25

Antes de mais, gostaria de deixar claro que não faz sentido nenhum admitir-se que há uma cabala, só pessoas psicologicamente perturbadas, como Sócrates, é que se socorrem de teorias de conspiração para se defenderem de acusações.

De resto, nesta história toda de Montenegro, o único sítio em que se discute a teoria da cabala é num texto do Observador, sem uma única citação identificável, portanto, sem nenhuma certeza de que não seja tudo invenção do jornalista, incluindo as citações de terceiros que nem temos a certeza de que existam.

Este post começou a nascer na minha cabeça com uma notícia do Observador.

Depois de um dia ou dois a ser encharcado com a abertura de uma averiguação preventiva pelo ministério público, em função de três denúncias anónimas sobre a empresa da família Montenegro, fico a saber que denúncias são essas.

A primeira esgota-se no envio de uma fotocópia da primeira página do Expresso, nada mais que isso.

A segunda, é uma denúncia de de procuradoria ilícita, uma invenção de Alexandra Leitão (não a denúncia, mas a interpretação jurídica que suporta a acusação), denúncia essa sempre inútil porque a investigação do crime depende de queixa de interessados ou da Ordem dos Advogados.

A terceira é uma coisa qualquer de Ana Gomes sobre o papel dos casinos no branqueamento de capitais, sem nenhuma relação concreta com o assunto.

Acresce que li a primeira página do Expresso ("Montenegro prometeu, mas não entregou faturas da casa de Espinho à Polícia Judiciária"). Tanto quanto percebi, parece que o Expresso tem duas primeiras páginas diferentes.

Fui ler a notícia e parece que Montenegro entregou tudo à câmara e ao fisco, que a polícia judiciária consultou tudo e concluiu que não havia problema, mas o jornalista (e toda a estrutura editorial do Expresso) acha muito relevante que Montenegro tenha dito que ia entregar tudo à justiça e afinal tenha entregado às entidades competentes.

Para além de continuar a não dizer quanto foi o custo final da casa, coisa que o jornalista acha muito importante.

Para já não falar nas notícias diárias do Correio da Manhã, sugerindo esquemas (hoje era que os fiscais da câmara de Lisboa tinham sido aconselhados a não ir fiscalizar as obras das casas de Montenegro) levados a cabo por Montenegro, mas que nunca são confirmadas posteriormente, pelo menos, nos termos apresentados pelo jornal.

E ainda vou lendo comentadores, como Susana Peralta, hoje, no Público, que escreve esta coisa extraordinária "Mas será inconcebível que o lucro de uma empresa represente 87% da facturação?", sugerindo que é isso que se passa na empresa da família Montenegro, quando a informação sobre facturação e resultados líquidos é conhecida desde o debate da moção de censura do Chega, informação prestada por Montenegro nessa altura, e não tenho nenhuma relação com o que escreve Susana Peralta. Note-se que um zé dos anzóis como eu, a escrever num blog obscuro como eu, pode confundir conceitos económicos base ao ponto de chamar lucro a outra coisa qualquer, mas Susana Peralta é uma economista, professora de economia, numa das melhores escolas de economia e gestão do país.

A que propósito é que alguém convida Ana Gomes para comentadora do que quer que seja, se toda a gente sabe, de ginjeira, como funciona, ao ponto de não ser surpreendente que Ana Gomes apresente uma denúncia anónima sobre o matéria lateral, com o único objectivo de denegrir terceiros? Ou Anabela Neves?

Tenho ali guardada uma intervenção recente de Manuel Pinheiro para a ver depois das eleições do dia 18 de Maio, para ver se se confirma a minha tese de que a arrogância e auto-convencimento dos que decidem na comunicação social é um dos factores mais relevantes na promoção deste pântano mediático que se está nas tintas para a realidade, desde que possa ir alimentando histórias.

Sim, o nosso sistema político é fraquinho e muito permeável ao tráfico de influências e à corrupção, mas, em grande parte, limita-se a reagir a um contexto social, em que os jornalistas têm fortes responsabilidades na qualidade do debate público, que é miserável.

Se dúvidas houvesse, bastaria olhar para a forma como a generalidade da imprensa triturou Passos Coelho tanto quanto conseguiu, para agora o usar no papel de D. Sebastião para triturar Montenegro.

E para a forma simpática como sempre tratou Sócrates e António Costa, ao contrário de António José Seguro.

A desilusão com a democracia

por henrique pereira dos santos, em 13.03.25

"Até quando teremos de suportar esta mediocridade?" pergunta João Miguel Tavares, cansado de toda a gente a quem recentemente os processos democráticos entregaram o poder em Portugal.

Não me interessa discutir se Montenegro é só esquemas, como alega João Miguel Tavares, o que me interessa é que, tenha cada um de nós a opinião que tiver, as acções ilegais são resolvidas pela polícia e o sistema de justiça, as acções não ilegais só têm uma maneira de ser resolvida, através das eleições.

A Democracia não é útil como processo de escolha dos melhores (nem as empresas empregam processos democráticos de escolha, nem os clubes de futebol fazem referendos para saber se contratam ou despedem alguém), a democracia serve para remover do poder aqueles a que, justa ou injustamente, o eleitorado quer retirar o poder, sem que para isso se tenha de recorrer à violência (a substituição de Passos Coelho, mesmo ganhando as eleições, por António Costa, é um bom exemplo de como os processos democráticos podem dar resultados sociais muito piores do que os que resultariam da avaliação racional do melhor para o país).

Nas actuais circunstâncias, podem-se escrever grandes tiradas sobre o que deveria ser o mundo ideal, ou pode-se olhar para as circunstâncias concretas das próximas eleições e avaliar qual é o melhor destino a dar ao voto que temos na mão (incluindo os que acham que se o voto é arma do voto, votando o povo, fica desarmado. O que é parcialmente verdade, até à eleição seguinte, o povo está desarmado).

Para além das escolhas de nicho (as pessoas que votam PAN porque querem pagar menos IVA nas consultas do veterinário, por exemplo), as próximas eleições servem para escolher um governo da AD ou do PS. Ou a AD tem um voto a mais que o PS, e governa, ou não tem, e governa o PS.

Quem quer um governo do PS, seja porque razão for, vota no PS, quem quer um governo da AD, ache ou não que Montenegro é só esquemas, vota na AD.

Sobra a enorme massa de eleitores que não querem um governo nem de um, nem de outro, sabendo, no entanto, que o governo será de um ou de outro (há os que acreditam, como disse André Ventura, que o Chega vai ganhar as próximas eleições, mas mesmo reconhecendo que isso não é impossível, parece-me suficientemente improvável que haja muita gente a acreditar nisso e as que acreditam têm o seu voto definido, tal como os que querem um IVA mais baixo nas consultas do veterinário).

Para essa grande massa de eleitores a pergunta central não é sobre quem querem no governo, é sobre quem não querem no governo, ou, usando o critério de João Miguel Tavares, quem nos deixa mais longe de ter de suportar esta mediocridade.

Estes, os que não querem nada do que vêem, mas querem ainda menos alguns que outros, há três votos úteis (úteis no sentido em que os votos são úteis para quem os recebe, não para quem vota).

Na AD, os que preferem um governo da AD a um governo do PS, na Iniciativa Liberal os que para além de preferirem um governo da AD a um do PS, acreditam que a AD vai ter mais um voto que o PS e preferem reforçar um parceiro potencial da AD.

Tudo o resto, que é como quem diz, os que acham pior ter um governo da AD a ter um governo do PS (o que inclui o voto no Chega que é, indirectamente, um voto a favor de um governo do PS), podem votar onde quiserem que o resultado prático é ter um governo do PS.

É poucochinho e era melhor que as alternativas fossem mais e melhores que esta melancolia?

Sim, é, mas o facto é que a escolha é entre achar-se que com um governo AD (no que se inclui um governo AD mais IL) estamos um bocadinho mais perto de suportar menos a mediocridade e achar-se que é com um governo do PS que o fardo de suportar esta mediocridade é menor.

A lei parlamentar da oferta e da procura

por João-Afonso Machado, em 13.03.25

Pronto, cá estamos na estaca zero, como aliás é nosso hábito. A história foi feia demais e não vale a pena repeti-la: a Esquerda tem força bastante para erguer versões amacacadas e quem a avaliará e daí tirará as devidas ilacções é o eleitorado; o que nesse domingo de Maio se decidir levantar da cama e ir às urnas...

Fica apenas a nota absolutamente factual dos esforços do PSD (que eu jamais faria) para que o Governo não caísse: as sucessivas delongas da sessão parlamentar - agora uma CPI em 15 dias, depois uma CPI em 60 dias..., e a arrogância de um PS profeta das negociações sem, simultaneamente, tirar uma vírgula à sua posição inicial.

Um espectáculo vergonhoso. Quanto mais sobe a oferta mais barato de torna o produto, mais escasseia a procura. O PSD acabou quase mendigando a aprovação da moção de confiança. Dando o flanco para que, do Chega ao PS, interpretassem o seu gesto como de medo de Montenegro face às consequências da CPI.

Afora a perda de tempo (e de eventuais prazos europeus para de lá trazer o metal sonante), nada de muito grave deverá suceder. A nova versão das três M's (Martins, Matias & Mortágua) tenderá a desaparecer do mapa e o PCP espera-se que não, em nome da profundidade discursiva e da bondade de Paulo Raimundo; o Livre é capaz de roubar umas sardinhas às três M' que, mesmo não sabendo cozinhar, ficarão furiosas. O PS não subirá e o Chega desce. Haverá votos a redistribuir e estou em crer que, quer a AD, quer a IL serão recompensados pela seriedade e coerência do seu trabalho.

Somos já dois a pensar assim: eu e o meu barbeiro. Com a diferença de que eu vou votar e ele não, diz que não lhe pagam para andar a "correr para lá". Não o contesto, não tenho coragem de o contestar...

A Montis está a contratar

por henrique pereira dos santos, em 13.03.25

Há muitos anos, no fim do curso, uma das minhas filhas tinha duas propostas de trabalho muito diferentes, quer no que lhe ofereciam, quer na natureza das tarefas, e ela, estando muito hesitante, pediu-me opiniões.

Na altura falei com um amigo meu ligado à gestão que me lembrou que as coisas tinham mudado desde que começámos a trabalhar, e estes miúdos não teriam empregos, teriam carreiras. Assim sendo, o mais sensato seria escolher a oferta que a deixasse em melhores condições no dia, inevitável, em que teria de sair do sítio para onde estava a entrar.

Mais tarde, quando outra das minhas filhas trabalhava na McKinsey, e eu pragueja contra a violência moral das condições de trabalho a que são sujeitos os miúdos que começam nas consultoras que seguem o modelo de negócio da McKinsey, ela lembrava-me, provavelmente com razão, que a principal razão para ser útil trabalhar para eles não era o que se passava naquele momento, mas a posição muito favorável em que se saía dessa consultora para outro lado em que houvesse condições de trabalho decentes.

A Montis, como empregadora, não deve ser o paraíso, paga relativamente mal, o futuro do emprego é relativamente incerto e o trabalho nem sempre é o mais fácil, o que justifica, pelo menos parcialmente, uma rotação dos seus trabalhadores maior do que eu acharia desejável.

Mas há, tanto quanto percebi, uma boa razão para essa elevada rotatividade: para quem queira trabalhar em conservação da natureza e em gestão do território, a Montis é uma boa escola, que investa e apoia o reforço da formação dos seus trabalhadores e, de maneira geral, quando as pessoas saíram da Montis, saíram para situações mais favoráveis cuja oportunidade foi aberta pelo seu trabalho anterior na Montis.

A direcção da Montis mandou ontem um mail aos seus sócios dando conta de que, tendo tudo acertado para a contratação de uma nova pessoa na Sexta-feira passada, na Segunda foi tudo por água abaixo, por desistência da pessoa a contratar.

Agora é preciso andar asinha para contratar outra pessoa e há um processo de candidaturas aberto até ao próximo dia 21 de Março, razão pela qual aqui fica este post, para o caso de conhecerem alguém potencialmente interessado em ir trabalhar para Vouzela nos próximos tempos.

Trump, um politico mais tradicional. do que parece

por Jose Miguel Roque Martins, em 12.03.25

Ontem, os EUA e a Ucrânia, conseguiram chegar a acordo na proposta, á Rússia, de um mês de cessar-fogo. O congelamento de apoio pelos EUA foi levantado. A proposta de acordo, muito provavelmente, será rejeitada pela Rússia.

Juntando este episódio, com o que se passou na Casa Branca, parece mais clara a estratégia geral de Trump. Em primeiro lugar, dar espectáculo. Fazer grandes demonstrações publicas, mesmo recorrendo á mais lamentável grosseria, de que é um indómito defensor dos interesses americanos, que não subordina a ninguém, nem a nenhumas justificações fofinhas. O que poderá calhar bem para o que ele considera ser o seu eleitorado (para alem de massajar o seu ego).  Em segundo lugar, “explicar”, um percurso. Já não determinado com base em princípios abstractos, mas num claro roteiro. Demonstrou não estar ao lado da Ucrânia, que humilha e ofende. A quem corta, imediatamente o apoio. Para escassos dias depois, do alto do seu poder, obrigar a uma proposta de cessar-fogo, que imediatamente levanta o apoio que retirou. Torna-se um paladino da paz, abre o campo, (como desejo) para poder continuar a apoiar uma guerra, caso se verifique a esperada recusa da Rússia (finalmente quem deseja a guerra), que disse estar a ser mal-conduzida, que acabaria em 24 horas. Como poderia continuar a fazer o mesmo se tudo o resto nao mudasse? Ao mesmo tempo, consegue o que nenhuns presidentes, pelo menos desde Obama, tinham conseguido: que a Europa comece verdadeiramente a pensar ter de pagar pela sua defesa.

Trump tem um estilo indecoroso, mas é muito prematuro declarar que é um espião avençado de Putin, ou desprovido de qualquer tipo de eficácia.

O das tarifas é mais absurdo, mas também pode ter uma explicação, se não razoável, pelo menos compreensível. A grande base de apoio de Trump, são os menos favorecidos com a globalização, os trabalhadores indiferenciados que passaram a sofrer a concorrência de biliões de trabalhadores do resto do mundo. Não vivem pior do que viviam. Mas não prosperaram tanto como os trabalhadores menos indiferenciados, que hoje votam maioritariamente no partido democrático.

Esses trabalhadores querem repor a sua importância relativa e, para isso, á falta de políticas de redistribuição de rendimento (a mais adequada), ou aumentos significativos do salário mínimo (com custos económicos evidentes), acreditam que o caminho é reduzir a sua concorrência enquanto grupo laboral. Internamente, limitando a entrada de emigrantes, externamente, impedindo a concorrência de produtos industriais mais baratos, impondo tarifas esdrúxulas.

No combate aos emigrantes, a agressividade e brutalidade publica que coloca no tema, é contrabalançada por números mais baixos de deportações do que nos últimos tempos de Biden.

Não é impossível que Trump não perceba os benefícios do comercio internacional. Mas até declarou esperar uma recessão por via da imposição de direitos alfandegários. Mais uma vez, no entretanto, estará a fazer o que prometeu ao seu eleitorado.

É certo que Trump não se mostra um líder responsável, equilibrado, previsível e com valores consagrados no cerne das suas políticas.  Não é certo que Trump não siga uma lógica, pouco elegante, e que em alguns casos não o tornam diferente de qualquer político tradicional. O cuidado com a base eleitoral, os votos, os desejos de parte da  população americana, parecem explicar muitas das acções do actual presidente.

 

 

Os cegos que não querem ver

por henrique pereira dos santos, em 12.03.25

"Primeiro, quando o primeiro-ministro, perante a moção de censura do Chega, escolheu tergiversar, falando entre outras coisas, da recuperação de uma adega familiar, enquanto ocultava os contornos problemáticos da sua Spinumviva. ... Depois, soube-se que, contra todas as expectativas e ameaçando a razoabilidade, afinal as avenças da Spinumviva se mantinham activas. ... Entretanto, as pontas soltas iam-se acumulando: dos serviços de reestruturação de um grupo gasolineiro à aquisição a pronto de imóveis em Lisboa...". (Pedro Adão e Silva, hoje, no Público).

À força de ouvir o Bloco de Esquerda e o PS, entre outros agentes políticos, repetir à exaustão que Montenegro poderia ter matado o assunto que levou à queda do governo se, logo na moção de censura do Chega, escolhesse falar a sério da sua empresa, em vez de falar do número de laranjeiras que tinha e tentar vender a ideia de que a empresa que tinha feito era para gerir as suas heranças, comecei a duvidar de quando seria o momento em que o tinha ouvido descrever a actividade da empresa com pormenor, incluindo facturação e resultados, e descrever os clientes e serviços prestados, mesmo sem citar os seus nomes.

Poderia ter sido só na moção de censura do PC e, para além disso, não eram só os agentes políticos activos (e avençados como Pedro Adão e Silva, que é um avençado do Público, legitimamente, claro), era mesmo grande parte da comunicação social que, por acção ou omissão, não contestava esta ideia de que Montenegro disse tudo o que era relevante sobre a empresa, logo na sua primeira intervenção no debate da moção de censura do Chega.

Fui ver, como o Augusto Gil, e sugiro a qualquer pessoa que tenha dúvidas que comece a ouvir a partir do minuto vinte do debate da moção de censura do Chega.

 É claríssimo, mas de uma limpidez cristalina, "mais branca que a neve pura", que a afirmação de que Montenegro andou a tergirversar e a falar de laranjeiras e a oferecer terrenos em vez de explicar, tintim por tintim, o que era e o que fazia a Spinumviva, é mentira.

Tal como com Cavaco, tal como com Passos Coelho, a questão central é que a esquerda tem carta de alforria para dizer as mentiras que quiser por parte de uma comunicação social de rastos e que esquece o essencial das regras da sua profissão, começando pela necessidade de verificação dos factos e a proibição do uso de fontes anónimas quando não existe qualquer risco potencial para essas fontes.

E é por isso (conheço bem o processo, a uma escala completamente diferente é o que acontece comigo em relação à calúnia permanente de que estou vendido, ou pelo menos rendido (há uns que acham que nem consigo vender o que digo, embora tente), aos interesses das celuloses) que Montenegro, ou qualquer outro político de que a imprensa não goste (também acontece com alguns de esquerda), não ganha nada em estar a dar trela aos jornalistas sobre um assunto sobre os quais eles tenham ideias perfeitamente definidas.

Não é preciso nenhuma cabala para isto acontecer, é o resultado inevitável das condições objectivas de produção, como diria o PC.

Como me dizia um comentador que tinha levantado a hipótese (sem qualquer base factual) de que o pico de facturação da Spinumviva em 2022 decorria das necessidades de financiamento de Montenegro para concorrer a presidente do PSD), quando o confrontei com a mais completa ausência de indícios nesse sentido, "não gosto de videirinhos".

E isso chegava-lhe, como chega a muita gente, para dizer as maiores alarvidades que contribuam para a degradação geral do debate público, sem que a comunicação social confronte quem quer que seja com as evidentes mentiras convenientes usadas na discussão pública.

Há de facto uma degradação das instituições, pode ser que Montenegro contribua para isso, Alexandra Leitão é uma verdadeira especialista nessa matéria (veja-se a forma como torpedeou qualquer discussão racional sobre os contratos de associação das escolas) mas é à falta de qualidade do jornalismo que temos de assacar grande parte da responsabilidade do que se passa na discussão política das democracias liberais ocidentais (é um quase pleonasmo, este "ocidentais", porque praticamente não há outras democracias liberais).

A comunicação social vai perder as próximas legislativas

por henrique pereira dos santos, em 11.03.25

"Uma das suas fontes de rendimento em 2021 foi uma empresa de consultoria que criou em janeiro desse ano, com a mulher, Carla Neto Montenegro, e os dois filhos, dando como sede a nova casa da família. A Spinumviva, Lda, é uma consultora “de gestão e exploração agrícola, turística e empresarial”, que inclui no seu objeto de atividade a “orientação e assistência operacional às empresas ou a organismos (inclui públicos) em matérias muito diversas, tais como planeamento, organização, controlo, informação e gestão”, entre outros serviços.

O político teve 62,5% das quotas da Spinumviva até desistir delas e do cargo de gerência, que partilhava com a esposa em junho de 2022, após ter sido eleito presidente do PSD. A empresa faturou €68.000 em serviços prestados durante o seu primeiro ano, de acordo com o relatório e contas que apresentou. Há um ano Carla Montenegro passou a assumir 72,5% das quotas e a função de sócia-gerente".

Esta citação é de uma notícia do Expresso, de Maio de 2023, reforço, Maio de 2023. Na altura o foco da intriga era identificado no título da notícia: "Montenegro não declarou valor de casa com seis pisos", e o jornalista que escrevia a peça era Micael Pereira.

Nada na peça parecia ser relevante, pura coscuvilhice embrulhada numa suposta procura de transparência e legítimo escrutínio jornalístico.

Claro que o assunto foi cavalgado por adversários políticos de Montenegro (e os moralistas habituais nestas coisas, que alimentam o populismo), culminando numa denúncia anónima que obrigou o Ministério Público a investigar o assunto (já não era uma questão de declaração no tribunal constitucional, mas sim de favorecimento no licenciamento e na atribuição de um benefício fiscal), mas a origem é uma opção jornalística evidente, a de contrabandear coscuvilhice como jornalismo.

Sem surpresa, no dia 2 de Dezembro de 2024 (um ano e meio depois), depois de muita acusação infundada com base na opção jornalística citada, o Observador (como outros jornais), lá aparece com a notícia de que o inquérito tinha sido arquivado e não se viam sinais de qualquer irregularidade (nem mesmo na disparidade entre os gastos com a casa e os rendimentos de Montenegro, que a notícia citada inicialmente referia como sendo de cerca de 200 mil euros anuais, ou seja, 14 mil euros mensais, 14 meses, um bom rendimento, mesmo descontado as pesadas cargas fiscais que existem em Portugal para este tipo de rendimentos).

O Expresso, e o mesmo jornalista, voltou mais recentemente à carga, apesar de estar fartinho de saber da empresa da família Montenegro, como se demonstra pela citação que fiz da notícia de 2023.

A técnica jornalística é a mesma, contrabandear coscuvilhice como escrutínio jornalístico (como se demonstra pela frase com que abre a peça citada "A relação entre o grupo Solverde e Luís Montenegro é antiga e ainda não terminou", insinuando que Montenegro continua a manter relações profissionais com a Solverde).

Os jornalistas argumentam que é assunto com muito interesse porque a concessão do casino está a acabar e vai ter de ser decidida, portanto esta relação que se mantém (de acordo com o boato que os jornalistas promovem) revela um conflito de interesses que justifica toda a devassa subsequente.

A peça do jornal é toda sustentada numa característica transversal a quase todo o jornalismo actual e que consiste em fazer perguntas sem interesse nenhum, em tom de suspeita (por exemplo, o Observador, para noticiar que Montenegro respondeu às perguntas dos partidos, lista uma série de coisas que não se sabe, destacando a momentosa questão de não se saber quem foram os clientes responsáveis por 16% da facturação da empresa, sem que, naturalmente, os jornalistas do Observador se sintam obrigados a justificar qual é a relevância dessa informação).

Claro que os adversários políticos de Montenegro cavalgam as oportunidades criadas pela comunicação social, e o Partido Socialista decide fazer uma comissão de inquérito para poder ter acesso à documentação de uma empresa privada, sem que consiga explicar que indícios tem de que Montenegro mente, criando dúvidas razoáveis da prática de ilícitos que justifiquem uma devassa proto-judicial a terceiros.

É a coligação entre agentes políticos populistas (quer nos partidos, quer no comentariado) e uma comunicação social que desistiu de responder aos seus leitores e prefere falar em circuito fechado dentro de bolhas sociais completamente imunes à realidade, que irá ser referendada nas próximas eleições legislativas antecipadas.

Se Montenegro ganhar as eleições, é claríssimo que grande parte dos eleitores não atribuem ao jornalismo mais credibilidade que o Bloco de Esquerda atribui ao Chega, porque nenhum primeiro ministro acusado na imprensa (directa ou insidiosamente) como tem sido Montenegro poderia ganhar eleições, se a imprensa tivesse uma credibilidade sólida.

E imprensa sem credibilidade faz tanta falta como uma viola num enterro, como a falência de tantos jornais de facção demonstra, com especial destaque para o jornal que se apresentava como "a verdade a que temos direito".

P.S. Pedro Nuno Santos terá mentido de forma evidente na entrevista que deu ontem. As notícias não são de que mentiu, mas sim de que é acusado de mentir, escusando-se os senhores jornalistas a fazer o necessário escrutínio e apresentar aos seus leitores as suas conclusões. Depois queixem-se da crise da imprensa

Água vai

por José Mendonça da Cruz, em 10.03.25

Ensopado na rua ou a ver da janela as longas horas e dias de chuva torrencial, a saber das notícias de tempestades e trombas de água em todo o país a cada dois dias de três, vou imaginando: será que quando faltar água de bebida ou de rega em Agosto a culpa ainda vai ser das alterações climáticas?

Cinco mil e quatrocentos euros

por henrique pereira dos santos, em 10.03.25

A Montis continua a ter o saudável hábito de, todos os meses, mandar uma carta aos seus sócios para prestar contas do dinheiro que lhe é entregue.

Foi nessa carta que fiquei a saber que, no ano fiscal de 2023, houve umas quantas pessoas que decidiram alocar 0,5% do seu IRS à Montis, do que resultou um valor total de 5400 euros, entregues a semana passada pelas finanças.

Quando há pouco mais de dez anos quatro pessoas decidiram fazer a Montis (estas coisas são tão voláteis que as divergências de pontos de vista fizeram com que uma delas tenha saído do processo, mesmo antes de se ter conseguido formalizar a associação), tentou-se ver o que poderia ser a Montis daí a dez anos (ou seja, hoje).

Uma das coisas que se pretendiam (provavelmente aquela em que mais longe, negativamente, se ficou, em muitos outros aspectos foram ultrapassados os objectivos pretendidos) seria ter 750 sócios, a pagar uma quota anual de 20 euros, para que houvesse 15 mil euros por ano exclusivamente dependentes da capacidade da associação demonstrar a sua utilidade para pessoas comuns.

A ideia era de que seria bom pagar um secretariado que garantisse a independência da associação e a sua capacidade de funcionar, tanto mais que, estatutariamente, os membros dos órgãos sociais eleitos não podem prestar serviços à associação (já agora, até porque esta parte dos estatutos teve uma forte influência minha, isto distingue-me de Montenegro, a mim não me interessa manter zonas cinzentas que permitam dúvidas escusadas, mesmo quando são perfeitamente legais e aceitáveis, pelos custos reputacionais de longo prazo que podem trazer).

Hoje a Montis tem cerca de 350 sócios, a pagar uma quota de 25 euros, ou seja, directamente com origem nas quotas dos sócios estaremos a falar de cerca de 8 750 euros, longe dos tais 15 mil euros pretendidos (e isto sem entrar com a inflação destes 10 anos).

Mas há dez anos não se considerou a possibilidade de consignação do IRS, portanto, a base assente na vontade dos sócios e não sócios, assente na consignação de 0,5% do IRS e nas quotas dos sócios, dá origem a valores totais em torno dos 14 mil euros.

É já um valor bastante próximo dos 15 mil euros pretendidos, o que é uma fortíssima garantia de que a Montis se mantém dependente da vontade dos seus sócios e não de qualquer outra fonte de recursos (doações, patrocínios empresariais, projectos, etc.).

Com isso reduz-se também o risco do interesse dos seus funcionários em garantir o seu emprego desviar os recursos para os projectos com mais capacidade de atrair financiamento, mesmo que menos alinhados com os interesses dos sócios.

Para o ano fiscal de 2024, cuja declaração de rendimentos vai ser feita nos próximos meses, a consignação passou de 0,5% para 1%, como tinha assinalado aqui.

Se, como espero, continuar a haver pelo menos 350 pessoas a pagar quotas e um número indeterminado de pessoas a consignar o seu IRS à Montis, com a alteração da possibilidade de consignação de 0,5% para 1% o tal objectivo de ter o funcionamento base da Montis assegurado apenas pelos sócios parece-me perfeitamente plausível.

E a Montis é uma pequeníssima organização com objectivos muito focados, a produção de biodiversidade através de uma gestão de terrenos com esse objectivo.

O que esta medida de política significa para dezenas de outras organizações a que o Estado reconhece utilidade pública é muito relevante e traduz-se, forçosamente, no reforço da autonomia da sociedade civil face ao Estado.

O que me deixa muito satisfeito.

Domingo

I da Quaresma

por João Távora, em 09.03.25

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.

Palavra da salvação.

Revisão da matéria dada

por henrique pereira dos santos, em 09.03.25

"enquanto primeiro-ministro, Montenegro detinha uma empresa com a mulher e os filhos, com sede em sua casa e o seu telemóvel como contacto, que continuou a prestar alegados serviços a um conjunto de clientes empresariais, angariados pelo próprio nas suas redes de influência política regionais. Sendo que o negócio de uma parte significativa desses clientes depende de concessões, decididas pelo Governo. ... trata-se de uma conduta não compatível com o exercício da função. ... o que já se sabe basta para não sabermos mais. ... bem mais funesta é a ideia de que o plesbiscito amnistia ilícitos ou práticas eticamente reprováveis."

Pedro Adão e Silva, no Público de hoje, a ser-me muito, muito útil para fazer um resumo do que tenho escrito sobre isto.

O texto que cito parece-me exemplar como resumo dos factos, mas também exemplar na demonstração das técnicas de manipulação para criar insinuações ilegítimas e contrabandear mentiras.

"enquanto primeiro-ministro, Montenegro detinha uma empresa com a mulher e os filhos, com sede em sua casa e o seu telemóvel como contacto"

Isto é factual e não tem nenhum problema, é legal e é legítimo que um primeiro ministro seja dono de uma empresa familiar, desde que não exerça nenhuma função nela (porque está em exclusividade de funções), não pratique nenhum acto do qual resultem conflitos de interesses e que a declare, incluindo actos ou actividades que possam configurar conflitos de interesses potenciais. Se a empresa é familiar, é normal a sede ser a casa de família. O telefone de contacto ser o que está no acto de constituição na sociedade não tem nenhuma relevância (a empresa vive da rede social da família, portanto não tem grande necessidade de outros meios de contacto que não os pessoais) e só é referido na caracterização da empresa para insinuar uma excepcionalidade que não existe (há milhares de empresas no país que funcionam assim e muitas mais que, não funcionando hoje assim, começaram assim).

"que continuou a prestar alegados serviços a um conjunto de clientes empresariais".

A primeia malandrice que pretende dar força a insinuações de ilegitimidade está neste "alegados", como se houvesse dúvidas de que os serviços foram prestados. Dúvidas teóricas qualquer um pode ter e são legítimas, mas qualquer pessoa pode fazer o que fiz: perguntei ao Observador como geria as obrigações decorrentes do Regulamento Geral de Protecção de Dados (talvez faça um post sobre a resposta, um dia destes). Ou seja, objectivamente não há nenhuma razão para aquele "alegados" para além da vontade de fazer uma insinuação sonsa.

"clientes empresariais, angariados pelo próprio nas suas redes de influência política regionais", sim, os clientes foram angariados por Montenegro para a empresa, quando o podia fazer, e fazem parte do activo da empresa, quando ele sai, uma demonstração de que, embora essencial num primeiro momento de angariação e início de actividade, a empresa se tornou autónoma num segundo momento. Mas, lá vem outra vez a sonsice da insinuação, "redes de influência política regionais", em vez de descrever o que é normal numa pequena empresa familiar de consultadoria em fases iniciais, a dependência da rede social dos promotores da empresa para a angariação dos seus primeiros clientes. O que está a ser dito é que os accionistas da Solverde e da Ferpinta (cuja actividade política é desconhecida) são condicionadas politicamente por Montenegro, o que é evidentemente absurdo e só se compreende quando se quer desvalorizar as explicações que Montenegro deu: os accionistas dessas empresas são amigos de Montenegro há muitos anos (o que, acrescentou Montenegro, o impediria sempre de tomar decisões sobre elas, independentemente de quaisquer relações profissionais).

"trata-se de uma conduta não compatível com o exercício da função" é a frase que explica as insinuações antes feitas, é apenas a partir de uma visão conspiracionista que a frase é sustentável, porque não tem qualquer sustentabilidade nos factos, se lhes retirarmos as insinuações.

"bem mais funesta é a ideia de que o plesbiscito amnistia ilícitos ou práticas eticamente reprováveis", era aqui que Pedro Adão e Silva queria chegar (o título da crónica demonstra-o, se houvesse dúvidas), ao novo argumento do PS para continuar, depois de perder as eleições (o argumento só tem interesse para essa hipótese, se o PS ganhar é um instante enquanto toda a gente que diz que as eleições não legitimam o comportamento de Montenegro passar a dizer que o povo demonstrou que não quer o comportamento de Montenegro), a usar o ataque pessoal em detrimento do ataque às políticas, na sua acção.

Só que, mais uma vez, Pedro Adão e Silva (e muitos mais gente, até de forma mais primária, Pedro Adão e Silva é bastante mais sofisticado que a maioria dos comentadores) faz uma malandrice, almalgando coisas certas (as eleições não lavam ilícitos, as questões de polícia não se resolvem com vitórias políticas, coisa sobre a qual já escrevi há mais de quinze anos a propósito de uma pessoa que nunca, mas nunca, me mereceu confiança e muito menos apoio político), com coisas absurdas, como dizer que as questões éticas e de carácter não se resolvem em eleições.

Se não for essa a via pela qual as pessoas comuns julgam o carácter, a ética e comportamento legal dos políticos, qual é a via alternativa?

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