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Comecemos por um exemplo pouco provável (embora formalmente inatacável) e depois continuemos por coisas sérias.
Imaginemos que nas eleições do próximo Domingo o PAN elege uma deputada.
Imaginemos que essa deputada é milionária e decide pagar dois milhões de euros a cada deputado que aprovar um governo seu (seu, dela, naturalmente, não do deputado), convencendo 115 deputados a fazer esse negócio (ela própria é a 116ª deputada que faz a maioria).
A constituição impede essa solução?
Provavelmente não.
Significa isso que o PAN tinha ganho as eleições porque tinha conseguido fazer uma coligação que dava apoio um governo do PAN?
Não, evidentemente não.
Foi exactamente o que aconteceu em 2015, com umas pequenas alterações: o negócio não foi feito deputado a deputado, mas entre partidos, o pagamento não foi feito em dinheiro, mas em vantagem política (legítima, evidentemente).
Um partido, o PS, comprou politicamente o BE e o PC que estabeleceram um preço político que entenderam para apoiar o governo do PS.
Isso é o normal numa democracia e convém não confundir o plano formal, que é avaliado pelo Presidente da República e, se fosse o caso, pelo tribunal constitucional, com o plano político que é avaliado pelas pessoas comuns nas eleições seguintes.
No caso de 2015 Passos Coelho ganhou as eleições, teve mais votos e deputados que os projectos políticos concorrentes, muito provavelmente porque houve muita gente que, apesar da intensa barragem de propaganda da generalidade da imprensa, percebeu que o problema das contas do Estado era um problema sério.
O PS também percebeu que não poderia voltar à política que tinha executado antes de 2011, e que podia ser governo com o apoio de terceiros.
Com base nisto, comprou dois partidos a quem prometeu que iria mudar radicalmente a política de austeridade, ao mesmo tempo que mantinha essa política, alterando a forma de a fazer (aprovando orçamentos de Estado fictícios cheios de despesa e investimento público, que imediatamente cativava, e mudando carga fiscal directa para indirecta).
Note-se que vários partidos porem-se de acordo para apoiar um governo é perfeitamente normal.
Nestas eleições toda a gente sabe que a AD e a IL tentam ter condições para um acordo que permita um governo apoiado pelos dois, o que significa que nem a AD, nem a IL irão aplicar integralmente o seu programa, se tiverem de negociar um acordo entre os dois.
O que foi diferente em 2015 é que não só ninguém sabia que poderia haver um acordo entre os partidos que apoiaram a geringonça, o que limita a legitimidade política (mas não a legitimidade formal) do governo, retirando-lhe capacidade para actuar, como, o que é muito mais relevante, os três partidos têm muito pouca sobreposição programática, pelo que a coligação desses três partidos é muitíssimo limitada no que pode fazer e é inerentemente frágil, como se viu (sim, durou toda a legislatura, mas à custa de ninguém fazer nada de útil).
Ao fim de oito anos de degradação do funcionamento do Estado e de estagnação económica, a coligação dos perdedores o que tem a propor é voltar aos primeiros quatro anos em que formalmente se puseram de acordo para apoiar um governo.
O problema é que já ninguém acredita que a direita vai roubar os pobrezinhos, apesar dos favores mediáticos de que goza a coligação dos perdedores.
Não admira, por isso, que todo o esforço seja canalizado para falar de papões, sejam eles reais ou imaginários, e não do programa político que pretendem, em conjunto, executar.
... é mais feio do que Manuela Ferreira Leite e, quanto a fair-play, ainda faltarão algumas gerações luz para a alcançar ;
... é mais fala-barato do que o Cavaco;
... é menos contido e escrupuloso do que Passos Coelho;
... e mente, mente, mente, como não há termo de comparação com estes e com a Humanidade em geral;
... pelo que discursa mais desavergonhadamente do que todos juntos.
Mas dão-lhe um directo total na SIC (a política é realmente negócio e uma conclusão resulta - PEDRO NUNO SANTOS ESTÁ À RASCA!!!).
Não, não é o absurdo de ter uma mulher crescida, com longos anos de expeirência política e um contexto social fortemente politizado, a dizer que o pai foi condenado a prisão perpétua pela PIDE que motiva este post, apesar de ser o exemplo perfeito do arroubamento de espírito que define a alienação.
É mesmo a quantidade de gente que, apesar de trabalhar na produção de informação sobre a sociedade, perdeu completamente a ligação com a realidade.
Um tal Miguel Santos Carrapatoso, por exemplo, considera que Montenegro correu o risco de trazer Passos Coelho para a campanha da AD. Passos Coelho, para as pessoas normais, é o senhor que ganhou umas eleições, em 2015, imediatamente depois de ter aplicado um rigoroso programa de austeridade (embora os último ano e meio a dois anos antes das eleições já fossem de alívio desse programa, permitido pelos bons resultados obtidos). Não formou governo, é certo, mas isso não foi por ter perdido as eleições, foi por ter havido uma coligação de perdedores que ocupou o governo e o Estado e que, fraca como todas as coligações de perdedores, se limitou a ir sobrevivendo enquanto assistia à progressiva degradação do Estado e das instituições.
Uma tal Helena Pereira, fazendo de caixa de ressonância da invencionice sobre a xenofobia de Passos, escreveu um editorial do Público que acaba assim: "Em 2015...Passos Coelho brandia a ameaça de que o diabo vinha aí....Esse diabo não veio. Mas o ex-primeiro-ministro continua a ser fiel à mesma estratégia: instigar o medo, e o medo mais básico, como o medo do outro". Isto é de tal maneira absurdo (mais ainda que o outro ter sido condenado a prisão perpétua pela PIDE) que nem vale a pena perder muito tempo com o assunto, mas Passos Coelho não brandia ameaça nenhuma em 2015, limitava-se a ter a opinião de que o Orçamento de Estado apresentado pela coligação de perdedores não seria executado ou criaria problemas brutais às finanças do Estado. António Costa deu-lhe razão total, impedindo a execução do orçamento com cativações. Aliás, é completamente ridículo dizer que Passos Coelho passou a sua carreira política toda a instigar o medo, tão ridículo como achar que o medo mais básico é o medo do outro (de quem haveria de ser, de si próprio? Isso não é medo, é doença mental).
Parece que há outros que diziam que era absurdo trazer Assunção Cristas à campanha porque isso lembrava as pessoas da famosa lei Cristas quando toda a gente está preocupada com a habitação. Ó inteligentes, a lei Cristas, como lhes chamais, é uma lei que na pior das hipóteses preocupa as pessoas que não querem sair das casas onde estão e a actual crise da habitação preocupa as pessoas que querem entrar em casas que não encontram.
Outros ainda acham que as mulheres em Portugal podem ir a correr votar na esquerda por causa da questão do aborto, como se essa não fosse uma questão permanentemente em aberto na sociedade e houvesse alguém no país que esteja genuinamente a pensar que o resultado destas eleições influencia alguma coisa a legislação do aborto. É uma questão em aberto, aqui e em qualquer parte do mundo, como sabem bem as mulheres que estão perante decisões nessa matéria, porque é uma questão filosófica que só é simples para os simples de espírito: embora achem que é uma questão de mera liberdade feminina, quando questionados sobre a hipótese de legalizar abortos aos oito meses de gestação, entopem e não sabem responder porque reconhecem o conflito de legitimidades que está em causa na discussão.
Relaxem, são só umas eleições, em que um candidato me escreve a dizer que "seremos todos chamados às urnas para defendermos as grandes conquistas colectivas do nosso povo. Conquistas ameaçadas por uma direita que directa ou inderectamente tudo quer entregar aos privados: desde o SNS até à Escola Pública universal e gratuita" e outro candidato se limita a dizer que já basta o que basta e está na altura de mudar de rumo.
Entre uma e outra hipótese suspeito que estes alienados que citei acima não têm dúvidas, e eu também não. E suspeito também que a maioria das pessoas se está nas tintas para os tortuosos raciocínios sobre as vantagens e desvantagens de cada pormenor da campanha e se limita a estar farta dos que governam, com pequenos intervalos, há décadas.
Veremos dentro de uma semana quem tem razão.
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