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Há um conjunto de pessoas que têm um problema de mobilidade porque precisariam de um carro para se deslocar e trabalhar, mas não têm dinheiro para comprar carro nenhum.
O Bloco sabe que apesar de haver um conjunto alargado de pessoas que não tem dinheiro para ter carro nenhum, há outro conjunto de pessoas, muito mais pequeno, que tem dinheiro para comprar Ferraris.
O resultado é que as empresas que fazem e vendem carros se têm concentrado em produzir Ferraris porque há pessoas com dinheiro para os comprar.
O Bloco acha imoral que haja pessoas a comprar Ferraris quando há tanta gente que nem um Dacia consegue comprar e está convencido de que isso resulta do facto de, sendo os Ferraris mais caros, as empresas que os fazem serem mais lucrativas.
Que assim é parece-me que não há dúvidas nenhumas, toda a gente sabe que as grandes empresas de carros são as que fazem Ferraris, Aston Martins e Morgans, e não a Renault (dona da Dacia), a Volkswagen, a Ford, a Toyota, e todos esses que constroem carros mais baratos, demonstrando que preços mais altos dos bens significam lucros mais altos das empresas, como diz o Bloco.
Com esta base conceptual, o Bloco defende que proibindo, ou pelo menos restringindo fortemente a procura de Ferraris, as empresas de automóveis vão ser obrigadas a fazer mais Dacias se quiserem ganhar dinheiro, independentemente do problema base ser o facto das pessoas não terem dinheiro para comprar carro nenhum.
Se os compradores de Ferraris não puderem usar os Ferraris, aparecem à venda muito mais Dacias, estima o Bloco, o que permitirá a quem não tem dinheiro para comprar um carro, ver passar mais Dacias que Ferraris.
Essencialmente é esta a visão do Bloco e da generalidade da esquerda, incluindo o PS, sobre o mercado da habitação, não pretendem tornar mais eficiente a produção de casas, não pretendem baixar custos de contexto, incluindo custos fiscais, para tornar a produção de casas mais baratas, não pretendem aumentar os lucros associados à construção de casas para motivar mais investidores, não acham relevante ter políticas de aumento de rendimento, o que pressupõe empresas mais eficientes, mais lucrativas e maiores, a única coisa que querem é julgar moralmente os poucos investidores interessados em explorar o pequeno mercado imobiliário que ainda existe, apesar das regras serem o que são.
Boa sorte.
Os países mais civilizados, com comunidades envolvidas no auto-governo, com instituições sólidas e uma Administração Pública suficientemente autónoma, tendem a dispensar um Governo Central, que para os portugueses ainda é uma espécie messiânica que tudo irá planificar para nos resolver as frustrações e carências.
Verdadeiramente a uma Nação adulta bastar-lhe-ia o Rei a zelar pela Rés publica.
Há muitos anos tive uma longa discussão por mail com várias pessoas que se opunham ao uso de Organismos Geneticamente Modificados (na altura, era também a minha oposição) a propósito de uma famosa decisão de um tribunal canadiano.
A discussão não foi sobre a substância do processo, mas sobre a acusação, então frequente nos meios dos que se opunham aos OMGs, de que a Monsanto tinha ganho a causa por ter poder suficiente para corromper o sistema de justiça canadiano.
A acusação pareceu-me completamente idiota (como de facto era e acabou por ser reconhecido por quem a tinha feito) e por isso me envolvi na discussão, dizendo que uma coisa era corromper um juiz concreto, o que poderia sempre acontecer, outra coisa seria corromper todo um pesado sistema assente em garantias de recurso e contraditório, avaliados por juízes diferentes, que é muito mais difícil e me parecia muito pouco provável no caso do Canadá.
Para sustentar uma longa discussão - do outro lado estava uma pessoa muito determinada e muito trabalhadora - tive de ir estudar o processo.
Apesar do meu inglês ser tão bom que ainda hoje de manhã perguntei a uma neta minha de oito anos como se fazia uma concordância básica, porque não tinha a certeza, o que constatei é que era relativamente fácil encontrar as peças processuais relevantes, ler as sentenças e, sendo um leigo completo, percebê-las sem dificuldade, não tendo qualquer constrangimento em avaliar o que tinha sido discutido, os factos que existiam e as decisões tomadas sobre o processo, bem como a sua fundamentação.
A diferença para o sistema de justiça português, bastante opaco (hoje muito menos do que foi no passado), com um formalismo mal explicado e cheio de referências exotéricas e a interpretações habilidosas de textos legais dúbios e frequentemente confusos, foi para mim evidente.
Ou seja, não tenho a menor dúvida de que podemos fazer melhor no sistema de justiça.
Um dia destes li um texto sobre o assunto que me faz trazer para aqui a minha interpretação, porque fico tão irritado com os que perguntam o que não funciona, como com os que acham que isto é só aumentar penas e dar meios à investigação e ainda mais com os que acham que o é preciso é pôr na ordem os desqualificados que não são responsabilizados pelos prejuízos que causam a terceiros.
O acto de julgar é irredutivelmente subjectivo.
Este ponto de partida é fundamental para perceber que todas as propostas para melhorar o sistema de justiça que omitam ou desvalorizem este ponto de partida são proposta destinadas ao fracasso.
Na medicina, mesmo sendo uma arte, é possível responsabilizar o médico por um erro médico, uma coisa que pode ser avaliada de forma razoavelmente objectiva, mas responsabilizar um juiz pessoalmente um juiz por um julgamento que tenha feito retira-lhe a liberdade de julgamento por, forçosamente, o obrigar a ponderar até que ponto o poder do acusado o pode vir a prejudicar no futuro.
Podemos ter soluções em que quem julga tem um estatuto especial, como acontece no nosso sistema, ou que quem julga, no sentido de decidir se o acusado é culpado ou não, é um conjunto de pessoas comuns, correspondendo a uma ideia de justiça como princípio filosófico transcendente ou uma ideia de justiça como consenso social (acho eu, que não percebo nada disto), mas quer num caso, quer no outro, o julgamento é sempre, sempre, subjectivo.
Os dois sistemas, em qualquer caso, concordam na ideia de que o julgamento é subjectivo e, por isso, se constroem sistemas de aplicação do direito em que qualquer julgamento pode ser escrutinado e revertido por uma decisão tomada por pessoas diferentes, com o objectivo de minimizar os erros, no pressuposto de que se várias pessoas tiram conclusões semelhantes a partir dos mesmos factos, é provável que as decisões finais estejam mais perto da justiça.
Até aqui, isto parece-me relativamente simples e de aceitação generalizada.
O problema está em haver circunstâncias em que os efeitos de decisões muito preliminares podem ser imensos, do ponto de vista social: por exemplo, António Costa resolveu pedir a demissão de primeiro ministro com base na notícia de que haveria uma investigação sobre si.
Para muita gente isto é inaceitável, corresponde a atribuir um poder excessivo a quem investiga.
Só que essa consequência não decorre da investigação mas sim da leitura que António Costa resolveu fazer da notícia da sua existência, uma responsabilidade que cabe, e bem, apenas a António Costa.
Se amanhã a investigação der em nada, quem tem de ser responsabilizado pelas consequências da notícia da sua existência não são os investigadores, mas o político que resolveu tomar as decisões que tomou, sem ter em atenção as consequências dos seus actos, na interpretação bondosa da opção de António Costa, ou tendo apenas em atenção as consequências para a sua carreira política, na minha interpretação nada bondosa.
Com esta ideia de que a justiça tem um poder excessivo sobre os políticos (e tem, é inaceitável ter 3 pessoas presas durante três semanas, seja qual for o contexto, sem ter havido uma avaliação séria das razões para as prender, e dispenso lições sobre a diferença entre estar detido ou preso, para quem está na cadeia essa diferença não tem nenhuma relevância), há um monte de gente a querer responsabilizar este e aquele pelos erros de julgamento, nomeadamente nas fases de investigação.
É um erro monumental pretender responsabilizar individualmente os que fazem investigação ou os que julgam, pelos efeitos de erros na investigação e no julgamento, mas é igualmente um erro pretender que a instituição "Ministério Público" seja responsabilizada pelos erros de cada um dos seus membros.
É o Estado e a sociedade que são responsáveis por esses erros, e bem, e quando o Estado é condenado por abuso ou negação da justiça, é o Estado que paga indemnizações, e isso está certo e é bom que assim continue.
A razão porque tem de ser assim é simples: o investigador não pode ter medo de investigar, o julgador não pode ter medo de julgar, o que forçosamente aconteceria se responsabilizássemos os investigadores pela reparação pessoal dos erros da investigação e os julgadores pelos erros de julgamento.
Quem investiga tem de ter liberdade para investigar, quem julga tem de ter a liberdade de julgar e quem é acusado tem de ter a liberdade de não transportar para a sua actividade política as decisões tomadas em sede de processos judiciais.
Sou absolutamente contra os códigos de acção política de pretendem excluir da actividade política quem é investigado, indiciado, acusado, etc., em processos judiciais, essa avaliação é feita pelos eleitores nas eleições e cabe a cada um dos visados avaliar se tem ou não condições para exercer actividade política.
Não cabe aos partidos e seus dirigentes impor a terceiros sanções que nem a lei nem o sistema de justiça impõem.
E a corrupção não é uma questão de justiça, é uma questão de organização e transparência, se quisermos, uma questão de processos e de solidez institucional.
Os resultados eleitorais, parece-me, têm relativamente pouca relação com as campanhas eleitorais, são as dinâmicas sociais que condicionam as campanhas e não a inversa, diria eu.
Dito isto, a campanha do PS tem sido estranha sob muitos aspectos.
Um deles é a excessiva obsessão com o Chega, convencidos que parecem estar de que terá sido o medo do Chega que deu origem à maioria absoluta anterior, e não a tristeza de Rui Rio, o desinteresse de grande parte do eleitorado e a irritação de alguns com o jogo duplo do BE e do PC, que ora apoiavam o governo, ora lhe tiravam o tapete.
Não me parece que haja grande maneira de saber como se alinharam os astros para que o PS tivesse uma maioria absoluta que ninguém achava possível, mas alguns convenceram-se de que o medo do Chega desempenhou um papel central.
Vai daí, acharam que o melhor era dizer que Montenegro era dúbio em relação a um acordo com o Chega e por isso não era claro em relação ao assunto, depois passaram a dizer que tinha feito uma declaração relativamente clara, mas na verdade não fechava todas as portas, depois passaram a dizer que dizia que fechava todas as portas, mas na verdade tencionava fazer o contrário e agora aparece uma nova versão, que vou buscar à descrição jornalística de uma entrevista a Alexandra Leitão: " a socialista diz não ter razão para duvidar da palavra de Luís Montenegro em relação ao “não é não” a Ventura, mas adianta outro cenário: se o PSD precisar do Chega para governar, vai libertar-se de Montenegro e arranjar outro líder que faça essa aliança".
Este assunto é um assunto que não interessa a ninguém a não ser a meia dúzia de jornalistas e espanto-me que Alexandra Leitão não tenha percebido o que está a dizer, se é que a descrição jornalística corresponde ao que disse (não fui verificar).
O que está dito acima é que o caminho mais curto para o Chega ir para o Governo é votar no PS de tal forma que Montenegro se vá embora e o PSD escolha alguém que vá fazer um acordo com o Chega.
A mim parece-me isto tudo uma mão cheia de nada, mas será mesmo que a melhor forma de apelar ao voto no PS é convencer as pessoas de que a maior probabilidade de ter o Chega no Governo é fazendo o PS ganhar sem uma maioria da esquerda?
Se as campanhas eleitorais valessem muito na decisão dos eleitores, suspeito que o PS levava um grande arraso nestas eleições, só comparável ao arraso da famosa campanha de Almeida Santos a pedir 43% para ter uma maioria absoluta, de que resultou uma votação de 20,77% para o PS.
Enquanto os bem-pensantes e os partidos do centro se recusarem a olhar para a realidade, o Chega vai estar por aí.
As notas dos comentadores aos últimos debates são quase uniformes: André Ventura perde em toda a linha. O problema é que as votações populares não acompanham as analises. Um divorcio entre a “realidade” e a percepção do Povo.
Não me revejo minimamente no Chega, uma manta de retalhos sem norte nem substância, uma onda de protestos sem soluções. Mas que tem bandeiras poderosas tem, caso contrário não seria hoje a 3 força política, aparentemente em grande ascensão.
Será que o estado da justiça não é mesmo uma calamidade em que ricos e poderosos nunca serão condenados? Será que não há limites para os recursos e outros expedientes de má-fé a pretexto dos direitos liberdades e garantias de acusados? Será que prisões preventivas de 21 dias são equilibradas? Será que justiça tardia continua a ser justiça? Será que não há nada a fazer? Será que não tem que existir uma reforma profunda que não acontece e a que os partidos de bem não parecem atribuir uma necessidade premente? O que fazem PS e PSD nas ultimas décadas?
Será que a corrupção, que sempre existiu e irá continuar a existir, não merece, pelo menos, a perspectiva de que, quando identificada, possa ser punida exemplarmente, como forma de dissuasão? É o que temos? O que fazemos para alem de rasgar as vestes?
Será que os muitos que protestam contra a imigração de estrangeiros (no meu entender tão necessária), não têm direito a um modico de razão quando lhes parece existir desordem, trafico de pessoas e pretendam que exista uma política de emigração com algumas regras conhecidas? Será que, mesmo que o problema não tenha a gravidade percepcionada, não merecem esses cidadãos o conforto de uma resposta publica, mesmo que seja um placebo, que os tranquilize?
Será totalmente infundada a convicção que demasiados etnicamente ciganos, que mantêm a cultura cigana, mantêm todos os seus direitos, mas não cumprem todas as suas obrigações e deveres, num clima de impunidade prática que não se aplica aos outros cidadãos?
Será que uma verdadeira segurança publica, pode conviver com a actual definição de brutalidade policial que leva policias para a prisão, porque disparam contra bandidos em fuga, matando uma criança fechada num porta-bagagem?
Será que as pessoas realmente consideram que os problemas de género, de racismo, de culpas históricas, de fantasmas fascistas são aquilo que mais as deveriam preocupar, como aparentemente parece, no mundo mediático?
O Chega aproveita grandes falhas, as incapacidades do regime, problemas que nem são assumidos como problemas reais e a que os grandes partidos não dão resposta. Soma a incapacidade que o PS demonstrou nos últimos 8 anos na saúde, na educação, na habitação, na economia, sobretudo por questões ideológicas, junta promessas fantásticas e obtém um capital político imenso que se traduz em votos.
Se nos quisermos livrar do Chega, não vale a pena chamar-lhes fascistas. Basta olhar para a realidade, assumi-la, dar-lhe soluções e esvaziar as grandes razões de protesto. É o que começa a acontecer por essa Europa fora, da esquerda à direita moderada no combate ao radicalismo populista. Por cá, somos sempre alérgicos à realidade, à acção e a solucionar os problemas. Ou talvez apenas incompetentes.
Há um grande incómodo das elites perante debates eleitorais como o que existiu entre Mariana Mortágua e Ventura.
A mim parece-me que esse incómodo é do mesmo tipo de alguém que se irritasse por num jogo de futebol estar tudo aos pontapés à bola em vez de fazer ballet, que é muito mais bonito e civilizado.
O problema não está nos debates, acho que José Mendonça da Cruz tem toda a razão neste seu artigo, mas sim na forma como a imprensa trata a campanha eleitoral.
Em vez da imprensa se dedicar a avaliar factos que nos permitam votar de forma mais consistente, entretém-se a fazer comentários e a dar umas ridículas notas com resultados estranhos: todos dizem que André Ventura é um tribuno temível, com uma oratória demagógica mas eficaz, que é sempre muito difícil debater com ele mas, de acordo com os comentadores, perde os debates todos (parece que há anos ficou célebre um debate em que Rui Tavares teria arrasado André Ventura, mas depois o derrotado teve cinco vezes mais votos que o vencedor).
Ou melhor, parece que neste último debate com Pedro Nuno Santos os comentadores dizem que terá empatado, o que, como dizia alguém, as pessoas comuns interpretam como querendo dizer que Pedro Nuno Santos levou um banho.
Nada que incomode muito a imprensa.
A moderadora pega numa medida do programa do Chega que pretende reduzir o número de recursos judiciais, mesmo com perda de garantias dos cidadãos (diz a jornalista que é o que está escrito no programa do Chega, eu dispenso-me de ir verificar) e André Ventura diz que sim, é preciso fazer isso e dá o exemplo de Sócrates que já fez umas dezenas de recursos só para ir adiando o julgamento. Pedro Nuno Santos, questionado sobre o que pensa disso, atira para canto (o que é legítimo) com uma bicada em André Ventura, dizendo que ele, Pedro Nuno Santos, nunca foi condenado, portanto nunca precisou de recorrer, mas que André Ventura, quando foi condenado por difamação, recorreu. André Ventura desvia a bicada dizendo que nunca foi condenado por difamação, mas sim num processo cível (irrelevante para as pessoas comuns, mas serve para desviar as atenções sobre a incoerência de achar que os recursos serem excessivos em geral, mas adequados no seu caso particular). Depois os dois dedicam-se ao ping-pong sobre se foi condenado por difamação ou não.
O que faz o Observador? Vai verificar. Aquilo em que um diz uma coisa e outro diz outra (se foi por difamação ou não)? Nada disso, vai verificar aquilo sobre o qual não existia qualquer dúvida e os dois estavam de acordo, que André Ventura tinha sido condenado, matéria já de si sem interesse, mas colocada da forma mais favorável possível para Pedro Nuno Santos que nem numa matéria preparada foi capaz de ser suficientemente rigoroso, ou admitir o lapso quando contestado numa questão lateral, na qualificação do que levou à condenação de André Ventura.
Até são os comentadores (não estou a falar dos jornalistas que comentam, que é uma categoria à parte de comentadores, nunca se percebendo quando estão a fazer jornalismo ou comentário político, confusão que aliás se estende ao que escrevem e dizem que é trabalho jornalístico puro e duro) que acabam por fazer análises mais concretas, como Alexandre Homem Cristo neste artigo sobre abandono escolar ou Fernando Figueiredo neste artigo sobre defesa.
Tomemos o exemplo da manchete de hoje do Público: "Rendas têm maior subida em 30 anos apesar do aumento da oferta de casa", a que se segue, ainda na primeira página, o sub-título ou lead ou lá como lhe queiram chamar "A subida da oferta de casas para arrendar, apontada como chave para fazer baixar as rendas, está a falhar no objectivo. Só em Janeiro, as rendas cresceram quase 6%, o maior aumento em 30 anos".
Espantado com esta descoberta sensacional do Público que consiste em se aumentar a oferta e o preço ao mesmo tempo, o que só acontece, de maneira geral, quando a procura aumenta mais que a oferta, fui ler o artigo em que se baseia esta manchete.
Tudo treta de Pedro Nuno Santos que a imprensa trata como coisa séria.
Aparentemente, a coisa começa na apresentação do programa do PS para estas eleições (não fui verificar, evidentemente) em que, de acordo com a peça jornalística, Pedro Nuno Santos terá dito: "Estas medidas já começaram a produzir resultados. O stock de habitação disponível para arrendamento disparou 55% no último ano, 63% em Lisboa, 113% no Porto. Estes números não são inventados por nós, são de um portal que intermedeia a venda de casas".
Qual é a notícia aqui, para mim?
Que o Secretário-Geral do PS, e candidato a primeiro-ministro, prefere pegar nos dados de um portal imobiliário (esquecendo todos os outros) já de si pouco relevantes (ter mais anúncios de casas para arrendar não é o mesmo que ter aumentado o stock de casas para arrendar), a pegar nos dados do INE que demonstram uma diminuição da celebração de contratos de arrendamento, para justificar a sua acção política.
Isto é a única coisa jornalísticamente relevante, tudo o resto é propaganda barata, como aliás a própria peça do Público demonstra, parágrafo a parágrafo, ao mesmo tempo que escolhe para manchete de primeira página, exactamente o essencial da manobra de propaganda, tomando como certo que o facto de um portal ter mais anúncios de casas para arrendar é a demonstração de que há uma subida da oferta de casas e esquecendo os indícios contrários: menos contratos celebrados (fonte, INE) e rendas mais altas (fonte, INE).
Note-se que estas rendas que estão a ser apreciadas dizem respeito a todo o arrendamento, portanto tenderão sempre a subir na medida em que vai havendo contratos antigos a terminar de cada vez que morre alguém e os contratos novos são sempre por valores muito acima da média dos contratos de arrendamento existentes, portanto retirar conclusões de curto prazo sobre o efeito das medidas do pacote +Habitação destes dados é uma coisa do domínio da astromância, não do jornalismo, mas essa não é a questão central aqui.
A questão central é mesmo esta: que os jogadores de futebol joguem futebol, é normal, que as companhias de ballet passem o tempo a discutir futebol em vez de demonstrar as diferenças entre o ballett e o futebol, é uma pena e uma intrujice.
"Habitação, saúde e o Estado Social, com as pensões de reforma na primeira linha, a par do risco de ingovernabilidade, são sem dúvida os principais problemas que enfrentamos e que gostaríamos de ver o futuro Governo a encontrar soluções".
É com este parágrafo que começa o artigo de hoje de Helena Garrido, no Observador, uma jornalista moderada, mais ou menos dentro do grande centrão do sistema, com alguma especialização em temas de economia e de quem gosto.
Chamou-me a atenção por me parecer bem ilustrativo do desfasamento entre o mainstream do jornalismo, em que manifestamente Helena Garrido se encaixa, e muitos grupos sociais cuja preocupações quotidianas dificilmente entram no tal mainstream jornalístico.
O assunto da ingovernabilidade parece-me a mim que não interessa a quase ninguém, suspeito que as pessoas comuns olhem para esse assunto com muita distância, achando que são elas que têm de resolver os seus problemas porque se estiverem à espera do governo, seja ele qual for, ficam apeadas.
O assunto da habitação é um assunto relevante para algumas pessoas de menos de 40 anos que querem viver no centro de Lisboa e do Porto, mas é um assunto que não tira o sono a nenhuma velhinha de oitenta anos a quem a neta se esqueça de dizer que não se preocupe, mesmo aos oitenta e cinco anos, se a renda aumentar bruscamente, é o Estado a pagar a diferença (era, em rigor, estas regras foram alteradas, mas eram as regras que existiam quando Perpétua Mortágua (não fui eu que inventei este nome fictício à avó de Mariana, mas é uma piada fabulosa) terá recebido uma carta do senhorio). Ou seja, ao contrário do que pensa Helena Garrido, estará longe de ser um problema generalizado que leve alguém a votar neste ou naquele.
A generalidade dos pensionistas sabe bem que as perturbações nas suas pensões afectaram sobretudo a pequena minoria com pensões mais altas e que isso decorreu do facto de o Estado ter ficado sem dinheiro.
Sabem também que há um problema de longo prazo no financiamento das pensões, mas que esse problema existe independentemente do governo ser de este ou de aquele, portanto acompanham o que se diz sobre a sustentabilidade da segurança social, mas sabem perfeitamente que ninguém tem soluções mágicas.
Reconhecem, com excepção de Rosário da APRE!, que todos estão a fazer tudo o que podem e sabem para assegurar o mínimo de perturbações no pagamento das pensões e que o importante é o Estado não se pôr a gastar o dinheiro do contribuinte em fantasias arriscadas.
O que mais ou menos toda a gente reconhecerá, mas não Helena Garrido, que se esqueceu desse pequeno problema na enunciação dos problemas com que estamos confrontados no momento de decidir em quem votar, é que sem uma economia que funcione melhor, os níveis de rendimento não sobem por aí além e, portanto, no centro dos motivos para votar em A ou B, está o que cada um pensa que será o futuro da sua carteira.
Há grupos específicos, que podem ser ultraminoritários, como o meu, para quem a questão central está na qualidade das instituições e nos mecanismos de decisão das políticas públicas. Representamos eleitorados marginais, grande parte dele concentrado nos 5 a 7% da Iniciativa Liberal (embora eu vá votar na AD exactamente porque a Iniciativa Liberal resolveu funcionar internamente em evidente contradição com esta questão central, a da qualidade das instituições).
Há grupos específicos, também ultra-minoritários, para quem a questão central é a apropriação colectiva dos meios de produção (seja pela propriedade directa, seja pela ideia de que diminuir os impostos empresariais sobre os lucros é o mesmo que borlas fiscais, porque os lucros são, por definição, do Estado) e estão dispersos pelos 5% do BE, os 2 ou 3% do Livre e do PC e ainda mais uma fatia no PS.
Há outros grupos para quem a imigração é um problema, mas são grupos mínimos, aliás, o mais interessante do debate ontem entre Mariana Mortágua e André Ventura foi a absoluta coincidência dos seus pontos de vista sobre imigração: os dois defenderam, explicitamente, a imigração, com regras que não diferiam substancialmente.
O que verdadeiramente define a esmagadora maioria do eleitorado é o facto de quase toda a gente se perguntar: se o governo for do Zé ou do João, tenho mais probabilidade de me safar e ter uma vida melhor, ou não?
Os que não vêem em si próprios condições e possibilidades de melhorar com o seu esforço, tentam ver de onde caem mais migalhas para a sua mesa, os que acham que desde que os deixem, conseguem safar-se, tentam ver quem os prejudica menos.
O resto é só o resto.
Infelizmente o jornalismo perde demasiado tempo a discutir, em circuito fechado, a governabilidade e inutilidades que tais, em vez de ir para a rua tentar compreender como é que as pessoas vêem que cada partido as pode prejudicar ou beneficiar.
Se um dia se vier a verificar a hipótese, possível mas não plausível, do Chega ultrapassar a votação do PS, deixando-o como terceira força política no parlamento, a esmagadora maioria dos jornalistas vai explicar de forma absolutamente lógica, como afinal já tinham previsto que isto poderia acontecer e é inacreditável como os políticos não conseguiram perceber o que estava para vir.
Já agora, se estão preocupados com as votações do Chega com André Ventura, esperem até ver o Chega com Rita Matias à frente.
Onde estava o Ventura e a maioria dos seus apaniguados "anti-sistema" de agora, quando uma boa parte de nós, há décadas, estava a lutar contra o socialismo, no cuidado com os mais desfavorecidos, pela liberalização da economia, pelo auto-governo, a dar a cara e arriscar a sua pele e carreiras profissionais na luta pelos princípios da civilização cristã? Contra o aborto, pela tradição, contra o relativismo e pela família natural, base da comunidade concelhia e nacional?
A maior capacidade do Ventura tem sido dividir famílias, gerações e amigos. A favor de polícias, agricultores, reformados, naturalmente frustrados.
Definitivamente os fins não justificam os meios. E o meu sangue é muito velho para acreditar nas balelas de um vulgar oportunista.
Quando, a propósito de 70% das pessoas viverem em casa própria, disse que a subida dos preços das casas aumentava a riqueza da generalidade da população, apareceram alguns comentários completamente tontos (como argumentar que a subida do preço de um bem que eu não tenho nem vou comprar aumenta a minha pobreza, ou, mais ridículo ainda, argumentar que quem vende uma casa por 300 mil euros tem de ir a correr comprar outra igual por 300 mil euros, num país em que 63,2% dos alojamentos familiares estão sublotados) e outros comentários que são apenas ignorância: a de que o problema são os outros 30%, a de que existem encargos brutais com a habitação a subir por causa das taxas de juro e afins.
Vou esquecer as patetices sobre a compra de casa por estrangeiros, em especial de vistos gold (os estrangeiros, na melhor das hipóteses, representam 10% das transacções anuais, e metade são da União Europeia, portanto não são vistos gold com certeza) e vamos lá falar seriamente (para quem quiser ver a fundamentação, é dar um salto a este relatório, que já está disponível há algum tempo mas que os jornalistas portugueses que escrevem sobre habitação tendem a ignorar).
Pouco mais de 60% destes proprietários não têm encargos com a sua casa, portanto, não são afectados pelas subidas das taxas de juro, e dos restantes quase 40%, o que pagam distribui-se da seguinte forma:
Ou seja, menos de 30% têm encargos superiores a 400 euros e menos de 9% têm encargos superiores a 650 euros.
Ainda é muito gente, claro, e, sobretudo, é gente mais nova e com menos rendimentos, mas está muito longe de se poder falar de uma situação de aperto generalizado.
Agora sobre os 30% que na realidade não são 30% mas apenas 22,2%, como se vê aqui:
Estarão estes 22,2% da população em risco de perderem a sua casa por causa dos aumentos de renda?
Treta, há uma percentagem pequena de pessoas, com contratos relativamente recentes, em que isso acontece, mas é um franja muito pequena da população (não, não inclui muitos avós).
O problema diz respeito aos cerca de 65% dos 22,2% que têm contratos com menos de dez anos, os outros estão todos protegidos.
Só que, para além dos 2% de habitação social estatal (faço questão de escrever habitação social estatal porque a esmagadora maioria da habitação social que existe em Portugal é feita pelos senhorios privados a quem o Estado impede de cobrar rendas justas) a verdade é que olhando para as rendas que se pagam, o problema não está num T1 com 1500 euros de renda, existem, provavelmente, mas são completamente marginais no mercado.
Surpresa, não só existem mais rendas de menos de 20 euros mensais (4%) que de mais de 1000 euros (2,2%), como cerca de 70% das rendas são abaixo dos 400 euros mensais e mais de 90% são abaixo dos 650 euros (estou a assumir que há um erro no gráfico e falta o escalão entre 500 e 649).
Existe um problema de acesso à habitação no país para as pessoas que precisam de mudar de casa agora, por qualquer razão, mas isso está longe, muito longe de ser um problema generalizado a toda a população, como foi no tempo em que as grandes cidades se encheram de barracas e de periferias de construção ilegal.
Os debates eleitorais têm interesse. Os debates eleitorais têm audiência. Já o «achismo» dos comentadores, não sei…
Gosto dos debates eleitorais nas televisões. Gosto mesmo dos debates eleitorais nas televisões.
Gosto, primeiro, porque nos chegam sem filtros, e, por isso, são informação em estado bruto. Cada participante diz o que quer – sem que aquilo que disse seja truncado, ou treslido com alguma adenda escrita ou em voz off.
Foi assim, por exemplo, que, em dois debates, soube mais sobre o programa de governo da AD do que em semanas em que a comunicação social se esforçou por omitir informação sobre ele, ou sobrepor-lhe notícias menores (a casa de Espinho, a presença ou ausência de Passos Coelho, a presença ou ausência de outra figura da AD).
Foi assim, por exemplo, que vi expostos a clara luz o programa e as intenções do Bloco de Esquerda. Não as vozes maviosas, nem as expressões condoídas, mas o verdadeiro programa e as reais intenções.
Foi assim, por exemplo, que compreendi que Pedro Nuno Santos não tem uma ideia. Aliás, tem uma. O papagaio de Samuelson, que tinha dois neurónios, tinha dois motes: oferta e procura. Pedro Nuno Santos, que só tem um (mote, quero eu dizer) só sabe dizer Estado-Estado-Estado.
Gosto, em segundo lugar, por serem esclarecedores, não apenas no que é dito, mas na linguagem corporal, na linguagem facial.
Foi assim, por exemplo, num notável momento de televisão – desses em que a imagem vale mil palavras – que vi Mariana Mortágua, descomposta pela argumentação de Montenegro, encerrar uma fraca réplica com um sorriso que era um arreganho raivoso. Como nas Novas Andanças do Demónio, «saía-lhe fumo pelos intervalos do riso».
É assim que – lamentando o que vejo – vejo como o olhar de Rui Rocha não pára de deambular por pessoas e cenários, num sintoma de insegurança que deveria corrigir depressa.
Foi assim, por exemplo, que vi as inegáveis qualidades de tribuno e polemista de André Ventura, a exuberância e o tom categórico que tanto atrapalham os adversários, virarem-se contra ele, e porem várias propostas em dúvida.
Gosto, em terceiro lugar, porque os participantes estão sozinhos na função, não podem contar com a ajuda de plateias fiéis, profissionais de relações públicas, ou jornalistas simpatizantes (sobre a ajuda de comentadores, lá iremos). Nos debates, eles estão sozinhos.
Vejo, por exemplo, como as aparições de Pedro Nuno Santos – não apenas nos debates, mas sobretudo nos debates – relembram dolorosamente um historial de governação lamentável, e põem em cruel evidência a impreparação pessoal e política. Terão notado como – não apenas por causa dos debates, mas sobretudo por causa dos debates – as classificações enlevadas de «enérgico» e «carismático» com que era habitual virem adornadas as notícias sobre PNS, pois bem, terão visto como esses adjetivos fugiram espavoridos de cena.
Depois, há os comentadores televisivos dos debates eleitorais.
Não gosto nada dos comentadores televisivos dos debates eleitorais – os quais, aliás, passei a abster-me de ver.
Não gosto, em primeiro lugar, do esforço vão de originalidade que os leva a «achar» coisas extraordinárias. Uma das coisas extraordinárias que os comentadores «acham» é que os participantes nos debates (citação literal:) «falam para os convertidos». Estes comentadores «acham», portanto, que os participantes nos debates deviam, mais do que expor as suas ideias e programas, dissertar sobre, sei lá, as promessas da nanotecnologia, a situação política no Iémen, as nuvens cúmulo-nimbo e a aviação civil, os segredos da jardinagem.
Não gosto, em segundo lugar, mas acima de tudo, do enviesamento ou da cegueira. Não me incomoda que na sua confrangedora fidelidade Neves ou Pratas incensem PNS. Mas aflige-me que perante as mentiras descaradas de Mortágua (e deve-se sublinhar que «mentira», neste caso, não é ausência de verdade, mas o exato oposto dela), perante aldrabices gritantes, a generalidade dos comentadores a imagine triunfante.
Por fim, e tal como os comentadores, também eu vou «achar» coisas. Eu acho que os comentadores dos debates televisivos estão a fazer nascer um sentimento geral de que a sua intervenção é, não apenas inútil, mas sobretudo prejudicial. Eu acho que isso é péssimo para eles. Eu acho que este é mais um caso clássico do arroseur arrosé. Mas eu acho que eles lá sabem…
Esta é uma fotografia da Avenida de Roma, a partir do portão do Júlio de Matos, por volta de 1940 (fui buscá-la a uma página sobre Lisboa Antiga há uns tempos, por isso não sei atribuir-lhe a autoria).
Nessa altura o mercado de arrendamento para habitação era totalmente controlado no que dizia respeito a contratos antigos (eram válidos para a eternidade e chegavam a incluir os herdeiros, passando de geração em geração).
Como a inflação não era alta e o dinamismo social era muito, era possível arrendar casas com alguma facilidade, sendo certo que muita gente não conseguia arrendar casa, havendo milhares de pessoas a viver em quartos (por vezes sub-arrendados, antes desta altura era comum as casas de classe média terem um quarto com porta para a escada, para facilitar este esquema que permitia dividir despesas de arrendamento com estranhos), gente a viver em casas sem quaisquer condições de habitabilidade, casas mais que sobrelotadas, criadas a viver em casa dos patrões, etc..
Para além disso, embora de forma limitada, o Estado Novo fez alguns bairros sociais que albergavam muita gente em casas minúsculas, numa espécie de urbanismo que declinava a ideia de casa portuguesa de Raúl Lino (alguns destes bairros são hoje zonas muito valorizadas, com as casas a ser vendidas por preços muito elevados e as minúsculas divisões interiores a serem modificadas para responder à procura actual).
Note-se que no período imediatamente anterior ao da fotografia, Lisboa tinha passado de cerca de 200 mil habitantes em 1864 para cerca de 600 mil em 1930, ou seja, em menos de setenta anos, tinha triplicado a sua população e a Avenida de Roma, ainda assim, era o que a fotografia mostra.
Este gráfico, da wikipedia, mostra a evolução da população de Lisboa.
Claro que o que é evidente no gráfico, e é do conhecimento comum, não impede Mariana Mortágua de afirmar, convictamente, que foram os vistos gold que esvaziaram as cidades portuguesas, porque haverá sempre terraplanistas para quem "a verdade é um prurido pequeno-burguês", como bem nota José Miguel Cardoso Pereira num comentário a este artigo que escrevi para o Observador.
O que aconteceu em Lisboa para passar dos cerca de oitocentos mil habitantes nos anos 60, 70 e 80, para os actuais 550 mil, inferiores à Lisboa cuja Avenida de Roma era como mostra a fotografia?
Aparentemente, enquanto se contruía brutalmente entre 1930 e 1970, e a inflação era baixa, o centro ia ficando degradado, física e socialmente, porque o congelamento das rendas não permitia investir na sua modernização, mas a construção no resto do concelho ainda compensava o investimento e o dinamismo social compensava o processo de destruição de valor associado ao congelamento das rendas.
O problema foi quando a inflação se instalou, a partir do primeiro choque petrolífero em 1973: de 1947 a 1973 a taxa média de inflação andava nos 3%, mas de 1973 a 1992 andava acima dos 18%.
Com rendas congeladas e taxas de inflação deste nível, o parque habitacional existente degradou-se rapidamente por impossibilidade dos senhorios investirem em obras de manutenção, o centro esvaziou-se e guetizou-se em bolsas de pobreza ocupadas por pessoas que não tinham recursos para viver em condições mínimas de dignidade habitacional e o mercado de arrendamento novo simplesmente desapareceu.
A única forma de arranjar uma casa nova era comprá-la, o que só podia acontecer em edifícios novos porque os contratos de arrendamento passavam de pais para filhos, com rendas irrisórias (ainda hoje, 70% das rendas em Portugal são de menos de 400 euros e 30% são de menos de 200 euros), o que bloqueava o mercado de compra e venda de habitações existentes.
Com o parque habitacional a degradar-se rapidamente, a forma de ter casa em condições era abandonar o que existia (ou deixar lá os mais velhos da família) e comprar casas em novos edifícios, frequentemente nos concelhos limítrofes de Lisboa.
Para os mais pobres a alternativa era viver em barracas, também elas maioritariamente na periferia (os centros históricos caminhavam em passos largos para o abarracamento, por falta de obras de manutenção que as rendas pudessem financiar, dado o seu valor irrisório).
A situação foi ficando insustentável e o primeiro governo a mexer alguma coisa a sério no assunto (todos os governos e câmaras foram fazendo casas sociais, mas em quantidades evidentemente insuficientes) foi o governo de Cavaco Silva, que actuou de duas maneiras: 1) fez um programa de realojamento especial, juntando promotores privados e autarquias; 2) acabou com a transmissibilidade dos contratos de arrendamento, uma medida que só teria efeito a prazo, à medida que os inquilinos mais velhos iam morrendo.
Paralelamente, o Estado adoptou políticas sistematicamente mais restritivas no processo de promoção imobiliária com o objectivo de garantir, por via administrativa, uma qualidade que faltava, por razões económicas, agravando o problema da promoção imobiliária, sem grandes resultados do lado da qualidade das casas que se pretendia aumentar.
É este o contexto que leva o Partido Socialista, a troica, o governo de Passos a dar passos para melhorar o mercado de arrendamento, tornando-o mais flexível, mais dinâmico, menos dual, do que resulta mais disponibilidade de casas, embora a preços mais altos.
Acontece que 70% dos portugueses são donos da casa em que vivem, portanto, o aumento do valor da habitação corresponde a um aumento de riqueza para 70% da população.
A isto há quem chame legislação cruel.
Eis que principia o debate. Intervenientes o irrequieto Pedro Nuno e a salobra Inês. PS versus PAN. Dada a palavra ao primeiro, Montenegro, um ausente, é a bola que logo corre no relvado. A pivot impôs contenção, felizmente, iamos já não sei onde. Talvez na veneranda questão do aeroporto... (Que raio de desporto, a porcaria da política!) Prosseguimos. Com a ferrovia, tema candente, tão quão imobilizado. Ponto primordial no articulado: então a Linha da Beira Alta? Está para quando o comboio? Aos costumes (ficção), o ex-ministro ficou calado!
Depois o debate avançando para o lítio e o lobo ibérico. Golo do PAN! Vantagem para a região transmontana. Não sem que o cosmopolita Santos não demonstrasse atrapalhação. Mas em República reina o PS. Obviamente na vacuidade de opções.
Prosseguem os ataques à AD. Não, não, a arguente é do PAN, relembremos sempre. E há outro tema, o da carga fiscal. O discurso prossegue entre dizeres genéricos que nada explicam. Intervalo sem golos socialistas.
Assim também no que toca aos profissionais do Ensino. Negociações, negociações... A menina Inês ataca nos animais, pouca obra demonstrada. Concordo, eu aficionado da tauromaquia; dono de cães quase filhos. (No mundo solitário em que tantos vivem o bicho, cão ou gato, é a famíla...)
Por fim, o SNS e a política ambiental. Tudo vai mal, nem os portugueses admitiriam ouvir o contrário. Mas a culpa é do PSD, pormenorizadamente. Por acaso - o PSD - ausente do debate, logo impossibilitado de se defender. O vídeo-árbitro anula a jogada suspeita.
Funciona assim a "ética republicana". A quem agradeço imenso pela confirmação do que sempre pensei e acreditei. Sem ajudas tecnológicas - o fora-de-jogo é evidente!
É a tentação revolucionária latina que paulatinamente nos direcciona para a mediocridade e pobreza. Um círculo vicioso que só é possível quebrar com nobreza nos principios e preservança nas acções. A política é a arte do possível.
A tentação do radicalismo pode proporcionar um prazer imediato de vingança. Mas ao longo da nossa história significou a nossa desgraça. Não é por acaso que as monarquias só sobrevivem nos países que resistiram aos extremismos, onde prevaleceram consensos. Civilizados.
Um dos aspectos interessantes das sondagens é que a extrema-esquerda, ou esquerda radical se preferirem, tem intenções de voto relativamente baixas.
Haverá várias razões para explicar o fenómeno, a guinada à esquerda do PS de Costa e Pedro Nuno será uma delas. Já agora, acredito que, nos dois líderes, tal aconteceu por motivos diferentes. O encostar à esquerda é convicto por parte de Pedro Nuno, e com Costa foi meramente oportunista ou instrumental, pois para preservar a sua carreira política Costa ter-se-ia encostado a qualquer lado.
Mas terá sido a formação da geringonça que assinou a inexorável decadência da extrema-esquerda, que pode ser a quase sentença de morte do PCP, ora vejamos como.
Antes de mais, em termos históricos, o PS e o PCP eram inimigos figadais. A afirmação do PS fez-se combatendo o modelo comunista soviético, preconizado pelo PCP, e em defesa do modelo de democracia liberal, do tipo ocidental, em que nos inserimos. O sentimento dos comunistas para com os socialistas era semelhante ao que benfiquistas e portistas nutrem entre si. Esse pacto, visto por muitos como contranatura, quebrou um fortíssimo interdito mental.
Mas penso que não terá sido essa a razão principal, esta terá sido o contacto com a realidade. O que é que quero eu dizer com isso? Pois bem, a extrema-esquerda vende sobretudo ilusões de paraísos não atingidos. São amanhãs que cantam que, quando colocados em prática, inevitavelmente se transformam em pesadelos. O modelo comunista sempre deu errado, mas há a constante ilusão de que desta vez irá dar certo. É um pouco como meter a mão molhada na tomada, esperando que desta vez não dê choque.
Pois bem, situando-se o raciocínio comunista como algo fora da realidade, terá sido com alguma decepção que se assistiu à participação do partido na realidade, no caso no governo da geringonça. Os comunistas terão sido obrigados a concluir que a sua participação no governo não altera grande coisa, que não existe nenhum "toque mágico" comunista. A participação comunista só teria sido justificada se tivesse ocorrido um "salto quântico", e este não aconteceu, era óbvio que só em mentes fantasiosas é que poderia ocorrer.
Com o seu mundo a desabar, muitos partiram em busca de novas ilusões, que, curiosamente, vários vão acalentar do outro lado do espectro político.
Está uma campanha eleitoral a decorrer.
Essa campanha tem um monte de debates.
Um dos intervenientes diz que em dois desses debates, não vai ele, vai outro da sua coligação.
Durante mais de não sei quantas horas há não sei quanto tempo mediático cheio de questões sobre esta questão simples, desde os que se indignam com a mudança de regras, aos que extrapolam para a falta de credibilidade da palavra dada, até aos que fazem propostas infantis sobre putativos debates.
Na sala, permanecem dois adultos, o primeiro, que diz que não vai perder tempo a comentar, recomentar e recomentar os recomentários dos outros sobre um assunto que não interessa nada à generalidade das pessoas, e o secretário-geral do PCP que diz que por ele, façam como quiserem, se não for o chefe de um lado, do lado do PCP irá alguém, com certeza, mas não o chefe do PCP.
Esta história e a histeria dos jornalistas à volta deste não assunto parece-me uma excelente demonstração do desfasamento entre o mundo da comunicação social e das pessoas comuns e ilustra bem as razões pelas quais os jornais e os jornalistas ficam tão espantados com os resultados eleitorais.
Nem pensar em ver todos os debates e muito menos os debates sobre os debates eleitorais.
Mas vou vendo quando quero ou me aparece diante dos olhos.
O mais extraordinário é ver comentadores dizerem, por exemplo, sobre o debate entre Mariana Mortágua e Luís Montenegro (espero que Mariana Mortágua, na improvável hipótese de me ler, não fique ofendida por a designar primeiro que ao homem com quem debateu, como faria com qualquer mulher), que Mariana Mortágua apareceu muito combativa, ou preparada, e outras apreciações do mesmo tipo.
O que me mais me impressionou foi vê-la a mentir descaradamente sobre o conteúdo das avaliações do Tribunal de Contas às PPP da saúde e, sabendo perfeitamente que estava a mentir, reforçar que estava a fazer citações, citando meia dúzia de factos escolhidos que não relevam especialmente para as conclusões inequívocas do tribunal de contas e que são contrárias ao que ela estava a pretender dizer que eram essas conclusões.
Acharia normal que esta facilidade em mentir descaradamente, usando técnicas sofisticadas de mentira, fosse uma das traves mestras da apreciação do desempenho de Mariana Mortágua.
Estranhamente há muito quem nem sequer refira isto e, dos que referem, que ainda são alguns, o façam frequentemente como se fosse um pecadilho sem centralidade no desempenho de Mariana Mortágua.
Depois queixem-se da falta de qualidade dos debates quando mentiras desta dimensão, conhecidas e reconhecidas por todos, pesam tão pouco na apreciação global do desempenho de um político.
Li por aí que se calcula terem já habitado a Terra cerca de 108 biliões de pessoas, considerando o ponto de partida há 50.000 anos, com o “casal inicial”. Para se chegar a este número foram usados dados históricos e arqueológicos, bem como estudos da ONU sobre o aumento populacional ao longo da história. Mais curioso para nós leigos, é que o método usado pelo demógrafo Carl Haub do Population Reference Bureau não tenha sido aquele que aparentemente seria mais lógico regredindo nas gerações e somando todos os ascendentes de cada um dos 7 biliões de seres humanos actualmente vivos. A formula usada foi o de uma pirâmide com início no ano 50.000 a.C., a partir do "casal inicial" da nossa espécie (Adão e Eva?), e cujos descendentes se multipliquem até chegar aos actuais 7 biliões.
Se a demografia é uma matéria fascinante, atrai-me mais conjecturar sobre a questão existencial que o assunto levanta. Ou seja, por este estudo semicientífico (porque segundo leio implica alguma especulação) já viveram na Terra 108 biliões de pessoas como eu, como cada um de nós, seres únicos e irrepetíveis, cada vida uma história particular, cada um com o seu drama, tragédias, alegrias e tristezas, dores e consolos. Como é que é possível que esta criação não possua um sentido existencial superior é algo que parece não fazer qualquer sentido. É ilógico reduzir-se a humanidade a um mero acaso. A consciência de nós mesmos, o anseio de liberdade, o desejo de amor e de beleza, multiplicado por tantos indivíduos únicos e irrepetíveis que alicerçam a nossa História, reclama um sentido superior à nossa existência. Jesus Cristo afirmou-o e lançou o mote para a modernidade: “E quanto aos muitos cabelos da vossa cabeça? Estão todos contados” (Mateus 10:30). Cada pessoa como templo único e irrepetível de Deus.
Numas arrumações, encontrei o Público de 19 de Julho de 2017.
Já antes tinha encontrado o de um mês antes, onde tinha o artigo que fiz que talvez seja o cúmulo da minha influência na discussão pública, não porque seja o melhor, mas porque quando os que sabem muito mais de fogos se recusaram a escrever ou falar sobre Pedrogão em cima da tragédia, por respeito pelas mortes ocorridas, eu desalinhei e escrevi, por respeito pelos potenciais mortos do futuro (no Chile, por estes dias, morrem mais de 100 pessoas em fogos, é bom lembrar, para não se pensar que o que aconteceu em 2017 não volta a acontecer).
E no meio de tanta gente, a começar por Marcelo Rebelo de Sousa, insistia na tecla de que tinha sido uma tragédia apesar de se ter feito tudo o que era possível fazer, o que escrevi na altura desalinhava e dizia que não, não era verdade que fosse imprevisível (como continua a não ser verdade que não estejamos a caminhar para outra tragédia, lá por 2030, mais ano, menos ano, esperando-se que dessa vez morra menos gente, ou mesmo não morra ninguém, apesar da dimensão dos fogos que irão ocorrer, não sabemos quando).
Mas é do Público de 19 de julho de 2017 que quero falar.
Uma das manchetes da capa diz, em letras bem gordas: "Portugal vai ter menos eucaliptos após cedência do Governo à esquerda". Em subtítulo, ainda na primeira página "Parlamento aprova hoje parte da reforma da floresta. Maratona negocial seguiu noite dentro. Destaque, 2 a 5".
Comecemos por fazer notar que os jornalistas do Público, os que escrevem sobre o assunto, mas também os responsáveis editoriais, acharam mais relevante afirmar que Portugal ia ter menos eucaliptos depois da cedência à esquerda, que dar informação consistente sobre que reforma da floresta era essa que ia ser aprovada.
Logo na tal página 2, a grande fotografia do destaque é o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, com Catarina Martins a intervir no parlamento, o título é peremptório "Está decidida a redução do eucalipto - plantação só com autorização prévia" e no lead finalmente alguma informação relevante: "Governo só fechou acordo sobre a floresta com o PCP e Bloco minutos antes da votação. Ao primeiro cedeu no cadastro retirando do banco de terras os terrenos sem dono, e ao segundo na diminuição do eucalipto".
Aparentemente os jornalistas do Público acreditam no pensamento mágico de que uma alteração de uso do solo, como o eucaliptal, aumenta ou diminui em função de decisões administrativas e não em função das decisões concretas dos gestores de terras, legais ou ilegais.
A realidade bem demonstra que a área de eucalipto continua, paulatinamente a aumentar, que nem por isso os jornalistas do Público, os deputados do Bloco de Esquerda e os muitos que apoiaram essas decisões políticas e administrativas irracionais, alguma vez vão admitir que realmente mais valia decidir mais racionalmente e com menos confiança no pensamento mágico.
Na página 5 encontro a razão de eu ter este jornal num monte de papeis velhos: um artigo de página inteira escrito por mim.
Depois de uma longa explicação sobre o que me parecem ser as raízes do problema, sugerindo um conjunto de respostas aos problemas que identifico, pergunto-me se o governo nesta reforma tinha decidido deixar de capturar os recursos existentes para a gestão do sector, transferindo parte do dinheiro disponível para o mundo rural do apoio à produção para pagar os serviços de ecossistema.
E acabo a responder a mim próprio.
"Não, o Governo resolveu inventar um problema de propriedade, como se não fosse a falta de competitividade que conduz à ausência de dono, e não a inversa, resolveu inventar um problema com uma das fileiras mais competitivas, a pretexto da sua relevância para a existência de fogos (o eucalipto representa 13% da área ardida, portanto 1% menos que as áreas agrícolas, que representam 14%), resolveu embrulhar-se em discussões bizantinas sobre planos e competências administrativas, bancos de terras cuja viabilidade económica ninguém discute, repisar o problema da dimensão da propriedade quando a maior parte do valor acrescentado da floresta é produzido na região de minifúndio, etc., etc., etc..
Como ao Estado não lhe convinha fazer o que estava perfeitamente ao seu alcance, em matérias que lhe dizem respeito, resolveu mandar os proprietários fazer o que convinha ao Estado, dizendo que estava a fazer a reforma de uma floresta que não lhe pertence.
A probabilidade disto tudo ter qualquer utilidade deve ser mais pequena que a de eu ganhar o Euromilhões, mesmo sabendo que eu não jogo".
Seis anos e meio depois, a jornalista que assina a peça ainda escreve no Público, portanto poderia perfeitamente avaliar se a razão era sua quando resolveu dizer que Portugal ia ter menos eucalipto graças ao Bloco de Esquerda, ou se realmente a chamada reforma da floresta foi "um esforço inútil, um vôo cego a nada", como diria o Reinaldo Ferreira e como previa eu nesse artigo de opinião.
Mas não, a jornalista, o jornal, os outros jornalistas, e todos os que os apoiarem neste fronda, raramente se dedicam a esta tarefa de avaliação do seu trabalho, para ganharem experiência e não se deixarem enganar facilmente porque qualquer demagogo.
E não precisam de ir tão longe nesta análise como eu fui neste post, poderiam fazer o que fiz um destes dias, por mera curiosidade pessoal.
Tenho evitado fazer comentários sobre a Iniciativa Liberal antes das eleições, para além dos que já fiz, mas fui verificar se o que eu tinha influenciado fortemente no programa anterior do partido tinha ficado no actual programa para estas eleições o que me serve para ilustrar o potencial informativo que advém do respeito pela história.
Sem surpresa, parte foi ficando, parte desapareceu e o sentido geral tem coisas que ficaram (a ideia de uma política de conservação mais contratual e menos regulamentar) e coisas que ou desapareceram, ou foram fortemente limitadas, como o pagamento dos serviços de ecossistema, dos quais, aliás, eu falava nesse artigo, ainda anterior à Iniciativa Liberal.
De trave mestra do programa anterior - o pagamento de serviços de ecossistema - em matéria de conservação da natureza e floresta, passou a nota de rodapé em que depois de se dizer que o que compete ao Estado é produzir indicadores e acompanhar a execução de planos de áreas protegidas, até se concede que "Nas circunstâncias onde o justifiquem, pode ser o próprio Estado a pagar diretamente aos proprietários pelos seus serviços de ecossistema" (e nem falo da ideia anti-liberal de permitir "às entidades de gestão cobrar serviços de ecossistema pelo seu usufruto", que atribuo à opção de pôr a garotagem, sem experiência concreta dos assuntos, a fazer programas eleitorais).
O relevante aqui não é a evolução da Iniciativa Liberal, mas o potencial informativo que existe na comparação dos diferentes programas políticos que são apresentados, pelos partidos, a diferentes eleições, bem como a avaliação dos resultados concretos de políticas executadas, neste caso da putativa reforma florestal.
Sem memória, todo o discurso sobre o futuro é vazio e, aparentemente, o jornalismo tem estado mais focado em prevêr o futuro a partir de borras de café que em o discutir a partir dos resultados concretos das políticas executadas.
Em vésperas de eleições nos Açores, o Expresso publicou uma sondagem sobre voto nacional em que concluía pelo grande sucesso do Chega, e colocava uma fotografia triunfal de André Ventura atravessado na página. O Chega subiu a votação e conseguiu 5 deputados nos Açores, mas a vitória foi da AD. Se era um prognóstico para as eleições regionais, o Expresso perdeu as eleições nos Açores.
A Sic abriu o telejornal das 13, hoje, dizendo que a AD ganhou, mas a governação depende do PS. Em peça separada, pouco adiante, a Sic garante que «o PS pode ser a chave». Por entre manipulação de dados - que só pode ser considerada desonesta, para evitar dizer que é vã e estúpida (nem com Bloco e IL o PS formaria governo) - a Sic perdeu as eleições nos Açores.
A Católica disse à RTP e ao Público, em sondagem sobre as eleições nos Açores, que o PS ia ganhar com 39% (teve 35,9 e perdeu dois deputados) e a aliança PSD/CDS/PPM ia perder com 36% (teve 42% e elegeu 26 deputados). A Católica, a RTP e o Público perderam as eleições nos Açores.
A CNN/Tvi abriu o jornal das 13, hoje, com o interrogatório a Madureira, o «Macaco» dos dragões, e os protestos da Polícia. Sobre as eleições nos Açores - ao fim de vários minutos, por fim - garantiu depois que «há dúvidas sobre a governabilidade», e que «o PS deixa tudo em aberto». A CNN/Tvi não consegue engolir que perdeu as eleições nos Açores.
A sondagem da Aximage para o Açoriano Oriental e a Rádio Açores TSF deu um empate técnico entre PS e AD: 36,6% (foi 35,9%) contra 33,5% (foi 42%). A Aximage, o Açoriano Oriental e a Rádio Açores TSF perderam as eleições nos Açores.
Aguardam-se mais erros de avaliação, manipulações e dislates.
P.S. (salvo seja) Entretanto, na Sic como na Tvi, os comentistas -- já sem sequer repararem, como rabos escondidos com o gato de fora -- continuam a perorar sobre as eleições dos Açores exclusivamente pelo ponto de vista do PS.
"No pasarán!" é uma frase de que a esquerda que "vai sempre amanhã matar o velhote inimigo que morreu ontem" gosta muito e usa como amuleto anti-fascista.
Não só raramente sabem que a frase não é da Pasionaria, apenas foi adaptada por ela para efeitos de propaganda a propósito da batalha de Madrid, como ignoram a realidade subsequente e a resposta de Franco quando as suas tropas tomaram Madrid, "hemos pasado" (esta última parte também eu desconhecia, li-a através de Ana Cristina Leonardo e confirmei em fontes independentes).
A realidade, para esta esquerda folclórica, é apenas um pormenor que não deve ser levado demasiado a sério, e portanto, a propósito de qualquer ameaça fascista, reagem como se estivessem nos anos 30 ou 40 do século passado, gritando que o fascismo, que morreu em meados dos anos 40 do século XX, não passará.
É com base neste tipo de pensamento mágico que se inventou e se difundiu o mito de que a maioria absoluta do PS nas últimas eleições resultava da concentração do voto anti-fascista que tinha como objectivo impedir o acesso ao poder do Chega.
Nada na realidade permite dar alguma substância a essa alegação (está-se mesmo a ver que os eleitores comunistas que se passaram para o Chega estavam danadinhos por resuscitar a PIDE e que os eleitores do BE que votaram no PS estavam mais preocupados com o Chega que com a vitória da direita que lhes quer cortar o 13º mês), mas ainda que houvesse alguma hipótese desse mito ter qualquer virtude explicativa dos resultados das últimas eleições, os resultados de ontem, nos Açores, acabam com qualquer dúvida nessa matéria.
O Chega aumenta para o dobro, ao mesmo tempo que o PS e o BE perdem votos (fui corrigido, com razão, o PS teve mais 837 dos mais de 11 mil a mais que houve nestas eleições), criando uma situação em que a melhor maneira de levar o Chega ao poder é o PS aliar-se ao Chega para impedir a existência de qualquer governo e obrigar à repetição de eleições até que as tendências actuais acabem por dar uma maioria ao Chega.
E a melhor maneira de evitar o Chega no governo é deixá-lo a falar sozinho, como tenciona a AD fazer, deixando ao PS a decisão de se abster, viabilizando o governo da AD.
A alternativa é o PS coligar-se com o Chega para o derrubar o governo da AD e, de caminho, reduzir a base de apoio desses dois partidos, reforçando a AD (o PS e o Chega parecem estar na famosa situação de se correr o bicho pega, se ficar o bicho come).
Nas redacções dos jornais, onde a influência destes mitos da esquerda é esmagadora, deve andar tudo a tomar comprimidos para a dor de cabeça, com o esforço que têm estado a fazer para perceber que afinal o mundo não está na primeira metade do século XX e os eleitores estão é preocupados com a sua vidinha.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
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