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A Agência Portuguesa do Ambiente, que autorizou a modernização da base do Montijo para servir de aeroporto complementar ao de Lisboa, retirou a autorização de modernização da base do Montijo para servir de aeroporto complementar ao de Lisboa, porque «as circunstâncias» se alteraram. Conviria que ficasse claro que «circunstâncias» foram essas que tanto se alteraram, não vá a gente pensar que a APA está apenas a fazer um frete à ânsia socialista de construir mais um elefante branco.
No sábado passado, inadvertidamente na Almirante Reis, cruzei-me com a manifestação organizada pela plataforma Casa Para Viver. Confesso que, enredado no meio daquela fauna raivosa, até fiquei com saudades das manifestações revolucionárias dos anos 70 e 80, com homens de barba rija e mulheres de peito feito a reclamar a Ditadura do Proletariado. Com tantos malucos à solta a manifestar-se por causas absurdas (provavelmente fascistas da mesma laia dos que queimaram o cartaz do Chega), custa-me entender que haja gente tão preocupada com ciganos e imigração de muçulmanos. Acontece que a maior ameaça à civilização, hoje como ontem, está entre os “nossos”.
Miguel Santos Carrapatoso, "poveiro por direito e convicção" é um jornalista de política (editor adjunto de política no Observador) que aplica ao jornalismo a mesma opção que aplica à descrição de si próprio: em vez de dizer que é poveiro porque nasceu na Póvoa, diz que é poveiro por direito e convicção.
Hoje tem um artigo de opinião no Observador que ilustra bem a forma como funciona a sua cabeça, o que se reflecte na cobertura jornalística que faz e influencia.
A tese base do artigo é mais ou menos a de que não são todos iguais, mas parecem porque não demonstram ser diferentes "PS e PSD bem se podem queixar das cabalas e de todas as conspirações do mundo. Bem podem lamentar e denunciar quem aproveita estes casos para dizer que os políticos são todos iguais. Não são. Mas se PS e PSD não fizerem nada, nem mesmo depois disto, já ninguém vai acreditar no que dizem".
Como não dei por ninguém no PSD a falar de cabalas a propósito da Madeira (não digo que não exista, evidentemente, estou a dizer que não dei por isso) mas tenho dado pelo PS, desde os mais exóticos aos mais responsáveis, a falar de cabalas sempre que há alguma questão com o PS, incluindo no formalismo da tribuna do congresso partidário, fiquei com curiosidade sobre o fundamento que leva Miguel Santos Carrapatoso, poveiro por direito e convicção, à sua tese.
"Preferem sempre a tese da cabala. O alvo é laranja? O PS exige consequências políticas, o PSD queixa-se de perseguição. O alvo é rosa? O PSD exige consequências políticas, o PS queixa-se de perseguição. António Costa disse-o, com todas as letras. “Podem-me ter derrubado, mas não me derrotaram.” Quem o derrubou? Vítor Escária, o homem que escolheu para chefe de gabinete e que guardou 75 mil euros em dinheiro vivo na residência oficial do primeiro-ministro? Não, provavelmente foi o Ministério Público, a direita ou o Presidente da República.
Luís Montenegro, justiça lhe seja feita, ainda não deu esse passo para justificar o que aconteceu na Madeira. Mas qualquer destacado dirigente social-democrata com quem se fale por estes dias acredita piamente que o que está acontecer com Miguel Albuquerque obedece a uma lógica de compensação pelo que aconteceu no continente. Olho por olho, dente por dente, ora cai o PS, ora cai o PSD, como se fosse uma regra não escrita com que todos têm de aprender a jogar".
Resumindo a fundamentação, afinal o PS e o PSD portam-se publicamente de maneira diferente, mas o jornalista sabe, falando com pessoas que não identifica, que nos bastidores é tudo a mesma coisa.
Que retrato magnífico.
Não dos partidos, evidentemente, mas do jornalismo.
Ressalve-se, no entanto, que eu sei que os jornalistas não são todos iguais e o jornalismo não é todo igual, estou apenas a dizer que o retrato que este jornalista em concreto faz de um jornalismo que embora reconheça que os factos verificáveis são uma coisa, sabe, a partir de fontes anónimas, que a realidade é outra coisa.
É um retrato bem lúcido de grande parte do jornalismo político em Portugal.
Guterres considera a suspensão do financiamento à agência da ONU para os refugiados palestinianos como um castigo colectivo à população de Gaza e, por isso, pede que os países que resolveram suspender o financiamento deveriam rever a sua posição.
Imaginemos que Guterres era o chefe de uma esquadra de polícia.
Imaginemos que durante anos havia queixas de que os polícias debaixo do seu comando se entretinham, nas horas vagas (para usar a extraordinária ideia de Luís Lavoura), a assaltar casas usando a sua condição de polícias, fardados de polícias, nos carros de polícia, para convencer as pessoas a abrir-lhes a porta.
Imaginemos que a essas queixas Guterres respondia que não lhe cabia saber o que faziam os seus homens nas horas vagas e que o essencial é que os seus homens eram imprescindíveis para assegurar o policiamento da comunidade, garantindo a segurança de todos, sendo a alternativa um caos social que iria prejudicar os mais desprotegidos.
Às tantas, a associação das vítimas dos assaltos produzia documentação sólida e inquestionável sobre um assalto de dois polícias, exactamente como descrito nas queixas.
Guterres despedia imediatamente os polícias, chamava a atenção para a necessidade de verificar as provas, dizia que eram uma percentagem ínfima dos seus homens e que os seus homens eram essencias ao bem estar da comunidade.
Os maiores financiadores dessa esquadra de polícia, fartos da situação e desconfiando que o seu dinheiro era impunemente desviado, de forma sistemática, para as actividades paralelas dos polícias, suspendiam o financiamento, o que poderia levar ao agravamento da situação já precária dos mais desprotegidos dessa comunidade.
De quem era a responsabilidade pela punição colectiva, dos financiadores que se fartaram de uma situação em que durante anos as queixas foram ignoradas e a actividade da esquadra da polícia foi fortalecendo as actividades paralelas dos polícias, incluindo pelo desvio de recursos que deveriam servir a comunidade e não o bando de mal-feitores empregados pela polícia, ou do chefe da esquadra?
Pedro Nuno Santos repete, incessantemente, que pretende honrar o legado do Partido Socialista (de maneira geral tem o cuidado de o restringir aos últimos oito anos), renovando-o, ao ponto de alguém se lembrar de lhe chamar evolução na continuidade.
Pedro Nuno Santos repetiu esta ideia, de forma clara, a propósito das listas do PS.
É pena o nosso jornalismo não ter interesse numa questão que a mim me interessa: o que quer dizer Pedro Nuno Santos com honrar o legado do Partido Socialista?
Uma coisa quer com certeza dizer, honrar o legado da governação dos últimos oito anos, isso quer com certeza dizer (o que é isso na prática é outro assunto).
Mas olhando para as listas quer de candidatos, quer de dirigentes do PS, vemos de facto muita continuidade em relação ao Partido Socialista de Sócrates, e muito legado desse tempo, isto é, quando não são os mesmos dirigentes e deputados, são frequentemente filhos e protegidos dos dirigentes e deputados do PS do tempo de Sócrates.
Mantendo o pressuposto de que das questões judiciais trata o sistema de justiça, a verdade é que não foi por causa das questões judiciais que se relacionam com Sócrates que a troica foi chamada e que o governo de Sócrates aprovou o PEC I, II e III, usando o chumbado PEC IV (não precisava de aprovação nenhuma, Sócrates usou uma votação na Assembleia para obter vantagem política: se o PEC IV fosse aprovado, responsabilizava a oposição pelo reforço da austeridade que a sua política estava a exigir, se não fosse, como não foi, podia fazer o número que fez depois o Partido Socialista, responsabilizando a oposição pelo que veio depois).
António Costa coordenou a moção de estratégia de Sócrates ao congresso do PS que se realizou antes das eleições de 2011, estratégia essa que era política e conduziu à austeridade forçada pela troica, o legado não é de Sócrates (eleito no congresso por uma votação norte-coreana), mas do partido socialista.
Ora é sobre esse legado do Partido Socialista em concreto que gostaria de saber qual é a posição de Pedro Nuno Santos, gostaria de sobre isso saber se a sua posição é de continuidade - manipular a memória histórica - ou de ruptura.
É claro que em relação aos últimos oito anos também gostaria que o jornalismo fosse mais competente a perguntar-lhe sobre o legado de enfraquecimento institucional, informalismo na decisão, ataque constante ao sistema de justiça e essas coisas que fazem grande parte do legado de António Costa.
Mas antes disso gostava mesmo que os senhores jornalistas lhe perguntassem o que pensa do legado do Partido Socialista do tempo de Sócrates, esquecendo o contexto legal e focando-se no legado político desses anos do Partido Socialista.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!». E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.
Palavra da salvação.
As notícias sobre o envolvimento de doze funcionários da ONU no massacre do Hamas em 7 de Outubro são matéria noticiosa muito relevante (muito mais que a não decisão do tribunal internacional sobre a queixa de genocídio).
Primeiro, o contexto, para saber o que significam 12 pessoas nesta estrutura da ONU.
Esta agência, que é uma originalidade no contexto da ONU, foi criada em 1948 para dar apoio aos cerca de 750 mil refugiados palestinianos que resultaram da guerra de 1948 e hoje dá apoio a mais de cinco milhões, uma história de insucesso notável, visto que o objectivo seria integrar os 750 mil refugiados na sociedade, apoiando-os na sua natural busca por autonomia e uma vida digna.
A agência tem hoje cerca de 30 mil funcionários e "At least 150 UNRWA employees, out of 13,000 in the Gaza Strip, have been killed since October 7".
Só ontem, mais de três meses depois do ataque a Israel por parte do Hamas é que a ONU informou que despediu os ditos doze funcionários e vai agora fazer uma investigação aprofundada sobre o seu envolvimento em actos terroristas.
Note-se que isto apenas acontece porque Israel forneceu provas sólidas do envolvimento destas pessoas no ataque de 7 de Outubro.
Resumindo, 12 pessoas numa estrutura de 30 mil não é muito, e continua a não parecer muito mesmo que em vez dos 30 mil se usem apenas os 13 mil funcionários desta agência que existem em Gaza. E é um décimo dos que terão morrido nas acções militares que Israel e o Hamas desenvolvem em Gaza desde 7 de Outubro.
A questão mais difícil para a ONU é que as acusações de infiltração da agência por elementos do Hamas são muito antigas e a opção da ONU tem sido bastante clara: "in 2004 UNRWA head Peter Hansen stated to the Canadian Broadcasting Company: "Oh, I am sure that there are Hamas members on the UNRWA payroll, and I don't see that as a crime. Hamas as a political organization does not mean that every member is a militant, and we do not do political vetting and exclude people from one persuasion as against another".
Esta notícia sobre 12 funcionários desta agência estarem envolvidos no ataque de 7 de Outubro leva a acusação para outro nível, não apenas o de que a agência está cheia de gente do Hamas, mas que a ONU não tem mecanismos de controlo eficientes sobre o abuso que o Hamas faz do estatuto de funcionário da ONU e da cobertura que a agência pode dar às actividades terroristas do Hamas.
Da próxima vez que um responsável qualquer da ONU se queixar dos ataques a instalações suas, ou a funcionários seus, talvez fosse útil ter jornalistas a perguntar que garantias pode dar a ONU de que isso não resulta da forma ligeira como a ONU tem encarado a infiltração das suas agências por terroristas e outros extremistas.
Adenda: Um amigo que conhece bem o processo chamou-me a atenção para uma asneira do post: Isaltino não foi condenado por corrupção, mas por branqueamento de capitais "levou 55 malas de dinheiro para a Suíça (provado e descrito na sentença) mas o Estado não consegue associar isso a corrupção...", explicaram-me, se tivesse sido por corrupção não poderia voltar a exercer cargos no Estado. Fica assinalada a asneira, mas como não altera o essencial da questão ética, não mexo no post.
A propósito da confusão da Madeira, Sónia Sapage assina ontem um editorial no Público muito bom, não pelo que diz sobre o assunto do editorial, mas pelo que diz sobre o jornalismo em Portugal.
Começo por dizer que nestas matérias de demissões políticas por causa de processos judiciais tenho exactamente a posição do Partido Comunista Português, o que assinalo com evidente prazer por ser relativamente raro estar de acordo com este partido (na verdade, em coisas concretas, é menos raro do que parece porque o PC tem ums postura política clássica, até talvez mesmo jurássica, que o faz ter posições bastante sensatas em algumas questões, como barrigas de aluguer, coisas do mundo rural que os wokes insistem em decidir a partir dos seus preconceitos, esse tipo de coisas).
Diz o PC, e bem, que é cada responsável político que tem de avaliar as condições que tem para exercer o cargo, em cada momento, e eu não poderia estar mais de acordo.
Não tenho mesmo paciência para a mistura dos processos judiciais com a conversa da ética: uma coisa é o cumprimento da lei, que é avaliado pela justiça, outra coisa é o padrão ético que as pessoas aceitam que os seus representantes tenham, o que se valida em eleições.
Para deixar claro, Isaltino Morais foi condenado e cumpriu uma pena de prisão por corrupção (não foi indiciado, não foi constituído arguido, foi mesmo julgado e condenado) e isso não o impediu de se candidatar, ganhar as eleições e hoje exercer o mesmo cargo em que terá cometido os crimes pelos quais foi condenado.
Eu tenho uma leitura ética disto, e nunca votaria em Isaltino, Isaltino, e a maioria dos eleitores de Oeiras, têm, legitimamente, um entendimento diferente, não forçosamente da aceitabilidade do padrão ético de Isaltino, mas de que mesmo com um padrão ético que muita gente condena, consideram que não têm melhor opção como presidente de câmara.
A política não é um campeonato de ética, a política é a arte do possível.
Voltemos então ao editorial sobre o jornalismo português que Sónia Sapage escreveu, pensando que estava a escrever sobre "A justiça-espectáculo".
Jornalistas responsáveis, no caso suficientemente responsáveis para ser a editorialista do Público de ontem, acham que perante a quantidade de investigações da justiça ligadas a corrupção na actividade política, o mais importante é fazer comentários depreciativos sobre a justiça em vez de se perguntarem a si próprios, e aos restantes agentes políticos, como é possível que tantos e tão grandes processos duvidosos se passem debaixo do seu nariz, sem que se dê por nada até à entrada da polícia.
Sobre isso eu tenho uma opinião clara, embora não tenha maneira de saber se está certa: isto só é possível com sociedades institucionalmente frágeis, em que o escrutínio, por parte dos adversários, dos eleitores (basta ler os comentários no corta-fitas ao excelente post do Miguel Alçada Baptista de ontem) e dos jornalistas, é muito mau.
Claro que há corrupção em todo o mundo, claro que de vez em quando rebentam escândalos enormes aqui e ali, mas com esta frequência e a este nível do Estado, não me parece que aconteça em países em que as instituições funcionam de forma transparente, em que os mecanismos de controlo são fortes, em que os adversários escrutinam verdadeiramente a acção dos decisores, em que os eleitores realmente consideram a ética de forma mais séria no seu voto e, sobretudo, em que os jornalistas ligam menos ao que diz o governo (e a oposição, é inacreditável a conversa que regularmente Miguel Santos Carrapatoso traz para o Observador sobre o ressentimento entre Montenegro e Passos, em vez de gastar o seu tempo em coisas úteis) e mais ao que faz.
Todo o editorial é um tratado mas escolho apenas um bocadinho, que o post vai longo.
"Trata-se de garantir que não se metem inspectores da Judiciária em aviões da Força Aérea para evitar fugas de informação (como contava o Jornal de Notícias), assegurando, ao mesmo tempo, que os jornalistas do continente chegam a tempo de estar presentes na região durante o desenrolar das buscas de um processo que decorre sob segredo de justiça (como escreveu o director do Jornal da Madeira e não foi desmentido)".
Este parágrafo delirante está a tomar como boa a ideia de que a investigação judicial escolheu aquele dia para fazer buscas porque estariam na Madeira os jornalistas do continente que iam assistir à apresentação dos candidatos da AD, na Madeira, às próximas eleições legislativas.
Comecemos pelo fim: uma opinião delirante foi publicada por alguém, e como não foi desmentida, passou a facto praticamente confirmado. Brilhante como raciocínio jornalístico que pressupõe que a principal actividade das pessoas normais é andar a escrutinar os jornais para desmentirem tudo o que publicam, no caso de não ser verdade. É aos leitores que cabe validar o que os jornalistas publicam (por omissão, também), não é aos jornalistas que cabe apenas publicar coisas minimamente validadas.
Depois uma pergunta que me parece até um bocado ingénua: se os jornais estão todos com a corda na garganta, a que propósito mandam jornalistas do continente para a Madeira para uma apresentação de candidatos dessa região? Qual é a relevância de uma apresentação de cadidatos que justifique essa mobilização de meios? Por que razão não servem os jornalistas da Madeira para cobrir o que se passa na Madeira?
Por fim, a jornalista está a sugerir que seria possível que fossem feitas as buscas que foram feitas, nos sítios em que foram feitas, e tudo ficasse no segredo de justiça, se não houvesse por ali jornalistas do continente, o que levaria a investigação a escolher um dia com mais jornalistas do continente para garantir que toda a gente saberia das buscas?
Isso é o que leio neste editorial e o simples facto de uma editorialista do Público achar normal isto, ao ponto de o escrever num editorial como hipótese plausível, leva-me a considerar este editorial como um notável retrato do jornalismo em Portugal: uma coisa absurda, feita por gente sem qualquer noção da realidade, que vive numa bolha social que a impede de compreender o mundo e escrever para ele.
No fim, queixam-se de não conseguir vender jornais sobre um mundo imaginário, feitos a pensar num mundo de leitores que não existe.
A campanha da estante do Ikea merece-me duas reflexões:
1) Serviu para lembrar que, contrariamente à narrativa que os socialistas puseram a circular e que muitos interiorizaram, Costa não se demitiu por um parágrafo, que aliás tinha que lá estar. Costa demitiu-se porque aquele que introduziu nos negócios do Estado, de forma informal e inaceitável, com o título de seu "melhor amigo" utilizava tal estatuto para vender serviços de tráfico de influências e pelo facto de ter sido apanhado na residência oficial do PM uma grande quantidade de dinheiro que seria pertença do seu chefe de gabinete, cujo currículo parecia cadastro.
Sempre disse que é impressionante como, por cá, as narrativas socialistas substituem os factos. A mais mirabolante narrativa socialista foi que a austeridade foi culpa do Passos Coelho e não da actuação de um governo socialista, cleptocrata, absolutamente irresponsável, que fez o país bater no muro.
2) Quem fez a campanha foi uma grande multinacional sueca. A empresa avaliou que poderia conseguir notoriedade e "viralidade" com o anúncio e aprovou-o. Embora eu penso que não haja qualquer intenção política no anúncio, a empresa decidiu aprová-lo porque ela, empresa, não depende em nada do Estado ou do poder socialista. E, na minha perspectiva, uma empresa aprovar os anúncios que bem lhe apetecer, sem temores reverenciais é algo de bom. Infelizmente não estou a ver nenhuma grande empresa portuguesa a fazê-lo. Quase todas são demasiadamente reféns de intrincadas relações de interdependência. E as dependências, como nós sabemos, são inimigas da liberdade. Como gosto de liberdade, eu gostaria de uma sociedade que cultivasse menos as dependências.
Em Janeiro de 2017 (há sete anos, portanto), a Fundação Francisco Manuel dos Santos publicou um ensaio meu sobre couves e batatas.
Hoje recebi um mail a informar-me que ao longo do sexto ano após a publicação (ou seja, ao longo do ano passado) se venderam 187 livros de um total de vendas, desde a publicação, de 5063 livros.
Para além da auto-propaganda que consiste em publicitar resultados que não me envergonham (desconfio sempre das pessoas que dizem que não se envergonham de nada do que fizeram na vida, mas neste caso não me envergonho nada de ter vendido mais de cinco mil exemplares de um ensaio sobre couves e batatas, mesmo tendo presente a lucidez da minha mulher quando lhe dei a notícia: "anda por aí muita gente que foi ao engano"), resolvi fazer este post porque, a propósito de outro livro com o qual não tenho nenhuma ligação, alguém me dizia que na editora tratam os números de venda quase como segredo de Estado.
Nestas, como em muitas outras coisas, sou verdadeiramente radical em relação à circulação de informação.
Não é vergonha nenhuma não vender um livro, pode ser porque é mau, pode ser porque é bom, mas interessa a muito pouca gente, pode ser porque é bom, interessa a muita gente, mas foi mal vendido ou até pode ser por circunstâncias fortuitas (por exemplo, uma das coisas que mais ajudam um livro a vender é o facto do seu autor morrer dramaticamente na altura da sua publicação, mas são poucos os disponíveis para usar essa técnica de vendas, apesar da sua eficácia estar amplamente comprovada).
Não acredito que alguém que escreva o que quer que seja não o escreva para que alguém leia, nesse sentido, qualquer pessoa que escreve um livro, seja que livro for, gostaria de muita gente o lesse (um dos orientadores da minha tese de doutoramento, sabendo que eu a estava a fazer fora de qualquer ligação formal a qualquer instituição de investigação, portanto sem acesso fácil às caríssimas assinaturas das revistas, aconselhou-me a ver quem era o primeiro autor do que queria ler e lhe mandasse um mail a pedir o artigo, explicava ele "os académicos querem ser lidos, nunca recusam a oportunidade de ganhar um leitor").
Daí que eu não entenda uma política editorial (que, tanto quanto sei, a Fundação Francisco Manuel dos Santos não segue) de andar a evitar dar informação sobre vendas e afins.
Aliás, não me parece que isto seja uma coisa do mundo editorial, dá-me a impressão de que seja a vender livros, a comprar estantes, a falar de rendimentos, a discutir adjudicações de obras, a registar reuniões e seu conteúdo, etc., etc., etc., somos sempre a favor de uma certa contenção na informação que disponibilizamos a desconhecidos.
Aparentemente gostamos muito de surpresas.
Ontem passaram 101 anos do nascimento de Couto Viana (1923-2010). Foi poeta de sensibilidade apurada, um erudito que jamais perdeu o lirismo e, acima de tudo, um patriota, como outro poeta injustamente esquecido, Rodrigo Emílio. Certamente estes poetas não preenchem o cânone do regime: monárquicos e nacionalistas, bardos do Portugal antigo, acabaram riscados do mapa. A injustiça vinga na terra que renega os seus filhos. Poetas à direita não faltaram, pese a contradição do mitológico predomínio intelectual das esquerdas. Se se pensar em António Sardinha, Alberto d'Oliveira, Guilherme de Faria, Afonso Lopes Vieira, Fernanda de Castro, Rodrigo Emílio, Couto Viana, existe uma cultura de direita remetida para o esquecimento.
Na arte poética, Couto Viana foi singular e original. Sem necessidade de entrar em escolas ou clubes cultivou uma voz própria. Nos velhos tempos das tertúlias literárias, quando os cafés serviam de ponto de encontro à discussão intelectual, Couto Viana pôde cultivar amizades, mais tarde fundamentais na formação da revista "Távola Redonda", conjuntamente com David Mourão-Ferreira e Luiz de Macedo. Os trilhos da poesia sondam quase sempre os mesmos mistérios do amor, da morte, da perda, a originalidade está no desafio em alcançar o domínio da língua para fazer da palavra uma arte.
Quando o neo-realismo ditava a regra estética, Couto Viana não abdica da originalidade, nem deixou de ser um espírito livre. Num meio intelectual dominado pela esquerda jamais se deixou seduzir pelos "amanhãs que cantam". Manteve-se firme enquanto via a pátria secular recolher-se ao rectângulo. Assim cantou essa mutilação de forma absoluta e comovente. Ao país apontou a forma que assumia, a de um caixão: "Agora, o meu país é pó, é cinza, é nada./ Reduziram-no assim para caber na mão/ Fechada." Afinal, como Maurras e António Sardinha, a poesia conduzia-o à política. Na esteira dos princípios, à "Politique d'abord" podia contrapôr (na feliz expressão de Rodrigo Emílio) a "Poesie d'abord", sintetizando o compromisso com os valores perenes, as verdades vencidas (diria Alfredo Pimenta).
Poeta trágico, com a imagem de Camões reflectiu sobre esse mesmo desígnio: "Nunca digas não mais, mesmo que a ferida/ te pareçs mortal./ Mesmo que a gente surda e endurecida/ Se chame Portugal". Se Bocage se compara ao poeta nos feitos e não no talento, Couto Viana assume o vate como halo para interpretar o destino final de Portugal. Não seria apenas Camões, mas o próprio Couto Viana. Quanto também Jorge de Sena sondara uma mesma decepção em "Camões dirige-se aos seus contemporâneos" (são discursos com singularidades próprias que identificam a mesma angústia face, não apenas aos contemporâneos, como face aos conterrâneos, dos quais se auto-exilam).
Assim, desencantado, num poema final desafia o destino e a história "É preciso ficar aqui entre os destroços". De pé sobre as ruínas, um último soldado, ou último combatente. Assim ficou, assim ficámos...
Passa mais um ano em que se assinala a morte de Sir Winston Churchill. Descendente doutro Churchill notório, Lord John Churchill, primeiro duque de Marlborough, herói das guerras contra Luís XIV. Procurou as referências na genealogia, embora nem sempre com o sucesso desejado, num percurso político sinuoso, mas no final glorificante. A biografia que escreveu do ilustre antepassado não escondia o paradoxo aliciante de encarnar a missão salvífica do reino. Churchill teve o momento ideal quando defrontou Hitler, apagando um curriculum de fracassos e eliminando as fragilidades políticas que outrora o dirimiram.
Foi em tudo um aristocrata: político, escritor, historiador, soldado. Pois, aos filhos da boa fortuna, para quem a sorte já nasce determinada, a posição mais não é do que a sujeição natural a um destino. Assim cumpriu o papel esperado, mas não garantido, porquanto nem sempre a sorte favorece os audazes, mas os esclarecidos.
Enquanto a Europa via ascender figuras sinistras vindas das sombras das sociedades, os pequenos tiranetes e os aspirantes a Césares, o Reino Unido ainda produzia um escol privilegiado. Era a hierarquia e o sangue quem determinavam o sucesso. Ao espírito meritocrático das classes-médias repugna o privilégio do nascimento, mas contrariando os corolários revolucionários foi também a preparação desde o berço quem determinou a sorte dos impérios. Seria dizer pouco: o mérito existe dentro da hierarquia que sabe também dinamizar-se. Sem ter sido arrasada pelas revoluções jacobinas e comunistas e não conhecendo a destruição das instituições de forma tão violenta, como aconteceu nos últimos duzentos anos no continente europeu, o Reino Unido criava anticorpos às ditaduras e totalitarismos reinantes.
Churchill pode ter tido falhas, mas pertencia àquela geração moldada no sentido da honra e do dever que é a divisa da aristocracia. A fidelidade ao trono nunca foi posta em causa, quando noutras paragens, por muito menos, generais ambiciosos e políticos sem escrúpulos se tornaram os algozes dos seus soberanos. Para a Europa seria quase um homem do Antigo Regime - o marco historiográfico que o reino de Inglaterra dispensa porque a continuidade é segura e milenar. Ali o "Antigo Regime" corrigiu-se e desenvolveu-se (usando a feliz expressão de Renan), criticamente empossando a burguesia comercial e a aristocracia do dinheiro, arrasando a presença do catolicismo, sacrificando irlandeses e escoceses (para quem a dita Revolução Gloriosa não foi assim tão gloriosa), desenvolvendo o capitalismo nefasto e comercialista... são as contrariedades do sistema crescido dos compromissos prováveis e das circunstâncias inauditas.
Churchill foi o produto desse mundo e talvez um último vestígio da "velha guarda", moldado no espírito vitoriano do culto do Império. Educado no sentido do dever, ensinado a desempenhar o alto desígnio do sangue e a expectativa de corresponder à exigência do status. Foi um homem do seu tempo, com todas as qualidades e defeitos que pudessem ser reunidas num espírito indomável.
Quando, um dia destes, fiz no Observador a minha declaração de voto para as próximas eleições, contra a coligação PS/ jornalismo, dois dos comentários vindos de eleitores da Iniciativa Liberal assumem a mesma ideia: "Não me interessam as pessoas e sim os princípios. Liberalismo sempre. Portugal não precisa de PS nem de PS(D)." e "O PS o PSD e o Chega representam exatamente o mesmo: a mediocridade, o mínimo múltiplo comum da política".
Não vale a pena perder tempo a responder a este tipo de comentários em concreto (acho especialmente delicioso o "não me interessam as pessoas e sim os princípios", como se os princípios não existissem exclusivamente por causa das pessoas), mas dois comentadores da nossa praça dão-me o mote para contrariar estas ideias populistas de que fora do meu grupo, são todos iguais.
Pedindo desde já desculpa a Luís Aguiar-Conraria pela companhia a que o obrigo, falemos então do que se pode ler hoje numa coluna de opinião de Carmo Afonso (o nível intelectual é tão deprimentemente baixo que evito dizer o que quer que seja sobre as patetices que escreve Carmo Afonso, como dizer que o governo da geringonça foi o que mereceu mais aprovação dos portugueses, está estudado e demonstrado, como se não tivessem existido os governos de Cavaco Silva, por exemplo) e numa entrevista a Luís Aguiar-Conraria (é certo que como presidente da escola de economia da Universidade do Minho, o que o levará a ser mais institucional que o habitual, diria eu).
Hoje Carmo Afonso entretém-se com um novelo de raciocínios (enfim, admitamos que há alguma ponta de racionalidade naquele amontoado de frases) que pretende demonstrar que se o Chega chegar ao Governo é culpa da direita moderada porque apesar da direita moderada dizer que não faz acordos com o Chega, não diz (tal como não diz o tribunal constitucional) que é um partido anti-democrático e um perigo para a democracia.
A parte de opinião dou de barato (insisto que não percebo a opção do Público por ter, dia sim, dia não, a sua última página preenchida com lixo intelectual), o que me interessa aqui é notar que todo o arrazoado de hoje parte de uma sondagem que, percebe-se no último parágrafo, Carmo Afonso nem sequer compreende.
A sondagem diz que 14,5% dos eleitores não sabem, ou não respondem, em quem vão votar. Mas também diz (não no boneco principal que foi publicado), que há 32% de indecisos, praticamente um terço. Carmo Afonso, com a acuidade analítica que justifica atribuir-lhe dois terços da última página do jornal, dia sim, dia não, confunde tudo e diz que os tais 14.5% são os indecisos.
Se alguém reclamar para a direcção do Público, ou para o Provedor do Público, por lhe estar a ser vendido gato por lebre, o jornalismo actual está a anos luz de qualquer talhante, diz que os comentadores são livres e nem a direcção, nem o Provedor, se debruçam sobre o conteúdo dos comentários, mesmo que sejam objectivamente falsos, como neste caso.
O homem do talho já deixou de me responder assim há anos, é raro haver talhantes que me respondam que o produtor é que é responsável pela qualidade do bife, provavelmente, perante uma reclamação que facilmente se verifica ser procedente, ele dá-me outro bife e vai discutir com o produtor o prejuízo que teve, ao contrário das direcções dos jornais.
Mas nem o jornalismo, nem os comentadores são todos iguais, sugiro que se leiam estas duas peças do ECO, em que Luis Aguiar-Conraria tece comentários políticos que ajudam as pessoas a pensar e tomar decisões. Num caso, lembra de financiar propinas de alunos que emigram é financiar economias muito mais fortes que a nossa, no outro diz uma coisa que os comentadores liberais que citei no início deviam saber: "Acredito muito pouco na ação dos governos. O outro lado da moeda é que a inação também não me incomoda muito".
Não, meus caros amigos, nenhum é perfeito, de todos podemos dizer que não servem para nada, como fazem os populistas, mas a verdade é que um governo dos que ocupam o poder há quase trinta anos (com um ou outro intervalo) não é igual a um governo de pessoas que até podem ser igualmente maus, mas não são os mesmos.
Em si mesmo, mudar de pessoal é uma grande virtude: os governos e as fraldas devem ser mudadas periodicamente e pelas mesmas razões.
Sou absoluta e radicalmente contra a criminalização de ideias, da defesa de ideias e do discurso sobre ideias, independentemente do conteúdo das ideias.
Nesse sentido sou contra a constituição que temos que proíbe a existência de organizações racistas ou que perfilhem ideologia fascista.
Por maioria de razão sou ainda mais radicalmente contrário à existência de crimes de ódio.
Há acções que são crime, por exemplo, o incitamento à violência (não, incitamento à violência não é apenas discurso, pressupõe coisas bem mais concretas que defender a direito dos oprimidos a defender-se dos opressores, mesmo com recurso à violência), e o ódio, uma coisa que ninguém sabe definir muito bem o que seja, é avaliado no julgamento concreto sobre essa acção, podendo ser agravante do crime, mas considerar que o ódio (ou o discurso de ódio) pode ser um crime, em si mesmo, é um absurdo, para mim.
Não é apenas porque é muito difícil escolher as ideias de que não se gosta para serem consideradas crime (em que medida a ideologia fascista é mais desprezível que a ideologia comunista, por exemplo?), mas porque a discussão sobre o que é crime, ou não, passa a ser estritamente ideológica.
Que o Bloco de Esquerda organize manifestações onde existem cartazes a dizer "morte aos ricos" ("nas manifestações aparece de tudo, isso já se sabe", justificou Catarina Martins) não tem nenhuma implicação criminal para quem carrega o cartaz e para quem é conivente com ele, embora a mim me pareça discurso de ódio, já que alguém organize uma manifestação contra a islamização da Europa, há quem considere uma violação da lei, embora a mim me pareça uma coisa simplesmente ridícula.
Para mim, estão bem uns para os outros, só que não posso deixar de notar que pôr a coisa nestes termos corresponde a deitarmos fora um grande princípio da nossa cultura cristã: combater o pecado mas nunca o pecador.
Ser contra o racismo não é ser contra racistas.
O princípio não é simples nem natural, é um esforço da civilização contra a natureza, de tal maneira que a mesma igreja que o enuncia tem a sua história cheia de violações a esta ideia (quer usando igreja no sentido de instituição, quer usando no sentido de comunidade de crentes).
No entanto, não deixa de ser um dos pilares fundamentais das nossas democracias liberais: as ideias combatem-se, não se reprimem, os defensores das ideias rebatem-se, não se prendem, o que se reprime são as acções que afectam negativa e ilegitimamente a comunidade.
A normalização da ideia de luta de classes que justifica a violência contra os opressores, enquanto grupo social, e outras coisas que herdámos do marxismo e actualizámos para diferentes categorias de grupos sociais e novas vítimas, estão a substituir o princípio da liberdade de defender as ideias mais horriveis que possamos imaginar.
É uma pena e uma vitória do wokismo.
O essencial do título deste post está no "me", ou seja, o que escrevo daqui para a frente diz-me respeito a mim.
Recebi ontem um mail para pagar a minha quota do Instituto +Liberdade, o que farei com gosto.
E faço-o com gosto porque os 50 euros que me pedem por ano me parecem justos face ao trabalho de mediação que me é entregue de volta.
Nesse instituto a produção de informação é menos alinhada politicamente que nos jornais?
Não, de maneira nenhuma, o Instituto tem uma orientação política e ideológica muito clara, é liberal.
Por exemplo, um dia destes publicaram este boneco numa coisa que têm chamada +Factos.
O boneco é uma resposta à OXFAM, uma organização antigamente respeitada (como a Amnistia Internacional), antes de ser tomada de assalto pelo pessoal das boas intenções (como a Amnistia Internacional) "Esta semana, um relatório da Oxfam (uma confederação internacional que atua na busca de soluções para os problemas da pobreza e desigualdades) destacou que a fortuna dos 5 homens mais ricos do mundo aumentou 114% desde 2000. O relatório incita ainda que "o poder público pode controlar o poder empresarial descontrolado e a desigualdade", relacionando o aumento da fortuna dos ricos com a desigualdade económica e pobreza. Mas será que esta relação verifica-se?".
Teria preferido que a frase final fosse um bocadinho melhor "Mas será que esta relação se verifica?", mas isso não é essencial, a imperfeição será sempre um dado do problema, nas coisas humanas.
O que me interessa é que politicamente motivado, o medidador do Instituto +Liberdade não opta por treta, mas por factos.
Bem sei que o boneco que está acima não diz tudo o que se poderia dizer sobre o assunto, bem sei que há argumentário sério sobre esse boneco (os países mais ricos exploram os mais pobres, de maneira que a questão não está em saber se os pobres dos países mais ricos são menos pobres que os pobres dos países mais pobres, mas sim se não seríamos todos mais bem servidos com menos ricos e menos pobres), o que o +Liberdade faz é trazer informação concreta, verificável, com fontes identificadas, para a discussão.
E fá-lo não apenas desta forma, mas prosseguindo "a nossa missão de desenvolver conteúdos e análises no projecto +Factos, escrever e publicar livros da colecção +Liberdade, criar vídeos didácticos, enriquecer a Biblioteca +Liberdade com novos títulos, preparar aulas e palestras, bem como organizar eventos (como o Campus da Liberdade), exposições, concursos de ensaios e outras iniciativas em prol da promoção da literacia económica e financeira e do desenvolvimento do nosso país".
É verdade que não produzem informação todos os dias, é verdade que não seguem obsessivamente a espuma dos dias, é verdade que escolhem a realidade que preferem ver, mas isso serve-me bem melhor que a maioria dos jornais, porque olha para realidades diferentes, a escalas de tempo e espaço diferentes e, sobretudo, com dados bem mais objectivos (como no livro "Trancas à porta" de que falei recentemente, editado por este Instituto, em que os dados são todos de fontes oficiais comprováveis, o que não impede que algumas pessoas insistam que haverá outros números que dizem coisas diferentes, numa renovação da ideia infantil de que Natal é sempre que um homem quiser).
Caros jornalistas, se querem que a sociedade vos respeito mais, sugiro que comecem por se dar mais ao respeito, respeitando regras básicas da mediação, cujo exemplo prático podem ver nas práticas de organizações como o +Liberdade.
Segundo os sabujos, a oposição de direita nunca tem propostas. Se a oposição de direita tem propostas, então não estarão quantificadas. Se estiverem quantificadas, então os sabujos não vislumbram protagonistas que as implementem.
Agora que a AD tem propostas quantificadas e quadros para as implementar, os sabujos só pensam «na outra coisa», em «outra coisa qualquer» que desvie a atenção do que importa, uma presença, uma ausência, uma gaffe, um ativista qualquer com uma qualquer cretinice. Primeiro, foi a composição das listas, um passatempo das redacções para o qual a maioria dos eleitores se está borrifando. Mais recentemente, os sabujos só pensam em Passos Coelho, que tanto odiavam e agora lhes serve de arma de obscurantismo. «Onde está Passos Coelho?», «Porque é que não está Passos Coelho?», «Gostava que estivesse Passos Coelho?» E assim podem omitir todas as críticas e soluções para o estado da educação, da saúde, da justiça, da segurança, da defesa, da economia, das finanças, da carga fiscal.
Um perigo para a democracia que esta gente conheça a falência? Não, muito pelo contrário.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.
Palavra da salvação.
... de um Porsche. E entrou na auto-estrada! Mas a ineficácia do Governo, se dá por isso, parece estimulá-lo em vez de o prender e chamar os pais. A máquina segue à toa e imparável.
Isto é a aventura dita rebelde de Pedro Nuno Santos, o glorioso líder socialista. Ainda hoje, impunemente chegado ao Minho, foi recebido pelas desautorizadas e roubadas forças da ordem. Pois se queriam justiça levaram um comentário apenas: o condutor nada tinha a ver com a condução. Queixas? - que as dirijam ao Executivo do P(ai)S(ó assim me safo). A PSP e a GNR ripostaram, imperiavelmente, com o Hino Nacional.
Do episódio, e de outros tantos, as devidas conclusões. A criança Pedro Nunes não andou no colégio e a escola correcional foi incapaz de o ensinar. Está à solta, incoerente e desbocado. De alguns instantes televisivos retidos, fixei as suas alocuções sobre a postura do PSD - um partido de nascença maldizente - e a sua fixação em maldizer o PSD, a sua inoperância, as suas ligações ao Chega...
E os portugueses, se adultos?
Pois atentariam no discurso da criança. Naquele falar solavancado, estribilhado, nas frases repetidas uma depois da outra. Nesses instantes em que se percebe que nada mais lhe ocorre à mente. No galope das palavras. Na obsessão do «fazer», por parte de quem foi mandado embora do Governo por "desfazer". Na inerente agressividade da criançola. Enfim, neste pobre Portugal já não falarei no evidente "novo-riquismo" do menino. Nem em correlativas consequências políticas do atrevido dos Porsches. Mas dos portugueses, o que havemos de esperar? Mais absentismo?
Como Portugal é o Entroncamento - o lugar onde porcos guiam bicicletas - nada há de entusiasmante. (Salvo as queixas quando o tempo próprio já passou.) Talvez o querubim Santos ganhe as eleições. Depois se verá.
(Fontes: o Barómetro Lacãozinho, anteriormente ultracitado, in Apoio a José Luís Carneiro).
No carro, aterrei num destes programas em que vários jornalistas falam de coisas.
Nada contra estes programas, toda a gente tem de fazer pela vida e se este tipo de programas são baratos e têm ouvintes (como eu demonstro), siga a banda.
Aquilo andava pelo habitual entre jornalistas da secção de política, naqueles argumentos brilhantes do género de ser um erro Montenegro concorrer por Lisboa em vez de Aveiro porque venceria Pedro Nuno Santos em Aveiro com facilidade, o que lhe daria uma legitimidade acrescida se tivesse de fazer um governo minoritário.
Faço notar que o que escrevi em cima não é um exemplo absurdo que inventei, é mesmo o que estava a ser dito em determinada altura no programa, por um mediador imprescindível à democracia, sem as opiniões do qual a democracia corre riscos impensáveis.
Até aqui, nada contra, acho mais graça a estas coisas que ao Bruno Nogueira ou ao César Mourão, embora dê menos importância ao que se diz nestas conversas de salão que nos programas dos dois que usei como exemplo.
A dada altura há um destes mediadores encartados, sem os quais os eleitores não sabem votar como deve ser, que resolve falar das listas de candidatos apresentados por um dos partidos que concorrem às eleições referindo que a lista tinha gente independente e com qualidade, mas isso poderia ser um grande problema para o partido em causa.
Se o partido em causa perdesse, a sua bancada seria constituída por gente com curriculum, independente e com qualidade profissional reconhecida, o que levantava o problema do dito partido não ter ninguém para o combate político.
Caros mediadores imprescindíveis à democracia, desde que fui aluno do Osório dos Anjos que não só aprendi matemática, como perfilhei a frase que mais vezes repetia (ou, pelo menos, de que eu me lembro que mais vezes repetia): "o direito à asneira é sagrado", uma ideia que tem sido um farol para mim.
Claro que entendo que se aplica também a vossas excelências e portanto se querem dizer coisas dessas e isso vos ajuda a receber o salário, óptimo, força com isso, mas por favor não me digam que eu tenho de pagar isso nos meus impostos porque é imprescindível para a democracia ouvir que a melhoria da qualidade de um grupo parlamentar é um problema para a oposição, isso já acho um bocadinho de mais.
Das que pessoas que conheço, e são muitas, que sabem mais que eu sobre gestão florestal, penso que não haverá uma única que ligue menos que eu aos problemas da estrutura da propriedade florestal quando se discutem os problemas do sector.
Não é porque eu ache que seja irrelevante ter 2 mil metros quadrados ou dois mil hectares para gerir, é apenas porque me parece um assunto menor face à gravidade do problema da falta de rentabilidade da exploração florestal.
Claro que conheço o argumento de que parte desses problemas de rentabilidade resultam exactamente da escala das intervenções, mas nunca vi isso demonstrado: a maior parte do VAB florestal é proveniente de regiões de minifundio e o que não faltam são grandes propriedades sem gestão por ser muito difícil retirar rendimento dessas propriedades.
Em igualdade de circunstâncias é melhor ter mais área para gerir que menos, mas a questão de fundo é bem ilustrada pelo que disse sobre o VAB florestal: não é porque o minifundio facilita a gestão florestal que a maior parte do VAB florestal vem das zonas do minifúndio, é porque o minifundio coincide com as zonas de maior produtividade.
Se a falta de rentabilidade da gestão florestal fosse sobretudo uma questão de dimensão da parcela de gestão, todos os baldios geravam rendimentos substanciais e haveria um mercado de compra de terrenos para emparcelar, como aconteceu nos anos 80 na fileira do eucalipto.
O facto de haver terrenos que ninguém reclama não é um factor relevante na gestão florestal, é antes um sintoma de dificuldade do sector produzir riqueza em muitos sítios.
Nas actuais circunstâncias, a produção de cortiça pode ser um negócio razoável, a produção de eucalipto nas regiões de melhores produtividades é um negócio viável, e a exploração de pinho (quer para pinhão, resina ou pau) está no limite da viabilidade nas melhores regiões que não coincidam com regiões interessantes para o eucalipto (o pinhal poderia ser interessante em algumas áreas, mas o eucalipto é um bocadinho mais).
Lembrei-me disto quando estava a ler, por estes dias, o livro "Trancas à porta, desfazendo mitos sobre a crise da habitação", de Carlos Guimarães Pinto, Juliano Ventura, André Pinção Lucas e Filipa Osório, editado pela Aletheia e Instituto +Liberdade.
O livro lê-se muito bem, tem uma opção política de base clara (é um livro feito por liberais) mas não me parece que tente vender gato por lebre, centrando-se muito em factos verificáveis.
E o capítulo que me fez pensar nesta história dos terrenos sem dono foi o capítulo sobre as famosas 700 mil casas devolutas, que são usadas frequentemente para dizer que não é preciso construir mais e que os mediadores encartados dos jornais raramente desmontam como os mediadores que escrevem este livro desmontam.
Se os jornalistas que escrevem sobre habitação tivessem mais atenção aos factos e ao que se pode verificar que aos soundbytes produzidos por quem tem interesse em vender medidas de política, e bastar-lhes-ia ler este livro, quase todo o programa Mais Habitação seria ridicularizado nos jornais, dia sim, dia não, por se basear muito mais em pensamento mágico e preconceito que na realidade verificável.
Quando os mediadores que deviam mediar não o fazem competentemente, outros mediadores aparecem, como é o caso do Instituto +Liberdade, que se farta de apresentar factos (não apenas neste livro, é mesmo uma das suas actividades principais), com o objectivo de permitir discussões de políticas públicas bastante mais racionais.
Os senhores que estão no Congresso dos Jornalistas bem podiam dedicar cinco minutos a este assunto, em vez de, mais uma vez, se fazerem de vítimas de um processo de contornos obscuros que põe em perigo a Democracia.
Mais factos e menos treta era mesmo um excelente mote para todo o congresso.
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