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Esta peça do Observador é de antologia.
Um jornalista resolve dizer coisas porque um ambientalista resolveu dizer coisas e ninguém perde tempo a verificar se essas coisas fazem algum sentido.
Comecemos por uma declaração de interesses: conheço Paulo Lucas, o tal ambientalista da peça, há muitos anos e foi o principal responsável por eu ter deixado de ser sócio da QUERCUS, há já uns anos.
A história conta-se rapidamente.
Fui um dos responsáveis pelo Plano Sectorial da Rede Natura, feito pelo ICN.
A QUERCUS, como sempre, resolveu dizer mal do documento de alto a baixo e o responsável pela área de conservação era Paulo Lucas, cujo trabalho em conservação da natureza nunca foi reconhecido por ninguém, a não ser pelos dirigentes da QUERCUS, organização que ia arranjando os projectos que lhe pagavam o ordenado.
Acontece que eu não estava para aturar garotices, sobretudo porque com base em tretas a QUERCUS não tinha problema nenhum em pôr em causa a idoneidade profissional dos meus colegas que tinham estado envolvidos na elaboração do tal Plano Sectorial, apoiando-se em honesto estudo com longa experiência misturada, como recomendava Camões.
Portanto, resolvi contestar publica e pessoalmente o parecer da QUERCUS, que era uma porcaria de um parecer, cheio de asneiras e vacuidades, como seria de esperar.
Na sequência, o então presidente da QUERCUS, Helder Spinola, envolveu-se numa longa troca de argumentos, mas Paulo Lucas, o principal redactor do parecer e responsável pela área na QUERCUS, nunca deu a cara e sempre se recusou a fazer aquilo que fui insistentemente pedindo em toda a discussão: vamos ao terreno, com a cartografia, ver quem tem razão.
E no meio de tudo isso, deixei de ser sócio da QUERCUS.
Mais tarde alguém ganhou as eleições na QUERCUS e o grupo de dominava a associação há anos, controlando o fluxo de projectos e dinheiro, saiu estrondosamente para ir criar a ZERO, para onde foram canalizados os projectos que foi possível canalizar. Nesse grupo, naturalmente, estava Paulo Lucas, que foi para a ZERO tratar do que já fazia no QUERCUS: ser responsável pela Conservação da Natureza.
Ora é neste contexto que surge agora esta treta do Observador: Paulo Lucas foi passear, fez um desvio a passar por uma ribeira, viu que estava seca e resolveu inventar a extinção de uma espécie em resultado das alterações climáticas ("A viagem ao Baixo Alentejo nem foi especialmente motivada pelo escalo-do-mira. Na verdade, a associação visita com frequência aquela região do país para “ver a situação das estufas” que abundam por ali e que a Zero tem denunciado como um problema de agricultura intensiva que ameaça o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. “Estávamos de passagem por lá e, como já tínhamos estado ligados à ribeira do Torgal, fizemos uma derivação no caminho e fomos verificar como estava. Foi uma constatação… Quando vimos o leito todo seco, no início, não nos caiu a ficha. Mas depois começámos a pensar: onde é que está o escalo?”").
Qualquer dos ambientalistas que estão na região sabem perfeitamente que a ribeira tem pegos que não secaram, como acontece há milénios, quando há seca.
A ninguém com um mínimo de juízo passaria pela cabeça começar a gritar aos quatro ventos que se tinha extinguido uma espécie sem fazer uma avaliação rigorosa da situação mas, pelos vistos, a Paulo Lucas e à Zero passa mesmo pela cabeça fazer uma parvoíce dessas.
Até aqui, nada de especial, é o habitual.
O extraordinário é haver jornalistas (este do Observador nem é o primeiro, já tinha visto esta tontice noutros lados) que resolvem escrever peças de jornal, sem ir ao local, sem falar com mais ninguém, sem avaliar se nunca houve secas como a deste ano, resumindo, sem fazer o trabalho mínimo dos mínimos de verificação da informação que um tipo qualquer lhes faz chegar, antes de escrever para o jornal.
E não haver nos jornais um editor qualquer que pergunte ao jornalista que raio lhe passou pela cabeça para fazer isto.
E, no fim, quando se verificar que o escalo lá está, como nos milénios anteriores, dizer ao jornalista que da próxima vez veja se cumpre o mínimo dos mínimos das regras da profissão antes de pôr em causa a credibilidade do jornal e da profissão.
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