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Os milhões da JMJ, os abusos na Igreja, o incómodo, a confusão nas estradas, isso é com a cênênê, filha da mãe Tvi. Já outros, como a mãe Tvi, preferem o humor.
O humor dos simples, primeiro: no Estoril, no meio de 75 000 jovens vindos de Espanha para a JMJ das centenas de milhares de jovens, a senhora do microfone pergunta a um dos ditos: «Há muitos jovens a sair da Igreja. Como atraí-los?»
Já a Sic alimenta um humor mais ressentido. Por ocasião da JMJ qual o convidado que, segundo a Sic, é indispensável? Ora, o imã da Mesquita Central de Lisboa, o sheik Munir, evidentemente. Em pequenino e rasteiro é como convidar o cardeal Patriarca para comentar a ida a Meca. Vá, admitam, como humor manhoso é do melhor, só o outro Costa o ultrapassaria!
A cênênê não emite peça sobre a JMJ em que não se esforce denodadamente por servir as militâncias jacobinas adesivas. Será uma grande realização, um momento internacional único, mas...
... ah, os milhões, os milhões gastos!
... ah, mas os abusos de menores!
Mas nós compreendemos. Deve ser isto que a cênênê -- que dá só futebol quando os outros dão futebol, homicídios quando os outros dão homicídios, ilicitudes de gente de direita quando os outros dão ilicitudes de gente de direita -- entende por contraprogramação.
A cênênê não emite peça sobre a JMJ em que não satisfaça esforçadamente os ateus e anticlericais adesivos. Será um momento de elevação espiritual, uma manifestação de generosidade e transcendência, mas...
... ah, o incómodo para os lisboetas!
... ah, a barafunda do trânsito!
Mas nós compreendemos. Deve ser isto que a cênênê -- que num tal de Táunól fez que todos os ministros desfilassem as suas coisas na mais longa, persistente e descarada sessão de propaganda de que há memória televisiva -- entende por contraditório.
Agora que Costa e o pobre inútil do chapéu foram aos terrenos da JMJ dizer que aquilo também é deles, a cênênê sossegará um pouco.
Sem grande surpresa (quando escrevi este artigo não conhecia qualquer reacção à audição de Tiago Oliveira na comissão de agricultura da Assembleia da República), municípios e bombeiros reagiram ao facto de Tiago Oliveira, embora sem o citar, ter falado de questões à volta das relações financeiras entre os municípios e as associações de bombeiros (que teimam em falar de voluntariado quando pedem dinheiro, mas explicam que dependem do Estado central e dos municípios, para explicar a sua importância, sem que os municípios expliquem por que razão, se assim é, não têm corpos profissionais de bombeiros, como seria razoável ter) que o Tribunal de Contas tem levantado.
Uma das reacções mais divertidas é de António Pina, em nome da Associação de Municípios do Algarve, que resolve falar um bom bocado sem dizer nada de substancial, limitando-se a proclamações genéricas como "A Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) manifestou esta sexta-feira a posição conjunta em comunicado e, em declarações à agência Lusa, o presidente do organismo, António Miguel Pina, disse que o homólogo da AGIF, Tiago Oliveira, não tem condições para permanecer no cargo e mostra desconhecimento pela realidade dos territórios do interior afetados por incêndios florestais".
Quem, desprevenido, lesse estas coisas ditas por António Pina, ficaria convencido de ser um presidente de Câmara todos os dias confrontado com a pesada realidade dos municípios do interior, por presidir a um município profundamente interior.
Mas depois de se perceber que era o presidente de câmara de Olhão a falar, todo o potencial lúdico das declarações fica evidente.
Infelizmente, a imprensa limita-se a reproduzir o que dizem pessoas, raramente se dedicando a avaliar a factualidade do que dizem essas pessoas.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto?» Eles responderam-Lhe: «Entendemos». Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».
Palavra da salvação.
Mundofrenetico Lda. é a empresa de Bordallo II autor desta palhaçada que facturou mais de 700 mil euros em contratos públicos nos últimos 5 anos. E não foi para dar aos pobres nem salvar as almas. Bordallo ii é essencialmente mais um fidalgo da corte socialista que sofre de indignações selectivas e que vive à conta dos nossos impostos.
Já tinha reparado na intensa campanha publicitária da Federação e dos patrocinadores a promover a equipa portuguesa feminina de futebol, que pela primeira vez participa num Campeonato do Mundo, desta feita a decorrer por estes dias na Austrália e na Nova Zelândia. A campanha até me pareceu positiva, as jogadoras são giras, e principalmente agradou-me que se designassem a si próprias como meninas, que o “género” não é coisa tão líquida quanto se pretende afirmar. Tem piada aquela imagem do festejo da jogadora com a bola metida dentro da camisola a imitar o gesto dos homens no estádio a dedicar o golo à sua companheira pressupostamente grávida… de uma “menina”.
Calhou-me esta manhã ver os últimos vinte minutos do jogo entre as selecções do Vietname e de Portugal. Ora, como eu já calculava, com base nas experiências anteriores nos campeonatos domésticos (onde que o futebol feminino do Sporting dá cartas), o espectáculo futebolístico em si, despido de qualquer lente paternalista ou condescendência, é confrangedor, tecnicamente muito pobre. Descontando o problema da lentidão, (o tempo que demora uma (rara) jogada que vá de um lado ao outro do campo) a questão está na técnica das atletas. Os falhanços são muitos e por vezes infantis. Foi aflitivo o número de golos feitos com origem em jogadas atabalhoadas que não foram concretizados pela selecção portuguesa por pura aselhice. Diga-se que as nossas meninas encostaram literalmente a selecção vietnamita às cordas, num jogo de um só sentido.
Ouvi dizer que se reclama por aí a igualdade de remuneração dos direitos televisivos e consequentemente às jogadoras profissionais, minimamente parecido com o capital investido no futebol masculino. Ora isso parece-me impossível enquanto a modalidade não atrair o correspondente número de adeptos e não gerar um número considerável de atletas fora de série que tornem o jogo emocionante e atractivo. Como apreciador pagante de futebol, acredito que a modalidade feminina possa evoluir ainda bastante, mas não sei se a equiparação será algum dia possível, dadas as características físicas das meninas. Talvez se forem reduzidos o tempo e o tamanho do recinto de jogo se proporcione mais rapidez ao futebol feminino, mas duvido que algum dia ele possa ombrear com o masculino em termos de espectacularidade.
Que ainda há muito que fazer quanto ao direito das mulheres à absoluta igualdade de direitos e dignidade não existem quaisquer dúvidas. Mas que seja no respeito pelas suas diferenças intrínsecas, como aquelas que obrigam uma equipa hospitalar numa mesa de operações saber se o paciente é do sexo masculino ou feminino, para não o matar com a dose errada de anestesia ou de outro fármaco. De resto não percebo este fanatismo pela “igualdade” a todo o custo entre homens e mulheres. Aprecio muito a diferença entre nós. E sou levado a concordar com o Henrique Pereira dos Santos quando há dias afirmava que a “igualdade não é as jogadoras de futebol ganharem o mesmo que os jogadores de futebol, igualdade é não haver campeonatos femininos e masculinos e jogarem todos no mesmo campeonato.” Desde que a essas jogadoras não comece a crescer barba, digo eu.
Esta fotografia foi tirada no velório de António de Oliveira Salazar, em 1970, nos Jerónimos. A imprensa internacional não perdeu o momento singular, algo exótico, e com traços pitorescos. Junto ao corpo do falecido Presidente do Conselho encontram-se o ”Gigante de Manjacaze” (2,45m altura), Grabiel Estevão Mondlane, e o anão português, Toninho de Arcozelo (0,75m altura), vedetas já conhecidas dos círculos. Uma guarda de honra exótica e no mínimo insólita, algo pitoresca, que, não causando estranheza nos presentes, lançou o riso e o furor na imprensa estrangeira. Face ao momento solene e pesaroso certamente os dois cidadãos sobressaiam. A extraordinária aparição não deixou de ser olhada com sarcasmo, misto de cerimónia oficial e espectáculo circense. Uma revista francesa dirá sobre o momento que lembrava uma «imagem de um filme de Buñuel ou como uma sombria tela de Goya».
A.S. Tive de ir assegurar-me de que a palavra nepotista existia mesmo no sentido em que está no título do post.
Uma das minhas filhas resolveu fazer uma campanha de crowdfunding que se chama "Os 7 na Oceania".
Antes de a lançar, perguntou-me a minha opinião sobre o assunto, sem a menor intenção de ligar nenhuma ao que eu dissesse, claro, mas mais como avaliação de mercado, acho eu.
Eu disse duas coisas: 1) 30 mil euros em crowdfunding, em Portugal, é sempre difícil, qualquer que seja a campanha (eu já fiz, por isso o meu comentário era um comentário de experiência feito); 2) Teria de explicar muito bem que valor potencial teria o projecto para terceiros.
No vídeo da campanha que está na ligação ali em cima, percebe-se bem o esforço, penso que legítimo, de fazer essa demonstração (não resulta dos meus comentários, quando falámos sobre isto já a minha filha devia ter tudo definido na cabeça, se bem a conheço).
O certo é que esta história me deixou a pensar no assunto (para além da possibilidade de resolver logo sete presentes de anos e de Natal, pelos menos para um ano, de uma assentada).
Em que é que uma viagem como a que a minha filha quer fazer pode ser útil a terceiros, ao ponto de acharem que vale a pena contribuir para que essa viagem exista?
Devo dizer que quando a campanha foi lançada, fiz um post irónico no Facebook sobre a capacidade que a minha filha tem de apresentar as coisas de forma a que não sejam só dela, mas também das pessoas à sua volta (seguramente, não foi de mim que herdou, nem foi comigo que aprendeu, a fazer isto, mas que é muito forte nisso desde pequenina, isso é um facto).
Primeiro foi uma ou outra pessoa que me disse: "Ideia fantástica, devia ter-me lembrado disto há muitos anos atrás, fico muito contente se ela conseguir fazer uma coisa que eu gostaria de ter feito".
Há portanto uma dimensão de venda de sonhos, e vender sonhos é uma actividade social digna e importante (no caso de Walt Disney acabou também por o tornar milionário, mas essa não é a questão social relevante).
Reparei num conjunto de comentários de doadores - a campanha está a correr bem, mas é cedo para avaliar - que iam numa direcção muito concreta: divirto-me muito convosco, portanto vou contribuir para a vossa viagem porque já sei que me vou divertir. Compreendo, cinco filhos com quatro anos e meio de diferença entre a mais velha e a mais nova, sem gémeos, com uns pais com umas ideias sobre educação bastante liberais e uma mãe que é uma grande pintora (não pinta nada em telas, acrescenta pontos nos contos), tem um potencial lúdico relevante. E isso é um valor social útil, se não garante o pão, ao menos o circo é muito provável.
No entanto, o que realmente pode ser mais útil é aquilo para que olhei com mais desconfiança: o impacto de uma interrupção de meses nas carreiras profissionais dos pais e na escola dos filhos.
Naturalmente estamos a falar de escolaridades ainda muito baixas, o problema seria muito pior mais tarde e, quando deixasse de ser problema, é duvidoso que os pais tivessem vontade e energia para finalmente fazer uma viagem longamente adiada e, mesmo que a fizessem, não seria, com certeza, com os filhos, que é um dos objectivos.
O valor social mais interessante disto que uma família se dispõe a fazer é a demonstração de que é possível, ou não, desviar-se do caminho e, ainda assim, chegar ao destino, provavelmente mais tarde, mas enriquecendo toda a gente.
Se as coisas correrem bem, se realmente se chegar ao fim mais rico, as empresas ficam a saber que, podendo ser um problema, não é um drama prescindir de pessoas qualificadas e relevantes para a empresa durante uns meses - é já o que acontece nas licenças de maternidade, e eu acho que ter filhos aumenta a capacidade social das pessoas, mesmo que prejudique o seu desempenho mais especializado -, as escolas ficam a saber que pode haver caminhos diferentes para educar e instruir as crianças, etc..
Nada disto é novo, existem milhares de experiências deste tipo que correm bem, e algumas que correm mal, e não é socialmente irrelevante termos chegado a sociedades em que o risco e a liberdade individual são entendidos como bens colectivos.
Se esta campanha de crowdfunding tiver êxito, é mais um passo no reconhecimento de que a liberdade de cada um resulta numa maior diversidade para todos, e que isso é bom, mesmo sendo, como é, arriscado.
Os meses correm e a CPI à TAP foi apenas um episódio a passos largos para o esquecimento. A Esquerda é uma casta - superior - e o mais vem por aí a baixo. Retomamos a verdade no último "estado da Nação", aliás um falácia que, traduzida para a boa verdade, se chama o "estado da República"
E nunca a República se viu em tão bom estado. Os brâmanes socialistas ditam ordens, nós os párias obedecemos. As castas intermédias, em português corrente - os deputados - fazem perguntas, insistem nas perguntas, o grande marajá sorri de ironia e não responde. Diz o que lhe vem à cabeça - mormente, os párias não se devem queixar, tudo corre bem. Não vale mais a pena.
O brâmane falou, a a sua acólita Sra. Mendes sorri para as câmaras (as televisivas e a das castas intermédias) e os grandes escândalos passam sobre o epíteto de «casos e casinhos»; ou debaixo do chavão «à política o que é da política, à justiça o que é da justiça».
Entretanto, a Procuradoria da República, sempre subserviente, pratica os maiores atropelos à Justiça. Averiguações? - nada. Cumpram-se as ordens do brâmane-mor.
Pela primeira vez na História da III República uma maioria eleitoral transformou-se efectivamente numa maioria ditatorial.
Grassa a corrupção. São uma vez mais os escolhidos pelo brâmane-mor. Os párias sobrevivem no dia-a-dia, mas ele proclama que a nossa macroeconomia vai de vento em popa. Já não disfarça e surge cheio de troça em túnica branca com a fralda de fora. Recomenda aos jornalistas o céu azul desse dia.
A República foi sempre um regime agitado e povoado de querelas. Agora é menos - tornou-se um sistema de castas onde as inferiores em tudo se vergam à bochecha opulenta do marajá que nos governa.
(Um tal Marcelo, subserviente, dá-se a desmaios entre o moscatel e o hidromel, sob o pretexto do calor. Ghandi não faria mais, é certo, mas a contra-revolução está na ordem do dia - o povo contra este ancestral sistema de castas.)
Só nada percebemos da célebre entrevista do marajá à Visão. Bem vistas as coisas ela era por demais explícita.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’». Jesus disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo». Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo». Jesus respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. E os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça».
Palavra da salvação.
Não sei como funciona nos outros países que eu não me consigo libertar deste meu provincianismo ("o que quer que vistas, pareces que vens sempre da rega", na judiciosa observação de um dos meus irmãos, penso que quando eu estava a chegar a um casamento).
O que sei é que em Portugal é normal alguém dizer que Costa tem estado a governar pessimamente porque a oposição é miserável.
Alguém acha mesmo que Passos Coelho ganhou as eleições a Sócrates, por fazer uma oposição galvanizadora?
Alguém acha mesmo que a primeira maioria relativa de Cavaco se ficou a dever ao enorme entusiasmo e qualidade da sua oposição ao governo a que se opôs?
Alguém acha mesmo que Sócrates, acabado de chegar ao topo do partido, ganhou as eleições a Santana Lopes porque fazia uma oposição de alta qualidade?
Alguém acha que Costa foi para o governo, acabado de fazer um golpe de Estado no partido (pese a incoerência de um golpe partidário, por definição, não ser de Estado), e continuando a opção golpista de fazer uma coligação que nunca anunciou na campanha eleitoral dessas eleições, por causa da excelente oposição que fez a Passos Coelho, o tal que foi arredado da chefia do seu partido ao som do coro partidário e mediático de que estava gasto e não conseguia fazer oposição de geito a Costa e à geringonça?
A mim parece-me mais simples pensar que um primeiro ministro que opta por condicionar um Conselho de Estado para ir ver um jogo de futebol, sem que isso tenha qualquer consequência para si próprio, para além de alguns resmungos como o deste post, é o primeiro ministro de um país que se está completamente nas tintas para as suas instituições e para a sua base colectiva institucional, razão pela qual o governo controla sempre, sempre, sempre, a evolução política e a base eleitoral de que depende.
Na medida em que o governo conseguir não descolar completamente da sua base eleitoral, o partido de que depende ganha eleições, na medida em que perder a ligação à sua base eleitoral, ou em que for obrigado a tomar decisões que impactam o dia a dia da sua base eleitoral de forma que essa base eleitoral considere negativa, perde as eleições.
António Costa é um rolha que, aparentemente, sabe mais sobre a arte de não fazer ondas que qualquer outro.
Essa é a razão pela qual acha mais importante tratar a selecção feminina de futebol de forma como trata a selecção masculina (de futebol, para o resto está-se nas tintas, como o país) que levar a sério um Conselho de Estado que nem os membros desse Conselho de Estado levam suficientemente a sério para baterem com a porta quando António Costa os trata da forma como tratou e Marcelo deixa que sejam tratados assim.
Poucos assuntos geram tão grande desassossego social e mediático como a religião. Rara é a pessoa que não tem uma opinião sobre a defesa intransigente da vida humana, o celibato dos padres, a ordenação das mulheres, a comunhão dos divorciados ou, mais genericamente, a forma como a Igreja propõe a vida familiar e sexual. Qualquer um destes temas faz com que pessoas sensatas — e independentemente de sobre ele terem uma opinião estudada ou fundamentada — percam a compostura para defender a sua visão, contra ou a favor de um qualquer ditame, bispo ou postura. Apesar disso, poucas figuras terão gerado tão clamoroso entusiasmo como o desconhecido Jorge Mario Bergoglio quando, com certos ares de revolucionário, ascendeu ao sólio pontifício como Francisco. Tornou-se mais fácil, mesmo entre pessoas politicamente conservadoras, identificar católicos progressistas.
A constante tentativa de a sociedade contemporânea condicionar a Igreja e tentar obrigá-la a evoluir assemelha-se perigosamente à tentação que os Estados sempre sentiram de se apossarem das Igrejas para fazerem delas braços armados dos seus objetivos: alimentada por uma horda de opinion makers tão aguerridos quanto os protestantes de outrora, a sociedade assume que a Igreja permanece nas “trevas” por incompreensão dos seus líderes, incapaz de se adaptar para ser mais bem aceite e deixar de ser o que consideram constituir uma aberração. Pressupõe que a Igreja é uma espécie de clube, de associação ou de partido que precisa de um determinado número de fiéis para provar a sua razão e, sobretudo, que não pode propor algo diferente daquilo que a maioria aceita. E, na Igreja, muitos — leigos, presbíteros e prelados — pensam manifestamente da mesma maneira. Que uns e outros compreendam o alcance dessa evolução é outra questão.
A ler na integra Ademar Vala Marques, na revista do Expresso desta semana
Há muito tempo (2019), a Montis fez um crowdfunding para comprar terrenos, e comprou a propriedade que está na fotografia (já não está, a fotografia não é pública, ao contrário do que pensei, e usei-a sem autorização).
A história dessa compra é ela mesmo rocambolesca, tínhamos tudo acertado para comprar outros terrenos em Vouzela. Praticamente em cima da formalização do acordo os donos resolveram ser mais espertos que a Montis e quiseram alterar os termos do acordo, a Montis desistiu imediatamente de qualquer nova negociação com esses donos (parece que há pouco tempo fizeram chegar à Montis o seu interesse em vender, mas não tenho confirmação disto).
No meio de uma conversa com alguém que dizia que o que não faltavam eram terrenos baratos na zona do pinhal interior surgiu o anúncio da venda de uns quantos terrenos, a preço baixo (a política da Montis não é comprar os melhores terrenos para conservação e conservar essa biodiversidade existente, a política da Montis é comprar o mais barato que exista e geri-los de modo a que, no futuro, venham a ser terrenos com elevado valor de conservação), e a Montis virou a agulha para aqui, aproveitando todo o trabalho anterior para o lançamento do crowdfunding.
Depois de ter comprado os terrenos (2020), fez uma nova campanha de crowdfunding para financiar a transformação dos eucaliptais que tinha comprado noutra coisa qualquer com mais interesse para a conservação da natureza.
A opção da Montis foi procurar demonstrar que com um esforço mínimo e tempo, qualquer pessoa consegue reconverter um eucaliptal numa mata, razão pela qual se evitaram as soluções mais pesadas, caras e rápidas para a reconversão de eucaliptais que são usadas corrrentemente, com sucesso comprovado.
A primeira operação consistia em cortar os eucaliptos, e depois ir partindo a regeneração, coisa que pode ser feita por qualquer pessoa e, neste caso, se pretende que vá sendo feita com voluntários, como forma de envolver pessoas e fazer uma demonstração que chegue o mais longe possível, esperando-se que isso possa motivar outras pessoas e organizações a fazer reconversões de eucaliptais que não têm interesse nenhum, como é o caso.
O problema é que o eucaliptal tinha sido cortado, antes da compra pela Montis, há relativamente pouco tempo, não tinha havido selecção de varas, o terreno é péssimo, muito inclinado, com maus acessos e portanto o valor dos eucaliptos que lá estava não era muito interessante face aos custos de remoção (ou mesmo só corte dos eucaliptos, sem remoção).
Por isso não foi fácil encontrar forma de, sem pagar couro e cabelo, fazer o primeiro corte dos eucaliptos, até há pouco tempo.
Passaram quatro anos desde a compra do terreno e, finalmente, está quase a acabar o primeiro corte, que vai permitir desenvolver acções de gestão que possam aumentar a velocidade de recuperação e que, por outro lado, impeçam a regeneração do eucaliptal.
Claro que nestes quatro anos foram sendo feitas acções de gestão, em especial orientadas para a recuperação do solo, mas só agora é possível avançar para outras soluções (incluindo a possibilidade de usar fogo controlado, que é uma hipótese ainda em avaliação e que faria sentido se a escala da intervenção fosse maior, mas talvez não faça sentido para aquela propriedade em concreto. Em qualquer caso, não é uma prioridade neste momento).
Espero que daqui a quarenta anos, outras pessoas, na Montis, estejam a escrever posts sobre os valores naturais que podem ser encontrados naquele terreno, mesmo que já ninguém se lembre de que tudo começou com o corte de um eucaliptal sem interesse nenhum e sem valor social relevante e eu entretanto já esteja a adubar o solo há algum tempo.
Há muitos anos, alguns dos meus irmãos levaram uns filhos meus para férias.
Uma delas ficou doente, como ficam frequentemente, tinha umas febres altas e persistentes e, pelo que lhe falámos de uma forma clássica de controlar febres altas, com água fria.
O meu irmão, que não tem filhos e toda a vida tomou banho de água fria, levou a coisa a peito e ainda lhe deu uns valentes banhos de água fria até chegarmos onde ele estava, a levar ao hospital e ser internada para curar a pneumonia que tinha (se a tinha antes ou depois dos banhos de água fria é coisa que nunca saberemos).
Lembrei-me desta história a propósito da senhora que trata das birras com banhos de água fria (se querem saber, duvido muito que seja a única no mundo), e que resolveu falar disso publicamente de uma forma que me pareceu pouco razoável (mas isso sou eu, que acho que misturar educação de crianças com horóscopos e astrologia é coisa com um enorme potencial de irracionalidade, embora ter filhos seja objectivamente uma coisa irracional, não há nada que justifique esta mania que continuamos a ter de arranjar problemas tendo filhos).
A quantidade de reacções a esta história que, para além de "Too much ado about nothing", vão muito para lá do pouco razoável, entrando directamente para o absurdo, é extraordinária.
Para além do psicologismo de treta sobre os efeitos terriveis no futuro da criança de uns banhos de água fria (e, genericamente, dos erros de educação dos pais sobre os filhos), que acho despropositado, o que mais me impressiona é a quantidade de pessoas, muitas delas pessoas razoáveis e aparentemente sensatas, que acham que os filhos deviam imediatamente ser retirados aos pais e entregues ao Estado se a temperatura do banho das crianças alguma vez baixar dos 35 graus centígrados.
Às pessoas que acham que o Estado é perfeito a criar crianças, ao contrário do perigo que há em os deixar nas mãos de pais que não são perfeitos e fazem asneiras na educação dos filhos, talvez seja útil lembrar a história de Liliana Melo que demorou quatro anos a conseguir rever os filhos cuja tutela lhe foi retirada, ilegalmente, pelo Estado e que está longe de ser caso único: são várias as condenações do Estado português a indemnizar pais a quem foram retirados filhos ilegalmente.
Ou lembrar como o Estado cuidou dos menores ao cuidado da Casa Pia.
Ou tudo o que se passa nas instituições de acolhimento de menores, onde não há erros de educação e problemas traumáticos, como tomar banhos forçados abaixo dos 35 graus e outras coisas igualmente terríveis.
Ou as dificuldades da adopção em Portugal, com tempos de decisão extensíssimos e algumas "devoluções" de filhos por parte de famílias que o Estado considerou idóneas para os receber (e, se calhar, são, mas educar e integrar filhos numa nova família, e filhos com um histórico de rejeição anterior, é mesmo muito difícil).
A educação não é uma ciência exacta, entre outras razões porque somos todos diferentes e o que funciona bem com uns, pode não funcionar com outros (nós somos dez irmãos, todos a caminhar para velhos com excepção da que já não caminha, e quando a conversa vai para o que se passava em nossa casa, também em matéria de educação, a sensação que tenho é que fomos todos criados em casas diferentes, tal é a disparidade com que cada um descreve o que foi a sua vida em casa dos meus pais).
As famílias são uma coisa péssima: é onde se verifica a esmagadora maioria dos abusos sexuais, é o único sítio onde existe violência doméstica, é onde as tensões entre as pessoas podem ter raízes mais profundas e explosões mais perigosas e muitas e muitas outras coisas que se poderiam dizer sobre as famílias.
O problema é que para educar, socializar crianças, cuidar de bebés - esquecemo-nos frequentemente de como as nossas crias são incompetentes, ao contrário de um potro que corre num prado ao fim de umas horas do seu nascimento, as nossas crias são praticamente "fetos externos", não vêem grande coisa, não se aguentam nas canetas durante um ano, ouvem mal, não sabem procurar comida, meses depois do nascimento não sabem rigorosamente nada do que sabe a generalidade das crias das outras espécies ao fim de umas horas de vida - ainda não encontrámos mecanismo social mais eficiente que este de nos juntarmos em famílias.
Mesmo sabendo que sendo as pessoas imperfeitas, é difícil que sejam capazes de fazer famílias perfeitas, juntando pessoas não só imperfeitas, mas com imperfeições diferentes entre si.
Com séculos, milénios de demonstração, fico estupefacto com a facilidade com que vejo gente, ao mínimo percalço de educação de uns pais, defender que a solução é entregar as crianças ao Estado, essa entidade carinhosa, próxima, razoável, justa, sensata, atenta, serena e etc., que sem dúvida consegue garantir que nenhuma criança a seu cargo alguma vez toma um banho forçado a temperaturas abaixo de 35 graus centígrados.
Há um alargadíssimo consenso sobre o diagnóstico negativo relativo à gestão dos dois terços do país que não corresponde a áreas urbanas e agrícolas.
E há também um razoável consenso sobre a falta de resultados positivos das políticas públicas que pretendem dar resposta a esse problema.
É público que o meu ponto de vista é o de que isso tem na raiz problemas de competitividade das actividades que podem gerir esses dois terços do território e, por isso, as políticas públicas devem concentrar-se em melhorar o desempenho no mercado quando tal é possível, pagando com recursos públicos (e filantropia) a gestão e produção de bens e serviços de interesse colectivo, quando a sociedade reconhece a sua necessidade e o mercado não remunera essa gestão.
É também público e notório que a generalidade das políticas públicas desenhadas para dar resposta ao diagnóstico largamente consensual se centram por um lado na contenção dos efeitos negativos resultantes do que existe neste momento, por exemplo, reforçando incessantemente as políticas de combate ao fogo, e por outro lado, em incentivos genéricos à economia, sem concentração nas actividades que podem gerir o território.
O governo, o Estado e a sociedade reconhecem a falta de resultados do que tem sido feito.
Ora se criam estruturas de missão para o interior ou ministérios da coesão, ora se proibem ou limitam as actividades que se escolhe em cada momento como bode expiatório, ora se despeja dinheiro em soluções milagrosas.
Já foram os madeireiros e a compra de madeira queimada, já foi a actividade imobiliária, já se perseguiram os proprietários absentistas, ultimamente tem sido o eucalipto, enfim, vai variando a actividade, mas não a intervenção administrativa de condicionamento.
Do lado das soluções milagrosas, já foram as ZIFs, as redes de faixas de gestão de combustível, o financiamento de gabinetes florestais municipais, Planos de Ordenamento Florestal, enfim, o Céu é o limite para a invenção de novas soluções milagrosas para resolver de uma penada um problema complexo de economia que se agrava há décadas.
Uma das últimas soluções milagrosas assenta numa ideia que alguns consideram nova: transformar a paisagem que existe na paisagem que deveria existir, de acordo com as opiniões de pessoas que dão conselhos sobre o que os outros devem fazer melhor, pessoas que, por acaso, nunca fizeram, elas próprias, melhor.
Resumindo, alguém achou muito inovador torrar milhões a tornar realidade utopias.
"35% deveria ser alvo de transformação, que a agricultura poderia aumentar de 23% para 35%, que as espécies autóctones podem ser expandidas em 31%, que o eucalipto, que no total ocupa 17% da região devia ser reduzido para 5% e apenas em áreas complementares ... nós conseguimos identificar os locais onde deveria haver intervenção prioritária, 22% da região centro deveria ter uma intervenção prioritária ... esta recuperação da paisagem tem que estar naturalmente associada a uma transformação real da paisagem".
Os pressupostos que estão na base do estudo que chega a estas conclusões são muito discutíveis (no que diz respeito à gestão do fogo, são mesmo errados e sem qualquer fundamento técnico e científico sólido, apesar de uma revista científica ter aceitado publicar um artigo científico que nem sequer respeita o conteúdo dos outros artigos científicos que cita), mas não é isso que me interessa agora, o que me interessa é perguntar: como, com quem, com que economia, se consegue fazer o que está descrito acima?
Eu sei que é dito que a produção de espécies autóctones é rentável, não com base em estudos de caso que demonstrem empiricamente o que é dito, mas com base em contas de exploração que nunca foram confrontadas com a realidade, são hipóteses baseadas em pressupostos que nunca se verificaram.
Mas ainda que assim fosse, ou melhor, ainda que pontualmente se verifique que numa situação ou outra as contas de exploração teóricas tinham tradução empírica, voltamos à base: com que agricultura, com que produções, com que mercados a região centro consegue aumentar a sua área agrícola de 23% para 35%, num contexto global de retracção da área agrícola explorada, embora com intensificação da exploração das áreas agrícolas que não são abandonadas?
Sim, há expansão da área de vinha ou de cerejeira em algumas zonas, mas o saldo de expansão de algumas culturas e abandono de outras áreas é positivo, ou vai passar a ser positivo?
Com quem? Com que mercados? Com que canais de distribuição? Com que modelos de exploração do trabalho, que é inerentemente sazonal e se debate com uma profunda escassez de mão-de-obra?
E se sairmos da área agrícola e passarmos aos terrenos não agrícolas, reduzindo a área de eucalipto de 17% para 5% (e tenho pena que no audio da apresentação não apareça nada sobre o pinhal, que em alguns projectos resultantes do mesmo modelo de intervenção é somado ao eucalipto, propondo-se reduções de cerca de 70% de ocupação actual para valores de menos de 10%), o que fazemos, com quem, com que recursos, com que mercados, com que economia, às áreas libertadas da praga do eucalipto e pinheiro?
Certo, certo é que desde 2018, logo depois do incêndio de Monchique, em que foi lançada esta utopia de transformação da paisagem, formalizando-se numa matriosca de estratégias, planos de ordenamente, planos de acção, etc., já se consumiram uns milhões, já se comprometeram para o futuro próximo mais outros milhões e prometeram-se para o futuro mais longínquo ainda mais milhões, mas no terreno, até agora, nada, nada, nada, nem mesmo na única área em que se conseguiu aprovar um plano: Monchique.
A única transformação visível, até ao momento, é a transformação habitual, a transformação de dinheiro de todos os contribuintes em dinheiro de alguns prestadores de serviços, o principal dos quais, o Estado.
A paisagem, essa, continua a evoluir todos os dias, "estoicamente, mansamente, [resistindo] a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os contratempos, enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, [forem] caindo, caindo, caindo, caindo, caindo sempre, e sempre, ininterruptamente, na razão directa do quadrado dos tempos".
Um comentário no meu post em que, pela enésima vez, defendo uma política de pagamento directo da gestão de áreas florestais como forma de obter um resultado socialmente útil para a gestão do fogo, parece-me óptimo como resumo dos entraves à discussão dessa hipótese.
Comecemos pelo princípio: a proposta não surge do nada, surge como alternativa à política dominante, que tem conduzido ao aumento da despesa pública com prevenção e combate aos fogos florestais, portanto, quaisquer críticas sobre o seu custo, avaliação e fiscalização deveriam estar centradas na comparação com a situação existente em matéria de custo, avaliação e fiscalização, e não em abstracções genéricas como se hoje a política de gestão do fogo não fosse cara, ineficiente e opaca.
Infelizmente, apesar da radicalidade da crítica à proposta, não é nessa base que a proposta alternativa ao que existe é criticada, mas sim usando um modelo retórico corrente: tira-se uma conclusão, e depois logo se vê que argumentos de arranjam para a sustentar.
No caso, a conclusão aparece no fim, mas na verdade é o ponto de partida: "posso afiançar que os modelos marcianos não têm aplicabilidade terrena, a menos que se pretenda concluir que a realidade está errada".
Isso é muito claro na forma como se organiza a crítica, começando por redefinir a proposta, evitando discutir a proposta tal como ela é, discutindo-se antes uma interpretação da proposta cuja contestação é mais fácil.
"Ora eu (e outros), para me limparem terrenos pago cerca de 100 Euros por cada 1000 m2. Como 1 hectare corresponde a 10 000 m2, não me importo de pagar 150 Euros por hectare, mesmo que não receba os tais 100 Euros de subsídio".
O valor de referência aqui usado, de mil euros por hectare, é um valor realista para gestão de combustíveis moto-manual, com recurso a sapadores florestais, omitindo-se, no entanto, outros valores de referência, nomeadamente com recurso a fogo controlado ou pastoreio, valores que realisticamente poderemos admitir que sejam um quinto do valor de referência usado na contra-argumentação.
A deturpação central da proposta feita está aqui implícita, ao pretender-se que a proposta pretende espatifar dinheiro em gestão sem outro objectivo que não a gestão de combustíveis e o controlo do fogo para resolver os problemas dos proprietários.
Explicitamente, e por isso se estranha o esforço em contestar a proposta a partir de outro ponto de partida, a proposta feita pretende ser um incentivo às actividades que já hoje fazem gestão de combustíveis: produção de resina, pastoreio, caça, conservação da natureza, produção florestal, etc., ou seja, a proposta não pretende resolver o problema dos proprietários que querem gerir combustíveis nas suas propriedades sem esperar qualquer retorno dessa gestão.
O que se pretende é que os produtores de resina passem a ter um rendimento complementar, que os pastores passem a ter um rendimento complementar e por aí fora, tornando essas actividades mais atractivas, isto é, criando condições para que se expandam e, consequentemente, se expanda a gestão de combustíveis que já hoje fazem para exercer a sua actividade.
As respostas que agora vou dar à lista de argumentos que se andou a juntar para fundamentar a conclusão prévia devem ser lidas com esta base: não vou responder com base na proposta tal como descrita pelo comentador, vou responder com base na proposta, tal como a apresentei, sem a distorção fundamental usada pelo comentador.
"I) Como se vai fazer prova da limpeza do terreno?"
Declaração formal do interessado, apresentada directamente aos organismos do Estado responsáveis pela aplicação da proposta, ou intermediada pelas organizações florestais que estabeleçam acordo com o Estado para executar essa tarefa.
"II) Como se vai fiscalizar se a limpeza foi efectuada?"
Com deslocação ao terreno, por amostragem, que é exactamente o mecanismo de fiscalização de aplicação das ajudas na agricultura (e em muitos outros lados).
"III) Como se vai verificar se a área limpa corresponde à declarada?"
Ver resposta anterior
"IV) Como se vai processar o pagamento do subsídio?"
Da mesma forma que se fazem devoluções de retenção dos impostos, ou pagamentos de ajudas da política agrícola, por transferência bancária.
"V) Existe algum estudo sobre o assunto (semelhante a um estudo de mercado) em que se esclareça:
a) o universo potencial de área abrangida;
b) o universo potencial de proprietários abrangidos;
c) a percentagem estimada de aderência em termos de área e número de proprietários;
d) a percentagem estimada de aderência entre os proprietários que já limpam os terrenos e a correspondente área percentual;
e) a percentagem estimada de aderência entre os proprietários que não limpam os terrenos e a correspondente área percentual;
f) a área média dos terrenos referentes a d) e e);
g) a rentabilidade média anual dos terrenos referentes a d) e e)."
Não havendo qualquer indicação da utilidade desse estudo (que não existe para a política actual também), ainda assim procurarei responder a cada uma das alíneas.
a) O universo potencial é o país, dentro do país, as áreas florestais, separadas em 3 milhões de hectares de matos e 3 milhões de hectares de povoamentos florestais;
b) O universo potencial de proprietários abrangidos é a totalidade dos proprietários existentes no país;
c) É irrelevante saber qual será a percentagem de aderência dos proprietários (prever o futuro é uma actividade arriscada e, frequentemente, inútil), a proposta prevê um mecanismo de adaptação progressiva do valor do incentivo de maneira a que se a área a ser gerida for insuficiente, o valor do incentivo aumente, se for excessiva, diminua. O que se sabe é que cerca de 20% dos tais seis milhões de hectares deveriam ser sujeitos a operações de gestão de combustíveis de cinco em cinco anos, ou seja, dever-se-ia ter como primeiro objectivo gerir combustíveis anualmente em torno dos 200 mil hectares. Este objectivo deve ir sendo revisto em função da avaliação que for sendo feita da aplicação da medida, tendo como KPI a diferença entre área ardida (seria preferível usar os prejuízos causados pelo fogo, mas é bastante mais complexo) verificada e a estimada sem quaisquer medidas, para as condições meteorológicas verificadas no ano.
d), e) e f) Irrelevante, pelas razões explicadas no comentário anterior;
g) Irrelevante, esse é um assunto que diz respeito ao proprietário.
"VI) Relativamente ao destino a dar ao material combustível resultante da limpeza:
a) foi equacionada a sua entrega a centrais de bio-massa?
b) foram equacionadas as hipóteses de produção de briquettes de bio-massa, pirólise e produção de briquettes de carvão vegetal com aproveitamento do gás pobre resultante para alimentação de caldeira ou forno?
VII) Considerando a utilização de cabras sapadoras, quem toma conta delas?"
Questão completamente irrelevante para a proposta, são tudo matérias que dizem respeito ao proprietário, e que nem sequer se coloca, nas duas primeiras questões, se a gestão de combustíveis for feita com fogo ou com gado, por exemplo.
Espero que fiquem claras as razões pelas quais o assunto é politicamente impossível de tratar: a generalidade da sociedade não está interessada em discutir vantagens e desvantagens de qualquer soluções potencial, está muito mais interessada em demonstrar a sua superioridade intelectual.
E esta atitude é ainda mais marcada na tecnoestrutura que forçosamente tem de ser chamada a pronunciar-se sobre estas matéria, razão pela qual nada se resolve: a generalidade dos técnicos e dirigentes da administração pública estão-se completamente nas tintas para o que se passa no terreno, concentrando-se na gestão das suas carreiras.
O que, numa administração pública reaccionária e intelectualmente indigente, como a portuguesa, quer sobretudo dizer uma gestão ultra-prudencial do risco, isto é, "viver como habitualmente" e evitar, a todo o custo, qualquer inovação que possa pôr em causa as relações de poder existentes e consolidadas.
Eu percebo que tenhamos uma Igreja habituada a viver entrincheirada, receosa de propor caminhos, justificada pelos seus inimigos internos e externos. No Ocidente, têm sido décadas de encolhimento perante um poder arrebatador do Grande Leviatan que tudo vem secando à volta, até a fecundidade das suas gentes. Repare-se que nas últimas décadas todas as guerras do catolicismo vêm sendo perdidas: dessacralizou-se o casamento que passou a ser tudo e o seu contrário perante a lei. Assim se enfraqueceu a Família natural construtora do bem-sucedido Ocidente e que era terreno fértil para a evangelização, para a passagem dos valores cristãos. Com o advento do hiperindividualismo, em paralelo com o consequente Inverno Demográfico, legitimou-se o aborto e a morte assistida. A religião foi remetida ao foro privado para não ferir susceptibilidades, o ditame da moralidade, do bem e do mal, também – tudo é relativo, a Verdade, que é o que o cristianismo tem a propor, esconde-se envergonhada.
É este também o retrato da Igreja portuguesa, acossada e amedrontada, que, durante uma semana, neste canto da Europa laica e materialista, se atreverá a ser o foco de todas as atenções. Coube-lhe liderar esta gigantesca operação logística de receber centenas de milhares de Jovens de todo o mundo, a oferecerem-se à conversão. Cabe-lhe, por consequência, difundir uma forte mensagem, não só para todos os milhares de resistentes peregrinos que ainda procuram um sentido de vida maior que o seu umbigo, mas para todos aqueles hesitantes que não se atrevem a passar do Páteo dos Gentios.
Há dias, a propósito de tudo isto e dessa oportunidade de conversão que a Jornada Mundial da Juventude proporciona, num almoço entre amigos, um deles, perguntava qual a mais importante mensagem de Jesus que verdadeiramente interessará aos jovens nestes tempos de acelerada descristianização e niilismo. Como pode a Igreja Católica afirmar-se na ruidosa cidade da abundância do século XXI?
Entre várias propostas lançadas na mesa pelos convivas, da mensagem de Vida Eterna, à revolucionária revelação da Misericórdia (Amai-vos uns aos outros…) eu defendi a da Liberdade. Receio que numa sociedade onde impera o bem-estar e se reclama o prazer como um direito, o anúncio da Vida Eterna não tenha grande sucesso. Já o Novo Mandamento do “Amai-vos como irmãos”, que chegou a ser um traço reconhecido nas primeiras comunidades cristãs (“vede como eles se amam!”), temo que tenha sido banalizado pela confusão gerada à volta do conceito de Amor, hoje tido como algo ligado ao prazer erótico e psicológico, assim difundido pela minha geração nos anos sessenta. Um dia as comunidades recuperarão o seu verdadeiro sentido, o da Compaixão – mas não vai ser no meu tempo.
Ora, quanto a mim, a principal mensagem que o Cristianismo tem para oferecer, que obviamente se interliga com as anteriores, é a da Liberdade, mas com maiúscula. Porque julgo que, num tempo como o actual, com tantas formas de alienação a escravizar as almas crédulas, apoucando-lhes as existências, a Liberdade, no sentido de consciência livre e responsável, é a grande outorga de Jesus Cristo que convém salientar. Se, como afirma Bob Dylan estamos condenados a ser servos (Gotta Serve Somebody - Slow Train Coming, 1979), que sirvamos o Senhor Jesus que nos desimpede os caminhos e principalmente a alma.
Para alcançar essa alforria não é necessário seguir-se à risca o exemplo de São Francisco de Borja, Duque de Gandia, que, perante a profunda dor e desapontamento com a morte da bonita e instruída Rainha Isabel de Portugal (filha de D. Manuel I e mulher de Carlos V de Espanha), que tanto admirava, afirmou: “não mais servirei senhor que pereça”. A partir de então devotou a sua vida por inteiro aos assuntos do seu Deus.
Com Jesus Cristo aprendemos onde colocamos o coração a criar valor, a reconhecer as paixões que nos podem escravizar e diminuir, ou a única que que faz de nós verdadeiros e autónomos filhos de Deus. Que a cada um conhece como único, “Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos” (Lucas 12:7). Ou ainda, “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. (Mateus 11:29-30).”
É esta descoberta de Liberdade como caminho que me convenço ser a mais importante mensagem a outorgar aos jovens do nosso tempo. A Liberdade de quem, participando no Mundo, não o carrega às costas, nem às suas normas e atracções se deixa subjugar. De beleza, de carreira, de haveres, de amores, de ansiedades, de orgulhos, dos medos, da expectativa dos outros, enfim, de dependências grandes e mesquinhas. É esta Liberdade que está ao alcance de todos e que urge transmitir aos nossos jovens. Irão certamente gostar de saber que o seu Senhor (no sentido medieval do termo) não é deste Mundo, e que isso lhes permite olhar as coisas do Mundo com outros olhos – fazer escolhas de felicidade. Serem protagonistas das suas próprias vidas.
É esse o feito da conversão, construída em comunidade de crentes. Com muita oração – a barulheira mundana dificulta a prática da Oração que com o seu poder a todos eleva, dignifica, aproximando-nos de Deus. É assim que adquirimos um sentido proporcional da importância das coisas do Mundo. Que nos conduz à Liberdade de nele agir. Não de caminhar sobre as águas, nem de voar pelos céus, mas percorrer esta vida de pés bem assentes no chão, com a cabeça erguida e o coração… consolado.
Que a JMJ inspire muitas conversões apaixonadas pela pertença à Igreja de Cristo, são os meus votos.
Publicado originalmente no Observador
Recomendo vivamente esta entrevista ao José Miguel Cardoso Pereira, e não é por lá no fim me citar: é normal que estejamos muitas vezes de acordo nesta matéria, entre outras razões, porque fui seu aluno numa disciplina de ecologia do fogo.
Numa dessas partes em que Zé Miguel fala das minhas propostas de pagamento directo aos gestores de terrenos para que façam uma gestão que não tem interesse suficiente para o dono do terreno, mas é do interesse de todos que essa gestão seja feita, retoma a minha proposta inicial, 100 euros por hectare/ ano, quando eu actualmente defendo que se comece por 100 euros por hectare, de três em três anos.
É certo que o que proponho é pouco, mas parece-me que mais vale começar mais devagar para reduzir o risco de criar rendas indevidas, o que permite avaliar como as pessoas respondem a esse incentivo, e vai-se ajustando o valor a essa resposta.
Em princípio, os primeiros a responder a esse estímulo serão os que já hoje fazem gestão de combustíveis, sem que ninguém, para além do mercado, lhes pague (resineiros, pastores, caçadores, produtores florestais competitivos, e mesmo conservacionistas que actuam no mercado da paz de espírito). Depois se avalia se isso é suficiente ou se é preciso aumentar o incentivo.
Em qualquer caso, mesmo com a proposta inicial que corresponde a um estímulo três vezes maior, o Zé Miguel compara o custo dessa opção ao dinheiro gasto com aviões, anualmente: vinte milhões para pagar gestão contra setenta milhões para pagar aviões, por ano. Repito, 20 milhões contra 70 milhões.
Ainda hoje acho que o melhor texto que escrevi sobre gestão do fogo é este, num longínquo ano de 2014, ou seja, um texto que tem nove anos de que trancrevo o parágrafo central: "E repare na diferença. O Canadair é importado, as cabras são de fabrico nacional. O Canadair usa combustíveis fósseis, as cabras são recursos renováveis. O Canadair cria custos de manutenção, as cabras criam cabritos. O Canadair não altera os dados do problema, as cabras estrumam o solo e aumentam a produtividade. E, last but not the least, no fim do seu tempo de vida útil o Canadair dá ainda despesa para o seu desmantelamento e tratamento dos resíduos e as cabras dão chanfanas."
A verdade é que, passo a passo, temos vindo a reconhecer que é preciso abordar o problema de maneira diferente - o Zé Miguel lembra que conheceu pastores presos por fazer queimadas, e hoje é o Estado que tem um programa de apoio às queimadas - mas é tudo muito, muito devagar.
Ouvi recentemente o Senhor Ministro da tutela a dizer que tem por lá três milhões para finalmente experimentar pagar directamente a gestão aos produtores.
Claro que fico satisfeito com o facto de, ao fim de nove anos, já haver a intenção de no futuro fazer qualquer coisa nesse sentido, mas a esperança que tenho de que não seja preciso esperar outros nove anos, e mais uma tragédia, para se fazer alguma coisa consistente, é muito baixa: quase de certeza que vão pegar na ideia, e nos três milhões, e complicar as regras para tentar obrigar as pessoas a fazer o que os técnicos acham que deve ser feito em vez de simplesmente lhes pagar o serviço de interesse colectivo difuso que se pretende que prestem (para quem tiver dúvidas, é olhar para as áreas integradas de gestão da paisagem, que andam há uns cinco anos para trás e para a frente, sem que até agora tenha chegado nada de concreto ao terreno, apesar dos milhões já gastos).
E essa ânsia de controlo é uma das principais razões para a lentidão da sociedade e, consequentemente, do Estado, na adopção de medidas úteis que custam um terço de outras mais espectaculares e politicamente mais simples, como passear aviões e helicópteros - aeronaves de asa fixa e de asa móvel, dizem eles cheios de rigor - por cima de fogos incontroláveis.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas?». Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Escutai, então, o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».
Palavra da salvação.
Estava eu a hesitar sobre se escrevia um post sobre o artigo que os eurodeputados do PS escreveram no Público, a propósito das votações sobre a lei do restauro da natureza, quando hoje o Observador tem um artigo que é muito mais interessante do que quer que eu escrevesse a este respeito.
Beatriz Soares Carneiro, a convite da Oficina da Liberdade, escreve um artigo impecável (com a excepção de seguir a linha oficial de chamar restauração ao restauro, mas enfim, isso é um problema que decorre de uma má opção dos tradutores das instituições europeias) que se sintetiza muito bem numa das suas frases: "Estes movimentos foram o suficiente para servir de sinal de alerta aos conservadores do centro-direita europeu de que o Green Deal não estava a ser percebido pelos cidadãos como um “Pacto” com eles, mas sim como uma agenda que estava a avançar apesar deles e, em alguns casos, contra eles".
Aparentemente, não é apenas nas questões ambientais que os cidadãos sentem que o pacto base da democracia foi substituído por agendas que se executam, apesar das pessoas, e não com as pessoas a que dizem respeito.
E é desse ponto de vista que o artigo subscrito por todos os eurodeputados do Partido Socialista é exemplar e talvez merecesse um comentário: numa página inteira de jornal, em que se ataca a direita por se unir à extrema direita (oh santinhos! o facto de um argumento, aparentemente, ter funcionado bem uma vez, não diz nada sobre a sua eficácia futura nestas matérias, sobretudo se aquilo a que chamam extrema-direita se vai instalando democraticamente no poder em vários países e regiões, sem que daí resulte nenhum regresso do fascismo), sem que haja uma única explicação sobre a necessidade de uma lei europeia do restauro da natureza.
Pelo contrário, toda a argumentação vai no sentido de dizer que a direita está enganada, nada do que dizem que foi aprovado se verifica, porque a lei é uma lei de objectivos (que é como quem diz, é uma lei, mas não é bem para aplicar), é uma lei que vai ser flexibilizada, por decisão do Conselho Euopeu, em que os diferentes Estados-Membro da União vão ter toda a latitude para adaptar às suas condições específicas, enfim, a direita não tem razão porque o que está escrito na lei não é para levar a sério.
Mas lá explicar para que raio é precisa uma lei de restauro da natureza quando na Europa os sistemas naturais estão a recuperar extraordinariamente desde que se inventaram os adubos azotados industriais, isso é que os senhores deputados não se dão ao trabalho de explicar.
E as pessoas comuns, que estão mais preocupadas em saber se conseguem pagar a casa todos os meses que com os riscos do fascismo que Ventura representa, lá se vão cansando e apoiando progressivamente mais quem lhes parece que responde aos seus problemas quotidianos, ou melhor, quem responde melhor à sua percepção de quais são os problemas quotidianos das pessoas comuns.
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Desculpa passante, o meu texto não deveria ter apa...
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