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Quem foi, quem foi?

por José Mendonça da Cruz, em 15.11.22

«Todas as armas são letais, todas as armas não devem ser usadas», ouvi eu. Quem seria, pensei eu, o tonto que proferiu solenemente tal platitude no meio da guerra da Ucrânia?

Quem seria ?, perguntei eu. Disseram-me que foi um senhor muito agradecido por os pés de microfone lhe darem uma oportunidade de disfarçar de umas acusações graves que o afligem. Mais me disseram que o português deficientemente assimilado da frase é característico do referido senhor. Que é mesmo «expectável» (ou seja, previsível) e até «emblemático» (ou seja, característico).

Ah, então está bem, concluí eu. 

Despedimentos: um bem social

por Jose Miguel Roque Martins, em 15.11.22

Nada é mais impopular do que  despedimentos. Não devia ser assim: os despedimentos são um imperativo do bem social.

Hoje, na rádio observador, lá fui agredido por um jornalista, que lembrou a perversidade dos multimilionários das novas tecnologias de informação (Musk, Zuckerberg e Bezzos ) que, confrontados com a queda de resultados, desataram a despedir dezenas de milhar de trabalhadores, com a agravante que ao mesmo tempo, um deles prometeu doar uma quantidade milionária da sua fortuna a instituições de benemerência e culturais.

Não se pode negar que para o despedido, a situação é no mínimo desagradável, podendo atingir o dramático: não há nada pior do que o desemprego. Mas um trabalhador que deixou de contribuir positivamente para a sua empresa, já está, no mínimo, em subemprego, no máximo passou a ser um desempregado que continua a receber o seu salário, mas não contribui na plenitude das suas capacidades para a criação de riqueza da sociedade.

A solução preconizada pelo comentador, a manutenção do posto de trabalho à espera de melhores anos, em termos sociais representa um enorme desperdício, pelo menos em economias livres, como nos EUA.

Dos milhares de trabalhadores despedidos nos episódios descritos, dentro de pouco tempo, a grande maioria estará a fazer outra coisa, acrescentando valor real àsociedade, contribuindo para a sua prosperidade, ao invés de receber um subsidio de emprego da sua empresa, contribuindo pouco ou nada para a criação de riqueza de todos. Não despedir, não é só receber um subsidio de desemprego por parte das empresas (um erro) em vez de receber um subsidio por parte do Estado: é manter, até melhores dias, o estatuto dos redundantes enquanto contribuinte não efectivos para o bem comum, uma condenação ao desemprego perene, mascarado pela ilusão de uma contribuição que não existe ou é muito menos real do que colectivamente assumida. 

Despedir, é pois, um ato de racionalidade que protege os interesses legítimos da empresa, dos seus accionistas mas também um incentivo à prosperidade geral de uma sociedade, que permita mitigar o sofrimento dos excluídos de forma generosa. Despedir pode ser um enorme inconveniente para os visados, mas é um bem social de inegável valor. 

Porque somos quase todos empregados por conta de outrem, é natural que a realidade não pareça aceitável, porque poderemos ser nós a ficar redundantes. É uma opção mas,  enquanto assim for, enquanto quisermos emprego e não trabalho, não poderemos ser um país rico, em que muitos estejam muito bem e os mais desfavorecidos possam estar menos mal. 

Fim ao fóssil

por henrique pereira dos santos, em 15.11.22

Eu não tenho nada contra a possibilidade de um dia se deixar de usar energias fósseis.

Isso é completamente diferente de achar que é possível, sem imensa dor e sem prejudicar os mais pobres e frágeis, deixar de as usar num curtíssimo espaço de tempo, antes que se consiga perceber que fontes de energia alternativas se pretendem usar.

Eu sei, eu sei, o argumento é que basta poupar, usar menos, ser mais frugal, defender energicamente a austeridade energética.

Aliás, para quem queira conhecer a argumentação a partir de fontes primárias, tem aqui um video, bastante primário, sobre o assunto, em que um rapaz simpático nos explica que claro que podemos viver sem combustíveis fósseis porque, como espécie, já vivemos 299 800 anos sem eles, e se nos últimos 200 anos os usamos, é porque "eles" ganham com isso, e mais ninguém.

O que ele diz é, com certeza, muito sólido, basta ver que o video é produzido com os nossos impostos e ninguém iria desperdiçar os nossos impostos em histórias da carochinha contadas por pessoas que não sabem grande coisa sobre os assuntos de que falam.

Portanto, até 2030, acabamos com uso de energias fósseis e, com isso, encontramos uma alternativa energética que nos permita continuar a usar a síntese de Haber-Bosch, a descoberta humana que, singularmente, mais vidas salvou.

É essa reacção química, fortemente consumidora de energia, que está na base da existência de fertilizantes azotados, que são responsáveis directos pela alimentação de 35% da população mundial, para além de serem responsáveis pelo baixo custo dos alimentos de toda a população mundial.

E ainda me permitem estar aqui a escrever num computador em vez de estar a cavar batatas (não me macem com esta figura de retórica, sei perfeitamente que nesta altura do ano não se cavam batatas).

João Camargo tem toda a razão, durante uns valentes milhares de anos não usámos da forma como usamos as energias fósseis (ele não sabe que o carvão é usado há muito mais anos que nos últimos duzentos, ninguém é perfeito, mas é verdade que a escala do seu uso é nova, nos últimos 200 anos), era um tempo de elevada mortalidade infantil, um tempo em que morriam mulheres em barda em partos, um tempo em que a esmagadora maioria da população mundial passava fome, pelo menos em algumas épocas do anos ou sempre que as colheitas eram más, por causa das secas, das inundações, das pragas e todas essas coisas que agora se explica que têm origem no consumo de energias fósseis, um tempo de elevadíssimas desigualdades sociais, em que o estatuto das mulheres era claramente inferior, em que a escravatura era aceite em quase todo o mundo, etc., etc., etc..

Se estão mesmo, mesmo preocupados com o facto do uso dos combustíveis fósseis vos roubar o futuro, a minha sugestão é que garantam um bocadinho de terra, de preferência no fundo de um vale, com pelo menos uma pouca de água no Verão, e comecem a aprender a produzir os vossos alimentos, enquanto o uso de combustíveis fósseis vos permite garantir que não passam fome até aprenderem os rudimentos da actividade.

É que se por um acaso lunar, alguém resolver tomar as medidas radicais que preconizam, como, mitigadamente, tentaram fazer no Sri Lanka com a abolição da produção agrícola assente em fertilidade industrial, garanto que a probabilidade de terem três refeições por dia, ao preço da chuva, como agora acontece, é praticamente residual e ter um bocadinho de chão é ainda mais necessário que no caso de ninguém vos dar ouvidos, como temem (e eu, ardentemente, espero).

Alienação

por henrique pereira dos santos, em 14.11.22

Carmo Afonso ministra a sua habitual dose de alienação na última página do Público, descrevendo uma realidade privada, sem qualquer ligação com a realidade real.

Isso é o normal, o que já não é normal é que perante um artigo completamente absurdo (embora seja o que é de esperar de Carmo Afonso), o Público faça uma chamada de primeira página para um artigo de opinião indigente e, de caminho, subscreva a tese, delirante, de que o Qatar é um país liberal e um modelo de liberalismo sobre o qual a Iniciativa Liberal se deveria pronunciar, isso é muito mais divertido.

Nos índices de liberdade económica o Qatar está no primeiro terço, é verdade, mas abaixo de Portugal (em 160 países, Portugal anda pelos trinta e poucos e o Qatar pelo quarenta e qualquer coisa), no grupo dos países moderadamente livres.

Esta posição decorre do facto de haver factores em que o Qatar apresenta posições mais positivas (do ponto de vista de quem faz estes índices, claro) do lado da fiscalidade (que há quem confunda com liberalismo, basta ter a noção de que os países escandinavos, tipicamente com elevadas cargas fiscais, estão sempre nos lugares à volta do dez para se perceber como essa percepção é errada), mas bastante menos positivos em coisas essenciais para os liberais, como a liberdade de comércio, a liberdade do trabalho e, muito mais sensível para um liberal, o respeito pela lei e a independência do sistema judicial (não há grande originalidade nesta errada percepção de liberalismo, Fukuyama, se bem percebi a citação que um dia destes dele fez Pedro Bingre do Amaral, também cita a Somália como exemplo de aplicação do liberalismo, esquecendo o princípio central do respeito por uma lei igual para todos, como pedra basilar de sociedades e comunidades liberais).

Resumindo, que Carmo Afonso escreva disparates constantemente, é normal e é com ela, é para isso que foi contratada com certeza, mas que quem fechou a primeira página do Público resolva destacar, concordando, com o monumental disparate de considerar que existe um "triunfo do liberalismo no mundial da vergonha" é caso para se ficar envergonhado com a qualidade do jornal que se compra.

A nacional conferência revivalista

por João-Afonso Machado, em 13.11.22

Foi uma manhã toda de entrevistas e discursos. De análise política e de um auditório pintado de vermelho garrido onde se agitavam muitas bandeiras comicieiras. Deviam estar lá quase todos e oradores não se cansaram de invocar a grande participação nesta extraordinária autodenominada «Conferência Nacional». Afinal não se tratava de um decisivo congresso, conquanto a encenação lembrasse esses inesquecíveis do PCUS e, mesmo sem lá estar, sentia-se a presença de Lenine invectivando as massas - os soldados e os marinheiros, os operários e os camponeses. Não faltando, de resto, a alusão às conclusões do 21º, as quais peço desculpa por não recordar.

Era o solene momento da tomada de posse de Paulo Raimundo, o novo secretário-geral do PCP. O sucessor do já mais idoso e adoentado Jerónimo de Sousa que as câmaras televisivas não esqueceram no seu lugar entre os notáveis comunistas.

A plateia prossegue a sua frenética agitação de estandartes, repleta de bolcheviques à antiga - boina na cabeça, barba de revolucionário e lunetas de intelectual - muitos deles ainda jovens e sonhadores com o proletariado de todo o mundo unido.

A voz de Paulo Raimundo procura transmitir esse elan renovador. O PCP é imortal... A caminhada para a sociedade socialista imparável também. Os proletários é que foram banidos da terminologia comunista que insiste em batalhar pelos «direitos dos trabalhadores e do povo». Deixando fugir boca fora, de vez em quando, os «explorados e oprimidos».

João Ferreira e João Oliveira acederam à entrevista da locutora de serviço. Evidentemente, os seus postos na luta não os afastam do Parlamento Europeu e da nossa AR. Para Paulo Raimundo os sindicatos e a agitação na rua. E todos lhe agradecemos a turbação possível (e impossível...) do Governo de Costa com quem, num passado recente, acamaradou no processo revolucionário.

O PCP reafirma-se um partido de classe. As bandeiras vermelhas são como ventoínhas no pavilhão repleto. (Ocorre-me a imagem de uma assembleia geral de boavisteiros caturras, destilando raivinhas ao arquirrival, o poderoso F. C. do Porto.) - Venceremos!, venceremos!

Gozou merecidamente um longo momento de palco, o PCP. Passaram já muitos anos e todos esquecemos os boicotes e a arrogância, a legitimidade revolucionária e a ameaça de uma ditadura do proletariado. Os perigos são agora outros, provêm de outras bandas e mais melifluamente. Eu gostei de assistir à grande «Conferência Nacional», foi uma bela manhã revivalista.

Quantos são, quantos são?

por henrique pereira dos santos, em 13.11.22

Andam por aí uns spin-off do Bloco de Esquerda, acompanhados de umas organizações formatadas para estar sempre de bem com Deus e o Diabo, a fazer umas manifestações pindéricas de umas dezenas de manifestantes, umas ocupações de treta com meia dúzia de activistas, por vezes com as mães atrás, a dar apoio.

Parece que é tudo contra o fracasso climático.

Até aqui, nada de especial, faz parte do folclore, como o vira do malhão.

O curioso é que quando são criticados, ou alguém que acha que tem obrigações para com as pessoas que são prejudicadas por estas perfomances resolve dizer ou fazer o óbvio, aparecem logo umas quantas pessos a comparar a entrada da polícia nas universidades no tempo de Veiga Simão com intervenções corriqueiras da polícia democrática para resolver arruaças, e a dizer que é preciso valorizar o factos dos jovens lutarem por aquilo em que acreditam.

O normal consiste em saber o que são os jovens e o que querem.

Aparentemente, o que os jovens querem não se define em processos democráticos, em eleições, em associações, em organizações que se envolvem nas comunidades e resultam das comunidades, aparentemente parte-se do princípio de que, da mesma forma que acham que o que os trabalhadores querem é o que diz a CGTP que eles querem, apesar de haver hoje mais trabalhadores a votar no Chega que nos patrões da CGTP, também aqui o que os jovens querem é o que estas dezenas de pessoas dizem que os jovens querem.

Há alguma razão para fazer essa suposição?

As manifestações juntam milhares? As ocupações rebentam por todo o país, em todas as escolas, com forte apoio social?

Não, nada disso, são umas arruaçazitas, a que ninguém liga nenhuma, a não ser jornalistas e afins.

Qual é o critério de interesse social que leva boa parte do jornalismo a dar espaço e atenção a estes grupinhos de amigos?

Ninguém sabe.

Domingo

por João Távora, em 13.11.22

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-Lhe: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas».

Palavra da salvação.

Funcionalização em política

por henrique pereira dos santos, em 11.11.22

Suspeito, sem ter dado ao assunto muita atenção, que grande parte da divergência das duas candidaturas na Iniciativa Liberal se prende com o difícil equilíbrio entre funcionalização e abertura à sociedade, nos partidos políticos.

Não me meto na discussão de qual será a melhor opção para a Iniciativa Liberal, por um lado porque não sou militante, apesar da minha proximidade ideológica e colaboração, por outro porque conheço Carla Castro e Rui Rocha, não com proximidade, é certo, e gosto dos dois, achando que os dois são boas opções.

Os partidos (e mais ou menos todas as organizações sociais que pretendem ser transversais e chegar a todos) são sempre confrontados com a opção entre a lógica leninista de profissionalização e funcionalização para garantir a eficácia da acção, ou a abertura caótica à sociedade, para garantir criatividade e ligação da acção política ao quotidiano das pessoas concretas.

A candidatura de Rui Rocha parece-me pender para a lógica da eficácia eleitoral através da progressiva funcionalização do partido, a candidatura de Carla Rocha parece-me pender para a manutenção de uma matriz inicial do partido, de procura de pessoas e ideias políticas através de uma ligação mais aberta com a sociedade.

Não tenho muita base para fundamentar isto, mas é uma sensação com que fico.

Quando a Iniciativa Liberal lançou um concurso aberto para seleccionar umas dez pessoas para apoio ao seu grupo parlamentar, eu concorri, cheguei a uma fase de entrevista (acho que tiveram curiosidade em perceber por que raio um velho, com uma carreira profissional completamenta alheia à política, estava a concorrer a um lugar que tipicamente é preenchido por jotinhas e outros desirmanados da política) e até expliquei que estava a fechar a selecção para um lugar de chefe de departamento no sítio onde trabalhava, que eu tinha fortes probabilidades de ganhar (como ganhei, embora depois de ganhar tenha decidido não ocupar o lugar).

Uma das principais razões que me levavam a concorrer era mesmo sentir uma certa funcionalização da acção política da IL, que me parecia prejudicial, e portanto dar-lhes a oportunidade de escolher pessoas que não se reviam nessa lógica de funcionalização, acentuando mesmo que o meu contributo principal seria fazer pontes para terceiros, fora do partido, nas matérias para as quais tenho alguma competência.

Nada me move contra a profissionalização na política, mas políticos profissionais são os que concorrem a lugares políticos, o que jogam o seu futuro na roleta da política, não são os que vão pacientemente tecendo teias de influência na sombra dos partidos, nunca arriscando, para estar no lugar e tempo certo para serem nomeados para uma coisa qualquer que achem vantajosa.

Pode haver, como Mariana Vieira da Silva, pessoas com qualidade - pelo menos nunca ouvi ninguém dizer que não é uma mulher inteligente e trabalhadora - nesse grupo de funcionários que, com o tempo, até podem passar para o grupo dos políticos profissionais, depois de uma vida inteira na bolha social partidária, começando cedo nos gabinetes e afins, e continuando assim até à oportunidade de dar o salto de funcionário partidário para político.

Este é hoje o cenário esmagadoramente dominante no Partido Socialista, e dominante na generalidade dos outros partidos (ou, por exemplo, das associações ambientalistas, que conheço bem).

É inevitável que o mundo de Mariana Vieira da Silva seja o de quem nunca teve os problemas normais da generalidade das pessoas comuns, daquelas que não têm uns pais que pertencem às elites partidárias e sociais, que não têm a facilidade de uma extensa rede de contactos e por aí fora.

O que seria bom que uma pessoa com este percurso de vida fizesse, quando forma um gabinete?

Que tivesse consciência da sua condição e privilégio, que tivesse consciência de que isso condiciona a forma como se olha para as opções de política que tem de fazer, procurando limitar os problemas associados contratando pessoas de outros mundos e outras vidas, para que na diversidade do seu gabinete houvesse capacidade crítica suficiente para avaliar o que se vai fazendo.

Ao escolher quem escolheu, por adequação do perfil à tarefa pretendida - como bem nota Alexandre Homem Cristo, se aquele é o perfil adequado à tarefa, é porque se espera muito pouco da tarefa - Mariana Vieira da Silva demonstra que o contexto em que aplica a sua inteligência e capacidade de trabalho é um contexto miserável, em que a ambição não passa da intendência e mercearia partidária, intermediada pelo Estado, com dinheiro dos contribuintes.

Se dúvidas houvesse, António Costa fez a demonstração, ao escolher para seu secretário de estado adjunto Miguel Alves: o país não passa do cenário em que se movem os actores num palco e as pessoas comuns não passam de espectadores sem direito a intervir na peça que está em execução.

A acção central do governo consiste em arranjar quem pague a peça e o ordenado dos actores, visto que os espectadores têm vindo a perder a vontade de pagar pelo bilhete, tudo o resto, a qualidade da peça, a vida dos espectadores e esses pormenores não passam disso mesmo: pormenores.

Por paisagens marginais

por João Távora, em 10.11.22

Das pedras pão.jpg

Quem conheça um pouco Henrique Pereira dos Santos, autor do texto deste livro, sabia já como, a sua permanente busca de objectividade e fundamentos solidamente comprovados nas suas opiniões, esconde mal uma alma sensível e curiosa que, assumidamente agnóstica, se deixa arrebatar facilmente pela beleza, que é um assunto da metafísica. Isso percebe-se não só por algumas das suas simpatias literárias ou musicais, que por vezes deixa escapar nos seus comentários, mas pela forma como nos apresenta o objecto da sua formação académica e profissional em “Das Pedras, Pão”. Aliás suspeito que a matéria da Arquitectura Paisagista se preste a este perfil. Desses sinais nos dá conta a fascinante conjugação do texto com as fotografias da autoria de Duarte Belo, que entremeiam cada capítulo e nos estimulam o olhar ao longo de toda a obra. Aliás, a opção da não legendagem das fotografias concede-lhes um protagonismo equiparado à prosa, e não de seu suporte. Apesar da sua ordem obedecer de algum modo ao desfolhar dos temas discorridos pelo Henrique, no seu género de linguagem austera, o conjunto, como que uma composição, convence-nos da erudição estética que constitui a observação e reflexão sobre o clima, a paisagem e o homem em interacção. No mesmo sentido vai a atracção dos autores pelas paisagens “marginais” que são o objecto dos olhares derramados em imagem e texto neste livro. Terras marginais, explica-nos o Henrique, porque o são em termos da produção agrícola, “quase despidas de árvores, e para quer que se olhasse, só se viam charnecas, mato rasteiro e pedra.” Talvez que a nossa cultura cristã seja a fonte da atracção pela marginalidade que comungo com o Henrique. Estranho só que se recuse a ouvir os Genesis do tempo em que não eram mainstream.

Este livro é como que um passeio, o relato de um caminho, a explicação duma paisagem quase sempre áspera e desumanizada do país interior em torno da Serra da Estrela, com os seus recantos verdejados pela existência de água, paisagem que se explica a si mesma se a perscrutarmos. Diz o nosso arquitecto paisagista num pequeno assomo autobiográfico na introdução: “Faço parte daqueles para quem as coisas extraordinárias – os monumentos, os sítios obrigatórios, os museus que não se podem perder e, dentro deles, as peças imperdíveis – são essencialmente pretextos para o caminho.” Para uma peregrinação, direi eu. Uma peregrinação de interrogações e curiosidade sobre o que se nos calha revelar o caminho – não metafórico. Num tempo em que a realidade se nos impõe luminosa e intrusiva em múltiplos ecrãs, tornando os nossos olhos e mentes preguiçosas, arriscamos a perder a vida ao não olhar para o caminho: “De que vive esta gente? Por que razão num sítio se come mais coentros e noutro mais salsa? O que faz ali aquela vinha e que tal o vinho que de lá sai? Por que diabo há este queijo nesta região? A que se devem estas nuvens de insectos que me saem ao caminho?”

Mas esta obra (texto e imagens) não é propriamente poética. Com a sua leitura aprendemos nomeadamente da vantagem do pastoreio em relação ao fogo ou ao pousio – a função coproiética que permite ao solo a absorção de nutrientes devolvidos através da matéria orgânica dos animais. Uma alternativa ao fogo? Sempre o fogo tão incompreendido quando visto na cidade pela televisão num sofá. Fogo fatal que a nossa cultura acredita ser evitável a juzante, quando devidamente "domesticado", provocado fora de época e em condições de maior humidade e pouco vento, favoráveis ao seu controlo em intensidade e extensão. Uma alternativa ao abandono do homem, e aos paraísos que daí tardam surgir?

"Das Pedras, Pão" também é a revelação dum Portugal agreste e longínquo, misto atlântico e mediterrânico, hoje abandonado, mas que nos corre nas veias. Que aprendeu engenhosamente a fazer das pedras pão “de sangue” por causa da sua magreza, onde fosse possível medrar algum centeio. Esta é uma paisagem abandonada pelas pessoas, “onde a vegetação natural tem vindo a ocupar os espaços abandonados e que só o fogo parece perturbar” para a qual o Henrique, inconformado, reclama um olhar diferente, uma nova economia que a preserve humanizada, capaz de domesticar um território cada vez mais hostil, infernal – sempre os fogos.

O objecto do livro propriamente dito quase que vale por si mesmo pelo bom gosto do desenho. De capa dura e espessa, prescinde da tradicional lombada, o que facilita a passagem das páginas feitas num papel de boa gramagem com uma textura que concede às fotografias uma coloração baça e agreste quase como a paisagem que retrata, sempre despida de gente. É um livro para pousar numa mesa de sala, a convidar o passante a uma vistoria rápida, que talvez merecesse um tamanho (e um preço, eu sei) maior.

"Das Pedras, Pão" poderá ser adquirido no seu lançamento dia 15 às 18:30hs na livraria da Travessa R. da Escola Politécnica 46, ou no dia 16 às 17:30hs no salão nobre do Instituto Superior de Agronomia por ocasião duma conversa à volta do assunto. Estará também à venda nas livrarias ou no Museu da Paisagem.

Ficha técnica: 

Das Pedras, Pão/Bread from Stones, 254 páginas © 2022 Museu da Paisagem

Texto Henrique Pereira dos Santos

Fotografias: Duarte Belo

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O desafio da normalidade

por João Távora, em 09.11.22

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Não só a recente epidemia de medo explica o fascínio (a saudade?) exercido pela Covid19 em tanta gente, mas o facto do assunto ter monopolizado as suas preocupações durante quase dois anos em que a vida aparentava ser confortavelmente simples: um assunto arrebatador que nos distraía das muitas pequenas e grandes misérias que afligem a vida de toda a gente, normalmente chama-se alienação. Agora que com o frio chegam as doenças respiratórias, há muitos especialistas à espreita de recuperar os seus lugares nos noticiários a espalhar o medo nos espectadores incautos ou com dificuldades de adaptação à "normalidade" da vida. Uma experiência sempre desafiante, sem dúvida.

Imagem: fotografia da secção de brinquedos dum qualquer supermercado ao pé de si

Sobre palhaços...

por José Mendonça da Cruz, em 09.11.22

... uma coisa de nada, hoje, no Observador, escrita em curto e grosso. Talvez exageradamente, mas quando o excesso mete nojo escrever curto e grosso alivia.

Toda a verdade sobre o PC segundo a Sic

por José Mendonça da Cruz, em 06.11.22

A Sic acaba de informar numa peça sobre Jerónimo de Sousa que o PC iniciou em 2005 «um ciclo de vitórias eleitorais», o qual «culminou em 2015 com a aproximação ao PS».

Eu repito: a Sic acaba de informar numa peça sobre Jerónimo de Sousa que o PC iniciou em 2005 «um ciclo de vitórias eleitorais», o qual «culminou em 2015 com a aproximação ao PS».

De onde sai confirmada a fiabilidade da informação da Sic.

Domingo

por João Távora, em 06.11.22

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?». Disse-lhes Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».

Palavra da salvação.

A academia

por henrique pereira dos santos, em 04.11.22

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Por acaso, nesse dia, a essa hora, não posso ir assistir, mas como o assunto me interessa, naturalmente fui procurar saber mais informação, nomeadamente sobre esta investigadora que falará sobre "Paisagens em ruínas e a monocultura do eucalipto".

Trata-se de uma investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, antropóloga, com trabalho que se relaciona com os seus "interesses de pesquisa Etnologia Indígena, os estudos ameríndios (principalmente Tupi), pessoa, parentesco e género, experiência vivida e suas historicidades", mas que também desde "2012 desenvolve pesquisa entre os Fataluku em Timor-Leste (região de Lautem), sobre reconfigurações das territorialidades e historicidade".

Resumindo, "A diversidade de formas de associação à terra e paisagem são os temas que cruzam as suas várias investigações, atualmente incorporando a crise climática como condição da contemporaneidade e a revitalização de paisagens arruinadas pela monocultura de ´árvores conectando modos indígenas de lidar com a terra no Brasil e em Timor-Leste com situações em Portugal".

Confesso que fiquei ainda mais desapontado por não poder ir assistir a esta "conferência de abertura do ano letivo do Departamento de Antropologia do @ISCTEIUL" porque tenho a absoluta certeza de que experiência dos Tupi e dos Fataluku trará perspectivas inovadoras e interessantes para a discussão da evolução da paisagem em Portugal e, especificamente, contribuirá, de forma sólida e informada, para a discussão sobre o eucalipto em Portugal.

Para evitar mal entendidos, informo eventuais leitores brasileiros deste blog que o título deste post não é sobre ginásios  e outras actividades de lazer, é mesmo sobre o ecossistema académico em Portugal.

Pormenores desinteressantes

por henrique pereira dos santos, em 04.11.22

Carla Castelo foi jornalista de ambiente da SIC durante anos e, por isso, cruzámo-nos várias vezes.

Sempre gostei da seriedade do seu trabalho de jornalista, independentemente dos quilómetros que nos separam ideologicamente, e tenho a ideia de que a sua integridade é à prova de bala (nem por mim ponho as mãos no fogo, mas é a opinião que tenho hoje, com a informação que conheço).

A Carla saiu da SIC, fez um movimento de cidadãos que procurou que fosse o mais abrangente possível, perguntou a vários partidos se quereriam apoiar uma candidatura independente, verde e focada na transparência, em Oeiras (sei que falou com partidos do Bloco à Iniciativa Liberal) e candidatou-se à Câmara de Oeiras, numa coligação com peso razoável de indepentes, "Evoluir Oeiras" (como se demonstra por este nome, não é o facto de uma pessoa trabalhar em comunicação que dá garantias de fazer boas opções de comunicação), que foi apoiada pelo BE, pelo Livre e pelo Volt.

Desde então faz uma oposição radical a Isaltino Morais, evidentemente limitada pelo facto de Isaltino ter oito veradores e ter cativado os dois vereadores apoiados pelo PS e pelo PSD (um cada um) para alinharem numa oposição fofinha, isolando Carla Castelo.

Como toda a gente sabe, Isaltino não é meigo com quem se lhe opõe e, de maneira geral, não é conhecido pelo respeito que tem pelos outros, usando qualquer meio que em qualquer altura ache adequado para diminuir quem quer que seja que se lhe oponha.

Por isso, inventou uma parvoíce que consiste em identificar, de forma sistemática, Carla Castelo como vereadora do BE (para se ter uma noção, nas eleições de 2017, ano em que o BE até nem teve maus resultados nas autárquicas, o BE teve metade dos votos que a Carla teve, num ano de péssimos resultados para o BE, como 2021), não apenas nas suas intervenções (o que sendo parvo, está dentro da grande gama da legitimidade), mas institucionalmente e instruindo os serviços para a identificarem como tal, em todas as circunstâncias em que é identificada oficialmente.

Claro que com uma administração pública digna desse nome os serviços mandariam o Isaltino dar uma curva e identificariam apropriadamente Carla Castelo como aquilo que é, vereadora eleita pela coligação Evoluir Oeiras, mas como isso não acontece, Carla Castelo, depois de esgotados todos os meios normais e razoáveis de que dispunha para levar os serviços a identificá-la correctamente, resolveu agir legalmente, pondo uma acção por causa desta questão que, essencialmente, é uma questão de lana caprina.

Eu tenho dúvidas de que levar a sério este tipo de parvoíces de Isaltino de Morais, seja a melhor maneira de aumentar a votação de Carla Castelo nas próximas autárquicas e ganhar influência política, e tenho ainda mais dúvidas de que a forma de tratar o assunto legalmente - a defesa do direito à identidade pessoal - faça muito sentido.

Mas no meio de toda essa irrelevância, há um aspecto que é relevante: a facilidade com que Isaltino abusa do seu poder para pôr os serviços da câmara de Oeiras a achincalhar uma vereadora eleita, com base numa parvoíce sem interesse nenhum.

E abusos de poder é uma das coisas que me tiram mesmo do sério, especialmente quando se manifestam em coisas tão pequeninas como esta.

Louçã, o institucionalista

por henrique pereira dos santos, em 03.11.22

Louçã terá escrito no Expresso (eu li na sua página do Facebook): "a Justiça brasileira anulou o processo, o que significa que Lula é inocente – o tribunal só determina culpabilidade com condenação, lembram-se do princípio do Direito?".

As coisas não são bem como diz Louçã (que surpresa!) porque na verdade o Supremo Tribunal Federal anulou o julgamento anterior por incompetência do tribunal e por parcialidade do juiz, mas mandou recomeçar o julgamento noutro tribunal.

O outro tribunal limitou-se a constatar que tinha tudo prescrito, e portanto mandou arquivar tudo.

Mas não é a discussão dos factos que aqui me interessa, é mesmo a posição radicalmente institucionalista de Francisco Louçã: se a justiça anulou o processo, o acusado é inocente.

É, penso eu, por esta razão que Louçã nunca acusaria Estaline de ser responsável pelo assassinato de Trotsky: como todos sabemos, nunca um tribunal condenou Estaline, logo Estaline é inocente.

O telefonema

por henrique pereira dos santos, em 01.11.22

Ouvi Clara de Sousa afirmar, sem margem para dúvidas, que Bolsonaro era o primeiro candidato derrotado que não telefonava ao vencedor para lhe dar os parabéns, disseram-me que Paulo Portas disse exactamente o mesmo (presumindo de Portas nunca diria tal sem ter verificado se era assim) e o telefonema, ou a falta dele, parece um assunto de primeira importância.

Para mim é claro que num país em que a evidente grosseria do Primeiro-Ministro no parlamento passa quase sem censura social, ao ponto de que eu nem saberia da resposta, adequada, de Rui Rocha se não fosse uma referência de José Manuel Fernandes, a questão central da falta do telefonema de Bolsonaro dificilmente seria a sua boa educação.

A boa ou má educação dos políticos não me é indiferente, prefiro pessoas de boas maneiras a carroceiros, mas não é uma questão central, portanto este post não é sobre isso mas sobre duplicidade de critérios.

A verdade é que Haddad, nas últimas eleições presidenciais do Brasil antes destas, já tinha feito exactamente o mesmo, não tinha telefonado a Bolsonaro, dizendo-se que "Bolsonaro não tratou Haddad com civilidade durante a campanha e, por isso, não merece o gesto de diálogo".

A diferença de tratamento dos dois casos é a única coisa politicamente relevante.

Do mesmo modo, por exemplo, as gigantescas manifestações anti-Trump, imediatamente após a sua tomada de posse, são meras manifestações democráticas, mas eventuais acções anti-qualquer presidente recém-eleito que tenha o favor da imprensa, são manifestações de falta de democraticidade.

Pela parte que me toca, acho uma questão menor se os adversários políticos se tratam civilizadamente ou não (repito, prefiro pessoas civilizadas) mas a dualidade de critérios dominante no espaço público não é uma questão menor, é mesmo um problema sério das nossas democracias.

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