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O Presidente da República informa que vai sugerir à Assembleia da República que reveja a lei das incompatibilidades, após o mau estar sentido pelos socialistas devido às repetidas violações do mesmo diploma legal.

Visto que o PS tem maioria absioluta na AR, o Senhor Presidente da República está, na realidade, a aconselhar o PS a livrar-se das leis que lhe tolham as «liberdades».

A comovente seriedade de Costa Silva

por José Mendonça da Cruz, em 11.10.22

O ministro da Economia queria uma baixa transversal do IRC (isso que o PS assinou de palavra de honra e depois renegou com palavra de socialista), como forma de dinamizar a atividade empresarial e fazer do país um local mais atraente para o investimento estrangeiro. Foi repreendido.

Hoje, o ministro da Economia veio dizer que as empresas são a base da riqueza e do emprego, e têm que ser apoiadas ou deixadas em paz.

Embora tenha feito um plano «de resiliência» em cima do joelho a pedido do seu amigo Costa e segundo as conveniências dele, o ministro da Economia, Costa Silva, tem esta qualidade sadia e comovente, porém iludida, de estar convencido de que faz parte de um governo de gente séria, de gente preocupada como o progresso e enriquecimento do país.

Alguém vai ter que explicar ao Sr. ministro da Economia que o PS, e o seu amigo Costa, não querem nada com essas manias neoliberais e capitalistas (fassistas, mesmo), que em última análise deixariam milhões livres da dependência (e do credo, e do saque) dos socialistas.

O orçamento de Estado e eu

por henrique pereira dos santos, em 11.10.22

Houve um tempo em que me interessava pelo Orçamento do Estado, lia-o, nos sectores que me interessavam, avaliava políticas a partir desse documento, e coisas assim.

Depois fui percebendo que o governo era muito menos importante na vida das pessoas do que me parecia.

Mais tarde, ainda antes de uma deputada se dizer enganada pelo PS no que ao Orçamento do Estado dizia respeito (o que não a impediu de continuar a votar favoravelmente os orçamentos seguintes), percebi que não valia muito a pena perder demasiado tempo com o assunto.

Do lado da despesa, percebi que o facto de uma despesa existir no Orçamento do Estado não significava que quem tinha a responsabilidade da execução a poderia usar, pelo contrário, era muitas vezes precisa mais uma autorização qualquer, quando não mesmo um processo complexo de criação de regras, regrinhas, portarias, despachos, etc..

Lembro-me, aliás, de uma conversa com o então Ministro do Ambiente, sobre os projectos de conservação da natureza a financiar pelo Fundo Ambiental, em que eu tentava argumentar que não fazia nenhum sentido ter projectos anuais, em vez de projectos a cinco anos (ou, pelo menos, a três anos), dando exemplos concretos e dizendo que bastaria olhar para os ciclos anuais da vegetação para se perceber como era pouco eficiente apoiar projectos de conservação com despesas a ter de ser executadas apenas num ano civil.

Respondeu-me o Senhor Ministro que tinha duas hipóteses: escolher a ineficiência de ter projectos só nesse ano, em que a autorização de despesa apenas dependia dele, ou optar por projectos plurianuais, bastante mais racionais, mas que passavam a estar dependentes do ministro das finanças, que com certeza apenas aprovaria a despesa a 30 de Dezembro do ano a que diziam respeito.

Portanto, do lado da despesa, o Orçamento do Estado não dá garantias  nenhumas.

Do lado da receita, o Orçamento do Estado depende de uns pressupostos macroeconómicos que ninguém é capaz de saber antecipadamente se se verificam ou não, de maneira que não vale muito a pena perder tempo em minudências, aquilo é para ser visto em grandes números.

Acresce que o Orçamento do Estado é, crescentemente, feito como os livros de charadas e enigmas, num tricotado de medidas e contra-medidas, que ninguém consegue perceber mesmo o que está em causa.

De maneira que desliguei do assunto, fico sempre espantado com a energia e esforço que os jornalistas põem na análise de um documento que sabem perfeitamente que não é para levar a sério, na esmagadora maioria das coisas que tem escritas.

Bastaria o facto, que ouvi hoje assinalado por Helena Matos, de se considerar diminuições de impostos como apoios às empresas e famílias, para se perceber como quase tudo o que diz respeito ao Orçamento de Estado não passa de um jogo de sombras.

Os impostos são a parte do meu rendimento que entrego ao Estado, isto é, quando diminuem, quer dizer que me tiram menos do meu rendimento do que tiraram antes, não é um apoio que o Estado (há quem diga, o governo) me dá, pelo contrário, eu é que estou a diminuir o apoio que dou (contra a minha vontade) ao Estado.

Os blogs estão mortos, tal como está Deus. Não há nada inerentemente mau neste princípio, só dele decorre o terror da responsabilidade individual. Durante a massa da história registada, Deus serviu o propósito de enquadramento das acções humanas. O Bem e o Mal, portanto, mesmo quando a divisória que os acantona acaba escondida pela espuma das marés dos tempos. Deus morreu quando deixou de exercer influência na definição do certo e do errado — independentemente das pessoas com fé que aderem a diferentes igrejas, é nas sociedades seculares que encontram a bússola comportamental do seu Bem e Mal. Em suma, os comportamentos são moldados por medo de condenação a pena de prisão e não por condenação à danação eterna. (...)

A ler na integra a crónica do Vitor Cunha aqui (se tiver mesmo gosto e o consolar que venha almoçar connosco para a semana) 

Domingo

por João Távora, em 09.10.22

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».

Palavra da salvação.

Para quando a liberdade?

por João Távora, em 07.10.22

A sistemática expulsão das ordens religiosas, banidas pela ditadura de Pombal e depois pela revolução dos alegados “liberais” do século XIX, é a grande causa do nosso atraso cultural e educacional — isto tem tanto de tabu como de verdadeiro; aliás, só os factos podem ser tabus. As instituições religiosas eram os grandes instrumentos de literacia; ao expulsá-las, os regimes alegadamente progressistas empurraram Portugal para um analfabetismo que perdurou até final do século XX. De resto, não é por acaso que o norte era mais alfabetizado na segunda metade do século XIX. A religião, ao contrário do que diziam liberais e republicanos, era um fator de avanço das letras. Após o completo fracasso de liberais e republicanos, só durante o Estado Novo é que os portugueses tiveram acesso a uma alfabetização total — outro tabu.

Os progressistas criaram analfabetismo, porque não aceitavam o pluralismo, não aceitavam a ideia de que diversas instituições podem e devem ensinar as crianças, ou seja, impuseram a ideia de que só o Estado central pode tutelar os alunos. Portanto, os nossos progressistas são os grandes impulsionadores da ideia de que Lisboa tem de tutelar e controlar todos os passos e peças do país numa espécie de vigilância ideológica. O resultado foi este: entre uma população analfabeta mas afastada dos padres e uma população alfabetizada e próxima de outros poderes como o clero, os nossos progressistas preferiram a primeira hipótese. E sabem o que é ainda mais impressionante? Após dois séculos de fracasso do “progresso” e do consequente centralismo lisboeta, nada mudou, está tudo igual. Para começar, o Governo da ‘geringonça’ fez, no fundo, a sua pequena expulsão das ordens religiosas através da proibição dos colégios com contratos de associação. Para terminar, a vida portuguesa continua a ser marcado por um absurdo modelo de gestão escolar que só faz sentido na cabeça de um burocrata comunista — falha por completo, mas, ora essa!, falhamos todos juntos. (...)

Henrique Raposo no Expresso para ler na integra aqui

A injustiça é intuitiva, a justiça nem por isso

por henrique pereira dos santos, em 06.10.22

Em Abril deste ano fiz um post em que aflorava o absurdo da obrigatoriedade de denúncias de crimes.

Hoje, para minha surpresa dada a qualidade intelectual dos dois citados no parágrafo abaixo, leio numa crónica de João Miguel Tavares a ideia, errada, de que o facto de um crime ser público, tem alguma relação com a obrigatoriedade da denúncia para quem dele tenha conhecimento.

""Ainda hoje, oficialmente, o crime de abuso não é um crime público, portanto não há obrigatoriedade de denúncia". O espantoso nisto é que não é apenas uma redonda mentira - o abuso sexual de menores é um crime público, como é óbvio - mas aquilo que que essa mentira sinaliza. Um bispo português em 2022 [D. Manuel Linda], ..., desconhece o bê-á-bá do abuso sexual de menores".

O facto de um crime ser público não cria nenhuma obrigação legal (a obrigação moral existe de forma completamente independente do que diga a lei) de denúncia, apenas abre a oportunidade para que qualquer pessoa faça a denúncia, mesmo não tendo qualquer ligação com a situação.

"Os crimes de natureza pública podem e devem ser denunciados por qualquer pessoa que deles tenha conhecimento, bastando para tal a mera suspeita, não sendo necessário juntar provas. Apenas é necessário transmitir o maior número de informações de que se dispõe sobre a situação (nomes, moradas, locais, escola/turma da vítima, etc.)."

"A denúncia é obrigatória para as entidades policiais quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento e para os funcionários quanto a crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e por causa delas".

A denúncia é ainda obrigatória para qualquer pessoa que tenha conhecimento de situações que ponham em risco a vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade de uma criança ou jovem com menos de 18 anos."

João Miguel Tavares, em rigor, não afirma que existe qualquer dever legal de denunciar crimes, omite que o erro de D. Manuel Linda é fazer a ligação entre o crime ser público e haver o dever de denúncia - sim, é grave que nesta altura dos acontecimentos demonstre uma tão grande ignorância sobre a questão - porque se centra na ideia de que o argumento que está a ser usado por D. Manuel Linda - ""Confrontem-se com outros sectores da sociedade", desafiou o Bispo do Porto. ... E valorizemos a resposta favorita de vários bispos: a pedofilia é um mal generalizado [diz João Miguel Tavares, estou a tentar ser sucinto nas transcrições para ver se isto não fica excessivamente comprido]" - é um argumento inaceitável.

A chave para perceber a sanha de João Miguel Tavares é o fim da sua crónica: ""Um só caso é monstruoso". O monstro não precisa de tantos amigos".

Vou esquecer o facto de João Miguel Tavares deturpar grosseiramente a citação do Papa Francisco: dizer que um só caso é monstruoso não permite a ninguém dizer que Francisco disse que um criminoso é um monstro, uma afirmação que seria estranhíssima no chefe de uma igreja que tem séculos de pedagogia e esforço (nem sempre conseguido, sequer, dentro da igreja) no sentido de condenar, sem concessões, o pecado, mas não deixar, nunca, de perdoar os pecadores, no pressuposto de que se arrependem, vão, e não tornam a pecar (por maiores que sejam os pecados).

Implícita neste fim desta crónica, está a ideia profundamente reaccionária (o Chega, em Portugal, é o campeão da defesa desta ideia, mas todas as ditaduras a usam) de que o castigo por um crime é uma vingança a que a sociedade (ou as vítimas, como se queira) têm direito.

E explícita em toda a crónica está a ideia de que esta atitude de D. Manuel Linda, e de muita gente na Igreja, tenha como pressuposto a ideia de que há "mais preocupação em proteger a honorabilidade da Igreja do que a saúde das suas vítimas".

É um processo de intenções que João Miguel Tavares faz, e que não tenciono discutir, parecendo-me que tem como fundamento um pressuposto que, esse sim, acho que vale a pena discutir, por ser muito mais geral que a da discussão dos abusos sexuais de menores, dentro da Igreja Católica: o de que é perseguindo impiedosamente os criminosos do passado, que se protege a saúde das vítimas.

Curiosamente não é isso que se encontra na literatura científica sobre o assunto (pode ler-se aqui um exemplo, mas há dezenas de referências sobre o assunto).

O que se verifica na literatura é que:

1) O abuso sexual de crianças é de facto transversal e não há estudos que demonstrem uma maior prevalência do problema na Igreja Católica que no resto da sociedade (note-se que a informação da prevalência deste problema nas organizações tem elevada incerteza porque diz respeito a comportamentos que, por definição, são obscuros). Isto é um facto e a mera enunciação deste facto, pelo menos no meu caso, não traduz qualquer valorização moral do assunto, nem permite retirar conclusões normativas sobre o que se deve fazer sobre este assunto;

2) A prevenção desses abusos diz respeito processos complexos de selecção das pessoas que contactam frequentemente com crianças e jovens e à definição de regras de conduta institucional, mais que no castigo dos abusadores (que deve existir, mas sabendo que não é pela dureza das penas dos crimes, sejam eles quais forem, que se previnem crimes). Em parte estes processos são complexos porque os contextos em que o problema ocorre mais facilmente são contextos em que existem relações de confiança entre abusadores e abusados, longamente estabelecidos, podendo demorar-se anos a tornar pública a natureza predatória de um abusador, sendo a prova muito difícil de estabelecer, não sendo por isso surpresa a conclusão do estudo citado acima "Institutions and professionals failed in their duty of care by not taking any action at all, or responding slowly in ways that did not prevent CSA". O que há de mais importante a discutir, na Igreja Católica, nos escuteiros, nas organizações desportivas, nos ATL, etc., é se estas medidas institucionais, para a prevenção futura de crimes, existem e se há fortalecimento de uma cultura de alerta que permita a detecção precoce de comportamentos abusivos;

3) A questão central diz respeito à prevenção de futuros crimes, e não o que se chama "reparação das vítimas", que é um processo muito mais do domínio da psicologia que do sistema legal (independentemente do facto do reconhecimento dos erros por parte das instituições, seguida da definição das decisões tomadas para evitar a sua repetição no futuro, poder fazer parte dessa "reparação das vítimas").

Sabendo isto, é natural que muita gente na Igreja sinta a injustiça da forma como tem sido tratado o assunto na sociedade e, como a injustiça é uma coisa que doi, tente reagir da forma como sabe para reparar o que sente como injusto.

Também acho natural que um católico se sinta ultrajado (nunca pensei usar esta palavra, mas agora serve bem neste contexto) porque a sua Igreja, que ardentemente espera que seja perfeita, tenha os erros os vícios de todas as instituições humanas e reaja em conformidade (como me parece ser o caso desta crónica de João Miguel Tavares).

Talvez por eu ser agnóstico, e não ter da Igreja Católica, nem de nenhuma organização, a ideia de que está moralmente acima do que é possível uma instituição humana estar do padrão moral da sociedade, o que me incomoda mais em tudo isto seja mesmo a incapacidade de muitos dos intervenientes nesta discussão (só não me incluo porque é muito raro eu ser interveniente nesta discussão), compreender o sentimento de injustiça de terceiros.

Quer das vítimas dos crimes, claro, mas também dos que sofrem na pele a injustiça de estarem a ser permanentemente acusados de crimes que não cometeram, sobre os quais não têm responsabilidade e que nunca tiveram os meios para impedir que ocorressem, ou não tinham consciência da fragilidade dos meios que usaram perante problemas que avaliaram mal, mas sem maldade.

Há doze anos

por João-Afonso Machado, em 05.10.22

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Talvez não fossemos tantos como os que agora se abrigam debaixo do barraco posto na Câmara Municipal de Lisboa. Mas o Governo é opulento em ministros e secretários de Estado; as Forças Armadas têm mais altos cargos do que propriamente militares; os autarcas são às dúzias; o Corpo Diplomático vasto; os "convidados" mais que muitos; e a Banda da GNR, toda ela, também se acolhe sob o dito barraco. A "ética republicana" tem um protocolo que não deixa comilão algum de fora.

Em Lisboa, a comemorar a República, só faltam mesmo os populares. Excepção feita a uma manifestação de protesto de professores, ludibriada por um ministro que deu a volta por trás e os evitou.

Em 2010, na nossa Guimarães, não houve entidades oficiais. Houve povo que espontaneamente se juntou e percorreu a cidade par a par com SS. AA. RR os Duques de Bragança. Comemorando o 5 de Outubro de 1143, o nascimento de Portugal.

No Largo da Oliveira, o aglomerado de gentes tornou-se maior.

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Era uma manifestação apartidária contra o Governo de Sócrates. O caixão que os manifestantes traziam dizia tudo do 5 de Outubro republicano.

Se forem à televisão agora, constatarão o triste espectáculo que referi. Comentado por repórteres capazes das maiores enormidades históricas.

Temos aquilo que merecemos

por João Távora, em 05.10.22

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Passados cento e doze anos sobre a revolução republicana constatamos com mágoa e angustia que de nada valeu o sangue derramado pelo Rei D. Carlos e pelo seu filho Luís Filipe, de nada valeram os golpes e brutalidades que se lhe seguiram, os despotismos, a repressão, os regimes mais ou menos ortopédicos e suas vítimas silenciadas. Acontece que um País não se resgata através da destruição dos seus símbolos e instituições, muito menos pela instigação ao ódio. Esse legado é execrável, e ainda hoje pesa nas nossas costas e reflecte-se na disputa política - demasiada gente rejubila com a nossa desgraça, não percebem que a civilização é um processo lento ancorado na continuidade. Assim chegamos nas lonas a 2022, pobres, com as instituições democráticas débeis e os símbolos nacionais de rastos.

Amanhã, 5 de Outubro

por João Távora, em 04.10.22

A par de alguma coisa que interessa a muito pouca gente, manhã celebra-se a fundação de Portugal pelo tratado de Zamora assinado a 5 de Outubro de 1143. Uma Alternativa ao largo do Município.  

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O Público e a desinformação

por henrique pereira dos santos, em 03.10.22

Não há muito tempo, tive uma troca de mails com Manuel Carvalho, director do Público, e penso não estar a fazer nenhuma inconfidência, nem a divulgar conversas privadas, se disser que Manuel Carvalho ficou indignado com o facto de eu ter escrito que o Público, a propósito dos fogos, espalhava muita desinformação.

Diga-se que eu percebo a reacção de Manuel Carvalho, nenhum director de jornal gostará de ouvir que o seu jornal espalha desinformação, só que estou mesmo convencido de que um dos problemas do jornalismo está no facto de serem dos últimos agentes económicos que se ofendem com as críticas, não reconhecendo o papel essencial que a crítica dos consumidores pode desempenhar na melhoria do desempenho.

Vou ilustrar com uma notícia do Público, já com alguns dias, sobre um assunto de que sei pouco.

"Rendas aumentaram mais de 40% em cinco anos", era o titulo da notícia, que me pôs logo de pé atrás.

Rapidamente verifiquei que era uma notícia sobre os relatórios do INE sobre "novos" contratos. O INE tem sempre o cuidado de falar de "novos contratos", explicitamente, e por boas razões: a percentagem de novos contratos no mercado de arrendamento, em Portugal, é muito baixo (e regem-se por regras diferentes das que se aplicam aos contratos mais antigos), logo não se podem extrapolar os aumentos nos novos contratos para o conjunto mais abrangente referido no título da notícia "Rendas", que diz respeito a todos os arrendamentos.

Ou seja, o título a disseminar desinformação.

No texto da notícia vai-se intercalando a referência correcta ao objecto da notícia os "novos contratos", com extrapolações completamente abusivas "a renda mediana em Portugal atingiu os 6,55 euros por metro quadrado, uma subida de 8,6% em relação a igual período do ano passado".

Pura desinformação, este valor atira a renda mediana de uma casa de 50 metros quadrados para 327,5 euros mensais (655, para uma casa de 100 metros quadrados) , mas basta consultar os dados provisórios dos censos de 2021 para se ficar a saber que das pouco mais de 923 mil casas arrendadas, pouco mais de 650 mil (cerca de 70%), têm rendas abaixo de 400 euros.

Confesso que verdadeiramente o que me fez ir olhar para os números foi esta frase extraordinária: "Este aumento acelerado das rendas acontece apesar da retracção da procura". O que o jornal escreve é que o número de novos contratos celebrados  diminuiu, mas como não acreditei que a jornalista estivesse a confundir número de contratos celebrados com procura, achei por bem ir à procura de qualquer coisa que pudesse indiciar uma diminuição da procura.

Fui obrigado a render-me à evidência de que nem escrevendo uma frase tão extraordinária como "os preços aumentaram apesar da diminuição da procura", a jornalista tenha reparado que a celebração de contratos não traduz apenas a procura, mas sim o ponto de encontro entre a procura e a oferta, isto é, os preços sobem ou porque a procura aumenta, ou porque a oferta diminui ou as duas coisas ao mesmo tempo, agora subirem com diminuição da procura, não sendo uma impossibilidade (não existem mercados perfeitos), é seguramente uma raridade.

E existem dezenas de indícios na evolução dos números da habitação, nomeadamente nos que dizem respeito ao arrendamento, de que Portugal está com um problema sério de oferta habitacional e, dentro desta, de oferta para arrendamento, matéria que os jornais raramente tratam com um mínimo de rigor.

Infelizmente o que confirmei, agora num assunto que não domino, é mesmo que o Público, como a generalidade do jornalismo, anda mesmo a espalhar desinformação, ao mesmo tempo de se multiplica em fact check's e coisas afins, sobre afirmações de terceiros.

Por mim, dois conselhos simples, um empresarial, outro sobre a natureza do jornalismo.

1) Senhores jornalistas, deixem de se amofinar com as críticas dos vossos leitores, não só porque tendo poucos clientes é um bocado estúpido alienar os poucos que ainda têm, como sobretudo porque as críticas são o mais poderoso e barato instrumento de melhoria do desempenho;

2) Senhores jornalistas, acabem lá dos fact checkers e polígrafos e vejam se aplicam isso internamente, às notícias que fazem todos os dias.

Eu sei que se os conselhos valessem de alguma coisa, eram vendidos, não eram dados.

Brasil e o «jornalismo» falsário -- as feridas à mostra

por José Mendonça da Cruz, em 03.10.22

Mais confrangedor que o trabalho enviesado, passional, desonesto das televisões portuguesas sobre as eleições no Brasil, é ver agora os «jornalistas» e os «repórteres» (que não perceberam nada, exceto as suas ilusões e vontades) agora às 00,13 perante os resultados, com 76% das secções apuradas, de Bolsonarro 45%, Lula 45%, a «justificarem» o cenário «surpreendente». (E ganem os pobres: «Lula à frente». Sim 0,7%). 

Os campeões da virtude

por henrique pereira dos santos, em 02.10.22

O post parte de um programa de rádio concreto, com pessoas concretas, mas na verdade diz respeito ao ar do tempo, não apenas às pessoas e circunstâncias concretas que lhe servem de base.

"foi o seu patriarcado que deu guarida a um criminoso internacional ... que aliás fugiu ... tudo leva a crer que aqui há fumo, e também há fogo" diz Susana Peralta, no seu estilo Chega de falar de terceiros, quando estes são acusados do que Susana Peralta entende ser inadmissível.

Não vou fazer o post sobre a forma como o assunto Ximenes Belo foi tratado neste programa, nem mesmo em relação ao paralelismo feito em relação à forma como a sociedade reagiu ao caso Casa Pia, mas não queria de deixar de realçar o reaccionarismo do que citei.

Saltemos por cima do facto de não ter havido qualquer tribunal a determinar se fulano ou sicrano é criminoso, até porque no caso de Ximenes Belo parece haver indícios mais que suficientes para, independentemente de se poder determinar juridicamente o que realmente se passou, se partir do princípio de que se passaram coisas graves e inadmissíveis, que provavelmente são crime (que, se provadas em tribunal, transformarão Ximenes Belo num criminoso).

O que me interessa é fazer notar que Susana Peralta entende que os criminosos devem ser ostracizados e castigados, são pessoas a quem não se pode dar guarida, e não podem recuperados para a sociedade porque os seus crimes são horrorosos.

É essa opção que é profundamente reaccionária.

Digamos que Susana Peralta - e grande parte da sociedade woke que reage aos crimes sexuais de forma totalmente diferente da forma como reage aos restantes crimes, isto é, um criminoso que mata um banqueiro num assalto tem direito a muitas explicações sociológicas sobre como a sociedade produziu este criminoso, mas isso não se aplica aos criminosos sexuais - está do lado dos lapidadores da mulher adúltera, rejeitando o "vai, e não tornes a pecar".

E esta é a primeira nota sobre os campeões da virtude: repetem o velhíssimo princípio de que o sistema penal serve para castigar o criminoso pelo que fez no passado, rejeitando os modernos princípios, filhos do iluminismo, de que o castigo inerente ao sistema prisional visa a futura reintegração do criminoso na sociedade, para além da prevenção de crimes futuros.

Desse ponto de vista, portanto, Susana Peralta, e grande parte da sociedade woke, parecem o Chega, que também está convencido que é com repressão, aumentos de penas e etc., que se resolvem os problemas sociais complexos associados ao facto da natureza humana ser ela, em si, imensamente diversa.

Como pegar neste exemplo nos leva demasiado depressa para campos diferentes do que me interessa, fiquemo-nos pelo que nesse programa se disse sobre Paula Amorim (mesmo esquecendo a tolice, anterior ao programa, de se defender que um imposto sucessório leonino era bom para dar a Paula Amorim um bocadinho de noção, como se o objectivo dos impostos fosse a correcção moral dos cidadãos e não o financiamento do Estado).

"ela diz com orgulho, eu deixei a escola, para quê ir para a universidade, para quê estudar ... isto é bem o retrato do que são as elites portuguesas ... ela está a dar um sinal de desvalorização total da escola ... ela seria certamente uma pessoa bem mais capaz hoje ... teria outro mundo e outra sofisticação se tivesse ido para Universidade".

Paroquialismo das elites portuguesas, diz Jorge Fernandes.

É extraordinário como a academia portuguesa é paroquial, na defesa de que ir para universidade é, em si, garantia de ser mais capaz e melhor, mais sofisticado, com mais mundo.

Bill Gates (microsoft), Mark Zuckerberg (facebook), Larry Page (google), Jack Dorsey (twitter), Henry Ford, Thomas Edison, John Rockfeller, Bob Dylan e muitos, muitos outros das elites de muitos países, também escolheram abandonar a escola.

Pelo contrário, há milhões de outras pessoas, alguns académicos encartados com doutoramentos e os mais altos graus da academia, que não valem um caracol.

Sim, é verdade que nos grandes números a escola é útil e é bom que a maior parte das pessoas frequentem a escola, mesmo que todos saibamos que seria um desperdício de talento esperar que Ronaldo acabasse um curso universitário para se poder dedicar a jogar futebol a sério.

Agora, dizer que frequenter a madrassa socialista a que dão a alcunha de sociologia do ISCTE (só para dar um exemplo), ou seguir o ensino de Boaventura Sousa Santos, torna alguém mais culto, com mais mundo, mais capaz, e etc., parece-me muito discutível.

Se se quiser criticar Paula Amorim, critique-se pelo que ela faz, agora fazer o barulho que vários académicos fizeram só porque ela escolheu, e disse que escolheu, não ir para a escola (o que é muito diferente de não estudar), isso, francamente, é a usual sinalização de virtude em que os moralistas de todos os tipos, tempos e mundos, sempre se basearam para se valorizar socialmente.

Concentrem-se em fazer melhores academias, meus caros académicos, e deixem os mexericos para as conversas com os amigos, porque como dizia alguém um dia destes, "se os meus filhos que conhecessem total e integralmente tudo o que fiz na vida, eu provavelmente morreria de vergonha".

Domingo

por João Távora, em 02.10.22

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’?. Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’.

Palavra da salvação.

O ambientalismo silencioso (parte cinco)

por henrique pereira dos santos, em 01.10.22

Os efeitos deste ambientalismo de manada em que as ideias são indiferentes aos factos tem implicações muito mais profundas e relevantes do que poderia parecer.

Um bom exemplo é o que se passa na outrora cautelosa burocracia europeia.

Ursula von der Leyen precisava de ter um pacto ecológica europeu nos primeiros cem dias da sua investidura como presidente da Comissão Europeia, sendo razoavelmente indiferente a eficácia do que lá está escrito, desde que ficasse claro o amor da Comissão Europeia pela questões ambientais que os movimentos sociais, leia-se, Greta Thundeberg e afins, conseguiam tornar visiveis.

Como boa burocracia que é a europeia, há sempre avaliações sobre o que foi feito antes e, em matéria de biodiversidade, as conclusões são as que são conhecidas: as metas tomadas em diversos momentos anteriores nunca foram alcançadas.

Para mim, um pobre homem da Póvoa, se repetidamente se vão estabelecendo objectivos que, nem de perto, nem de longe, são cumpridos, seria preciso avaliar os métodos usados, e tentar perceber e explicar as razões para os sucessivos desaires.

Para a burocracia europeia não é assim.

Os objectivos não são atingidos porque os Estados não fazem o que a Comissão acha imprescindível, portanto o que é preciso é reforçar os processos que não deram resultado, passando-os de voluntários para vinculativos, passando de metas mais ou menos indefinidas como "parar a perda de biodiversidade até 2010" (não escolhi inventar um objectivo, escolhi um objectivo concreto e formalmente assumido) para metas vinculativas e verificáveis como "ter 10% do território europeu sob protecção estrita em 2030" (mais uma vez, não estou a inventar hipóteses, é mesmo isto que está aprovado).

Qualquer pessoa com um mínimo dos mínimos de conhecimento sobre gestão da paisagem e gestão da biodiversidade sabe que ter 10% do território nacional sem intervenção humana (por mais voltas que se dêem para alargar o conceito de "sem intervenção humana" de maneira a que se possa dizer que é sem intervenção humana, mas se possa intervir) é, para além de uma impossibilidade prática, uma grossa asneira técnica.

O que não faltam são pessoas responsáveis, quer na administração, quer na academia, quer nos movimentos sociais, que reconhecem que de facto não faz sentido nenhum ter este objectivo, desde que seja em privado.

Sem surpresa, desde 2019, quando foi apresentado, até hoje, três anos depois, ainda não se passou das discussões semânticas sobre o que quer dizer "sem intervenção humana".

O reconhecimento é sempre feito em privado, no que escrevem e dizem publicamente, afastam-se do confronto dizendo que, independentemente do que cada um possa pensar, é uma política europeia aprovada por todos, portanto não faz sentido contestá-la, passando a dispender o seu tempo, como Sísifo, a carregar uma pedra que sabem que, antes de chegar ao destino, vai de novo rolar para o ponto de partida.

Em 2030, quando se fizer a avaliação de resultados, lá estaremos a discutir formas mais eficazes de impor o mesmo objectivo, com os mesmos métodos, porque é evidente que as medidas são positivas para a conservação, a realidade é que está errada.

A simples constatação de que modelos de intervenção pública como o de Greta Thundberg, simplistas, unidireccionais, assentes em histriónicos juízos morais, diabolizando a economia e as motivações das pessoas comuns, sem qualquer consideração pela complexidade da realidade, é arrumada para debaixo do tapete, tratando-a como uma mera reacção dos interesses contra a perda dos privilégios das classes dominantes que beneficiam do status quo que não aceitam alterar e nos está a conduzir ao abismo.

Mais que a pobreza material a que a irracionalidade dá origem, é mesmo a pobreza intelectual da discussão dentro do movimento ambientalista que me entristece ("a nossa casa está a arder", dizem eles): tanta gente com boas cabeças, com bons instrumentos de análise, com boas condições de trabalho, agachada atrás do sofá por ter medo dos anátemas a que se arriscam se se limitarem a dizer que talvez seja boa ideia baixar o tom da gritaria e olhar para a realidade com mais atenção e rigor.

Será assim tão difícil dizer que pretender ter 10% de Portugal sob protecção estrita não é só é estúpido em si mesmo, por não contribuir grande coisa para a conservação da biodiversidade, como é estúpido porque corresponde a gastar recursos a tentar materializar uma impossibilidade prática?

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