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O Brasil no chão

por João Távora, em 30.09.22

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Evidentemente que o problema do Brasil estará a montante do presidencialismo vigente, mas fico com a ideia de que o sistema não ajuda nada, antes pelo contrário. A somar a tudo isto, porque dois males nunca vêm sós, verifica-se que, por contingências que mereceriam outra análise mais profunda, a disputa presidencial se dá entre dois absolutos desqualificados institucionais: um esquerdista venal e outro boçal populista. Venha o diabo e escolha, ainda bem que não tenho de resolver o dilema.

Como em Portugal, no Brasil o Chefe de Estado também é um chefe de facção, que a cada eleição deixa uma significativa parte das comunidades nacionais órfã de representação, com a agravante de acumular a chefia do governo. Num sistema complexo como o brasileiro, um país descomunal, de frágeis instituições e precária homogeneidade geográfica étnica e cultural, persistentes índices de desigualdade e pobreza endémica, a democracia clama por uma figura agregadora e consensual. E não nos esqueçamos que foi a monarquia bragantina que vigorou por três gerações que criou esta potência mundial, a quinta maior democracia do mundo – o milagre brasileiro, eterna promessa.

Quem assistiu ao debate eleitoral de ontem não terá conseguido evitar um calafrio na espinha perante tanta despudorada alarvidade esgrimida. Sempre precária e tumultuosa, os testemunhos que nos chegam, é de que a democracia brasileira chega a 2022 com o país multifracturado, num clima insalubre de conflitualidade, que as eleições de domingo vêm exponenciar, arriscando-se acender o rastilho da violência ou da tirania. Isto tudo porque o povo brasileiro tem de escolher uma de duas figuras tóxicas e sectárias. Rezemos então a Deus que afinal é brasileiro, pois os tempos reclamam por um novo milagre.

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A sinalização de virtude a propósito da Universidade Católica

por henrique pereira dos santos, em 29.09.22

Tinha a intenção de fechar hoje a série sobre o movimento ambientalista, e depois faria um post sobre a reacção de sinalização de virtude a propósito da aplicação de regras de acesso a curso de medicina da Universidade Católica.

João Miguel Tavares, publicando hoje no Público uma crónica tão representativa dessa sinalização de virtude, acabou por me trocar as voltas e vou fazer primeiro este post, deixando o outro para outra altura.

No primeiro curso de medicina da Universidade Católica há um aluno que entrou no contingente de vagas supranumerárias, por ser descendente em linha recta de um benemérito insigne da Universidade.

Aqui d'El Rey, "é totalmente inaceitável numa instituição que beneficia do estatuto de universidade pública", escreve João Miguel Tavares e, acrescenta, "sobretudo, numa instituição que se assume orgulhosamente católica".

Note-se que o mesmo João Miguel Tavares responde a si mesmo "a Católica poderia sempre argumentar que queria ser uma Harvard portuguesa: o preço de aceitar os filhinhos de papás multimilionários traduzir-se-ia em rios de dinheiro para construir uma uma universidade de topo".

Descontando o habitual tom com que em Portugal se fala dos muito ricos, João Miguel Tavares explica bem o problema: para fazer boas universidades são precisos recursos e as melhores do mundo usam mecanismos de financiamento que, frequentemente, conduzem à introdução de regras cujo objectivo é cativar o interesse dos muito ricos em desviar parte dos seus recursos para essas universidade.

Portanto, e em primeiro lugar, esta é a questão: a captaçãode recursos para que seja possível ter melhores universidades (não vou perder tempo com o argumento de que incluir o filho da senhora da secretaria nos mesmos 3% de vagas supranumerárias é beneficiar a endogamia porque penso que o próprio João Miguel Tavares, quando lhe passar a indignação, reconhecerá que é um argumento completamente absurdo).

A sinalização de virtude assenta em dois ou três argumentos, uns falsos, outros grosseiramente pouco rigorosos e em muita omissão de informação.

Diz João Miguel Tavares que o candidato com 15,8 valores ultrapassou uma boa vintena de outros candidatos que existirão entre os 16,9 da seriação geral e esses 15,8. Sim, é verdade que se não fosse pelo mecanismo excepcional esse aluno de 15,8 não entraria no curso, mas nenhum dos outros o substituiria, ficariam todos de fora, na medida em que se trata de vagas supranumeárias, o seu não preenchimento não aumenta as vagas do contingente geral.

Ou seja, a ausência da regra apenas tinha uma consequência para os alunos: todos ficavam pior, haveria menos um aluno no curso, nada mais.

Mas João Miguel Tavares diz mais: "atribuem vantagens aos filhos e netos dos funcionários e patrocinadores da casa, independentemente dos seus méritos individuais".

O problema com esta afirmação é o de que é falsa, porque para que estes alunos possam entrar há critérios mínimos, que aliás se aplicam a todos os candidatos, nomeadamente uma média de 15 valores, ou seja, não basta ser o filho da senhora da secretaria ou o neto de um benemérito insigne - estatuto que é atribuído por um órgão colegial da universidade, não é uma decorrência directa do valor de uma determinada contribuição-, é preciso juntar a essa possibilidade de concorrer pelos 3% de vagas supranumerárias o mérito individual de ter, pelo menos, média de 15.

O maior erro de análise desta sinalização de virtude, parece-me, está no facto de se considerar que a seriação por nota traduz essencialmente o mérito individual dos candidatos, omitindo que o factor que, em Portugal, está mais correlacionado com as notas dos alunos, é a condição sócio-económica das famílias, esse sim, o verdadeiro escândalo do nosso sistema de ensino, em primeiro lugar, e do nosso sistema de acesso à universidade, em segundo lugar, em especial nos cursos com notas mais altas de ingresso.

João Miguel Tavares reconhece que injustiças sempre haverá, omitindo que a principal injustiça está na forma como o nosso sistema de ensino e de acesso ao ensino superior penaliza quem vem de famílias com menos recursos, para se concentrar no "descaramento desta injustiça em particular".

Depois de reconhecer que a generalização de regras deste tipo poderia resultar em melhores universidades (e, acrescento eu, em universidades mais inclusivas com base no mérito, porque liberta recursos para o apoio a alunos sem recursos para pagar os custos de frequência em universidades de topo), depois de reconhecer que injustiças sempre haverá, omitindo que estas regras se aplicam apenas a vagas supranumerárias, não afectando as entradas no contingente geral, omitindo que essas vagas só existem no máximo até 3% do contingente geral, e na medida em que existam candidatos que, simultaneamente, demonstrem que cumprem requisitos mínimos de nota e os critérios de acesso a esse contingente especial, afinal o escândalo é que esta injustiça é descarada.

E, sendo o respeitinho muito bonito, podemos esquecer o escândalo do nosso sistema de ensino produzir resultados em notas que se correlacionam com o estatuto económico das famílias e podemos esquecer o escândalo de este problema só existir por causa da cedência do Estado aos médicos instalados e à ordem dos médicos, porque esses são escândalos que não são descarados.

Se dúvidas houvesse sobre o que está em causa nas reacções de que a crónica de João Miguel Tavares é apenas um bom exemplo (há as habituais reacções jacobinas, trogloditas e infantis, eu escolhi comentar um texto que não é nada disso), a comparação final entre a venda de indulgências e o estabelecimento de regras deste tipo, desfaria qualquer dúvida: é apenas a sinalização de virtude que está em causa.

O problema real não é a católica ter regras destas, o problema é termos sempre a mania contestar regras eficazes para mobilizar recursos, do que resultam melhores soluções sociais, com o argumento de que há alguém em particular que é mais beneficiado que outros, sendo por isso preferível ficarmos todos pior a aceitar a realidade tal como ela é.

As formigas, Putin, Meloni e Portugal

por Jose Miguel Roque Martins, em 28.09.22

Quando observamos grupos de formigas á procura de comida, parece observarmos a atividade humana: um aparentemente caos, nem sempre bem sucedidos, produzindo resultados surpreendentemente bons.

Assim tem sido nos últimos séculos, em que formigueiros mais organizados vivem mais e melhor do que os outros.

Imagino que, também nos formigueiros, não se atinjam os melhores resultados, porque umas teimam em apostar em soluções erradas e que exista um algoritmo biológico que persiste numa inconformidade inconstante, umas vezes mais à esquerda, outras mais à  direita, umas vezes a procurar mais próximo, outras mais longe, porque nem sempre as respostas certas são as mesmas. Como diria Darwin, os formigueiros que não se adaptem acabam por se extinguir.

Nas sociedades humanas, as autocracias são exemplos próximos da falta de diversidade actuante que pode levar ao desastre. De um formigueiro ou até de todas as formigas, como a Rússia de hoje parece demonstrar. Quando o grupo maioritário de formigas, em certo momento, puxam para soluções novas, como acontece hoje em Itália, tanto pode ser mais uma experiência falhada, como tantas outras, como a correcção de exageros, que estão a produzir maus resultados.

Certo é que a bússola da maioria das formigas, de vez em quando, perde completamente o norte e precisa de afinações para sobreviver. É o que parece acontecer em tempos de crise profunda, provocada por imobilismos dogmáticos ou alterações da realidade não assimiladas e não corrigidas com o devido pragmatismo. Como parece ser o caso de Portugal há algumas décadas. 

Correndo bem, depois das crises, muito sofrimento e imensas falhas escusadas, os formigueiros têm continuado a prosperar. Será bom que assim continue.

ps: eu, como boa formiguinha, não tenho duvidas do caminho certo e espanto-me com as opções das outras. 

 

 

 

Deus, pátria e a família, sim!

por João Távora, em 28.09.22

"Obviamente, Meloni não é fascista. É uma conservadora e nacionalista, com algumas semelhanças com os conservadores britânicos. Ao contrário dos comunistas portugueses, na guerra da Ucrânia está ao lado de quem luta pela liberdade nacional e pela democracia, contra o imperialismo militar russo. Sim, defende “Deus, pátria e a família.” Mas isso não significa ser “fascista”. A esmagadora maioria dos Católicos, dos patriotas e daqueles que consideram a família como o elemento central das nossas sociedades não é fascista. (...) Aliás, vale a pena recordar uma data: 20 de Setembro de 2019, 80 anos depois do início da Segunda Guerra Mundial. No Parlamento Europeu, o grupo dos Conservadores, do qual o partido de Meloni faz parte, apresentou uma resolução a condenar os crimes dos totalitarismos comunista, fascista e nazi. Mais de 80% dos deputados europeus votaram a favor da resolução. No caso dos representantes portugueses, o PS, o PSD, o CDS e o PAN votaram a favor. O PCP e o Bloco votaram contra. Na questão política mais importante da história europeia do século XX, democracia vs totalitarismos, o PCP e o Bloco votaram ao lado dos totalitarismos, e o partido de Meloni votou ao lado das democracias." (...)

A ler João Marques de Almeida na integra aqui

 

"tem mais jogadores do que treinador"

por Jose Miguel Roque Martins, em 28.09.22

Foi com estas palavras que um colunista espanhol resumiu Portugal no jogo de  ontem com Espanha. Mesmo com melhor equipa, com a estrita ambição de atingir os mínimos olímpicos, Portugal falhou. Não foi um erro, é cultura enraizada, não apenas no futebol, mas nos medíocres objectivos de remendos  nacional. 

O ambientalismo silencioso (parte quatro)

por henrique pereira dos santos, em 28.09.22

Na prática, em que é que se traduz este ambientalismo de manada, em que discussão sobre a melhor forma de intervir sobre realidades complexas foi substituída pela fronteira moral que separa os "bons" dos "vendidos aos interesses"?

Uma história recente ilustra bem o resultado prático das opções que têm vindo a dominar o movimento ambientalista (que, volto sempre a insistir, é muito mais diverso do que se poderia supor a partir do que se ouve comummente por aí).

Depois dos fogos de 2017, houve umas quantas iniciativas para alterar estruturalmente as condições que estão na base desses fogos.

O Estado entreteve-se a tomar decisões administrativas, como proibir o aumento da área de eucalipto, ou a fazer planos e papéis afins, com especial destaque para os Planos de Transformação da Paisagem, uma matriosca de planos, operações, estratégias e as coisas do costume em que o Estado se entretém nestas situações. Cinco anos depois, nada disso tem qualquer tradução no terreno: nem a área de eucalipto alterou as suas tendências, nem há qualquer indício de que haja qualquer tendência diferente na evolução das paisagens.

Outros actores tomaram decisões filantrópicas, como a Jerónimo Martins, que resolveu apoiar um projecto de florestação em Arganil, e outras coisas que tais. Menos mal, há coisas a acontecer no terreno, é cedo para saber a sua sustentabilidade a prazo. Sempre são coisas melhores que as iniciativas desgarradas de plantações de árvores, sem associação a qualquer plano de gestão de longo prazo.

As celuloses, através da sua associação, a CELPA, entendeu empenhar-se na melhoria da gestão de áreas de produção de eucalipto, suponho que também apertada pela dificuldade em ter novas áreas de produção eficiente de eucalipto, face ao puzzle administrativo e legal que rodeia da produção de eucalipto que liquida a produção racional e legal e potencia a produção irracional e ilegal. Para isso, pretende mobilizar proprietários, financiando operações iniciais de plantação, de acordo com projectos que visam contrariar o abandono e a falta de gestão. Há execução de alguma coisa no terreno, embora seja difícil saber como vão evoluir os projectos porque, aparentemente, não está definido o modelo de compensação entre proprietários que permita aos que têm produções economicamente viáveis financiar as áreas dos proprietários que cederam áreas para outras produções que não o eucalipto.

O problema central na gestão do fogo, de acordo com a melhor ciência que existe sobre o assunto neste momento, é o abandono e a falta de gestão, mas o movimento ambientalista escolheu concentrar-se no eucalipto (e, marginalmente, no pinhal), como maus da fita (tal, como aliás, fazem alguns dos consultores e investigadores a quem o Estado resolveu entregar o desenvolvimento dos tais planos de transformação da paisagem).

Como o inimigo são as celuloses, o movimento ambientalista é muito passivo em relação à ineficiência do Estado ao fim destes cinco anos, mas muito sensível ao que está a ser feito pelas celuloses.

É este o contexto em que começam a aparecer notícias sobre o projecto "Replantar Pedrogão", um dos quatro projectos apoiados pelas celuloses, já executado no terreno, envolvendo várias dezenas de proprietários, e formalmente apresentado pela associação florestal que, por isso, ficou responsável formal pela execução do projecto.

Desde sempre é muito claro que se trata de um projecto promovido pelas celuloses, que não é a Santa Casa da Misericórdia, e alinhado com os seus interesses de abastecimento das suas fábricas.

Nas notícias de Agosto, uma associação ambiental, a QUERCUS, e uma fraude, a Acréscimo, acusam as celuloses de andarem a enganar toda a gente apresentando um projecto que prevê a plantação de medronheiros e depois plantam eucaliptos.

Os factos eram claros: em cerca de 130 hectares de projecto, havia uma desconformidade em quatro hectares.

O ICNF fez uma verificação da situação, levantou um processo de contra-ordenação à associação florestal (quem tinha formalmente apresentado o projecto de florestação) por ter verificado que dois proprietários, nas partes que lhes diziam respeito, tinham feito coisas diferentes do previsto.

Sem surpresa, o movimento ambientalista esquece os factos, e perante o levantamento do processo de contra-ordenação, volta a fazer mais uma manobra de propaganda que visa atacar as celuloses, e não os problemas reais com que estamos confrontados como sociedade.

Posteriormente a CELPA fez um levantamento total da execução do projecto, e verificou mais algumas desconformidades como uma redução de áreas de circulação porque o proprietário resolveu que ainda tinha espaço para mais uma fila de eucaliptos, não prevista no plano, mas que o proprietário entendeu que era espaço desperdiçado (só quem nunca executou projectos, em especial projectos deste tipo, espera que não haja discrepâncias nenhumas entre previsto e executado).

Grande parte destas desconformidades de projecto, em especial os quatro hectares de eucaliptos indevidamente plantados, estão hoje corrigidas ou em vias de o ser.

Por influência deste escrutínio público, com certeza, não é esse escrutínio que está em causa, é a forma como se manipulam os factos que se verificam nesse escrutínio, com o objectivo de impor opções a terceiros.

Em que é que este projecto, que é do interesse das celuloses, se cruza com o interesse público?

Sendo o problema central dos fogos o abandono e a falta de gestão, qualquer projecto que traga gestão para zonas em sério risco de abandono, é um projecto útil (pode ser melhor ou pior, ter coisas mais ou menos aceitáveis, mas a ideia base é a de que é um projecto socialmente útil).

Para uma parte relevante do ambientalismo, o problema é o eucalipto, portanto qualquer projecto que se baseie na produção de eucalipto, é um projecto para abater, mesmo que o resultado seja mais abandono, mais pobreza e um padrão de fogo socialmente inaceitável.

E esta cisma é de tal maneira profunda, que mesmo uma fraude como a Acréscimo, uma associação uninominal de uma pessoa sem qualquer credibilidade técnica e ética, consegue manipular uma quantidade enorme de ambientalistas para quem os factos não interessam nada, desde que haja a possibilidade de fazer andar a sua agenda pré-definida.

Farei ainda uma quinta parte sobre como o ambientalismo silencioso é um problema global, influenciando a forma como burocracias poderosas, como a da União Europeia, acabam a tomar decisões completamente irracionais, para responder a este ambientalismo de manada, que se afirma pela superioridade moral de estar "livre de interesses", o que o torna evidentemente vulnerável a qualquer escroque que resolva apresentar-se como um corajoso defensor da "linha justa": quando se impede que os factos influenciem as nossas ideias, é muito fácil que terceiros nos levem a moldá-las a partir das fantasias mais infantis.

Um lamentável desperdício

por João Távora, em 27.09.22

Fernando Santos, que sempre teve um conjunto excepcional de futebolistas, que jogam nas melhores equipas da Europa, ganhou um campeonato da europeu com um bambúrrio de sorte. A jogar tão mal, o treinador convenceu-se que a vitória tinha sido milagre. O problema é que desde então confia mais numa intervenção divina do que num vasto leque de jogadores geniais, que fariam a felicidade de qualquer treinador a sério. Alguém que lhe explique que Nossa Senhora não se intromete em disputas de bola. 

Boa sorte Meloni!

por João-Afonso Machado, em 27.09.22

É o assunto do dia. Georgia Meloni ganhou as eleições em Itália e logo a manada se alvoroçou sob o pretexto do regresso ao fascismo. Porque a Esquerda ainda manda (e mandará...) na Comunicação Social em Portugal, assim como pela Europa fora. O povo é soberano mas também (ao que parece) é estúpido também.

Duas palavras sobre Georgia Meloni: alguém vislumbra na sua aparência uma fascista?

Parece que é amiga de familiares de Mussolini. E então? O primeiro Presidente da AR local, o digno Henrique de Barros, socialista, era cunhado (e davam-se bem) de Marcelo Caetano...

Se Meloni é contra o casamento homossexual e a «adopção homoparental» é o seu direito. O mesmo direito, porventura, dos que nela votaram. Que uma coisa é o laboratório parlamentar e minorias ruidosas, outra as gentes. Idem quanto à imigração ilegal, está em causa precisamente o contrário da legal, essa que cumpre a lei. E confrontando a animadversão islamita... quem não, senão por falta de coragem?

O caso Meloni (mais os seus coligantes), repete-se Europa fora, ultimamente na impoluta Suécia. O Continente está em mudança acelerada e o universo socialista vê perigado o seu domínio traduzido na soit disant UE em que ninguém acredita e todos tentam buscar nela somente bazocas financeiras.

Caiamos na realidade: a UE é isso e só isso. Os povos estão cansados, sentem o pesado encargo da tributação e do discurso oco, distante e anónimo. A fatal mudança já começou e nem a lacaia Comunicação Social a impedirá. Mesmo com o rótulo de neo-fascista e populista invariavelmente atribuído à Direita vencedora.

Na minha apartidária qualidade de social-democrata convicto lá vou guardando um sorriso para quando (e se) Montenegro for bem sucedido eleitoralmente. Assistiremos nessa altura a mais uma manigância do polvo socialista: Montenegro, o «populista radical de Direita».

E, por fim (e já agora), "Deus-Pátria-Família", qual o problema? De Deus, deuses e anti-deuses está a Esquerda cheia; de apelos a "pátrias" também; e da Família ou famílias, navegamos há muito em águas estéreis de experiências tontas e discussões orçamentais!

Haja coerência e dignidade! E respeito pelo eleitorado e pelas suas razões de «protesto»!

Nacionalismos

por João Távora, em 27.09.22

«Pude constatar que as pessoas inteligentes se podem tornar estúpidas; os sábios, loucos; os verdadeiros profetas, mentirosos; os amantes da verdade, falsos. Nenhuma virtude humana tem consistência nesta vida, excepto uma única: a verdadeira religião. A fé não nos pode desiludir, porque não nos promete nada desta terra. O verdadeiro crente não nos desilude, porque não procura vantagens na terra. Transposto para a vida dos povos, isto significa que é em vão que se procuram as pretensas virtudes nacionais, mais incertas ainda que as individuais. Por isso odeio nações e estados nacionais. Só a minha velha pátria, a Monarquia, era uma grande casa com muitas portas e muitos quartos, para muitas espécies de pessoas. Dividiram a casa, fenderam-na, fizeram-na em ruínas. Já nada tenho a ver com ela. Estou habituado a viver numa casa, e não em compartimentos».

O Conde Morstin em «O BUSTO DO IMPERADOR» conto de Joseph Roth (1935)

O ambientalismo silencioso (parte três)

por henrique pereira dos santos, em 27.09.22

Mas e tantos ambientalistas e investigadores (de várias áreas científicas) podem estar assim tão enganados?

Sim, podem.

Comecemos pela questão da competência dos investigadores (de várias áreas científicas).

Eu posso ser o maior especialista de Linaria ricardoi do mundo e não saber nada das práticas agrícolas que favorecem a espécie nem dos factores económicos e sociais que as influenciam, desconhecendo por completo como está a evoluir o mercado de azeite, para dar um exemplo.

Posso dizer, por exemplo que aparece em "Searas, pousios e prados em olivais tradicionais ou montados, raramente em taludes e bermas de caminhos. Em solos calcários.". Posso mesmo acrescentar que é um "Endemismo restrito à região de Ferreira do Alentejo, Beja, Cuba e Serpa. Embora possa ser localmente abundante em alguns locais, as alterações de uso do solo (intensificação) nesta região constituem uma séria ameaça à sua persistência.", sem registar que se referem os solos calcáreos na descrição da sua ecologia e depois se descreve a sua localização numa zona em que os calcáreos são relativamente raros (as duas coisas podem não ser contraditórias, a Linaria poderia estar situado nos poucos calcáreos da região).

Ao mesmo tempo, a lista vermelha da flora justifica a alteração do seu estatuto de ameaça de "quase ameaçada" para "em perigo", entre outras razões, porque existe "uma redução populacional superior a 30% suportada pelo quase desaparecimento da planta dos Barros de Beja".

Nestas circunstâncias, a minha opção mais natural, tanto mais que sendo o maior especialista do mundo na espécie forçosamente sei que há muita coisa que não compreendo na ecologia da espécie, é uma opção de precaução: proibir tudo o que possa afectar a espécie, incluindo eventuais núcleos que eu desconheça, ou seja, o melhor é parar de expandir o olival intensivo e manter os usos tradicionais.

Porque o que sei é de Linaria ricardoi, não vejo a menor contradição em ser contra o regadio, cuja principal razão para se expandir é a falta de competitividade dos tais usos tradicionais. A proibição da expansão do regadio não garante que os usos tradicionais se mantenham, pelo contrário, o mais natural é que sejam abandonados, diminuindo as perturbações que tornam possível a sobrevivência da Linaria ricardoi (embora com ganhos para a renaturalização dos sistemas naturais, mas nesses sistemas a Linaria ricardoi tem condições de sobrevivência muito dificeis, porque vive de aproveitar a perturbação dos sistemas, o que é verdade para outros grupos, como as aves estepárias, por exemplo).

Fechado nas minhas certezas, é difícil que me chegue aos ouvidos a história de um grande produtor de olival superintensivo que comprou sete hectares abandonados há mais de dez anos, sem Linaria ricardoi e sem qualquer valor natural relevante, era um terreno que estava por ali, com um valor social marginal ou, usando a terminologia tradicional, não dava palha nem dava espiga.

Depois das tramitações administrativas e legais, dá-se início às operações para trazer esses sete hectares para o olival intensivo e é feita uma gradagem em todo o terreno. Porque a vida é como é, nada correu como planeado, não havia plantas disponíveis para a plantação, e o terreno, depois de gradado, ficou à espera de melhores dias.

Para surpresa para todos, os especialistas na Linaria ricardoi e os produtores de olival superintensivo, depois de uma Primavera, todo o terreno está coberto de outras coisas antes desconhecidas no local, incluindo Linaria ricardoi e outras oportunistas que gostaram da perturbação que não tinha existido nos últimos dez anos.

Algumas peripécias depois, os sete hectares continuam a integrar a área do grande produtor de olival intensivo, mas agora como um banco de sementes para projectos de gestão, conservando-se a Linaria ricardoi e companhia, sendo possível ao produtor, porque gere muito mais área de olival superintensivo, manter esses sete hectares como área de conservação, com gestão activa, se for caso disso, para manter o nível de perturbação favorável à Linaria ricardoi. Ao contrário do que aconteceria se se pretendesse impor administrativamente usos tradicionais que o mercado não valoriza o suficiente para que o gestor mantenha o nível de gestão que, teoricamente, garantiria a conservação da espécie.

Portanto, o primeiro ponto (os outros serão rápidos) está fixado: o facto de se ser o maior especialista num assunto (uma espécie, motas, parafusos, pão, camisas, seja qual for o assunto), diz muito pouco sobre a minha capacidade para integrar esse conhecimento num processo de gestão que seja socialmente útil.

O segundo ponto é muito rápido porque vou remeter para um post meu anterior, sobre como um investigador inegavelmente considerado, pode acabar a dizer disparates sobre um assunto que não estudou, mesmo que esse assunto se relacione com a sua área de investigação.

E chego ao terceiro ponto, conclusivo, que o post vai longo: o que a ciência diz sobre os impactos ambientais dos eucaliptos, é uma coisa, o que diz o movimento ambientalista, é outra, o que a ciência diz sobre o glifosato é uma coisa, o que o movimento ambientalista diz, é outra, o que a ciência diz sobre a relação entre espécies de árvores e fogos, é uma coisa, o que o movimento ambientalista diz, é outra, e há mais assuntos em que é igual (regadio, nitrificação de solos, agricultura intensiva, agricultura biológica, pastoreio, etc.).

Mesmo que a ciência e o movimento ambientalista dissessem as mesmas coisas - uma hipótes muito pouco plausível, nem a ciência, nem o movimento ambientalista são monolíticos - isso não alteraria o essencial: as opções de desenvolvimento social são opções políticas, preferentemente influenciadas pelo melhor conhecimento disponível, mas cujo processo de decisão será sempre um processo complexo em que os governos e os sábios contam muito menos do que pensam.

Que a ciência diga que o regadio, na mesma parcela, é incompatível com a conservação da Linaria ricardoi, é pacífico.

Que a partir dessa constatação se defina qual é a melhor forma de conciliar o regadio e a conservação da Linaria ricardoi é que já não é do domínio da ciência, é do domínio da política, ou seja, da arte do possível, democraticamente legitimada.

O «jornalismo» mais medíocre do mundo

por José Mendonça da Cruz, em 26.09.22

Todas as televisões portuguesas estão muito preocupadas com a vitória «da extrema-direita» em Itália. Consola-as, é claro, o alto valor da «abstenção recorde» de 36%, embora nunca as tenham preocupado os 45,5% da abstenção nas eleições portuguesas. Para confirmar o perigo, a CNN ouviu longamente uma entendida, muito representativa do eleitorado português: Catarina Martins. Depois, a CNN auscultou «opiniões contraditórias nas ruas», as quais consistiram na opinião de uma senhora de esquerda em Roma.  E deu relevo à capa de um diário, onde Giorgia Meloni foi fotografada com a mão estendida, para que se entenda que está a fazer a saudação fascista --- o jornal é o Il Manifesto, comunista. E, logo a seguir, sem reparar na contradição, insinuou que o novo governo italiano é amigo de Putin (coisa que todas as estações imitam). Por fim, o correspondente em Roma somou abstenção e esquerda para concluir, na sua aritmética tonta, que «a maioria não votou na coligação» vencedora (não ocorre ao homenzinho, evidentemente, fazer idênticas contas para Portugal). Quanto ao DN «noticia» que a direita, prestes a perder Bolsonaro, se alegra por ter Meloni. E todos estes pobres arremedos de jornalistas, ignorantes, desonestos e iletrados, enchem a boca com «a extrema-direita», embora nunca tenham vislumbrado a extrema-esquerda que têm em casa e dentro da cabeça. Depois de cortar o momento solene do enterro de Isabel II e o som pungente do gaiteiro da rainha para falar de lixo e proferir vacuidades, este tipo de «jornalistas» obtusos tem agora, com esta eleição italiana, uma nova oportunidade para se espojar longamente na sua própria mediocridade.

(Resta, ao menos, que desta vez somos poupados a adjetivações sobre o facto de a Itália ter a sua primeira primeira-ministra. Não, desta vez nada de «emblemático», nem «mítico», nem «icónico», nem «histórico».)

O ambientalismo silencioso (parte dois)

por henrique pereira dos santos, em 26.09.22

Talvez seja útil confrontar as declarações do Senhor Secretário-Geral da ONU com os dados existentes, como forma de começar este post.

Disse António Guterres, a propósito das cheias no Paquistão, que terão provocado à volta de 1500 mortes: "I have never seen climate carnage on the scale of the floods here in Pakistan."

Agora os dados de um século para o conjunto de desastres naturais, incluindo cheias.

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E comecei por aqui porque esta é a outra face da visão moralista e conspirativa do mundo, a da pura manipulação.

Não tenho nenhuma dificuldade em aceitar que a afirmação de Guterres seja sincera e verdadeira: nunca terá visto cheias maiores e mais letais que as do Paquistão neste ano.

Guterres sabe perfeitamente que o que vê é uma pequeníssima parte do mundo, no espaço e no tempo, e sabe perfeitamente que ninguém, na posição dele, trabalha apenas com o que vê, sendo impossível que desconheça as estatísticas que estão acima.

O que está em causa, no movimento ambientalista - o movimento ambientalista está longe de ser monolítico, é tão diverso que até me inclui a mim, sempre que nestes post escrever "movimento ambientalista", estou a generalizar a partir daquilo é que a sua corrente dominante -, sempre existiu no mundo e pode ser muito bem avaliado a partir da evolução do marxismo e suas evoluções.

Rosa Luxemburgo é uma das fundadoras do partido social democrata alemão,  mas já nesse momento de fundação pertencia à sua corrente mais radical, que a levou a afastar-se e a morrer assassinada, depois de uma vida dedicada à revolução.

À medida que a complexidade da realidade se impõe no quotidiano de quem tem de tomar decisões, há sempre quem considere, uma vez ou outra com razão, todos os desvios em relação ao mundo ideal como cedências "aos interesses".

Esse foi o caminho que levou ao grupo Baader-Meinhoff ou às Brigadas Vermelhas, e a muitos outros grupúsculos radicalizados, a maior parte dos quais sem consequência de maior para a sociedade, felizmente.

É impossível não ver sombras deste processo nisto: "“Para que é que estamos a ir às aulas, se não temos um futuro?”, pergunta Teresa Núncio, questionando o statu quo que se vive, em que se estuda e trabalha como se o futuro estivesse assegurado, apesar da progressão actual das emissões de CO2 (se nada for feito, a temperatura média da Terra facilmente aumentará três graus, com consequências devastadoras). “O absurdo é a normalidade”, constata. Porquê? “Porque é um sintoma de que as pessoas não estão conscientes em relação ao estado da crise climática”, diz a estudante, que também está a ajudar a preparar a ocupação no estabelecimento de ensino que frequenta, a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa."

Está cá tudo: a infantilização da argumentação ("para quê estudar se não temos futuro"), a troca da racionalidade cartesiana pela emoção, a crítica aos que não seguem a "linha justa" e a conclusão de que é preciso agir, mesmo que temporariamente contra a maioria, para benefício de todos.

Estamos ainda longe da defesa da violência sobre alguns como forma de atingir a felicidade para todos, mas os passos que o movimento ambientalista está a dar, estão a ir nesse sentido: "Neste contexto e tendo em conta as limitações das greves enquanto forças de mudança, o manifesto publicado no The Guardian anunciou uma nova táctica: a ocupação de escolas e universidades feita por estudantes durante os meses de Outono."

E, naturalmente, há opções a fazer.

A minha opção é claramente diferente da de António Guterres.

"No entanto, de 2020 para cá, as emissões de CO2 voltaram aos valores pré-pandémicos, catástrofes naturais, como as mais recentes cheias no Paquistão, continuaram a suceder--se e a invasão russa da Ucrânia produziu uma guerra e uma crise energética que, nos próximos meses, ameaça tornar-se uma crise social europeia de grandes proporções. Ao mesmo tempo, as grandes empresas petrolíferas arrecadaram tamanhos lucros que, no início de Agosto, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, acusou-as de uma “ganância grotesca”."

No que conseguir e me for possível, tenciono manter-me no campo da racionalidade cartesiana e dos factos, matéria para o terceiro post sobre este assunto, entre outras razões por ter visto até onde nos levou a manipulação da informação como instrumento para obter um valor maior, praticado de forma sistemática pelos defensores dos amanhãs que cantam.

O ambientalismo silencioso (parte um)

por henrique pereira dos santos, em 25.09.22

Por coincidência, tinha intenção de fazer uma crónica sobre um dia dedicado a questões ambientais, e hoje o Público tem duas páginas sobre Rachel Carson, em que, sem surpresa, lá aparecem os comentários de Viriato Soromenho Marques, para ilustrar a tese do tal post que tinha intenção de fazer.

Pediram-me (a mim e a mais um monte de pessoas, não sei com que critérios, nem isso me interessa muito), para comentar um plano de gestão de valores naturais de uma empresa. Para isso, a empresa organizou uma sessão, no campo, mandando antecipadamente o documento que queria discutir.

Tudo normal, portanto, para mim.

Mas não para uma das pessoas que estavam presentes que fez questão de dizer, no fim, que embora depois se tenha esbatido essa ideia, a sensação de partida era a de que a empresa a estava a usar.

Por lhe pedir umas horas de trabalho gratuito, o que eu compreenderia?

Não, era mesmo porque, achando-se a pessoa em causa muito importante (não o disse, claro, é a minha interpretação), a empresa só poderia estar a convidá-la para fazer o que agora se chama greenwashing.

Confesso que nem percebi a lógica do raciocínio: a empresa está a fazer um documento interno para ter melhores práticas de gestão dos valores naturais nos milhares de hectares que gere, contrata uns consultores para os ajudar a fazer o plano, pede a um conjunto de pessoa diversificado que comentem o plano para o rever e melhorar, e uma das pessoas convidadas, imediatamente, se sente usada e envolvida num processo de greenwashing.

Note-se que a empresa não fez uma sessão pública, não tinha jornalistas metidos ao barulho, mandou o plano a pessoas cuja opinião considerou útil ouvir, não pediu nada em troca - para além da leitura do plano e umas horas de uma sessão no campo, a quem, por cortesia, serviu um almoço normal e no fim deu um saquinho com três produtos da empresa -, mas há quem, imediatamente se sinta a ser usado para esverdear a imagem da empresa.

De onde vem isto?

Exactamente de uma visão moral do ambientalismo que Viriato Soromenho Marques sintetisa maravilhosamente num dos seus comentários sobre Rachel Carson e o seu "Primavera Silenciosa", publicado há sessenta anos: "Rachel Carson mostrou muita coragem nos anos 60 - e ainda hoje há poucas pessoas que o fazem - que, se analisarmos, dos departamentos e institutos que trabalham na área dos insectos [nos EUA], só 2% se focam em controlo biológico (controlo natural das pragas), sendo que os restantes 98% recebem financiamento da indústria química. E esta entrada em cena do dinheiro faz toda a diferença".

Passemos por cima do facto de Viriato Soromenho Marques estar a dizer que o que diz resulta de quem lhe paga, visto ser esse o critério que usa para falar de terceiros, e note-se como esta formulação elimina toda a discussão racional sobre o uso de químicos: são intrinsecamente maus e se, por acaso, houver investigação que diga o contrário, é porque é financiada pelos interesses da indústria química.

Esta visão conspirativa do mundo é muito, muito generalizada, ao ponto da jornalista que faz o artigo varrer para debaixo do tapete o maior problema criado pela publicação de "Silent spring" e de toda a manipulação emocional associada ao uso de químicos (curiosamente, só na agricultura, quando se trata da química da saúde, há sempre muita teoria de conspiração sobre os interesses da "Big Farma", mas ninguém se lembraria de dizer que só uma percentagem mínima da investigação é que se dedica à homeopatia, ou à acunpuntura, ou outra coisa qualquer que se queira escolher, e por isso a investigação farmacêutica não é válida, porque a "entrada em cena do dinheiro faz toda a diferença").

"O DDT era apresentado como uma panaceia para a malária em países africanos - e, por isso, os detractores acusaram Rachel Carson de "assassinar" milhões de crianças afectadas pela doença".

Mais uma vez, deixemos de lado o facto da jornalista que escreve sobre o assunto não saber que a malária não era um problema dos países africanos, mas um problema quase global, que apenas poupava as regiões demasiado frias para que o vector da doença se aguentasse.

O controlo da malária em países pobres foi fortemente prejudicada pelas restrições no uso do DDT, morrendo muito mais gente anualmente de malária que pessoas afectadas pelo DDT desde a sua invenção, mesmo nos anos de uso desregrado do DDT, sem qualquer consideração pelos seus efeitos secundários.

A Organização Mundial de Saúde ainda hoje apoia o uso de DDT no interior de casas nas regiões onde a malária é um problema maior (ainda hoje morrem milhares de pessoas de malária e outras doenças em que o DDT pode ser útil, enquanto componente dos programas integrados de gestão do vector dessas doenças), coerentemente com o facto da convenção sobre pesticidas persistentes (convenção de Estocolmo) ter uma excepção para o seu uso por razões de saúde.

Rachel Carson tinha razão quanto ao facto de ser necessário mais conhecimento sobre tecnologias novas, mais controlo independente do seu uso e sobre o facto dos poluentes persistentes se espalharem nos ecossistemas, com problemas ambientais potenciais muito relevantes.

Não tinha razão nenhuma sobre a forma como se deve lidar com isso (todas as suas previsões sobre o futuro, mais ou menos como acontece com qualquer pessoa que resolva descrever hoje o que vai acontecer amanhã, revelaram-se grosseiramente erradas), ao pretender que a solução era não recorrer aos químicos de síntese e diabilizar os interesses dos que ganham dinheiro criando soluções para problemas reais.

No fundo, um bocado como o que define o ponto de ruptura entre a parte do movimento ambientalista de que faço parte (em qualquer caso, ultra-minoritária) e a generalidade do movimento ambientalista (o tal das teorias de conspiração) sobre o regadio.

Para a esmagadora maioria do movimento ambientalista, o regadio e, genericamente, a intensificação agrícola (um bocadinho selectiva, é muito divertido ver a diferença de encarnecimento contra o olival intensivo por comparação com a razoável complacência para com a vinha), deve ser combatido na raiz, defendendo-se o montado, a produção extensiva de alimentos e outras coisas que tais que conhecemos há duas ou três gerações.

Não consigo perceber como ao introduzir água e nutrientes, ou seja, aumentando a produtividade primária, que o mesmo é dizer a base das cadeias tróficas, se obtêm sistemas piores ou com menos opções.

É verdade, é nessa parte em que estamos todos de acordo, que ao intensificar o uso agrícola (ou florestal) estamos a simplificar sistemas (desde sempre, desde que deixámos de ser caçadores-recolectores, portanto muito antes do capitalismo e da "entrada em cena do dinheiro"), e que nessa simplificação se perde diversidade.

Ganhamos riqueza, morremos mais tarde, alimentamo-nos melhor, somos mais a usar o engenho humano para gerir melhor as nossas vidas e o nosso mundo, somos mais criativos, vivemos vidas com mais liberdade, ou seja, há benefícios decorrentes das tecnologias, incluindo a química, com largo destaque. Gostaria de sublinhar esta contribuição da química para a nossa qualidade de vida para contrariar a ideia de que para se ser ambientalista é preciso ser quimiofóbico (embora isso não pareça incoerente com o facto de se defender que o uso de contraceptivos químicos foi fundamental para redefinir o papel das mulheres na sociedade).

Se, para ter tudo isto, temos de simplificar sistemas e perder valores que não queremos perder, o que temos é de melhorar os nossos modelos de gestão, usar melhor o génio humano, para reintroduzir complexidade nesses sistemas, mantendo os benefícios que resultam do facto de sermos capazes de manipular a água e os nutrientes para aumentar a produtividade dos sistemas.

Comigo não contam para a posição dominante no movimento ambientalista, que essencialmente é uma posição reaccionária de medo da mudança e de recusa da tecnologia.

Tenho muito respeito pelas comunidades Amish, que se mantêm fiéis aos seus valores, mas eu não partilho esses valores: eles que vivam como entenderem, e que me deixem a mim viver como entender.

Domingo

por João Távora, em 25.09.22

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas. Ora sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’. Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna – pois tenho cinco irmãos – para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’. Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos’».

Palavra da salvação.

Ligeireza perigosa mascarada de estadismo

por José Mendonça da Cruz, em 24.09.22

A senhora Ursula van der Leyen ameaça o putativo governo ainda não eleito da Itália com as ameaças já feitas aos governos eleitos da Hungria e da Polónia. A senhora Ursula van der Leyen é um desses protagonistas da Europa falhada que julgam que lhes serão relevados os disparates que cometem e a presunção que transpiram.

A capital

por henrique pereira dos santos, em 24.09.22

O meu post anterior, repetindo uma ideia, que não é minha, mas que carrego comigo há mais de trinta anos - mudar a capital de Portugal para Castelo Branco - teve muito mais reacções do que esperaria, umas a dizer que não pode ser porque faz muito calor em Castelo Branco, outras a dizer que Coimbra é a capital de Portugal e fantasias que tais, outras centradas na afirmação de que a minha terra é que é, umas vezes com argumentos, outras vezes nem isso, e ainda uma ou outra reacção sobre o fundo da questão: a capitalidade prejudica Lisboa, pode ser usada para contrariar tendências que não são favoráveis à gestão do território e é uma decisão estritamente política.

Primeiro ponto: mudar a capital é, antes de mais, uma questão simbólica, e os países foram encontrando soluções que pareciam boas e equilibradas em cada momento. Dessas soluções constam a criação de capitais novas praticamente do nada (Madrid, por exemplo), constam a sua localização em cidades intermédias, diferentes dos centros económicos, sociais, culturais do país ou mesmo soluções menos usuais, como a dos Países Baixos, que têm uma capital política e outra capital administrativa.

Por mim, se quiserem continuar a ter Lisboa como capital política, não é o que defenderia, mas enfim, não é o essencial, o que me interessa é a capital administrativa.

Segundo ponto: as minhas razões para escolher Castelo Branco são bastante simples: está mais ou menos a meio do país no sentido Norte/ Sul (Guarda fica a uma hora mais de Faro que Castelo Branco, só para responder à hipótese da Guarda), está desequilibrada para o interior, o que me parece melhor para atingir os objectivos que se pretendem, que é levar emprego para onde faz falta, e tem boas condições fisiográficas para a sua expansão urbana (o que não acontece, por exemplo, nem com a Guarda, nem com a Covilhã, nem com Abrantes).

Ou seja, é uma solução simples, baseada em razões de paisagem simples, daí que não me interesse nada a discussão sobre se é melhor esta ou aquela localização.

Também não percebo o argumento da mudança de capital, versus o argumento da descentralização: Lisboa é capital há um ror de anos e não há descentralização nenhuma de jeito, mais, quando a Administração Pública decide lançar um programa de estágios - estágios são oportunidades de formação para pessoas, não são mecanismos de resolução das dificuldades de contratação de pessoas - são criadas mais oportunidades para as pessoas de Lisboa que no resto de todo o país, no seu conjunto, e isso, aparentemente, não escadaliza quase ninguém.

Para mim, parece-me claro que mudar a capital para fora de Lisboa facilita a tomada de decisões relacionadas com a descentralização, não se lhes opõe.

Vejamos, a bazuca tinha lá pelo meio uns valentes milhões para a descarbonificação.

Havia duas opções muito claras (uma manifestamente mais fácil, a outra mais complexa): usar o dinheiro para gerir a sério o problema dos fogos e a utilização do solo como sumidouro de carbono, ou usar o dinheiro para transportes públicos nas grandes cidades (sobretudo Lisboa, e um bocadinho no resto para não ser demasiado acintoso).

Estas duas opções têm efeitos diferentes no país, independentemente da bondade intrínseca de cada uma das soluções, matéria que nem chegou a ser discutida: no primeiro caso leva economia para a parte do país que não tem gente, não tem economia, não tem dinamismo social, no segundo caso acentua a tendência de concentrar economia onde há gente, oportunidades, criação de riqueza, libertação de meios de investimento.

Se a capital não fosse Lisboa, a mim parecer-me-ia mais fácil forçar a discussão das vantagens e desvantagens de cada opção, assim, continuamos sempre na mesma lógica: Lisboa é que tem gente, portanto temos de dar resposta às pessoas, logo investimos o dinheiro de todos (note-se que não estou a falar do dinheiro dos lisboetas, esse acho muito bem que seja gasto em transportes públicos) a resolver os problemas das pessoas, e portanto fazemos residências para estudantes, transportes públicos, escolas, etc., tudo em Lisboa.

Por cada um desses investimentos, aumenta a macrocefalia do país porque a cada um desses investimentos há um reforço da diferença económica de Lisboa em relação ao resto do país, como se uma espécie de buraco negro atraísse todos os recursos, a começar pelo capital humano, para Lisboa.

Se me disserem que não se podem deslocar as cadeias para longe das pessoas, por razões sociais relacionadas com a visitação e a reintegração dos presos, de acordo, é uma argumento que percebo, mas qual é o problema de pôr a Presidência da República em Castelo Branco?

Ou a Assembleia da República?

Ou os estágios da Administração Pública?

Devemos pôr o dinheiro dos contribuintes a resolver o problema da escassez de habitação nas grandes cidades, ou devemos reservá-lo, pelo menos em parte, para a criação de emprego nas cidades em que a habitação não é um problema de maior?

Esta é a discussão a fazer, o resto, se faz calor em Castelo Branco, ou se Abrantes está mais perto do centro geométrico do país, ou se a Guarda tem mais estradas a passar por lá, e coisas que tais, não tem interesse nenhum.

Do que tenho a certeza é que se a capital fosse em Castelo Branco, a ligação ferroviária entre as linhas da Beira Baixa e da Beira Alta seria levada muito mais a sério, com benefícios para todos, incluindo os lisboetas.

Estive a ver as notícias na TV

por João Távora, em 23.09.22

Sou cristão, contra aborto, a favor da família tradicional, patriota e europeísta reticente. Sou um marginal fascista? Não, desde que guarde essas convicções no foro privado.

Os progressistas apropriaram-se da narrativa e da semântica política - não há mais pluralidade.

Hoje ainda é mais dia de folga parlamentar

por João-Afonso Machado, em 23.09.22

O pretexto é a Constituição de 1822. A real motivação oscila entre alguma ideologia e a total demagogia. Como se Portugal tivesse dado um salto de 200 anos, daqueles limpinhos, sem um tropeção sequer.

Quando, afinal, a sua vigência durou meses apenas. Quando, depois, foi outorgada a Carta Constitucional. Quando, enfim, o reino voltou ao Legitimismo porque «A legitimidade de D, Miguel estava na unanimidade com que foi aclamado; essa a legitimidade do Mestre de Avis» (Oliveira Martins in Portugal Contemporâneo). Quando, finalmente, a paz nacional foi conseguida com a reposição da Carta, o «Foral dos forais», como lhe chamou Luís de Magalhães.

E quando tudo findou com a Constituição republicana de 1911 e a ditadura de 16 anos do Partido Democrático. A que se seguiu a Constituição de 1933 e toda a II República oportunisticamente chamada o Estado Novo; e a Constituição de 1976, logo a necessitar de ser lavada das suas muitas manchas PREC-socialistas.

É, os documentos que os nossos Reis outorgavam e concediam às muitas terras do Reino chamavam-se forais e continham todo o normativo por que se havia de reger este ou aquele povo. Aceita-se perfeitamente que tais disposições se colijam num documento só, chamado "constituição". O que não se pode admitir é que à sombra dela, da "Constituição", - e quase sem excepções - uma classe de endinheirados se vá mantendo e engordando à custa dos portugueses. Dir-se-ia, de há 200 anos a esta parte - não se desse o caso de a AR não festejar hoje a Constituição de 1822, somente apanhar a boleia para se auto-elogiar perante o povo.

Mudar a capital para Castelo Branco

por henrique pereira dos santos, em 22.09.22

De vez em quando volto à ideia de que Portugal devia mudar a capital para Castelo Branco.

E digo-o a sério, não é uma piada.

Eu sei que custa dinheiro - e capital não é coisa em que Portugal esteja a nadar, muito menos o estado português -, eu sei que tem muitas contra-indicações (incluindo a discussão interminável sobre a escolha do sítio para onde mudar a capital, se não se consegue decidir onde localizar um aeroporto, imagine-se discutir para onde mudar a capital) e por aí fora.

Mas quando vejo isto, a ideia volta a tropel.

estagios.jpg

O Estado cria um programa de estágios (eu acho uma chinezice, mas enfim) e Lisboa tem mais vagas que o resto do país todo junto.

E cada uma das pessoas que trabalham em Lisboa precisa de um sítio onde dormir, de espaço para se deslocar do sítio onde dorme para o sítio onde trabalha, escolas para os filhos, centros de saúde, postos de correio, balcões bancários, etc., etc..

Podíamos começar por coisas simbólicas e que não exijam muito investimento: mudar a Presidência da República para Castelo Branco (só a quantidade de jornalistas que iriam atrás já daria para se fazer notar nos próximos censos da população).

Depois a presidência do Conselho de Ministros.

Depois os ministérios, um a um.

Depois da Assembleia da República.

E, aos poucos, os serviços de apoio.

Tudo isso gera ineficiência?

Sim, gera.

Eu acho é que, no longo prazo, gera muito menos ineficiência que ter uma administração que acha normal ter mais lugares de estágio na administração pública em Lisboa que no resto do país todo junto.

A EFTA e o resto

por henrique pereira dos santos, em 21.09.22

Nota prévia: Irene Pimentel não gostou do meu post anterior, o que é compreensível porque o post está longe de ser simpático, e respondeu-me, o que gostaria de realçar como uma atitude positiva, pouco vulgar. Infelizmente respondeu sem responder, na medida em que não contestou nenhum dos factos que invoquei, e limitou-se a reafirmar um facto que eu não tinha negado, o que torna o progresso na discussão muito pouco provável.

Chamaram-me a atenção para o facto de que ter situado o período de maior crescimento e convergência dos últimos 200 anos, em Portugal, entre a adesão à EFTA e o primeiro choque petrolífero.

Não sou historiador e a utilização destes dois marcos temporais era suficiente para mim, mas percebo que alguém os leia como a minha opinião sobre uma eventual relação de causa/ efeito entre os marcos temporais que citei e o andamento do desenvolvimento económico de Portugal.

Não é o caso, nem sei o suficiente para ter opiniões definidas sobre o asunto, embora seja sensível ao facto de me fazerem notar que o período de crescimento começa uns dez anos antes da adesão à EFTA, tanto mais que há quem defenda que esse período de crescimento do país se deve à guerra e ao pós guerra, e outros que realmente enfatizam a adesão à EFTA (incluindo os anos prévios que estão associados a uma abertura económica que permitiu a adesão à EFTA).

Há também quem admita que o aumento do potencial humano propiciado pela escolarização rápida a partir dos anos 30 teria influenciado positivamente o desempenho económico do país.

Infelizmente, não me parece que os fundamentos do crescimento desse período estejam suficientemente estudados ou, pelo menos, eu não os conheço, parece-me natural que muitos factos concorram para isso e eu não os sei distinguir.

O que posso dizer, a partir da minha posição de quase leigo, é que quando fiz a minha tese - que se baseia no mapeamento de indicadores de população e produções agrícolas e pecuárias, por concelho, ao longo do século XX - reparei que depois do aumento generalizado de população em praticamente todos os concelhos do país nas primeiras décadas do século XX (apesar da emigração para o Novo Mundo, emigração que praticamente acabou com a crise dos anos 20, até meados dos anos 50, quando a emigração é retomada, agora com outros destinos), começa a haver concelhos com perda de população entre os censos de 1930 e 1940, de maneira geral os mais pobres, dos xistos centrais.

Sem ter estudado o assunto, a sensação com que fiquei foi que, fechados os destinos de emigração externa, e diminuindo o trabalho dos "ratinhos" no Alentejo e Ribatejo, em consequência da segunda vaga de mecanização da agricultura (primeiro foram as debulhadoras, no princípio do século XX, depois começaram a chegar as ceifeiras mecânicas, mais perto do meio do século XX), Lisboa era o destino desta gente, tanto mais que Lisboa estava em franco crescimento, como inúmeras obras, quer públicas, quer privadas (a figura do pato bravo, identificada com uma origem em Tomar, frequentemente, deve ter começado aqui).

É bem possível que, sendo normal começar-se a trabalhar aos 13/ 14 anos, grande parte destes que se dirigem a Lisboa já sejam letrados, e portanto constituindo um capital humano com maior potencial, mas não tenho nenhuma ideia do que isso poderia significar em impacto sobre a economia.

O que me parece, sem nenhuma base concreta para o afirmar, é que a estabilidade política, financeira e institucional pode ter desempenhado algum papel na confiança para o investimento.

Eu sei que uma parte pequenina desta historiografia anti-fascista (na verdade a ordem dos conceitos está trocada, primeiro é anti-fascista, depois é que é historiografia) insiste no papel que a repressão dos movimentos operários poderá ter desempenhado nesse investimento e desenvolvimento económico, protegendo os grandes grupos económicos. Eu, que não sou historiador, tenho as maiores dúvidas de que alguém consiga demonstrar que os movimentos operários têm um papel relevante na diminuição do potencial de crescimento de uma economia, portanto não percebo o argumento.

O que sei é que não sei por que razão o país cresce tanto, em termos absolutos e em termos relativos, algures entre os anos 50 e 70, mas sei que é uma tontice anti-científica negar o evidente crescimento económico e a melhoria generalizada das condições sociais, que ocorreu nessa altura.

Pretender que quem se limita a verificar a esmagadora evidência dos factos que corroboram esta tese está a legitimar um regime político, como se o bom desempenho de um regime ilegítimo o tornasse legítimo, não passa de um truque para manter reputações que se fizeram mais no combate político que na discussão académica, que continua a ser fortemente condicionada por esse combate ideológico em que se refugiam os beneficiários da situação.

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