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Contra todas as expectativas, afinal António Costa é um reformista. Antes o plano era mascarar a total incompetência do Governo e do Estado, a esperança que os Portugueses não reparassem. Percebeu que começava a ser difícil mas que havia uma solução fácil, uma profunda reforma: prevenir os problemas, basicamente impedindo que as pessoas possam viver. O Covid foi a inspiração. Se as pessoas ficam em casa para salvar o SNS, porque não proibir tudo o que possa desmascarar a impotência e incompetência? Basta proibir que as pessoas fiquem doentes, comam bacalhau à Brás, andem de comboio, proibir concertos em tempos de incêndio e o que mais iremos ver nos próximos tempos. Basta um risco, tira-se a liberdade. Para o bem de todos, para quem é privado da sua liberdade, para o Estado que não corre o risco de ter que explicar porque nada funciona.
Ouvi hoje o Sr. Costa, candidamente, lembrar que a proibição é boa para os proibidos, que assim não correm riscos (nem têm que tomar decisões: o bom Estado trata do assunto). É bom para todos, para o Estado e para os patetas dos cidadãos que não têm capacidade de tomar decisões em função de recomendações, essas sim, que o Estado deveria fazer em situações anormais.
A liberdade vai sendo removida em fatias cada vez menos finas até, quem sabe, uma revolta ou, mais possivelmente, que tenhamos que fazer a dieta do regime, a vida social do regime e termos as ideias do regime. Já faltou mais.
O festival do Meco, ou a concentração motard de Faro são os exemplos mais visíveis, mas são apenas dois problemas de entre os milhares que foram criados com a proibição de circulação em espaços florestais.
Não me interpretem mal: eu não desvalorizo a necessidade de lidar de forma muito, muito prudente com os próximos dias, do ponto de vista do risco meteorológico, se queremos evitar tragédias humanas.
Não vou retomar aqui a minha argumentação de que o comportamento mais negligente de todos tem sido o dos vários governos que têm tratado do problema da gestão dos combustíveis finos em Portugal, que o mesmo é dizer, o problema da falta de gestão adequada de quase dois terços do território português, de uma forma inconcebível.
O que me interessa discutir é a forma como uma restrição a uma liberdade constitucionalmente garantida - a liberdade de circulação - é restringida por decisões administrativas cuja fundamentação é, no mínimo, obscura.
O argumento do governo, que é sério e deve ser levado a sério, é o de que a única coisa que pode influenciar a diminuição do risco de uma tragédia humana resultante de incêndios é a diminuição das ignições.
O fundamento para esta argumentação é o de que havendo condições de muito elevado risco de incêndio nos próximos dias, o que é verdade, e sendo o combate largamente ineficaz para influenciar a evolução de um fogo declarado nas condições extremas que se vão verificar, o que também é verdade, quanto mais incêndios houver mais dispersão de meios haverá, o que é verdade e, consequentemente, menor será a capacidade do sistema de protecção civil salvar vidas através da identificação antecipada do risco futuro (o que pode ser feito a partir do momento em que se sabe o ponto de ignição, se conhece o terreno e as condições meteorológicas, permintindo prever de que forma o fogo vai evoluir, identificando o que está na sua rota de progressão, com algumas horas de antecedência) e através da organização de operações estruturadas de evacuação.
Logo, a lógica é diminuir, por todos os meios, incluindo os coercivos, a possibilidade de ignições, restringindo a actividade humana (estão previstas trovoadas aqui e ali, que podem dar origem a ignições naturais, mas a esmagadora maioria das ignições resultam da actividade humana).
Note-se o paralelismo com os confinamentos: fica tudo em casa para proteger os serviços de saúde, está tudo proibido de frequentar espaços florestais para proteger a eficácia dos serviços de protecção civil.
Note-se que em qualquer dos dois casos existem relações de Pareto entre contágio e necessidade de cuidados de saúde, num caso, e ignições e dimensão dos problemas causados pelo fogo, mas não quero discutir as implicações disto, apenas referir que a fundamentação técnica para os raciocínios anteriores está longe de estar estabelecida.
No dois casos, a generalidade das pessoas aceitam restrições às liberdades individuais por, no outro prato da balança, estarem mortes potenciais que são bastante plausíveis, ou seja, estamos perante o clássico dilema da opção entre segurança e liberdade.
Ainda assim, para dar força legal aos confinamentos, foi preciso declarar o Estado de Emergência, agora o Estado já assume que tem legitimidade para restringir direitos constitucionais através de decisões administrativas, mesmo sem declaração do Estado de Emergência, resultando em milhares de restrições para terceiros, sem que o Estado equacione, sequer, indemnizar os organizadores do festival do Meco ou da concentração Motard. Ou das comemorações dos 80 anos de arquitectura paisagista, para dar um exemplo menos mediático.
E, no entanto, seria possível organizar quer uma concentração motard, quer um festival, dando garantias de ter em atenção a circunstância meteorológica excepcional.
Mais, seria possível transformar essas realizações em imensas acções de sensibilização para comportamentos responsáveis em relação ao fogo, para o papel ecológico que o fogo desempenha e para a sua relação com a gestão do mundo rural e dos combustíveis finos, contribuindo para uma maior consciência social dos efeitos do abandono da gestão das terras marginais.
Só que não existe representação política da Liberdade com força e consistência suficiente para se tornar socialmente relevante a discussão sobre a forma como o Estado acha normal impôr administrativamente limitações a direitos fundamentais dos indivíduos, tendo como objectivo proteger a sua acção dos efeitos de opções incompetentes tomadas anteriormente.
O amor pela liberdade é tão escasso em Portugal que não admira que seja tão fácil substituir a gestão das dificuldades de conciliação da segurança e da liberdade, pela limitação administrativa das liberdades individuais.
Na RTP, um responsável da UE recomenda, citando a OMS, um «second boost» de vacinação anti-covid para maiores de 60 anos. Mas a tradução transforma «boost» (impeto, esforço, fluxo) em «dose». Donde resulta, segundo a RTP, que a UE e a OMS recomendam, em meados de 2022, uma segunda dose da vacina para os maiores de 60 anos.
É a tradução e o serviço público segundo Nicolau.
Então, se bem compreendo para que serve um primeiro-ministro, e, nomeadamente, uma pasta da saúde, é para explicarem isto: «Olhem, não estejam doentes em agosto, sejam responsáveis, escolham alturas mais razoáveis porque o SNS também tem direito a férias».
Então, se bem compreendo para que serve um primeiro-ministro, e, nomeadamente, uma pasta de administração interna e um serviço de protecção civil, é para proclamarem isto: «Olhem, se não gostam de incêndios, não os ateiem, gente irresponsável!»
Então se bem compreendo para que serve um primeiro-ministro, e nomeadamente, uma pasta das infraestruturas, é para se indignarem com isto: «Quê, além de hospitais, queriam andar de comboio no Verão, e ainda tínhamos que fornecer o ar condicionado?! Vão a pé ou usem a caminoeta que já dispõem de autoeestradas em barda!»
Então, se bem compreendo para que serve um primeiro-ministro, e, nomeadamente, uma pasta do ambiente, é para um dia celebrarem isto: «Não é uma sorte o aeroporto estar um caos e a TAP uma bandalheira? Já pensaram que o vosso incómodo coloca Portugal na vanguarda dos menos poluidores da navegação aérea?!»
“Quando a pandemia nos atingiu todos sabíamos que podíamos contar com o melhor dos profissionais de saúde. Mas sabíamos que a primeira forma de evitar era a máscara, o distanciamento, para nos protegermos. Aqui é a mesma coisa”
Por uma vez, estou de acordo com António Costa: "aqui é a mesma coisa".
Só não estou de acordo com a parte que antecede o "aqui é a mesma coisa" porque há um diferença substancial sobre a gestão de uma epidemia e a gestão do fogo: nós podemos gerir o contexto do fogo, ao contrário do que acontece em relação ao contexto de uma epidemia.
Embora quer uma epidemia, quer o fogo, sejam filhos dos seus contextos, embora uma epidemia e o fogo dependam de acontecimentos pontuais (pontuais no sentido de ocorrerem em tempo e espaço muito limitados, não no sentido da sua frequência, que é enorme) a que num caso chamamos contágio e no outro ignição, a epidemia tem o seu contexto nas características das populações que afecta e dos agentes patogénicos que lhe estão na base, potenciados pela meteorologia, e o fogo tem o seu contexto na quantidade e estrutura dos combustíveis finos que existem no território, também potenciado pela meteorologia.
A nossa capacidade para alterar o contexto de uma epidemia é muito limitada, mas a nossa capacidade para alterar o contexto do fogo é bastante grande, difícil e cara, mas grande.
António Costa já fez a sua opção: como na pandemia correu bem a estratégia de disparar para todo o lado quando estava entalado, para demonstrar que se fez tudo o que era possível, e quando corria mal responsabilizavam-se os malandros que não cumpriam regras e faziam coisas horriveis como celebrar o Natal, o melhor é adoptar o mesmo procedimento neste caso.
Já ninguém tem a menor preocupação com a defesa da floresta contra os incêndios, já toda a gente está alinhada com a estratégia da defesa contra os incêndios da floresta, e António Costa pode agora dedicar-se à defesa da sua reputação política contra eventuais problemas causados pelo fogo.
Não é natural que seja este ano que aconteça um novo Pedrogão porque há muita área ardida recentemente, e são precisos 12 a 15 anos para que o risco esteja perto do máximo, mas se por acaso acontecer, António Costa já tem a resposta engatilhada: as pessoas foram irresponsáveis e não seguiram as indicações das autoridades.
"Portugal sem fogos depende de todos", uma ideia criminosa que parecia ter passado à história, está de regresso com toda a força para disfarçar cinco anos de tretas na gestão do contexto do fogo: atrasos no fogo de gestão, arrastar de pés no pagamento de serviços de ecossistema, matrioscas de planos para disfarçar inoperância na gestão de combustíveis, faixas de gestão de combustíveis a que ninguém liga nenhuma, por se reconhecerem inúteis, e milhões, milhões, deitados sobre um problema, com o resultado classico dessa opção: quando se deita dinheiro para cima de um problema, uma das coisas desaparece, mas raramente é o problema.
O que, infelizmente, vai reforçar a hipótese de uma tragédia por volta de 2030.
Segundo fontes fidedignas, cresceu e viveu em S. João da Madeira, filho de pai industrial e abonado e guarda consigo toda a arrogância de um certo novo-riquismo. O partido teve de lhe lembrar que era socialista, ministro e da ala esquerda, não lhe ficava bem pavonear-se de Porsche nas nossas estradas. Decerto contrariado, acatou e dedicou-se aos aviões.
E esqueceu os comboios, um meio de transporte que não utilizará mas que tanto convém à malta em geral. Com o "material circulante" a cair às peças, moderno o bastante para não dispor de janelas que se abram, mas suficientemente estafado para já não soprar o ar condicionado.
A sua recomendação, na emergência: os portugueses que evitem viajar de comboio nas horas de calor... Pouco antes, um Alfa parara em Pombal e descarregara os passageiros, doentes, desidratados, indignados.
O Ministro é uma nulidade: primeiro, ainda não percebeu que a única solução ideal do nosso problema aeronáutico está no Mar da Palha e no regresso aos hidroaviões; segundo, que os Alfas brancos, encarnados e azuis já só tropeçam, falta-lhes o folego ainda a viajem está no princípio (o leitor depois não diga que não avisei...) e os da segunda geração, os cinzentos, talvez escapem, se devidamente reparados nas oficinas de Contumil ou do Entroncamento.
Não há dinheiro? Então é diabo! O cancro socialista já metastizou...
Foi talvez um dos mais despenteados primeiro-ministros da História contemporânea. Mas não é por aí... Portugal conheceu um, todo arranjadinho e abrilhantinado, que era louco; o outro, vestindo ao custo de milhares de euros, que se lambuzou todo com uma fortuna ainda não explicada. O traço comum do trio - foram todos borda fora, de um ou outro modo.
E está aí o aspecto que importa e nos distingue pela negativa. No caso de Boris Johnson, o que está na ordem do dia, à parte os protestos da Oposição, quem realmente contrariou a sua teimosia foi o seu próprio partido. Através da demissão em massa de membros do seu Governo ou pela atitude adoptada pelos deputados conservadores. O despenteado Boris não teve como dizer não face à repulsa manifestada pelos seus pares.
Por cá... (Haverá quem nos leve a sério além fronteiras?) Por cá, um ministro aeronauta resolve sozinho construir dois aeroportos de uma assentada, despacha nesse sentido, é desautorizado pelo seu 1º, não se demite que o Poder sabe bem e ainda se vangloria perante os jornalistas, não é «fragilizável»!
É claro, há mais. Enquanto o nosso Marcelo vai senilizando e caindo no absoluto ridículo, no UK Elizabeth II, com os seus 96 anos, mantem a lucidez, não tira selfies, não é desconvidada por um flibusteiro sertanejo nem intervem - não é suposto - nas questões políticas.
É suposto apenas reinar, ser acarinhada pelo seu povo e mantê-lo no seu lugar na História, sempre fiel à bandeira do Reino.
Vou comprar uma chavasca e inscrever-me no PS.
Depois, eu e três amigos meus vamos fundar uma associação sem fins lucrativos em defesa do mar e da pesca sustentável. Um dos meus amigos tem um contacto nas TVs, e quando o repórter vier vamos elogiar muito «o notável trabalho do ministério do Ambiente na defesa do meio marítimo e no enquadramento dos problemas sociais no sector piscícola, com resultados apreciáveis na respetiva resiliência» (julgo que é assim que se diz). E vamos anunciar que planeamos comprar mais 3 chavascas para recolher plástico além de pesca, e defender o polvo, o cação e a tartaruga, tudo espécies em vias de extinção, pelo menos individualmente e caso a caso.
A seguir vamos ao referido Ministério do Ambiente para, em articulação com a Economia e as Pescas, e em reconhecimento do nosso empenho e solicitude, solicitar apoios do Estado para promoção da atividade da nossa associação, e também para a merecida divulgação da obra do governo em prol dos oceanos.
Vamos comprar 4 traineiras, e vamos baptizá-las: a «Mário Soares» vai servir para a pesca da lagosta; a «Pinto de Sousa» para atividades à margem do ramo; a «António Costa» servirá para a pesca longínqua; a «Nuno Santos» servirá para os periódicos desfiles engalanados em que anunciaremos que «estamos a perspetivar para o futuro a constituição de uma comissão que analisará as potencialidades do empenhamento em novos canais de empreendimento e novas perspetivas sociais do nosso trabalho». (Julgo que é isto, mais ou menos.) Pediremos para tal alguns apoios mais do Estado, a bem da resiliência.
Então, compramos um paquete, para a inauguração do qual convidaremos, reconhecedores e obrigados, os quatro padrinhos das traineiras. O Dr. Santos Silva e a menina Mariana podem vir em representação do defunto. Esperamos inculcar em todos a conveniência, senão mesmo a necessidade urgente, de nos atribuirem um canal de comunicação que melhor dê a conhecer a nossa obra e a deles. E também alguns apoios.
Quando amealharmos suficientes casas, carros e contas discretas, provavelmente uma comenda, e alguns milhões de dívida, cederemos as nossas empresas ao Estado pelo preço social, solidário e simbólico de 1 euro. O Dr. Pedro Nuno Santos, sendo naturalmente o primeiro-ministro eleito pelas preferências do povo, gabar-se-á desse seu negócio, mais uma lição aos privados e ao Mundo.
O título do post não é nenhuma homenagem do Rudyard Kipling, é mesmo para deixar muito, muito claro, que vou falar de cenários que não podem ser levados demasiado a sério para lá de três dias (quando começou a conversa dos cenários de evolução da covid, eu terei escrito que modelos matemáticos era coisa em que eu não confiava para tomar decisões com elevados impactos e dificeis reversões, uma das minhas irmãs, que tem uma visão diametralmente oposta da minha em relação à covid, argumentou que eu confiava em modelos, o que não gostava era daqueles que contrariavam o que eu penso, mas a minha radical desconfiança de previsões meteorológicas a mais de três dias demonstra que essa alegação não tem muita base factual).
A verificarem-se os cenários meteorológicos que circulam por aí para o mês de Julho - insisto, previsões meteorológicas a mais de três dias devem ser lidas com muita cautela - a partir do dia 8 de Julho, mas mais consistentemente, a partir de 10 de Julho, há partes do país que ficarão em elevadíssimo risco de incêndio, quer porque há dias de vento Leste forte e seco - esqueçam as temperaturas, o que verdadeiramente nos deve preocupar nos fogos é a secura e a velocidade do vento -, quer porque há muita disponibilidade de combustível com elevada secura induzida atmosfericamente (pelo rigor percebe-se que estou a citar quem sabe do assunto, Paulo Fernandes, a quem informalmente pedi para me confirmar, ou não, a plausibilidade dos cenários conhecidos).
Noutras partes do país, em especial no Noroeste, talvez não seja tanto assim, quer por causa das condições meteorológicas, quer, repare-se na elegância da expressão usada por Paulo Fernandes, por causa da memória de chuva recente nos combustíveis (o Paulo só comentou cenários até ao dia 12, considera que tudo o que sejam cenários meteorológicos a mais que isto não vale o esforço de interpretação, se bem percebi).
A verificarem-se esses cenários, a existência de fogos complicados - quão complicados é mais difícil de saber - é praticamente uma certeza, a multiplicação de ignições também (não porque haja mais ignições, mas porque as condições de desenvolvimento das que existam favore a sua detecção e registo pelo sistema) e o lero-lero jornalístico e de responsáveis sobre qualquer coisa imponderável (os incendiários, as mudanças bruscas de vento, os acessos dificeis, a dispersão das construções, enfim, toda a gente sabe o jargão que se usa nos teatros de operações para justificar a projecção das forças de bombeiros e afins) será tão inevitável como os incêndios.
Eu só queria deixar aqui claro, agora, correndo o risco de me cobrir de ridículo se nada destas previsões meteorológicas se verificar, três coisas:
1) o fogo é uma inevitabilidade, e um filho do seu contexto, por ser um processo ecológico endógeno, fundamental para a evolução dos sistemas naturais;
2) gerir o fogo é gerir o seu contexto, o que no nosso caso significa gerir os combustíveis finos, o que no nosso caso (eu sei que me estou a repetir) significa encontrar meios para pagar a gestão necessária e que o mercado não remunera convenientemente;
3) pelo menos desde os fogos de 2003 (mais, até, desde 2005, entre 2003 e 2005 o que se verificou foi um braço de ferro entre protecção civil e gestão florestal, que a protecção civil ganhou por KO) que os responsáveis políticos responsabilizam os proprietários por não quererem gastar mais dinheiro na gestão que o que conseguem receber em resultado dessa gestão, e o que quer que venha a suceder tem, na origem das responsabilidades políticas e sociais que se queiram discutir, essa barbaridade.
Em Outubro de 2015, imediatamente depois das eleições perdidas por António Costa, o Partido Socialista tinha a seguinte posição "António Costa frisou que os socialistas terão “sentido de responsabilidade, espírito de diálogo e de compromisso”, lembrando que o PS partirá para estas conversações com todos os partidos" (verificar aqui).
Com base nisto, António Costa aceitou participar numas reuniões de negociação com Passos Coelho, com vista a encontrar uma solução de governo, apesar de ir dizendo que estava também a negociar com o BE e o PC, até porque as propostas da direita eram insuficientes "A segunda reunião entre a coligação PSD/CDS e o PS terminou num clima de impasse. O secretário-geral socialista António Costa reiterou estar a trabalhar, com o PCP e com o BE, num governo alternativo e considerou a proposta da direita “insuficiente”".
Pois bem, na última campanha eleitoral, num debate com Rui Rio, António Costa assegurava, mostrando uma primeira página do Expresso, da qual ele era a fonte que a jornalista omitiu - tornando-a objectivamente numa cúmplice de uma manobra manipulação da opinião pública -, que desde sempre, isto é, mesmo antes das eleições de 2015, toda a gente sabia que António Costa ia fazer a gerigonça se, perdendo as eleições, como se verificou, houvesse uma maioria de deputados hostil a Passos Coelho.
António Costa era o número dois de Sócrates quando o Partido Socialista inventou a famosa iniciativa de manipulação da opinião pública que consistiu em pôr o Banco de Portugal - dirigido por Vítor Constâncio - a calcular um défice fictício para o ano em causa, de modo a que o governo de Sócrates pudesse dizer que estava a baixar o défice, ao mesmo tempo que o aumentava.
Vem de longe a tradição manipuladora do Partido Socialista e uma das grandes vantagens de António Costa dentro do partido é a sua maestria nessa capacidade manipuladora.
É por isso que não deixo de me espantar por tanta gente levar a sério a putativa "falha de comunicação" de Pedro Nuno Santos, acreditando piamente que sabendo-se em Portugal que um Ministro decide fazer aeroportos a esmo, seja possível que António Costa não o tenha sabido imediatamente (coitadinhos, não há em Madrid uma alma caridosa que consiga entregar um papelinho urgente a um primeiro-ministro que está numa cimeira).
Quem é o beneficiário de toda a confusão?
António Costa, evidentemente.
Quer internamente, quer entalando Montenegro que fica sem grande margem de manobra para ser sensato na questão do aeroporto e, ao mesmo tempo, afirmar a sua oposição às políticas do governo (a solução apresentada é uma solução bastante sólida sob vários pontos de vista e é difícil tirar da cartola outra solução tão sólida e tão exequível, num prazo curto), António Costa reforça na opinião pública o seu estatuto fundamental: aquele que reúne o menor número possível de pessoas zangadas com a sua governação.
Consegue decidir sobre o aeroporto, pondo o ónus de eventuais atrasos no PSD e no amor incontrolável de António Costa pelo consenso, que tenta sempre até ao fim, como se viu nesta palhaçada.
Para isso é preciso um bocadinho de teatro?
O que é isso comparado com os quinze dias de teatro que se seguiram às eleições de 2015?
Ou com o teatro do pôr o Banco de Portugal a calcular um défice fictício que se adopta como referencial?
Foi há pouco mais de 10 anos que o Duarte Calvão me apresentou o Vasco Mina, como “um católico politicamente activo dentro do PSD – vais gostar”. De seguida, integrado no Corta-fitas, aproximámo-nos – tínhamos muitas cumplicidades. Descobri o casal Mina nas Equipas de Casais de Nossa Senhora, e fui acompanhando as aflições do Vasco, por causa da doença, por causa do trabalho e por causa do Corta-fitas, que lamentava não colaborar mais. Fundador dos Leigos para o Desenvolvimento com o Pe. António Vaz Pinto (que partiu para junto do Criador uns dias antes), o Vasco nunca prescindiu de lutar pela vida plena. Como pai, como marido, como profissional, como sujeito activo na vida da sua Igreja e do seu país. Foi por uma unha negra que não o converti à causa monárquica – uma trivialidade dada as circunstâncias. Nos últimos meses acompanhei com apreensão as notícias que o Vasco ia mandando, dedicado que estava a combater a sua doença. Umas vezes com mais animo, outras bastante desconsolado. Na minha casa, em que se reza com regularidade, muitas foram as orações pela sua recuperação, pelo seu conforto e consolação. Não terão sido em vão, creio.
O Vasco Mina era um bom homem, foi um bom amigo, e a esta hora estará junto a Deus Pai a torcer por nós. Havemo-nos de reencontrar.
A primeira vez que ouvi falar do Vasco Mina foi aqui, no Corta-Fitas, em 2018, quando se juntou aos "blogueiros" deste blog. Depois, por coincidência ou não, vim a encontrá-lo no já histórico think tank liderado por Sofia Galvão – a Nova Vaga.
Vasco Mina era um homem sem idade, jovial e ao mesmo tempo com a sabedoria dos anciãos. Ferveroso católico e conservador nos valores. Inteligente e culto como poucos se podem orgulhar.
A única coisa que sei da vida do Vasco é isto: a sua inteligência e a sua fé inabalável, mesmo quando lhe calhou em azar a doença que põe o inimigo dentro do nosso corpo.
Lutou incansavelmente anos contra um cancro, de que falava às vezes como o desafio a superar com fé.
Na Nova Vaga, a 31 de maio, coube-lhe a sua última intervenção. Escolheu como tema "a guerra na Ucrânia, à luz das igrejas cristãs". Um tema do momento que foi pretexto para invocar o antigo e o novo testamento (e os evangelhos).
Deixo aqui um excerto de um texto que partilhou na Nova Vaga: "A lógica das religiões é na sua génese uma lógica violenta porque a aproximação ao divino pressupõe o sacrifício e o procurar contrariar o sentido natural da nossa condição humana através do jejum, das peregrinações, dos sacrifícios ou das promessas (cit. Filipe d’Avillez). Jesus Cristo vem quebrar esta lógica quando nos diz que a violência não é um princípio de atuação e, por isso, temos que estar disponíveis para suportar injustiças e para não reagir com violência à violência de que somos vitimas. É também nessa lógica que se afasta a dimensão sacrificial da religião. Abrão estava disposto a sacrificar o próprio filho (!), mas não o faz porque confia em Deus. Sabe que Deus providenciará. Já não é preciso o sacrifício para nos aproximarmos do divino".
Adeus Vasco, até sempre.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. E dizia-lhes: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho. Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’. E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre eles; senão, ficará convosco. Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’. Mas quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés sacudimos para vós. No entanto, ficai sabendo: Está perto o reino de Deus’. Eu vos digo: Haverá mais tolerância, naquele dia, para Sodoma do que para essa cidade». Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome». Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus».
Palavra da salvação.
Comentário: A palavra de Deus tem como fruto a alegria e a paz, tanto para quem a semeia, como para quem a recebe. Os discípulos que Jesus enviou em missão deram testemunho de que era assim. O Senhor já os tinha prevenido disso. Mas a Palavra de Deus continua hoje com o mesmo vigor; por isso, ela oferece, hoje como sempre, aos que a escutam a mesma paz e a mesma alegria.
Ninguém me tira da cabeça que uma das razões da relativa, sublinho a relativa, pobreza de Portugal está na nossa imensa capacidade para cometer os mesmos erros vezes sem conta, com base na nossa imensa capacidade para dar nomes diferentes às mesmas coisas.
Estive a ler uma entrevista de Fernanda do Carmo - que tenho como pessoa razoável -, directora geral do Ordenamento do Território, no suplemento AgroVida, do jornal VidaEconómica.
O título da entrevista, e grande parte do seu conteúdo, gira à volta da ideia de que "a adesão dos proprietários florestais é crucial para o sucesso das Áreas Integradas de Gestão da Paisagem".
Estas Áreas Integradas de Gestão da Paisagem são mais uma das declinações da mesma ideia repetida há mais de 150 anos e nunca demonstrada na prática, em Portugal: "Importa dar-lhes [aos proprietários] informação de suporte à decisão, demonstrando os ganhos de retorno económico que poderão vir a ter no futuro, face à realidade actual, cumulando investimento público disponível, o aumento da produtividade a prazo, adveniente de uma gestão com escala e profissionalismo, a remuneração dos serviços dos ecossistemas, a redução de perdas por incêndio rural alcançada com a gestão, bem como a redução de despesas avulsas de limpeza de material combustível impostas".
Ou seja, a velha ideia de que os proprietários e gestores não percebem nada do que andam a fazer e, portanto, o Estado vai-lhes demonstrar a sua estupidez e ignorância, como tem vindo a fazer nos últimos 150 anos, pelo menos, desde que o iluminismo conseguiu vender a ideia de que a gestão florestal não era uma actividade económica normal, mas um desígnio colectivo com enormes benefícios para todos.
Benefícios esses que só não se verificam hoje pelos atavismos de pastores e outros ignorantes assassinos de árvores, coligados com a ganância de produtores florestais que só pensam no seu lucro e, por isso, escolhem modelos de gestão lucrativos no curto prazo, mas muito menos úteis à sociedade que os modelos de gestão de lucro diferido para "amanhãs que cantam".
O problema é que esses matarruanos dos agricultores, pastores, produtores florestais já ouviram o mesmo canto de sereia vezes sem conta, fosse no tempo das florestações da segunda metade do século XIX e primeira do século XX, fosse nos famosos dinheiros do Banco Mundial, fosse no regulamento 280 qualquer coisa, fosse nas ZIFs, seja agora com o pomposo nome de Operações Integradas de Gestão da Paisagem.
Considerando-se a adesão dos produtores florestais crucial para processos que duram mais de vinte anos antes de dar o retorno prometido, o que significa que a confiança no que se vai passar nesses vinte anos é o ponto chave - para os ingénuos que ainda acreditam que sim, que ao fim desses vinte anos as coisas vão ter o retorno prometido hoje, como se alguém pudesse saber qual serão as condições de mercado dos produtos florestais daqui a vinte anos - o que promete o Estado, via Fernanda do Carmo?
"O contrato assinado com as entidades responsáveis pelas Áreas Integradas de Gestão da Paisagem prevê o apoio financeiro à sua capacitação e funcionamento [está o produtor florestal a pensar que afinal primeiro vão ensinar os que depois nos vêem ensinar a nós e ainda lhes pagam para eles funcionarem, mas pagar-me a mim, directamente e já, os serviços dos ecossistemas é que está quieto] por um período máximo de dois anos, em curso, tendo em vista constituírem as entidades gestoras da futura Operação Integrada de Gestão da Paisagem, identificarem, mobilizarem e envolverem os proprietários, promoverem o cadastro da propriedade onde este não exista e elaborarem o projecto de Operação Integrada de Gestão da Paisagem [está o matarruano a pensar: então é fazer como nas ZIF, pagam dois ou três para eles estudarem como se faz, e depois, quando estiverem em condições de avançar, fecha-se tudo porque acabou o financiamento]. As entidades que concretizam com sucesso o que lhes está cometido nesta fase inicial de capacitação, verão a Operação Integrada de Gestão da Paisagem aprovada e garantido o financiamento das acções de reconversão e valorização a realizar no terreno nos primeiros dois anos, via PRR [e pensava o ignorante que o problema era a gestão da paisagem no longo prazo, afinal parece que o objectivo é reconverter, não é gerir, nos próximos dois anos]. O financiamento da manutenção e gestão e remuneração dos serviços dos ecossistemas nos vinte anos seguintes será por via do Fundo Ambiental".
Neste ponto os matarruanos e ignorantes gestores já perceberam tudo, e vão à sua vidinha, tratar das couves e do jantar que para histórias da carocinha sempre é melhor a telenovela ou o telejornal, tanto faz que se distinguem pouco.
Nem o Fundo Ambiental é seguro, nem tem dimensão financeira para o que se está a prometer, nem se sabe se existirá ainda daqui a meia dúzia de anos e eu vou entregar a gestão das minha terras agora à espera que algum dia aquilo tenha retorno com base em ideias extravagentes de técnicos que não põem um cêntimo do seu dinheiro naquilo que dizem que é muito rentável?
No que diz respeito à gestão de terras marginais, andamos nisto há décadas, ainda há mais tempo que na discussão da localização do aeroporto de Lisboa.
A mim só me faz lembrar os que ainda hoje continuam a defender que a felicidade e a justiça chegam com a apropriação colectiva dos meios de produção, uma ideia sempre falhada quando aplicada, mas cujo falhanço se deve a circunstâncias geríveis, não à ideia em si, essa é boa, é pena que uns homens maus a tenham sempre deturpado, quando tiveram poder para a aplicar, de acordo com os seus defensores.
Algures numa universidade qualquer, já estará a nascer um novo nome para substituir este quando, no fim dos tais dois anos de aplicação dos dinheiros do PRR, se verificar que, tal como das outras vezes, afinal os resultados não batem certo com as promessas.
Lá deixarmo-nos destes floreados e pagar, já hoje e directamente, aos gestores da paisagem os serviços que queremos obter, isso é que não, que eles são ignorantes, quando não mesmo estúpidos, pouco qualificados, atávicos e, em caso algum, devem ser deixados a tomar conta da sua vida, como se tivessem a capacidade de saber o que é melhor para eles.
Morreu o meu Tio Duarte de Castro. Não sei se já alguma vez vos falei da importância que atribuo à família alargada, da diversidade de legado que nos concede uma comunidade de avós, tios e primos, na formação de pessoas mais livres e mais inteiras. Tenho o privilégio de ter crescido e vivido com a presença viva da família da minha mãe, que hoje se reencontra no céu com o seu irmão Duarte. Nós por cá é que ficamos mais pobres, menos amparados.
Duarte Nuno de Carvalho Gomes de Castro, nasceu a 13 de Março de 1939 em Cascais, na Avenida Emídio Navarro, morada que antecedeu a mudança dos meus avós Maria da Assunção e João António para a Casa da Avenida. Afilhado de baptismo do Senhor Dom Duarte Nuno, depois de ter frequentado o Colégio Militar, ingressou na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa no curso de 1964 onde ombreou com uma ínclita geração de juristas de que foi toda a vida amigo e cúmplice. Graças a isso sempre me foram familiares nomes como os de Alberto Xavier, António Sousa Franco, Augusto Ataíde, Augusto Ferreira do Amaral, Diogo Freitas do Amaral, Duarte Ivo Cruz, Eduardo Santos Silva ou Martim Albuquerque, rapazes cuja inteligência iluminou muitos serões da Casa da Avenida. Esta, foi uma geração que se empenhou no serviço a Portugal, seja embalada pela esperança na Primavera Marcelista ou na consolidação duma democracia liberal depois do 25 de Abril.
Do Tio Duarte, além do sportinguismo, do gosto pela boa conversa, interesse pela política e pela História, herdei a paixão pelos livros do Tintim, colecção que os possuía num armário do seu quarto de solteiro, que amiúde eu assaltava para me maravilhar com os feitos daquele nosso impoluto e jovial herói – como o eram os meus tios, na minha imaginação.
Foi a 18 de Setembro de 1971 que casou com Eugénia Torres Bastos de Morais acontecimento do qual me assaltam memórias do Copo d’Água no Turf, clube de que foi frequentador assíduo toda a vida. Dessa união ganhei quatro queridos primos direitos; são eles o João, o Vasco, a Mariana e o Bernardo. Quis o destino que o casal fosse morar para a Calçada Marquês de Abrantes, na casa em que, depois da morte dos meus avós, por muitos anos teve lugar a Ceia de Natal que era pretexto de reencontro da família Castro, e dos muitos parentes e primos direitos que nessa ocasião se reviam. O Tio Duarte, com a Tia Gena, teve o mérito hoje pouco valorizado de construir uma família sólida e estruturada nos valores cristãos.
O Tio Duarte, pessoa tão discreta como erudita, foi sempre monárquico assumido, sócio da primeira hora da Real Associação de Lisboa, e era como já referi, sportinguista, clube de que foi tesoureiro na presidência de João Rocha. Foi secretário de Estado dos Desportos do VII Governo Constitucional, aquele executivo AD de vida curta formado em 1981 após a morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa, liderado por Francisco Pinto Balsemão. Amigo muito chegado do meu pai, conquistou o coração e a inteligência deste seu sobrinho, que hoje chora a sua partida. Saibamos nós, que ficamos, dar sentido ao bom legado que a todos nos deixou, em amizade, exemplo e façanhas.
Imagem: Do livro de curso de 1964 da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - caricatura não assinada.
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