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Porque é que o Governo não governa, porque é que o Governo não resolve os problemas? Porque é que, sabendo que existe um problema, o Governo se recusa a dar aos portugueses serviços de saúde quando até temos propostas de soluções e capacidade instalada para o fazer? Ah, sim, essas coisas horríveis que são os privados e para onde os portugueses que podem estão a fugir. (...)
O que é mais aterrador no que se está a passar é exatamente não se estar a ver o sistema com capacidade de gerar soluções. O Governo não quer governar, quer ir gerindo o quotidiano, usando a propaganda para moderar os efeitos na sua imagem. O Presidente da República parece andar a viver noutro planeta, ao ponto de conseguir disfarçar mais os problemas do que o próprio Governo. O principal partido da oposição, o PSD, tem primado pela ausência. Os órgãos de comunicação social estão sem capacidade de escrutínio, por falta de recursos. Pobres dos que precisam do SNS, pobres de todos nós, porque o SNS é apenas uma das partes visíveis do caos em que estão serviços públicos fundamentais, promotores da desigualdade, perante a indiferença das elites. Porque, inexplicavelmente, são poucos ou nenhuns os que denunciam o mal que se está a fazer ao País.
A ler a Helena Garrido na integra aqui no Observador
Há coisa de uma semana, a propósito da ruptura dos circuitos mundiais de comércio de cereais, dizia a nossa Ministra da Agricultura: "Portugal produz atualmente 18% dos cereais que consome. Há uma estratégia para aumentar até 38%".
A declaração foi amplamente replicada na "rádio, tv, disco e na cassette pirata" e uma semana depois não se encontra, ou pelo menos eu não encontrei, seguimento dessas declarações amplamente difundidas, concluindo eu que toda a gente ficou descansada com a declaração tranquilizante da Senhora Ministra.
E é verdade que Portugal tem essa estratégia, desde Janeiro de 2018, para ser aplicada em cinco anos (ou seja, estamos nos últimos seis meses da sua aplicação, ou coisa do género).
É uma estratégia muito bem organizada em vinte medidas que, quase no fim do tempo para a sua aplicação, estão com certeza aplicadas, como se pode demonstrar logo pela primeira medida: "Redução dos custos da energia".
Quem por acaso tenha ouvido de raspão a Senhora Ministra, no actual contexto, terá pensado que face às dificuldades de exportação de grãos da Ucrânia, trigo e milho, sobretudo, Portugal estava bem apetrechado, com uma estratégia, para substituir essas importações, independentemente da tal estratégia pretender aumentar a produção de arroz em 80%, 50% o milho e 20% os cereais praganosos.
Ou seja, uma modernização da velha ideia do "se não têm pão, comam brioche", agora sugerindo o bolo de arroz.
Com o jornalismo e o escrutínio que existe, a revolução é impossível e, quaisquer mudanças de regime, ainda que "em suaves prestações mensais", são igualmente improváveis.
À senhora Ministra basta acenar com uma estratégia nunca aplicada para nos tranquilizar a todos e garantir o voto dos que acham que "p'ra pior já basta assim".
Não foi fácil decidir-me pela publicação de “Casa de Abrantes, crónicas de resistência” numa edição de autor, usando os meus conhecimentos de marketing e recursos empresariais. Confesso que quando a obra se encontrava quase pronta ainda sonhei com uma edição comercial com distribuição nacional, pois publicada como uma “história de família” composta por crónicas biográficas pareceu-me que tinha um considerável potencial comercial. Enganei-me na primeira ideia e não no segunda para meu grande alívio. A resposta que obtive duma conhecida editora colocava o risco todo do meu lado, tendo me sido proposta a aquisição de um número de exemplares que nunca teria capacidade de vender se não pudesse ser eu a tratar da sua comercialização e promoção. O livro tornar-se-ia num luxuoso capricho do autor, que pagava a uma editora para obter patrocínios, designers e fotógrafos, organizar um grande lançamento e distribuí-los nas livrarias. Acontece que, salvo a distribuição nas livrarias, tudo mais é actividade ligada à minha profissão: comunicação e relações-públicas. Perante estes factos decidi-me a arriscar um considerável investimento e publicar o livro com os meus recursos. Uma edição de 450 exemplares bem catita. Tirando as maçadas e trabalhos, o retorno do dinheiro investido já está praticamente garantido e as vendas continuam, para meu grande alívio.
A terceira opção, provavelmente mais ajuizada, teria sido a de fazer préviamente uma recolha de fundos como a está a fazer o Henrique Pereira dos Santos com o projecto em co-autoria com Duarte Belo “Das Pedras Pão” (que grande título!). Veremos nas semanas que faltam se os apoios necessários são alcançados – o ponto de situação da emocionante campanha pode ser monitorizado aqui. Pelos trechos e imagens desvendadas parece um belo produto.
O que me parece importante realçar, é como, ao mesmo tempo que as distribuidoras arriscam cada vez menos em livros que não garantam grandes tiragens e autores da moda, está cada vez mais consolidado um mercado de auto-edição, à disposição dos autores, através do qual, com uma estratégia de marketing simples e distribuição por plataformas digitais se consegue fazer chegar aos públicos mais exigentes e informados bons produtos editoriais.
Dito de outra forma: confesso que iria sentir uma vaidade enorme de encontrar o meu livro “Casa de Abrantes, crónicas de resistência” nos escaparates da FNAC, da Bertrand, da Almedina ou até do Continente. Serve-me de consolação que esse livro seria substancialmente diferente, não tão bonito quanto aquele que se produziu com o meu gosto e a inspiração do Vasco Rosa. Que se pode encomendar e receber comodamente em casa aqui.
Um post do Museu da Paisagem, na sua página de Facebook, foi o empurrão que me faltava para fazer um post em que tinha pensado há uns tempos.
A propósito da campanha "Das pedras, pão", o Museu faz um post interessante sobre o mundo da edição de livros e dos custos associados, em especial em países com mercados pequenos, o que implica edições pequenas, o que implica um excessivo custo da produção, em cada exemplar (há economias de escala muito relevantes na edição de livros).
Na edição, tanto quanto parece a este leigo, há mundos muito diferentes, e vou deixar de lado o mundo da edição científica por uma razão simples: publicar, no mundo científico, é um fim que se esgota em si mesmo, quem escreve um artigo científico tem como objectivo vê-lo publicado, se alguém o lê ou não, não sendo indiferente, é uma questão marginal.
Claro que é melhor que seja lido que ignorado, tal como é melhor ser rico e bonito que feio e pobre, mas as coisas são o que são e, no caso da publicação de ciência, o que é relevante é se é publicado ou não.
Portanto, quem publica no mundo científico tem as vendas como um assunto não prioritário. Mesmo os donos das publicações científicas sabem que o seu mercado não está em quem lê os artigos, mas sim nas instituições que têm obrigação de disponibilizar os artigos a terceiros, mesmo que ninguém os leia.
Tenho quatro livros escritos (mais ou menos, tenho uma organização de textos dispersos que poderia ser um livro, mas que está para ali num canto), dos quais três publicados e um quarto em processo de publicação.
São todos pequeninos e são todos ensaios, não tenho imaginação nenhuma para escrever ficção, não tenho disciplina nenhuma para escrever livros técnicos canónicos, portanto escrevo ensaios quando me dá na cabeça escrever.
E é sobre a experiência da venda desses livros que é o post.
O primeiro livro que escrevi, "Do tempo e da Paisagem", com uma aguarela de Nuno Mendoça na capa de que gosto muito, escrevi-o porque sim.
Depois fui ter com um editor meu amigo e perguntei-lhe se queria publicar aquilo.
Disse-me que tinha gostado do livro (tinha-o lido de fio a pavio que nem sempre acontecia com os livros que lhe propunham publicar) e tinha todo o gosto em publicar, mas eu tinha de assegurar não sei quantos exemplares vendidos à cabeça.
Na altura não tinha dinheiro nenhum (como quase sempre) mas lá arranjei maneira de comprar os tais exemplares que viabilizavam a publicação e, a partir daí, empenhei-me em vender quer esses exemplares, quer muitos outros, embora o livro me servisse como uma espécie de cartão de visita profissional, em algumas situações, portanto ainda dei alguns.
Vendeu medianamente para viabilizar a edição - uma parte dos livros fui eu que os vendi, andando sempre com uma pasta com livros para vender, depois de ter lido que o Elvis Presley também vendia os primeiros discos no fim dos concertos - e passado algum tempo comprei, a preço de saldo, todo o resto da edição que ia para abate.
Ainda tenho para aí alguns, mas já não está nos circuitos comerciais, em que eu fazia o que tinha lido que Virgílio Ferreira fazia com os seus livros: quando encontrava um livro meu numa estante de uma livraria, desarrumava-o, para ficar com a capa à vista, em vez de ser mais um lombada no meio de muitas outras (fiz, farei sempre, isto com todos os livros meus que encontrar numa livraria, eu gosto é de vender).
O segundo livro, que na verdade nunca existiria se não tivesse publicado o primeiro, resultou de um projecto de uma associação de desenvolvimento sobre flora e coisas que tais, em que o coordenador desse projecto me pediu para expandir o capítulo do primeiro livro dedicado à relação entre alimentação e gestão da paisagem, aplicado à região em que o projecto se estava a desenvolver e chama-se "O gosto de Sicó". E tem na capa um belíssimo quadro do meu primo João Queiroz.
Gostei muito de escrever esse livro, aprendi imenso, andei por montes e vale a falar com centenas de pessoas, para além das outras componentes do projecto, com Luís Jordão e Antonio Alexandre.
O resultado é bastante frustrante para mim porque foi escrito e pensado como uma espécie de guia da região, deveria ter um mapa que a pessoa que se comprometeu a fazer nunca fez e a fotografia, servindo o propósito, não foi tratada com a seriedade que eu esperaria de quem se tinha comprometido a fazer.
Ao mesmo tempo é o livro em que tecnicamente está o mais interessante que escrevi sobre alimentação e paisagem.
Com o apoio do tal projecto e da associação de desenvolvimento, o livro foi publicado pelo mesmo editor (aí foi o projecto que assegurou a compra de um número de exemplares mínimo) e andou pelas livrarias.
Quando estava para ir para abate, a dita associação quis comprar grande parte do remanescente, eu comprei alguns, mas já não tenho nenhum exemplar, não o encontro no circuito comercial e tem sido difícil fazer com que dos livros que foram para a região, dois ou três me venham parar à mão.
Em rigor, uma vez assegurados os custos de produção nestes dois livros, as vendas eram lucro, chamemos-lhe assim, não havia grande estímulo para investir nas vendas a sério.
Vendeu-se dentro dos padrões para este tipo de livros, que é baixo (não sei bem, 400 ou 500 livros, qualquer coisa desse género).
O terceiro livro sai fora deste padrão, é um livro publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, vendido no Pingo Doce, enviado pela Fundação para as inúmeras bibliotecas do país e, ao fim de uns anos, continua a vender por ano o que os outros venderam em toda a sua vida útil (no primeiro ano vendeu quatro vezes mais que os outros).
Continua a ser um livro do mesmo tipo, um ensaio sobre couves e batatas, sem bonecos (o segundo tinha fotografia a preto e branco e receitas de cozinha de António Alexandre, o que fazia com que as livrarias o arrumassem na seccção de cozinha e não na secção de paisagem, geografia e coisas que tais).
Um livro do mesmo tipo - não é bem igual porque é um ensaio sobre a evolução da paisagem rural em Portugal (no continente) ao longo do século XX, feito a partir da minha tese de doutoramento (que assenta em mapas, gráficos e imagens, que eram vedados na publicação por opção editorial) - acaba a vender várias vezes mais que os anteriores, sobretudo porque o modelo de negócio é outro, assente numa fundação, é certo, numa fundação capitalizada, é certo, que publica muito poucos livros por ano, é certo, e que não tem na edição a sua principal actividade, é certo.
Mas as vendas desse livro têm uma coisa comum com os outros: eu vendi muitos em venda directa, por contacto directo com as pessoas, o que talvez indicie que os canais tradicionais têm dificuldade em fazer esse trabalho. O que é coerente com o facto das feiras do livro, em que as editoras e livreiros vão ter com as pessoas, em vez de esperar que elas entrem nos seus espaços, representarem uma percentagem de vendas brutal no negócio das editoras.
Neste quarto livro, por estar convencido de que para vender livros é preciso estar onde estão pessoas potencialmente interessadas - e não o pequeno grupo dessas que frequenta habitualmente livrarias - insisti na publicação via crowdfunding que, para este tipo de campanhas, funciona como vendas antecipadas por um canal on line.
A resistência a esta hipótese foi bastante razoável, com argumentos perfeitamente lógicos que, na verdade, me parecem espelhar um certo desconforto pela utilização de canais "populares" para a venda de "cultura" (e os meus livros até facilmente se podem classificar como cultura porque tratam todos da cultura de batatas e couves).
Os jornais já se deixaram dessas coisas e agora investem seriamente nos canais on line mas, aparentemente, as editoras, que têm todas canais on line, têm alguma resistência a sair da utilização dos canais on line como extensão dos canais clássicos e olhar para as vendas como a procura da pessoa certa, no momento certo, no sítio em que ela estiver.
Não é fácil, seguramente, custa dinheiro e outras coisas, mas a resistência que tenho encontrado, várias vezes, à utilização de canais populares, seja o crowdfunding, sejam outros, que saem fora das bolhas sociais em que nos movemos, parece-me que resulta, pelo menos em parte, dos editores darem como perdidos os leitores que compram livros, concentrando-se em modelos de apoio à edição de dispensam, ou reduzem a importância, dos leitores pagantes como fonte de sustentabilidade do negócio.
Eu não tenho soluções para este problema, nunca fui editor e portanto não conheço os meandros do negócio, mas a minha experiência de venda dos meus livros deixa-me a sensação de que seria possível fazer mais para ir à procura das pessoas que até compram livros, se tropeçarem neles.
António Costa precisava de dizer que tinha um desígnio socialmente comum e mobilizador para a legislatura de maioria absoluta, para contrariar a ideia, que se vai espalhando lentamente como a ferrugem que pode corroer o poder do PS, de que o único desígnio claro de António Costa é o de ter o poder centrado no PS (de preferência nele próprio, mas isso não é o essencial, é uma decorrência do desígnio de centrar o poder no PS).
Vai daí, sabendo que uma das linhas de corrosão mais complicadas é da dos baixos salários e da pobreza relativa em relação aos países menos ricos da União Europeia, escolheu dizer que temos de aumentar os salários em 20% e aumentar o seu peso no PIB.
Esta parte de aumentar o peso no PIB está na declaração que fez para entreter académicos e outras elites, na verdade o que vai sobrar da declaração são os 20% de aumento de salários na legislatura.
António Costa sabe que se a inflação andar pelos quatro por cento ao ano (é uma possibilidade), e ele estiver a falar de salários reais, então um aumento de 20% ao longo da legislatura é uma treta, porque a inflação come quase todo o aumento nominal dos salários.
Também sabe que existe actualmente alguma pressão para o aumento dos salários dada a escassez de mão de obra disponível, ou seja, 20% de aumento nominal dos salários é galinha.
António Costa conta, evidentemente, com a falta de escrutínio sobre o que diz e faz, para não ter os jornalistas a morder-lhe as canelas todos os dias para o obrigar a esclarecer se está a falar de salários nominais, e assumindo que taxa de inflação, ou de salários reais.
Haverá sempre algum escrutínio e por isso está lá em cima a referência ao aumento do peso dos salários no PIB, para lhe permitir dizer que é evidente que está a falar de aumentos tais que aumente o peso dos salários no PIB, dando uma resposta formalmente satisfatória, mas sem capacidade de comunicação para a generalidade das pessoas por ser matéria demasiado técnica.
O que ficará é a proposta de 20% de aumento dos salários, situação que provavelmente acontecerá (ou perto disso), ao longo da legislatura, faça o governo o que fizer.
Na prática é uma versão mais esperta do famoso cálculo do défice que o Banco de Portugal aceitou fazer a pedido do governo de Sócrates: com esse cálculo de um défice fictício, que Sócrates assumiu como referência, Sócrates conseguiu aumentar o défice, dizendo sempre que o estava a baixar e nós fomos todos (quase) atrás dessa pantominice.
Daqui para a frente, ao longo da legislatura, passaremos o tempo a usar os 20% como referência (em termos nominais), como se fosse um objectivo do governo e não uma mera decorrência do tempo, nas circunstâncias económicas que é previsível que venhamos a ter.
Como é habitual em António Costa, o que ele fez foi formatar a discussão para que não fazer nada pareça um feito digno de figurar nos Lusíadas.
E nós todos (ou quase), consciente ou inconscientemente, iremos outra vez atrás dessa pantominice, os mais avisados dizendo que António Costa não sabe ainda o que quis dizer, não pensou verdadeiramente no assunto, a generalidade das pessoas espantadas com o génio político de António Costa que, em condições difíceis, conseguiu garantir que os salários subiram 20%, ou perto disso - com um bocadinho de sorte, ainda acima disso - durante a legislatura.
Conheci o Padre João Seabra quando estudava na Católica. Dificilmente poderia alguém ser um Capelão tão extraordinário quanto ele. Não por ser de uma inteligência contundente ou ter uma cultura profunda e abrangente, mas porque ninguém poderia ser mais disponível e interessado pelos estudantes do que ele. Era uma presença quotidiana, incisiva, permanente, que marcou algumas gerações de Estudantes.
Outras das características do Padre João era a sua personalidade forte e exuberante e uma ortodoxia marcada, feita de inteligência e fé. Por tudo isso, ou era amado ou odiado, nunca ignorado.
Enquanto agnóstico assumido, não fui ignorado. Pelo contrario, tal como outros que não tinham fé, fui alvo permanente das atenções do Padre João. Entre longas conversas e alguns “chapadões”, não fui convertido, mas tornei-me um profundo admirador e amigo do Padre João, que teve a bondade de me casar. Ortodoxia sim, mas sempre preocupado com a inclusão e não com a exclusão. Ortodoxia sim, mas sempre pronto a acolher e a respeitar as diferenças, não a condena-las. Ortodoxia sim, não no ódio mas no amor.
A noticia da sua morte entristeceu-me muito. Pessoas como ele fazem falta, muita falta. Consola-me que a sua vida tenha sido esplêndida. Foi cedo, mas fez muito.
O curioso é que o que se esperava há algum tempo, a partida do Pe. João Seabra, soube dela com choque à hora do jantar de sexta-feira, na companhia de dois seus amigos de juventude, colegas de escola. As vidas dos outros quatro convivas nesse serão, também com a dele se tinham cruzado com mais ou menos intensidade - constatámos. A notícia caiu que nem uma bomba estúpida que estilhaçou a noite com silêncios, mas que não desfez aquela cumplicidade que não havemos de esquecer tão cedo. O que quero salientar é que talvez a mais importante característica do apostolado do Pe. João Seabra é ter marcado a vida de tanta, tanta gente. Dentro dum meio não anticlerical, e mais ainda no meio católico, não é grande originalidade ter-se convivido com o Pe. João Seabra, e esse convívio ter deixado marca, mais ou menos importante, quase sempre profunda. Pela minha parte gostava dos modos afirmativos, provocadores, como o Pe. João se exprimia. Gostava do seu radicalismo nos princípios gerais e da profunda generosidade para com cada individuo, e as suas circunstâncias pessoais. Evidentemente que essa relação compassiva inevitavelmente com o desenvolvimento pedia compromisso, indicava um caminho de radicalidade, que por vezes assustava o meu coração dividido e perdido no Mundo. Atraíam-me a sua erudição, a sua verve desenvolta e emotiva, aquela Fé apaixonada, sólida, por vezes arrogante, que fazia parecer ridículas as minhas hesitações e desconfianças no pedregoso caminho de entrega ao nosso Senhor que nos desafiava – e que ainda hoje percorro com custo. É dele a verdadeira soberania, custa a admitir. Se esse caminho do Pe. João foi algum dia custoso, admiro-lhe a maneira como digeria as suas dores, que só se percebiam quando via uma das suas ovelhas fraquejar. Que conhecia todas pelo nome. Era isso que eu dizia lá atrás: o Pe. João tinha uma capacidade inesgotável para gostar de muita gente ao mesmo tempo, cada um de forma única. Uma extraordinária imitação de Cristo. Durante os muitos anos em que o Pe. João liderou a paróquia de Santos e depois a da Encarnação acontecia-me uma coisa maravilhosa: de cada vez que, de propósito ou de passagem, sem avisar me decidia a visitá-lo, encontrei-o sempre – mas sempre. Com um enorme sorriso, a tratar-me pelo nome.
Consola-me também que tenha feito o início desse extraordinário caminho de vida com pessoas que admiro e com quem hoje convivo. Que tenha sido um monárquico militante, um homem preocupado com a sua pátria, com a sua “cidade”, um católico rebelde mas obediente - notável é a sua tese de doutoramento sobre o processo de captura da igreja pelo Estado no Liberalismo Monárquico, até à Lei da Separação de Afonso Costa, "O Estado e a Igreja em Portugal no início do século XX" - Principia, 2009. No fim foi sempre obediente, calando o desespero por esta obra inacabada e vacilante que é a Igreja de Pedro destes tempos dissolutos (terão sido certamente sempre assim, acredito), de que ele foi um alicerce firme, inquebrantável.
Imagino-o por estes dias lá em cima no Céu, ao lado dos maiores santos da História, em grande celebração e fortes gargalhadas, de braço dado com Jesus Cristo, tal qual como o imagino, nos seus tempos da juventude, quando os rapazes amigos, desavergonhados, exibiam as suas amizades no pátio do liceu.
Nós vamos a seguir, Pe. João.
Miguel Esteves Cardoso ocupa um lugar especial nos cronistas portugueses por ter desenvolvido uma técnica de crónica dificílima e, apesar disso, a aguentar, uns dias com piores resultados, uns dias com melhores resultados e alguns dias com resultados excepcionais, tão excepcionais que dificilmente se encontra quem consiga fazer o mesmo.
A técnica consiste em escrever sobre o quotidiano, como se o quotidiano de cada um de nós fosse universal: pega num assunto sem interesse nenhum para quase ninguém - por exemplo, a temperatura da água num determinado dia e numa determinada praia -, inventa um pretexto para dar uma dimensão de interesse geral ao tema e, depois, a partir de um ponto de vista assumidamente único, subjectivo e descomplexadamente frívolo, escreve primorosamente sobre o assunto, tornando a forma tão mais importante, que é irrelevante que o conteúdo não tenha interesse nenhum.
Bárbara Reis também ocupa um lugar especial nos cronistas portugueses.
Ontem, a ler a sua crónica "Cavaco Silva e o amor ardente", percebi finalmente o exercício a que se entrega e sua profunda originalidade.
Bárbara Reis faz exactamente o inverso de Miguel Esteves Cardoso.
Pega num assunto de interesse geral, neste caso, um artigo de Cavaco Silva que toda a gente leu, com excepção de António Costa, pega-lhe por um ponto de vista individual e irrelevante, neste caso um comentário da "Pipa", e discorre sobre o assunto de uma forma pueril, escolhendo dados e informações sem contexto que sirvam um discurso a que só esta esquerda que vive da caridade da família Azevedo, como é o caso de Bárbara Reis, dá importância.
Não vou estragar o prazer a quem queira ler essa longa crónica de Bárbara Reis, mas ainda não parei de rir sobre o contorcionismo a propósito da emigração e imigração, que culmina na conclusão de que, no essencial, Portugal e a Alemanha ocupam mais ou menos o mesmo lugar no coração dos migrantes de todo o mundo.
Bárbara Reis nunca deve ter reparado que, nos anos sessenta do século XX terão emigrado de Portugal um milhão e meio de portugueses, mas a população do país apenas diminuiu cerca de 300 mil habitantes, e que na última década a população portuguesa diminuiu dois terços desse valor (cerca de 200 mil habitantes), apesar do El Dorado que, na opinião de Bárbara Reis, Portugal é, com excepção dos anos da troica, bem entendido.
O espantoso é que uma jornalista que escolhe discutir um comentário anónimo sobre o artigo de Cavaco Silva, achando que é uma forma inteligente de contestar Cavaco, foi directora do Público anos e anos.
Ou então não, não é espantoso, é apenas o resultado de ter os incentivos errados a funcionar num jornal: o jornal vive da caridade da família Azevedo, não dos seus leitores, e portanto pode dar-se ao luxo de ter pessoas como Bárbara Reis como directores, mesmo que isso seja um desastre para a reputação do jornal junto dos leitores.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Palavra da salvação.
Comentário: Com a Páscoa, inicia-se a nova Criação. E, como na primeira, também agora o Espírito Santo está presente, a insuflar aos homens, mortos pelo pecado, a vida nova do Ressuscitado. Jorrando do Corpo glorificado de Cristo, em que se mantêm as cicatrizes da Paixão, o Sopro purificador e recriador do mesmo Deus, comunica-se aos Apóstolos. Apodera-se deles, a fim de que possam prolongar a obra da nova Criação, e assim a humanidade, reconciliada com Deus, conserve sempre a paz alcançada em Jesus Cristo.
Ontem passaram 100 dias desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Das brutais calamidades, das mortes e sofrimento humano contínuos já sabemos. O que não se sabe é como e quando poderão terminar.
Aparentemente nem a Rússia tem força para conquistar toda a Ucrânia, nem esta, de expulsar o invasor. As posições defensivas assumidas pela Rússia em Kherson, assinalam a sua incapacidade ofensiva em toda a linha. Mas também não há sinais de que a Ucrânia consiga aproveitar um sector relativamente desguarnecido para uma contra-ofensiva expressiva. Nos selvagens confrontos na frente do Dombas, são mais as vitimas civis e militares de ambos os lados, do que alterações significativas no terreno.
A Rússia sobrestimou as suas forças e subestimou a resistência Ucraniana e o apoio do Ocidente, é um facto hoje inquestionável. Mas como se sai disto?
A improvável substituição de Putin, poderia facilitar uma solução ou, pelo contrario, ser substituído pela facção ainda mais sanguinária que existe e tem força no Kremlin.
A Ucrânia entregar, por acordo, terra à Rússia, não parece ser uma solução. Já tinham, de facto, a Crimeia e parte do Dombas e não foi suficiente. Quanta terra pode realmente saciar o apetite russo?
Um cessar fogo, puro e simples, para permitir o regresso da vida e uma discussão mais ou menos consequente, nas actuais circunstâncias, não serve a Putin. Tem que mostrar resultados, que ninguém sabe quais são.
Certo é que a intensidade dos confrontos actuais são insustentáveis, a prazo, para Ucranianos, Russos, África e o resto do Mundo, durante muito mais tempo.
Uma solução, necessariamente má, acabará por chegar, seja a derrota total de um dos lados ou um mau acordo.
Nas últimas semanas houve alguma discussão sobre a forma como se escolhem juízes para o tribunal constitucional.
Acho óptimo que tenha havido essa discussão, acho péssimo que ela tenha nascido torta e pelas razões erradas, porque a forma como nasceu esta discussão é uma boa demonstração da fragilidade da nossa tomada de decisão em questões de interesse público.
Comecemos pelo princípio, a questão do aborto.
A questão do aborto só é simples para as posições do extremo: 1) quem acha que a vida começa na concepção, e portanto toda a interrupção desse curso é equivalente a qualquer outra interrupção do curso da vida, por definição ilegítima; 2) quem acha que o corpo é meu e um feto é o meu corpo, faço com ele o que entender (o que, não sendo a qustão central, corresponde a uma estranha espécie de alienação parental avant la lettre).
Para os outros, os que sabem que perder um feto de um mês não é sentido pela generalidade das pessoas da mesma maneira que a perda um feto de oito meses, ou que sabem que toda a construção social sobre a morte não se aplica da mesma forma a um feto que está a oito dias de nascer ou a uma criança que nasceu há oito dias, há um monte de dificuldades na discussão do assunto.
E para quem não quiser ignorar o peso que representa uma gravidez adolescente, não planeada nem desejada, na vida de uma mulher que vive nos suburbios pobres, depois de ter emigrado há pouco tempo para fugir da miséria de vida que tinha, ela ou os pais, na sua terra, condenando frequentemente esta mulher (e os seus filhos) à reprodução dessa miséria, com abandono da escola, entrada no mundo do trabalho não qualificado condicionado por horários de bebés e crianças, eventualmente sem rede familiar ou com rede social precária, não é fácil responder inequivocamente sobre a decisão de fazer ou não um aborto.
Até há muito pouco tempo, o catecismo da Igreja Católica - entretanto foi alterado - admitia a pena de morte em circunstâncias muito estritas, tão estritas que na verdade nunca poderiam ser cumpridas, no mundo actual. Mas admitia-a, numa demonstração de ponderação social do princípio de não interrupção do curso da vida que, frequentemente, está ausente na discussão do aborto por parte de muitos católicos.
Para o que aqui me traz, o essencial é que, para a generalidade das pessoas, tirando os extremos que citei, a questão do aborto é imensamente complexa por nela confluírem conflitos de direitos e dimensões sociais que são intrinsecamente irresolúveis, fora de cada caso concreto e de cada decisão concreta.
Pois bem, uma pessoa com visões fortes sobre o assunto, num dos extremos que citei, estaria a pontos de ser cooptada pelos outros juízes do tribunal constitucional.
O outro extremo reagiu da forma que se conhece, isto é, encontrando uma jornalista que se dispos a fazer de barriga de aluguer de uma intriga, como se ter ideias extremadas sobre esse assunto fosse uma coisa inaceitável.
Apesar de ter morrido e sofrido muito mais gente por causa dos que pensaram que a apropriação colectiva dos meios de produção era o caminho da felicidade da humanidade, parece que pensar isso, ou ter pensado isso num determinado momento, é muito menos perigoso para a sociedade que pensar que a vida é um valor inviolável que começa no momento da concepção.
O que se seguiu depois é, embora útil no resultado final de aumentar o escrutínio sobre a forma de como escolhemos o Tribunal Constitucional, uma floresta de equívocos.
Apareceram os académicos que se entretiveram a comentar o curriculum académico do candidato, como se isso tivesse uma importância por aí além para a escolha de um juiz do Tribunal Constitucional (Paulo Tunhas explica bem por que razão a questão do mérito académico transferida para outras esferas públicas é, frequentemente, um equívoco), apareceram as pessoas que clamavam pela escolha de pessoas íntegras, como se houvesse maneira de avaliar de forma inequívoca a integridade da actuação futura das pessoas (por exemplo, daquilo que eu conhecia de Fernanda Câncio, da solidez ética no jornalismo que lhe conhecia, nada me faria pensar que faria o triste papel que fez quando se tratou de um assunto que a afectava pessoalmente), apareceram as pessoas que deturparam, ou melhor, fizeram interpretações diferentes das minhas sobre o que teria escrito o candidato em determinada altura, etc..
Tudo isto porque o candidato em causa ousava pensar "erradamente" sobre um assunto em que muita gente acha que só há uma maneira aceitável de pensar.
Que a escolha de António Vitorino, um dirigente do PS, sempre alinhado com o PS no momento em que foi escolhido (o futuro veio demonstrar que depois de escolhido também, explica hoje Luís Aguiar Conraria no seu artigo no Expresso), não tenha suscitado tanta comoção como esta escolha, diz bastante sobre a forma como o escrutínio público em Portugal é frágil, muito frágil.
Note-se que numa audição pública na Assembleia da República, se a pessoa a ser ouvida mentir com quantos dentes tem na boca (já dei várias vezes o exemplo de João Bilhim, enquanto Presidente da CRESAP, ouvido nessa qualidade), não acontece nada.
Nem os deputados ligam nenhuma (mandei a todos os grupos parlamentares e a muitos deputados, penso que todos os que estavam nessa audição, a demonstração de um conjunto de afirmações falsas verificáveis, sobre a forma como funcionava a dita CRESAP, e ninguém ligou nenhuma), nem os jornalistas escrutinam os factos invocados nessas audições, nem qualquer cidadão tem mecanismos para suscitar a avaliação factual dessas declarações.
E, no entanto, provando-se que as entidades que têm de prestar regularmente contas na Assembleia da República mentem nesse contexto, e provando-se a mentira, parecer-me-ia do mais elementar bom senso que isso resultasse em demissão imediata e processo judicial por falsidade.
Ora se não é assim nisto, que é fácil, abre-se o campo para um tipo de escrutínio que não fortalece as instituições, antes as enfraquece: o tiro ao alvo discricionário, assente na manipulação das emoções que se expressam no espaço público (que são, como me parece evidente, uma questão de classe, raramente as emoções dos mais pobres e frágeis chegam ao espaço público. Só isso explica que, estando a aprofundar-se a dualidade dos sistemas de saúde e educação, se continuem a ouvir apenas os pontos de vista das classes dominantes sobre essa matéria).
Nessas circunstâncias, o escrutínio deixa de ser o escrutínio mediado pelos que têm a obrigação de representar os eleitores, para passar a ser o escrutínio dos árbitros informais que decidem o que pode ou não ser pensado.
E isso não augura nada de bom.
A ministra do trabalho veio -- sorriso alacre da inimputabilidade, olho brilhante dos entusiasmos vãos, modos nervosos das utopias desastrosas -- anunciar a semana de trabalho dos 4 dias. Que é a «vanguarda», que é «pioneira», que é uma iniciativa «líder a nível internacional», uma reforma progressista, ainda melhor que a semana de 35 horas, uma gesta enorme deste governo socialista enorme, sempre na vanguarda, sempre primeiro a colocar-nos em últimos.
Pergunta: o 5.º dia de trabalho não tem qualquer valor económico, ou então tem, e cortá-lo tem custos consideráveis? Perguntas ou respostas sobre isso é que não houve, pois talvez estragassem a lamentável festa. Houve perguntas sobre a demora do conselho de ministros que pariu a coisa. O que permitiu ao ministro da educação «explicar» que o governo é aberto e plural, a demora deveu-se apenas ao contentamento. Que a ministra logo confirmou, toda contente.
... Já alguém se lembrou de comparar a adesão ou o entusiasmo popular nos festejos do centenário da República portuguesa e nos 70 anos de reinado de Isabel II?
Em 2010, a 5 de Outubro (data do Tratado de Zamora, no qual foi reconhecido o reino de Portugal pelos demais da Peninsula), nós monárquicos, em Guimarães, fomos muito mais em número e espontaneidade do que em Lisboa os tristes do Poder, discursando sobre a herança de Afonso Costa.
Como se não bastasse, o novo museu em Lisboa. Com inauguração agora, quase diria, a distraír atenções postas no exito da Monarquia britânica. Um museu montado pela República a cavalo dos símbolos e preciosidades da nossa Coroa. Com Marcelo Bitaites a perorar sobre a Pátria, esquecendo a nossa identidade e cultura, as nossas tradições - a Nação de Portugal.
Onde o capelo e a barretina académicas de Bernardino, ou as charlateiras do Almirante Reis, onde o contributo deste regime para o brilho do novo museu?
Vou voltar à televisão. Talvez os periquitos especialistas em "isabelismo" já se tenham calado na sua gaiola... E parado de trocar os coches em que se desloca a Família Real por "charretes"...
Ontem, um conhecido comunista, Pedro Tadeu, escreveu uma coluna no DN em que basicamente aproveitou para desancar os EUA, o que em si não é novidade: as esquerdas mais radicais sempre detestaram os EUA e tudo o que representa. Não admira. Se a economia de mercado não funcionasse tão bem, ainda estaríamos no tempo da gloriosa União Soviética.
O anti-americanismo não é um exclusivo das “esquerdas”, é um sentimento que varre a maior parte da populações, independentemente das suas opções políticas.
Será caso para dizer que, se a maioria das opiniões corresponder à verdade, então os EUA são, sem duvida, um primo mais ou menos afastado do Diabo.
Se olharmos para a História, desde independência Americana, em 1776 até ao principio do século XX, há mesmo razões para considerar que os EUA se portaram, aos olhos de hoje, ao nível dos piores. Escravatura, genocídio dos indígenas americanos e o roubo das suas terras, invasão e conquista de imensos territórios do México (Texas, Novo México, Califórnia), imperialismos, como a doutrina Monroe ou as Filipinas ou a guerra Hispano-americana e a guerra civil que, observada à distancia, parece ser uma severa infracção à autodeterminação dos povos, na realidade, mais uma guerra de conquista fratricida, não muito diferente da actual Invasão da Ucrânia pela Rússia.
Dito isto, também é importante lembrar que, na Europa, só não falamos todos alemão, ou russo, graças aos Americanos. Da minha parte, só por isso, merecem o meu enorme agradecimento.
É verdade que os EUA protegem os seus interesses, como tantos, com tanta razão, afirmam, pelo menos desde Woodrow Wilson. Não entendo a surpresa, num mundo em que, há séculos, não se espera que Estados ( para não dizer indivíduos), sejam na sua essência altruístas.
É verdade que para os Europeus, desde o cancelamento da conquista do canal do Suez por Ingleses e Franceses, não se pode disfarçar a humilhação das outrora orgulhosas potências, que se apercebem que há um poder maior para além do seu. O que também não agrada ás outras nações e particularmente à Rússia e à China. Ninguém gosta de saber que não tem liberdade total, mesmo que contrariada por um poder maior relativamente benigno.
É verdade que se envolveram em guerras e outras maldades, algumas das quais profundamente estúpidas, como a segunda invasão do Iraque, ou que fracassaram num banho de sangue, como aconteceu no Vietnam. Já alguns, como os Sul Coreanos , muito podem agradecer aos Americanos, já que o seu combate ao comunismo ( por interesse próprio) lhes permitiu uma vida melhor. Todos os que beneficiaram da luta contra o comunismo, e foram muitos, em todos os continentes, deveriam ter um nível de apreço, que não sinto, mesmo que a sua fortuna tenha sido uma coincidência e de confluência de interesses com os EUA.
É verdade que os EUA estão longe de serem perfeitos quer na sua, por vezes desastrada actuação internacional, quer até no seu próprio modelo social. Continua, apesar de tudo, a ser o único país que tem uma lotaria de nacionalidade, como forma de permitir a uma multidão de candidatos a emigrar para os EUA, o poderem fazer legalmente, sinal que não será o pior dos mundos.
Acresce que nunca, um tão grande poder económico e militar foi tão contido, ( com eventual excepção da China imperial, há séculos) no aproveitamento da sua força, face á desproporcionada fraqueza da grande maioria dos outros países.
Entristece-me, isso sim, que outros, como os Europeus, não assumam nem as responsabilidades, nem os compromissos, nem os custos, para não precisarem de continuar a estar gratos aos Estados Unidos, preferindo a sua submissão clandestina e os seus protestos meio surdos, muito mais baratos e confortáveis.
A todos os antiamericanos, convido a criar as condições para serem realmente livres, independentes, iguais e não piores do que os EUA. Porque, na verdade, estão sobretudo a protestar consigo mesmos.
Há pessoas que desafiam as leis da normalidade. O Sr. Louçã é um dos seus expoentes, infelizmente por más razões, pela negativa. Nunca vi ninguém com tanta lata e desonestidade como ele, nem conheço adjectivos suficientemente fortes para o descrever.
Evito ler o que escreve, já que fico sempre irritado, mas por vezes não me consigo conter e leio algum texto dele, o que serve sempre para me lembrar porque o considero detestável. Ontem, ao ler as “gordas”, deparei-me com um titulo que poderia ser usado por muita gente, nunca por Louçã: Os talentos já fugiram, queriam que ficassem?
Fiquei na duvida. Teria Louçã perdido a cabeça e gabar-se , justamente, ter contribuido activamente para a emigração dos talentos, ao negar-lhes um futuro em Portugal? Proporia, à soviética, a proibição de emigração dos jovens com mais potencial? O que um dos mais vocais críticos da meritocracia e de um mercado livre e dos seus consequentes salários dignos, teria a dizer? Não resisti e li o artigo. Afinal Louçã não enlouqueceu, é só mais do mesmo. Os culpados são as empresas Portuguesas, o pequeno e o grande capital e o seu vício, que as empresas estrangeiras que contratam os nossos talentos não devem ter, por baixos salários.
É esta tarde pelas 18,30 que o Instituto Português de Heráldica realiza uma sessão extraordinária dedicada à apresentação do meu livro “Casa de Abrantes, crónicas de resistência”. Esta apresentação com entrada livre, que decorrerá no Museu do Carmo em Lisboa, estará a cargo do respectivo prefaciador, o Chanceler do IPH, Carlos Bobone, e pelo revisor científico da obra Daniel Protásio.
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