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As sanções internacionais são sinais importantes mas por norma pouco eficazes. Cuba, com mais de 60 anos de sanções, Irão, Venezuela, Coreia do Norte, são exemplos de que sanções não fazem cair regimes autocráticos estabelecidos. Quem realmente sofre são as populações subjugadas, não os membros da autocracia dominante, o cerne do regime, que se pretende sancionar.
As sanções à importação de petróleo por parte da UE, são particularmente ineficazes, já que os custos que se pretendem infligir são da mesma ordem dos custos em que se incorrem. Nem a Europa vai consumir significativamente menos, nem a Rússia vai deixar de exportar a sua quota na produção mundial. Depois de uma perturbação inicial, no final apenas os custos de transporte vão aumentar para todas as partes ( importadores e exportadores).
O mais importante sinal das novas sanções ao petróleo, não são as consequências económicas para a Rússia é a confirmação de que a Europa está disposta a sofrer para combater agressões à ordem internacional.Acredito existirem formas mais eficazes e baratas de o fazer.
As declarações de Kissinger, de que a Europa devia exigir paz com perda de território da Ucrânia, levantaram considerável alarido.
É intolerável verbalizar um pensamento tão imperialista, de que a Europa, os EUA, a Rússia, a China ou outra “potencia”, condicionem o destino de um país soberano, tal como acontece sempre.
É pouco popular reconhecer a realidade, de que a Ucrânia não terá capacidade de recuperar militarmente o território perdido desde 2014 e o território que perderá nesta guerra, como deveria acontecer num mundo ideal.
É irritante que o mal compense, que Putin, consiga realizar os seus intentos, apesar de sabermos que um fim feliz, só acontecem sempre em filmes cor de rosa.
É revoltante que, apesar de tudo, não esmagar um mal com poder nuclear, seja uma jogada mais prudente do que inequivocamente errada.
Pode ou não concordar-se e aceitar o que diz, não se pode negar que Kissinger tem 99 anos mas continua lúcido.
Na Sexta-feira, na coluna da Oficina da Liberdade no Observador, escrevi sobre eucaliptos.
É um texto comprido que, com certeza, me valerá mais algumas medalhas como vendido aos interesses.
Logo de início cito algumas referências do movimento ambientalista e digo, sobre elas "nenhum deles, tanto quanto sei, estudou ou escreveu uma linha de um artigo científico relevante sobre os efeitos ambientais da produção de eucalipto".
Eu bem tive o cuidado de escrever "relevante", mas mesmo assim fizeram-me chegar uma observação com um artigo científico em que Jorge Palmeirim participa, que "mostra que os impactos sobre os artrópodes são grandes", ou seja, não seria verdade que Jorge Palmeirim não teria escrito uma linha sobre os impactos dos eucaliptos.
Saltando por cima do facto de eu ter lá posto "relevante", fui, naturalmente, ler e estudar o tal artigo, fazendo umas notas de leitura que me parece que tornam evidente como a crítica científica à produção de eucalipto pode ser cientificamente pobre e, no caso deste artigo, no limite da fraude científica, para ser brando, mesmo quando resultam de um artigo com co-autoria de um académico prestigiado como Jorge Palmeirim.
Comentários sobre “LOW MACRO-ARTHROPOD ABUNDANCE IN EXOTIC EUCALYPTUS PLANTATIONS IN THE MEDITERRANEAN”
Primeira frase do abstract “Exotic plantations of Eucalyptus are replacing large areas of extensive agroecosystems throughout the Mediterranean basin.” Esta frase é duplamente falsa. É falsa porque a plantação de eucaliptos não se espalha pela bacia mediterrânica, como se pode verificar facilmente pela distribuição da espécie e explicar ainda mais facilmente conhecendo as exigências ecológicas das espécies de eucalipto interessantes para a produção industrial, e é falsa porque a expansão de eucalipto não se faz pela substituição de extensas áreas de agro-sistemas extensivos, mas sim essencialmente pela substituição de matos e pinhais, o que pode ser verificado facilmente pelos dados de evolução da ocupação do solo, quer pelas metodologias usados no COS, quer pelo inventário florestal.
Segunda frase do abstract: “A comparison of the abundance of ground macro-arthropods in some of major types of traditional land uses in southern Iberia (cork oak woodlands, olive groves, fallow fields, vineyards, and riparian vegetation) revealed that Eucalyptus plantations held the lowest abundances for most groups of arthropods”. Pelas razões expostas acima, o desenho experimental deste artigo é absurdo, porque os eucaliptais não substituíram estes sistemas, mas matos e pinhais. Ou seja, as conclusões que podem ser tiradas sobre um desenho experimental como o descrito é apenas de que os eucaliptais estudados são menos biodiversos que os sistemas referidos. Isso não diz nada sobre o impacto da expansão dos eucaliptais porque não existe, a não ser marginalmente, substituição desses sistemas por eucaliptais.
Terceira frase do abstract: “This indicates that the expansion of Eucalyptus plantations in the Mediterranean is very negative for ground arthropods, and for the many species of vertebrates that depend on them as prey”. Para que esta conclusão fosse válida, era preciso um passo: demonstrar a substituição dos sistemas analisados por eucaliptal, uma hipótese altamente improvável. Se não houver esse passo, a conclusão é claramente abusiva e ilegítima.
O artigo começa, na sua introdução, por uma frase absolutamente falsa, e central para o desenho experimental e para as conclusões do artigo: “Throughout the Mediterranean basin exotic Eucalyptus plantations are replacing large areas of native woodland and traditional extensive agroecosystems, such as olive grove or cork oak woodland. Esta frase é assente numa referência: Carnus, J.M., Parrotta, J., Brockerhoff, E., Arbez, M., Jactel, H., Kremer, A., Lamb, D., O'Hara, K., Walters, B. (2006): Planted forests and biodiversity. – Journal of Forestry 104: 65-77.
Esta referência, no entanto, não diz respeito a alterações de uso do solo, ou avaliações de tendências de uso de solo em Portugal, quaisquer que sejam, mas à relação entre a plantação de povoamentos florestais e biodiversidade a uma escala mundial.
É portanto necessário ir saber em que medida o artigo citado suporta a afirmação de que os eucaliptais em Portugal (ou na Península Ibérica) se expandem à custa de vegetação pristina, e mosaicos agrícolas tradicionais extensivos, com olivais, sobreirais ou montados de sobro, vinhas, etc..
De facto, a referência em causa afirma: “For example, fast-growing species can replace native forest tree species because of their natural invasive potential, as has been observed, e.g., with eucalyptus in northwestern Spain and Portugal”.
Esta delirante afirmação (a expansão de eucalipto nas regiões citadas faz-se por plantação, e não por um processo de disseminação natural decorrente do carácter invasor da espécie) não é baseada em coisa nenhuma.
Mesmo que se admita que decorre da referência imediatamente anterior, MACK, R.N., D. SIMBERLOFF, W.M. LONSDALE, H. EVANS, M. CLOUT, AND F.A. BAZZAZ. 2000. Biotic invasions: Causes, epidemiology, global consequences, and control. Ecol. Appl. 10:689 –710., sobre espécies invasoras, o facto é que essa referência apenas inclui uma menção a eucaliptos, mas na África do Sul.
A única referência que poderia suportar uma premissa central do estudo é delirantemente falsa e não está fundamentada em nada que possa ser verificado de forma independente.
Ou seja, uma afirmação central em todo o artigo - as plantações de eucalipto substituem mosaicos tradicionais agroflorestais extensivos mediterrânicos - não tem qualquer suporte nas referências bibliográficas citadas e é factualmente errada, como se pode verificar na bibliografia que existe sobre evolução do uso do solo em Portugal, totalmente ignorada no artigo em questão.
A verificação de que a expansão de eucalipto em Portugal é feita com ocupação de áreas anteriormente ocupadas por matos e pinhais é sistemática e esmagadora em todos os estudos feitos sobre o assunto sendo incompreensível a hipótese usada no artigo (The objective of this study is to evaluate how the abundance of ground macro-arthropods inEucalyptus plantations in southern Iberia compares with that of some of the main land uses that they are replacing, namely cork oak woodlands, olive groves, vineyards, riparian vegetation and fallow farmland.”), sobretudo quando não é suportada em coisa nenhuma que não sejam referências bibliográficas genéricas sobre florestações, biodiversidade e invasoras no mundo que, ainda por cima, não dizem o que o artigo diz que dizem.
Como se não bastasse, o estudo é feito na região de Évora, que manifestamente não é uma área de plantação e expansão de eucalipto típica em Portugal, isto é, o estudo não só se faz comparando tipos de vegetação que não são substituídos por eucaliptos, como se faz com base num eucaliptal situado numa zona que não é especialmente favorável à produção de eucalipto.
Ainda assim, o próprio estudo admite que a baixa presença de artrópodes se pode dever a vários factores, incluindo o modelo de gestão (eucaliptais intensamente geridos, com idades em torno dos seis a sete anos numa área marginal para a produção da espécie) e não à presença de eucaliptos.
O que é coerente com a generalidade dos estudos sobre os impactes ambientais do eucalipto: o que é relevante é o modelo e intensidade de uso, não a espécie em causa.
Infelizmente, o estudo não se debruça sobre diferentes povoamentos de eucalipto, com diferentes características, para avaliar em que medida os resultados decorrem de modelos de gestão ou da presença da espécie.
O que é tanto mais estranho quando a primeira referência bibliográfica do estudo aponta exactamente no sentido de que eucaliptais, em zonas mais próxima do seu óptimo ecológico, apresentam resultados de presença de artrópodes semelhantes à sua envolvente natural.
Resumindo, da análise citada, a única conclusão possível, que não é nenhuma novidade, é a de que parte da academia e do sistema de publicação científica é permeável ao contrabando de ideias não fundamentadas, desde que sejam simpáticas para os preconceitos de grande parte desses académicos.
É claríssimo que este artigo, se apresentado a uma revista centrada em evolução do solo e matéras conexas, seria provavelmente recusado porque a premisa base que é usada para as suas conclusões é uma ideia que qualquer investigador que trabalhe com o tema sabe ser completamente falsa, demonstradamente falsa.
Como não sei se alguém para além dos autores, dos revisores da revista e de mim, alguma vez leu este artigo, a sua publicação não tem grande importância.
A sua única importância é fazer parte de uma vasta bibliografia do mesmo tipo que permite que outras pessoas, sem lerem o artigo integralmente, e sem verificarem as referências, continuem a dizer que há um estudo que mostra que a expansão do eucaliptal tem grandes impactos sobre os artrópodes.
Até pode ter, não é a minha área de trabalho, não me parece provável que tenha, mas uma coisa é absolutamente certa: não são estudos destes, mesmo publicados em revistas com revisão por pares, que o demonstram.
O artigo, como muitos outros do mesmo tipo, limita-se a cumprir a sua função de guerrilha ideológica.
Conclusão do santo Evangelho segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
Palavra da salvação
Comentário: A glorificação de Jesus começou na manhã de Páscoa, quando, triunfando do pecado e da morte, nos alcançou a vida plena. Porém, a subida de Jesus ao Céu, descrita de modo humano, de harmonia com a concepção antiga do universo, é a posse definitiva e total da glória, que já Lhe pertencia, pela Paixão e Ressurreição.
A glorificação de Jesus é também a glorificação da humanidade. Com efeito, pelo perdão dos pecados, prometido a todos os povos, nós participamos da vida do Ressuscitado, tornamo-nos membros do Seu Corpo místico, destinados à mesma glória da Cabeça. Reconfortados por esta certeza, fortificados pelo Espírito Santo, colaboremos para que a obra de Cristo atinja todos os homens.
É nada que me diga respeito. Social-democrata, sim, mas sem partido, absolutamente dono da minha liberdade. No entanto, não andando por aí o meu amigo Tino de Rans, é ao PSD que confio o meu voto normalmente. Segui, por isso, a "campanha eleitoral" com algum interesse.
Acresce, gostaria de vê-lo uma força política capaz de ombrear com os socialistas e, se possivel, acabar com essa central de negócios e restaurar a democracia.
Mas não sei se lá chegaremos. De Luís Montenegro, nada mais poderemos aspirar senão a uma retórica mais contundente no Parlamento. Acrescem as suas conotações com a Maçonaria, algo que (entre muitas outras considerações em que não me alongo) o aproxima demasiado da dita central de negócios.
Jorge Moreira da Silva é um rapaz novo (aliás, um famalicense, e só isso já conta) dotado de conhecimentos muito mais profundos no domínio do Ambiente - hoje fundamentais - com experiência ministerial e uma seriedade e serenidade sem dúvida convenientes. Deixou, em definitivo, o seu alto cargo na OCDE, por troca com esta incógnita partidária que merece vencer.
Mas ambos incorreram no mesmo erro de se acharem necessitados de carimbar o seu passaporte democrático demarcando-se do Chega. Que nos interessa o Chega, um partido de contestação somente, agora com oportunidade de dizer umas verdades e umas alarvidades na AR? O Chega é inofensivo, a Esquerda e até a menina Sousa Real (e a suas menstruais preocupações) não são. Por um Portugal a sério, sejam sociais-democratas e vejam lá se chegam ao Governo enfim!
Embora tivéssemos planeado isto para começar no dia 1 de Junho, a verdade é que esta campanha de subscrição pública para a publicação de um ensaio sobre paisagens marginais está no ar.
Não vou passar o tempo a usar este blog para apoiar a campanha, mas aqui e ali, far-lhe-ei referência.
É um ensaio meu, a edição é bilingue, mas do que mais gosto do livro é mesmo daquilo a que eu poderia chamar o "ensaio fotográfico" do Duarte Belo.
O Duarte é um fotógrafo de paisagens único em Portugal - é o dono de um arquivo que deve andar pelo milhão e meio de fotografias georeferenciadas de fotografias de paisagens de Portugal - com vários livros publicados e, neste caso, não ilustrou o meu texto com fotografias, o que fez foi ler o que eu escrevi e escolher fotografias que valem por si e, no conjunto, fazem um ensaio paralelo ao meu.
Gosto francamente dessa parte fotográfica do livro. Do resto não falo por ninguém ser bom juiz em causa própria, claro.
O Museu da Paisagem é quem edita o livro, mas a minha insistência no carácter bilingue (há muito pouco ensaio sobre paisagem portuguesa que seja acessível para quem não sabe português) e a qualidade fotográfica tornam a publicação do livro muito cara, razão pela qual estamos a fazer esta campanha.
Há duas maneiras principais de a apoiar: fazer um doação (que, no caso dos quinze euros, corresponde a comprar um exemplar do livro) ou divulgar a campanha (que, para nós, é um apoio tão importante como o anterior).
Numa entrevista a Maria Filomena Mónica publicada no Expresso da semana passada a propósito de mais um seu livro autobiográfico desta vez intitulado “Duas Mulheres” que promete desenterrar segredos da sua mãe e avó, chama-me a atenção a resposta à pergunta se “a família é um lugar estranho?”.
Dá para imaginar o terror de boa parte da família Mónica com o que aí vem. Não porque a instituição familiar seja de facto um “lugar estranho”, repleto de segredos perversos, mas porque a análise às insignificâncias que sucedem na vida familiar, o mais das vezes dependem da imaginação e preconceitos de quem os observa – ou seja, duma interpretação subjectiva. Ora, MFM não é uma mera “vizinha” a revelar inconfidências domésticas na mercearia do bairro, precede-lhe uma autoridade que concede muito peso às suas interpretações. Aliás, a entrevistada começa por responder à questão que, “do ponto de vista sociológico não tenho uma amostra significativa”. Sendo a sociologia provavelmente a “ciência” mais inútil de todas as pseudociências, a resposta é no mínimo honesta. E depois, se for um facto que “a família é um lugar estranho”, que solução melhor temos nós para não deixar o individuo inteiramente à mercê do Estado?
Tenho muito respeito pelo trabalho historiográfico de MFM, nomeadamente por duas obras suas de âmbito biográfico que tive o gosto de ler, uma sobre Dom Pedro V e outra sobre Eça de Queiroz. São trabalhos sérios, numa escrita desempoeirada como é seu estilo, emocionalmente envolvida com os seus “personagens”. Depois, não concordando com boa parte das suas análises, também toda a vida segui com interesse as suas crónicas nos jornais, principalmente as do Expresso. Claramente MFM é uma personalidade do nosso tempo que deixa um legado invejável.
Mas nunca tive curiosidade de ler “Bilhete de Identidade” e não me atrai minimamente a leitura deste seu novo livro. MFM sempre me pareceu dona de um ego incomensurável e de um narcisismo ribombante, dando-se a si própria e à sua subjectividade demasiada importância. Este seu traço causa-me até alguma vergonha alheia, confesso. E a opinião pessoal com que dá resposta à pergunta do entrevistador se “a família é um lugar estranho” é paradigmática de uma perturbação psicológica contra o catolicismo e a família tradicional que talvez lhe merecessem uma abordagem psicanalítica, com a ajuda de um profissional: “posso afirmar que a família é um lugar estranho, e que os países mais católicos tendem a fechar-se sobre si e a guardar os segredos a sete chaves, dando a aparência de grande harmonia interna que é uma fachada hipócrita”. De facto, falta a MFM uma amostra significativa para chegar à verdade, e dá ideia de que o seu olhar está condicionado por algum grave trauma.
Num tempo em que se fala tanto da importância da privacidade dos indivíduos, não nos precipitemos em julgamentos categóricos. Que MFM encontre conforto entre os seus familiares e amigos neste difícil ocaso da sua vida que ninguém merece, são os votos deste cristão católico e indefectível partidário da instituição familiar que se assina,
(imagem, daqui)
Já todos ouvimos histórias de como a actual geração de jovens estava estragada por mimos materiais de pais que lhes dão o que têm e não têm e de como existe uma geração “perdida” por falta de educação e valores. Nunca liguei muito a estas previsões, tão constantes como desmentidas pela evolução, ao longo de séculos .
A noticia de ontem no Observador, de uma filha de 21 anos que sai de casa, pela sua pobreza, e consegue uma pensão até aos 25 anos da mãe que vive com um salário mínimo, deixou-me de boca aberta. Tenho a esperança que haja qualquer motivo não relatado que possa explicar o inexplicável.
Existirem monstros, é uma constante da vida, mas que sejam apadrinhados pela sociedade e a sua justiça, parece-me francamente demais.
Fala-se muito da frequência de “massacres” nos EUA e tende-se a associar tal ao elevado número de armas disponíveis. Eu não nego, nem a elevada frequência desses “massacres”, nem a associação à profusão de armas existente.
No entanto, penso que tal, por si só, não explica plenamente o fenómeno. Nos EUA mata-se bastante, quase cinco vezes mais que a taxa de homicídio intencional que existe por cá. No entanto, à escala mundial, esses dados que são maus não são péssimos. São melhores do que os de alguns países que não associamos à violência como Cabo Verde ou a Lituânia. E são muito melhores do que os dos países realmente violentos como a Venezuela, onde se mata dez vezes mais, ou El Salvador que mata vinte vezes mais.
A quantidade de armas de fogo disponíveis será relevante, mas se pensarmos que no segundo pais com mais armas de fogo, a Suécia, se mata pouco, ao ritmo de Portugal, então coloca-se a dúvida de uma correlação directa. A Suíça também é um dos países com mais armas nas mãos de habitantes a a taxa de homicídios é inferior à nossa.
Eu acredito que o problema nos EUA passe pela posse de armas, mas o transcenda, é uma verdadeira cultura das armas. Se um jovem ganha um prémio escolar não é impossível que a recompensa seja uma arma. Fora das zonas costeiras as armas serão um dos temas de conversa de eleição. A quantidade de clubes e de elementos de sociabilização eu passam pelo tiro é impressionante. As armas, em muitos casos, tornaram-se uma sublimação freudiana. E se em El Salvador os assassinatos serão em grande parte cometidos na óptica do crime organizado, os “massacres” os EUA ocorrem quase como que encenação quase religiosa de carácter que roça a transcendência.
Será difícil eventualmente retirar grande parte das armas em circulação nos EUA, mas será ainda mais difícil retirar as armas do imaginário e culto americano. Isso passa de pais para filhos de forma quase atávica.
O meu pai gostava de barcos, a minha mãe gostava de livros. Eu gosto de barcos e livros. Se lá por casa os gostos andassem à volta das armas, a minha vida poderia ser bem diferente. E não penso que melhor.
Recentemente, num post anterior, alguém concluía que se deveria ter passado qualquer coisa entre mim e Ribeiro Telles para eu o omitir quando falo das minhas influências profissionais.
Já quando escrevi o meu primeiro livro, "Do tempo e da paisagem", um dos meus irmãos quase se ofendeu pessoalmente comigo por, das várias pessoas que refiro e a quem tiro o chapéu pelo que me ensinaram sobre paisagens, não constar Ribeiro Telles, de quem, aliás, fui aluno.
Hoje, nos cem anos do seu nascimento, tenho um bom pretexto para dizer o que penso sobre o assunto.
Eu tenho, sempre tive, um enorme respeito por Ribeiro Telles, quer pelo papel único e insubstituível que teve no estabelecimento da minha profissão - o de enraizar socialmente e trazer para o centro da decisão política o essencial do corpo doutrinário da arquitectura paisagista -, quer pelas suas qualidade pessoais notáveis, de que sobressaía, sem esforço, o seu encanto pessoal e o genuíno interesse pelas pessoas e pelo mundo à sua volta.
Numa das últimas vezes em que estive com Ribeiro Telles, ia eu a correr pela Rua de São José (ou melhor, na sequência de nomes de ruas e largos que ligavam a entrada de Lisboa por São Sebastião, ao seu centro, ainda hoje pontuada aqui e ali com tanques para o gado beber), atrasado para o que ia fazer, quando vejo Ribeiro Telles a ler o jornal, do lado de dentro do vidro do café.
Detesto chegar atrasado, já ia atrasado, mas Ribeiro Telles era Ribeiro Telles, de maneira que parei, voltei atrás, entrei no café cuja entrada estava separada da zona das mesas por uma parede, e fui cumprimentá-lo.
Como sempre, perguntou-me o que andava eu a fazer, escolhi falar-lhe do que andava a fazer com a Montis, a comprar terrenos para gerir com objectivos de biodiversidade, imediatamente perguntou com o sorriso trocista (sem ponta de desdém, nunca o vi tratar alguém do alto da burra, e como eu gostava de ser capaz de dizer o mesmo de mim) se não era para especulação, e estivemos um bocado à conversa, porque ele fazia perguntas, verdadeiramente interessado nas respostas.
Sempre teve esta curiosidade, talvez a característica pessoal mais evidente para mim, mesmo quando era um professor a olhar para projectos de alunos dos primeiros anos, fazia perguntas porque queria perceber as razões de cada um, antes de, se fosse o caso, as desfazer com um comentário sarcástico, mas nunca agressivo.
Nada disto, no entanto, me permitiu, nunca, alinhar no culto de São Gonçalo, sempre tivemos muitas divergências, desde muito cedo, a mais radical das quais a minha incompreensão pela facilidade com que assumia como suas as ideias dos outros.
Durante anos esta característica de Ribeiro Telles chocava-me, mais tarde percebi que não havia maldade nesta forma de ser - estou convencido de que era mesmo uma forma de ser, não uma opção - mas Ribeiro Telles era, provavelmente, a pessoa que mais rapidamente percebia, em qualquer circunstância, o que era essencial e acessório em tudo o que lhe passava próximo, adoptando o que lhe parecia certo como seu, de forma intuitiva e natural.
Há muitos anos, num comboio, encontrei, por acaso, um amigo comum, mais da minha idade que da de Ribeiro Telles, que me disse, divertido: emprestei-lhe meia hora o "Small is beautifull" e à noite ouvi-o num comício a integrar politicamente, e bem, e certo e com rigor, as ideias do livro como se fossem suas, naturalmente suas.
Quem, como eu, leu praticamente tudo o que escreveu Caldeira Cabral, teve aulas de ordenamento com Viana Barreto, ouviu Álvaro Dentinho distendido em mesas de café, teve uma longa relação profissional e de amizade com Teresa Andresen, etc., etc., etc., sabe perfeitamente que quase nenhuma das ideias que são atribuídas a Ribeiro Telles nasceu com ou pela mão de Ribeiro Telles, mas sim pela mão de outros à sua volta e pela sua capacidade de absorver sem esforço, e integrar politicamente, o que ouvia (mais que lia) desses seus próximos, sem que isso colidisse com a amizade que este grupo foi mantendo entre si, pela vida fora.
É verdade que era praticamente impossível alguém zangar-se com Ribeiro Telles, desde que o conhecesse pessoalmente.
O melhor exemplo talvez seja mesmo o do Jardim da Gulbenkian (mas isso é verdade para o continuum naturalle de que nasce o corredor verde de Lisboa, para a REN, para as hortas urbanas, para o conceito de paisagem global ou total, etc., etc., etc., tudo coisas que se encontram escritas por outros, estudadas por outros, fundamentadas por outros, formalizadas por outros, antes de Ribeiro Telles as transformar em realidades socialmente enraízadas), provavelmente o único jardim que toda a gente consegue citar como exemplo da obra de Ribeiro Telles.
Esse jardim tem dois projectistas, Viana Barreto e Ribeiro Telles e uma das suas grandes virtudes é o facto de ser a síntese das qualidade de um e de outro.
Viana Barreto está na equipa que ganha o concurso para o projecto da sede da Gulbenkian e é, inegavelmente, quem está desde o início no desenho do jardim, cujo plano geral, mesmo que em ante-projecto, é inteiramente da sua autoria. Se a documentação não fosse suficiente para atestar este facto, a forma como os espaços são projectados, a mais extraordinária contribuição de Viana Barreto para o projecto de arquitectura paisagista, parece-me a mim, que não sou especialista em jardins, é próxima da que encontramos noutros jardins e parques projectados por Viana Barreto.
Mas quando se vai passar ao projecto e construção, com prazos muito curtos, Viana Barreto chama Ribeiro Telles que tinha acabado de bater a porta à Câmara de Lisboa, por terem recusado um trabalho seu (e de Caldeira Cabral), impondo uma visão do projecto de jardins de que Ribeiro Telles discordava por considerar, com razão, ultrapassada.
E o jardim da Gulbenkian tem a maestria de desenho que encontramos noutros projectos de Ribeiro Telles.
O que, para mim que, insisto, não sou especialista em jardins, torna o Jardim da Gulbenkian um marco que se ultrapassa a si mesmo, é exactamente esta síntese da maestria na definição de espaços de Barreto e da maestria de desenho de Telles.
Dizer isto é diminuir Ribeiro Telles?
Não me parece, dizer isto é defender Ribeiro Telles de um futuro julgamento da história, quando a irmandade de São Gonçalo já cá não estiver para alimentar o mito, e a investigação histórica tornar evidente o que hoje não parece ser: praticamente todo o corpo de ideias a que Ribeiro Telles deu rosto e projecção social e política, não são ideias de Ribeiro Telles, são ideias de um grupo de pessoas que, frequentemente, são tratadas de forma bastante injusta pela irmandade de São Gonçalo.
E não é pouco, nem ninguém o teria conseguido fazer a não ser Ribeiro Telles, enraizar social e politicamente um corpo doutrinário complexo e, frequentemente, contra-intuitivo.
O facto de não devermos a Ribeiro Telles o que a irmandade de São Gonçalo diz que devemos, não retira um átomo à importância do que lhe devemos, que é muito e não deixarei de lhe agradecer.
Agora que os seres portadores de útero finalmente beneficiam da redução de IVA nos produtos de higiene associados a essa condição, parece-me tempo de se olhar para os portadores de barba e reduzir o IVA nas lâminas de barbear.
Depois, temos que continuar diligentemente a corrigir os grandes focos de desigualdade dos portadores.
Ainda com a memoria da segunda grande guerra, o poder militar parecia ser um exclusivo de quem tinha armas pesadas, aviões, grandes navios e tanques, muitos tanques. A guerra da Ucrânia está a confirmar que a infantaria está de volta.
As armas ofensivas sofisticadas encontraram armas defensivas, muito mais baratas, à altura. A guerra de movimentos, em confrontos de exércitos razoavelmente equipados, parece mais difícil, volta a guerra de posições.
Para além dos misseis Stinger e afins, que já tinham demonstrado a sua eficácia na guerra do Afeganistão, os sistemas antiaéreos sofisticados evoluíram de tal forma que, não tornando redundante a aviação, a tornam num actor secundário demasiado bem pago. Três meses depois do inicio da guerra, a Rússia, apesar da sua esmagadora superioridade, não consegue operar com eficácia visível na Ucrânia. A excepção teórica à supremacia das defesas aéreas, os aviões furtivos, não fazem parte do arsenal Ucraniano, enquanto os Russo aparentam não ter stocks de misseis inteligentes de alta precisão, lançados a grande altitude e distancia, que lhes permitiriam fazer a diferença no terreno. Aviões antigos, como o F16, estão, por isso, cada vez mais limitados nas funções que desempenham com eficácia, enquanto aviões realmente úteis, como o F-35, custam cerca de 100 milhões por unidade, sendo o preço de cada míssil exorbitante. Já os drones, que custam uma pequena fracção do que custa um avião, dão boa conta de si, sabendo-se que os muitos que serão abatidos, têm uma relação custo-eficácia muito superior à da aviação convencional. Apenas a falta de domínio aéreo total pela Rússia, permitiu que a Ucrânia tivesse resistido como resistiu.
Também a época dos grandes navios, em confrontos entre nações bem armadas, parece estar no fim. O afundamento do Moskva, apesar de dotado de sistemas de defesa anti-mísseis, supostamente sofisticadas, faz repensar a lógica de construir armas que custam biliões e que podem ser afundadas com armas que custam uma ínfima parcela.
Nos carros de combate, apesar de as diferenças não serem tão gritantes, demonstram que Bazucas sofisticadas ( cada míssil custando perto de 80.000 euros) , são capazes de os deter, mais uma vez, com grande prejuízo económico para quem investe mais. O tempo actual parece ser de munições caras e armas baratas.
É por todas estas razões que a guerra na Ucrânia se transformou numa guerra próxima da I grande guerra, em que a infantaria e as trincheiras, regressaram em grande força.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, só tem um lado menos negativo: lembra o valor da paz e do direito internacional.No dia a dia, só assistimos à brutalidade característica da guerra, apimentada por atrocidades sem justificação. Uma vez aberta a caixa de pandora, os horrores não têm fim.
Hoje, em todos os jornais, lemos a condenação à pena perpetua de um soldado Russo que assassinou um Ucraniano. Acompanhei o processo e aparentemente a culpabilidade do réu, que confessou o crime sem sinais de ter sido coagido, não é questionável.
Apesar de tudo, acredito ser muito imprudente que países em guerra julguem directamente soldados ( ou civis ) do outro país. No mínimo, poderemos ficar com duvidas do equilíbrio e justiça das condenações e penas aplicadas ou da real verificação das garantias dos direitos dos acusados. Nem a Rússia nem a Ucrânia são membros do tribunal penal internacional que serve exactamente o propósito de garantir isenção ao julgamento destes casos.
Não espero qualquer equilíbrio nos julgamentos que a Rússia venha a fazer no futuro próximo, nomeadamente quanto aos soldados do regimento Azov e, se a prisão perpetua, poderá já ser questionável, não é impossível que a pena de morte seja permitida na Rússia.
Provavelmente não alteraria nada no plano pratico, mas acredito que a Ucrânia deveria ter pedido a intervenção do tribunal penal internacional neste caso, mesmo que a mesma fosse negada.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».
Palavra da salvação.
Comentário: Ao terminar o primeiro discurso de despedida, após a Ceia, Jesus promete aos Seus discípulos o Espírito Santo, que lhes fará compreender, perfeitamente, a Sua mensagem, os ajudará a viver o Evangelho em todas as circunstâncias e os manterá em comunhão com Deus e os irmãos, de modo a gozarem sempre aquela paz, que em si encerra todos os bens messiânicos.
Seguros da presença do Espírito Santo na Igreja e nas suas almas, os cristãos podem, portanto, manter-se confiantes e alegres, por maiores que sejam as transformações por que passe a sociedade e por maiores que sejam as dificuldades que a Igreja conheça.
Estive, na semana passada, no lançamento do livro do João Távora que tem tido aqui no blog várias referências.
Depois disso li-o, com proveito.
Será bom, para quem o leia, estar atento ao sub-título, é um livro de crónicas, não é um livro de história, embora sejam crónicas históricas.
E, desse ponto de vista, é um livro que vale a pena.
Tenho ideia de que no prefácio o meu cunhado Carlos (fica feita a declaração de interesses, Portugal é muito pequenino) diz que não é habitual termos o ponto de vista das classes dominantes e, sem bem percebi a ideia, estou de acordo com ela, embora não exactamente com a forma como é descrita a ideia.
Parece-me que a história é, por definição, o ponto de vista dos vencedores, ou seja, dos que estiveram do lado certo da história, sendo o lado certo uma categoria literal - os que ganharam e se tornaram dominantes - e não uma categoria moral, o lado do bem.
O que me parece mais interessante no livro, e é assim que leio a tal passagem do prefácio, é mesmo que estas crónicas da história são feitas a partir do ponto de vista dos que estiveram sempre, sempre, do lado errado da história, no sentido do lado que perdeu sempre, independentemente da sua eventual razão.
E mais interessante ainda é o facto destes perdedores saberem que são perdedores, que provavelmente serão perdedores no futuro e, ainda assim, persistirem no "erro", porque aquilo que entendem representar é mais do que aquilo que são.
Já nos anexos do livro, aparece a chave de leitura, que aliás João Távora refere na conversa que ocorreu no lançamento do livro: "A minha situação financeira no momento permitia-nos ausentarmo-nos de Portugal por algum tempo, pois tinha uma determinada quantia em ouro num banco. É verdade que se o movimento [se] gorasse ou demorasse muito ver-nos-íamos em sérios embaraços seguidos fatalmente da ruína total. Se ficássemos, porém, a ruína viria igualmente, embora mais demorada, pois o meu rendimento não me chegava de maneira nenhuma para viver, e como estavam as coisas públicas não via maneira de o aumentar de maneira nenhuma. A ter der cair na miséria, antes fazê-lo com honra".
Por coincidência, foi no mesmo dia em que li esta parte do livro que apareceu nos jornais a notícia de um estudo sobre os jogadores de raspadinha, maioritariamente dos estratos mais pobres, e que gastam rios de dinheiro neste jogo de azar, fazendo de Portugal, de longe, o país da Europa em que mais se gasta, per capita, neste jogo.
Será eventualmente absurdo, mas para mim foi imediata a semelhança de atitudes, quer das elites, quer do povo, depositando todas as suas esperanças num futuro melhor na roda da fortuna, como se apenas as circunstâncias definissem o futuro, independentemente dos esforços individuais, um bom indicador de como está (e provavelmente sempre esteve, em maior ou menor grau) avariado o elevador social em Portugal.
O que estas crónicas têm de interesse tanto diz respeito a quem gosta de ver a história de vários pontos de vista, como de quem gosta de olhar para o que se passa à sua volta para procurar entender de onde vem e para onde vai o mundo em que vive.
Eu acho que o livro valeu bem os vinte euros que paguei por ele.
Para além do transtorno para os clientes, parece não haver qualquer noção do prejuízo para o ambiente que significa uma greve do metropolitano de Lisboa. Os mesmos que fomentam estes conflitos querem acabar com o transporte individual na cidade. Já o ministro Pedro Nuno Santos assobia para o lado, como se não fosse nada com ele.
A oposição ( maioritária) na CML, aprovou um medida que visa diminuir em 10 quilómetros todos os limites de velocidade em Lisboa. Um estudo recentemente vindo a publico (BA&N Research Unit) , vem revelar que não só os lisboetas vão pagar em tempo esta medida, como também vamos aumentar as emissões de Co2. A ser verdade, como pode muito bem ser, para que foi instituída esta medida? Porque só há estudos à posteriori?
Um grupo de cidadãos escolhidos aleatoriamente em Lisboa, de um pequeno grupo de 2300 cidadãos que se candidataram, empossados enquanto uma experiência de um conselho de cidadãos. Entre outras medidas propostas, destaco a redução em 84% da entrada de carros em Lisboa ( até 2048). Uma medida que a ser assumida, a não haver uma revolução previa no modo de vida e logística, poderá ser um pesadelo para quem viva numa cidade deste tipo, ou até uma hecatombe urbana.
Políticos ou cidadãos, deviam ter cuidado com o que desejam.
PS: Considero muito interessante a medida de um conselho de cidadãos. Percebo a escolha dentro daqueles que se candidatam. Receio que, com este procedimento de eleição, o conselho se transforme, em larga medida, num espelho das opiniões de activistas de causas raras e/ou extremas.
Mais uma corrida, mais uma viagem.
Ontem o Instituto Nacional de Estatística publicou os dados provisórios sobre as causas de morte em 2020. (aconselho a leitura integral, não se fiquem pelo resumo, apesar dos resumos do INE serem, de maneira geral, bastante bons. Deveriam, aliás, ser estudados nas escolas de jornalismo).
Logo de manhã tinha visto que um jornal fazia a sua grande manchete com a afirmação de que a Covid era a segunda causa de morte em Portugal em 2020, e o Público fez também um destaque a dizer o mesmo, até porque esse é mesmo o destaque que o INE faz.
Só que na notícia sobre o assunto, do Público, aparece um gráfico em que a Covid aparece muito atrás dos maiores grupos de causas de morte.
Entre doenças isoladas, a Covid aparece em segundo, com um pouco mais de metade das mortes por AVC, mas se se agruparem as doenças do aparelho circulatório, as 7 125 mortes Covid (entendidas como "óbitos em que a causa básica de morte, ou seja, a doença que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram à morte") já parecem menos impressionantes face às 34 593 deste grupo. O mesmo acontece com as 28 393 mortes por cancros e mesmo as 11 266 mortes por doenças do aparelho respiratório (nas quais não se inclui a Covid).
Uma coisa é fazer uma parangona a dizer que a Covid é a segunda causa de morte no país, outra seria fazer uma parangona dizendo que a Covid foi responsável por 5,8% das mortes no país.
Note-se que 5,8% de mortes no país não é pouco e, mesmo que se optasse por ter em atenção a diminuição de mortes por doenças respiratórias que ocorreu, nomeadamente pneumonias, argumentando que parte das mortes Covid ocorreriam de qualquer maneira com outras doenças, como os dados parecem sugerir, não deixa de ser relevante uma doença responsável por 5,8% das mortes no país.
Estas hipóteses são especialmente relevantes se se tiver em atenção que a idade média da mortalidade Covid é semelhante à idade média global e por outras doenças, o que sugere que a Covid matou essencialmente pessoas que estavam fragilizadas ao ponto de qualquer perturbação poder desencadear "a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram à morte".
Pois bem, para os profetas das novas crenças, nada disso conta.
"Estes dados mostram que a covid-19 não era uma simples gripe e que as medidas [restritivas] fizeram sentido. ... A covid provocou um excesso de mortalidade e pode ainda ter tido um impacto no excesso de mortalidade por outras patologias ... Algumas pessoas com AVC, que precisavam de uma actuação imediata, terão acabado por não ir às urgências ... Entretanto, a vacinação "veio mudar completamente este paradigma, mas não podemos ainda deixar o vírus circular livremente".
Esta argumentação extraordinária assenta numa afirmação sem qualquer base nos dados em causa: "as medidas [restritivas] fizeram sentido".
A gestão da epidemia até pode ter sido a mais adequada possível, mas os dados do INE sobre causas de morte não o confirmam como, pelo contrário, até sugerem que talvez não tenha sido bem assim.
Em primeiro lugar, foi responsável por 5,8% da mortalidade, sendo 64% dessa mortalidade nos meses de Novembro e Dezembro, ou seja, com a forte sazonalidade tradicional da mortalidade do país e sem qualquer relação com as medidas tomadas ao longo do ano.
Em segundo lugar, a Covid parece vir a substituir mortalidade por outras causas, é o que os números sugerem.
Em terceiro lugar, uma pessoa que precisou de assistência e não a teve adequadamente , não é uma consequência da Covid, é uma consequência das medidas tomadas, tanto mais que existe hoje informação bastante sólida que demonstra que a pandemia não veio aumentar a prestação de serviços de saúde mas, pelo contrário, houve uma diminuição da prestação de cuidados de saúde nesse ano.
Em quarto lugar, a idade média da mortalidade covid é semelhante à da mortalidade geral (é, até, ligeiramente superior), o que sugere que a Covid não seria um problema de saúde pública que justificasse as medidas adoptadas, na forma como foram adoptadas.
O que nos leva à ultima frase de Tato Borges: há alguma demonstração de que alguma vez tenhamos tido alguma influência na liberdade do vírus circular?
O facto é que os dados de mortalidade Covid sugerem que não: ou bem que conseguimos gerir a circulação do vírus, e fomos tão incompetentes que a Covid foi a segunda causa de morte; ou bem que (como é provável) não temos grande influência nisso e o melhor é deixarmo-nos dessa fantasia.
A começar por ter os jornalistas a pensar um bocadinho, em vez de telefonarem às pessoas que conhecem.
Soberania alimentar é o que chamamos à protecção dos mercados internos de alimentos, quando somos nós a fazer, e muita gente acha isso óptimo e uma boa política a adoptar.
Proteccionismo alimentar é o que chamamos à protecção dos mercados internos de alimentos, quando são os outros a fazer (como agora, que a Índia proibiu a exportação de trigo) e muita gente acha isso horrível e um egoísmo intolerável.
"A questão cerealífera: o trigo" é um dos textos mais interessantes que li sobre estes dois assuntos - a nobre soberania alimentar e o execrável proteccionismo alimentar - , muitíssimo bem escrito, muitíssimo bem argumentado, e procurando responder a esta pergunta, que consta tal e qual da tese em causa: “De modo que este país da vinha e da oliveira, das frutas magníficas e das flores preciosas, podendo oferecer nos grandes mercados, com antecedência de bastantes dias, os produtos mais caros e mais raros, de maior procura e consumo, vive agarrado à miséria da sua cultura de cereais. Porque não a abandonará?”.
Uma das coisas interessantes sobre esta tese é a de que é a tese de um académico que está a prestar provas para entrar a Universidade de Coimbra, por volta de 1916, se não me engano, António de Oliveira Salazar, cujo regime, mais tarde, é conhecido por ser responsável pela fortíssima protecção à produção nacional de cereais a que se chamou "Campanha do trigo".
Como de costume, as coisas não são assim tão simples.
A "Campanha do trigo", em grande parte copiando a "Batalha do pão", de Mussolini, não é uma invenção de Salazar, ou do Estado Novo, foi lançada por Linhares de Lima, ainda no tempo da Ditadura Militar que precedeu o Estado Novo, e a tomada de poder por Salazar.
Para complicar, essa campanha do trigo na verdade era uma evolução do que resultou da Lei da Fome, de Elvino de Brito, a legislação proteccionista da cultura de cereais que foi aprovada em 1899 (tinha alguma legislação precedente no mesmo sentido) que é exactamente o objecto da tese de Salazar.
O nome pelo qual ficou popularmente conhecida a legislação de Elvino de Brito é muito esclarecedor: a protecção à produção de cereais nacionais, como forma de combater a entrada de cereais mais baratos vindos do Novo Mundo, resultou, como seria de esperar pela teoria económica, em pão mais caro para os consumidores e ineficiência produtiva por parte do sector.
Salazar é um feroz crítico dessa política - devo dizer que o que mais me espantou na tese de Salazar é o facto da crítica ser, essencialmente, liberal, que é coisa que Salazar nunca foi - e parece ter existido uma tentativa de desmantelar o proteccionismo à lavoura, por parte de Salazar, logo depois da segunda guerra mundial, tentativa que Salazar faz abortar para não perder o apoio da lavoura ao regime.
De uma forma ou de outra, Salazar, o académico, tinha razão: viveríamos muito melhor usando as nossas vantagens para vender caro os nossos produtos no mercado internacional, comprando barato os cereais estrangeiros, em vez de persistirmos na cisma de produzirmos o que comemos.
Um desvio para dizer que quando fiz um doutoramento sobre a evolução da paisagem rural em Portugal, ao longo do século XX, este assunto era tratado e havia um capítulo a que eu queria chamar, ironicamente, o triunfo de Salazar, referindo-me ao académico e ao perído de adesão à União Europeia em que que foi desmantelado, e bem, o que restava do sistema de protecção à produção ineficiente de cereais. Disseram-me que talvez a academia não estivesse preparada para aceitar teses com títulos desses. Ri-me, encolhi os ombros - queria era despachar aquela porcaria - e mudei o nome do capítulo.
Voltando ao assunto, até pode haver quem, perante um cenário de potenciais rupturas de cadeias de abastecimento, pretenda erguer barreiras ao comércio internacional de alimentos (como aliás faz, excessivamente, quer a União Europeia, quer o Estados Unidos, e muitos outros, embora de forma muito mais mitigada do que pretenderiam os fisiocratas que falam de soberania alimentar).
Convém é ter bem presente que a lei da fome não se chamava assim por acaso: o controlo administrativo de preços e as barreiras ao comércio, pagam-se, quase instantaneamente, em escassez e carestia.
O principal fermento das revoluções, como penso ser do conhecimento comum.
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