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Em democracia todos podem ter a sua opinião e defender o seu ponto de vista. È uma das suas grandes vantagens. Já aceitar que alguém com as “opiniões” de Alexandre Guerreiro, continue com posições em cargos sensíveis, já me parece delirante.
É preciso um socialista, daqueles que não tem lugar no partido, para denunciar a situação e exigir alguma compostura institucional.
Bem haja Francisco Assis
PS: onde esteve a oposição democrática?
Temos assistido a movimentos sísmicos nas bolsas de petróleo. Não porque vá haver menos petróleo do que antes da guerra, mas apenas por incerteza. Mesmo que a Europa deixe de consumir petróleo Russo, ele irá ser vendido a outro pais que, por sua vez, deixa de comprar a outro, que fica com oferta para a Europa. No meio desta confusão, os custos de transporte vão aumentar, os do petróleo, em si, estabilizarão em função da oferta estabelecida pela Opep.
Não há falta de petróleo no mundo nem vai haver. Apenas o eterno jogo dos interesses entre produtores ( organizados num cartel) e consumidores. Apenas no ajustamento das rotas entre produtores e consumidores, irão acontecer perturbações, muitos nervos e picos de aumento de preço, para além dos previstos. No fim, o petróleo vai ficar mais caro, apenas pelo efeito dos custos de transporte. A Rússia vai continuar a vender, provavelmente com desconto ( menos clientes possíveis, mais custos de transporte) e a Europa continuará a ter todo o petróleo de que precisa, mais caro, até à próxima crise de disciplina da Opep que faça as cotações cair de forma acentuada.
É por isso muito útil a libertação de reservas de Petróleo, que poderão estabilizar os preços do mercado, permitindo ao mercado reencontrar o seu equilíbrio.
Já o caso do gás é mais complicado. Não basta desviar um super-petroleiro de um porto para outro: não há infra-estruturas que permitam, nos próximos anos, substituir o gás Russo por outros fornecedores ( que existem) . É também um problema real para a Rússia, porque não conseguirá desviar a sua produção para outros consumidores, também por falta de infra-estruturas. O gás vai subir e provável e erradamente será racionado na Europa, enquanto a Rússia leva um rombo nas suas finanças durante uns anos.
Li, com espanto, um ministro Alemão fazer uma proposta revolucionaria: baixar a temperatura das casas para 15 graus, entendido como o enorme sacrifício dos alemães para se poder dispensar o gás Russo. Serão alguns anos de adaptação e de maiores custos, mas tudo somado, com mais ou menos camisolas, o Ocidente vai sobreviver sem grande dificuldade.
É inevitável, seremos mais pobres nos próximos anos, mas não muito. Mais preocupante é o fenómeno de inflação, que apesar de tudo será transitório. Grave mesmo são as já certas e prováveis amputações ao comercio mundial.
Só quando perdemos o que considerávamos garantido é que daremos o verdadeiro valor à globalização. A retirada da Rússia do comercio Internacional não é, por si, um maremoto. A vaga histérica geoestratégica que se adivinha, já desenhada nos tempos do Covid, vai fazer muitos estragos. Do 8 vamos passar ao 80. Tornando, também, a China, menos dependente do seu comercio, o que poderá levar a outras e mais graves consequências.
A guerra na Ucrânia , é a caixa de pandora do inicio deste século.
Li um dia destes uma crítica ao modelo de Governo que integra superministros, referindo Valente de Oliveira ou Pina Moura, nos governos de Cavaco e Guterres, como exemplos de como correu mal.
Francamente a organização dos governos é um assunto que me interessa relativamente pouco - acho sempre que os governos são muito menos importantes que o que pensam os seus membros - mas ao olhar para os três nomes citados no tal texto, Valente de Oliveira, Pina Moura e Mariana Vieira da Silva, não pude deixar de sentir algum incómodo.
Eu fujo como o Diabo da cruz do reaccionarismo associado ao "antigamente é que era bom" e expressões do género, fazendo um esforço para racionalizar o facto de ser eu que estou, hora a hora, mais velho e com mais desesperança, o que me leva a olhar para o que se passa hoje com olhos diferentes daqueles que usava para ver o que se passava ontem.
Mas mesmo com todo esse esforço, não há como não reparar nas diferenças de história de vida anterior ao facto destes três serem superministros.
Dos três apenas tive contacto pessoal directo com Valente de Oliveira, que foi uma das duas ou três pessoas que, lendo o livro que escrevi sobre a evolução da paisagem rural ao longo do século XX, tiveram curiosidade em conversar comigo. Do que resultou um almoço muito simpático em casa de um amigo comum que se encarregou de criar as condições para essa conversa, mas isto já foi muitos anos depois de ter sido um super ministro, já numa fase de total afastamento da vida política.
Admito que este almoço não esteja a influenciar a minha opinião sobre a comparação da experiência de vida prévia destes três super ministros.
O que para mim está em causa não é qualidade de cada um destes três nomes, tenho mesmo dificuldade em ter opinião sobre a qualidade de servidores públicos de cada uma destas três pessoas, mas há um facto objectivo inegável: ninguém conhece qualquer vida profissional de Mariana Vieira da Silva fora das paredes do partido socialista e suas metástases no Estado e afins. E, como se não bastasse, para afunilar ainda mais a sua experiência de vida, a sua casa de família era já uma espécie de secção do PS, tendo passado directamente do ISCTE para os meandros dos governos do PS, sendo adjunta aos 27 anos (sim, eu sei que antes trabalhou para as união das mutualidades, contratada por um notório militante do PS, mas o que é isso se não mais uma metástase do PS).
"Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes".
Caiu muito mal o discurso de tomada de posse do novo Presidente da Assembleia da República. Conquanto fosse previsivel, num regime fracturante como é o republicano.
Mas vamos admitir que Augusto Santos Silva, devido a um eventual excesso de cansaço, se confundiu e fez uso da palavra como se de uma aula de apresentação se tratasse, enunciando o seu programa lectivo. No qual o professor traçou logo as linhas por que a turma teria de se pautar - em obediência ao seu pensamento, às suas imposições e ao respeito devido aos rigores presenciais e à pontualidade depois do toque da campaínha no final do recreio. Bem como aos limites impostos às opiniões dos discentes.
O tema: o ódio vs. a liberdade; o patriotismo como contraponto do nacionalismo, num mero aparato ideológico-conceptual. Porquê? Para quê? Estigmatizando quem?
Preconceituosamente, sem dúvida. Mas atingindo o seu objectivo, ou não fosse o pateta do André Ventura enfiar o garruço e logo reagir. A legislatura augura do melhor...
Augusto Santos Silva acaba de ser eleito Presidente da Assembleia da República. Ficou para a história o duplo mandato mais descochavado do aludido cargo, permanentemente escorregando cadeira abaixo, o de Ferro Rodrigues.
Sucede-lhe alguém mais hirto, fisionomicamente um misto de Himmler e de Beria, um político que se deliciava a «malhar na Direita». Palavras suas, de Santos Silva.
Oxalá confira dignidade à sua função que é, apenas, a da segunda figura do Estado. Não sou de superstições mas o facto é as coisas começaram mal. Erros na votaçao, repetição desta, listas de deputados com os nome a não baterem certo. Gargalhadas no hemiciclo, os parlamentares da República riam-se de si mesmo, da sua inoperância e dos seus serviços.
E a dita, empedernida e com o seu sempiterno barrete frígio na cabeça, a esfera armilar na mão como qualquer jogadora de bowling, ali quieta, calada, velhota e completamente incapaz de dar respostas à Nação.
(Voltemos à televisão, que a tarde promete e há momentos de menor masoquismo.)
A resistência Ucraniana não parece ter sido em vão. O pior cenário, o fim de uma Ucrânia soberana e de facto independente parece estar afastado. Poucos, poderiam acreditar numa resistência militar, numa união popular tão extraordinária como aconteceu na Ucrânia que dissipou quaisquer duvidas, a quaisquer observadores, sobre a sua razão de existir. Putin, parece, não vai escalar a guerra, conformou-se. Não porque não tenha o poder para arrasar completamente a Ucrânia, mas porque já percebeu que os custos associados seriam provavelmente superiores aos seus benefícios.
Não nos enganemos. Subsiste a necessidade de salvar a face e , sem ela, não haverá paz. Será impossível que assim não seja e Putin sobreviva. Às vezes há resultados surpreendentes.
O caso mais espantoso que conheço da História foi a guerra dos Boers. Um conflito militar inovador que trouxe pela primeira vez a guerra de guerrilha e os campos de concentração. No final a Inglaterra "venceu", não sem antes garantir indemnizações de guerra aos vencidos!
Não creio que assim aconteça neste caso. Infelizmente acredito que os ganhos de guerra tenham que ser mais evidentes. E que partes da Ucrânia sejam de alguma forma anexadas. Apesar da destruição cruel , das mortes e das dificuldades futuras, a Ucrânia escreveu uma brilhante pagina de luta pela liberdade de uma Nação.
Helena Matos, no Observador, ontem, faz a pergunta que interessa à minoria que está inquieta com a forma como o país está a evoluir: "Como é que se sai da Situação?".
O problema central é que a larga maioria das pessoas não querem sair da Situação, não porque achem que o país e a sociedade estejam pujantes, tenham dinamismo, criem esperança, mas porque têm medo dos riscos associados à mudança, a qualquer mudança.
Quando o que se tem está no limite do aceitável, o medo de mudar é muito maior porque qualquer desvio negativo nos faz passar de uma situação gerível, mesmo que seja medíocre, para uma situação difícil, eventualmente desesperada.
Talvez por isso preferimos discutir se o governo tem mais ou menos mulheres, mais ou menos sucessores de Costa, se Pedro Adão e Silva deve ser contado nos independentes ou no PS, em vez de discutir se o governo é bom ou não e se os governantes, cada um por si, representam satisfatoriamente o que seria a esperança de uma vida melhor.
Note-se que este medo de mudar é transversal, na sociedade, não é o facto do PS se ter transformado no Estado, e o Estado no PS, que é a dificuldade em sair da Situação, é que os outros partidos - os seus militantes - têm medo que a coisa piore.
No Bloco a única coisa que os militantes querem é que a situação não piore, no PC a única coisa que os militantes querem é que o partido não morra, no PSD os militantes já demonstraram, à saciedade, que não querem correr qualquer risco.
Nas franjas, o CDS está a ver se não se extingue por falta de objecto, o Chega está a ver como consegue manter um discurso de protesto sem que se note muito a sua inconsequência e na Iniciativa Liberal fala-se para uma sociedade que não quer a Situação, mas continua a ser um nicho que também não sabe como "sair da Situação".
Quanto tempo vai durar este bloqueio social que desemboca no actual bloqueio político?
Não faço ideia, não tenho ideias de como se poderia aumentar a velocidade de saída da situação e nem sequer vale a pena contar com o jornalismo, desesperadamente assustado com a perda de emprego, influência e investimento no seu próprio sector.
O politburo do PS a que chamamos governo, aplaudido pelos rolhas que há anos defendem todas as direcções do partido, seja qual for a sua situação, podem estar tranquilos por muitos anos, parece-me (a esperança é apenas teórica: o futuro nunca é aquilo que hoje pensamos que venha a ser).
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».
Palavra da salvação.
Comentário: Na parábola do filho pródigo está expresso todo o itinerário do pecador, que, pela penitência, regressa à comunhão com Deus. Da morte à vida; é precisamente este o movimento de todo o Mistério Pascal. A parábola põe em relevo sobretudo o amor, paciente e sempre acolhedor, do Pai, de Deus nosso Pai. Por isso, a esta parábola melhor se poderia chamar a parábola do Pai misericordioso.
Não há qualquer evidencia de que a imposição de sanções tenham grandes efeitos práticos no fim de conflitos, atitudes ou mudanças de regime. No entanto são usadas, mesmo quando impõe custos a quem as lança. Há uma razão válida que as justificam.
As sanções são normalmente um golpe no comercio internacional. O mundo fica amputado e, por isso, os ganhos de comercio de todos é diminuído. O que significa basicamente a confirmação da bondade do comercio e relações internacionais e o empobrecimento global resultante da sua limitação administrativa.
Nenhum regime, aceita que o sofrimento que é imposto à sua população altere as suas grandes causas, legitimas ou não. Parece pois que estamos simplesmente a impor sofrimento a todos, sem qualquer beneficio. Não é verdade.
O poder de dissuasão de futuras sanções, antes de um regime ultrapassar linhas vermelhas, aumenta proporcionalmente em função da dimensão e consequências das sanções usadas em casos anteriores, que por sua vez aumentam em função dos sacrifícios de quem impõe sanções está disposto a aceitar.
As tremendas sanções que foram impostas à Rússia e aos seus dirigentes, não impede um fim mais rápido ou mais satisfatório da Guerra da Ucrânia. A violência das sanções, que terão pela sua importância surpreendido o regime de Putin, não são eficazes para reverter acções no actual conflito, o que seria uma humilhação perigosa para a sobrevivência do regime.
As sanções a Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, Irão, não fizeram cair esses regimes ou alterar as suas praticas. Apenas lhe criaram mais dificuldades ao impor um nível de vida horrível ás suas já sacrificadas populações. É o povo, não os dirigentes, que verdadeiramente sofrem. Revoluções que depõe regimes insuportáveis, não são fáceis nem têm acontecido de molde a justificar as sanções.
Tudo somado, parece que as sanções não produzem efeitos, impõe sofrimento sobre populações inocentes, auto infligem sofrimento a quem as aplica, mas não alteram nada. Porque então a sua imposição?
As sanções têm um efeito dissuasor, não para o passado mas para o futuro. Alguém que pretendam ultrapassar o que é humanamente considerado razoável por um conjunto importante de economias, pensará duas vezes antes de avançar, sabendo das consequências que esse acto pode provocar.
A imposição de violentas sanções, por parte de mais de 50% da economia mundial, disposta a sofrer violentamente pela sua imposição ao “infractor” é um poderoso inibidor de acções que a possam justificar.
Será que a China não ficou impressionada com o nível de sacrifício que o “Ocidente alargado” se mostrou disposto a incorrer? Será que não passará a entrar nos seus cálculos a possibilidade de incorrer em custos ,também terríveis, caso avance para um conflito regional? Não tenho duvidas que sim. Menos claro é se a consideração desses custos são suficientes para prevenir os seus apetites menos palatáveis.
As sanções à Rússia não pouparam a Ucrânia. Mas as sanções e a espantosa resistência do povo Ucraniano, deverá comprar uns anos de paz a Taiwan. As sanções acrescentam prestigio, consideração e respeito ás democracias liberais que as impõe, quando mostram a disposição de sofre por elas.
"Nós queremos é justiça,
E dinheiro para o bife,
E não esta coboiada
Em que é tudo do sherife"
Sérgio Godinho, em Quatro Quadras Soltas, define com absoluta lucidez o que é comum nas pessoas comuns, vivam elas no ocidente, na Rússia, no Japão, na Coreia do Norte, em Moçambique, ou em Pasárgada.
Vem isto a propósito das dezenas de coisas que vou lendo sobre a especificidade russa (ou eslava), que culminha nas referência ao Rus de Kiev, a propósito de um facto simples: a Rússia invadiu a Ucrânia.
Há até quem argumente que os russos isto e os russos aquilo, sem que eu perceba como se consegue saber o que querem os russos se aquilo não é uma democracia e uma sociedade aberta.
Pessoalmente, é uma fé que tenho, acho que devem ser muito poucos os russos que acordam de manhã e sonham com o Rus de Kiev, ou que haverá muitos soldados mobilizados para frente da batalha entusiamados pela ideia da grande Rússia.
A treta de que os valores ocidentais não são universais não deixa de ser uma treta assente em duas premissas falsas: 1) os valores implícitos na quadra acima são ocidentais, e não apenas humanos; 2) existem sociedades em que as pessoas comuns sejam indiferentes à justiça e ao dinheiro para o bife, vivendo a sua vida à procura redenções metafísicas em que a justiça e o dinheiro para o bife sejam pormenores irrelevantes.
Os russos, no sentido das pessoas comuns que se reconhecem como russas, podem ter informação diferente da minha, ou dar importância diferente à informação que temos em comum, mas seguramente serão sensíveis à injustiça e à falta de dinheiro para o bife.
Discutir a invasão da Ucrânia pela Rússia como se as pessoas que estão de um lado ou do outro da frente de batalha quisessem coisas intrinsecamente diferentes, a mim parece-me uma tolice.
Só ultrapassada pela tolice de achar que o que pensam essas pessoas concretas, de um lado e do outro da frente, não interessam nada porque é tudo determinado pelas grandes forças que governam o universo.
Hoje vi a gravação de uma palestra de um Professor da Universidade de Chicago, John Mearsheimer que poderá ver aqui, sobre as razões e consequências da guerra da Ucrânia. Vale muito a pena assistir, pelo conhecimento, elegância e clareza da dissertação, se bem que não me tenha convencido de todo. Pelo contrario.
Neste vídeo podemos ver a versão inteligente de quem entende a invasão da Ucrânia, a considera um corolário normal e uma culpa do Ocidente, esgrimindo argumentos que vão sendo repetidos de forma um pouco mais tosca por extrema esquerda e direita. Vou por isso comentar 5 pontos que me parecem particularmente irritantes e que são focados na palestra. Acrescento um sexto, sobre a "diabólica" NATO.
1) A protecção dos Russófonos
Nos mapas apresentados na palestra, fica claro que a Ucrânia é um pais fracturado praticamente em duas zonas: o Norte que fala Ucraniano e o Sul que fala Russo. Fica também claro que, politicamente, a votação nas eleições de 2014, os Russófonos apoiavam maioritariamente Ianukóvytch, que preferiu o (bom) acordo apresentado pela Rússia, ao invés da pedir a adesão à CEE. Uma escolha legitima, mas que não era dele: os ucranianos, maioritariamente preferiram o caminho das pedras da adesão, não por questões praticas mas sobretudo enquanto escolha de modelo de sociedade. Foi um movimento popular, espontâneo, genuíno e maioritário, embora não unânime, que acabou na destituição do presidente e em novas eleições. Revolta e revolução sim, nos moldes defendidos desde os tempos de John Locke, a destituição de quem governa sob o signo da tirania. A tese de um golpe de Estado orquestrado pelo “Ocidente” é simplesmente delirante, já que a Ucrânia, nunca foi um alvo particularmente apetitoso. O que aconteceu foi uma escolha livre da grande maioria dos Ucranianos.
A realidade a que temos assistido, independentemente das clivagens que certamente existem, demonstram que a Ucrânia está unida à volta do seu projecto nacional. Não parecem existir muitos que pretendam ser “libertado”, em toda a Ucrânia. A cartada Russófona, que no passado, no domínio das conjecturas, poderia fazer algum sentido é, neste momento, desprovida de qualquer fundamento.
Da mesma família desta linha de raciocínio, são aquelas que dizem já ter a Ucrânia feito parte da Rússia. Por este critério as questões ainda seriam mais complicadas num continente em que certas regiões já passaram de países vezes sem conta.
2) A esfera de influencia da Rússia
Outro dos argumentos pró-Russos reside no facto de a Ucrânia ser parte da esfera de influencia Russa. A Rússia, como aliás as outras super potências, nomeadamente os Estados Unidos e a China, aparentam ter o direito a esferas de influencia. Basicamente significando que nessa zona, a soberania de outras nações não existem. Um contra exemplo apresentado por Mearsheimer é a doutrina Monroe, justificando que se os EUA podem assumir a sua esfera de influencia, os Russos também o poderão fazer.
É difícil encontrar um argumento tão imperialista e tão avesso ao direito Internacional. Que certos países tenham a força para contrariar a soberania de uma ou varias nações é um facto inquestionável e provado. Mas em todas as circunstâncias, o uso ou ameaça de uso da força, é simplesmente errada e não poderia ser mais condenável.
Porque o mais rufia do recreio tem a capacidade e bate noutros colegas, não justifica que o segundo rufia mais forte, também o possa fazer. Estarão ambos errados.
Até percebo que uma super pôtencia tenha a prudencia e delicadeza de não se envolver num territorio que esteja na esfera de influencia do outro. O problema, para as super potências acontece quando, inesperadamente, as vitimas não reconhecem os “direitos” dos colossos.
A Ucrânia tem existência e interesses próprios, não é um peão ao serviço de um império ( Russo , Chinês ou dos EUA) e nesse sentido, não pode ser neutralizada sem eventuais custos, por nenhuma outra potencia. A Ucrânia tem o topete de ter vontade própria. A guerra, como vemos, é entre a Ucrânia que queria aderir à NATO (que não a quer) e a Rússia. O Ocidente limita-se a fornecer armas, tornando claro que não é parte do conflito. Acredito que as armas deixarão de ser fornecidas à Ucrânia se a Rússia correr o risco de entrar em colapso militar. Ninguém quer arriscar qualquer ato de desespero. Aqui sim, é a realpolitik a funcionar.
A falta de interesse da NATO em deixar entrar a Ucrânia antes da invasão, salvando-a de uma possível agressão da Rússia é, em si, um sinal importante da falta de sentido dos alegados receios Russos.
3) A cartada dos interesses de segurança vitais da Rússia
É evidente que a Ucrânia não é um interesse vital nem para a EU nem para a Nato. Pelo contrario é um fardo. Razão pela qual não foi aceite nem num nem no outro bloco. É também por essa razão que o Ocidente assiste com tristeza, mas não combate.
Pelos vistos, para os Russos, os seus interesses vitais estavam ameaçados. Com excepção do eventual interesse de tornar o mar de Azov num lago Russo, que eventualmente lhes permite chegar por canais e rios ao mar Cáspio, parece ser um interesse vital. Que dificilmente a Ucrânia poderia ameaçar. Fronteiras com a NATO, a possibilidade de ficar sob a mira de misseis de curta alcance já existe, ou não tenha uma expensas fronteira com os países bálticos. Muito mais próximos de S Petersburgo do que a Ucrânia, um pouco mais próximos de Moscovo.
É outra das razões, embora seja fraca, que me fazem acreditar que a estratégia Rússia é a de se concentrar na massa continental da Ásia, virando as costas ao Ocidente.
Finalmente e mais importante, mesmo que exista um interesse vital legitimo, agredir uma qualquer população para o obter, pode explicar o acto, mas nunca o legitima.
4) A quebra das promessas
É um facto que as promessas do tempo de Bush ( pai) de que Nato não se iria alargar para leste, não foram cumpridas. É verdade que, em 2008 , a NATO fez a promessa de adesão da Ucrânia e da Geórgia.
São esses factos, o mais recente com mais de 13 anos que vem agora provocar uma agressão?
Promessas não cumpridas, não são uma constante no teatro das relações internacionais? As circunstâncias são estáticas? Não prometeu Putin, ainda este ano, não invadir a Ucrânia?
Quebrar promessas não é bonito. E invadir países?
5) A falta de desejo de conquista de território pela Rússia
A fábula de que a Rússia só quer dar uma lição à Ucrânia e ao Ocidente, parece-me fantasiosa. Na invasão do Vietname pela China (1979), depois da destruição do exercito Vietnamita e conseguir caminho livre para Hanói, a China retirou unilateralmente. A Rússia, pelo contrario, desde o inicio, anunciou o seu extenso caderno de encargos. Que não são incompatíveis, pelo contrario, com o desejo de assegurar territórios.
Acredito que a Rússia namora com 4 alternativas possíveis
Será difícil, mesmo para artistas de comunicação, declarar vitória com menos do que isto. E a sobrevivência de Putin e de parte do seu regime, precisa de uma vitória.
6) A maquiavélica NATO
A NATO, é apresentada pelos extremistas, como a encarnação do mal e dos EUA. Que a NATO tem sido toda a sua vida basicamente uma aliança quase unilateral, em que os EUA asseguram protecção e os membros são protegidos, não parece estar longe da verdade. O problema é que a Europa deixou de ser uma prioridade para os EUA. E por isso, ou os aliados Europeus se armam e investem em armas, ou a NATO passará a ser uma organização próxima de um conjunto vazio. Como aconteceria quase fatalmente sem a invasão Russa.
Quanto ao seu estatuto de organização malévola, um passado sem um único acto agressivo ou actuação militar sem mandato pelas Nações Unidas, não parece validar o ódio que lhe votam os extremistas.
Que o Público queira fazer um especial sobre o 25 de Abril, nada contra.
Mas custará muito um mínimo dos mínimos de profissionalismo?
Ana Sá Lopes escreve esta coisa absolutamente extraordinária: "Em 1926 ... a taxa de analfabetismo horroriza qualquer cidadão nascido depois do 25 de Abril: 66,5% ... A educação começa a mudar um ano antes do 25 de Abril, com a reforma Veiga Simão".
Na página anterior do jornal está um gráfico com a taxa de analfabetismo - que tem sempre alguma inércia temporal porque os adultos analfabetos apenas se tornam alfabetizados numa pequena percentagem - e que demonstra de forma clara a queda brutal entre 1926 e os anos 70, o que torna a frase que citei ainda mais absurda, de tal forma revela a total alienação da realidade sobre a qual Ana Sá Lopes escreve.
O resto do artigo repete as asneiras habituais sobre a evolução do país durante o Estado Novo, incluindo sobre a pobreza e etc.. É extraordinário que para fazer comparações sobre a mortalidade infantil Ana Sá Lopes não vá buscar os números em 1974, mas em 1960, deixando de fora o período económica e socialmente mais dinâmico do país nos últimos duzentos anos, exactamente a década de 60, até 1973 (quando se dá o primeiro choque petrolífero).
Não admira, por isso, que não falte a referência habitual "uma das leis mais humilhantes era aquela que obrigava as mulheres a terem autorização dos maridos para sair do país", sem referência ao facto de leis desse tipo serem frequentes naquela altura em muitos países com sólidas democracias e ter sido o Estado Novo a revogar essa legislação, em 1969.
Que a Democracia e as sociedades abertas precisam de ser defendidas todos os dias, é mais ou menos consensual, mas caramba, torcer a realidade para descrever realidades negras para contrapor a realidades cor-de-rosa, quando a realidade real é sobretudo feita de cinzentos, não me parece que seja a melhor maneira de defender as virtudes da democracia.
Ao ler artigos deste tipo (e o tal caderno especial do Público está cheio disto), só me lembro do ministro da propaganda de Saddam Hussein, que continuava a dizer que não havia guerra nenhuma, ao mesmo tempo que atrás desfilava tudo o que caracteriza uma guerra.
Por mim, isso não reforça minimamente a confiança que eu deposito no jornalismo feito por quem escreve panfletos absurdos a propósito de coisas que até são largamente consensuais.
Estas anémonas que nos governam não sabem fazer as contas aos dias de liberdade depois do 25 de Abril, ou tem muita geleia e pouca memória, ou são simplesmente aldrabões. Escusaram-se a descontar os tempos que medearam o 28 de Setembro de 74 e o 25 de Novembro de 75. Os mais sofisticados chamam a isso branqueamento da história, eu que me lembro bem desses tempos funestos digo simplesmente que é tudo uma grande aldrabice.
* Do filme "A Canção de Lisboa"
Na imagem, o fontanário central do jardim da Quinta da Piedade, na Póvoa de Sta. Iria, com o brasão Lancastre e Távora, homenagem póstuma ao enlace de D. Isabel de Lancastre (1713-42) e Manuel Rafael de Távora (1715-89). Isto e muito mais se poderá encontrar no livro (quase ponto) "Casa de Abrantes, crónicas de resistência" a história generosamente ilustrada de cinco geracões dos Marqueses de Abrantes entre os séculos XVIII e XX, suas aventuras e desventuras, glórias e fracassos, não esquecendo uma visita guiada às principais moradas família, o Palácio de Santos e a Quinta da Piedade.
Tenho visto comentários de gente muito preocupada com o batalhão AZOV ou com a eventual ida de Mário Machado para a Ucrânia, usando, mais ou menos explicitamente, o argumento: "a Ucrânia, sim, tem um problema único com o extremismo de direita, como sabe, ou sabia antes da invasão, praticamente toda a gente. ... O Ocidente abre aos seus cidadãos, muitos deles criminosos condenados, caminho para que marchem rumo à Ucrânia, onde ganharão experiência militar e acesso a armamento sofisticado. O espantoso caso de Mário Machado é um exemplo, mas não serão poucos os extremistas entre aqueles que aproveitam a oportunidade para ir adestrar-se no Dniepr. Quando milhares de lunáticos treinados e equipados regressarem da Ucrânia às nossas ruas, talvez acabemos a lamentar a irresponsabilidade chorosa destes dias". Note-se que se fazem afirmações que se pretendem sérias como "Deus nos guarde quando estes fanáticos, derrotados e sedentos de vingança pela 'traição' ocidental, andarem pelas ruas de Lisboa e Paris com Stingers e NLAWs".
Saltemos por cima da ingenuidade de pensar que os extremistas vão adestrar-se para cenários de guerra, onde contactam com armamento sofisticado e depois voltam calmamente para as nossas ruas treinados e equipados, e concentremo-nos nos factos.
Na Europa, depois da segunda guerra mundial - vamos esquecer a América Latina, em que de facto houve grupos extremistas violentos de direita que provocaram problemas sérios, de maneira geral com bastante apoio nas forças armadas dos respectivos países - os grupos que mais gente mataram, perseguiram, feriram, nas nossas ruas, foram praticamente todos de extrema esquerda ou de origem islâmica.
Sim, é verdade que Mário Machado esteve envolvido nos acontecimentos em que morreu Alcindo Monteiro, mas actividades de Mário Machado e seus próximos, quando comparada com a das FP-25, só não é uma uma brincadeira de meninos porque ainda assim diz respeito a assuntos sérios de violação de direitos individuais de terceiros, incluindo o direito à vida de Alcindo Monteiro.
E pela Europa fora, desde as Brigadas Vermelhas a Baader-Meinhof, passando pela ETA ou o IRA, é esmagadora a preponderância da extrema-esquerda na actividade terrorista na Europa, entretanto substituída pelos grupos islâmicos radicais.
Pelo meio existem incidentes bastante grandes com pessoas de extrema direita como Anders Breivik ou Gundolf Kohler, mas a comparação entre o risco associado a organizações estruturadas de extrema esquerda (mais recentemente, de inspiração islâmica) ou organizações de extrema direita, na Europa, tem pendido largamente para o lado da extrema esquerda (pese embora o facto de actualmente já não ser exactamente assim).
Tanto quanto sei, nenhum dos partidos de extrema-direita (sem discutir o conceito de extrema-direita, usando-o apenas como auxiliar de linguagem) com mais representatividade tem milícias armadas como acontecia com os partidos de extrema-direita dos anos vinte e trinta do século XX.
A larga maioria das pessoas que vejo estarem muito mais preocupadas com os riscos associados ao batalhão Azov que ao exército russo - eu nem consigo perceber como se põe o foco no batalhão Azov, que no máximo terá mil ou duas mil pessoas, quando está a ocorrer uma invasão por um exército com umas centenas de milhar de pessoas - têm como base uma posição profundamente anti-liberal: as pessoas não contam muito, é preciso olhar para valores superiores (a superestrutura, diriam os marxistas clássicos).
É por isso que acham, frequentemente, que a Rússia, como grande potência, tem direitos especiais de segurança que implicam uma área de influência em que terceiros não são livres de fazer opções diferentes das que resultam desses tais direitos especiais.
São pessoas para quem a Rússia e a Ucrânia são entidades bem mais reais e relevantes que os russos e os ucranianos.
E, no entanto, se olharmos para o assunto do ponto de vista das pessoas comuns, é inegável que a generalidade das pessoas, incluindo russas, têm muito mais medo do exército russo que do batalhão Azov.
Acontece que o anti-liberalismo primário que os impede de pôr as pessoas no centro do problema também os impede de ver como é ridículo, perante a dimensão do problema criado pela invasão russa, perder muito tempo com Mário Machado ou com a discussão sobre se houve ou não a despolitização do batalhão Azov.
Nos meus 30 anos, no Porto, vi-me envolvido numa sarrafusca, madrugada alta, com os "seguranças" de uma boite. Nada recordo, a coisa terá começado com um meu amigo e sobrou para mim. De que maneira! - fractura e hematoma cranianos, braço duplamente partido, cabeça suturada, etc. etc. O neurologista que me acompanhou, quando lhe disse (na manhã seguinte) queria ir para casa, redarguiu - Você fica aqui muito quietinho que por muito menos morreu o Joaquim Agostinho - E o meu Pai, entretanto chamado, pediu-lhe comedimento, ainda me matava da cura...
Foi uma semana de quietude total, a que se seguiu uma longa convalescença. Como disse, de nada me lembrava. Os meus amigos calados, amedrontados. À falta de outros meios apresentei no MP queixa contra incertos. Obviamente arquivada.
Duas décadas volvidas vim a saber o nome do principal autor da proeza, pela boca desses meus parceiros. Motivo: ele morrera entretanto, no quadro das batalhas entre gangues que dominavam a "noite" portuense (os "Pidás"...). Então eu já podia conhecer o episódio, o perigo jazia debaixo de terra...
Tudo a propósito dos quatro agentes da PSP sovados recentemente em Lisboa. Um deles (notícia de há pouco) morreu. E os agressores - algus, pelo menos, - eram fuzileiros navais.
Uma vida que se perdeu apenas porque, não estando fardado, resolveu cumprir o regulamento e intervir e sanar uma rixa... Poderia ter feito (e estar agora com os seus...) vista grossa e os da contenda que se amanhassem entre si.
Tudo revolta. É claro, vai proceder-se a averiguações. Preponderará o medo? O compadrio? Ou criar-se-à mais uma comissão de inquérito?
O meta verso veio criar novas realidades, surpreendendo como o desejo de mundos paralelos está tão presente nos seres humano. A surpresa talvez seja um exagero: a existência de muitas realidades alternativas é uma característica de qualquer sociedade humana. No limite, o número de realidades e verdades é igual ao dos habitantes do planeta.
Qualquer visão do mundo, da realidade, da verdade, é eminentemente pessoal. Diferentes capacidades, características e circunstâncias, aliadas a uma impossível omnisciência, significa que a realidade de cada um seja pessoal e limitada. Somos mais únicos, preconceituosos e sós do que imaginamos. Para fugir a essa solidão, pertencemps a grupos com quem partilhamos crenças comuns, algumas das quais incontestaveis, como dogmas de fè.
É de estranhar que, mesmo em Portugal, uns diabolizem Putin e outros a Nato?
Apesar da nossa singularidade, projectamos nos outros as nossas realidades e convicções pessoais. Temos, apesar do que vemos, dificuldade em reconhecer e admitir a diferença, sempre assustadora, do outro.
É esta característica que me parece provocar falsas esperanças na resolução do conflito ucraniano. O que é impensável para alguns é perfeitamente razoável para outros.
É impensável que alguém use a força para invadir um país em pleno século XXI mas, no entanto, é o que acontece.
É impensável que um país assuma o risco de um isolamento e castigo económico como a Rússia vai defrontar. Mas a Rússia não é uma democracia e a assimetria de custos para a população e elites, num estado totalitário, é imensa.
É impensável decidir vergar a Ucrânia com a brutalidade extrema de bombardeamentos cada vez mais ferozes, com a fome, sede e frio cada vez mais próximos. Mas é o que estamos a assistir.
É impensável que o povo russo esteja a favor do que está a acontecer. No entanto, na sua realidade paralela, a maioria da população está com Putin.
É impensável que os russos não se revoltem, senão pela injustiça da guerra, pelo menos com os custos que lhe serão impostos. Mas a Rússia de Stalin, o mais cruel dos regimes, não pereceu. Uma opressão brutal, o medo, são paralisantes.
É impensável que uma repressão implacável de uma força invasora consiga dominar a resistência de uma nação coesa. Mas França, entre tantos outros, foi subjugada pelos nazis.
Tudo é obviamente possível, mas alguns cenários são muito mais prováveis do que outros.
Putin não pode dar-se ao luxo de perder esta guerra. Por sobrevivência política e até física. Com mais ou menos dificuldade, com mais ou menos rapidez, com armamentos “legítimos” ou outros, tem o poder de a ganhar, senão for deposto por um golpe interno. O Ocidente tem medo de uma derrota de Putin. Ninguém quer enfrentar alguém que não tenha nada a perder e com um arsenal nuclear.
O governo da Ucrânia sabe que não consegue uma vitoria militar. Apenas têm que fazer acreditar ao maior numero de Ucranianos que essa possibilidade existe. Com a resistência, só procuram tempo para que possa existir um milagroso golpe militar na Rússia ou que, pelo menos, consigam salvar uma parte da Ucrânia enquanto entidade, mesmo que relativamente, independente.
É tudo impensável mas vai provavelmente acontecer.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
Palavra da salvação.
Comentário: A primeira mensagem da Boa Nova que Jesus nos traz é o anúncio da aproximação do reino dos Céus, e consequentemente o convite a acolhê-lo com o coração voltado para ele e afastado do que lhe é contrário. Esta atitude é assim uma conversão, um regresso dos caminhos do pecado, uma atitude de arrependimento em relação ao passado, uma atitude penitencial. E esta atitude do coração é fundamental na Quaresma.
A CNN/Portugal tem claramente o alinhamento noticioso mais competente de todas as televisões. Poderia contentar-se com isso, que não é pouco, mas, generosamente, delicia-nos todos os dias com os mais inesquecíveis títulos e observações de todo o panorama noticioso nacional. Entre eles:
- «CNN/Portugal ouve tiros em Kiev»
- «Porta-aviões chinês sobrevoou os arredores de Taiwan»
- Equipa de reportagem «atacada durante um ataque»
- «Polónia prepara-se para atingir 2 milhões de refugiados»
- «É o décimo sétimo dia da guerra mas mantemos os desejos de uma boa noite»
Já conhecemos o retrato: «Um homem frio e inteligente; um líder imperialista e cruel; um ditador cínico e ambicioso; um génio da estratégia e da geopolítica».
Então, o que conseguiu até agora Putin?
Queria anexar a Ucrânia. Mas a conquista da Ucrânia, uma «operação» rápida e simples, está a ser «especial» no sentido em que não sendo rápida, nem simples, é bastante mortal para as tropas russas. Que talvez tomem Kiev com ainda mais pesadas baixas e em vão, para logo se garantirem uma longa guerra de guerrilha. Precisava de espaço vital, talvez obtenha um espaço mortal.
Queria espantar a NATO com o papão nuclear. Mas deu à NATO, uma aliança defensiva, todos e os mais fortes argumentos para se unir, reforçar e expandir. Obtém novas adesões junto às suas fronteiras, a união entre os membros, o reforço generalizado dos orçamentos de defesa, e o reavivar da aliança transatlântica.
Queria alargar o seu espaço económico. Conseguiu uma economia devastada, a quebra de laços comerciais, e a promessa de que a Rússia se tornará subsidiária atenta e veneradora (e explorada) da economia chinesa.
Queria afirmar a sobranceria, do alto do seu petróleo e do seu gás. Conseguiu boicotes parcelares, mas, sobretudo, que a União Europeia pense seriamente na questão energética, procure alternativas, e considere seriamente o regresso e incremento da energia mais limpa do mundo, a nuclear. [De caminho desacreditou a histeria das Gretas deste mundo, e, marginalmente, dos seus seguidores em Portugal.]
Viola o direito internacional, destrói as infraestruturas de um país, mata homens, mulheres e crianças, destroi hospitais, creches, prédios de habitação, e assim conquista o ódio mundial generalizado, enquanto se constitui em criminoso de guerra.
O que suscita a pergunta: será Putin genial ou, sequer, inteligente?
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