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O eterno Portugal dos pequeninos.

por Jose Miguel Roque Martins, em 31.08.21

Falta moderação exigente.

 

Somos 10 milhões e cada um pensa da sua forma. Mas estamos agrupados em famílias mais ou menos extensas.

Uma primeira grande família importante, mas minoritária, são os radicais. E já temos aqui vários ramos, que se vão agrupando em várias sub famílias. Os comunistas, cristalizados numa utopia tantas vezes provada como um desastre. Os bloquistas, sempre motivados pela continua subversão que conduza a um regime hediondo. O Chega, uma manta de retalhos incompreensível e  inconsequente. O PAN, um fenómeno para além da minha compreensão.

Depois temos os moderados, que não gostam de extremismos e gostariam de viver numa democracia liberal europeia. Também não são um grupo uniforme. A grande maioria vive satisfeita e ganha eleições. Claro que uns mais do que outros.  Apontam para os progressos na economia, na educação, na saúde, na luta contra a desigualdade e muitas outras conquistas que foram efectivamente acontecendo nas ultimas décadas. Globalmente, acreditam na visão do PS e do PSD, que cedências aos radicais são inevitáveis,  que devagar se vai ao longe e que o Estado tem que ir ao volante da extraordinária empresa que é fazer Portugal progredir. Os governos, merecem o aplauso, pelo grande esforço que os extenua, que a bronca não rebente no seu mandato, o único objectivo verdadeiramente ambicioso que têm para Portugal. Quando não conseguem e vem a troika, já ninguém gosta. Mas quando alguém, por milagre, tenta reformar e avançar Portugal, também é punido. À falta de outros argumentos, porque não comunica bem, porque não é um comunicador habilidoso, antes se atreve a dizer verdades inconvenientes.

Os outros moderados, são os insatisfeitos e que não ganham eleições. Ou que quando as ganham, perdem-nas. São aqueles que não aceitam porque estamos cada vez mais longe das democracias liberais realmente desenvolvidas. Que se irritam porque somos constantemente ultrapassados por tantos países antes mais subdesenvolvidos do que nós.. Aceitam que  houve progresso, mas que é tremendamente insuficiente em relação ás nossas potencialidades e até obrigações. Apesar de pertencerem à família dos moderados, passam, também, por radicais.

A responsabilidade pela mediocridade do nosso regime, não é dos radicais. É dos moderados felizes. Que governam de forma reiterada. Que com quase nada ficam satisfeitos. Que não percebem que, mantendo o rumo, nunca seremos nada de jeito, que seremos um pais atrasado para todo o sempre. Que apenas estaremos à frente de África e da América latina e de alguns países da Ásia, pelo menos mais umas décadas.

O que falta não é moderação. É algum radicalismo ou melhor, uma moderação exigente. Enquanto assim não for, continuaremos a ser, com toda a moderação, o Portugal dos pequeninos. As crianças tambem se contentam com pouco. 

Conclusões que não variam com as premissas

por henrique pereira dos santos, em 30.08.21

Ainda Manuel Carmo Gomes (apenas por ser o mais solidamente representativo de um modelo mental):

"Entre as 16.671 pessoas que ficaram infetadas, mesmo vacinadas, houve 91 mortes, até 26 de julho. “Mas 73 eram pessoas com mais de 80 anos — algumas delas tinham 100 anos e todas elas tinham muitas comorbilidades”."

Em primeiro lugar fico muito satisfeito que esta informação exista, embora eu nunca a consiga encontrar: parece que sempre se confirma que muitas das mortes atribuídas à Covid dizem respeito a pessoas em fim de vida com escassa esperança de vida e que, com elevada probabilidade, morreriam de qualquer forma no prazo de um ano.

Note-se que não estou a negar que nestes casos o factor final tenha sido a covid (não sei discutir isso), estou apenas a dizer que no prazo de um ano haveria sempre um factor final porque o estado geral da pessoa é de elevadíssima fragilidade.

Note-se que também não estou a dizer que é indiferente uma pessoa morrer hoje ou daqui a três meses, estou apenas a dizer que o factor que provocou hoje a morte a antecipou em semanas, mas na sua ausência isso não significaria que a pessoa vivesse muito mais tempo (e, já agora, com um mínimo de qualidade de vida).

Há meses que venho (é pretensão minha, desde sempre houve muito mais gente e muito mais qualificada que chamou a atenção para esta característica da covid) a chamar a atenção para o facto de ser muito provável que parte relevante (eu tenho falado em um terço, mas é uma especulação minimamente informada, não assenta em dados sólidos) da mortalidade covid seja de pessoas que morreriam em qualquer caso e testaram positivo.

Isto não é um esforço de desvalorização dos efeitos da covid, mas não podemos pôr no mesmo prato da balança doenças que matam pessoas muito velhas e doentes, doenças que matam essas pessoas mas também bebés muito pequenos (como a gripe) e doenças que matam outros grupos etários (por exemplo, no caso da gripe espanhola, para além dos dois extremos da estrutura etária, também havia um pico de mortalidade em jovens adultos), quando queremos avaliar o impacto da doença para o comparar com o impacto das medidas que temos à disposição para a combater.

Note-se que a conclusão lógica do que diz Manuel Carmo Gomes no que cito acima é a de que não faz sentido obrigar a sociedade a um esforço brutal para prolongar a vida de pessoas acima dos oitenta anos, com várias doenças e muito fragilizadas. Não porque essas semanas de vida não valham nada, mas sim porque o esforço que é pedido à sociedade se traduz em muitas mais semanas de sofrimento para muito mais gente.

Ou seja, tudo o que sejam medidas razoáveis e sensatas para reduzir o risco destas pessoas, como lavar as mãos, ter cuidado nos contactos com infectados, e por aí fora, com certeza, façamos esse esforço, agora tudo o que são medidas que restringem seriamente as liberdades públicas e individuais, durante tempos infindos, ou que tenham impactos económicos e sociais brutais, como fechar escolas, não fazem o menor sentido face aos valores em presença.

Pois bem, não é esse o caminho de Manuel Carmo Gomes, como sempre, quase desde o início da epidemia, Manuel Carmo Gomes acaba a falar do potencial da restrição de contactos:

“Enquanto continuarmos com incidência alta, vamos continuar a ter muitos idosos infetados. Uma pequenina proporção deles vai morrer. É inescapável. A única maneira de resolver isto era reduzir para metade, um terço, o número dos novos casos”.

Não, meu caro, em primeiro lugar não há maneira de resolver a morte de pessoas com mais de 80 anos, cheios de problemas e num estado de fragilidade física enorme.

Em segundo lugar, reduzir para metade ou um terço o número de novos casos não está na nossa mão.

Em terceiro lugar, pensar que é reduzindo contactos que se consegue essa redução de novos casos é um pressuposto por demonstrar empiricamente.

Por fim, ainda que fosse possível e eficaz, o preço que a sociedade no seu todo pagaria seria um preço muito elevado para prolongar umas semanas a vida dessas pessoas, preço esse que seria pago desproporcionadamente, como é sempre, pelos mais pobres e desamparados pela sorte.

Retaliação ou vingança - eis o problema

por João-Afonso Machado, em 30.08.21

Na sua rigidez teocrática, o Estado Islâmico (finalmente sediado), não será, porém, capaz de se governar a si mesmo. Jamais! A óbvia consequência resulta na insegurança e no medo em que há de ficar o mundo inteiro sofrendo, sempre na expectativa de uma brutalidade qualquer, em qualquer indeterminado lugar.

Assim o demonstra o recente atentado ao aeroporto de Cabul, e mesmo os mísseis hoje disparados, mas, ao que parece, neutralizados. Morreram, indiscriminadamente, ocidentais e afegãos e, de imediato, Joe Biden veio aos microfones informar o planeta - os americanos vingar-se-iam. E foi, - vingaram-se, utilizando belicista tecnologia de ponta.

Os EUA vivem, sempre viveram, no espírito e no procedimento dos seus Wyatt Earp e Pat Garret's. Sendo, já então, uma imensa potência guerreira, envolveram-se na II Guerra Mundial por retaliação ao cobarde ataque a Pearl Harbour. E estiveram no Vietname com a mesma postura com que quase exterminaram os peles-vermelhas...

Contudo, o seu poderio militar é uma salvaguarda nossa, europeus. Tal como a habitual sensatez do aliado britânico, sem cuja Commonwealth ficaríamos muito pequeninos. De um lado e do outro, devia resultar a lucidez do estado de guerra em que vivemos. Um novo tipo de guerra, mas isso ao caso interessa tanto quanto os combates de trincheira de 14/18, por comparação com a blitzkrieg de 39/45.

Entre o fundamentalismo religioso e os ódios étnicos do "deserto", a paz é uma ilusão para americanos, europeus, Oriente islamita e o que mais der na cabeça daqueles loucos. Sejamos crus: a guerra é lícita se o desiderato for a dita paz. Churchill assim o disse, sem rodeios, quando o Reino Unido enfrentava sozinho o poderio nazi. E não foi em conversas, exigiu a capitulação, a total rendição. Entre estes facínoras talibãs e Adolf Hitler, ainda não consegui perceber onde o mundo livre vislumbra diferenças...

"Se", por Carmo Gomes

por henrique pereira dos santos, em 30.08.21

“Se não houvesse vacinação, imagino o que isto era”, atira o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.

Saltemos por cima desta estúpida mania de usar o verbo "atirar" da forma como é frequentemente usado na imprensa: é espantoso como profissionais da língua não reconhecem o peso das palavras e não sabem como atirar, no sentido de dizer, é agressivo, confesso que não sei de onde veio isto, sei de onde vem a alteração de significado de "ridículo", por exemplo, que os mais novos usam no sentido inglês da palavra, sei como o "eventualmente" inglês se infiltra no português, mas não entendo mesmo o fascínio que este "atira" exerce sobre tantos jornalistas.

Felizmente os políticos já perceberam que seria impossível continuar a dar ouvidos a estes paranóicos dos contactos e do covid zero (está a correr tão bem na Nova Zelândia e na Austrália que não se percebe como não está toda a gente a adoptar as mesmas políticas) e felizmente o caso do Reino Unido (em especial quando analisado ao mesmo tempo que o dos Países Baixos) veio deitar por terra as teorias dos efeitos inevitáveis dos contactos.

A Índia deveria ser suficiente para também deitar por terra esta conversa da variante Delta (antes chamada indiana, lembram-se?), e Israel os efeitos miraculosos da vacina nos contágios, mas nada, rigorosamente nada altera a ideia central destes doidos: se há contactos há contágios, os contágios são um problema imenso, logo, temos de reduzir contactos e gerir sociedades como se fossem hospitais.

Agora, que as coisas estão calmas - se medida pelo critério base que sempre presidiu à avaliação de epidemias, a mortalidade excessiva, não há nada de dramático desde meados de Fevereiro - e que os políticos fizeram um grande golpe de rins e passaram a adoptar o que, desde sempre, deveria ter sido a abordagem desta epidemia, não existe qualquer sinal de que estes defensores reconhecem que a sua abordagem à epidemia, defendendo que se matem moscas com tiros de canhão, sempre esteve errada, continuam na mesma linha de pensamento de que nunca saíram: "se, se, se...".

Seria irrelevante, não se desse o caso de estarem à espera (mesmo que inconscientemente) do próximo Outono/ Inverno para voltarem ao discurso do medo a propósito de uma doença que, dizem eles, não é sazonal nas nossas condições.

Veremos como reage a sociedade e imprensa nessa altura, mas não estamos livres de levar outra vez na cabeça com o martelo das medidas absurdas como a proibição de consumo de alcool na rua (acho que isso ainda não foi revogado) e outras coisas absolutamente fundamentais para controlar esta epidemia.

Os sinais não parecem ser bons, a julgar pela incapacidade da imprensa detectar contradições evidentes, como reconhecer que a vacina protege, mas o contágio (que na cabeça desta gente é equivalente a contacto) continua a ser um problema: "“Se olharmos para a distribuição da vacinação por faixas etárias, vemos que os grupos dos 10 aos 19 e dos 20 aos 29 são os que têm menor taxa de cobertura vacinal“, indica o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Carlos Antunes. Ou seja, “são os que estão mais expostos e têm um comportamento social de menor proteção”. Só que os jovens não contactam só com os seus pares e acabam por levar as infeções para outras faixas etárias."

Domingo

por João Távora, em 29.08.21

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos

Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os fariseus e os judeus em geral não comem sem ter lavado cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?». Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhe: «Escutai-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior do homem é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro».

Palavra da salvação.

Comentário: A palavra de Deus pode vir a ser adulterada pelas palavras dos homens, mesmo quando pretendem explicar e aplicar a palavra de Deus. O Senhor adverte-nos para que saibamos ler a palavra de Deus à luz do Espírito de Deus, que a inspirou, e não com a visão estreita e acanhada, e, por vezes, interesseira, do nosso espírito, demasiado humano e limitado. A palavra de Deus é espírito e vida, e não apenas letra, que, por si só, pode matar.

O Chega, o PS e o BE, em defesa do Estado

por Jose Miguel Roque Martins, em 27.08.21

Não há nada mais popular, em Portugal, do que um pujante Estado director.  Todos os dias , sem excepção assistimos a variantes deste temas, em que os políticos competem por votos, no exercício crescente da imposição do Estado na vida de todos nós. 

Gostamos que o Estado se assuma como o Pai que cuida de nós. Geralmente não o faz bem, mas não faz mal. Alguém que pareça olhar para os nossos problemas, que nos ame, parece ser mais importante do que uma pindérica liberdade ou um bem estar superior, valores próprios de balofas burguesias.

Hoje o Chega, ajusta o seu programa, eliminando “excessos” em favor de um estado mínimo, convenhamos, um objectivo verdadeiramente ridículo, num partido que se pretenda populista em Portugal.

Outra variante do poder do Estado que adoramos é a proibição. Que os outros não possam fazer o que pretendam. Mesmo que não nos incomode pessoalmente muito.

Nesse sentido, Medina anuncia a intenção de congelar o alojamento local em Lisboa, não vá o mercado gerar riqueza, enriquecer senhorios,  gerar empregos e fazer de Lisboa uma cidade vibrante e bonita. O resultado é conhecido. Os mais desfavorecidos não vão passar a poder voltar para o centro de Lisboa, criam-se privilegiados, os detentores de preciosas licenças administrativas, geram-se menos empregos, limita-se a criação de riqueza. Medina é mais um dos moderados que tão bem nos gerem e que nos protegem de exageros, de que as pessoas possam viver realmente bem, ou tenham que partilhar o que é publico, de todos. 

Já o BE, obviamente, é mais radical: há que diminuir o numero de alojamentos turísticos com licença atribuída. Lembre-mo-nos que, antes do turismo, ninguém queria ir viver para o centro de Lisboa, nem os pobrezinhos, já que as casas estavam degradadas e em vez de animação havia insegurança. Já agora, como vamos escolher quem pode viver em Lisboa?

Claro que se percebem alcances adicionais das propostas bloquistas. En passant, aproveita-se para lembrar a  força do Estado, tramar mais uns investidores e, já agora, congelar rendas, para punir capitalistas e acelerar a decadência urbana. Que o Trotskismo não floresce com prosperidade.

Mais Estado, menos liberdade, menos riqueza. 

Nada de novo. Mas não deixa de ser cansativo. Até porque os protagonistas de hoje, também poderiam ser o PCP,  o PSD ou o CDS/PP. 

 

Ponte 25 de Abril , um triste símbolo do regime de Abril

por Jose Miguel Roque Martins, em 26.08.21

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Ontem, ao passar pela Ponte, lembrei-me do fim dos meses de Agosto em que não se pagavam portagens. Fiquei mais uma vez furioso e aqui recordo o que é fácil de esquecer mas importante lembrar. 

Com orgulho e esperança, em 1966, é inaugurada a primeira travessia do Tejo da cidade de Lisboa. Um sonho antigo, uma obra de engenharia magnifica, uma via de expansão da cidade. Num gesto raro de culto de personalidade, a ponte é baptizada com o nome de António de Oliveira Salazar, ainda vivo e então incontestado chefe supremo da Nação Portuguesa. Uma escolha de nome, no minimo, duvidosa. 

Veio a revolução e a ponte, a inocente ponte, inicia um novo ciclo, tornando-se um símbolo da  perversidade do novo regime.

Rebaptiza-se a ponte, símbolo de progresso, como ponte 25 de Abril e com ele, o triste habito de tentar reescrever a história, a instituição do revisionismo Histórico. Pior é ligar o nome da revolução a traços escandalosos, mas característicos, do regime de Abril: a falta de respeito pela lei, a injustiça publica, a voracidade fiscal, a incompetência ou corrupção do poder publico,  a mansa subjugação do povo.

Da taxa ao imposto fantasma e anticonstitucional

Um empreendimento da magnitude da ponte, não obrigou apenas a uma sofisticada engenharia civil. Impôs a necessidade de uma engenharia financeira exigente, mas conhecida e justa. O principio do utilizador / pagador é usado. A garantia do financiamento pelo Estado, a imposição de taxas aos utilizadores, que pagariam o seu custo. Uma vez paga, competiria aos utentes, o pagamento dos custos de manutenção ou, pela sua relativa irrelevância, face aos custos de cobrança de portagens, passaria a ser de utilização gratuita, suportando o Estado a manutenção de uma obra já paga.

A necessidade de fazer uma nova travessia do Tejo em Lisboa, a actual ponte Vasco da Gama, leva à ilegalidade e injustiça. A ponte 25 de Abril, é eleita como instrumento fiscal, usada para financiar outra ponte, ao arrepio da mais elementar  justiça e legalidade.

O “contrato” estabelecido pelo Estado com os utentes, à data da construção da velha ponte, estabelecia que depois de paga a sua construção, as portagens seriam reduzidas ou extintas. Com o contrato da Lusoponte,  os seus utentes, não só continuam a ter que pagar, mas até vêm aumentos consideráveis nos valores das portagens. Um morador na margem sul, que trabalhe em Lisboa paga, agora, 300 a 500 euros por ano de portagens, quando nada devia pagar.

A lei é violada, já que a apesar de nominalmente uma taxa, de facto é introduzido um imposto. Não se trata de uma mera tecnicalidade ou semântica. Se o pagamento  fosse instituído como imposto, seria inconstitucional, já que discrimina cidadãos, em função meramente do local onde vivem ou trabalham.

Infelizmente a imposição de injustiças e de ilegalidades cometidas pelo Estado, não se ficam por este caso, antes se multiplicam.

Incompetência ou corrupção?

Este episódio é tambem mais um caso de manifesta incompetência ou corrupção Publica. A vários níveis.

O Estado deve recorrer ao mercado, quando estão em causa a prestação de serviços que impliquem o uso de trabalhadores. Não quando contrata financiamentos, que acabam por ser sempre mais onerosos para o erário publico. Em Portugal preferimos normalmente o oposto ao recomendável.

A Vasco da Gama, também não foi uma simples manobra de desorçamentação, um pouco mais cara. Foi um desastre para os interesses do Estado, como denunciado pelo tribunal de contas, aqui e aqui, que não obstante, foi aprovando os vários contratos e adicionais. Uma rentabilidade de mais de 11% foi assegurada pelo contrato. Que sucessivos adicionais permitiram aumentar a valores desconhecidos, mesmo considerando que os custos de construção tenham sido os correctos. Tudo em nome da legitimidade democrática.

A responsabilidade original foi de Cavaco Silva e de Joaquim Ferreira do Amaral. Mas vários outros governos, estão envolvidos na manutenção e até agravamento deste desastre colectivo, do PSD e do PS. Joaquim Ferreira do Amaral, que negociou o contrato por parte do Estado, tornou-se presidente da Lusoponte. Um mistério para mim, a sua contratação por parte de quem assiste em primeira mão à forma aparentemente tão negligente como defende os interesses de quem representa.

 

Do Buzinão à submissão

 

Este episódio, de tão grave, conseguiu suscitar uma reacção popular de protesto, o celebre buzinão.  Um ligeiro recuo, apaziguamento, para depois voltar a repor o indefensável. O povo, extenuado, consciente da sua fragilidade, finalmente entende que, em fraca democracia, quem continua a mandar, são mesmo os de sempre.

Tudo somado, uma ponte, consegue representar o pior do regime.

A obra do diabo

por João Távora, em 25.08.21
O mundo nos nossos dias, escravizado às dinâmicas marxistas (chamemos-lhes assim), analisa tudo o que de si emana como se fora sempre reflexo duma disputa de hegemonia entre indivíduos, facções, políticas, culturas, sexos, raças ou etnias. Essa frenética alienação a que estamos escravizados, gera pessoas profundamente revoltadas e infelizes, sentimentos absolutamente contrários àqueles que essa mundivisão promete para um dia de glória vindouro. É contra essa fantasia que nós os cristãos nos batemos. No centro da grande clivagem da humanidade sempre ficou a perder o Amor.

Até parece obra do diabo.

A propósito de São Paulo e as Mulheres

Nota de esclarecimento da Conferência Episcopal Portuguesa

por João Távora, em 25.08.21

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"(...) Tenha-se em conta que Paulo se situa no contexto legal do direito familiar romano, que concedia melhores direitos às mulheres do que a maioria das culturas da época, mas que não deixava de pôr em relevo o papel do marido como “pater familias – pai de família”, como titular da família no seu conjunto e garantia dos direitos e deveres de cada um e o seu funcionamento relacional e social. Este quadro permaneceu nas gerações sucessivas, concretamente no direito português, até há pouco tempo. Paulo não põe em causa o direito romano, mas dá-lhe uma interpretação nova, à luz de Cristo, “Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo”, que Ele ama até dar por ela a vida.

O que causa “escândalo”, nos dias de hoje, é o conceito de “submissão” proposto à mulher. Não se trata, porém, de algo exclusivamente aplicada às mulheres, mas a todos. A leitura começa precisamente por dizer: “Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo.” Em Paulo, esta submissão não significa menor importância ou subserviência, mas o dar prioridade aos outros, como forma de atenção e cuidado; não centrar a vida e o pensar em si próprio, mas no amor que deve regular todo o relacionamento entre pessoas.

Paulo aplica este quadro jurídico-social à instituição familiar, como princípio da mútua atenção e cuidado, afirmando duas coisas. Em primeiro lugar, dê-se o devido cuidado e prioridade (submeta-se) à relação familiar que tem como representante social o marido, na sua relação com a esposa. Este princípio básico, que se aplica à mulher, mas igualmente aos outros membros da família, é completado com aquilo que o “pai de família” representa: o amor, antes de mais aplicado ao amor entre os esposos: “Maridos, amai as vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela”.

Esta proposta, necessariamente complementar à que é dirigida à mulher, deve ser vista com duas perspetivas que aclaram todo o texto. Primeiramente, o “amor” e a “submissão” não se aplicam apenas a um dos esposos, mas são a lei básica do relacionamento humano, segundo o Evangelho: “Saberão todos que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros.” Em segundo lugar, a medida do amor é reportada a Cristo, que “amou a Igreja e Se entregou por ela”.

É à luz de Cristo que se entende a dimensão do amor, até à total entrega e ao dom da vida por aqueles que se ama. E é também essa a norma para a correta interpretação de qualquer autoridade, representatividade ou primazia. Não se trata de mandar submeter ou depreciar ninguém, mas de cuidar e dar prioridade no dom e no serviço do dia a dia. Na perspetiva de Jesus, bem presente em Paulo, a liderança é serviço e dom de si mesmo, pois Ele veio “não para ser servido, mas para servir e dar a vida”. O verdadeiro exemplo e medida de submissão e de serviço, como dom e amor, é o próprio Jesus, para os esposos e para qualquer outro membro da família e da Igreja.

Dito isto, pode-se dizer: então porque não se muda o texto, para que não se deem interpretações incorretas? A pergunta tem a sua razão de ser, mas é claro para a Igreja e para quem quiser interpretar textos e tradições com origem noutras culturas e noutros tempos: os textos não se mudam, mas educam-se os leitores a entendê-los e a atualizá-los. Por exemplo, não se mudam os versos épicos de Camões, porque não correspondem à mentalidade atual e até, em alguns casos, podem causar escândalo. Isso seria cair na arbitrariedade e na ditadura das modas e na imposição da cultura única. É por isso que se estuda Camões nas escolas, para que todos tenham acesso à beleza dos seus versos, dentro dos condicionalismos da sua época. (...)"

Ler aqui na integra a nota de esclarecimento da Conferência Episcopal Portuguesa a propósito da leitura de São Paulo sobre as mulheres

Os quatro militares portugueses em Cabul

por João-Afonso Machado, em 25.08.21

Há notícias assim, no meio da catástrofe têm o condão de nos fazer rir. Vão para o aeroporto de Cabul quatro soldados portugueses ajudar a impor a ordem! E o ridiculo estala em gargalhada.

Ou talvez não. Porque vejamos: portugueses no Afeganistão, felizmente já regressaram todos. E a adiantada explicação de que Portugal apoiará, dará asilo, a quantos afegãos com as nossas tropas colaboraram - designadamente intérpretes - faz confissão plena das mais negras expectativas. Não voltar atrás, in casu,  é tão somente o mundo dito civilizado assistir impávido e sereno a mais um genocídio.

Os EUA mantém, a propósito, a sua ambígua posição. O Reino Unido, França, a Alemanha pressionam agora Biden (que deixa uma saudade imensa da família Bush). As boinas azuis da ONU não bastariam para conter a matança?

Tudo se faz na devida proporção. Os quatro soldados portugueses espera-se emparceirem com as quatro centenas britânicas e os mais necessários. Em nome dos desgraçados afegãos - as imagens no aeroporto dão bem conta do seu terror - e de nós próprios. Porque o Estado Islâmico tem agora o elemento de facto que o Direito Internacional exige para reconhecer um País - um território. Aliás, com as melhores condições de refúgio das forças terroristas, como está amplamente demonstrado no correr dos séculos.

Um conselho, leiam os evangelhos.

por Miguel A. Baptista, em 24.08.21

A Bíblia Sagrada é uma compilação de diversos livros escritos por autores distintos em diferentes épocas.  

A Bíblia não é um todo coerente. Ao Deus irado e vingativo do Antigo Testamento sucede o Deus de amor e compaixão do Novo. 

Como tal, em muitos casos, ler a Bíblia, sem um esforço de contextualização e reflexão (exegese) não é grande exercício. Por exemplo, sempre que o livro do Genesis foi lido literalmente, como se de um livro científico se tratasse, tal deu mal resultado, ainda que eu ache belíssima a descrição da criação do mundo e, curiosamente, relativamente semelhante ao que entendemos com sendo o Big Bang. 

No entanto, existe uma parte da Bíblia, a mais importante, que, normalmente, não exige grande esforço de contextualização, os evangelhos. Os evangelhos, que contam a passagem de Cristo pela terra, podem ser lidos quase com literalidade. São mais actuais do que o jornal da manhã. 

Para mim é sempre surpreendente o número de cristãos que nunca se dedicou a leituras bíblicas. Pois bem, se me permitem um conselho, comecem pela leitura dos evangelhos. Este conselho estende-se aos não-crentes que poderão ver em Cristo, não Deus feito homem, mas apenas um místico fascinante. 

Dificilmente encontrarão leitura mais inspiradora. 

Desculpem o incómodo

Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor. Efésios 5:22

por João Távora, em 24.08.21

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Eis que subitamente uma onda na praia subiu um pouco mais que o esperado, molhou os pezinhos e desinquietou algumas “celebridades” e “influencers” que logo se viram obrigadas a ir às redes sociais regurgitar a sua profunda ignorância disfarçada de indignação. Isto a propósito da leitura da Carta de São Paulo aos Efésios, lida na missa do Domingo passado (em todo o Mundo, não em especial para a RTP) e que algum espírito demasiado simples acidentalmente assistiu na transmissão e decidiu “denunciar”. De nada deve valer a pena tentar explicar a quem estiver de má-fé que o pequeno trecho está descontextualizado e a carta foi escrita há dois mil anos, sendo o seu conteúdo profundamente revolucionário ainda hoje em muitas culturas, quando equipara as responsabilidades dos dois elementos do casal na construção de uma família – oferecendo para esse fim o seu amor de forma gratuita: (…) “Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois uma só carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido.” Ou ainda citando São Paulo numa Carta aos Gálatas: "Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." 

Para ilustrar este texto escolhi uma fotografia do Pe. Giovanni Scalese que está desde 2004 em Kabul onde lidera a Missão Católica. À sua guarda tem o único templo católico do Afeganistão e uma comunidade maioritariamente composta por órfãos, viúvas e outros marginais do islamismo. Pediu para ficar, como faria São Paulo seguindo o exemplo de Cristo. Essas “celebridades” ainda querem interromper o seu "sunset" e discutir como o cristianismo na sua fundação respeitava as mulheres e o livre arbítrio das pessoas em geral, ou simplesmente o sinal de cupidez que representa a tentação do literalismo? 

Os direitos e liberdades dos indivíduos não valem nada

por Jose Miguel Roque Martins, em 24.08.21

Todos os dias, em todas as situações, a muito relevante questão dos direitos e liberdades dos indivíduos, está presente. Já a forma como olhamos para eles é diferente. Muitíssimo diferente. 

Quando falamos no Afeganistão, todos nos horrorizamos com o jugo de muitos ás imposições do grupo, minoritário ou maioritário, dos Talibãs. No abstracto, somos quase todos pios e justos. Se toda a população Afegã fosse Talibã nas suas crenças e aspirações, se escolhessem livremente a sua forma de vida, não seria eu, que acho odioso o ideário Talibã, a não aceitar o seu regime e as suas escolhas.  Todos pensamos dessa forma?

Quando falamos da imposição da vacinação, a questão começa a complicar-se. É uma medida de nos afecta directamente. Num brilhante artigo no Observador, Patrícia Fernandes, que vale muito a pena ler, lembra-nos todos os aspectos éticos relacionados com políticas de saúde e com a vacinação. Felizmente em Portugal, a vacinação ainda é livre. Contrariando os (maus) instintos ( inclusivamente os meus) de a desejar como obrigatória. Triste é a pressão social para contrariar uma das liberdades que nos restam. Quem é contra a vacinação é, inapelavelmente, um negacionista obscurantista. Até nas palavras do bom Almirante.

Na liberdade de expressão, começa a formar-se um cerco, que paulatinamente, vai diminuindo o campo de pensamentos divergentes que fogem ao consenso generalizado. Não apenas com pressão social, mas já com instrumentos de censura e repressão.

Mas é no campo económico, que as coisas se baralham completa e irremediavelmente. A liberdade económica, consignada nos direitos do Homem, são letra morta, em função da tirania da maioria, os talibãs no poder. Qual é a possibilidade daqueles que pretendem estabelecer relações económicas livres, o poderem fazer, num labirinto cada vez mais apertado por regulamentos, leis, portarias e simples orientações obrigatórias? Tudo, claro, a pretexto de um interesse publico que, ainda por cima, teima em não se materializar na nossa realidade quotidiana.

A maioria que nos impõe este jugo, é a mesma a condenar os Talibãs. Qual a diferença? Porque desapareceu o amor aos direitos do Homem?

Uma possível explicação, é a de que nunca foram os direitos do homem os motores da sua revolta: foram os desvios ao que acham certo, que estão a ser violados. Estão apenas contra outros Talibãs que pensam de forma diferente.

Outra, é a de que os direitos dos outros, acabam quando ameaçam o que se pensa serem os nossos interesses. Nas vacinas, na luta à pandemia, na economia, na vida em geral.

Em qualquer dos casos, certo, é que os direitos e liberdades dos indivíduos não valem nada.

O estado de pânico

por João Távora, em 22.08.21

(...) Sempre soubemos que não podíamos viver num mundo com zero terroristas, zero SIDA ou zero criminalidade pois o preço a pagar por tais “zero” era demasiado elevado e sobretudo incompatível com os nossos valores e forma de viver. Mas isso era o que se sabia antes do grande reset estatista das nossas vidas em que o combate ao Covid se transformou. Perante o Covid, o objectivo não foi defender o nosso modo de vida, como aconteceu aquando do aparecimento da SIDA ou do ataque às Torres Gémeas, mas sim suspender esse modo de vida.

Sociedades envelhecidas, domesticadas pelo constante controlo fiscal, desprovidas de bom senso, idiotizadas por activismos minoritários, mostraram-se particularmente vulneráveis quando postas perante uma ameaça sanitária. Onde as velhas ideologias falharam triunfou o emergentismo: o dia a dia dos povos está transformado num conjunto de absurdos justificado pelo combate ao Covid. O controlo e o poder dos estados sobre os cidadãos aumentou exponencialmente. Não menos importante, não são pedidas responsabilidades, tudo fica para depois. (...)

A ler este artigo da Helena Matos na integra aqui no Observador

Domingo

por João Távora, em 22.08.21

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?». Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso, perguntou-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente? O espírito é que dá vida, a carne não serve de nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam». Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar. E acrescentou: «Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai». A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele. Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». Respondeu-Lhe Simão Pedro: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

Palavra da salvação.

Comentário: O discurso de Jesus sobre o Pão da Vida desiludiu muitos discípulos, que, por isso, se afastaram. Jesus tenta explicar o sentido espiritual das suas palavras, que, sem deixarem de dizer o que querem dizer, vão mais além do que aquilo que à primeira vista parecem dizer. Essas palavras são espírito e vida. São palavras que levam à fé. E é esta fé que S. Pedro acaba por professar. Assim, o discurso sobre o Pão da vida termina, como sempre as narrações de S. João, com um solene acto de fé.

O desassossego de sermos livres

“se um homem nasce para escravo, a liberdade, sendo contrária à sua índole, será para ele uma tirani

por João Távora, em 20.08.21

"Para terminar, volto à ideia da “Atlantic”: porque é que tanta gente não quer sair do confinamento? Porque é que tanta gente prefere a segurança e a ilusão do risco zero em relação à liberdade? Paradoxalmente, o medo dá segurança conceptual e, acima de tudo, dá uma receita moralista que garante uma alegada superioridade moral àqueles que erguem bem alto o estandarte do medo enquanto única saída.

Do ponto de vista epistemológico, nada dá tanta segurança conceptual como o medo em relação a um único inimigo: só há uma coisa, esse inimigo, para percecionar. O resto da realidade, a imensidão de fenómenos e factos da vida, desaparece. Acompanhar cinco, dez ou quinze fenómenos de uma realidade pluralista exige um esforço mental permanente e colossal. Ao reduzir a realidade a um único item, o medo torna a vida intelectual mais simples e isso tranquiliza, dá segurança, temos a sensação de que controlamos tudo. Neste caso, só interessa ver o Excel diário da covid. (...) Já não interessa a cultura da liberdade e a banalização do estado de emergência, tal como a banalização dos pedidos de censura e silenciamento daqueles que ousam questionar a realidade reduzida a um único item. Fazer perguntas torna-se num ato imoral, repulsivo. Pois bem, se a realidade está reduzida a um único problema, o medo também é um calmante moral, porque acaba com os dilemas da escolha. Se tudo é covid, então não há escolhas e equilíbrios a fazer nas nossas escolhas. "

A ler na integra este estimulante ensaio do Henrique Raposo no Expresso de hoje

* Fernado Pessoa em “O Banqueiro Anarquista”

Outra vez arroz?

por João Távora, em 20.08.21

mw-1024.jpegAinda bem que o Expresso agora sai à sexta-feira que eu estava roidinho por ler mais uma entrevista ao António Costa, que desta vez até faz capa na revista que dá um belo poster para pendurar na parede do meu quarto.
É natural: num regime de partido único, este é um nicho de mercado com garantias.

Que vergonha, Manuel Carvalho, que vergonha

por henrique pereira dos santos, em 20.08.21

O Público despublicou um artigo de Pedro Girão (que reproduzo integralmente no fim do post, para que qualquer pessoa possa avaliar a questão, já que o Público o fez desaparecer) "Uma vacina longe demais".

As justificações são as seguintes:

"pelo tom desprimoroso e supérfluo usado pelo autor em relação a várias personalidades da nossa vida pública";

"pelo seu teor ... tende a instigar a ideia de que a vacina contra a covid-19 é "uma experiência terapêutica" sem validade centífica".

Despublicar um artigo de opinião com base nestas justificações, qualquer que seja o conteúdo do artigo, é uma vergonha para qualquer jornal no mundo e este post poderia ficar por esta constatação.

O Público é claro: "Numa questão tão sensível como a da pandemia, recusamos em absoluto promover juízos que tendem a negar a importância ou relativo consenso científico em torno das vacinas". Ou seja, o Público é claro a dizer que o consenso científico (uma contradição nos termos, seja em que assunto for, mas passemos por cima disso) é relativo, mas ainda assim entende que os seus leitores são incapazes de fazer juízos sobre as diferentes opiniões e, por isso, recusa-se a publicar opiniões que o Público acha inaceitáveis.

É extraordinário que jornais achem que há opiniões inaceitáveis, indignas de chegar ao espaço público e é por defender isso que o Público deveria pedir desculpas aos seus leitores, e não por publicar opiniões, sejam elas quais forem.

Se isto já fosse pouco, basta ler o texto abaixo para verificar que o Público entende que não se podem escrever textos "desprimorosos" para Marcelo Rebelo de Sousa, Gouveia e Melo e António Costa, as únicas "personalidades da nossa vida pública" referidas no texto. Deixemos de lado a comparação entre o desprimor deste texto para com essas personalidades, e o desprimor com que o Público, milhares de vezes, no tom e no conteúdo, se referiu a Cavaco ou Passos - para só referir dois habituais sacos de pancada do Público, quer dos seus colunistas, quer dos seus jornalistas - para nos espantarmos com a cobardia de omitir os nomes de três figuras do poder para disfarçar o facto do Público achar que o respeitinho é muito bonito e que o Poder (com letra maiúscula para condizer com o respeito que o Público lhe devota) não deve ser incomodado pelo tom dos artigos de opinião que se publicam.

Aparentemente o Público acha que as discussões sobre a vacinação de crianças e adolescentes, sobre os procedimentos excepcionais de aprovação de uso imediato das vacinas e coisas que tais, são tabus.

E, mais que isso, acha que a discussão ética sobre a ideia de usar crianças e adolescentes como escudo de terceiros nem sequer deve chegar ao espaço público.

Eu nunca escreveria o texto abaixo, não o subscrevo, sobretudo quando se equivale a aprovação das vacinas através de um procedimento excepcional a "uma experiência terpêutica", uma equivalência que me parece claramente excessiva, mas este post não é sobre este texto e muito menos sobre o seu conteúdo, mas sobre a vergonha de ter um jornalismo atento, venerando e obrigado.

Manuel Carvalho faria bem melhor em controlar a informação que o seu jornal publica sobre a epidemia, começando por impedir que os seus jornalistas propaguem informação falsa, como ainda hoje faz na sua primeira página, mesmo na manchete principal, ao sugerirem que hoje as máscaras são obrigatórias na rua, uma mentira recorrente do Público e de grande parte da imprensa.

Limitem-se a ser jornalistas e deixem-se de se preocupar com a minha, e de todos os leitores, incapacidade para interpretar textos e opiniões heterodoxas e minoritárias e, sobretudo, tenham vergonha, tenham muita vergonha, e deixem de fazer estas figuras tristes para me proteger.

"Os argumentos que foram e continuam a ser utilizados publicamente acerca das vacinas em geral, e agora muito concretamente acerca da vacinação de jovens e crianças, são argumentos irracionais, emotivos e políticos.
Cada ciência tem a suas leis, as suas regras, o seu modo de fazer as coisas. As decisões decorrentes delas devem seguir as regras da ciência, impondo decisões lógicas e transparentes. Quando se trata de construir uma ponte, por exemplo, os detalhes técnicos não se debatem nos jornais, na televisão ou nas redes sociais. Não ouvimos “especialistas” de economia, ou de matemática, ou de sociologia, a defenderem que o betão do primeiro arco pode ou deve secar uma semana em vez das duas habituais. Não importa a urgência, a necessidade ou a bondade da obra: há normas de procedimento, há regras de segurança, há ciência. Fossem quais fossem as pressões, nenhum engenheiro aceitaria diminuir os prazos correndo o risco de que a ponte caia — eventualmente com carros e pessoas a atravessá-la.
Certamente, poderíamos dizer que a Engenharia é uma ciência bastante exacta — e a Medicina não o é. A Medicina é uma ciência aplicada, com graus de risco e de falibilidade que não são em geral bem compreendidos por quem raciocina sob o prisma das ciências exactas. A Medicina não é uma dessas ciências, mas tem igualmente as suas normas de procedimento, as suas regras de segurança. E não é a aparente urgência de tratamentos, exigidos diariamente pela loucura mediática e pelo pânico geral, que deve permitir ultrapassar as regras. No caso das vacinas em geral, antecipadas mais do que a segurança que sempre foi seguida impunha, e muito particularmente no caso da sua aplicação a crianças e jovens, não é isso que está a acontecer: a ciência médica está a ser ignorada, as regras estão a ser quebradas. Os argumentos que foram e continuam a ser utilizados publicamente acerca das vacinas em geral, e agora muito concretamente acerca da vacinação de jovens e crianças, são argumentos irracionais, emotivos e políticos. Isso é o pior que se poderia desejar para uma ciência que se pretende devotada a curar mas também, e antes de tudo, a não causar danos.
Os apelos recentes do Presidente da República e do responsável da vacinação (ambos excedendo de forma escandalosa e irresponsável as suas competências) são emotivos e políticos — dando de barato que possam ser “bem intencionados”. O vice-almirante, melhor do que ninguém, deveria saber o que pode acontecer quando se ignora a ciência militar e quando, pressionado por razões ou interesses de ordem política, se ordena uma ponte longa demais. A História lembra-nos como isso pode ser meio caminho andado para a tragédia; e, quer essa tragédia aconteça que não, esse tipo de decisão não deixa de ser uma irresponsabilidade. Colocar em risco a vida dos soldados, ou mesmo achar normal a existência de eventuais baixas e de vítimas colaterais, pode ser uma ideia com que as chefias militares convivam tranquilamente. Mas não são aceitáveis. E, convém lembrar, nós não somos soldados; e convém também frisar que recorrer a crianças como soldados não é tolerável.
Pelos mesmos motivos, a posição do Presidente da República nessa matéria é absolutamente escandalosa, parecendo baseada em conhecimentos débeis do assunto, em hipóteses duvidosas, em desvario emocional, ou em possíveis interesses. É pena constatar que ele não é actualmente o defensor dos portugueses, tendo-se progressivamente transformado num risco para os portugueses. E a posição de António Costa, congratulando-se com uma decisão final que ele próprio e as autoridades que ele tutela manobraram de forma palaciana, seria lamentável se não fosse apenas o seu registo habitual, cínico e falso.
Repito, os argumentos usados pelos (ir)responsáveis e pelos especialistas (alguns deles médicos) são emotivos e não-científicos. Deixemos a ciência ser ciência, sem pânicos, emoções ou estados de alma. Ou seja, paremos de fazer o que andamos a fazer há um ano e meio. Vacinar jovens e crianças com a motivação emotiva de que temos de salvar o resto da sociedade é um argumento revoltante. Insistir nessa ideia quando já percebemos que a eficácia das vacinas é muito relativa é uma atitude puramente disparatada. Não podemos usar os nossos filhos como escudo para a pretensa defesa da saúde dos adultos; e justificar a administração de uma vacina insuficientemente testada para o bem da saúde mental dos adolescentes é, em si mesma, uma ideia que remete para o questionar da saúde mental de quem a defende.
Pessoalmente, na covid como em qualquer outra doença, tomarei todas as precauções possíveis e farei todos os tratamentos adequados. Mas há limites, e a segurança dos meus filhos é uma deles. Se eu tiver que morrer por causa desse princípio, morrerei tranquilo; mas não submeterei os meus filhos a experiências terapêuticas e a riscos para me salvar. Sobretudo quando tudo indica que essa “solução” seja mais um fracasso e mais uma mentira a somar às anteriores. Sobretudo quando essas experiências se aproveitam do pânico de uma população desinformada e manipulada. Sobretudo quando essas experiências são exigidas e decididas por especialistas cobardes, por médicos cobardes, por políticos cobardes, por militares cobardes. Sim, porque só pode ser cobardia tentar usar crianças como um escudo humano. Deixem-nas crescer. E cresçam.”

Fogos e conservação

por henrique pereira dos santos, em 19.08.21

O fogo e o pastoreio tinham, e ainda têm, muito má fama nos meios da conservação da natureza.

Essa má fama decorre da ideia de que, na ausência de perturbações humanas, os sistemas naturais evoluíriam para matas pristinas complexas em que a diversidade seria máxima por ser o apogeu da natureza, uma declinação da ideia muito humana de que existe um sentido da história, rumo ao paraíso.

Esta é a ideia base das políticas mais clássicas de conservação que associam perturbação a perda, e ausência de intervenção a melhoria do estado de conservação.

Só que esta ideia base tem vindo a ser destruída pela acumulação de conhecimento. Por isso fiquei muito espantado por uma ideia tão datada, errada e, na verdade, profundamente reaccionária, ter uma presença tão importante no Pacto Ecológico Europeu, ao ponto de se estabelecerem limites cegos para a percentagem da área da União Europeia que deve estar sob figuras legais de protecção (30%) e, muito mais grave, sem intervenção humana (10%).

Nos estados iniciais de evolução de um ecossistema, a acumulação de matéria orgânica (ou biomassa, ou qualquer das outras designações para designar a acumulação de tecidos orgânicos) é a regra (há umas excepções, como os desertos, nas situações em que as condições para a sobrevivência de plantas são especialmente hostis).

Essa acumulação não é eterna porque as plantas morrem (incluindo neste conceito a morte de partes das plantas sem morte do indivíduo) e, logo que pára a fotossíntese que fornece a energia para a construção e manutenção de cadeias químicas complexas que caracterizam grande parte dos organismos vivos que conhecemos, estas cadeias químicas começam a partir-se (na verdade é um processo contínuo que ocorre também ao longo da vida) e a decompor-se em cadeias mais simples, até chegarem aos elementos químicos base.

Estes conceitos base do ciclo da vida são do mais consensual que se encontra na discussão sobre a evolução dos sistemas naturais (deixemos de lado a imensa complexidade que estou a simplificar).

O que acontece com o consumo de plantas pelos animais é a redução do tempo que vai de haver uma folha viva a haver uma folha decomposta nos seus elementos químicos base. O sistema digestor dos animais tem a função de degradar alimentos com cadeias químicas complexas e fortes em componentes mais simples que possam ser usadas nas funções dos diferentes orgãos dos animais, quer na disponibilização de energia, quer na construção de outras cadeias químicas complexas para as quais os elementos químicos base são necessários.

O fogo tem exactamente o mesmo papel ecológico, apenas com a diferença de ser um processo muito mais rápido.

Na feliz síntese de Carlos Aguiar (citando de memória, espero não estar a trair o seu pensamento), o consumo de plantas pelos animais corresponde a um processo mais lento de decomposição da biomassa e o fogo corresponde a um processo explosivo, mas no essencial o papel ecológico é o mesmo: decompor os tecidos orgânicos em elementos químicos simples que vão alimentar a fertilidade do solo, a base para a produção de novas plantas.

Não compreender que sempre que a taxa de acumulação de matéria orgânica num local é maior que a taxa de decomposição, o fogo acaba por ser um elemento inevitável de reposição de equilíbrios ecológicos, impede-nos de compreender quer o papel ecológico do fogo, quer a forma como podemos manipular os sistemas para termos padrões de fogo socialmente mais úteis que os que temos actualmente: acelerar a taxa de decomposição da matéria orgânica usando processos menos explosivos e mais controláveis.

Pelo contrário, compreender estes processos, para além de pôr em evidência o papel dos animais nessa gestão, conduzir-nos-á, forçosamente, à utilização de mais fogo, em circunstâncias que limitem a sua capacidade "explosiva", para evitar padrões de fogo socialmente pouco interessantes, como aquele cujos resultados aparecem nos anos em que os astros se alinham para produzir condições meteorológicas extremas (o que está longe de estar a acontecer, para já, este ano).

Arrepiante

por João Távora, em 18.08.21

40483124_an_afghan_woman_clad_in_burqa_veil_begs_wA indisfarçável satisfação pela capitulação americana no Afeganistão manifestada pelo bloco e pelos comunistas, mostra bem o "amor" pelos direitos humanos que nutrem estes partidos de quem o governo de António Costa está refém.

Arrepiante, não é?

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