Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Por coincidência, no fim da semana passada (mas antes do fim de semana), deparei-me com duas profissões muito empenhadas em demonstrar que os seus clientes não prestam (saltemos por cima da generalização que, como todas as generalizações, é bastante abusiva).
Por um lado participei numa conversa interessante organizada pelo Luís Serpa (não vi todos os painéis, mas vi quase todos, embora um deles com algum atraso) e cuja gravação pode ser vista na página do facebook da Oficina da Liberdade (não sei se em mais algum sítio).
Por outro, alguém se lembrou de se indignar com uma coisa amovível que não se vê de lado nenhum que Ronaldo resolveu pôr na cobertura que tem num prédio (eventualmente sem respeitar a pesada burocracia que está associada a estas coisas e que dá origem à velha piada de que a melhor maneira de ter uma janela nova legalizada é abri-la e depois submeter um pedido de alterações para a fechar, que virá recusado, implicitamente legalizando a janela).
Ora na conversa acima estavam jornalistas em painéis e alguns desses jornalistas (não todos) foram claríssimos a explicar que o problema da imprensa era a falta de cultura de comunicação na sociedade, tal como vários arquitectos, na discussão sobre a coisa do Ronaldo (honni soit qui mal y pense), se lamentavam da falta de cultura arquitectónica da sociedade.
Os jornalistas devem ser a classe mais corporativa que conheço (dizem uns dos outros o que Maomé não disse do toucinho, mas ai de quem, de fora, resolva dizer um décimo disso) e nos arquitectos também há uma grande falange muito corporativa, pessoas que parecem aqueles chefs que perante o falhanço do seu restaurante não olham para a qualidade do servem, ou para a relação qualidade/ preço, ou mesmo para o desfasamento entre o que o Chef quer e o que os potenciais clientes querem, e preferem culpar a sociedade de não estar preparada para a originalidade do conceito do restaurante.
Não, não estamos a falar de um ministro de um país que tem uma companhia aérea com forte presença do Estado e apresenta prejuízos há anos sem fim, a dar lições de gestão de companhias aéreas a quem tem uma companhia aérea feita do nada, que tem lucros, que investe e contrata, isso é outro tipo de disfunção da relação que se tem com as empresas e o lucro.
Do que falo é mesmo de uma atitude que para mim é extraordinária: perante as dificuldades da empresa, o empresário conclui que o cliente não presta.
Aparentemente nunca interiorizaram que quando se perde uma guerra, a responsabilidade nunca é dos soldados, é sempre, sempre dos generais.
Nas empresas isto traduz-se na ideia de que se a empresa vai à falência, a responsabilidade é sempre, sempre do empresário, ou porque não soube ler os ventos de mudança que tornaram o negócio das luvas num negócio marginal, ou porque não soube ler os riscos da excessiva dependência das decisões de financiamento de terceiros ou de políticas públicas que mudam com os ciclos eleitorais, ou porque não soube interpretar o contexto em que a empresa operava, há milhares de factores envolvidos e falir não é vergonha, as probabilidades de falhar são muito maiores que as de ter sucesso, o que não faz sentido é responsabilizar terceiros por esses insucessos.
E, muito menos, revoltar-se contra os clientes e achar que os clientes não prestam, que a empresa é muito boa e é muito bem gerida, só tem mesmo o problema de trabalhar para uma sociedade que não sabe reconhecer a qualidade dos jornais, ou da arquitectura, ou do que quer que seja.
Esta história conta-se depressa.
"Não tenho maneira de saber se isto é realmente verdadeiro, se é, é gravíssimo e estre Francsico Santos Silva merecia uma carga de porrada (desculpem a linguagem e a sugestão, mas estou a tentar manter-me ao nível do texto original).
Se não é, o mesmo se aplica a quem inventou esta história, e continua a ser gravíssimo."
Este é um post que fiz no Facebook e que levou a que esteja proibido de escrever e comentar por três dias (resulta, provavelmente, da denúncia de um comentador aqui do Corta-fitas, a julgar pelo comentário ao meu post anterior em que me pergunta porque não digo nada no Facebook, já que é difícil a terceiros saber que estou bloqueado e ele sabe), a propósito desta coisa inacreditável.
É para o lado que durmo melhor (eu próprio abandono o facebook de tempos a tempos) e acho que o Facebook tem todo o direito a gerir o estaminé como entender: eu só lá estou se quiser, e eles permitem que eu esteja, se quiserem.
Para o que queria chamar a atenção, a propósito de uma troca de argumentos entre numa conversa em que participei ontem, e dos argumentos a favor da liberdade de expressão de Luís Aguiar-Conraria, Carlos Guimarães Pinto, Eduardo Cintra-Torres e das cautelas em relação a essa liberdade de Joaquim Vieira e Manuel Carvalho (é extraordinário como são os senadores da imprensa a querer encontrar mecanismos para controlar a liberdade do discurso), é que o resultado concreto do policiamento do discurso tem sempre, sempre, o risco do que é evidente neste caso.
Um indivíduo concreto tem uma atitude vergonhosa: não concordando com um colega, faz queixa ao empregador do colega, usando argumentos falsos (isso é o menos, poderia ter usado argumentos verdadeiros que continuava a ser vergonhoso), pretendendo que o empregador sancione o colega pelo que disse (e ainda invoca a liberdade de expressão).
Eu comento essa atitude vergonhosa dizendo que não tenho maneira de confirmar se existe (embora todos os indícios seja no sentido de que seja verdadeira e o senhor Francisco Santos Silva tenha orgulho em ser um denunciante sem causa), mas a existir o seu autor merecia isto ou aquilo e, a não existir, quem inventou a história, merece isto e aquilo.
Qualquer criança com sete anos percebe que estou a usar uma mera figura de estilo (e não a organizar uma espera a ninguém), mas outro orgulhoso denunciante sem causa sabe que pode usar as regras de policiamento de discurso para me chatear e portanto faz uma denúncia e o Facebook toma uma decisão que na prática significa apoiar denúncias indignas como a que foi feita, sancionando quem se revolta contra esse tipo de indignidade.
O problema é a imperfeição do sistema de controlo social do Facebook?
Não, o problema é haver tanta gente, tão qualificada que não perceba que este é o resultado inevitável de qualquer sistema de policiamento do discurso que desloca da sociedade para uma entidade qualquer o poder de sancionar discursos desadequados.
Ou melhor, o problema é haver tanta gente a querer tornar este modelo num modelo normativo assente no aparelho repressivo do Estado, dando-lhe formas legais e coercivas.
E haver ainda mais gente que acha que não há grande risco nisso e que realmente há coisas que não se podem aceitar no discurso público, como a mentira, o incitamento ao ódio e todas essas boas intenções que sempre justificaram todos os sistemas de censura que existiram e existem.
Independentemente de colaborar mais activamente com a Iniciativa Liberal no que me pedem (e na verdade até estar em falta com uma coisa que me pediram e tenho adiado), de maneira geral respondo sempre a quem me pede opiniões sobre que políticas poderiam ser adoptadas para uma melhor gestão do território e do fogo.
Ainda no Sábado passado estive num debate organizado pela Iniciativa Liberal da Feira, um dia destes um amigo pediu-me opiniões, que a seu tempo darei, para uma candidatura autárquica do PSD e mais quem aparecer (no princípio do Livre, por exemplo, pediram-me opiniões sobre o programa ambiental, que dei, sem o menor problema, tal como participei em iniciativas do PAN, nas quais fui, aliás, defender o valor de gestão do território e da conservação da natureza de actividades como a tourada ou a caça).
A propósito deste boneco que o Paulo Fernandes publicou (com base no conhecimento canónico sobre o assunto, não é uma invenção do Paulo, pelo contrário, é a mera apresentação gráfica das conclusões de Bret Butler) explicando que faixas de dez metros ao longo da estrada não protegem ninguém de fogos como os de Pedrogão, um comentador perguntou o que podem fazer autarquias, com poder e orçamentos limitados, para contribuir para diminuir o risco dos fogos, para além de forçar a execução de faixas de segurança.
Aliás outro comentador lembrou que as ilhotas da barragem da Aguieira arderam todas nos fogos de Outubro, como se vê nesta fotografia.
Sendo claro que em fogos em condições extremas as faixas de gestão de combustível são essencialmente irrelevantes, subsiste então a pergunta: o que podem fazer as autarquias nesta matéria.
Para todas as candidaturas às próximas eleições autárquicas, aqui ficam algumas sugestões rápidas.
Trabalhar as ementas das escolas e lares para que financiem as actividades que fazem gestão de combustíveis;
Trabalhar os circuitos comerciais da actividades que financiam a gestão de combustíveis de modo a aumentar o rendimento de que exerce essas actividades;
Trabalhar o estatuto social de quem faz gestão de combustíveis;
Usar os recursos públicos, como as equipas de sapadores, para apoiar os agentes económicos que fazem gestão de combustíveis, por exemplo, usando-os na criação de faixas de contenção de fogos controlados em vez de os pôr a gerir combustíveis directamente, isentar de taxas as autorizações para fogo controlado, pastorícia, resinagem, trabalhar a formação profissional para a orientar para a qualificação destas actividades, ter acordos com os corpos de bombeiros para que façam o apoio ao fogo controlado sem custos para o utilizador;
Fazer fogos controlados em função dos interesses das actividades economicas que fazem gestão de combustíveis em vez de os fazer em função de planos teóricos elaborados pelos seus gabinetes técnicos florestais;
Capacitar os seus gabinetes técnicos florestais para apoiar a pastorícia, a caça, a conservação, a resinagem, etc., em vez de os usar em tarefas burocráticas de aplicação de regulamentos esotéricos;
Usar os veterinários municipais no apoio à pastorícia, etc., etc., etc..
Resumindo, o que as autarquias podem fazer é deixar-se da vã glória de mandar os outros fazer o que nos parece que deveriam fazer e perceber que a gestão das paisagens e, consequentemente, do fogo, é uma tarefa colectiva que depende da remuneração da gestão que pode conduzir a evolução num sentido ou noutro.
E, aceitando isso, procurar usar os recursos dos contribuintes (não existem recursos públicos, como todos sabemos, só existem recursos dos contribuintes que o Estado coercivamente reserva para si, no pressuposto de que há matérias que são mais bem resolvidas fora do mercado) para apoiar a viabilização das actividades económicas e sociais que fazem gestão concreta de combustíveis.
Tudo o resto é pura destruição de valor, sem qualquer efeito real na gestão do fogo.
O Governo português pediu uma reunião à Ryanair (não é engano meu, é mesmo o governo português que pede uma reunião com a Ryanair) para lhe puxar as orelhas, nos termos que aqui se podem ler.
A Ryanair resolveu responder a este puxão de orelhas com umas valentes caneladas, de que destaco duas:
"During that call, Ryanair criticised the false claims made by Minister Santos in recent days that; Ryanair was “waging commercial war to gain market share” – (False – this is called competition)."
"Ryanair agrees that Portugal has this “right”, but it does not believe that €3bn of scarce Portuguese taxpayers’ funds should be diverted from investment in schools, hospitals and other much need infrastructure to subsidise a failed, high fare flag carrier airline like TAP. TAP has little value, as proven by the fact that the Portuguese Government acquired 45% from David Neeleman for just $45m."
O que eu tenho a dizer sobre isto é simples: estou cheio de vergonha por ter um ministro que desconhece o velho provérbio de que "quem diz o que lhe apetece, ouve o que não quer".
E tenho ainda mais vergonha de ter um governo que tem das empresas a visão que é bem clara em toda esta história, mas também na forma como são tratadas as PPP da saúde e muitos, muitos outros exemplos: para este governo, as empresas são o mal necessário para que haja impostos que permitam ao governo manter o eleitorado do Partido.
Já por aqui tenho feito referências a Nuno Palma, quer a propósito da história económica de Portugal, quer a propósito da evolução do ensino durante o Estado Novo, sendo clara e manifesta a minha consideração pelo seu trabalho.
Não tenho estado atento ao que se passa na convenção do Movimento Europa e Liberdade (penso que é assim que se chama), mas por puro acaso o mural de uma amiga levou-me ao Polígrafo (outra coisa a que também não ligo grande coisa) e, daí, para a verificação de uma afirmação ignorante do deputado Pedro Marques (sei que desta vez a verificação foi feita a pedido de Nuno Palma, mas se o Polígrafo se dedicar a informações ignorantes de políticos sobre a história de Portugal, não tem mãos a medir).
E transcrevo as partes que mais me interessam:
"eu quero ser muito claro, compreender o Estado Novo é muito importante, não para o defender, uma vez que é indefensável ao nível político, mas é importante para compreendermos porque é que é falsa esta narrativa que foi criada após o 25 de abril e porque é que essa narrativa nos ajuda a explicar porque é que, hoje em dia, Portugal é um país com imensa resistência a ideias que não sejam de esquerda", ressalvou. "Isto leva a situações paradoxais, as tais tentativas de ilegalizar o Chega mas não o PCP, nem o PCPT/MRPP, nem o Bloco de Esquerda, nem o PNR.O atual primeiro-ministro que diz que um partido que negoceia com o Chega, como o PSD não é de confiança, mas depende da extrema-esquerda há anos e há seis anos do PCP em particular que é um partido, esse sim não democrático, não há dúvidas".
"Vamos então tentar perceber como é que essa narrativa foi construída. O Estado Novo, como este gráfico mostra, o século XX para Portugal correspondeu a uma enorme convergência com a Europa e esse arranque dá-se com o Estado Novo. Mas isto não é só o PIB [Produto Interno Bruto] per capita, corresponde também a uma melhoria nas estatísticas de bem-estar como, por exemplo, a enorme queda da mortalidade infantil. Foi com o Estado Novo que se deu a convergência com a Europa e que se deu a integração com a economia europeia, com a EFTA. E o Estado Novo foi revisionista a vários níveis, reformista, resolveu o problema do analfabetismo, que em Portugal era de cerca de 75% em 1900 e, entre as crianças, no final dos anos 50 era absolutamente residual. Também foi reformista ao nível da justiça", destacou.
"Mas, agora vamos ver como é que os materiais escolares que são ensinados nas escolas aos nossos filhos refletem esta realidade. Este é um tema que é muito caro à esquerda, em particular à extrema-esquerda. Quer controlar estas matérias, por questões de género, de colonialismo, disto e daquilo. O programa de História do 12º ano de acordo com os materiais oficiais do Ministério da Educação que estão disponíveis online, qualquer pessoa pode consultar, afirmam que é obrigatório ensinar às nossas crianças que o Estado Novo impediu a modernização económica e social do país e isto é considerado uma aprendizagem estruturante, mas é falsa e inconstitucional, uma vez que a Constituição proíbe o ensino de natureza ideológica. Depois, a sugestão de trabalho de equipa é um debate sobre o Holocausto, é bizarro tentar associar o Holocausto ao Estado Novo. O comunismo só é mencionado uma vez neste programa, sem ser criticado. A bibliografia são obras do marxista Eric Hobsbawm ou de Fernando Rosas. Este ensino que a esquerda e a extrema-esquerda em particular se insurge permanentemente dizendo que é fascista e dizendo que querem um ensino anti-fascista", acusou Palma."
Ora ainda bem, como um post que vi por acaso, que conduz a um sítio que não frequento, para ouvir falar numa iniciativa que não acompanho e o resultado é a magnífica síntese de um dos problemas do ensino em Portugal.
Note-se que não é só nestas matérias, em coisas que conheço razoavelmente, como conservação da natureza, fogos e eucaliptos, por exemplo, a quantidade de disparates nos manuais escolares é assombrosa, não estou sequer a falar de opiniões, estou a falar de coisas verificáveis e que estão factualmente erradas.
Eu não sei como isto se resolve, mas que é um problema, é com certeza, veja-se como Pedro Marques se tornou ignorante, nesta matéria, apenas por acreditar no que lhe ensinaram na escola e não ter tempo para estudar as fontes originais de informação que lhe poderiam trazer mais luz ao espírito.
Esta é uma fotografia do estandarte liberal com 138 x 202 cm bordado pela Rainha D. Maria II aos 10 anos que estará na origem do pavilhão azul e branco oficial da Monarquia Portuguesa até Outubro de 1910, pertencente na actualidade à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. O Vasco Rosa escreve no Observador sobre a exposição "D. Maria II. De princesa brasileira a rainha de Portugal" que estará patente ao público a partir de amanhã no Palácio da Ajuda. Leia aqui.
Já cá mora a primeira dose da vacina. Uma máquina de vacinar está montada aqui no pavilhão de S. Domingos de Rana - antes assim. Éramos centenas avançando disciplinadamente em várias filas, da mesma faixa etária, com paragens em diferentes salas, sempre com publicidade estática de grandes dimensões à Câmara Municipal de Cascais, até acabar na sala de recobro com 100 cadeiras viradas para um ecrã onde o Carlos Carreiras paternal nos discursa coisas ininteligíveis intercalado com imagens de acções camarárias contra a pandemia, como a "fumigação" de passeios públicos - que como se sabe é o maior dos embustes no dito "combate" mas resulta em imagens sensacionais. Dou isso de barato, eu quero é que se vire esta página e que me deixem viver a minha vida em paz.
"E há quem se pergunte: para quê ouvi-los? A essas pessoas respondo que confrontaremos todos os os banqueiros, flibusteiros de cartola e empresários da fortuna fácil porque o país tem de saber o que acontece quando se deixa a economia nas mãos da elite financeira. É um espetáculo degradante? É. Mas olhem, olhem os abutres que compram o nosso país a saldo e verão que pouco mudou. ... Dívida, especulação e apropriação de bens comuns são as regras do capitalismo financeiro. ... É um sistema instável onde se vende muito, mas os salários são baixos, onde os lucros crescem, mas pagam menos impostos, onde a actividade é frenética, mas a estagnação e a crise são a regra. ... [o que pretendem é que ] o Estado não se intrometa em três áreas: a banca, os serviços públicos e o trabalho. É que se o fizesse, acabariam as desigualdades".
Vamos esquecer a infantilidade da argumentação, mas não esqueçamos o que aqui está: Mariana Mortágua é muito clara, não está nas Comissões de Inquérito seja do que for para fiscalizar o governo e a actuação do Estado, Mariana Mortágua está nessas comissões para nos mostrar a todos que o capitalismo é mau e as desigualdades resultam da falta do Estado na banca, nos serviços públicos e no trabalho.
A forma como a sociedade - em especial o jornalismo - leva ao colo esta forma de manipulação das instituições democráticas para obter ganhos de propaganda, em vez de defender aquilo que é verdadeiramente a sua função, fiscalizar politicamente a actuação do Governo e do Estado (as relações entre privados resolvem-se nos tribunais, não na Assembleia da República e não com estes julgamentos populares), é muito característica de uma sociedade muito pouco institucionalista e fascinada por estes julgamentos populares feitos em direto.
As comissões de inquérito não servem para substituir a justiça ou a censura social de comportamentos privados, servem para fiscalizar o Governo e a actuação do Estado e com o triste espetáculo que os senhores deputados estão a dar o resultado é a erosão da credibilidade das instituições.
Mariana Mortágua não será uma flibusteira de cartola, no sentido em que usou a expressão: uma pirata, uma soldado (desculpem, eu sei que há que diga que soldada é um soldado feminino, mas o seu significado normal é o de um pagamento) irregular.
Mas é seguramente uma flibusteira, sem cartola, nos outros sentidos da palavra, uma aventureira trapaceira, e o seu desempenho nestas comissões de inquérito é uma boa demonstração disso e da verdadeira natureza do Bloco de Esquerda, levado ao colo por uma imprensa que também despreza o lucro e a criação de riqueza, convencidos de que as desigualdades seriam resolvidas pelo Estado, com uma perna às costas, se o deixassem... como tem acontecido pelo mundo fora, claro.
Acabo de ouvir na TV o discurso de encerramento da Convenção do BE. A cargo da nossa inefável Catarina Martins.
Gestos estudados, olhares calculados de uma sensualidade de cácaracá. Uma encenação de teatro de marionetas.
E, logo de seguia, o verdete todo cá para fora: que a Direita e a extrema-direita querem matar o povo à fome, e eles não; que a Direita e a extrema-direita se aliam e conspiram contra a Esquerda e o PS já descamba para o centro; que a saúde é para todos e não apenas para os ricos; que etc, etc...
De tudo resultam dois fundamentais aspectos a devererm ser bem anunciados:
- O populismo da Esquerda, a que os mais cerimoniosos chamam os «partidos de protesto»;
- O terror (também patente no discurso do Sr. Pureza) de que eleitoralmente o Chega vá além do BE.
(Porque será muito difícil explicar às "massas" como assim - eventualmente - terá acontecido.)
E Marisa enorme. Uma voz, um voto, uma presença que vale por dois e meio.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Palavra da salvação.
Comentário: Com a Páscoa, inicia-se a nova Criação. E, como na primeira, também agora o Espírito Santo está presente, a insuflar aos homens, mortos pelo pecado, a vida nova do Ressuscitado. Jorrando do Corpo glorificado de Cristo, em que se mantêm as cicatrizes da Paixão, o Sopro purificador e recriador do mesmo Deus, comunica-se aos Apóstolos. Apodera-se deles, a fim de que possam prolongar a obra da nova Criação, e assim a humanidade, reconciliada com Deus, conserve sempre a paz alcançada em Jesus Cristo.
Luis Aguiar-Conraria escreve hoje um bom artigo no Expresso, usando os resultados de um estudo a que já qui fiz referência, de Nuno Palma e Jaime Reis, em que compara resultados da Primeira República com resultados do Estado Novo, no que à educação diz respeito.
Resumindo, a história é igual ao legado escolar do Marquês de Pombal e dos Jesuítas: no papel, os primeiros (quer deste parágrafo, quer do anterior), são muito mais modernos, arejados e cheios de ideias certas, no terreno, os segundos (quer neste parágrafo, quer no anterior), têm muito, muito melhores resultados.
Vem isto a propósito da publicação de avaliações das escolas hoje.
Como de costume, lá aparecem os herdeiros da primeira república e do Marquês de Pombal (ver o editorial de Manuel Carvalho no Público, um jornal que, como o algodão, não engana), a explicar como os resultados que demonstram a crescente desigualdade e falta de coesão do sistema de ensino, em que as escolas dos ricos têm sistematicamente melhores resultados, contribuindo para a reprodução social, não resultam das boas ideias que defendem, mas sim das circunstâncias que amanhã têm de mudar.
Mudança essa que prometem desde sempre, sem se lembrar que amanhã é sempre longe demais (sobretudo para as vítimas actuais das suas boas intenções).
Havia, e ainda há embora de forma cada vez mais residual, um mecanismo concreto, que funcionava, que era mais barato ao Estado que as alternativas, e que era excelente a criar escolas em que ricos e pobres se misturam, aumentando as oportunidades dos pobres não herdarem a pobreza dos pais: os contratos de associação.
Por razões que a razão desconhece, os que defendem que o ensino estatal obrigatório com a escolha limitada a quem tem dinheiro para a pagar (que são os mesmos que defendem o fim das parcerias publico-privadas nos hospitais, apesar da evidência dos seus bons resultados, quer para doentes, quer para contribuintes, com o mesmo argumento de que a escolha só deve existir para quem a possa pagar), defendem o fim dos contratos de associações, ao mesmo tempo que vertem copiosas lágrimas pelos resultados daí resultantes.
Fazem-me lembrar os trotskistas que se queixam amargamente do estalinismo der dado muito má fama ao comunismo, como se os resultados do processo para criar sociedades comunistas não tivesse sido sempre, sempre o mesmo, onde quer que tenha sido experimentado (aqui chegados, argumentam que é mesmo essa a questão, experimentar outra vez, agora da maneira certa, sem que se perceba que mecanismos novos garantem resultados diferentes).
Em relação às escolas (e à saude), a ideia de que só quem tem dinheiro para pagar deve poder escolher só pode ter um resultado: o reforço progressivo de uma educação dual, em que os ricos beneficiam das suas possibilidades de escolha e a oferta beneficia de poder melhorar a sua qualidade pelo facto de haver quem esteja disposto a pagar mais por essas melhorias, criando um processo que de diferenciação de ricos e pobres, que se auto-alimenta.
Nas escolas (como na saúde) isto só se resolve proibindo a escolha, ilegalizando o ensino (e saúde) privada e obrigando toda a gente a frequentar o ensino (e os sistemas de saúde) estatais ou, adoptando o caminho inverso de que os contratos de associação e a ADSE são demonstrações: financiar o acesso dos mais pobres ao ensino e saúde privadas, na mesma medida em que o Estado gastaria recursos para fornecer directamente estes serviços.
Depois do Marquês de Pombal diminuir em 90% a população escolar do país, depois da primeira república ter liquidado o melhor (e territorialmente espalhado) ensino do país da mesma forma e com o mesmo tipo de argumentos, este governo resolveu seguir o mesmo processo de reduzir o acesso dos mais pobres ao melhor ensino possível, com os resultados que vamos vendo aparecer cada ano.
A esperança reside no facto de que de todas as vezes, a seguinte foi menos brutal e estúpida que a anterior, mas já era tempo de perceber que, ainda assim, é estúpido ter como referência de políticas públicas a propriedade das paredes das escolas (e hospitais) em vez do acesso dos mais pobres a serviços de educação (e saúde) que podem escolher, eliminando a restrição económica do próprio à escolha.
Agora que a época de fogos já está no horizonte, talvez valha a pena lembrar os especialistas de lareiras.
Em dezenas de discussões sobre o impacto das diferentes espécies de árvores nos fogos - de maneira geral a propósito da tese, muito popular, mas errada, de que o problema de fogos de Portugal está no excesso de eucaliptos e pinheiros - há alguém que vem com o argumento da lareira.
Eu próprio fiquei de boca aberta ao ouvir, numa audição na Assembleia da República, a Associação de Guardas e Vigilantes - em rigor, dirigentes que lá estavam e eram vigilantes da natureza - defender os seus pontos de vista com o famoso argumento da lareira: toda a gente sabe que a lenha de eucalipto e sobreiro ardem de forma diferente na lareira, logo, os eucaliptais e os sobreirais também ardem de forma diferente.
O mais curioso nisto é que este argumento tem sido estudado e investigado por quem trabalha em ecologia do fogo e as conclusões não são essas: o tipo de fogo depende essencialmente da estrutura e quantidade de combustíveis finos, sendo praticamente irrelevante a espécie dominante do povoamento florestal.
Isto é, um eucaliptal não gerido está mais próximo de um carvalhal não gerido que de um eucaliptal gerido, no que diz respeito ao comportamento do fogo (isto é válido para qualquer espécie de árvore).
Se seu vejo que a lenha de eucalipto e de sobreiro ardem de forma diferente na lareira, isso só pode querer dizer que estes investigadores estão todos comprados e dizem o que lhes pagam para dizer, é a conclusão dos especialistas de lareiras.
O problema nisto é o especialista de lareiras não se aperceber que sabe tão pouco de ecologia do fogo, que é incapaz de perceber onde está o problema do que diz.
O fogo da lareira é um fogo estático, com um tempo de residência da chama prolongadíssimo (ou seja, arde sempre no mesmo sítio), que é preciso ir alimentado com combustíveis finos, se se quiser manter a chama acesa (um borralho pode ser muito simpático e confortável, dá para assar umas chouriças ou castanhas, mas não tem chama exactamente porque lhe falta o combustível fino, sendo verdade que o borralho do sobreiro é muito mais interessante que o borralho do eucalipto).
O fogo florestal, pelo contrário, caracteriza-se por chamas em movimento, com tempos de residência relativamente curtos, e é a chama que "vai à procura" dos combustíveis finos para transmitir a chama e continuar a progressão, é um fogo que passa e não fica. Também por isto muitas vezes se usa o paralelismo com a herbivoria para procurar compreender o que é que o fogo "escolhe" na sua progressão.
Na verdade, com condições meterorológicas extremas, não escolhe, segue a direito transmitindo a chama entre folhas, raminhos, manta morta ou qualquer outro combustível fino, proveninete de qualquer espécie, deixando para trás, ao contrário do que acontece na lareira, os troncos com mais de 10 cm de diâmetro, que não ardem. Ao contrário do que se passa na lareira, o fogo florestal não se alimenta da lenha grossa (mesmo na lareira ninguém começa o fogo com material grosso pela simples razão de que para o tornar incandescente é precisa muito mais energia que a da ignição inicial).
O uso do argumento da lareira apenas identifica o nível de ignorância de quem o usa, é uma medida muito clara de que não se sabe sequer o suficiente sobre fogos para saber as consequências de essenciais na caracterização do fogo, como o tempo de residência da chama.
Resumindo, um especialista de lareiras raramente é um especialista em ecologia do fogo e em fogos florestais, não compreendendo por que razão um especialista em ecologia do fogo insiste em contrariar o que lhe parece evidente a partir da sua experiência directa.
Quando ouvirem este argumento, podem passar à fase seguinte da discussão, dali não se aprende grande coisa sobre fogos florestais.
(...) Quase cinquenta anos — sublinhe-se as vezes que for preciso! — após a revolução de 1974 e o fim do dito «império», boa parte da nossa memória colonial continua ainda por descobrir, revelar e debater à luz de muitos documentos que os historiadores actuais sequer viram em instituições científicas, académicas, militares, museus e arquivos nacionais mantidos durante décadas sem orçamento, meios logísticos, equipas técnicas qualificadas e outras condições essenciais ao cumprimento das suas funções perante imponentes massas documentais produzidas por séculos de história ultramarina, que continuam por catalogar e descrever, quanto mais por digitalizar e partilhar em regime aberto (o chamado digital scramble). (...)
A ler o nosso Vasco Rosa na integra, aqui
Um dos mais antigos chafarizes de Lisboa, senão o mais antigo, está hoje seco. É-lhe atribuída uma origem anterior à nacionalidade e uma existência que se confunde com esta. A história e a vida que se estruturaram em seu redor ainda são perceptíveis graças às muitas representações que o retratam ao longo dos séculos. Uma delas foi mesmo objecto de polémica há relativamente pouco tempo. Uma placa ali colocada testemunha que foi “EDIFICADO NO SECULO XIII FOI REFORMADO PELO REI D. DINIS RECONSTRUIDO NO ANO DE 1747 REPARADO DEPOIS DE 1755 E MELHORADO NOS MEADOS DO SECULO XIX.”
Apesar das melhorias e de as todas alterações sofridas, o chafariz D’El-Rei já não dessedenta ninguém. Nada corre das suas bicas. Onde se esperava fluidez e frescura encontra-se, afinal, secura e aridez. Em vez de fonte de vida, é um cenário. Passado sem presente nem futuro. Uma peça de museu com uma única função: recordar o que foi e o que ainda poderia ser. Porque a água continua a correr no seu interior.
Mais do que uma memória de um outro tempo, o chafariz D’El-Rei encerra toda a potencialidade da sua regeneração. Havendo vontade para isso, a estrutura bloqueada pode conhecer a revivificação e reencontrar o caminho de serviço que lhe dá sentido.
A fonte seca, privada da água que lhe conferia um destino e da coroa sobre as armas portuguesas que sublinhava a sua identidade, é visitada por muitos que ali param e que tentam decifrar a sua função. Não é fácil compreendê-la sem que ninguém dali beba.
O seu nome mantém-se porque o escopro da destruição demora mais a erodir as palavras que as pedras. Por muito que o sequem e que o destruam, o chafariz é do Rei. Cento e dez anos passados da imposição da república, aquela ainda é a sua fonte.
O chafariz D’El-Rei espelha o nosso estado colectivo. Como diria Salgueiro Maia, o Estado a que chegámos. Em vez de comunidade viva, alimentada pela ligação constante e natural com uma chefia do Estado que o corporiza, somos uma memória mal cuidada entregue a zeladores de turno e às respectivas personalidades e inclinações.
Os verbos “ser” e “estar” não são sinónimos neste caso: o Rei é e um Presidente da República está. E nunca está o tempo suficiente para ser, nem é o bastante para efectivamente estar. As sucessivas passagens presidenciais e a sobrepartidarização da figura que, sendo política, deveria permanecer acima dos políticos, priva-nos da continuidade que facilitaria todas as mudanças. Entorpece e seca os relacionamentos, ajuda a cavar antagonismos e amplifica as incompreensões mútuas.
Mais do que fons honorum, a monarquia é fons vitae. Sem um chafariz que a todos congregue, restam-nos poços particulares mais ou menos exclusivos, mais ou menos excludentes. A atomização social que hoje experimentamos, agravada pela pandemia, recomenda a revisitação da história e dos espaços comuns, a recuperação da política no que ela tem de mais nobre e a revitalização da ligação entre gerações. Uma chefia do Estado suficientemente estável para o permitir e suficientemente enraizada para não precisar de se justificar saciaria a nossa sede de legitimidade e de futuro.
João Vacas
publicado originalmente no Correio Real nº 22
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.
Palavra da salvação.
Comentário: Pela sua Encarnação o Filho de Deus desceu do Céu, fez-se homem, assumindo assim a condição de servo, e humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz; mas por isso Deus O exaltou, ressuscitando-O de entre os mortos e fazendo-O participar da sua glória, sentando-O à sua direita e dando-Lhe o nome que está acima de todos os nomes, o nome divino de Senhor: à humilhação na sua vida mortal corresponde agora a exaltação, que na Ascensão claramente se manifesta e nos milagres que se lhe hão-de seguir na vida da Igreja.
Um dia destes, uma amiga estava escandalizada com a prestação de Moniz da Maia no Parlamento.
Sobre essa prestação não tenho nada de substancial a dizer, a não ser que ninguém é obrigado a auto-incriminar-se, pode haver maneiras mais desastradas ou menos desastradas de fugir à auto-incriminação, mas não há nada de moralmente atacável em alguém fazer figuras tristes para não se auto-incrimar.
Na sequência da conversa prometi que fazia um post sobre Moniz da Maia e a ética, mas tenho adiado, à procura da forma de o fazer. Não vou fazer o que disse, mas vou contar uma história.
Em boa hora adiei: a conjugação deste excelente artigo de Zita Seabra sobre as comissões de inquérito, com o artigo de hoje no Público de Mariana Mortágua sobre Luís Filipe Vieira - sim, escreve sobre Luís Filipe Vieira, não escreve sobre o governo que vendeu o Novo Banco, governo esse que tem vindo a ter o seu apoio e sobre o qual tem um dever especial de escrutínio, ao contrário do cidadão Vieira, sobre o qual, se tem alguma coisa, dirija-se à polícia judiciária para fazer queixa - deu-me o melhor enquadramento para história que vou contar.
Há atrasado, ainda no tempo de Passos Coelho, o governo decidiu que os dirigentes da Administração Pública seriam escolhidos por concurso, num modelo próximo do que defendo: candidaturas livres, avaliação técnica, escolha discricionária a partir de três ou quatro nomes resultantes dessa avaliação.
Infelizmente, em vez de se limitar a dizer que era este o modelo, o governo inventou a CRESAP e escolheu para a dirigir, João Bilhim (dizem-me que foi o resultado da negociação com António José Seguro, mas não tenho maneira de confirmar).
Na altura eu estava fora da administração pública, sem grande vontade de voltar, mas quando abriu um concurso para Presidente do ICNF, resolvi concorrer porque este era o modelo de escolha de dirigentes que eu defendia há muitos anos.
O lugar em causa não me interessava nem deixava de interessar, no sentido em que o desempenharia com gosto, se fosse caso disso, teria todo o gosto em que fosse ocupado porque alguém diferente escolhido num concurso sério. Sabia, aliás, que a probabilidade de chegar à lista de três nomes propostos à Ministra era alta (o meu curriculum na matéria é muito forte), mas era muito baixa a probabilidade da Ministra da altura estar interessada em me aturar.
Como previsto estava na lista intermédia admitida para as entrevistas finais (seis pessoas, penso eu), mas a entrevista não durou nem dez minutos, não me tendo sido perguntado nada, na verdade e desse processo resultaram então três nomes, dos quais eu estava excluído, constituídos pela pessoa que na altura exercia o cargo e por dois incompetentes manifestos, ou seja, a Ministra não tinha nomes alternativos sobre que decidir, tinha a pessoa que estava previamente escolhida e pessoas imprestáveis para o cargo.
Perder concursos limpos não me incomoda, mas ficar atrás de manifestos incompetentes e fazerem de mim parvo, isso já me incomoda mais, de maneira que resolvi reclamar.
Foi aí que descobri que poderia recorrer da decisão do júri presidido por João Bilhim, para o presidente da CRESAP, João Bilhim, que para fazer a reclamação tinha de pedir à comissão de acesso aos documentos administrativos que obrigasse a CRESAP a deixar-me consultar o processo e mais um conjunto de coisas do mesmo tipo (de que me queixei à Provedoria de Justiça, que me deu razão em toda a linha, mas a cujas recomendações a CRESAP resolveu não ligar nenhuma porque dizia que não era obrigada a fazê-lo, o que é verdade).
Só quando a CRESAP perdeu, no tribunal administrativo (numa acção posta por outras pessoas, eu não cheguei a ir ao tribunal administrativo porque me custaria dinheiro, eu ganhava na calma, e isso não tinha efeito nenhum no processo de nomeação) é que algumas práticas manifestamente ilegais e prepotentes, foram alteradas no estrito limite imposto pelo tribunal.
É agora que entra o parlamento e os senhores deputados que se escandalizam com o facto de haver pessoas que se recusam a colaborar em tribunais populares que os querem condenar fora do sistema do sistema juducial, fazendo uns espetáculos indecorosos para a televisão.
O Presidente da CRESAP, na altura, João Bilhim - o mesmo que agora surgiu a criticar a nomeação de Tiago Preguiça, depois de andar anos a fingir que avaliava pessoas para fazer fretes a quem lhe garantia o poder que achava que devia ter - era pelo menos anualmente ouvido pelo Parlamento (como acontece com vários outros altos funcionários), no âmbito do papel de fiscalização da Assembleia da República.
Eu ouvi a audição e verifiquei que João Bilhim dizia uma série de mentiras sobre como funcionava a CRESAP, mentiras essas facilmente documentáveis (eu conhecia bem o que estava em causa em função do processo em que tinha estado envolvido).
Mandei para cada um dos grupos parlamentares a identificação de uma série de mentiras, e as ligações para onde poderiam facilmente verificar que eram mentiras, e mandei para cada um dos deputados que consegui identificar na comissão que tinha ouvido Bilhim.
Praticamente não tive respostas, tive uma resposta educada do PC a dizer que ia analisar a documentação - não se o fez, mas como é público e notório, o PC tem uma política de nomeações com base na confiança política em todo o lado em que tem um átomo de poder, portanto este nunca foi um assunto que interessasse ao PC, que defende as noemações com critério político, e tive uma resposta extraordinária do Bloco de Esquerda.
Uma assessora do Bloco de Esquerda - uma tal Joana Mortágua, que eu diria ter qualquer relação com a deputada Mariana Mortágua, se alguma vez admitisse que o BE é nepotista e nomeia familiares de deputados para assessores do grupo parlamentar, coisa que nem me passa pela cabeça - respondeu-me que o BE não tratava de casos particulares e mandou-me umas saudações solidárias.
Ou seja, o parlamento que no âmbito das suas competências de fiscalização ouve regularmente altos responsáveis da administração, fica a saber, documentadamente, que pelo menos um desses responsáveis lhes mente, dando informações erradas sobre a forma como são escolhidos os dirigentes da administração pública, não liga nenhuma ao facto de lhe mentirem descaradamente e agora faz-se de virgem?
A mesma deputada que se disse enganada pelo Primeiro Ministro por causa das cativações, continuou a apoiar a aprovação dos orçamentos do Estado com as mesmas ilusões que a tinham enganado da primeira vez e faz-se de campeã da ética?
E se se deixassem de preguiças e fizessem o escrutínio sério das nomeações dos Preguiças que enxameiam a administração pública?
E se fossem ver se está a chover, em vez de fingirem que não têm nenhuma relação com a degradação institucional do país?
Moniz da Maia pode fazer uma figura triste, mas tem uma justificação inatacável: ninguém pode ser obrigado a auto-incriminar-se.
Os senhores deputados é que não têm nenhuma justificação para a quantidade de vezes em que acham que os fins justificam os meios, esquecendo-se de que a democracia não se preocupa com os resultados, a democracia fundamenta-se na clareza e justeza dos processos, independentemente do que resulte da justa aplicação das regras com que todos concordamos.
Eticamente, estou muito mais perto de Moniz da Maia que de Mariana Mortágua, no que às prestações no parlamento diz respeito, sobre isso não tenho a menor dúvida.
Manifestações não são bem o meu ambiente natural, tenho uma costela marxista (versão Groucho) que me faz desconfiar de todos os grupos que me aceitam como membro.
No caso da epidemia, não tenho grande simpatia pelos vários grupos "pela verdade", muito menos por algumas das pessoas que acabaram por ter uma visibilidade excessiva nesses grupos.
É pública a minha gratidão a André Dias, por ter dado o corpo às balas quando era difícil, por ter tido razão cedo de mais em relação a muitos aspectos da gestão da epidemia e, não menos importante, por ter sido tratado de forma absolutamente indigna por delito de opinião.
Parece-me também evidente que o André e eu fazemos abordagens diferentes da epidemia, divergimos em muita coisa, etc., mas a questão de fundo é que isso não nos impede de estar de acordo na oposição à gestão absurda da epidemia que se tornou rapidamente dominante e sufocante.
Nesta altura, em que continua a ser proibido vender bebidas alcoólicas depois das oito, continua a ser proibido beber um copo de três no passeio, que se pretende que seja obrigatório entrar de máscara na praia e muitas outras coisas que são pura insanidade e abuso de autoridade (como impedir alunos de assistir às aulas porque foram às comemorações do Sporting, sem que isso gere a imediata demissão da direcção da escola por evidente abuso de poder), acho que há razões mais que suficientes para estar nesta manifestação a dizer uma coisa simples: a liberdade não é um pormenor, é uma questão central que deve ser ponderada ao mesmo nível que os outros factores, no momento da tomada de decisão.
Sei que estarão na manifestação pessoas a dizer coisas muito diferentes, muitas delas a dizer coisas de que discordo profundamente, mas uma manifestação que defendesse exactamente o que penso seria uma manifestação de uma pessoa só (admitindo que eu não discordaria de algumas coisas que penso, o que não é garantido).
E é isto, ao fim de um ano de paranoia, à entrada da estação de baixa incidência de doenças pulmonares, com a mortalidade geral abaixo ou na média do que seria de esperar nesta altura do ano, mas mantendo-se uma data de regras e regrinhas sem qualquer interesse sanitário, apenas porque nós permitimos que o Estado decida por nós, num momento em que continuam a ser ouvidos os obscurantistas que defendem que é possível esmagar o vírus e patetices semelhantes, acho que faz sentido juntar-me à manifestação pela liberdade.
Lá estarei, desta vez.
Aqui chegados, é importante não esquecermos o caminho que aqui nos trouxe, e homenagear os resistentes que tornaram esta incomensurável alegria possível, resgatada a ferros de tempos sombrios e difíceis. De volta às grandes vitórias que fizeram do Sporting Clube de Portugal tão grande e popular, por estes dias de euforia lembremos todos os sportinguistas caídos nos últimos anos e aqueles que permaneceram até ao fim fiéis a este nosso emblema. Relembro em particular o meu saudoso tio Manuel de Castro, que me abriu os olhos para a beleza de um jogo de futebol no estádio, e principalmente me ensinou os valores da perseverança e do fair-play, que são as mais sólidas fundações do nosso clube.
Hoje deixemos para segundo plano uma equipa de jovens promessas, a maioria delas nascidas sob a bandeira das cinco quinas. Hoje pomos de lado o presidente vilipendiado mas corajoso que, herdando um conjunto de escombros, conseguiu inverter a decadência do nosso clube. Hoje não falarei do jovem e inspirado treinador, que liderou um balneário heterogéneo para as páginas mais douradas da nossa História. Hoje esqueçamos as claques predatórias e outras enfermidades que nos quiseram roubar a esperança de voltarmos a ser felizes. Porque hoje é dia de lembrarmos todos aqueles que não desistiram de estar onde era preciso nos momentos mais negros da nossa História, para resgatar a dignidade que nos tinha sido roubada. Que com obstinação nunca desistiram do Sporting naqueles dias tristes que pareciam ter chegado para sempre. Hoje é dia de homenagear os associados que se mantiveram firmes nas filas das assembleias, nos lugares do nosso estádio, naqueles tempos sombrios, sempre a apoiar o clube para que pudesse sobrevir um amanhã de esperança. É essa a alma enorme que nos distingue dos demais.
Foi essa alma enorme que eu aprendi com o meu tio Manuel que partiu cedo demais. Uma lição que espero deixar de legado aos meus filhos. O Sporting somos nós, a vitória foi nossa. Somos nós os campeões.
Publicado originalmente aqui
Sobre a mesa empoeirada em Belém, o que de mais significativo sobreveio na entrevista a Marcelo à RTP, a coisa é fácil de entender: como a República é uma nódoa ela própria, eles por lá têm que poupar nas limpezas ou arriscam-se a ficar sem nada, tudo esfregado não sobra nada, tudo para o lixo, presidente, regime e tudo.
Li hoje uma jornalista, citando uma fonte anónima do círculo de Costa, concordando com a afirmação do título do post.
Penso que a generalidade das pessoas concordam que Costa é muito vivo, eu, pelo menos, concordo.
Assim sendo, talvez não fosse má ideia olhar com mais atenção para o seu papel na ascenção e consolidação do socratismo, de que é o principal herdeiro.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Resumindo, um tipo tem uma casa no alojamento loca...
Já disse lá atrás que podem definir as condições d...
"pagar a uma IPSS que o Estado escolhe".Escolhe a ...
Sempre que recua, em vez de lhe passar uma rasteir...
Quando é que o capitalismo acabou com a pobreza?