Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Como se sulfatando as vinhas

por João-Afonso Machado, em 08.04.21

Talvez não haja a noção verdadeira do seguinte:

- A estatistica, melhor ou pior, fornece os seus números sobre a incidência letal de uma doença - a Covid.

- A estatísca fornece também os seus números sobre a incidência letal da vacina ("astrazeneca") já em prática no combate a essa mesma Covid.

Tal significando, o paciente (embora em percentagens diferentes) vê-se obrigado a optar entre morrer da doença ou da pretensa cura.

Enquanto tal, o mundo cientifico ainda discute se a dita vacina há de ser, ou não, aplicada. Enquanto tal, a Humanidade, como se tratada a sulfato de cobre, vai vivendo entre o ser oídio ou míldio.

Não se trata de atribuir culpas a cientistas, os quais têm galopado para resolver um problema que atingiu em cheio o planeta. Nem sequer aos governantes do mesmo. Trata-se apenas de sublinhar a gravidade que perspassa a nossa era. E de perceber que todos vamos passar mal muito por causa da nossa indisciplina, e ainda mais por causa de não estarmos preparados para privações. É uma pescadinha de rabo na boca. Se o restaurante não abre, como sobreviverá o seu dono? E se este for ao fundo, o que acontecerá aos seus fornecedores?

E etc, - tudo o mais de que nos vamos dando conta agora.  Agora porque o vírus é mais violento e o mundo (a começar pelo Ensino) necessita sair da toca e produzir para sobreviver.

Pode morrer, mas não morre sisudo

por José Mendonça da Cruz, em 07.04.21

«A Vacina da AstraZeneca é segura. Perdão, a vacina da AstraZeneca não é segura. Perdão, a vacinação com a fórmula da AstraZeneca coincide com coágulos sanguíneos e óbitos, mas não está provada uma relação causal. Perdão, a vacinação com a fórmula da AstraZeneca coincide com coágulos sanguíneos e óbitos, e está provada uma relação causal. Perdão, a vacina da AstraZeneca não é segura para maiores de 65 anos. Perdão, a vacina da AstraZeneca é segura apenas para maiores de 65 anos. Perdão, a vacina da AstraZeneca não deve ser ministrada a maiores de 30 e menores de 50. Perdão, a vacina da AstraZeneca não deve ser ministrada a menores de 30. Perdão, a vacina da AstraZeneca não deve ser ministrada a crianças. Perdão, a vacina da AstraZeneca mata, mas pouco, é perfeitamente segura. Perdão, a vacina da AstraZeneca é ótima. Perdão, a vacina da AstraZeneca é ótima porque sendo baratíssima mata pouco. Perdão, eu -- que até aqui passei todos os dias e todas as horas a aterrorizar persistentemente toda a gente com todos os modelos, malabarismos numéricos e parvoíces de que me lembrei sobre o Covid -- vou agora invocar a baixíssima taxa de infeção e morte por Covid para defender a baixíssima taxa de óbitos causados pela vacina da AstraZeneca. Percebem? Gostaram? Vacinem-se com a vacina da AstraZeneca. Até podem morrer. Perdão, é pouco provável que morram. Perdão, até é giro morrer a rir ou a chorar, porque com isto não dá para morrer sério.»

Manuel Carmo Gomes, os jornais e as escolas

por henrique pereira dos santos, em 07.04.21

Manuel Carmo Gomes volta à carga hoje.

Um artigo de que é co-autor, já com mais de um mês e ainda em revisão na Nature, largamente noticiado por volta de 4 e 5 de Março, faz a manchete do Público de hoje "Com ritmo de vacinação ainda lento, reabertura total das escolas pode levar a quarta vaga de covid-19".

Note-se que o próprio Público (com base na Lusa) já tinha dado a mesma notícia no dia 4 de Março, com a pequena diferença de Manuel Carmo Gomes fazer, há um mês, a mesma previsão, não especificamente com as escolas mas com o desconfinamento.

De resto, Manuel Carmo Gomes tem uma fixação no ensino presencial há muito tempo, sem qualquer base factual.

Nunca responde às perguntas, não dos jornalistas, que nunca as fazem, mas de muitas outras pessoas que no espaço público alertam para os problemas de ter as escolas fechadas, perguntando onde está o efeito do fecho das escolas para férias de Natal nos dados, e como se explica que a súbita subida de contágios e do Rt com que se inicia o surto de Janeiro tenha ocorrido ainda com as escolas fechadas, nas férias de Natal.

Manuel Carmo Gomes justifica-se com raciocínios crípticos como este: [as dificuldades de Janeiro] "Teriam sido evitadas se tivéssemos tomado medidas em Novembro que evitassem termos chegado ao Natal ainda na zona dos 3500 casos por dia. Era desejável que estivéssemos em menos de 2000 casos/dia no Natal. Tenho muitas dúvidas acerca da eficácia de um Natal «proibido» em Portugal, por isso prefiro colocar as coisas desta forma. Teríamos também amenizado a situação se, logo a partir de dia 5 ou 6 de Janeiro, quando nos apercebemos da situação em que estávamos, tivéssemos tomado logo as medidas que só vieram a ser tomadas após o Conselho de Ministros do dia 21 de Janeiro". Note-se que esta pequena entrevista no blog da Fundação Francisco Manuel dos Santos é de 15 de Fevereiro, ou seja, a ideia do fecho das escolas está sempre implícita, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Por que razão Manuel Carmo Gomes (e a sua criação mediática, Carlos Antunes) é ouvido tão frequentemente, sem nunca haver qualquer contraditório, nos jornais?

Penso que a minha experiência com os fogos e a imprensa me ajuda a compreender.

Não sou, nunca fui, especialista de fogos, faço questão de o dizer frequentemente (aliás, quando a mesma Fundação Francisco Manuel dos Santos me pediu um artigo sobre fogos, indiquei dois ou três nomes alternativos que sabiam muito mais do assunto que eu e, mantendo a Fundação a sua opção de querer um artigo meu, fiz questão de deixar bem claro que não era especialista no assunto), mas frequentemente pedem-me opiniões sobre fogos.

É certo que já antes escrevia sobre a relação entre a paisagem e o fogo - a primeira vez que me convidaram para falar numa iniciativa académica cheia de especialistas no assunto, perguntei pela razão de me convidarem, não sendo eu um académico nem tendo trabalho de investigação sobre fogos e explicaram-me que (na altura, hoje não é bem assim) eram raras as pessoas que falavam de fogos à escala da paisagem - mas foi imediatamente depois do fogo de Pedrogão que passei ao estatuto mediático de especialista no assunto.

Na altura, escrevi rapidamente um artigo que Ana Fernandes me pediu (apesar de ter sido feito a correr, até saíu bem) porque fiz uma opção ética diferente da maioria dos especialistas no assunto que se recusaram a falar a quente, em cima da morte de dezenas de pessoas: eu recusei-me a deixar o espaço mediático livre para os Jaime Marta Soares desta vida.

Lembro-me bem de um dia ter convencido uma excelente jornalista de televisão a ir ouvir Paulo Fernandes sobre o assunto, a Vila Real. Quando lhe perguntei que tal tinha corrido, respondeu-me que tinha aprendido imenso, que a visita de campo tinha sido fantástica, mas não conseguia aproveitar nada da entrevista com o Paulo porque a completa negação comunicacional do Paulo a impedia de passar o resultado numa televisão.

Felizmente o Paulo melhorou muito nesse aspecto - era mesmo muito mau a comunicar, o que hoje está longe de ser verdade. Mas enquanto ia melhorando nesse aspecto, era muito mais fácil para qualquer jornalista falar comigo, que tenho uma capacidade de comunicação maior (provavelmente para o que contribui o facto de saber menos e ter menos hesitações, menos dúvidas e não ter uma reputação académica a defender, o que me faz ser mais indiferente ao facto de às vezes dizer asneiras de palmatória).

Infelizmente para todos nós, parte do interesse da imprensa em Manuel Carmo Gomes tem esta origem: fala sempre muito bem, de forma muito estruturada e é sempre agradável ouvi-lo, independentemente de dizer coisas certas ou erradas.

Basta ouvir Henrique Barros, com um discurso bem mais confuso, uma dicção bem menos escorreita, com hesitações, para perceber como é atractivo, para um jornalista, ouvir antes Manuel Carmo Gomes ou Filipe Froes, pessoas que dão sempre a impressão de nunca terem dúvidas e raramente se enganarem, ao contrário de Henrique Barros, que sabe muito mais e tem muito mais experiência que os outros dois em matéria de epidemias.

Parte não é isto, parte é mesmo ostracização, o que é mais bem ilustrado com Jorge Torgal, que até comunica bem, mas diz coisas menos dramáticas e isso é evidentemente menos interessante para uma imprensa focada na alimentação incessante do drama, do horror que nos espera amanhã, se não nos portarmos convenientemente.

Por tudo isto, Manuel Carmo Gomes continuará, sem contraditório, a sua campanha permanente contra a abertura de escolas, como qualquer fanático para quem o mundo tem apenas uma dimensão: no seu caso, a urgência em diminuir contactos que, erradamente, Manuel Carmo Gomes confunde com contágios.

E nem o facto das previsões que Manuel Carmo Gomes fez no princípio do Março, sobre os efeitos do desconfinamento (é bom lembrar, já vamos com três semanas de aligeiramente das medidas, mas vamos com quase mês e meio desde que foi toda a gente para a rua no fim de semana de 27 e 28 de Fevereiro), estarem longe de confirmar o seu ponto de vista o vai fazer mudar de ideias: quando os casos subirem qualquer coisa, como é fatal que subam, lá aparecerá a dizer, mais de um mês depois, que resultou da abertura das escolas apesar de, na sua opinião, ter sido apenas preciso uma semana para o fecho escolas impactar a descida de casos.

E quando em Maio voltarmos à linha base do Verão, com números baixos de casos, folga nos serviços de saúde e um ou outro pico local, o discurso vai ser o de que é preciso aproveitar essas condições para esmagar o vírus e, por isso, é preciso apertar mais as regras, aumentar a testagem e quebrar as cadeias de contágio.

Não há discussão racional possível com base em abstrações.

Sem a realidade concreta do mundo real, tudo, e o seu contrário, é possível de ser explicado logicamente.

E, no mundo real, ter escolas fechadas é a demonstração da nossa incapacidade enquanto sociedade.

Os comboios de Jerónimo

por Jose Miguel Roque Martins, em 07.04.21

Ontem li, que Jerónimo de Sousa avança com uma proposta: renovar a frota de comboios com produção nacional.

Uma ideia velha mas errada: se vamos comprar, vamos fazer nós.

Nos últimos anos, a consolidação na Industria de comboios denota a necessidade de diminuição de custos, escala e baixas margens desta industria. Sem escala, sem experiencia acumulada, sem competencias evidentes, a que preços sairiam os comboios de Jerónimo?

Não importa, porque eram nossos! Como a TAP.

 

Sócrates e a justiça

por Miguel A. Baptista, em 06.04.21

Num Estado de direito as decisões dos tribunais devem ser respeitadas. No entanto, esse respeito não impede que as mesmas sejam escrutáveis e que possa haver um julgamento crítico da população acerca das mesmas. 

Mesmo supondo que os juízes são apenas movidos pela busca da verdade e do sentido de justiça, eles não são deuses infalíveis. Há casos em que a falha, ou erro judiciário, é inegável. Por exemplo, no famoso caso O.J. Simpson, este foi considerado inocente pelo tribunal criminal e foi considerado culpado pelo tribunal cível. Ou seja, não foi preso, mas teve que pagar uma indemnização à família da vítima. Pela mais básica lógica aristotélica é impossível que nenhum dos tribunais tenha cometido uma falha de julgamento. Presumindo que os juízes de ambos os tribunais estavam de boa fé, os meios de prova apontados nos dois julgamentos podem ter sido diferentes ou os juízes, legitimamente, interpretaram de forma diversa os diferentes meios de prova. 

Uma declaração de culpado não significa que a pessoa seja culpada, significa apenas que os juízes entenderam que, para além de qualquer dúvida razoável, a pessoa era culpada. Supondo que todos estão de boa-fé tendencialmente esse entendimento coincidirá com a realidade, mas não é obrigatório que assim seja. 

Nada impede que, embora respeitando a decisão dos juízes, uma pessoa tenha um entendimento diferente. Por exemplo, o caso Casa Pia não me permitiu criar uma convicção da culpabilidade de Carlos Cruz que fosse para além da dúvida razoável. No meu entendimento não foi apresentada nenhuma prova completamente contundente que não permitisse qualquer outra interpretação que não a culpabilidade de Cruz. Assim sendo, não me foi permitido criar nenhuma convicção pelo que não tenho qualquer palpite acerca da culpabilidade da pessoa, para além do diz que diz. 

Penso que no caso de Sócrates a justiça já parte derrotada num ponto, o prazo de instrução do processo foi muito para além daquilo que é razoável e aceitável. Oiço que a decisão que virá a ser tomada sexta-feira, num sentido ou noutro, dará quase forçosamente origem a um recurso que deverá demorar dois anos. Estando eu fora do mundo jurídico, por muito que me esforce, não consigo compreender como é que a reapreciação de um processo leva dois anos, da mesma forma que não compreendo como é que são necessárias mais de seis mil páginas para lavrar um despacho judicial. 

Ao contrário do processo Casa Pia, no caso de Sócrates há elementos de prova, nomeadamente as escutas telefónicas que, em minha opinião, não permitem que exista nenhuma dúvida razoável acerca da culpabilidade de Sócrates. E não estou apenas a falar de culpabilidade de comportamentos menos éticos, mas sim de culpabilidade de conduta criminosa. 

Conforme disse, a justiça já saiu pouco prestigiada pelos seus timings de processamento. Uma justiça desmedidamente longa compromete o próprio conceito de justiça. Se a decisão acerca do pronunciamento de Sócrates não for algo, muito bem sustentada, ou seja, à prova de bala, a imagem da justiça sofrerá mais um duro revés. 

PS – O propósito deste post não é discutir a eventual culpabilidade de Carlos Cruz no caso Casa Pia, como tal agradecia que comentários não se concentrassem nesse ponto. Segundo aspecto, eu não sou uma pessoa de Direito, como tal é natural que a nomenclatura usada contenha erros técnicos crassos. Peço aos meus amigos juristas que tenham a caridade de não se arrepiarem com os meus eventuais erros. 

Os corta-fitas

por João Távora, em 06.04.21

20210406_181230.jpg

Mesmo em frente à minha casa há um amplo parque com espaço de baloiços para as crianças (pormenor na fotografia). Nas últimas semanas com o bom tempo são muitas as pessoas que vêm para ali passear e os miúdos andar de bicicleta. Ultimamente armou-se uma guerra surda entre a Câmara que periodicamente sela os baloiços com fitas e os pais das criancinhas que as vêm para ali desopilar aos magotes e as arrancam. São os novos corta-fitas.
Isto tudo perante a profunda indiferença do vírus que foi para outras paragens. A vida encontra sempre caminho, já dizia o outro. 

"Ui! Ui! Ui!, vem aí o chui!"

por henrique pereira dos santos, em 06.04.21

Tenho ideia do título deste post ser do Sérgio Godinho, algures numa peça de teatro, no tempo dos afonsinhos.

Foi dela que me lembrei hoje, ao olhar para a banca dos jornais: no I ataca Manuel Carmo Gomes, no Público ataca Carlos Antunes e o Observador faz de caixa de ressonância.

Manuel Carmo Gomes não faz a coisa por menos: “Podemos resvalar para um ressurgimento da epidemia como tivemos depois do Natal ou conseguir manter a epidemia controlada. Neste momento estamos ainda num limbo: existe ainda população suscetível o suficiente para termos um aumento de casos e mesmo de hospitalizações”.

É certo que eu disse algures que se os casos depois do Natal não subissem 25% podíamos deitar fora as previsões catastróficas sistemáticas sobre o apocalipse. Os casos subiram muito mais que 25%, o que significa que a hipótese de correlação entre contactos no Natal e subida de casos se poderia manter. Acontece que, ainda durante Janeiro, desenvolvi um ponto de vista sobre o que estava a acontecer e sobre a possibilidade do aumento de casos se dever mais à anomalia meteorológica que começou a 24 de Dezembro e acabou a 20 de Janeiro, o que explica razoavelmente algumas coisas estranhas com o pouquíssimo tempo entre o pico de casos e de mortalidade, por exemplo.

Bem sei que agora, na Páscoa, se tomaram uma série de medidas para impedir os contactos (eu acho-as meros placebos, mas vamos admitir que não, que até servem para alguma coisa), mas o que todos os dados de mobilidade indicam é que quer antes da Páscoa, quer na Páscoa, não houve uma restrição de movimentos por aí além.

Froes, Carmo Gomes, Antunes, a redacção do Observador e outros continuam convencidos de que uma epidemia evolui em função do contacto entre as pessoas, e nada mais, por isso Froes estava absolutamente seguro do disparo de casos que iria aparecer duas semanas depois do fim de semana de 27 e 28 de Fevereiro, em que foi tudo para a rua aproveitar o Sol, depois de um longo período de chuva e dos números da epidemia terem descido brutalmente. O facto de nenhum efeito dessas frescuras se notar na evolução da epidemia não os consegue convencer de que estão errados, a haver alguma coisa errada, é a realidade, não eles.

Por isso continuam com a cantilena de que abrir escolas é uma coisa perigosíssima e a cada nova abertura aparecem a procurar influenciar mais e mais tempo de confinamento, como se os confinamentos não tivessem efeitos secundários.

Nem com a mortalidade global abaixo de 300 pessoas por dia (abaixo do que seria de esperar para esta altura do ano, indiciando que parte da mortalidade excessiva de Janeiro foi antecipação da mortalidade esperada ao longo do ano, pessoas mais velhas e mais frágeis, com escassa esperança de vida), com os hospitais com imensa folga, com uma testagem altíssima para a incidência existente, a vacinação nos lares concluída e em forte progressão noutros grupos de risco (progressão essa que só não é maior pela absurda opção de vacinar professores e outros profissionais de risco residual à frente de pessoas pretencentes a grupos de risco para esta doença) estes profetas do confinamento e doutras medidas de restrição de contactos ganham juízo.

O mais que conseguem é admitir a hipótese de que talvez a epidemia esteja controlada, como faz Manuel Carmo Gomes na citação acima, ao mesmo tempo que acrescenta que, na dúvida, e para evitar o que aconteceu depois do Natal, o melhor é atrasar a abertura do ensino e da sociedade à espera de dados mais seguros.

Esta citação é abolutamente extraordinária: "um possível aumento de infeções quer durante na última semana quer nesta nova etapa de desconfinamento que se iniciou esta segunda-feira só será passível de avaliar pelo menos daqui a 15 dias, alerta o investigador, o que coincidirá já com a data prevista para continuar a reabertura do país e regresso às aulas dos alunos do secundário e ensino superior. “O terceiro passo do desconfinamento é muito forte e devíamos ser capazes de estar mais seguros antes de o dar. Não vejo que a janela temporal dê para isso. Se estamos a abrir dia 5, daqui a 15 dias quando formos avaliar podemos não ter informação suficiente”, diz Manuel Carmo Gomes, defendendo por isso que fosse ponderado o adiamento de uma semana na decisão de prosseguir para a terceira etapa".

Os mesmos profetas que anunciam urbi et orbi que foi o fecho das escolas a 22 de Janeiro que deu origem à descida de contágios uma semana depois - começou antes de 22 de Janeiro e foi-se acentuando como seria de esperar que acontecesse, em qualquer caso -, vêm agora dizer que são precisos pelo menos quinze dias para perceber os efeitos do levantamento das medidas de restrição de contactos existentes. Daqui não tiram a consequência lógica de que a descida de casos no fim de Janeiro não se deveu ao fecho das escolas, apesar de agora dizerem que uma semana é pouco para avaliar resultados.

E não contentes com isso, absolutamente indiferentes aos efeitos do fecho das escolas na vida de todos, mas sobretudo dos mais pobres, indiferentes ao descalabro no acompanhamento de doentes crónicos, indiferentes à solidão dos mais velhos e ao crescimento expressivo dos problemas de saúde mental, indiferentes ao desemprego e à destruição de riqueza, resumindo, completamente indiferentes às pessoas concretas e aos seus problemas, que afectam especialmente os mais pobres e frágeis, claro, defendem que mais uma semanita ou quinze dias de confinamento, só para termos mais dados e estarmos mais seguros, não tem a menor importância.

O aleijão moral que os caracteriza é o mesmo aleijão moral que caracteriza uma sociedade, a cavalo da sua imprensa, que assistiu impávida e serena à enorme operação de propaganda que consistiu em vacinar pessoas sem risco à frente de pessoas com risco de mortalidade elevado com o pretexto de que era preciso abrir as escolas com segurança.

Não, não estão a salvar vidas, como dizem, isso é uma mentira absoluta, estão apenas às voltas dos seus fantasmas, dos seus números e dos seus computadores a exorcizar os seus medos, à custa da vida de milhares de pessoas.

Não há perdão para o papel que estão a desempenhar, quer eles, quer a imprensa que os ouve permanentemente sem contraditório.

Uma perspetiva moral do "fique em casa"

por João Távora, em 06.04.21

A Irmã Lúcia nas suas Memórias narra como foi a pandemia de 1918, a pneumónica ou gripe espanhola. A leitura dessa descrição mostra-nos a grande diferença civilizacional que existe quando comparamos a reacção do ocidente à pandemia de covid-19.
A ler o artigo de Pedro Sinde aqui.

 

A minha área de especialização em Psicologia é Psicologia Social e das Organizações. Dentro da Psicologia Social debrucei-me sobretudo sobre a Psicologia da Persuasão e Comportamento do Consumidor, mas isso agora não interessa. 

Há experiências muito interessantes feitas no âmbito da Psicologia Social, quem se interessar pelo tema encontra imensos artigos na Internet. Das muitas, e fascinantes, experiências a minha favorita é a de Milgram acerca da obediência à autoridade. Essa experiência foi replicada várias vezes e com diferentes variantes, identificando várias variáveis moderadoras, mas adiante. 

Muitos conhecerão a experiência, pelo que a refiro apenas em traços gerais, conforme disse há imensa informação na net para quem se interesse pelo tema. Milgram era de origem judaica, os seus pais mudaram-se para os Estados Unidos aquando da Grande Guerra. Vários dos seus parentes viriam a morrer nos campos de concentração durante a Segunda Guerra. Impressionado pelo facto de “pessoas normais” terem executado ordens tão sinistras e macabras, Milgram procurou compreender os mecanismos psicológicos que estavam por detrás do fenómeno. 

A experiência de Milgram consistia basicamente em pedir a voluntários para uma alegada experiência de aprendizagem que ministrassem choque eléctricos de intensidade crescente, sempre um indivíduo que estava a ser interrogado respondia de forma errada. O indivíduo que “levava” os choques estava em outra sala pelo que aquele que lhe aplicava os choques não o podia ver, contudo podia-o ouvir. De facto, não eram aplicados choques nenhuns, mas o indivíduo simulava gritos de dor, como se efectivamente os estivesse a sofrer. Se o “aplicador dos choques” se sentisse desconfortável estava lá o alegado responsável pelo “estudo de aprendizagem” e pedia ao indivíduo para continuar. E a verdade é que a esmagadora maioria das pessoas continuava. Mesmo quando parecia que já tinham morto o indivíduo que recebia os choques, continuavam a aplicá-los de acordo com as ordens recebidas. 

A partir do estudo, Milgram elaborou a “Teoria da Agência”, que sugere que as pessoas permitem que outros direcionem suas acções, porque acreditam que a figura de autoridade é qualificada e aceitará a responsabilidade pelos resultados. Os estudos de Milgram ajudam a explicar como as pessoas podem tomar decisões contra sua própria consciência, como participar numa guerra ou num genocídio. 

Por vezes, quando vejo a forma totalmente acrítica como as pessoas recebem, e aceitam religiosamente, todas as instruções no que respeita à pandemia, dou por mim a pensar que parece que estamos a viver numa experiência de Milgram feita à escala global. 

Quem matou o Padre Max?

por João-Afonso Machado, em 05.04.21

I - Passaram agora 45 anos desde que o rebentamento de uma bomba no VW em que o vilarrealense Padre Max, militante da UDP, e a sua companheira de viagem, pereceram. A Esquerda, sempre ávida de heróis e mártires, não deixou a data passar em claro e a Imprensa, servil e lambedora de botas, deu-lhe o devido destaque: foi atentado do nefando MDLP.

II - Na época, tanta foi a violência praticada pela dita Esquerda que dúvidas não sobraram: as vítimas tinham-no sido de si próprias. A bomba era transportada por eles, não se sabe com que intentos.

III - Aliás, por essa altura morria também Ferreira Torres, um homem da Direita. E aí não houve dúvidas: a morte foi causada por rajadas de G3. Mas qual o seu lugar hoje na História? Afinal era de Direita... Exactamente como em 19 de Outubro de 1921, quando um sargento da Marinha, e os seus próceres, assassinaram António Granjo, Chefe de um governo não radical, mais quatro republicanos de proa. Autoria moral: as forças monárquicas, evidentemente... Com Ferreira Torres só poderá ser mais do mesmo!

IV - Valerá a pena recordar episódios do PREC. Agora sirvo-me dos meus olhos, apenas: em 11 de Março de 1975, a sede do CDS em Famalicão foi incendiada. Como ela muitas outras, das que conseguiam manter-se onde era suposto, nunca além do Tejo. Se no Verão seguinte as populações se revoltaram... Não, impossível, a movimentação de massas é apanágio do marxismo-leninismo.

V - Os tribunais da actualidade jamais conseguiram provar a culpa de alguns "suspeitos" da Direita na morte do Padre Max. Tanto bastaria para o assunto ficar assim. O "caso Sá Carneiro" isso mesmo demonstra.

VI - Por falar em vítimas - e volto a fazer uso do meu olhar - nessa pré-guerra, recordo o assalto ao Congresso do CDS no Palácio de Cristal, comícios em que participei e saí, com os demais, escoltado pelo Exército. Sobretudo recordo o assalto à sede do PCP em Famalicão...

(Parenteses: o meu Pai andou o dia todo a aconselhar calma aos lavradores da nossa terra. Responderam-lhe, resumidamente, «já era muito tarde».)

Morreram dois homens nesse episódio: um jovem enfermeiro de 18 anos e um agricultor do concelho. Os tiros vieram da dita sede, disparos de espingardas-metralhadoras...

Ainda são lembrados entre nós. Contudo sem manifestações de vingança ao PCP. Somente com saudade das vítimas.

VII - Há uns anos, dei, eu mesmo, um abanão ao Gen. Pezarat Correia, numa conferência em que debitou a parlenga - o terrorismo em Portugal acabou com o ELP (- então não foi com o MDLP? -). Lá lhe lembrei as FP25 e - na mouche! - um almoço ocorrido entre um oficial afecto ao Grupo dos 9 e uns tantos civis, aqui em Famalicão, no restaurante O Tanoeiro. Sucede que se estava a 24 de Novembro de 1975; sucede que se preparava o golpe iminente; sucedeu a ligação desse oficial, meu estimado Tio, aos opositores do radicalismo e a sua conversa com um grupo... do MDLP!

Não havia segredo: o meu Tio contou-me isto às escâncaras.

Houve foi uma rolha bem encaixada no discurso de Pezarat...

XIII - Uma vez mais, a Esquerda - gente da Esquerda; ou terá sido de uma Direita encapotada? - vandalizou a estátua do Cónego Melo e do que suponho ter sido a sua residência. Os dizeres incidiam sobre o Padre Max...

IX - Assim continuarei descrente dessa estranha - e decerto numerosa - horda. Eu discuto com Pezarat Correia e tenho o especial sabor de lhe mostrar que sei mais do que o Sr. Gen. proclama aos papalvos. Mas, obviamente, nunca irei pichar sedes, estátuas, residências, mausoléus, seja o que for diga respeito à maralha da Esquerda.

X - Já agora, para arredondar números: nessa época, presenciei, além de muito mais, três ou quatro explosões de autocarros e automóveis em plenários da CAP (Braga); não recordo quantos boicotes a comícios do PSD e CDS ( os tais "boicotes activos a..."), violência liceal sobre os estudantes da Direita... Quanto mais? Se hoje fazemos romagens a esses momentos?. Não! Não precisamos. A Esquerda quer o silêncio sobre os seus extremismos; nós, a pacificação dos portugueses.

 

E que acabem, de uma vez, o padre Marx e o cardeal Lenine

"...com a cabeça entre as orelhas"

por henrique pereira dos santos, em 05.04.21

Um dia destes, um dos mais ouvidos especialistas nesta epidemia - trata-se de uma especialização especial, há especialistas em epidemias, que há anos que se dedicam ao estudo e gestão de epidemias e há os especialistas nesta epidemia, que nunca tinham estudado nenhuma antes mas são especialistas nesta - perguntava se alguém lhe explicava onde estava a sazonalidade quando a Índia estava a braços com um aumento de casos com 40º de temperatura.

Não vale muito a pena explicar que à medida que se sobe em latitude as diferenças do foto-período são mais acentuadas ao longo do ano e portanto as estações do ano mais marcadas pela resposta do mundo natural a essas variações.

As plantas não abrolham porque faz frio ou calor, abrolham porque o tempo de luz disponível é o adequado, fazer frio ou calor apenas adianta ou atrasa uns dias o abrolhamento. Se houver uma semana muito fria em Agosto as plantas de folha caduca não perdem a folha, da mesma forma que não abrolham a meio de uma semana de temperaturas altas em Dezembro.

É por isso que num mundo temperado nós distinguimos a Primavera, do Verão, do Outono e do Inverno, e existem muitas árvores de folha caduca, mas no mundo mais próximo do equador as estações dividem-se entre as estações das chuvas e estações secas e são mais raras as espécies de folha caduca.

E distinguimos ainda os climas pela diferente combinação entre estes elementos. Por exemplo, o clima mediterrânico, sendo temperado e com quatro estações bem definidas, distingue-se pelo facto da estação quente coincidir com a estação seca.

O que em lado nenhum se faz é caracterizar ambientes externos exclusivamente a partir da temperatura, muito menos a partir da temperatura num determinado momento.

Também não vale a pena explicar que a Índia é enorme e dizer que a Índia está com temperaturas de 40º é uma tolice: com certeza haverá vastíssimas áreas da Índia que não estão a 40º e seria preciso ver se os sítios onde está a haver surtos são os mesmo onde está a haver temperaturas de 40º para, ao menos, formular uma hipótese minimanente consistente.

Repare-se como a conversa das ondas é uma tontice quando avaliadas por país e não por regiões, com o exemplo da Alemanha que teve uma onda perto do Natal e agora está a braços com outra, na opinião dos tais especialistas que evitam olhar para distribuições geográficas pormenorizadas de incidência.

alem.jpg

alem2.jpg

Sem surpresa, as duas ondas são na Alemanha, mas não são no mesmo sítio, como seria de esperar.

Perguntar onde está a sazonalidade na Europa temperada com base no facto de haver surtos com 40º de temperatura noutro lado qualquer - depois de ter escrito um artigo sobre o mito do Natal, em vez de receber contestações aos argumentos usados o normal era perguntarem-me como era possível ter razão se em Manaus estava calor e havia um surto - é uma demonstração de incompreensão total sobre o que se está a passar, para além de ser uma demonstração de desconhecimento da bibliografia básica sobre sazonalidade das doenças infecciosas respiratórias. A sazonalidade das regiões temperadas está razoavelmente bem estudada, até por ser bem marcada, mas a sazonalidade das regiões tropicais está muito menos compreendida, parecendo relacionar-se mais com a humidade que noutras regiões (o que é coerente com o facto de ser esse o factor principal de distinção das estações no ano nessas latitudes).

Olhar para estes gráficos e não ver sazonalidade, já não é ignorância, é cegueira mesmo.

eur.jpg

E é com base nesta cegueira evidente que se andam a propôr medidas de controlo de terceiros, não admirando por isso que do processo resultem coisas tão estúpidas como fechar parques infantis ou determinar o fecho de restaurantes à uma da tarde de Sábados e Domingos.

É a vida, "cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas".

Aleluia, Aleluia, Jesus Cristo ressuscitou!

por João Távora, em 04.04.21

Sobre a minha conversão ao catolicismo: já tentei acreditar em muita coisa, fui tentado a não acreditar em nada e deu mau resultado. O cristianismo pode parecer contraintuitivo, mas a vida ensinou-me que é a coisa mais bela a que posso ambicionar crer. É isso que penso nos momentos mais cinzentos.

O primeiro Golo de Rui Rio

por Jose Miguel Roque Martins, em 04.04.21

Rui Rio lançou uma proposta, a obrigatoriedade de declaração de pertença a associações, de qualquer género, por parte de quem tenha funções políticas.

A celeuma que se criou à volta deste assunto é já uma vitória política, ao chamar a atenção para uma iniciativa de Rui Rio,  boa, popular e bem construída.

Porque não há de se alargar a declaração de interesses de detentores de cargos públicos em nome da transparência? Já acontece, sem oposição de ninguém, relativamente a interesses económicos. Porque não relativamente a outros, que podem ser tão ou mais importantes do que esses? O principio de que a esfera de privacidade pessoal de cidadãos que assumam, por escolha própria, responsabilidades publicas, deve ser limitado, não é novo, nem é mau. E corresponde á luta unanimemente assumida a favor da transparecia e contra a corrupção. 

Porque se tem que declarar pertencer a qualquer organização social? Porque se fossem apenas algumas, como a maçonaria ou a Opus Dei, seria uma suspeição intolerável sobre essas associações humanas. Já sobre todas, elimina qualquer aspecto discriminatório que possa ser usado para justificar a vitimização. Pertencer a qualquer organização de bem, deverá ser motivo de orgulho, não de secretismo. Quem não deve, não teme.

Até parece que temos um líder político na oposição!

Quem quer viver na republica das laranjas?

por Jose Miguel Roque Martins, em 04.04.21

Goste-se ou não da actuação de Marcelo, o facto é que ele reinventou a  Presidência da República. Nunca, até agora, tivemos um Presidente tão publicamente presente, tão interventivo, tão influente na vida publica, como Marcelo. Passámos do semipresidencialismo passivo para o interventivo. Do cirúrgico para uma presença  generalizada.

Em si mesmo, parece-me positivo termos um órgão de soberania importante, com vida própria, sobretudo num momento de eclipse de maiorias parlamentares, que se deve acentuar no futuro próximo.  A tempos diferentes, têm que corresponder respostas diferentes. Mas em tudo, têm que existir limites.

O cumprimento estrito da lei, já pode corresponder a um acto de vandalismo democrático. Lembro a esse respeito a destituição do parlamento, por Jorge Sampaio,  que apoiava o governo de Santana Lopes.

Interpretações originais ( mas absurdas) da constituição, por mais justas e populares que possa ser o que se pretende proteger, como a recente promulgação dos apoios sociais, também não são um caminho razoável, nem para o prestigio da Instituição, nem para a nossa Democracia.

Inovações sim. Acabar com o Estado de direito não. Quem quer viver na republica das laranjas? 

 

Domingo

De Páscoa

por João Távora, em 04.04.21

myroforai-OCN.jpg

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. João

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro¬. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro:¬ viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

Palavra da Salvação.

Comentário: Pedro e João, juntamente com Madalena, são as primeiras testemunhas do túmulo vazio, naquela manhã de Páscoa. Não foi, porém, muito facilmente que eles chegaram à conclusão de que Jesus estava vivo. A sua fé será progressiva, caminhará entre incredulidade e dúvidas. Só perante as ligaduras e o lençol, cuidadosamente dobrados, o que excluía a hipótese de roubo, se lhes começam a abrir os olhos para a realidade.
No seu amor intuitivo, João é o primeiro a compreender os sinais da Ressurreição. Mas bem depressa Pedro, que, não por acaso mas intencionalmente, ocupa o primeiro lugar e nos aparece já nesta manhã como Chefe do Colégio Apostólico, descobre a verdade, anunciada tão claramente pela Escritura e pelo mesmo Jesus. Depois, em contacto pessoal com o Ressuscitado, a sua fé tornar-se-á firme como «rocha» inabalável.

Miguel B. Araújo

por henrique pereira dos santos, em 03.04.21

O Miguel resolveu fazer um exercício que deveria ser feito periodicamente por investigadores: pensar, escrever e dar ao escrutínio, em liguagem acessível, o que lhe parece ser o contributo social dos muitos anos de investigação.

Conheço o Miguel há muitos anos e foi um dos meus três orientadores do doutoramento: Teresa Andresen, que foi a minha orientadora principal e sem a qual eu não teria feito doutoramento nenhum, Miguel B. Araújo e Carlos Aguiar.

Estarei sempre em dívida para com eles porque qualquer deles foram fundamentais para o resultado final (hesitei bastante nesta concordância verbal. Eu sei que a regra é dizer nem ele, nem ela foram eleitos deputados, porque os dois poderiam ser eleitos, e nem ele, nem ela foi eleito presidente da república, porque só um poderia ser eleito, mas tenho dúvidas sobre a concordância na frase que escrevi).

Todos tiveram uma enorme paciência para as minhas idiossincrasias e, ao mesmo tempo, um respeito intacável pela minha liberdade na forma como decidi fazer a tese. Penso que não me enganarei muito se disser que nenhum deles terá concordado com as minhas decisões sobre a forma de fazer a tese e todos eles terão acahado que poderia ter feito uma coisa muito mais sólida que o que fiz, se seguisse os seus conselhos em matéria de praxis académica.

No fundo, no fundo, penso que partilharão da opinião de um dos arguentes da tese: isto era como se fazia ciência no século XIX, actualmente já ninguém faz ciência assim (e eu tendo a concordar com esta observação).

O Miguel, academicamente, é o exacto oposto de isto tudo, é o que eu ironicamente caracterizo como um industrial da publicação: publica muito, bem e com um sentido apurado do mercado para que está a produzir ciência.

Acresce que publica numa área que para mim é mais metafísica do que eu estou disposto a ler, portanto nem sou um grande leitor dos artigos do Miguel, mas quando preciso de perceber alguma coisa neste domínio, o que o Miguel escreve é sólido e é-me útil.

Talvez eu possa dizer que o Miguel parte das grandes abstracções associadas à modelação de processos naturais para tentar ter respostas sobre o concreto, exactamente o percurso inverso de Carlos Aguiar, que parte da observação atenta do concreto para a compreensão das questões gerais e estas duas perspectivas complementares foram igualmente fundamentais para o que fui fazendo na tese.

A verdade é que não tenho a menor apetência para a tralha académica e para a formatação académica do pensamento e não fora o esforço dos meus três orientadores, seguramente não teria feito tese nenhuma: eu não tenho a menor vocação para investigador, a metafísica interessa-me pouco e gosto mesmo, mesmo, é de pensar o que tenho de fazer hoje para obter um resultado amanhã, fazê-lo, ver se o resultado é o que esperei, que nunca é, claro, para poder olhar para os desvios à procura de corrigir o que pensei mal antes.

É por isso que este exercício do Miguel para que faço ligação no primeiro parágrafo me parece tão interessante e, já agora, tão útil para me dar algum alívio intelectual em relação às minhas dúvidas sobre o que tenho escrito sobre a epidemia.

O que o longo post faz é uma retrospectiva sobre o caminho intelectual de alguém que tenta capturar os processos naturais em modelos, e por isso, por ter dedicado tanto esforço e tempo ao assunto, do que mais fala é de incerteza e da evidente dificuldade em reproduzir processos naturais em modelos, um trabalho nunca acabado porque não é possível reproduzir processos naturais complexos em modelos, o mais que conseguimos é ir tornando os modelos cada vez mais úteis, à medida que vamos percebendo por que razão se afastaram na realidade na tentativa anterior.

Trata-se de uma enorme diferença para esta tendência recente de substituir a realidade pela produção de modelos, partindo do pressuposto de que sabemos o suficiente para tomar decisões com base nos modelos que estão suficientemente próximos da realidade para isso.

Quando o Miguel escreve: "Os desafios futuros nesta matéria são, portanto, menos de cariz científico—onde os progressos das últimas décadas foram tão notáveis como subutilizados—e mais na área da transferência de conhecimento e da tecnologia, assim como no domínio normativo e dos interfaces entre a ciência e a política" eu só posso discordar (como discordo muitas vezes de qualquer destes meus três orientadores, apesar de saber que qualquer um deles sabe muito mais que eu) porque decorre de posições sociais e políticas em que estamos em pontos muito distantes.

Ao contrário do Miguel, não estou convencido deste papel da ciência e, muito menos, de que a sub-utilização dos progressos científicos não se deva também à natureza da ciência tal como ela é produzida hoje, de forma manifestamente desligada da sociedade.

Claro que existem os factores que o Miguel enuncia acima, o que não existe é a possibilidade de isso se resolver por mera transferência dos resultados científicos, como se esses resultados científicos não fossem inerentemente parcelares e incapazes de integrar a imensa diversidade do mundo e das sociedades.

O que é notável, para mim, não são estas diferenças - algumas irreconciliáveis - mas sim o Miguel, reconhecendo a incerteza e as limitações do seu trabalho, continuar empenhado em chegar ao mundo das pessoas e do concreto.

Tenho a certeza de que questionado com a pergunta que tenho ouvido frequentemente ser feita a outros modeladores, ao longo deste ano, "mas acha que isto vai ser mesmo assim?" o Miguel nunca se satisfaria com a resposta que também tenho ouvido frequentemente: "é o que diz o modelo".

Tenho a certeza que depois de dizer que "é o que diz o modelo", acrescentaria, mas o modelo não é a realidade, e há este e aquele aspecto que devem ser tidos em atenção, se se quiser utilizar o modelo como orientação para as opções a tomar, o que não deve ser feito sem compreender bem o modelo que está a ser usado.

Três da tarde

por João Távora, em 02.04.21

ASC_Senhor-dos-Passos-8439.jpg

A Cruz é sinónimo da libertação: a dor olhos nos olhos, sem resistência à angustia, à dúvida, à incompletude. A outorga da soberania. O desprendimento de nós face a grandiloquência do desconcertante destino torna-se afinal o vislumbre de um lugar de paz interior, de recomeço. A verdadeira revolução que concede a tranquilidade ao Homem, capaz de amar o outro como a si mesmo, capaz de amar o seu inimigo, assumir a sua cruz que materializa as suas dores e inquietações (ainda há gente inquieta?). A pacificação com o Criador – a irmandade em Jesus. A morte que resulta em Vida, no homem Novo. A cruz é a noite escura de nós que afinal nos faz inteiros, livres do nosso precário personagem, hoje mesmo. A beleza da cruz partilhada com Cristo. Aprendamos a não fugir dela, então e preparemo-nos para a Páscoa redentora que se anuncia.

 

Texto  recuperado, editado e adaptado.

A ideologia do contacto

por henrique pereira dos santos, em 02.04.21

Grande parte desta epidemia foi gerida com base na ideologia do contacto, que consiste em postular que sem contacto não há contágio - o que é verdade - tirando daí a conclusão de que há uma relação directa entre contacto e contágio - o que é uma rotunda mentira -, o que leva à ideia de que a gestão da epidemia se faz gerindo contactos.

Um bom exemplo é um estudo que há pouco tempo foi referido pela generalidade da imprensa, sempre através da leitura de um dos seus autores, Manuel Carmo Gomes, e não através da leitura dos jornalistas, numa boa ilustração de jornalismo de pé de microfone.

O estudo chama-se "Controlling the pandemic during the SARS-CoV-2 vaccination rollout: a modeling study" e, na leitura de Manuel Carmo Gomes, transmitida pelos jornais, dá muitas indicações sobre a elevada probabilidade de uma quarta vaga, na hipótese de se fazer um desconfinamento diferente do que defende Manuel Carmo Gomes, cuja obsessão com o fecho de escolas é conhecida e, infelizmente, reconhecida como tendo alguma base científica.

Eu já raramente leio coisas sobre a epidemia que se baseiem em modelação matemática - já há tempo e dados empíricos suficientes para andar a gerir esta epidemia com base em borras de café, bolas de cristal, modelações matemáticas e outras mistificações semelhantes - mas face às repetições dos avisos de Manuel Carmo Gomes sobre o que o estudo demonstrava da relação entre contactos e evolução da epidemia, resolvi ir ver que dados tinham sido usados para avaliar os contactos e procurar a correlação com a evolução da epidemia.

Se bem percebi o estudo, e admito que não, de tal maneira são absurdas as afirmações de Manuel Carmo Gomes quando lidas à luz das minhas conclusões sobre o estudo, os contactos não são medidos empiricamente através dos dados de mobilidade existentes, e outros do mesmo tipo (com todas as dificuldades e limitações que os dados de mobilidade têm, são, ainda assim, o que há de base empírica), os contactos são inferidos a partir da evolução da epidemia, para depois se concluir que se os contactos evoluirem assim ou assado, então a evolução da epidemia será assim ou assado, num raciocínio circular que acharia que seria impossível encontrar num artigo científico.

Em qualquer caso, se eu estiver a ler mal o estudo (a ligação está acima) apenas invalida a utilização deste estudo como boa ilustração da ideologia do contacto como questão chave para a gestão da epidemia, não elimina a existência e influência da ideologia do contacto cujo paralelismo com a ideologia das ignições na gestão do fogo tem sido referida por mim várias vezes e que vou resumir de novo:

Sem ignição não há fogo. Mas 1% das ignições são responsáveis por qualquer coisa como 90% da área ardida, logo, a questão não está na redução das ignições (a maioria não têm problema nenhum, tal como a maioria dos contactos não resultam em contágios) mas sim na compreensão das circunstâncias em que uma ignição (ou um contacto) se transforma num fogo (ou num contágio).

No caso do fogo isso está razoavelmente estudado e é hoje consensual que é muito mais perigoso ter poucas ignições em contextos muito favoráveis ao fogo, quer ter muitas ignições em contextos menos favoráveis, que é até vantajoso para a gestão dos grandes efeitos negativos dos fogos.

O que é diferente na epidemia é que não sabemos tão bem caracterizar as circunstâncias favoráveis ao desenvolvimento da epidemia com efeitos sociais mais negativos (essencialmente, as circunstâncias que provocam maior mortalidade).

Sabemos algumas coisas.

1) que as probabilidades de contágio crescem muito com a proximidade física entre pessoas, com o tempo em que essas pessoas estão juntas e com as circunstâncias em que estão juntas (a tal caracterização dos contactos de elevado risco como sendo entre pessoas que estão mais de quinze minutos a menos de dois metros em ambientes fechados) e que no caso do fogo podemos fazer o paralelo com as condições meteorológicas;

2) que os efeitos mais severos (estou a usar terminologia dos fogos propositadamente) se verificam quando há uma concentração de pessoas mais susceptíveis e mais frágeis, o que se traduz em cerca de 40% de mortalidade em lares, mais ou menos em todo o mundo, cujo paralelismo com os fogos se encontra nas condições de acumulação de combustível;

3) nos fogos sabemos também que uma vez um fogo ateado, há circunstâncias meteorológicas e de acumulação de combustível que rapidamente levam o fogo para lá da capacidade de extinção, sendo inútil procurar apagar esses fogos com ataque directo, havendo apenas a possibilidade de reduzir o combustível nas áreas que estão na linha de progressão do fogo. Esta é uma matéria em que é mais difícil fazer o paralelismo com a epidemia porque não podemos dar ninguém como perdido para a progressão da epidemia, por razões éticas (ao contrário do que podemos fazer com o fogo), e porque sabemos menos sobre o processo de retirada do combustível. Reconhecendo o atrevimento da minha ignorância, e não desconhecendo os custos brutais e as dificuldades logísticas associadas, eu me atrever-me-ia a dizer que uma vez identificado um surto num lar, a medida mais eficaz para salvar vidas seria a retirada imediata de todos os utilizadores para instalações de "isolamento" de cada utilizador, na ausência de vacinas, claro, apoiado cada um por pessoas dedicadas apenas a essa pessoa. Isto porque me parece evidente que, tal como acontece nos fogos, as medidas de supressão da epidemia em lares se revelaram largamente inúteis: nunca se impediu, em lado nenhum, a entrada da epidemia em lares e, uma vez declarado um surto, nunca se conseguiu travá-lo dentro do lar, fossem quais fossem as medidas tomadas.

Infelizmente a ideologia do contacto, com a sua parafernália de proibições gerais, restrições de direitos individuais e barragem de propaganda em jornais e nos meios do Estado, tem impedido uma discussão racional dos seus parcos resultados para os elevadíssimos custos que acarreta.

Mas a esperança é a última a morrer (via Eduardo Maximino), quando até o Guardian chega aqui: "Whitty said the majority of experts believed Covid was not going to go away and it would eventually have to be managed in a similar manner to flu. In a bad year, flu can kill 20,000 to 25,000 people. “It is not flu, it is a completely different disease, but the point I am making is, here is a seasonal, very dangerous disease that kills thousands of people every year and society has chosen a particular way around it,” he said.

While Whitty noted that factors such as variants and population density were important, he cautioned against trying to explain how Covid had affected different countries by focusing on just one or two factors, noting that Germany was now facing a difficult situation despite its previous success in tackling Covid largely being put down to its diagnostic capabilities.

“It is actually usually a large combination of factors, some of which are under our control, many of which are not. And more of it is chance than I think people are prepared to accept,” he said."

Admitir que não controlamos muitos factores é a questão chave para a gestão da epidemia, não os contactos entre as pessoas.

O que verdadeiramente importa

por henrique pereira dos santos, em 01.04.21

Alexandre Homem Cristo resume bem o Estado a que isto chegou:

"Concluo com um desabafo. É impossível olhar para este estudo do IAVE, para o silêncio crítico que o enquadra e para o actual debate à volta da recuperação da aprendizagem dos alunos sem sentir um grande desânimo. Viver este último ano em pandemia ensinou-me muitas coisas e uma delas é que a Educação, em Portugal, permanece pouco apreciada (excepto nos discursos, claro, onde é a rainha das prioridades). Se o país levasse a educação das crianças a sério, estaríamos indignados com a incapacidade do Estado em medir o impacto da pandemia na aprendizagem dos alunos, estaríamos inquietos com a indisponibilidade orçamental para investir na recuperação da aprendizagem, estaríamos impressionados com a falta de monitorização do sistema educativo, estaríamos intolerantes perante a possibilidade de alguma criança ficar para trás pelo azar de ter nascido pobre. Mas, como em Portugal muito pouco se leva a sério, andamos ocupados a imaginar crises políticas. Daqui a uns anos, pagaremos a factura".

É trocar neste texto educação por qualquer problema social que nos preocupe e estará sempre certo: nós, as pessoas comuns, os que aqui andamos, não levamos a sério a medição do impacto do que fazemos colectivamente e entretemo-nos a imaginar coisas.

O resultado é que fazemos erros, o que é uma inevitabilidade, mas também repetimos erros, o que, a cada repetição, nos aproxima da bovinidade em que vamos pastamos a erva que vamos encontrando, sem cuidar de saber se não poderíamos ter vidas melhores que as que temos.

Pág. 4/4



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Rodrigo Raposo

    Coitadito do JMT. Um idiota ... (in)útil.Na verdad...

  • João Gil

    Nas minhas contas 50/50 para a parte dos não escla...

  • Anónimo

    Vai dar para um destes dois lados:- Não fiquei nad...

  • João Gil

    A das obras do dupkex já caiu. Tal como depressa d...

  • Anónimo

    Volta lapis azul! Há quem por ti anseie.


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2025
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2024
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2023
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2022
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2021
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2020
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2019
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2018
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2017
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2016
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2015
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2014
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2013
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2012
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2011
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2010
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2009
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2008
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2007
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D
    248. 2006
    249. J
    250. F
    251. M
    252. A
    253. M
    254. J
    255. J
    256. A
    257. S
    258. O
    259. N
    260. D

    subscrever feeds