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Fica então estabelecido que as câmaras e microfones das televisões portuguesas acorrerão pressurosamente a cada vacinação anti-Covid, visto que em cada vacinação anti-Covid estará presente um membro do governo, que será entrevistado sobre «o magnífico trabalho em curso». Ora, eu sei que o governo português é dos mais numerosos do Mundo, mas chegará? Ou ao 317.º espetar de agulha teremos a presença do assessor da assessoria do gabinete de aconselhamento do subsecretário de Estado das vinhas?
...como demonstra este artigo magnífico, um trabalho sério e informativo de investigação sobre o caso do promotor falsificado, que surge numa coluna de opinião, enquanto os «jornalistas» de Sic e Tvi opinam muito em favor do governo, e se esforçam tanto por reduzir a mera «polémica» qualquer notícia menos agradável para o poder socialista.
A discussão sobre o efeito do Natal na evolução da epidemia é interessante, mas se eu tivesse dois dedos de testa, esperava umas horas pelos dados de hoje, que são os primeiros a dar alguma segurança em relação ao que se está a passar, antes de escrever este post.
Comecemos pelo contexto da coisa, olhando para a mortalidade diária em Portugal, ao longo dos últimos anos.
2021 é aquele bocadinho preto à esquerda, 2020 é a linha azul que se destaca de vez em quando, nomeadamente ao longo o Outono, no lado direito, e o pico maior que vemos à esquerda é 2017, cujo surto gripal deu origem a um número inusitado de mortes a 2 de Janeiro (que, evidentemente, não podem estar associadas a convívios de fim de ano, sendo duvidoso que possam ser explicadas com convívios no Natal).
O que é claro é que mortalidade tem uma subida constante a partir de Outubro - em 2020, maior do que o padrão habitual - que culmina em Janeiro e Fevereiro, os meses mais mortíferos que temos. Há picos associados a ondas de calor no Verão, mas não têm o mesmo padrão de continuidade e frequência da mortalidade em Janeiro e Fevereiro.
De maneira geral a mortalidade excessiva desaparece por volta da semana 19 do ano, ali no princípio de Maio (em 2020, na Europa, desapareceu na semana 20), com oscilações temporais e magnitude, de ano para ano.
Peguemos agora na opinião de Carlos Guerreiro, expressa num comentário ao meu post anterior, mas podíamos falar do que disse Carlos Antunes ao Observador, Ricardo Maxia ao Público ou Filipe Froes à TVI - já lá iremos - sempre no sentido de que o Natal foi uma desgraça e agora temos de fechar tudo para conseguir controlar os danos que teriam sido evitados se houvesse medidas restritivas sérias durante o Natal.
"... as pessoas foram aconselhadas a fazer o teste antes de passar o Natal com os familiares e fazer o teste uma semana antes não traz nenhuma segurança, se o teste for negativo só significa que naquele momento não estavam doentes (se não for um falso negativo). Imaginemos que uma pessoa no dia X tem contacto com alguém com Covid-19 e fica infectado, pode apresentar sintomas de doença até ao dia X+14. Imaginemos que só fica com febre no dia X+14, se fizer o teste para RT-PCR para SARS-Cov -2 no dia X+12 será negativo (só começa a ser positivo 2 dias antes do aparecimento dos sintomas). E poderia fazer a vida normal sem risco de contagiar ninguém não fora o caso de não saber quando iria começar a ter sintomas (e ser contagioso 2 dias antes do aparecimento dos sintomas). Por isso em caso de contactos de risco com alguém Covid-19 tem de ficar em isolamento 14 dias."
Comecemos pelo fim: há um bom número de países em que este intervalo de 14 dias foi reduzido, exactamente porque a possibilidade descrita é muito pouco provável. O que este texto revela é uma abordagem clínica clássica - considerar todas as hipóteses possíveis no caso individual que se tem pela frente - em detrimento de uma abordagem epidemiológica, que considera probabilidades em grandes grupos, descartando os fenómenos possíveis, mas de baixa probabilidade. A razão para esta última abordagem é simples: as medidas sociais têm sempre impactos sociais secundários e é preciso acautelar o funcionamento, tão normal quanto possível, da sociedade. Acresce que nunca vi defendidos os testes anteriores ao Natal (não uma semana, mas um ou dois dias antes) como tendo como objectivo garantir uma carta de alforria para comportamentos irresponsáveis, se fossem negativos, mas sim como mais uma precaução adicional: tão perto quanto possível de contactos de risco, assegurar-se de que não se está positivo, circunstância em que se abortariam de todo os contactos, mesmo com todas as precauções.
Luís Aguiar Conraria encontrou uma formulação particularmente elegante para definir a abordagem de muitos problemas e que se aplica às epidemias: é certo que as pessoas não são números, mas é bom ter em atenção que os números são pessoas.
"... o que [o] faz pensar que é a mudança de tempo, existem muitos países em que o efeito da mudança do tempo não se verifica. Esse países em que não se verifica o “efeito do Natal” existe o hábito de festejos em família, o tipo de casas é semelhante ao nosso (e poderia continuar a adicionar variáveis)? Os vírus transmitem-se mais facilmente em ambientes fechados em que estão muitas pessoas, e isso é o que acontece no Natal e fim do ano. Por que motivo existem um pico de afluência às urgências depois do fim do ano? Se a variável fosse o tempo frio, era uma grande coincidência o tempo frio ocorrer sempre com o mesmo timing".
Esta é a parte do comentário mais interessante por ser uma boa demonstração de uma espécie de iliteracia sobre os fenómenos naturais, que na verdade não é deste comentador, é um problema generalizado na sociedade.
Só a existência dessa iliteracia explica a dificuldade em encontrar informação da evolução da epidemia numa base geográfica abaixo do país.
Esta parte do comentário começa com uma observação bastante acertada: pode haver um conjunto enorme de factores a explicar a evolução da epidemia, escolher um - o Natal, o frio, a cultura de distanciamento das pessoas, o bom ou mau arejamento das casas, etc. - é sempre uma escolha arbitrária face à ignorância que temos sobre o que verdadeiramente tem conduzido a evolução da epidemia.
Como já mostrei mapas dos Países Baixos e da Alemanha com variações geográficas de incidência que são analisadas como se se tratasse sempre da mesma curva para a unidade geográfica país, hoje escolho o Reino Unido. Não encontrei o mesmo mapa para a Primavera, por isso vou usar o pico de Novembro e o pico actual, cujo reflexo na curva do país tem sido interpretado como resultante de haver mais ou menos medidas de controlo, no pressuposto, errado, de que estamos a ver a mesma curva e não a soma de duas curvas geograficamente distintas que por acaso ocorrem no mesmo país.
Se usasse a semana anterior a esta (a do Natal), a diferença seria mais evidente porque não aparecem a Irlanda do Norte e Norte de Inglaterra/ Sul da Escócia nas cores mais carregadas (pode verificar-se aqui, semana a semana).
Mas o que mais indicia a iliteracia sobre o mundo natural no comentário que venho usando, é mesmo esta frase: "Por que motivo existem um pico de afluência às urgências depois do fim do ano? Se a variável fosse o tempo frio, era uma grande coincidência o tempo frio ocorrer sempre com o mesmo timing".
Independentemente de se fazer notar que esse pico de urgências varia na dimensão de ano para ano (e isso não é explicável por Natais mais ou menos sociais), a verdade é que não há coincidência nenhuma em o tempo ter um padrão climático semelhante na mesma altura do ano, o que está em causa não é a meteorologia, mas o clima, o tal que nos permite esperar mais chuva em Abril, mais frio em Janeiro, mais secura em Agosto e por aí fora.
Claro que pode chover em Agosto, isso é do domínio da meteorologia, mas é razoável esperar tempo de praia em Agosto e geada em Janeiro, independentemente de não sabermos se não vai estar calor daqui a uma semana (não é provável, já agora, isso costuma acontecer mais pelo São Martinho).
O que tem acontecido com esta epidemia é que há um monte de matemáticos e médicos de clínica que resolveram interpretar a evolução dos surtos desta doença com base numa unidade geográfica errada - o país - e fazem sofisticadas análises matemáticas da curva que ocorre nessa unidade geográfica, como se ela tivesse algum sentido real, o que manifestamente é tanto mais errado, quanto maior e mais diverso é o país.
Até aqui, não é grave, o grave é quando com base numa série de silogismos lógicos - Froes dizia ontem na TVI que existe alguma probabilidade da nova estirpe se propagar mais em pessoas mais novas, logo maior afectação de grupos mais jovens significa maior contágio na sociedade, logo maior contágio na sociedade significa maior contágio nos mais vulneráveis, logo maior contágio nos mais vulneráveis significa mais casos graves, logo mais casos graves significa mais internamentos, logo significa mais cuidados intensivos, logo maior pressão sobre os serviços de saúde, logo é provável que tenhamos que reavaliar o ensino presencial para que os mais novos não infectem os avós - se influenciam decisões sociais brutais, como o fecho do ensino presencial, já defendido por várias pessoas e adoptados pelos políticos mais fragilizados de alguns países.
Que nenhum jornalista pergunte a Froes por que razão se acha no direito de, com essa fundamentação infantil, propor medidas que afectam os mais pobres e frágeis da sociedade, como os filhos das auxiliares de limpeza do hospital onde trabalha, mesmo que tenham os avós em Cabo Verde, é para mim um mistério.
Daqui a meia dúzia de horas teremos uma ideia mais clara de como está a evoluir a epidemia em Portugal, ao termos um termo de comparação entre os dados desta quarta-feira e da anterior.
Estou convencido de que há com certeza um crescimento razoável da epidemia, neste momento, que resulta da descida da área mais afectada, de Norte para Sul, que se conjuga com os efeitos nas doenças infecciosas pulmonares do frio (em rigor, do tempo, não faço ideia se é o frio, se é a combinação de frio, sol, humidade atmosférica e etc., que influencia a actividade viral e o comportamento das pessoas, o que sei é que nestas condições sinóticas, é habitual as urgências ficarem cheias de gente aflita com infecções pulmonares) que se faz sentir desde os dias 24 e 25 de Dezembro, ou doutro factor qualquer que desconheço.
E, provavelmente, também do contágio no Natal.
Qual é o peso de cada um dos factores na evolução da doença, e como lidar com eles é que não sei, o que sei é que as medidas de fecho coercivo da actividade nas sociedades, procurando limitar ao máximo os contactos sociais, não demonstram, até agora, ter um efeito tão relevante na evolução da epidemia que compensem os efeitos devastadores noutros parâmetros que não os da estrita contenção da epidemia.
Se dúvidas houvesse, a nossa - não é de Portugal, é mais ou menos em todo o mundo - incapacidade para proteger os lares da entrada de infecções, parece-me mais que suficiente como demonstração de que somos capazes de muito menos do que pensamos no controlo de infecções em geral e, por maioria de razão, da epidemia.
Pretender que as mesmas sociedades que são incapazes de criar barreiras eficazes entre a generalidade da sociedade e grupos vulneráveis, concentrados e claramente identificados, o conseguem fazer no conjunto da sociedade, parece-me pura estupidez.
Estou aberto a ser convencido de que a estupidez é minha, e não de outros.
Fake news 1: A lógica é uma batata podre
O Polígrafo é uma coisa que a Sic comprou, e que pretende denunciar as notícias falsárias, que são, na esmagadora maioria, os escândalos e as notícias inconvenientes para os socialistas no poder, que surgem nas redes sociais, e que os media tradicionais omitem por incompetência ou inclinação.
Ontem, o Polígrafo descobriu que André Ventura defendera legislação para protecção dos animais abatidos para alimentação, que proibiria certas práticas mais brutais, nomeadamente as do judaísmo e do Islão. Pois logo o Polígrafo descobriu que Hitler tinha aprovado legislação que também proibia tais práticas; donde, concluiu o Polígrafo, «André Ventura replicou legislação nazi».
No estrito respeito desta lógica, eis aqui outro silogismo possível: no tempo de Hitler havia nazis em vários orgãos de comunicação alemães, cretinos de uma fidelidade canina ao Führer, logo, o apresentador do Polígrafo, Bernardo Ferrão, estando num orgão de comunicação, é um nazi, um cretino e um cão.
Fake News 2: uma má notícia que ajuda a esquecer outra pior
Que sorte tiveram as redacções das televisões ao saberem, hoje, que há suspeitas de que o SEF sedou imigrantes, sem conselho médico e contra sua vontade, no aeroporto de Lisboa. Não é bom? E, sobretudo, dá tanto jeito para secundarizar a notícia -- essa confirmada, e não apenas suspeitada -- de que a ministra da Justiça sabia e mandou apressar o envio à União Europeia do curriculum aldrabado e inventado de José Guerra, o homem que os socialistas querem pôr a provedor europeu. Onde o mesmo Guerra fiscalizará abusos na utilização dos fundos europeus imagine-se de quem. Para televisões como a Tvi este caso é «uma polémica». Estão a compreender? Para a Tvi este escândalo miserável, este comportamento vergonhoso do governo é «uma polémica», assim uma espécie de discussão entre duas partes, da qual eles, pobres, nem querem saber.
(*) com pedido de desculpas às almas mais sensíveis, mas o excesso de intoxicação informativa pode ter efeitos gramaticais secundários
A gente pergunta-se, é claro, porque não compreende. O PCP, um partido pró-ditadura, tem, apesar de tudo, elementos com quem o diálogo é possivel - ocorrem-me dois nomes: Honório Novo e Bernardino Soares. Pessoas de trato afável, que não interrompem adversários em debates e são - até - flexiveis.
No entanto, postos, senão na prateleira, em lugares secundários.
Isto tudo a propósito das próximas eleições. João Ferreira? Mas João Ferreira, ou filho ou neto de Cunhal - ou sem parentesco com ele - é o seu olhar, a sua frieza, a sua intolerância. Esse é o PR que o PCP pretende?
Não, não é. Mesmo porque o PCP sabe que um seu candidato nunca alcançará a chefia do Estado. João Ferreira é apenas mais um fanático lançado ao lume eleitoral para incendiar o País. E ponto final.
Pode haver um parágrafo entre parenteses: João Ferreira está ali, no seu afinco, para desfazer concórdias. Eu vou mais por aqui.
"Se gosta de ter o penúltimo mais baixo rendimento bruto por hora de trabalho entre todos os países da Europa (4,6 euros – na Dinamarca são 19,2; no Luxemburgo, 15; em Espanha, 10; na Polónia, 8) e o penúltimo mais baixo poder de compra (dados Eurostat) vote socialista." Mas há mais 43 razões todas válidas.
O título do post era o mantra do senhor secretário geral da Organização Mundial de Saúde durante muito tempo e continua a ser a base de quase todo o discurso apocalíptico sobre a covid.
A defesa de medidas radicais de contenção da evolução da epidemia assentes na ideia simples (e simplista, mas deixemos isso agora) de que contágio é contacto e portanto reduzir contactos, coercivamente, se preciso for, é sempre reduzir contágios, vive exclusivamente dessa ideia de que uma desgraça terrível se abaterá sobre nós se não estivermos todos em casa, a um canto, a usar apenas computadores para mantermos as nossas relações sociais.
Sendo verdade que contágio é contacto, não é de todo verdade que contacto seja contágio e, consequentemente, se o número de contactos que resultam em contágio for suficientemente pequeno, reduzir contactos não altera grande coisa a evolução da epidemia sem que, previamente, estejam bem identificados que tipo de contactos geram contágio.
Note-se que oficialmente um contacto de risco elevado pressupõe distâncias menores de dois metros (esta distância varia, na verdade é mais provável que a distância que interessa esteja algures entre o metro e metro e meio), interacção face a face e, muito relevante mas frequentemente esquecido na definição das regras, pelo menos quinze minutos de contacto.
Todos os outros contactos são considerados de baixo risco.
Se tomarmos a sério o que acima está dito, não faz o menor sentido obrigar ao uso de máscaras na rua, quando nos cruzamos, para circular momentaneamente num restaurante ou café, quando se está pontualmente numa loja. Note-se que mesmo que se esteja mais que um quarto de hora num loja, basta estar a mais de um ou dois metros de outras pessoas, menos que quinze minutos, para não haver grande risco de contágio, o que permitiria alterar francamente as regras que hoje tolhem o comércio e a nossa vida quotidiana.
Eu sei que há a conversa dos aerossóis, mas basta arejar para resolver isso. Em qualquer caso, há pouquíssimos casos de contágio associados ao uso de aviões, ou de lojas ou mesmo de transportes públicos em geral, pode-se argumentar que não se sabem onde são a maioria dos contágios mas isso não é bem assim, por alguma razão os inquéritos epidemiológicos se focam num tipo de contactos - de proximidade, prolongados, etc. - e não noutros.
E, por alguma razão, grande parte dos surtos mais preocupantes - preocupantes por continuarem a ser frequentes, preocupantes por evoluírem em grupos especialmente vulneráveis à doença e preocupantes por darem origem a qualquer coisa como 40% da mortalidade - são em lares.
As afirmações de que daqui a duas semanas é que veremos como vai ser dramático continuam a ser desmentidas pela realidade: na maior parte das vezes não se verificam as previsões feitas e, quando aparecem surtos com relevância, apanham toda a gente de surpresa, quer no tempo, quer no espaço, quer na dimensão em que ocorrem.
Em qualquer campo do conhecimento em que uma visão de um problema desse origem a manifesta incapacidade para prever a sua evolução, quer falhando porque o fenónemo não evolui como previsto, quer porque o fenómeno se manifesta em circunstâncias não previstas, essa visão teria claras dificuldades em se tornar dominante.
Mas na epidemia entram em jogo três factores fundamentais.
O primeiro, da ordem da racionalidade, é o facto de, no momento da decisão, o erro da previsão não ter custos semelhantes quer se tome a decisão A ou a decisão B. Admitindo-se que a previsão está errada, não agir não tem um grande custo, mesmo que não tenha grande benefício. Admitindo-se que a previsão está certa, não agir tem um custo catastrófico. Logo a incerteza corresponde a um forte incentivo a que se tomem medidas, sejam elas quais forem, tenham elas a eficácia que tenham, que até pode ser nenhuma (no caso da epidemia isto é apenas verdade se se desconsiderarem, como desconsideram, os efeitos secundários das medidas adoptadas).
O segundo, da ordem da astrologia sob o manto diáfano do que se decidiu considerar como ciência, é a ideia de que a previsão estava certa, mesmo que não confirmada pela realidade, porque a diferença corresponde ao efeito da acção. Logo, as acções adoptadas estarão sempre certas: se a realidade confirmar as previsões, ou se a realidade não confirmar as previsões porque entretanto foram adoptadas as acções recomendadas.
O terceiro, da ordem da natureza humana: o medo de que "the worst is yet to come", que reforça a aceitação das duas falácias anteriores.
E é isto, o medo do futuro, seja de epidemias, seja do terrorismo, seja da instabilidade social, seja do que fôr, tem vindo a fazer o seu trabalho de erosão das liberdades individuais e de responsabilização individual pelas opções de cada um.
E isso não é questão que se resolva de forma racional: ou se percebe que os princípios se chamam princípios porque vêm antes de tudo o resto, ou haverá sempre razões para ir aceitando a ideia de que é legítimo ao Estado, arbitrariamente e sem nenhuma fundamentação séria, decidir que num fim de semana eu posso ir à pesca, no outro só posso ir à caça, no outro ainda posso ir visitar a minha avó e no que vem só posso esperar, mesmo que não saiba o que espero.
(Depois do "prólogo", em que Marcelo e Marisa se beijaram ambos, e Ferreira e Ventura se esmurraram mutuamente.)
Foi o tempo do Presidente desta República debater com o liberal Mayan Gonçalves. Onde o moderador Carlos Daniel conseguiu, enfim, ter alguma intervenção. E Marcelo perdeu a fleuma e interrompeu o seu adversário, manifestamente incomodado com os seus dizeres.
Não sou liberal. Ou "liberalista", se o termo cair melhor. Ideologicamente, pendo para a social-democracia. Também não sou republicano e os meus desejos vão para que El-Rei repouse imune a este desastre de que não é culpado. Deus o preserve na sua patriota missão de não desgraçar a nossa desgraçada Nação.
Sobre o mais, assisti ao Isto é gozar com quem trabalha. Vale dizer, ao tendenciosismo de Ricardo Araújo Pereira. E daí o resultado da etapa: Ventura vai à frente.
Mas o meu candidato presidencial, como já nele votei no passado próximo, continua o mesmo: Tino de Rans, um amigo. Um genuíno. Força, Tino! Contigo a República - contra as minhas covicções falo - ainda pode ganhar algum sentido.
Já li, sem nunca ter vontade de parar, as mais de 850 páginas de “M – O Filho do Século”, de Antonio Scurati, a “biografia ficcionada” ou “romance documental” sobre Mussolini, que incide sobre os anos que vão de 1919 a 1924, quando conquista o poder. É um excelente livro e aprendi imenso sobre um período e uma personagem a que nunca tinha dedicado grande atenção. A primeira coisa que mais impressiona é o grau de selvageria com que os fascistas actuam, com execuções sumárias de adversários, muitas vezes com requintes de crueldade - como, por exemplo, matar pais em frente aos filhos - batalhas de rua, queima de edifícios, fazendo da apologia da violência um programa político. É certo que, do outro lado, estavam socialistas radicais (a cisão que daria origem ao Partido Comunista Italiano ocorreria em 1921) que davam vivas a Lenine e agiam muitas vezes com igual violência sobre quem consideravam adversários, incluindo os militares regressados da Primeira Guerra, que acusavam de ter lutado numa “guerra burguesa”. Uma época de barbárie.
A segunda coisa que mais me surpreendeu no livro foi precisamente a proximidade que há entre os primeiros fascistas e os socialistas/comunistas. Achava que a passagem de Mussolini pelo Partido Socialista Italiano tinha sido episódica, um “desvio de juventude” como tantos tiveram. Qual o quê. O futuro Duce nasceu em 1883 e desde 1902 - então emigrante na Suíça - que militava pelo socialismo (aliás, o seu pai era um operário socialista) e, quando voltou a Itália, continuou a defender a revolução socialista e o derrube do capitalismo, à boa maneira bolchevique, chegando a director do “Avant!”, o jornal oficial do partido. Só em 1914 foi expulso, não por grandes divergências ideológicas, mas sim porque defendeu a intervenção de Itália na Primeira Guerra, contrariando a direcção socialista.
Para se ter uma ideia, em 1919, o programa dos “Fasci di Combattimento”, conforme o livro revela, inclui muitos temas caros aos socialistas revolucionários: jornada laboral de oito horas, salário mínimo, representação sindical nos conselhos de administração, gestão operária das indústrias, distribuição aos camponeses das terras não cultivadas, impostos extraordinários de carácter progressivo sobre o capital, confiscação de todos os bens das congregações religiosas, entre várias outras medidas de que nenhum bolchevique desdenharia. Aliás, não era só Mussolini, também outros dos principais dirigentes fascistas vinham das fileiras do socialismo revolucionário, caso dos influentes Cesare Rossi, Michele Bianchi, Giovanni Marinelli, Roberto Farinacci ou Mario Giampaoli. Já no poder, Mussolini funda a sua polícia política, a Ceka, inspirado na Tcheka de Lenine. Só mais tarde, precisamente por darem combate violento aos “vermelhos”, os fascistas - que tiveram resultados ínfimos nas eleições - passariam a ser oportunisticamente apoiados por latifundiários e industriais, iniciando-se a viragem à direita.
Devo ainda referir outro facto que me impressionou no livro, tanto mais que sou monárquico. A inacção quase cúmplice com que o rei de Itália permite a “marcha sobre Roma” (na fotografia) e a ascenção e consolidação no poder de Mussolini, não se fazendo valer dos seus poderes constitucionais para defender o regime democrático. Tenho a impressão que é um dos piores exemplos da actuação de um monarca europeu no século XX e devíamos estudar mais o caso e aprender com ele.
Parece que Antonio Scurati está a preparar, ou já tem preparados, dois novos volumes sobre Mussolini que dão continuidade a este. Mal posso esperar. É bom ver confirmadas em obras destas as razões porque sou alérgico a “movimentos de massas”, sejam de esquerda sejam de direita.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.
Palavra da salvação.
Imagem - Adoração dos Reis Magos, El Greco 1568
Estamos em Estado de Emergência mas, em boa das verdades, estamos mesmo é em Estado de Ignorância. Sabe-se ainda pouco da doença Covid-19 quer ao nível das suas causas quer sobre os seus efeitos na saúde das populações. Ou seja, se é certo que a doença se transmite pelo ar, ou seja, através dos contactos entre as pessoas, se é também uma evidência que os idosos são o grupo mais atingido, ainda pouco ou nada se sabe sobre: o porquê de uns ficarem infetados e outros não (quando em igualdade de circunstâncias), a aparente sazonalidade da doença, a imunidade de grupo, os que são falsos negativos ou falsos positivos identificados nos testes, as eficiências dos testes em uso, os infetados assintomáticos (se são ou não transmissores da doença), o número de dias de quarenta profilática, o impacto das co morbilidades na evolução dos infetados, qual o efeito temporal da doença naqueles que foram internados, as terapias a administrar aos que se encontram internados nas unidades de cuidados intensivos, o tempo médio estimado de internamento, o efeito do uso de máscaras, a circulação em transportes públicos, a eficiência das vacinas, o tempo estimado para o efeito da vacinação, os efeitos colaterais das vacinas, porque evoluem diferentemente os novos casos de país para país quando as medidas são semelhantes,… Ou seja, um número sem fim de variáveis para as quais não temos ainda respostas seguras. Mesmo os dados estatísticos continuam a evidenciar factos sobre os quais vamos aprendendo com o passar do tempo. No Verão parecia que o impacto do vírus, no aumento da mortalidade total em Portugal, seria pouco expressivo. Hoje, nesta notícia do JN, estima-se que, entre 2019 e 2020 , o aumento da mortalidade total se situe em cerca de 11.000 óbitos e que o covid 19 será responsável por cerca de 49% deste incremento; os restantes 51% serão resultado das consequências indiretas, ou seja, das ineficiências do Serviço Nacional de Saúde (milhões de consultas, análises, tratamentos e cirurgias que não se efetuaram, milhares de rastreios que não ocorreram,…) e do medo que se instalou na população que se traduziu na redução dos recursos às urgências hospitalares.
O Estado de Ignorância é também o gerador das muitas incertezas com que, todos nós, nos defrontamos neste início de 2021. Entre muitas outras, destaco as seguintes: qual a evolução, nas próximas semanas, do número de novos infetados, de óbitos, de internados e (destes) em cuidados intensivos? Vamos ter, ou não, uma 3ª Vaga? Quando acontecerá o início do impacto da vacinação? E a gripe, como evoluirá? Quando se assistirá a um retomar progressivo das atividades económicas (nomeadamente todas as direta e indiretamente relacionadas com o turismo)?
Mas a ignorância é igualmente fonte de disparates. O Henrique Pereira dos Santos, aqui no Corta-Fitas, tem evidenciado (quase até à exaustão) as inacreditáveis opiniões que se ouvem de supostos especialistas em epidemiologia e as múltiplas decisões incompreensíveis tomadas pelo Governo e pelos responsáveis da área da Saúde. Apenas refiro o exemplo do encerramento das escolas que hoje é reconhecido como tendo sido um disparate; porque foi, então, tomada essa decisão? Porque a ignorância gerou o medo da não decisão e em política é preciso (recorro à obra “O Leopardo” de Tomasi Lampedusa) que algo mude nem que seja para que tudo fique na mesma.
No dia 31 de Dezembro, Filipe Froes, que o Observador (ou a Lusa, às vezes é a mesma coisa) qualifica como especialista, resolveu dizer que os números de casos positivos registados nos dias 30 e 31 de Dezembro “poderão ser um reflexo do período do Natal, altura em que muitas pessoas desvalorizaram as medidas de prevenção e controle, como o uso de máscara e o evitar ajuntamentos”.
Mais especificamente "Tendo em conta os números de hoje, os dois especialistas assumiram, em declarações à agência Lusa, que “os primeiros dias de janeiro vão apresentar números elevados de novos casos” e o epidemiologista prevê uma média superior a 8.000 casos diários" (o outro especialista referido é Pedro Simas, mas como nenhum deles é epidemiologista, não se percebe bem que fez esta previsão).
Estes são dos que sistematicamente se diz estarem do lado da ciência e, por isso, têm todo o crédito de uma imprensa que se demitiu de fazer perguntas básicas sobre o assunto.
No momento em que faziam estas declarações, a média a sete dias andava abaixo dos 3 800 casos e tinha havido dois dias seguidos com números muito altos, um com seis mil e poucos casos positivos e outro perto dos sete mil e setecentos, mas em Portugal nunca houve uma média de 8 mil casos. Pode vir a haver, claro, mas até ao momento da previsão, não tinha havido.
Note-se que os tais comportamentos do Natal, responsáveis por uma previsão que mais que duplicava a média que então se verificava, ocorreram a 24 e 25 de Dezembro. Contágios ocorridos nesses dias, geram sintomas por volta de cinco dias depois, isto é, por volta de 29 e 30 de Dezembro.
Os dados de 30 e 31 de Dezembro reflectem os dados registados no dia anterior, que reflectem testes feitos, maioritariamente, pelo menos dois dias antes, ou seja, na realidade são dados de 28 e 29 de Dezembro, maioritariamente, o que torna manifestamente pouco provável que se devam a contágios de 24 e 25 de Dezembro.
Acresce que a subida de casos não é uniforme dentro das diferentes regiões do país, o que sugere que um facto transversal como o Natal não pode estar na origem da evolução diferente das diferentes curvas.
Os dois dias entretanto decorridos parecem confirmar que a subida de casos a partir do Natal pode existir, mas nada permite supor que terá a dimensão prevista por estes especialistas.
E, já agora, países com medidas igualmente muito restritivas durante o Natal, como o Reino Unido, Alemanha, República Checa, Dinamarca ou Países Baixos, apresentam curvas posteriores ao Natal muito diferentes (embora seja cedo para conclusões sólidas, a verdade é que, por enquanto, as tendências não parecem ser semelhantes apesar de medidas semelhantes).
Mas podem homens de ciência errar tão estrepitosamente em matérias científicas?
Comecemos pela base: quem diz que Filipe Froes (ou Pedro Simas, ou Ricardo Mexia) são especialistas cujas opiniões são fundamentadas cientificamente?
Na verdade, os jornais, nada nos respectivos curricula os qualifica como especialistas em epidemiologia. Podem ser especialistas noutras coisas (Filipe Froes em clínica pulmonar, Pedro Simas em virologia, Ricardo Mexia em saúde pública) mas não em epidemiologia.
Como me fazia notar um dos tais que a ortodoxia garante estar contra a ciência, e que resolveu fazer uma comparação simples no google scholar entre ele próprio e David Marçal, que se assume como o guardião da ciência nesta epidemia, os números são avassaladores.
David Marçal tem 17 publicações, contra quase 300 do meu interlocutor, David Marçal é citado 305 vezes, o outro praticamente 15 mil, o artigo mais citado de Marçal tem 185 citações, o do outro tem quase 900 citações e mais de uma quinzena de artigos mais citados que o mais citado de Marçal e o ano de Marçal com mais citações, dos ultimos oito anos, tem 28 citações o meu interlocutor tem mais de mil citações em cada um dos últimos três anos, mas para a imprensa é Marçal o árbitro que é preciso ouvir quando se trata de saber o que é científico ou não.
Mais ridículo que isto, só João Júlio Cerqueira, a quem o Polígrafo recorre frequentemente para fazer a verificação de factos científicos e que é um médico de medicina de medicina geral e do trabalho cujo currículum científico se resume a ter fundado uma página de Facebook e um blog dedicada à ciência.
Não se trata de negar o interesse em ouvir estas pessoas, e menos ainda usar argumentos de autoridade para evitar a discussão do que quer que digam, trata-se, isso sim, de negar em absoluto que estas pessoas representem o saber científico sobre a epidemia e que discutir as suas opiniões seja o mesmo que negar a ciência.
Manuel Carmo Gomes, esse sim, é um cientista, mas grande parte do que tem dito sobre a evolução da epidemia não se verificou, como o efeito da abertura das escolas e outras coisas que tais. Isso não é má ciência, é o normal no processo científico e corresponde ao que é o estado actual da ciência sobre a epidemia, um estado muito inicial em que há muito pouca coisa já completamente assente e estabelecida.
É por isso natural que diferentes pessoas, incluindo diferentes cientistas, digam coisas diferentes sobre a epidemia.
E quando se passa da produção científica sobre a doença em si, para processos mais complexos como o efeito da doença na sociedade, ou seja, para a epidemiologia (que soma a complexidade da doença à complexidade da sociedade e lhe soma ainda a complexidade da relação entre a doença e a sociedade), o que se sabe e tem um largo consenso é ainda muito menos, de tal forma que apesar de um ano de convívio com a doença e do seu estudo intensivo, não existem muitas publicações científicas e meta-análise sólidas sobre que medidas não farmacêuticas funcionam no controlo da epidemia, havendo apenas correlações estatísticas (muitas vezes "astrologia disfarçada de matemática", para usar a expressão certa deste artigo que vale bem a leitura) que são, quando são, muito mal testadas para outras situações semelhantes.
Seguramente eu sei muito menos do assunto que qualquer das pessoas citadas neste texto, e de maneira nenhuma pretendo que qualquer um de nós se afaste do debate sobre o assunto, mas debater é apresentar argumentos, não é pretender eliminar o contraditório com a alegação, manifestamente falsa, de que a ciência está apenas num lado do debate e que contestar - ou sequer ter dúvidas sobre as medidas de gestão adoptadas, como é o meu caso - a visão dominante da gestão da epidemia é equivalente a dizer que a terra é plana.
Começámos mal - com a notícia da morte de Carlos do Carmo, figura de grande prestígio português. Em boa verdade, não pertenço ao grupo dos seus admiradores, por razões que não vêm ao caso. Mas a morte de um nosso semelhante é sempre um motivo de abalo e tristeza, por muito que acreditemos na Vida para além da vida.
Ainda de manhã, Carlos do Carmo, nos canais televisivos, coleccionava uma formidável álbum de «maiores amigos» sobre ele longamente dissertando. O costume... E não deixei de notar o depoimento de José Cid, recordando as conversas entre ambos: no exacto momento em que referia Carlos do Carmo como do «socialismo de esquerda» e ele, Cid, um «monárquico progressista», com o fadista a reconhecer - «és capaz de ter razão» - a locutora, por acaso da CMTV, cortou-lhe o pio e chutou para a publicidade...
Desculpar-me-á Carlos do Carmo servir-me da sua morte como preâmbulo para a minha teoria acerca da ditadura em que, diafanamente, vivemos: a ditadura do "politicamente correcto". Na qual nada me apetece viver.
Por isso - seguindo os passos dos opositores à anterior II República (e pensando no 2021 em que entrámos), sempre aconselharei as nossas gentes a casar em Alter do Chão. Onde se garantem festejos matrimoniais de seis dias consecutivos e boas calhausadas nos carros da Polícia; mesmo algumas escarretas no interior destes, para os mais afoitos. Ou então a feira semanal da minha terra e a sua notória divisão no fim - de um lado o terreiro limpo, do outro a porcaria total (plásticos, trapos...) e os funcionários camarários que se desunhem depois...
A Oposição ao esquerdismo percebe o que escrevo. E assim ninguém a rotulará de xenófoba, nem a perseguirá.
Um Ano Novo com tudo de bom para todos. Desde logo, com uma lei aplicada por igual.
A cada 1 de Janeiro lembro-me de António Costa.
No dia 1 de Janeiro, em Portugal, não se publicam jornais.
Ninguém me tira da cabeça que foi essa a razão principal para que a única visita de António Costa a José Sócrates, quando este estava preso, a tal visita em que António Costa foi dizer que cada um tem direito à sua verdade, foi feita num dia 31 de Dezembro.
António Costa, bem dentro de 2011, isto é, já com as coisas bem claras sobre as consequências das políticas adoptadas por José Sócrates, continuava a dizer que Sócrates era um grande líder e um grande primeiro ministro (poupo-vos à intervenção deprimente de Costa no Congresso que elegeu de novo Sócrates secretário-geral do PS, com 93,3% dos votos, em que explicitamente reafirma o seu orgulho na forma como Sócrates exercia o seu cargo de primeiro ministro há seis anos dias antes do pedido de ajuda, mas para que ninguém tenha dúvidas, fica aqui uma pequena declaração desses tempos).
Ainda assim, quando Sócrates é preso, António Costa deixa correr o tempo, e escolhe o dia 31 de Dezembro para o visitar na cadeia, provavelmente por não se publicarem jornais no dia seguinte e desconhecendo que visitar os presos não é nenhuma declaração de apoio às actividades do preso, é apenas uma obra de misericórdia, cuja obrigação de cumprimento é evidentemente maior para os amigos do preso.
Por tudo isto, a cada 1 de Janeiro lembro-me de António Costa e do que verdadeiramente representa e é: um homem que não tem amigos e para quem o poder não é um instrumento para servir as pessoas comuns, mas um fim em si mesmo, para o serviço dos que escolhemos.
Por maioria de razão, num Janeiro em que há eleições, essa lembrança de António Costa lembra-me também que tenho uma opção simples, embora de alcance limitado.
Marcelo é o pântano de que se alimenta António Costa e votar em Marcelo é dizer claramente que se está confortável neste pântano.
Todas as outras nove opções - seis outros candidatos, voto nulo, voto branco, abstenção - querem dizer que não se está confortável com este pântano que resulta da forma como as instituições e a política fazem o seu caminho.
Por mim, voto Tiago Mayan para desagrafar Portugal, não quero saber o que diz o candidato nem o que tem feito, nem se é bom ou mau, quero apenas que seja bem claro o significado do meu voto: cada voto em Tiago Mayan será lido como um voto numa sociedade mais liberal, e não propriamente como um desejo de que Tiago Mayan seja Presidente da República, o que todos sabemos que não vai acontecer.
Que Marcelo será o próximo presidente não há qualquer dúvida.
E cada voto em Marcelo é uma declaração de conforto com o pântano em que estamos, tudo o resto é irrelevante.
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