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Oh pá, é uma outra espécie de Anschluss

por José Mendonça da Cruz, em 31.01.21

Ah pá, a Alemanha vai enviar-nos médicos e a Áustria vai receber doentes de cuidados intensivos a que a gente não consegue acudir (nem se podia combinar com o privado, que esses é só negócios e lucro).

Eh pá, queres ver que a Merkel não é nazi ?!

Ih pá, queres ver que o Kurz não é fascista ?!

 

Sinal e ruído

por henrique pereira dos santos, em 31.01.21

Pelo que li sumariamente, a distinção entre sinal e ruído vem das telecomunicações e no fundo procura distinguir a comunicação que se pretende - o sinal - do ruído de fundo, que só atrapalha.

Intuitivamente é fácil perceber que quanto melhor for o sinal e menor o ruído, melhor é a comunicação.

Hoje usa-se muito esta ideia quer do lado da comunicação, quer do lado da estatístisca.

Já várias vezes ouvi falar do livro que tem exactamente este título "The signal and the noise", que nunca li, e quando escolhi o título do post, evidentemente a partir do título desse livro, resolvi certificar-me que não tinha uma ideia completamente ao lado do que verdadeiramente era o livro em causa.

Sem grande surpresa, porque entre as pessoas que fui ouvindo falar do livro estão pessoas ligados à epidemiologia clássica, isto é, à epidemiologia que sabe que a gestão de uma epidemia é essencialmente gestão de informação, e não gestão médica, verifico que entre os exemplos do livro tanto estão campanhas políticas, como previsões sobre o efeito de furacões ou, surpresa, o avanço de uma epidemia perigosa. Pode ser que ainda venha a ler o livro.

Vem tudo isto a propósito dos gráficos básicos que vou fazendo para me orientar no nevoeiro de informação sobre a epidemia, como o que está abaixo em que está a evolução diária de casos, do Natal até agora, a respectiva média a sete dias e os resultados do modelo da equipa de Manuel Carmos Gomes que foram usados na reunião do Infarmed de 12 de Janeiro, em que se pretendeu convencer o governo a fechar escolas (em boa verdade, e tudo o resto).

casos e prev.jpg

Qualquer pessoa se apercebe do nível de ruído que existe nos dados diários, todos sabemos que uma epidemia não evolui aos solavancos, nós é que tratamos informação aos solavancos. Uma boa parte do jornalismo esquece esta questão básica e trata os números de cada dia sem qualquer cuidado em eliminar o ruído e, pelo contrário, ampliando o ruído (não confundir com a opção de escolher sempre o indicador mais dramático, o número de casos, ou de mortes, ou de hospitalizações ou de cuidados intensivos. O que disse primeiro é incompetência, esta opção é má-fé).

Porque é assim, porque existe um ciclo semanal de tratamento da informação, usa-se a média de sete dias para eliminar parte do ruído, tornando mais claro o sinal.

Por exemplo, do dia 29 para 30 de Dezembro o número de casos quase duplica (passando de 3336 para 6049). Como se está numa fase de aumento de incidência da epidemia, um aumento diário é normal, mas grande parte deste aumento é o que acontece entre todas as terças e quartas, o que é facilmente contornável olhando para a média de sete dias, que "apenas" aumenta de 3049 casos para 3256.

O que interessa, ou seja, o que nos dá o sinal, são as diferenças de umas terças para as outras terças ou de umas quartas para as outras quartas, que na verdade é o que conseguimos ver no andamento da média dos sete dias.

Existem técnicas matemáticas para eliminar, tanto quanto possível, ruído de dados, umas que conheço rudimentarmente, outras que desconheço perfeitamente. Um dos trabalhos dos modeladores é escolher a forma de tratar os dados de modo a extrair deles o máximo de sinal, com o mínimo de ruído.

O que é especialmente interessante neste mês de Janeiro em Portugal é o efeito do ruído introduzido pelos modeladores.

Não há nenhuma especificidade portuguesa no papel dos modeladores enquanto produtores de ruído, tem sido debatida a fractura geracional entre os velhos epidemiologistas, que preferem usar ferramentas que conhecem a processos que desconhecem, e os jovens lobos que acham boa ideia usar novas ferramentas, não testadas, em circunstâncias de elevada incerteza intrínseca, como é uma epidemia.

Os principais pilares dessa clivagem geracional é a substituição da clínica por técnicas laboratoriais para definir o que é um caso, e a substituição de visões mais abrangentes dos factores em presença na evolução de uma epidemia pela concentração, matematicamente sofisticada, apenas num factor: o contacto como condição sine qua non do contágio. O corolário é que a gestão de uma epidemia se faz gerindo contactos e não gerindo os efeitos sociais da epidemia (esta clivagem é ilustrada pela abordagem predominante, patrocinada pela Organização Mundial de Saúde após a manobra de propagando do regime chinês, e a Great Barrington Declaration, que assenta na epidemiologia clássica).

O que é interessante e especificamente português é que dois fenómenos completamente autónomos ocorreram a partir da mesma data, o que permite estudar os efeitos dessa introdução de ruído: a celebração do Natal e a entrada de uma anomalia meteorológica que, em condições normais, seria imediatamente entendida como tendo influência provável na incidência de doenças respiratórias.

O que o gráfico acima ilustra, com a enxertia dos resultados simplificados dos modelos matemáticos em uso, é que os modeladores que estão a influenciar a gestão desta epidemia, obcecados com o tandem "contacto/ contágio", depois de eliminarem o ruído decorrente do ciclo semanal de produção de informação, atribuíram a totalidade do sinal ao aumento de contactos e projectaram para o futuro o efeito que estavam a observar, dando origem a projecções completamente delirantes, como a realidade veio mostrar.

Note-se que, logo na altura, seria normal que se perguntassem como seria possível ter duas a três vezes mais casos que os que hoje se verificam, quando já hoje somos o país do mundo com maior número de casos por milhão, isto é, a obsessão com o tandem "contacto/ contágio", aparentemente, impediu os modeladores de se perguntarem a si mesmos como era possível ter resultados tão extraordinários e tão fora do que têm sido os padrões pelo mundo fora.

Um bocadinho mais de humildade e, sobretudo, atenção aos factores essenciais de evolução de epidemias, que dificilmente podem ignorar as condições ambientais em cada momento, teria, provavelmente, levado equipas mais velhas, com mais experiência de gestão de epidemias (note-se que Carlos Antunes, o mais influente dos modeladores, nunca tinha trabalhado em epidemias, é um geofísico especialista em alterações climáticas, um campo em que o alarmismo é considerado um bom instrumento para nos conduzir ao bem comum), a olhar em simultâneo para os contactos do Natal e para a anomalia meteorológica.

Seria normal procurar identificar no sinal o que era resultado de mais contactos (os dados existentes sobre contactos no Natal não mostram nenhum aumento verdadeiramente relevante de contactos em relação aos dias anteriores, o que deveria ter acendido as luzes de alerta de modeladores com menos certezas) e o que era resultado de uma situação meteorológica excepcional, permitindo calibrar melhor o modelo e ter previsões que não representem, como as que foram feitas representam, uma ruptura incompreensível do histórico de evolução da epidemia e do que se sabe a partir do resto do mundo.

Sem presente, nem perspetivas de futuro

por Jose Miguel Roque Martins, em 31.01.21

É, consensual que estamos numa situação terrível,  sanitária, económica e social. É , ou devia ser, consensual, que estamos a enfrentar problemas gravíssimos, com um primeiro-ministro, com um governo, com uma oposição e com um parlamento, disfuncionais.

Começam as propostas de um governo de iniciativa presidencial. Que temos de mudar, parece óbvio. Mas será esta a solução? Será possível mobilizar os principais partidos para um governo de salvação nacional?As sondagens não dão um quadro de forças diferente do actualmente existente no parlamento. Com o PS, mantendo a sua liderança clara, apesar do desgaste tremendo a que tem sido sujeito. Nada de substantivamente novo parece existir em termos de eleitorado. As únicas mudanças possíveis, dentro do quadro parlamentar existente, serão do timoneiro, da equipe e de uma nova geringonça, desta vez  à direita.

Uma alternativa, parece ser mudar a oposição. Com o regresso de um D. Sebastião, que mobilize a sociedade para um novo combate pela nossa sobrevivência em moldes relativamente normais.

A única certeza é que os escombros continuam a amontoar-se. E o mais provável é que não seja com este governo, nem com uma crise política longa, que vamos conseguir ultrapassar, sem custos profundos e desnecessários , um desafio que parece estar acima das nossas possibilidades actuais.

Pelo que acontecer uma mudança, qualquer que ela seja, parece inadiável e desejável. Saltar do lume para a frigideira, será já um alivio. Neste momento, não temos presente, nem perspectivas de futuro. 

 

 

 

 

Domingo

por João Távora, em 31.01.21

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!». E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

Palavra da salvação.

Comentário: O ensino de Jesus reveste-se de autoridade única, porque Ele é o Filho, Enviado de Deus, e, por isso, as suas palavras são a própria Palavra de Deus. Ele é realmente o Profeta por excelência. Para os escribas, que ensinavam as Escrituras, a autoridade vinha-lhes das mesmas Escrituras e da tradição; para Jesus a autoridade vem-lhe de Ele ser o Filho de Deus e seu Messias. Para o manifestar, Jesus expulsa o demónio, mostrando assim que o poder demoníaco cessa diante do seu poder. Ele é “o mais forte”, como noutra passagem se diz.

O que é de mais, é moléstia (parte dois)

por henrique pereira dos santos, em 30.01.21

Chamaram-me a atenção para esta entrevista de Manuel Carmo Gomes:

"Evitamos falar de números, porque a situação altera muito de um dia para o outro, mas em termos de contágios reais deveremos ficar algures entre 16 mil e 18 mil casos. Os 16 mil casos que tivemos reportados esta semana (quarta-feira) corrigem os dias anteriores e referimo-nos sempre a médias semanais.

...

Quando no dia 12 de janeiro recomendei (na reunião do Infarmed) que se fechasse tudo, incluindo as escolas, à exceção das escolas dos miúdos mais pequenos, não era por causa da variante, mas da velocidade a que a epidemia estava a subir. Dissemos: vamos ter 14 mil casos no dia 24 de janeiro. Enganámo-nos por três dias, porque os 14 mil casos chegaram mais cedo".

Vamos aos factos.

É simplesmente mentira que no dia 12 de Janeiro Manuel Carmo Gomes tenha dito que no dia 24 (penso que era 27, mas isso é um mero engano) se chegaria aos 14 mil casos, o que disse era que esse seria o cenário se imediatamente se fechasse tudo, incluindo escolas. Sem essas medidas, a previsão era de 37 mil casos (médias semanais como Manuel Carmo Gomes faz questão de frisar).

É simplesmente mentira que em algum dia a média semanal de casos tenha chegado aos 14 mil casos, o máximo, até agora, foi atingido a 28 de Janeiro com 12 890 casos. Daí para cá - ontem e hoje - a média semanal desceu para 12 365, ou por aí, o que não quer dizer que não venha a subir no futuro próximo, não é o que os números parecem sugerir, mas não se sabe.

Não há problema nenhum no facto dos modelos darem resultados que no futuro se venham a provar errados ou imprecisos, é da natureza das coisas, o futuro é uma coisa muito incerta.

Mas mentir desta forma sobre os seus próprios modelos e os resultados a que chegaram, para defender a sua aderência à realidade tem um nome: desonestidade.

Bem haja, Manuel Alegre

por Jose Miguel Roque Martins, em 30.01.21

Nos momentos mais negros da História, normalmente surge uma reação positiva que volta a colocar o mundo ou um País, nos trilhos do desenvolvimento harmonioso Por vezes a reacção é excessiva. E ao corrigir erros, acrescenta novos focos de tensão, que levam a nova crise.

Foi, por exemplo, assim, que Marx  e o movimento socialista, tiveram um papel importante, combatendo a insuportável desigualdade e exploração provocada pelo desemprego no inicio da revolução industrial.

 Inspirando o comunismo, que acabou por trazer tanta miséria, mortes, equívocos e pobreza colectiva.

Inspirando o socialismo, que de forma mais mitigada, também é responsável por muitos dos males que nos afectam hoje.

O poder destes movimentos, ainda hoje se sentem. Em especial em alguns países, como Portugal, onde os princípios fundadores destes movimentos, foram extravasados numa cultura de irrealismo e desresponsabilização individual e colectiva.

Da ideia de igualdade, evolui-se para um conceito vasto de direitos inalienáveis, mesmo que sem suporte na realidade. A Lei substitui o justo. O que é democrático, por mais absurdo que seja, é por definição lei, e por isso pretensamente justo. Os valores, anacronismos. Os dogmas económicos, destroem a criação de riqueza. A igualdade é garantida na pobreza. A desigualdade, nos compadrios do poder.

É pois de saudar que, Manuel Alegre, um arauto do que acredito serem tantos equívocos, se tenha lembrado do que está certo e errado. Mesmo que seja legal e democrático. E tenha proclamado alto e a bom som, que o Estado serve para proteger os interesses dos cidadãos e não para proteger os interesses do Estado.

Uma ideia que deveria ser por todos defendida e aplicada em todos os aspectos da nossa vida colectiva.

Se há tempo em que parece ter-se perdido completamente o tino, é o actual.  Que tanto precisa de recentrar, no bom senso, nos valores e na verdade, a sua orientação. E que precisa de todas as contribuições. 

Bem haja, Manuel Alegre.

 

 

Prova dos nove

por henrique pereira dos santos, em 30.01.21

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Já descrevi este gráfico num post anterior (entretanto fiz uma correcção de datas, nada de relevante para o quadro geral que o gráfico retrata). Sobre esta actualização é relevante dizer o seguinte: são seis da manhã, portanto os dados de 29 de Janeiro (ontem) são indicativos. O valor da mortalidade total vai sendo alterado ao longo do dia, em consequência dos atrasos de registo, mas é ainda assim um valor expressivamente mais baixo que o de ontem a esta hora, que já era expressivamente mais baixo que o de anteontem à mesma hora. O valor da mortalidade covid a 29 de Janeiro é neste momento desconhecido e é um valor arbitrário atribuído por mim, apenas para poder completar o gráfico que ilustra o que quero dizer.

Algures lá atrás, do alto da minha ignorância, admiti que a mortalidade global ia descer pouco depois do dia 13 de Janeiro e, com isso, iria descer a mortalidade covid, sem respeitar o desfasamento temporal que se admite que exista entre o número de casos e a mortalidade, que anda pelos quinze dias, três semanas.

Nada disso se verificou, nem a mortalidade global desceu expressivamente (foi subindo até ao dia 26, embora progressivamente mais devagar), nem a mortalidade covid desceu, não acompanhando sequer a desacelaração progressiva da mortalidade, portanto concluí que a minha hipótese não era válida, pelo menos no tempo e forma como a descrevi.

É tempo de a retomar: a mortalidade total parece estar a descer rapidamente (insisto, não tão rapidamente como parece no gráfico porque quanto mais recentes, maiores são as correcções que os números ainda vão sofrer) e a mortalidade covid deu ontem um sinal de que a hipótese que estava na minha cabeça - parte da mortalidade covid registada não resulta da maior incidência da doença e não decorre da doença, mas corresponde à morte de pessoas com testes positivos covid, independentemente da relação entre essa morte e a presença da infecção - talvez seja válida.

Como todos sabemos, uma prova dos nove não substitui uma prova real e o que estou aqui a fazer é apenas uma prova dos nove.

Se a mortalidade covid baixar hoje de novo, nada fica demonstrado, mas ficam mais fortes os indícios de que ignorar a anomalia meteorológica extraordinária que ocorreu entre 24 de Dezembro e 19 de Janeiro (considerando que entre 13 e 19 de Janeiro a anomalia é menos clara e generalizada) na interpretação quer da mortalidade global, quer da evolução da covid, é um erro.

E que, já agora, esse erro tem um peso terrível na definição de políticas com efeitos sociais reconhecidamente negativos, incluindo a asneira de fechar escolas e suspender o ensino presencial.

Adenda: a mortalidade covid não baixou, bem pelo contrário, teve um aumento acentuado, embora para um valor menor que o dos dias anteriores (com excepção de ontem). Para já não se confirma a hipótese que tinha na cabeça, vamos esperar pelos próximos dias

Raios partam o jornalismo

por henrique pereira dos santos, em 29.01.21

"Os modelos de Carlos Antunes, um dos especialistas que tem apresentado as suas projeções nas reuniões no Infarmed com o Governo, vão no mesmo sentido: “Os indí­cios do efeito do confinamento são muito subtis, dado o curto perío­do desde o fecho das escolas, mas verifica-se uma desaceleração da incidência global. O pico está a ficar cada vez mais definido e é apontado algures entre 5 e 9 de fevereiro, com uma incidência que poderá si­tuar-se entre os 17 e os 18 mil casos diários.”"

Já escrevi que gosto de Carlos Antunes, da sua cordialidade e disponibilidade, só acho é que tem uma leitura profundamente errada desta epidemia, de como se desenvolve e de quais são as "forças modeladoras" que a estão a influenciar primordialmente (eu acho, é um achismo, não estou a dizer que sei mais que Carlos Antunes ou Manuel Carmo Gomes, acho, explico porque acho, desenho hipóteses, avalio-as contra a realidade e mudo de opinião se verificar que os dados invalidam as hipóteses de que parti).

E não me irrita nada que Carlos Antunes vá fazendo previsões sucessivas, adaptando-as em função da informação que vai havendo, é o normal para um investigador.

O que me irrita é a forma como  os jornalistas tratam estas previsões que, é bom lembrar, influenciam fortemente políticas públicas que condicionam pesadamente a vida de milhares de pessoas.

Não entendo, mas não entendo mesmo, o mecanismo mental que fez tantos jornalistas abandonarem a essência da sua actividade, que, entre outras coisas, consiste em questionar todo o discurso com base em factos verificáveis, para aceitar o papel de porta-voz do discurso do bem e das boas causas, independentemente dos factos.

Vejamos esta declaração de Carlos Antunes.

“Os indí­cios do efeito do confinamento são muito subtis, dado o curto perío­do desde o fecho das escolas"

Ao jornalista cabe perguntar o que quer dizer Carlos Antunes com esta frase. As escolas fecharam a 22 de Janeiro, os seus efeitos só podem fazer-se sentir-se nos dados a partir de cinco dias depois, logo, a 27, os dados que existem hoje, a esta hora, são os dados que dizem respeito a 27 (e dias anteriores, mas vamos esquecer isso) e portanto não se trata de efeitos mais subtis ou menos subtis, trata-se de uma impossibilidade, os efeitos do confinamento não existem ainda nos dados existentes.

"verifica-se uma desaceleração da incidência global"

Ao jornalista cabe fazer notar que se se verifica uma desaceleração da incidência global, nesta altura, isso não se deve a confinamento nenhum, nenhum de nós sabe a que se deve, o que o jornalista deveria fazer é confrontar Carlos Antunes com a impossibilidade de ligar esta desaceleração com o confinamento, em vez de meramente reproduzir um discurso contrariado por factos conhecidos.

"O pico está a ficar cada vez mais definido e é apontado algures entre 5 e 9 de fevereiro, com uma incidência que poderá si­tuar-se entre os 17 e os 18 mil casos diários.”

Ao jornalista caberia perguntar por que razão agora se faz essa previsão de casos diários (já agora, em valores pontuais ou médias a sete dias? Tenho a certeza de que Carlos Antunes fala de médias a sete dias mas a generalidade dos leitores vão pensar que está a falar de valores diários (para se perceber a importância da clareza neste ponto, ontem houve 16 432 casos mas a média a sete dias é cerca de 3 500 casos a menos, é de 12 890 casos)) quando há quinze dias, sem confinamento, a previsão apontaria muito para cima dos 40 mil casos, o que se alterou em quinze dias para reduzir a previsão para menos de metade, se os efeitos do confinamento são reconhecidamente subtis?

"Em termos médios, no final de janeiro, o matemático prevê que se chegue às 16.400 novas infeções diárias, mais de 7 mil internamentos, 860 dos quais cuidados intensivos, e um número de 300 óbitos diários."

O fim de Janeiro é daqui a três dias. Ou seja, Carlos Antunes está a dizer que dentro de três dias (quatro, considerando que os dados que vou citar são de ontem), em termos médios, o número de casos vai aumentar de 12 890 para 16 400, isto é, que nestes quatro dias a média de sete dias vai aumentar 877 casos por dia quando nos últimos quinze dias não houve um único dia com esse valor de aumento diário e a média diária de aumento desses quinze dias é de 283 casos, que nos próximos quatro dias os internamentos vão aumentar 108 internados por dia, o que é razoável para o histórico (eu tenho dúvidas de que seja assim, mas nada a dizer sobre esta previsão, que é perfeitamente razoável), e que os cuidados intensivos vão aumentar 20 internados por dia, o que me parece uma previsão razoável, embora ousada (estou convencido, e espero, que não se vá verificar esta previsão, mas não a posso contestar com nada muito objectivo, é apenas a minha visão do que se está a passar, a que falta tempo para poder ser validada ou abandonada).

Nada disto perturba jornalistas, ouvem estas previsões, não as avaliam de forma independente (quando existem previsões de várias fontes limitam-se a reproduzir as diferentes previsões, sem discutir as diferenças entre os diferentes grupos de modeladores e as respectivas fundamentações), não as confrontam posteriormente com a realidade, não as escrutinam duramente, como era sua obrigação e, com isso, abrem caminho a que uma opinião pública assustada dê o apoio a medidas maximalistas de controlo da epidemia, que visam evitar um cenário que só existe em previsões fantasistas (nem o facto das previsões mais conhecidas terem errado por um factor de dez, isto é, houve dez vezes menos mortes que as previstas, mesmo em regiões onde não foram adoptadas as medidas que os modeladores juravam que eram a única forma de diminuir esse número de mortos, nem assim o jornalismo deixa de contribuir para a confusão entre previsões razoáveis com graus de incerteza acentuados e profecias que nos apontam caminhos para a redenção).

Raios partam o jornalismo que nos calhou em sorte no meio de uma coisa tão disruptiva como uma epidemia.

A esperança é mais útil que o medo

por henrique pereira dos santos, em 29.01.21

Em posts anteriores tenho procurado contestar a visão catastrofista - o que será o menos se corresponder à realidade - da evolução da epidemia, ontem expressa na estranha afirmação de Marcelo Rebelo de Sousa de que o que fizermos até ao fim de Março condiciona a evolução da epidemia até ao fim do Verão e, quiçá, no próximo Outono.

O que me separa radicalmente dessa visão é a ideia de que os surtos de doenças infecciosas têm uma dinâmica interna, condicionada por factores ambientais que frequentemente desconhecemos, que é muito mais poderosa que a dinâmica resultante dos contactos dos hospedeiros.

A minha convicção é que sabemos demasiado pouco sobre os processos naturais para ter a pretensão de que os conseguimos controlar a partir da forma como nos organizamos.

O que não me faz negar a utilidade de tentarmos usar o que sabemos sobre contactos e formas de nos organizarmos para nos defendermos das consequências negativas desses processos naturais, sempre que seja possível e razoável esperar que as medidas que nos parecem adequadas, não têm efeitos sociais e pessoais globais mais negativos que os eventuais efeitos positívos sobre o controlo do surto epidémico.

O fulcro, o centro do que tenho escrito, prende-se com a discussão dos efeitos negativos e positivos das medidas não farmacêuticas de controlo desta epidemia, com a recusa radical de aceitação da adopção de medidas cujos efeitos negativos são simplesmente ignorados na formulação de políticas.

O que me obriga a olhar para matérias que claramente não são a minha área de competência, como a discussão dos efeitos da epidemia.

Procuro por isso não me meter em matérias demasiado complicadas para o que sei, olhando para factores que consigo compreender, mesmo que sejam indicadores grosseiros ou que o que consigo saber sobre eles seja a partir de indicadores grosseiros.

O principal indicador para que olho é o da mortalidade e tendo discutido (na verdade, comigo mesmo) a hipótese de que a evolução das últimas semanas se explica melhor a partir da compreensão dos efeitos de uma vaga de frio excepcional que a partir dos contactos do Natal, resolvi melhorar um bocadinho um gráfico da treta que já apresentei antes.

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Atenção à parte mais à direita do gráfico quer porque os dados da mortalidade total estão forçosamente subestimados, o sistema de registo da mortalidade tem dados provisórios nos últimos dias e vai actualizando os números, e ainda não sei, neste momento, os dados da mortalidade covid de hoje, que dizem respeito a ontem. Ainda assim note-se que a queda da mortalidade total de anteontem para ontem é apreciável, e o número provisório a esta hora é expressivamente mais baixo que à mesma hora dos outros dias. Veremos o que se confirma nos próximos dias.

O que vejo neste gráfico, em que representei a mortalidade diária total e a sua média de sete dias, a cor de laranja, a mortalidade covid e a sua média a sete dias a azul e percentagem desta sobre aquela, a verde?

Face às hipóteses que apresentei anteriormente este gráfico não as valida totalmente, especialmente no tempo, mas abre a possibilidade de não estarem totalmente erradas, se ajustar o que disse antes, corrigindo quer o tempo de ocorrência quer, provavelmente, a velocidade de evolução.

O que me parece clara é uma subida de mortalidade total a partir do dia 24 de Dezembro, com uma ligeira descida do peso da mortalidade covid num primeiro momento (princípio de Janeiro) e relativa estabilidade desse peso até ao fim da primeira semana de Janeiro, a que se segue um progressivo aumento do peso da mortalidade covid na mortalidade total, acentuado a partir da segunda quinzena de Janeiro.

A média dos sete dias da mortalidade total permite ver melhor o pico de mortalidade por volta de 26 de Janeiro e o início de uma descida, que eu espero que seja sustentável, mas para a validação da qual não existem, ainda, dados.

Se esta leitura estiver certa, eu diria que não está muito longe de validar, em traços gerais, não no pormenor, a hipótese que tenho vindo a procurar validar face à evolução da realidade.

A minha interpretação pode resumir-se da seguinte forma: após um primeiro momento do impacto direto da onda de frio na mortalidade (mais ou menos a semana de desafasamento que vi na bibliografia que li), faz-se sentir o impacto da onda de frio na evolução da infecção que tem uma evolução bem mais prolongada que a da gripe, o que aumenta o desfasamento em relação aos dados da meteorologia. Enquanto estes dois efeitos se sobrepõem, na primeira fase, a mortalidade total aumenta rapidamente, mantendo-se o peso relativo da mortalidade covid sobre a mortalidade global e à medida que o efeito directo da anomalia meteorológica se vai desvanecendo a velocidade de aumento da mortalidade global decresce e aumenta o peso relativo da mortalidade covid.

A ser assim, as boas notícias é que os impactos directos e indirectos da anomalia meteorológica estão em dissipação e nos próximos dias veremos o pico e posterior descida do número de casos covid, de internamentos e mortes, de letalidade e de positividade dos testes, embora com desfasamento entre eles e, provavelmente, a um ritmo mais lento do que eu pensava e gostaria.

Como entretanto foram tomadas medidas brutais de restrição de movimentos, não haverá falta de quem dirá que foram essas medidas que deram origem à evolução descrita (se ela se verificar), mas será bom ter em atenção que os efeitos dessas medidas só se podem atribuir a essas medidas a partir de hoje, e os indícios desta evolução são anteriores.

Até pode ser que essas medidas tenham algum efeito e acentuem a evolução descrita, mas não vejo como atribuir-lhe a causa de uma evolução que se inicia num momento que lhes é anterior.

Temos que vacinar a nossa gente

por José Mendonça da Cruz, em 28.01.21

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Eu acho que é urgente vacinar o Presidente da República e o Governo.

Se não se vacinar depressa o Presidente quem é que vai dizer que somos os melhores quando somos os piores em infectados e mortos nesta pandemia? Quem é que vai mostrar  solidariedade total com a actuação deste governo, a qual evita que a situação seja ainda pior do que a situação de piores do mundo? Mas não podemos vacinar apenas o Presidente. Temos que vacinar a senhora que lhe limpa a casa, o pessoal de cozinha e de atendimento do take away onde ele vai buscar as comidas. E toda a gente na presidência, não vá o vírus aproveitar a boleia dum prato, dum dossier, dum copo de água, duma caneta. Tem que se vacinar os motoristas se o Presidente os usar, e se nunca os usar tem que se vacinar o pessoal que faz a revisão do Série A em que o presidente anda, e dos bate-chapas que vão resolver a amachucadela que um pilar fez. Sem isso, chega o vírus ao presidente, e ficamos sem quem nos diga que somos os melhores dos piores.

Eu acho que é urgente vacinar o primeiro-ministro e, evidentemente, todos os ministros do governo, sem o que vacinar o primeiro deles seria vão. Devem ser todos vacinados, por bem vermos a falta que fazem. É preciso vacinar sobretudo a ministra da saúde, para que hospitais, centros de saúde e Serviço Nacional em geral não deixem de estar tão bem organizados como estão. E é preciso vacinar a família toda dos governantes, não só os familiares que estão no governo, embora sejam já muitos, mas também os que estão em casa, os familiares todos, e as pessoas que se dão com eles, e o pessoal doméstico permanente ou eventual, e as pessoas que convivem com ele.

Temos que olhar o futuro e vacinar o ministro do Ambiente, para defender eólicas, e marés, e solar, e essas coisas todas tão virtuosas e sustentáveis que nos têm garantido tanto bem-estar, tanto progresso doméstico e industrial, tanta racionalidade de mercado e tantas tarifas tão boas. Temos que vacinar o secretário de Estado Galamba, para não perdermos a exploração do lítio e o fabrico de hidrogénio verde, para não dizermos em 2050 que o hidrogénio verde só deu prejuízos de biliões porque os senhores Fernandes e Galamba ficaram doentes na pior altura. E temos que vacinar muito o ministro da Economia, para que ele veja luzes onde toda a gente só vê escuro.

Temos que vacinar os funcionários do fisco. Sem os funcionários do fisco como é que o governo socialista consegue o dinheiro dos outros aqui em casa, o qual mesmo assim nunca lhe chega? Temos que vaciná-los, e às respectivas famílias. E temos que vacinar todo o pessoal diplomático, não vá o vírus afectar de tal forma o pessoal diplomático que se atrase o dinheiro dos outros no estrangeiro, a bazuca, como o governo socialista lhe chama e de que tanto precisa.

Temos que vacinar os autarcas socialistas, a começar pelo Medina, porque os autarcas socialistas estão em sintonia com o governo, ajudam, anunciam vitórias e planos, participam. Não vale a pena vacinar os outros, porque nesta altura não se ia vacinar gente antipatriótica e criminosa.

Aliás, temos que vacinar os funcionários públicos todos. Sem os funcionários públicos todos e respectivas famílias e contactos ficaria paralisada a máquina socialista e perdiam-se eleitores. Os funcionários públicos todos estão ansiosos por ser vacinados, não por egoísmo, mas para prestarem serviço como deve ser, e não, como agora, só por marcação; é por terem medo do vírus que os funcionários públicos desmarcam os atendimentos presenciais que marcaram; é por o vírus atacar o pessoal informático que as magníficas facilidades online e telefónicas postas à disposição dos utentes falham sempre por erro do sistema ou sobrecarga de pedidos.

E temos que vacinar os jornalistas simpáticos, que não fazem perguntas, e, quando fazem, as fazem apenas anódinas. Temos que vacinar os que omitem notícias embaraçosas para o Governo. Temos que vacinar sobretudo os que moralizam a população, correndo a descobrir que um hospital tem mais 4 camas, quando os outros estão em sobrecarga e têm 50 ambulâncias à porta. Aliás, temos que vacinar também os jornalistas que são burros. Pouco interessa se a forma como acarinham o governo nesta hora de necessidade resulta de simpatia ou burrice; ambos os tipos são estimáveis para o governo socialista.

Temos que dar um novo significado mais vital à ideia das vantagens de ser-se próximo ou simpatizante do governo socialista.

É verdade que, um dia, temos que vacinar os velhos. Mas não há pressa. Os velhos morrem, é próprio da idade. E se quiseram uma ajuda temos agora a eutanásia, muito acertadamente aprovada nesta precisa circunstância.

E é verdade que, um dia, temos que vacinar o povo em geral. Mas, enquanto não há vacinas, e havendo, nãos nos organizamos, e enquanto umas centenas de vacinas se estragam por aqui e por ali, porque ninguém é perfeito, temos é que assustar o povo com a ajuda dos jornalistas, e o povo mete-se em casa. Que é onde fica melhor para esperar muito tempo sentado.

Apenas miséria

por Jose Miguel Roque Martins, em 28.01.21

Todos temos assistido e criticado sucessivos e permanentes atrocidades cometidas pelos nossos políticos. Mas não nos enganemos, os políticos são apenas a imagem da população que representam.

São mais do que muitos, em Portugal e noutros países, aqueles que roubam despudoradamente a vacina a quem tem mais probabilidades de morrer com o Covid, os mais velhos. Justificações há sempre. Quem passa à frente, são imprescindíveis, correm maiores riscos e têm mais direito do que os outros. Até porque estão ao seu serviço.

Que não haja vacinas para todos e que, ao tomarem a vacina,  outros irem morrer porque não a tomaram,  já não é da sua responsabilidade. Compete ao Estado, que tem costas largas, providenciar. Eles só reclamaram o seu direito. Não de nascimento, como antigamente,  mas de oportunidade, como agora.

Enquanto o Estado for a desculpa para todos os comportamentos incorrectos, não teremos uma sociedade nem justa, nem rica, nem livre, nem feliz. Apenas miséria.

 

Triste sina a nossa…    

por João Távora, em 28.01.21

covid19.jpg

É impressão minha ou no meio da comoção com a pandemia, o governo perdeu definitivamente qualquer coerência discursiva? Depois do "milagre português" na guerra contra o Covid-19 se ter transformado no pesadelo dos portugueses; ao mesmo tempo que se prenunciam atrasos na distribuição das vacinas na Europa começamos a perceber que a oligarquia que nos pastoreia já cuidou de garantir prioridade de vacinação aos apaniguados do costume, os que lhes garantem o poder absoluto sobre o Estado, sejam deputados, autarcas, juízes, magistrados ou funcionários públicos de diferentes organismos, uma casta de mil eleitos nesta primeira fase. Podemos esperar sentados pela nossa vez a assistir ao despudorado tráfico, ou aguardar sem surpresa que as vacinas apareçam no mercado negro. Entretanto, António Costa, de quem todos ansiavam por mais uma entrevista ou intervenção televisiva foi ontem convidado para o programa de debate "Circulatura do Quadrado", onde garantiu aos seus velhos amigalhaços que o ministro da Educação nunca disse que era proibido o ensino online e prevenido as escolas privadas que “não espreitem a excepção, que não tentem fazer diferente" e que “Esta é uma interrupção lectiva para todos”, tudo fantasias da nossa cabeça. A falta de vergonha nas aldrabices que proclama é reveladora da impunidade que o Primeiro Ministro goza por estes dias tão estranhos de confinamento mental.

Enquanto isto, para minha grande consternação, o país assiste atónito ao processo de autofagia do CDS enredado num processo de assalto ao poder, que desconfio, se não se procurarem tréguas e consensos, a facção que ganhar apenas conquistará um monte de escombros e cadáveres. Triste sina a nossa...    

"Margem de certa maneira"

por henrique pereira dos santos, em 28.01.21

Ontem fiz um post no Facebook reproduzindo um comentário de Luis Lavoura num dos meus posts:

"Eu não estou especialmente interessado em que a mortalidade diminua. Desde que quem morre sejam velhinhos que estavam em lares sem fazer nada, ou então em casa a viver da sua pensão, não fazem cá muita falta (a não ser, naturalmente, para os seus familiares e amigos) e não lamento a sua partida. A morte faz parte - é de facto uma parte imprescindível - da vida. O que estou é interessado em que desçam as infeções por sars-cov-2, para ver se o governo deixa de nos morigerar a vida com restrições. E suspeito bem que estejamos já, de facto, no princípio da descida, tal como eu esperaria uma semana após o fim do frio e da seca."

Sabendo que este comentário é inevitavelmente chocante, tive o cuidado de o integrar com um comentário prévio que me falava do que me parece ser amoralidade, ou pelos uma moralidade não canónica, de muitos comentários de Luis Lavoura, acrescentando que para mim me era muito mais útil quem dizia o que mais ninguém dizia que dezenas de outros comentários dentro do nosso quadro habitual de pensamento.

O posto gerou uma série de reacções que essencialmente divido entre:

1) os que genuinamento se chocaram e acharam igualmente chocante que eu repetisse este comentário, porque fazem uma leitura legítima, desconhecendo a originalidade da intervenção pública de Luís Lavoura (que, já agora, conheço pessoalmente há muitos anos, nunca fomos nem deixámos de ser amigos, conhecemo-nos e tratamo-nos cordialmente) - a esses procurei chamar a atenção para o erro de leitura de considerar que o comentário pretende definir uma norma em vez de simplesmente exprimir uma opinião radicalmente pessoal, para o erro de leitura que consiste em confundir uma atitude de deixar seguir o curso da natureza com a defesa de uma atitude activa de eliminação de pessoas e ainda explicando que a chave do interesse do comentário para mim é o parêntesis "a não ser, naturalmente, para os seus familiares e amigos";

2) os mestres-escola e missionários que me quiseram explicar como qualquer pessoa se deve comportar em sociedade ou me aconselharam a retirar o post - a esses pocurei explicar que as comunidades mais ricas são as que conseguem integrar a divergência e a liberdade de opinião, sobretudo da opinião que choca de frente com a nossa identidade ou as nossas convicções, lembrando a distância que existe entre palavras e acções;

3) e, inevitavelmente, os grunhos que optam por insultar tudo o que mexe, ou as almas sensíveis que se recusam a olhar para a crueldade do mundo, convencidos de que se ninguém disser que o mundo é o que é, ele passa a ser o que gostaríamos que fosse.

Nem de propósito, hoje de manhã encontro esta reportagem no Observador: "Maria ocupa uma das oito camas que existem em cada um dos vários blocos montados no Arena Portimão, aberto há duas semanas para acolher doentes com Covid-19. O vírus não a afetou tanto quanto a outros e, na sua cabeça, já só falta o dia em que lhe vão dizer que está livre da doença e que pode regressar à casa onde vive com a filha. Mas nos seus registos médicos há outra indicação: esta idosa já pode ter alta, mas a filha, única familiar próxima e a sua cuidadora há anos, morreu de Covid-19 e não vai estar em casa para a receber. É preciso encontrar uma solução e, depois, comunicar tudo isto a Maria".

E é nesse ponto que me interessa concentrar: eu não estou disponível para receber Maria em minha casa.

Porque não tenho dinheiro? Porque não tenho tempo? Porque não sou capaz de prestar os cuidados necessários?

Não, na verdade porque não quero.

Há dezenas de boas razões para eu não querer, o meu equilíbrio familiar, as minhas obrigações contratuais - nunca tinha verdadeiramente pensado que o Estado, ou mais rigorosamente, o nosso consenso social, diz exactamente o mesmo que Luís Lavoura, para tratar da minha família há um conjunto de normas que, com todas as limitações que têm, facilitam essa circunstância, mas para tratar de um desconhecido, não -, razões financeiras e até a sensação de que resolver o problema de Maria é uma gota de água num problema imenso, e muitas outras razões que mascaram a verdadeira razão: não quero. E mais uma dezenas de razões moralmente discutíveis, como a de não querer trocar a minha vida actual por outra que tem uma desconhecida como centro, como aconteceria se recebesse Maria em minha casa.

Não sou o único, ninguém, até agora, salvo algum santo que tenha existido, abriu as portas de casa para receber um só das centenas de desconhecidos que estão abandonados, quer nos hospitais, quer nos lares (abandono é abandono, seja lá onde for), porque na verdade a nossa prática corresponde ao comentário chocante de Luís Lavoura, por mais que tentemos descansar a nossa consciência das mais variadas maneiras, incluindo a clássica afirmação de que é o Estado que tem de resolver estas situações (como se atribuir responsabilidades alterasse um átomo da situação de Maria).

Por mim, não faço qualquer julgamento moral sobre as opções dos outros na forma como tratam quer os que lhe são próximos, quer os desconhecidos, para lá das situações limite de abandono e maus tratos, e continuo a preferir que haja gente que, mesmo de forma chocante, me confronte com o facto de eu não ser tão bom como às vezes acho que sou, mesmo já descontando o facto da vida me ir ensinando a baixar as expectativas sobre a minha bondade e firmeza moral.

Eu percebo o conforto de simplesmente nos deixarmos ir na corrente, mas não estou disponível para crucificar quem me amarra à margem, de certa maneira, independentemente do desconforto e do choque que isso possa provocar.

Ir por lã e voltar tosquiado

por henrique pereira dos santos, em 28.01.21

Bárbara Reis escreve coisas no Público, seguindo o princípio de que os leitores estão interessados nas opiniões dos jornalistas, princípio esse que tem dado muito bom resultado nas vendas de jornais.

Só que lhe sobra em preconceito o que lhe falta em informação e conhecimento, pelo menos em algumas matérias, o que lhe permitiu aventurar-se pela desmontagem de uma comparação entre o desempenho económico da Irlanda e Portugal, relacionando-a com os respectivos sistemas fiscais, matérias sobre as quais se desconhece a "longa experiência com honesto estudo misturado" de Bárbara Reis.

Pior, Bárbara Reis não terá feito o mínimo esforço para entender a origem da comparação (chegou-lhe via whatsapp, sem indicação da origem) e, provavelmente, desconhecia que essa comparação era de 2018, fazia parte dos materiais de comunicação da Iniciativa Liberal e o seu autor era Carlos Guimarães Pinto.

Carlos Guimarães Pinto resolveu escrever uma resposta a Bárbara Reis que o Público publica hoje.

Sobre a substância nem vale a pena falar, de tal dimensão é o arraso que seria de esperar numa discussão económica entre Carlos Guimarães Pinto e Bárbara Reis.

O que gostaria de sublinhar é mesmo a pobreza de processo jornalístico usado por Bárbara Reis (anos a fio directora do Público) na preparação do seu artigo, que a resposta evidencia.

Desde não procurar a origem da informação e não confirmar devidamente os dados que usa ou critica, até à utilização de contextos de forma criativa para interpretar os dados, estão ali evidenciados problemas sérios de jornalismo que são bem mais preocupantes que a sua natural falta de conhecimento sobre o tema que resolveu abordar.

É natural que jornalistas não sejam especialistas dos assuntos sobre que se debruçam, por definição um jornalista é um generalista que escreve sobre uma variedade de assuntos suficientemente grande para não poder ser especialista de  nenhum deles, e isso não é necessariamente mau, até porque aproxima as perguntas do jornalista das perguntas do seu leitor.

Já a evidência de negligência e falta de cuidado no tratamento jornalístico do caso que escolheu, por parte de quem é jornalista desde o tempo dos afonsinhos e foi directora, anos a fio, de um dos principais jornais do país, isso sim, é um problema de todos nós porque é bem a imagem da qualidade do jornalismo do país.

E um mau jornalismo é bem mais perigoso que um mau governo, para parafrasear o outro.

Até onde se dobram as espinhas

por José Mendonça da Cruz, em 27.01.21

As televisões «informam-nos», hoje, de que não foi o oxigénio que faltou no Amadora-Sintra (uma PPP que o governo socialista «reverteu», com os resultados que se veem). Não, não faltou oxigénio no Amadora-Sintra, «informaram» sic e tvi, foi apenas um excesso de doentes a necessitar dele para sobreviver. Compreenderam?

Ainda assim, não vá ficar nódoa no andrajoso pano do governo, não vá faltar a este um coro de elogios, José Alberto de Carvalho precipita-se para o hospital de São José para «informar» sobre a ampliação da capacidade: tem agora mais 4 camas 4. E mais relembra o Carvalho, que «um Covid gasta o oxigénio de 10 pessoas com pneumonia» (mau Covid, culpado de o ser e perdulário!).

Quem ainda não tinha reparado pode, portanto, tomar nota : tendo que optar entre o bem-estar do governo socialista e a própria vida dos portugueses esta espécie de gente fará tudo pelo bem estar do governo. Esta gente não conhece limite para o dobrar da espinha, nem tem abjecção a que não desça. Quando esta espécie de gente vier proclamar as virtudes democráticas da «informação» que pratica vale a pena mandá-la às partes que vos ocorram.

Todos os modelos estão errados...

por henrique pereira dos santos, em 27.01.21

... o que os distingue é serem úteis, ou não.

Aparentemente, esta premissa base da modelação tem estado mais ausente do que deveria do escrutínio das previsões com base nas quais se tomam decisões que afectam a vida de milhares de pessoas.

Na famosa reunião do Infarmed a 12 de Janeiro, se não me engano, foram propostas um conjunto de medidas, baseadas nas previsões assentes em modelos desenhados para compreender o que se passaria no futuro próximo.

Essas previsões foram sintetizadas nesta página do Público.

publico.jpg

Como o Governo resistiu à proposta de confinamento estrito, incluindo o fecho das escolas, os investigadores responsáveis por estas previsões, e que defendiam medidas de política diferentes das adoptadas pelo Governo, desenvolveram uma intensa campanha de comunicação no sentido de explicar que sem o fecho das escolas e sem um confinamento estrito o número de casos, a 27 de Janeiro (hoje), seria em torno dos 37 mil, e só adoptando um confinamento muito estrito, com fecho de escolas, seria possível ter hoje 14 mil casos covid.

Primeiro, uma questão metodológica: suponho que quando os investigadores falam destes números não falam do número concreto de cada dia, mas da média de sete dias que faz desaparecer grande parte do ruído que resulta de não se testar igualmente todos os dias.

Escarecido isto, seria normal que os jornalistas, em vez de passarem o tempo a ouvir os investigadores refazerem as suas contas - a 17 de Janeiro, Manuel Carmo Gomes era entrevistado pelo mesmo Público, justificando o facto dos dados se aproximarem do seu cenário de confinamento estrito, sem confinamento quase nenhum, com o limite da capacidade de testagem, coisa que nada permitia admitir como estando a ocorrer - procurassem avaliar e escrutinar as previsões feitas, o que nem é nada complicado, bastaria um boneco como este.

Sem Título 2.jpg

Ora o que o boneco nos mostra é uma média de sete dias sempre com uma inclinação menor que a recta prevista para o cenário de confinamento estrito e, mais importante, com um quebra na inclinação de há três dias para cá.

Ora, o fecho de escolas só poderá ter algum efeito cinco dias depois de ocorrer, portanto não influenciou em nada o andamento da epidemia até hoje, o que significa que sem as medidas consideradas essenciais pelos investigadores, está a haver uma evolução mais favorável que a prevista para um cenário de confinamento estrito.

Ao ponto de à previsão de 37 mil casos sem medidas - que foi o que se disse que na realidade eram as medidas tomadas pelo Governo a 15, quando ainda se podia beber um café ao postigo - a realidade contrapõe 15 mil casos, se usado o número de hoje, menos de 13 mil, se usada, como deve ser usada, a média de sete dias, ou seja, um desvio de mais de 100%.

Acresce que no caso das mortes o problema é o inverso, onde os investigadores viam 150 mortes, a realidade mostra quase 300 mortes (um pouco mais de 250, se estivermos a falar, como deveremos, da média a sete dias).

O problema não é o modelo ter resultados grosseiramente errados, isso pode acontecer com os melhores modelos, o problema é que as explicações para esses desvios não têm grande consistência.

Na academia, este tipo de situações são normais e correntes, o problema é quando os investigadores saem do seu campo de trabalho para a definição de normas sociais com impactos sobre terceiros.

Por exemplo, ainda ontem, Carlos Antunes - que faz parte da equipa que fez estas previsões - dizia na TVI que a covid explicava 85% (não sei se o número era exactamente este, mas era desta ordem de grandeza) da mortalidade excessiva e garantia ter demonstrado isso (com recurso aos seus modelos, claro). Só que esta demonstração tem um pressuposto, que é o de considerar que toda a mortalidade covid é uma mortalidade que se soma à mortalidade existente, isto é, que todas as pessoas que morreram com covid estariam vivas se não houvesse covid.

Este pressuposto é simplesmente absurdo - quer porque se conhece a fragilidade da condição de saúde da maioria dos mortos covid, quer porque a covid absorveu a esmagadora maioria da gripe sazonal, cuja mortalidade em excesso se estima numa média anual de 3 mil pessoas.

Da mesma forma, apesar dos sinais evidentes de abrandamento, não só no crescimento de casos, mas também no facto da positividade dos testes ter estabilizado há três dias, por exemplo, mesmo sabendo que é preciso esperar mais uns dias para verificar se a tendência se confirma, a mesma equipa de investigadores continua a fazer projecções baseadas em crescimentos futuros semelhantes aos crescimentos das últimas semanas, e a garantir que a única maneira de alterar essas previsões é estar tudo quieto em casa, em vez de rever os modelos.

Claro que a minha opinião sobre isto não interessa nada porque não percebo nada de modelação e as epidemias com que lidei não eram com pessoas mas na área da conservação, mas não entendo como não é possível haver explicações convincentes para este evidente falhanço dos modelos e, sobretudo, como a imprensa não parece ter o menor interesse em fazer este escrutínio simples, apesar do enorme impacto que estas previsões têm na formulação de medidas que afectam a vida de toda a gente.

BREXIT 1 -- EUROPA 0

por Jose Miguel Roque Martins, em 27.01.21

Enquanto se vacina furiosamente no Reino Unido, não há vacinas na Europa. Para já, Brexit1-Europa 0. 

Já por cá, nem vacinas nem ....... agulhas! Se não tivesse existido um  planeamento meticuloso, não sei mesmo o que poderia acontecer. 

 

A irrelevância do Chega

por Jose Miguel Roque Martins, em 27.01.21

Muito se tem falado do Chega e da destruição que traz ao espaço não socialista. Para ganhar as eleições “à direita”, só há dois caminhos: ou a próxima bancarrota, ou existir um líder, com um projecto e com uma coligação, que não inclua o Chega. Seria impossível convencer os mais ao centro com o Chega, que com um projecto ganhador, esvazia o protesto e desaparece. 

Em qualquer destes cenários, o Chega não atrapalha. Para mais do mesmo, é indiferente mais um partido radical, mesmo que com expressão.

No entretanto, até poderá ajudar a arrumar a direita. Enquanto em estereofonia com a esquerda radical que manda, ajudar ao próximo desastre, que é mais ou menos inevitável.  A próxima crise é também uma hipótese de esperança. E se não for, desisto.

PS: Os mais atentos à história podem lembrar.se que os NAZIS, à época, também foram considerados com o que hoje parece condescendência. Mas nem o Chega é o partido nacional socialista, nem André Ventura é Hitler, nem o século XXI é o século XX, nem Portugal é a Alemanha.

Sobre monarcas e bandalheira

por José Mendonça da Cruz, em 26.01.21

Eu, que tenho vários amigos monárquicos dentro e fora deste blog, agora cogito (a gente, ao atrever-se nestes caminhos ínvios, «cogita»): por que razão não aproveitam para dizer: «Olhem como seria bom contarmos, agora, com um chefe de Estado que não devesse nada a ninguém -- excepto a história, ou direito divino, ou tradição e família -- para se alevantar contra esta incrível bandalheira de desgoverno em geral e descaso criminoso e particular em plena pandemia? E que dissesse, "Levantem-se, basta!", em vez de "Chega" !! »

Mas eu que, por outro lado, considero tão desesperançosa a questão monárquica, como as questões de um mínimo de intervenção cívica, ou de liberdade económica, ou de iniciativa privada, ou de progresso e crescimento, ou, em suma, de decência... eu, também assim, cogito (ainda e por outro lado): Olha que bom, olha que sorte não ser ao contrário, olha que bafo favorável do destino esse de o herdeiro do herdeiro da Coroa britânica ter herdado do pai, e não da mãe, o sentido de Estado -- a noção de que o privilégio é sobretudo dever e trabalho e serviço --, enquanto o secundogénito herdou da mãe, e não do pai, o deslumbramento e a palermice -- a mãe, a quem o lamentável Blair chamou «princesa do povo», sabendo muito bem que ela não passava de princesa dos republicanos.

Cogito e ainda por cima escrevo,  após o que fico aguardando comentários inflamados.

Quem é criminoso?

por José Mendonça da Cruz, em 26.01.21

O presidente reeleito visita o Hospital das Forças Armadas enquanto chefe supremo das mesmas, e Costa e Temido colam-se-lhe, para que pareça que fazem muito.

Portugal tem os piores registos mundiais de infectados e vítimas mortais da pandemia.

A «campanha» de vacinação -- feita segundo um «programa» estabelecido ao arrepio do que fazem os melhores países da Europa, e contra os conselhos da da União Europeia -- prossegue devagar e mal, segundo critérios deslassados e absurdos, que ignoram as populações em maior risco.

Temido -- que, como Costa, diz que a culpa de tudo é sempre dos portugueses -- afirma que as críticas à incompetência do governo são «bullying» e criminosas.

As eleições presidenciais... Parece que foram há anos.

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