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Confiança

por henrique pereira dos santos, em 21.09.20

"Graça Freitas afirma que o padrão da pandemia alterou-se (sic): no início tínhamos mais casos de idosos, e portanto, mais casos em internamento e mais mortes; com o evoluir da epidemia esta tendência sofreu uma alteração e, ao dia de hoje, apenas 11% das pessoas infetadas nas últimas 24 horas têm mais de 70 anos. “Confirma-se que há um padrão de novas infeções em adultos jovens, em idade ativa, ou seja, muito em contexto de ambiente laboral e de sociabilização”, diz.

Por outro lado, isto também significa que tem havido, no cuidado aos idosos, uma maior proteção dos mais velhos que está a ser eficaz. “Era preferível não nos infetarmos, mas quando nos infetamos, os mais novos têm doença menos grave, portanto este padrão é melhor em termos da gravidade da doença e do resultado em termos de morte ou de internamento em cuidados intensivos”, diz ainda."

Até pode ser que assim seja, até porque tem sido uma ideia repetida exaustivamente pelas pessoas que mais têm influenciado a gestão da epidemia.

Mas a verdade é que não há nenhuma razão para supôr que é dominantemente assim, embora seja provável que seja parcialmente assim.

Um caso positivo em Março/ Abril não dá a mesma informação que um caso positivo hoje.

Em Março/ Abril a política de testes centrava-se em pessoas com sintomas. Sem surpresa, quantidade de casos positivos por teste realizado era altíssimo.

A política de testes entretanto alterou-se muito, testando todas as pessoas com sintomas (em Março/ Abril muitas pessoas com sintomas ligeiros nem sequer eram testados, eram mandados ficar em casa e se a coisa evoluísse de tal forma que fossem necessários cuidados hospitalares, então sim, logo se via) mas também assintomáticos considerados contactos de risco de outros casos positivos, ou seja, à medida que se foi testando mais, e a percentagem de casos positivos sem sintomas aumentou, o número de testes cresceu brutalmente, abrangendo populações completamente diferentes das populações de sintomáticos que eram testados em Março/ Abril.

Acresce que todos os estudos com testes serológicos concluíram que a parte da infecção que era reportada pelos testes, sobretudo lá para Março/ Abril, era ínfima em relação à dimensão da população realmente infectada.

Ou seja, com mais testes, aplicados com critérios diferentes, muito provavelmente a alteração da epidemia que se vê nos dados correspone mais à alteração na natureza dos dados que à alteração real da epidemia. Sem prejuízo, naturalmente, de estarmos hoje mais bem preparados que em Março e Abril para lidar com o problema, com certeza, o que se reflectirá na mortalidade. Em qualquer caso, a mortalidade tem sido de tal maneira marginal que fazer grandes considerações com base na evolução de amostras tão pequenas tem um interesse reduzido.

A partir de Junho, com a estabilização da política de testes, é razoável comparar casos positivos para perceber a evolução da epidemia, mas quaisquer comparações de casos positivos entre o que se passa agora e o que se passou em Março/ Abril não é muito útil, porque é comparar coisas muito diferentes.

O que estamos a ver agora é uma previsível subida da mortalidade, com a progressiva chegada ao Outono/ Inverno, e ninguém sabe como vai evoluir essa mortalidade, o que se sabe é que, por enquanto, o número de mortes/ número de casos positivos tem andado por valores várias vezes menor do que era em Março/ Abril.

Dizer que a epidemia evolui para um padrão diferente, em vez de simplesmente se admitir a hipótese de que o padrão sempre foi este, nós é que não tínhamos instrumentos para o detectar com os testes que fazíamos, não me parece que sirva para mais nada que justificar uma atitude diferente - felizmente - dos governos face à epidemia nos meses que estão a chegar.

Como é mais difícil admitir que o que se fez em Março/ Abril foi um erro - vale a pena ler este texto no Observador - diz-se que a epidemia é que ficou diferente.

Nos comentários ao meu post anterior chama-se a atenção para esta carta, de uma série de cientistas que insistem em dizer o que sempre disseram: vamos lá levar a sério a protecção dos vulneráveis em vez de fazer um bombardeamento em tapete sobre o vírus, na vã esperança de o derrotar.

Por mim, tudo o que sirva para evitar medidas absurdas como as tomadas em Março/ Abril é positivo, mas convinha não esquecer de todo o longo prazo: a democracia depende da confiança das pessoas nas instituições e, desse ponto de vista, a Direcção Geral de Saúde tem contribuído muito para diminuir a qualidade da nossa democracia.

O que não me admira, depois de ter ouvido o influente e omnipresente Filipe Froes a dizer que para se aplicar um modelo de gestão da epidemia próximo do sueco, só mudando de povo.

Pelos vistos, Filipe Froes - e suspeito que a DGS - apoia a ideia de Salazar de que o povo português não é muito talhado para a democracia.

 

O imperio dos umbigos

por Jose Miguel Roque Martins, em 21.09.20

Hoje ouvi dois representantes de interesses na Rádio Observador.

O representante da industria, António Saraiva, explicou que na industria os mais altos protocolos estão em vigor: não é a trabalhar neste sector que se apanha coronavírus. São mais os comportamentos irresponsáveis de gente que quer socializar ( que monstros) que promovem todo o mal. As medidas de desfasamento de horários são um erro ( provavelmente porque os trabalhadores não vão de transportes públicos). A economia fechar será uma catástrofe. Embora perceba se for necessário considerar fechar outros sectores que não a impoluta industria. Viva a Industria. O resto que se dane.

O representante dos Estudantes ( não fixei o nome) aceitou como positivo mais 4.000 alojamentos para estudantes no Porto. Embora descontente com os valores ( por definição sempre demasiado altos) e com receio de que no futuro possa haver retrocessos. Hoje, a generosidade dos jovens faz-se da exigência de mais e mais esforço da sociedade em prol do seu percurso académico. Esquecendo que é da multiplicações de pequenas conquistas de grupos de interesse que se faz a pobreza colectiva de que irão ser vitimas no futuro. 

Estes foram os exemplos de hoje. Mas todos os dias, um após os outros, somos bombardeados com visões unilaterais e distorcidas.  Em que todos reeivindicam os seus direitos, cegos ao interesse da sociedade e aos direitos dos outros. 

Em Portugal, os pequenos poderes  e os direitos de cada grupo de interesses,  não resultam num equilíbrio corporativo. São as causas do nosso atraso.

A formiga branca

por João-Afonso Machado, em 21.09.20

A última notícia explicava, um ex-informador de Sócrates, e actual conselheiro de Luís Filipe Vieira, dirigiu uma sondagem - favorável a este último... Por mero acaso, dei conta dela quando quis saber dos números insofismavelmente crescentes do Covid em Portugal, como no mundo em geral.

A teia tornou-se ilimitada. Todos os focos de interesses financeiros se imiscuem e promiscuem.

É um peso insuportável. Entre a Justiça e  a Saúde, passando pelo sem-fundo banqueiro, creio poder concluir - o mundo acabou; tudo submergiu, resta a miséria, a absoluta ausência de um esteio, de uma referência positiva.

Tudo... - a "tudo" chamo eu a confiança nas instituições. No grande corsário chamado Estado. E nas suas derivações - lunático Montesquieu! - políticas, financeiras, judiciais, sanitárias, acima de tudo legislativas.

Estamos sem apego. Na beira do abismo onde havemos fatalmente de cair...

... a não ser que Portugal se erga numa nova república - uma república capaz de resistir a todos os males e à manha da extrema-esquerda; e com braço férreo para o banditismo tatuado de violência de outro extremismo dito de direita, mas essencialmente criminoso e perigoso.

Essa seria a IV República. Uma introdução ao universal regime dos países evoluídos...

... quando a vida conheceria modos sãos de a viver. A todos os níveis em que a queiramos vislumbrar, por exemplo, comparando-nos com o quotidiano sueco.

Falta ainda muito tempo. Atrás de um escândalo, outro escândalo virá. Momento actual: Processo Lex...; sim, o escândalo está no miolo do próprio sistema judicial!

É preciso demolir este edifício gigantesco: a formiga branca deu nele!

Vergonha, vergonha

por João Távora, em 21.09.20

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"Este caso mostra como há muita discriminação e o gargarejo pela igualdade não é mais do que um espantalho. A morte absolutamente trágica desta mulher, filmada pelos carrascos, assassinada num crime hediondo por 36 balas, disparadas de armas automáticas nas suas costas, não gerou uma só abertura de telejornal, nem notícia no interior de noticiários. Não motivou uma só manifestação em Joanesburgo, em Luanda, em Lisboa, em Maputo, em Coimbra, em Brasília, em Nova Iorque, em Londres, em Washington, em Chicago, em S. Francisco, em Montreal, em Paris, na Haia, em Bruxelas, em Berlim, em Roma, ou no Cairo. Diversamente do que aconteceu com o assassinato terrível de George Floyd ou com o tiroteio traiçoeiro contra Jacob Blake. Nada! Nada de nada. Zero de zero. Nem uma estátua foi pintada, nem uma montra partida, nem um carro incendiado. Nem uma homenagem nas Nações Unidas em Nova Iorque, nem um minuto de silêncio no Conselho de Direitos Humanos em Genebra, nem uma só genuflexão de um político em campanha eleitoral (ou fora de campanha), ou de um diplomata, ou de outro qualquer dignitário. Nada! É como se nada tivesse acontecido. É como se essa mulher negra não fosse negra, nem de cor alguma. É tão incolor que ninguém a vê, nem a viu.

O pior crime contra estas vítimas é o silêncio. Desta mulher, diversamente de George Floyd e Jacob Blake, nem o seu nome sabemos. Devíamos fazer-lhe, ao menos, o monumento da vítima desconhecida. Se nem isso fizermos, os responsáveis destas atrocidades em Moçambique poderão continuar a matar e a ver matar. Tranquilos. Graças à discriminação e à falta de igualdade na consciência universal. Uns matam, outros calam e fazem calar."

José Ribeiro e Castro no Facebook

Hortense

por henrique pereira dos santos, em 21.09.20

Não seria normal, num país normal, com uma imprensa normal, que de cinco em cinco minutos alguém perguntasse a António Costa, ou pelo menos a Ana Catarina Mendes, se o PS mantém a confiança política em Hortense Martins?

É que a velha escapatória "à política o que é da política e à justiça o que é da justiça", aplicada a este caso, leva a uma questão muito simples: está mais que demonstrada uma actuação persistente, consistente e consciente de Hortense Martins no sentido de obter vantagens privadas dos cargos políticos que ocupa - ela e a sua família directa - incluindo por meios ilícitos como a falsificação de documentos.

Independentemente da inacreditável opção do Ministério Público arquivar o caso com base em tretas, a questão política subsiste: o PS mantém a confiança política em quem reiteradamente usou os cargos políticos a que acedeu através do PS para defraudar o Estado por meios ilícitos?

Hortense faça o que quiser, claro, não é essa a questão - ou melhor, é uma questão, mas é menor - mas o PS quer mesmo não fazer nada, por opção?

E a imprensa acha isto tão tranquilo que não acha necessário pedir esclarecimentos ao PS?

E nós, sobretudo nós, encaramos isto tão serenamente que nada se passa, para além de umas piadas sobre o facto do marido não ter reparado que a contraparte do contrato que assinou era o pai?

Adenda: nem de propósito, um artigo sobre nós e a nossa passividade, aqui, por Luis Rosa

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Fiquei muito feliz na quinta-feira passada por ver a sala tão composta na apresentação do livro "Quando o Povo quiser" (aqui está o registo em vídeo). Da mesa, ao lado do Pedro Mexia e do Nuno Pombo, cujas alocuções encantaram, contei mais de 100 pessoas – não foi como a festa do Avante, mas verdadeiramente o que interessa é a qualidade da assistência. Foi formidável lá ter reencontrado muitos dos meus bons amigos, mesmo que alguns estivessem muito bem disfarçados atrás das máscaras. No fim de contas vale a pena sermos testemunhas uns dos outros neste caminho que vamos fazendo com as nossas causas e coisas. Acontece que ficamos um pouco maiores com os nossos amigos. O resto é vã glória.

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Sobre o livro, passo a transcrever a minha apresentação: 

Depois de termos publicado sob a chancela Razões Reais, obras ou antologias de Mário Saraiva, Gonçalo Ribeiro Telles e Henrique Barrilaro Ruas, tornando acessíveis aos leitores de hoje os seus legados, tão significativos para o movimento monárquico no período 1950-2000, quisemos aproveitar a efeméride da primeira década do Correio Real com uma selecção, sempre subjectiva, dos seus textos mais significativos, que reflectisse um panorama do que a actual geração de monárquicos vem produzindo para renovar o seu ideário e conquistar pacientemente uma maior presença no espaço público. A esta antologia decidimos chamar “Quando o Povo Quiser”, que é o título do 1º capitulo, inspirado no ensaio do Professor Manuel Braga da Cruz “O Rei e a Constituição” com que se inicia o livro.

Os dez anos do Correio Real - nascido da iniciativa do nosso saudoso João Mattos e Silva, e que tenho o privilégio de integrar desde a primeira hora - merecem ser celebrados e postos em perspectiva crítica, tanto mais que coincidem com uma restruturação organizativa do movimento que teve reflexo não só em termos estatutários, mas na unificação estética das marcas da Causa Real, e, principalmente, na adopção duma intensa utilização dos meios electrónicos que a tecnologia colocou ao nosso dispor, através dos nossos sítios na internet, blogues e «redes sociais»,— ferramentas incontornáveis para potenciar a projecção da nossa intervenção em prol da Instituição Real e da Monarquia como opção de regime. De facto, além da revista distribuída pelo correio com pontualidade aos filiados da Causa Real e também disponível na versão electrónica para consulta em rede, as plataformas digitais em expansão tornaram-se o meio ideal para o noticiário quotidiano das actividades das Reais Associações e da própria Casa Real Portuguesa, permitindo ao mesmo tempo identificar, recolher e difundir intervenções monárquicas dispersas. Nesse sentido, e dando também a merecida representação a esses textos, optámos por alargar esta antologia a outros documentos, principalmente difundidos através do blogue da Real Associação de Lisboa.

Editado pelo Vasco Rosa, uma colaboração e amizade que vem dando magníficos frutos, o livro organiza-se em capítulos temáticos que dão conta das principais linhas editoriais destes dez primeiros anos da revista, que percorrem as presidências da Causa Real de Paulo Teixeira Pinto, Luís Lavradio, António de Souza-Cardoso e Teresa Côrte-Real, além das presidências da Real Associação de Lisboa por João Mattos da Silva, Nuno Pombo e minha. A determinada altura os noticiário das Reais Associações “distritais” passou a incorporar-se nesta publicação periódica, juntando-se às entrevistas a monárquicos ilustres e aos depoimentos de novos associados do Movimento, que todavia não estão representados nesta antologia, orientada para o debate doutrinário e divulgação histórica, onde também é dada atenção ao comentário de livros que, cada vez em maior número, vêm sendo dedicados à historiografia de figuras régias e dos protagonistas do movimento monárquico e restauracionista do século XX.

Esperamos com este livro, cuja diversidade de ideias e sensibilidades dos seus autores é reflexo da maior virtude da capacidade agregadora da instituição real que a todo o custo nos cabe preservar, cumprir o que pretendia o fundador e director do Jornal “O Debate”, de larga distribuição entre 1951 e 1974, António Jacinto Ferreira (1906 -1995): promover a boa doutrinação que é “a pedra angular de toda a actividade política, (…) pois que é da adesão das inteligências mais do que das inclinações sentimentais, que há-de resultar a profunda transformação em geral desejada”. Porque enquanto não soubermos explicar a todos e a cada um dos portugueses por que é que Portugal será muito melhor encimado pela Instituição Real, estamos proibidos de baixar os braços e descansar. 

Fevereiro de 2020.

O livro encontra-se disponível para venda postal aqui.

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Domingo

por João Távora, em 20.09.20

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos».


Palavra da salvação.

Benvindos à Tv Cristina

por José Mendonça da Cruz, em 18.09.20

Parece que um empresário de comercialização de aspiradores que fez dinheiro e deu emprego vendendo um bom produto, comeu umas meninas peguiosas, que já tinham sido comidas mas sem receberem os 400 euros que ele pagava. As meninas que pareciam maiores para todos efeitos, excepto para efeitos de reportagem, além de dormirem, roubavam. Tudo isto dá 4 ou 5 episódios no jornal das 20 da Tvi. Entretanto, os pivôs dos telejornais e outros programas alegadamente informativos contorcem-se e deslocam-se abundantemente palco fora nos seus fatinhos azuis coleantes com sapatinho castanho-cocó, sorrindo muito e gesticulando pontuada e expressivamente para dizerem a piadinha trumpista diária, o sarcasmo diário bolsonarista, e depois aterorrizarem toda a gente com a proverbial fabricação sobre o vírus que agora é «a» covid, e porfim lamentar que amanhã chova que horror vamos morrer todos e o Benfica não meteu um golo que tragédia. 

O Big Brother triunfa. Os programas da manhã são o noticiário da noite. Parabéns Tvi. Os novos estilos e métodos são auto-explicativos.

O COMPLEXO DE ALMIRANTE REIS

por Jose Miguel Roque Martins, em 18.09.20

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Importante conspirador republicano no 5 de Outubro, perante a possível perspectiva de que o golpe tivesse falhado, suicidou-se. Este absurdo, não impediu, ou até foi responsável, por existir uma rua com o seu nome em qualquer vilarejo que se preze.

Assumir custos reais para não assumir custos imaginários ou hipotéticos  é um complexo Português.

Não é isso que esta crise do Covid confirma? 

 

 

 

Incerteza e precaução

por henrique pereira dos santos, em 18.09.20

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Esta tabela está no sumário executivo desta publicação "Non-pharmaceutical public health measures for mitigating the risk and impact of epidemic and pandemic influenza", de 2019.

É apenas uma publicação da OMS, não é uma norma política da OMS, mas tem duas vantagens: 1) é de 2019, portanto recente, mas anterior à covid; 2) no essencial, resume o que se sabia sobre medidas não farmacêuticas antes desta epidemia, sendo consistente com o resto da informação científica produzida sobre o mesmo assunto.

Para o que vou escrever a seguir, o que interessa é reter dois pontos: a) o conjunto de medidas disponíveis devem ir sendo usados em função do risco que se conhece; b) a generalidade das medidas não farmacêuticas têm efeitos secundários que devem ser adequadamente ponderadas no momento da tomada de decisão.

Recentemente vi uma discussão por causa de uma afirmação simples de uma pessoa - é impressionante como a generalidade das abordagens actuais se vão aproximando do que André Dias defendeu em Março - e como acontece sempre que se fala de André Dias, a afirmação foi contestada, começando por uma deselegante piada sobre o facto de não dizer só asneiras, e evoluindo para um rol de coisas erradas que André Dias terá dito.

Um dos argumentos, para demonstrar como André Dias quase só dizia disparates, é o de que previu dez mil mortos em Itália. Sei bem o contexto dessa afirmação, foi um palpite assumido como tal, com base numa interpretação das curvas de casos positivos e mortos existentes na altura, e não me lembro se logo nessa altura, ou uns dias depois, André Dias admitia perfeitamente vinte mil mortos (na verdade admitiu 40 mil, como num ano muito mau de gripe, mas vamos saltar por cima disso). Fiquemos então pela previsão de dez mil mortos, que a realidade quadriplicou (na verdade ainda não se chegou aos 40 mil, mas saltemos outra vez por cima disso).

Portanto, um erro do simples para o quádruplo é a demonstração de que André Dias sempre disse só disparates.

Claro que na discussão se omitiu o facto de, na mesma altura, os modelos usados para tomar decisões sobre a gestão da epidemia preverem 400 mil mortos para Itália, ou seja, dez vezes mais que a realidade.

Primeiro aspecto relevante: André Dias estava mais próximo da verdade ao prever uma dimensão dos efeitos desta epidemia na ordem de grandeza de uma gripe má, que os governos e autoridades que tomaram decisões com base na ideia de que esta epidemia teria efeitos dez vezes pior que os de um ano de gripe mau.

Ao olhar para a tabela acima percebemos imediatamente o efeito desse erro de percepção: a serem sólidas as previsões que André Dias, com razão, contestou, talvez se justificassem medidas bem mais disruptivas que as que deveriam ser adoptadas no caso de estarmos perante uma epidemia com um grau de severidade moderado.

Na verdade esta é uma das bases da diferença de abordagem sueca, é absurdo dizer que a Suécia teve uma abordagem laxista da epidemia, a Suécia teve uma abordagem do mais clássico que há, com medidas não farmacêuticas adequadas ao grau de severidade que se poderia esperar, tendo uma mortalidade bem maior que a esperada por causa de um factor crítico para a mortalidade: a protecção dos lares de terceira idade (ainda estou para ouvir algum dos responsáveis por este vento de loucura em Portugal admitir que este ou aquele aspecto correu mal, como já vi suecos, no caso dos lares, ou noruegueses a admitir que terá sido um erro o fecho de escolas).

O segundo aspecto relevante é de que o que a melhor informação disponível na altura dizia é que nunca, em qualquer circunstância, deveriam ser adoptadas medidas como quarentena de pessoas expostas a doentes, fecho de fronteiras e traceamento de contactos.

Mesmo o fecho de escolas e de locais de trabalho só em circunstâncias excepcionais se deveriam considerar (e ponderando os seus efeitos negativos).

Pois bem, a generalidade das autoridades de saúde não só adoptaram medidas que a ciência não suporta, como foram muito mais longe ao decretar lockdowns nunca testados e que esta epidemia também não demonstra terem tido efeitos positivos proporcionais aos efeitos negativos decorrentes dessas medidas.

Em lado nenhum, nem mesmo na Lombardia, Madrid, Nova York ou a Bélgica se chegou a circunstâncias extraordinárias, a demonstração disso é que a mortalidade foi relevante, mas sem atingir valores estratosféricos, sendo rapidamente controlada.

Eu sei que o argumento é o de que isso só foi assim porque foram tomadas as medidas radicais.

Mas quando se pergunta por que razão a intensidade de ataque foi maior nessas zonas que em zonas vizinhas, a resposta é que as medidas foram tomadas demasiado tarde para terem o efeito que deveriam. Se aceitamos este argumento para explicar variações regionais de incidência (e, consequentemente, de mortalidade) não podemos aceitar o argumento de que as medidas tiveram o efeito pretendido para explicar a paragem da mortalidade ao fim de algumas semanas, como seria de esperar a partir das abordagens clássicas.

Acresce que mesmo nos países em que ou não houve medidas coercivas radicais - como na Suécia - ou em que houve medidas coercivas radicais cuja aplicabilidade prática é questionável, como o Peru - um dos países com medidas mais radicas e mais no início da epidemia e, simultaneamente, um dos países com maior mortalidade relativa, só ultrapassado pela Bélgica - e em diferentes regiões de países com as mesmas medidas e resultados díspares, nunca se conseguiu demonstrar que o que parou a epidemia foram as medidas não farmcêuticas, e muito menos se consegue saber o que funcionou ou não (França tem sete dias de quarentena, nós temos 14 e não conseguimos saber o efeito dessa diferença, por exemplo).

Ou seja, a abordagem clássica à epidemia - no fundo, a que está na tabela do início - associada à adequada ponderação da incerteza associada a quaisquer projecções, em especial no início de uma epidemia associada a uma doença desconhecida - outras das coisas para as quais André Dias chamou insistentemente a atenção em Março - provavelmente produziriam resultados muito semelhantes do ponto de vista da epidemia, como implicações totalmente diferentes na economia e na sociedade (qualquer epidemia que seja entendida pelas pessoas comuns como uma ameaça pessoal, e esse é o caso desta, teria efeitos negativos na economia visto que as nossas sociedades se baseiam na confiança entre todos: nós cruzamo-nos permanentemente com desconhecidos na rua mas confiamos que não nos vai matar).

O barulho que continua a ser feito hoje, a propósito das escolas, é, por isso, uma barbaridade e não tem na base uma adequada ponderação do risco.

Quando Manuel Carmo Gomes - que é muito influente na forma como as autoridades têm tratado disto tudo - diz "As escolas preocupam-me seriamente, receio que se possam tornar o próximo epicentro da epidemia. Quando detectamos um caso numa escola, pode haver já mais dez casos assintomáticos a circular, os quais já tiveram tempo para espirrar para fora da escola", exactamente antes da abertura do ano escolar, está a ser irresponsável e claramente a violar as recomendações existentes para a gestão de epidemias com base em medidas não farmacêuticas: o que se sabe hoje da severidade da epidemia desaconselha completamente o fecho de escolas.

Vamos por partes na análise desta afirmação.

1) Manuel Carmo Gomes está a partir do princípio de que se não houver escolas, o padrão de mobilidade e interacção dos alunos entre eles, fora de contexto escolar, tem uma influência radicalmente diferente na epidemia. Infelizmente ninguém pergunta a Manuel Carmo Gomes o que pensa que fazem os alunos quando não há escola e se a circulação do vírus na sociedade não é já suficientemente alargada para que as escolas não tragam nenhuma alteração relevante;

2) Ainda que Manuel Carmos Gomes parta desse princípio teórico, é estranhíssimo que se fique pela análise teórica do problema e não use a informação proveniente dos outros países que têm (alguns sempre tiveram) escolas em funcionamento há meses. Infelizmente não há jornalista que lhe pergunte por que razão não dá crédito à experiência existente sobre a matéria;

3) Mas ainda que Manuel Carmo Gomes tenha razão total nas questões relacionadas com a gestão da epidemia, por que razão não valoriza os efeitos negativos associados ao fecho de escolas, que estão abundantemente descritos na literatura? Em que medida diminuir os contágios tem um efeito socialmente mais positivo que ter os miúdos a fazer a sua vida normal na escola, o que implica ter os pais a fazer a sua vida normal no trabalho? Por que razão omite a adequada ponderação de efeitos e parte directamente para um alarmismo absurdo?

Eu não sei, como também não sei bem por que razão a OMS e as autoridades públicas de saúde resolveram fazer tábua raza da informação que elas próprias tinham produzido antes a propósito da utilização de medidas não farmacêuticas na gestão de epidemias.

Os políticos eu percebo: perante uma comunicação sensacionalista por parte da OMS, de uma parte relevante da comunidade científica, de uma imprensa histérica e das autoridades de saúde, do que resultou acrescentar medo e incerteza à natural incerteza e medo associada a uma epidemia de uma doença nova, a generalidade dos políticos não tem muita liberdade de decidir, porque não há ganho político em correr os riscos que correram as autoridades de saúde suecas, e não há perda política se tudo correr mal, desde que se consiga passar a percepção de que se fez tudo o que era possível.

O que não percebo é a forma como pessoas treinadas para gerir incerteza e precaução acharam que inventar soluções não testadas era uma boa maneira de gerir uma situação de incerteza e risco.

Isso eu não percebo.

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Já todos sabemos que o Novo Banco herdou ativos maus que não o pareciam ser (dívidas e imóveis) do BES. Já toda a gente sabe que a resolução em 2014 foi feita a poupar capital. Já toda a gente sabe que a venda do banco salvou a sua existência e que para vender o banco foi preciso aceitar aquelas condições de capitalização contingente.

O que eu estava à espera era que os deputados se indignassem com a lentidão do processo de insolvência do BES. O banco ainda não está liquidado nem vai estar tão depressa. Isso sim seria motivo de uma comissão. A saber: O tempo em que se arrastam estes processos. A morosidade da justiça merecia várias comissões de inquérito.

Portugal parece uma caricatura. Vejamos. Em Espanha o Banco Popular foi resolvido e comprado pelo Santander. Na altura originou uma polémica pública, mas hoje já não se fala do assunto. Já nós estamos desde 2014 a mastigar a resolução do BES e a criação do Novo Banco. Sucedem-se comissões de inquérito, COF e auditorias.

O que faz de nós uma figura trágica.

Como é que queremos aproveitar os milhões da Europa para nos modernizarmos quando a regra é a estagnação? Somos óptimos a criar entropias. 

Repare-se, há duas semanas saiu a notícia que o CaixaBank e o Bankia estavam a estudar uma fusão. Amanhã já vão assinar um acordo. Em Portugal não se consegue vender o EuroBic, nem o Banco Efisa, nem o BPG. Uma fusão era coisa para ficar decidida lá para 2025.

Em Portugal a OPA da China Three Gorges sobre a EDP durou mais de um ano e acabou retirada. Os negócios morrem de morosidade. Nada se concretiza. Há guerras e batalhas a enfrentar em cada iniciativa.
E vamos lá a ver se é desta que a Média Capital se vende sem obstáculos. 

Somos um caso perdido.

"Não podemos negociar com a natureza"

por henrique pereira dos santos, em 16.09.20

Numa altura em que estava à espera de Godot e me tinha esquecido do livro que estou a ler, do escritor que mais me diverte (Camilo Castelo Branco), acabei por estar a ler no telefone coisas que não leria habitualmente.

Foi aí que me cruzei com isto: "Sófocles: “O homem é o ser do excesso, é o ser que viola todas as justas medidas” Para Costa Silva, “não há definição mais precisa da nossa relação com o planeta” do que a frase de Sófocles, dramaturgo conhecido pelas tragédias gregas, como Édipo Rei. “Temos que mudar esta relação. Podemos negociar com sindicatos, organizações empresariais, mas não podemos negociar com a natureza“, frisa, salientado os riscos de uma crise climática."

Nas apresentações que faço frequentemente uso um verso de Fernando Pessoa que serve melhor as minhas ideias: "Não há normas. Todos os homens são excepção a uma regra que não existe" mas também não está mal escolhida esta ideia de sermos do excesso, sermos o que viola todas as justas medidas (e as outras também, mas isso não vem agora ao caso).

O que me interessa agora é só aquela pequena parte que usei no título: "não podemos negociar com a natureza" porque ajuda a explicar bem como Costa Silva, o homem do plano, e eu, o homem sem plano, estamos ideologicamente nos antípodas.

Costa Silva, reconhecendo a natureza humana, citando Sófocles neste caso, mas citando Kant na versão original do plano, propõe um plano que visa mudar a natureza humana porque "não podemos negociar com a natureza".

Eu não proponho plano nenhum, primeiro porque ninguém mo pediu, depois porque acho exactamente o inverso: a nossa história como espécie é a história da negociação permanente com a natureza.

Por isso gosto tanto da definição de paisagem que aprendi com Teresa Andresen (e espero não a estar a trair na formulação que apresento): "A paisagem é o resultado da forma como nos relacionamos com a natureza".

Admitir a ideia de Costa Silva, a de que não podemos negociar com a natureza, é estar sempre numa posição de impotência.

Eu acho que domesticação de animais é o resultado possível dessa negociação. Eu acho que a agricultura é o resultado possível dessa negociação em cada momento. O regadio é o acordo que fizemos com a natureza: não podemos fazer a água subir as encostas, mas podemos conduzi-la no seu natural caminho de descida.

Nem sempre fazemos bons acordos, isso é seguro.

Por exemplo, o desacordo que hoje temos com a natureza na gestão do fogo é um resultado de uma negociação mal conduzida, partindo de um pressuposto errado, o de que somos capazes de vencer o fogo - o equivalente a fazer a água subir pelas encostas - em vez de partirmos para a negociação conhecendo bem os limites na negociação e aquilo que nos é possível obter: uma gestão do fogo semelhante à gestão do percurso da água descendente, sem a exigência de que a água suba as encostas.

O plano de Costa Silva, infelizmente, esquece o princípio base do bom negociador: o bom negócio é o que convém às duas partes e a melhor forma de maximizar o benefício é conhecer muito bem o que se negoceia e quem negoceia connosco.

Claro que haverá sempre quem defenda que não há negociação mais eficaz que a que está na ponta da baioneta mas, com a natureza, essa é uma posição muito, muito perigosa, porque se há coisa certa é que a natureza pode mais que nós e a nós só no resta aprender a velejar contra o vento, para chegarmos onde quisermos.

Horror

por João Távora, em 16.09.20

cartaz.jpg

Cruzei-me com esta visão dos infernos no Marquês de Pombal. Palavra que estou a pensar pedir asilo político na Suécia que até é uma monarquia.

Perder antes de começar o jogo

por Jose Miguel Roque Martins, em 16.09.20

A ultima versão do plano estratégico de Costa e Silva foi apresentada. Afinal todos os sectores ganham importância. E deixam de existir prioridades claras. Um mau documento ficou transformado em coisa nenhuma.

À moda do regime, consenso significa ceder a todos os grupos de pressão. Satisfazer todas as clientelas. Continuar a perpetuar o Estado como provedor de benesses, como uma (má) maquina diretora. Mais Estado, com a promessa de melhor Estado, é o que vai acontecer.

Nada vai mudar.

A liberdade, que permite aos agentes económicos identificar as áreas em que interessa apostar, foram mais uma vez esquecidas. Continuar a ignorar o mercado é fatal. 

Antes de recebermos os fundos comunitários,   já perdemos a nossa oportunidade.

 

 

A propósito de vitórias "poucochinhas"

por João-Afonso Machado, em 15.09.20

Não vale a pena voltar a António Costa e à Comissão de Honra da candidatura de Vieira à presidência do Benfica. Tudo é tão destituido de nexo que a conclusão possível é só uma: o espertalhão do nosso 1º para a frente apresentará os seus trunfos, que os tem de certeza.

Não é homem de inocências, nem de favores a amigos que não sejam retribuídos. Vive de e para a politica, exclusivamente.

Entretanto, surpresa das surpresas, o Benfica sai - o que muito lamento - da Champions antes mesmo de entrar. Não há canal televisivo onde este momento não se malhe forte e feio nos milhões de Vieira e nas exigências de Jesus.

Na próxima sexta-feira o Benfica vai jogar a Famalicão, onde ardentemente espero perca. E então - fica a aposta - Costa tornará ao tempo das vitórias "poucochinhas" e apunhalará Vieira como já apunhalou o seu camarada Seguro. 

Que não lhe passem pela cabeça, entretanto, "geringonças" futebolisticas...

Regras impossíveis de cumprir

por João Távora, em 15.09.20

crianças isoladas.jpg

Quis o destino eu ter nascido com um forte astigmatismo e um estrabismo associado, coisa que resultou numa visão muito deficiente pelo olho direito. Quando eu estava na primária, foi me proposto uma terapêutica oftalmológica muito avançada para a época em que, para lá das 3 consultas semanais em que me era ministrado um tratamento num cubículo escuro com uma máquina onde eu tinha de permanecer a olhar durante um tempo que me parecia uma eternidade, obrigavam-me a andar com uma pala a tapar-me o olho esquerdo, que via bem, para supostamente obrigar o direito a esforçar-se, e desse modo mitigar o estrabismo e recuperar alguma visão. Muito recomendado de casa e pelo médico, o sacrifício foi-me impingido com a promessa de que a cura dependia de mim, da minha força de vontade, de fazer tudo como me diziam, de não tirar a pala a não ser para ir para a cama. Foram tempos muito difíceis: eu que era um miúdo sociável, tive de enfrentar a crueldade infantil de alguns dos meus colegas que troçavam do meu novo aspecto. Mas curiosamente, o que mais me custava era o tratamento me deixar quase cego. Todos sabemos que não se devem criar regras impossíveis de fazer cumprir: como não via um boi com o raio da pala a tapar-me a vista boa, em pouco tempo arranjei um estratagema para dar a volta ao assunto - com um dedo, abria uma folga na pala junto ao nariz, de onde eu à socapa espreitava para ver o mundo fascinante que doutro modo se me escondia. Escusado será dizer que ao fim de um ano o médico e os meus pais desistiram dos seus intentos e eu voltei a ser uma criança feliz.

Vem esta história a propósito dumas imagens que vi inadvertidamente um dia destes num noticiário, sobre a abertura do ano escolar num estabelecimento de ensino na Madeira, com os miúdos no recreio todos disciplinadamente de máscara na cara a fazer pose para as câmaras de TV e para o presidente da Região Autónoma, que se congratulava com o facto de na sua Ilha todos cumprirem as normas que justificavam o baixo número de infecções. Como é óbvio, manter crianças de idade escolar a usar uma máscara todo o dia é um desígnio condenado ao fracasso (uma delas estava a queixar-se da acumulação de suor no interior da máscara). Acontece que as crianças são imprevisíveis e não são domesticáveis assim. Não é possível elas conviverem, correrem, brincarem e… relacionarem-se com o nariz e a boca tapados. Querem-nos fazer acreditar que o meu filho de 13 anos está o dia todo na escola de máscara? Claro que não. Descansem todos os pais, que os vossos filhos vão arranjar maneira de contornar a situação, e conspurcarem-se saudavelmente uns aos outros em nuvens de aerossóis, está na sua natureza. De resto, consola-me saber que os bárbaros dos suecos deixam as suas crianças em paz na escola sem máscaras, que reabriu há um mês sem que as infecções se tenham descontrolado. Os números estão todos aqui.

 

Imagem: sala de aula com distanciamento numa escola no Irão.

Quando o Povo quiser...

por João Távora, em 15.09.20

Capa_QuandooPovoQuiser.jpg

É já depois de amanhã quinta-feira dia 17 de Setembro pelas 18:00 o lançamento do livro "Quando o Povo quiser", uma antologia de textos monárquicos comemorativa dos 10 anos da revista Correio Real, que será apresentado pelo poeta e ensaísta Pedro Mexia, no auditório do Centro Cultural de Santa Joana Princesa, na R. Moura Girão, 1700-120 Lisboa (perpendicular à Avenida E.U.A. perto da Av. Alm. Gago Coutinho).

Suas Altezas Reais os Duques de Bragança dignam-se assistir ao lançamento que é aberto ao público.

Organizado por João Távora e editado por Vasco Rosa, "Quando o Povo quiser" inclui um prefácio de Nuno Pombo, um posfácio de S.A.R. o Senhor Dom Duarte de Bragança, e textos de António de Souza-Cardoso, Augusto Ferreira do Amaral, Carlos Bobone, Diogo Tomás, Francisco Teles da Gama, João Mattos e Silva, João Távora, João Vacas, Joaquim Costa e Nora, Jorge Leão, José Adelino Maltez, José Manuel Quintas, Leonor Martins de Carvalho, Luís Barata, Manuel Braga da Cruz, Miguel Castelo-Branco, Nuno Miguel Guedes, Nuno Castelo-Branco, Nuno Pombo, Nuno Resende, Paulo Cunha Porto, Paulo Teixeira Pinto, Pe. Pedro Quintela, Samuel de Paiva Pires, Teresa Côrte-Real, Teresa Maria Martins de Carvalho, Vasco Rosa e Dom Vasco Teles da Gama.

O livro estará à venda no local pelo preço de 20,00€.

O Centro Cultural de Santa Joana Princesa tem lotação para 300 pessoas sentadas: o distanciamento físico será garantido e serão observadas todas as normas sanitárias em vigor.

 

O eterno retorno

por henrique pereira dos santos, em 15.09.20

Paulo Fernandes, numa discussão sobre fogos no Soajo (e, mais genericamente, nas serras do Parque Nacional, ou, mais genericamente ainda, nas serras de Portugal): "Abandonar o pastoreio e as queimas associadas significa acabar com o mosaico de recorrências do fogo e passar a ter nas montanhas do norte os incêndios que temos no pinhal interior e na serra algarvia (ou equivalentes, porque a orografia é demasiado quebrada para ter incêndios tão grandes)".

Traduzido em miúdos, ou temos muitos fogos, menos intensos e em mosaico ao longo dos anos, ou temos menos fogos, mais intensos e extensos.

O primeiro padrão de fogo dificulta a recuperação das matas autóctones, visto que os carvalhos, embora bastante adaptados ao fogo, precisam de intervalos seguramente maiores que quatro anos, entre fogos, para que os carvalhinhos novos não morram com o fogo.

O segundo padrão de fogo é o que conhecemos do actual fogo de Proença-a-Nova e Oleiros, mas também dos fogos de 2017 e 2003, nos xistos centrais, ou 2004 no Caldeirão, ou 2016 na serra da Freita, ou Monchique, em vários anos.

O primeiro padrão de fogo permite alguma produção económica, quer porque os rebanhos produzem riqueza, quer porque é mais fácil a um proprietário defender-se isoladamente de fogos menos intensos e com menor continuidade de combustíveis. E, de maneira geral, não provoca perdas sociais tão elevadas, em mortes, infraestrutras e casas ardidas.

O segundo padrão de fogo provoca tragédias cíclicas, com intervalos em torno dos 12 a 15 anos, com mortes, casas e infraestruturas ardidas e grande destruição em mega operações, inevitavelmente ineficientes, de protecção civil.

Perante estes factos, a sociedade divide-se.

Há os utópicos - o que é preciso é esmagar a actividade viral, desculpem, a actividade do fogo, prendendo incendiários, mesmo que a maior parte da área ardida não tenha nenhuma relação com o fogo posto, ensinando as pessoas a comportar-se como deve ser, mesmo que 1 a 2% das ignições sejam responsáveis por 90% da área ardida, equipando e treinando o sistema de combate para a detecção precoce e a supressão de qualquer início de incêndio, mesmo que isso potencie as condições para as tais tragédias cíclicas, gastando rios de dinheiro a procurar alterar a estrutura de propriedade, mesmo que o problema seja a competitividade da actividade, fracamente ligada à estrutura da propriedade e fortemente dependente dos mercados, afundando recursos em mudar os povoamentos de pinheiro e eucalipto em carvalhais, mesmo que os carvalhais ardam como o resto e o fogo seja comandado pelos combustíveis finos e não pelas espécies de árvores que lá estão.

E há os pragmáticos - se o primeiro padrão tem problemas mas é uma base de partida que demonstra algumas vantagens, e se o segundo padrão tem mais desvantagens que vantagens e mais dificuldade de evolução porque destroi o capital necessário à sua transformação, vamos lá olhar para o primeiro padrão de fogo e ver como podemos gerir a paisagem no sentido de optimizar os seus benefícios e minimizar as suas desvantagens.

Nós, os pragmáticos, temos a generalidade da ciência (a ciência, felizmente, não é monolítica) e do conhecimento do nosso lado.

Eles, os utópicos, controlam o dinheiro e os recursos.

Resultado final: estamos feitos, não apenas nós, os pragmáticos, mas também os agnósticos que em Oleiros e Proença-a-Nova se viram nestes dias em palpos de aranha para prevalecer.

As auditorias segundo o BE

por Jose Miguel Roque Martins, em 15.09.20

Catarina Martins numa entrevista ao expresso:

“A proposta do BE é esta: não há nenhuma injeção no Novo Banco e faz-se uma auditoria com uma comissão pública com vista ao processo de denúncia do contrato com a Lone Star”.  

Ficou mais claro o que já se suspeitava sobre as convicções deste ilustre partido: que as auditorias não servem para apurar o que passou. As auditorias servem para provar o que se pretende.Quando não se domina diretamente uma auditoria,  há que ir encomendando, uma atrás da outra, até a versão da realidade se ajustar ao que o Bloco pretende. Estalinismo puro. 

 

 

 

 

António Costa e Luís Filipe Vieira

por Jose Miguel Roque Martins, em 14.09.20

O apoio de António Costa a Luís Filipe Vieira é tão absurdo como invulgar em alguém tão hábil como o Primeiro Ministro.

Distração, António Costa dá o primeiro sinal de que quer ir embora ou estamos presente uma manobra de diversão do nosso triste quotidiano ?



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