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Começa sempre com a linguagem redonda, abrangente, enrolada em algodão: a ministra de Estado e da Presidência informa que o Governo vai lançar «um projecto» para «monitorizar» o «discurso de ódio» nas redes sociais. Mais explicou a ministra que se pretende fazer o acompanhamento e identificação dos sites e dos autores.
«Um projecto» não será a mesma coisa que uma polícia de vigilância acoitada num observatório povoado de patrulheiros do partido, pois não? «Monitorização» não será a mesma coisa que Vigilância e Defesa do Estado, pois não? A identificação de sites e autores não é a mesma coisa que censura e perseguições, pois não?
É assim que começa, quando uns animais se consideram mais iguais do que os outros. E tendo em conta que o que é ou não é «discurso de ódio» é definido pelos porcos que mandam no «projecto» e na «monitorização», é evidente que este parágrafo me condenaria e a este blog. Bastava que algum tarado, ignorante ou monitorizador nunca tivesse lido Orwell.
Agora sim, a promessa foi cumprida: a TAP foi revertida, o Estado tem 72,5% da empresa.
Seguidamente, os socialistas tentarão convencer os contribuintes, que durante anos vão pagar o desastre, de que:
- foi tudo culpa da pandemia;
- não são eles que vão despedir milhares de trabalhadores;
- não são eles que vão alienar aviões, cessar leasings, cortar voos e destinos, nem entregar a outras companhias aéreas rotas rentáveis;
- não são eles que vão dar de barato a outras empresas e outros países a plataforma América/Europa em que Lisboa se transformara , e que Madrid provavelmente assumirá;
- não são eles que vão reduzir a TAP a uma companhia aérea regional e cronicamente deficitária;
- que todo o comportamento deste lamentável governo e do lamentável ministro do pelouro ao longo do processo iniciado com a «reversão» não constitui um argumento poderosíssimo para afastar daqui qualquer intenção de investimento estrangeiro;
E tentarão convencer-nos, repete-se, que não são os contribuintes quem vai pagar o desastre criado pela cegueira ideológica de ter uma companhia aérea a que eles chamam «nossa».
"Temos de mudar, ir à procura do vírus e não do doente"
Esta frase de Filipe Froes resume o essencial e, infelizmente, é uma frase que reúne largos consensos entre profissionais de saúde que podem saber tudo sobre vírus, mas não sabem grande coisa sobre pessoas e sociedades.
A ideia é simples, apelativa e poderosa, mas tem um problema: não tem base factual nenhuma que garanta a possibilidade de ter algum sucesso.
Até hoje a humanidade conseguiu erradicar uma doença, a varíola, depois de anos e anos de programas de vacinação e muitas outras coisas.
Várias outras doenças, a humanidade conteve-as em níveis bastante aceitáveis, como a polio, o sarampo, e várias outras para as quais existem vacinas eficazes e cujo efeito é longo.
Em doenças infecciosas em que o efeito das vacinas é curto, como a família das gripes e afins - seis meses de validade, mais coisa, menos coisa - o mais que a humanidade conseguiu foi desenvolver complexos programas de saúde pública e vacinação que conferem algum grau de protecção maior a grupos mais vulneráveis, sobretudo nos anos em que se conseque acertar melhor com a vacina.
O que a OMS e grande parte dos serviços de saúde no mundo resolveram fazer, na sequência do que acham que foram os sucessos anteriores - sobretudo a MERS - foi promover a mudança de que fala Filipe Frois: concentrar-se em combater os vírus em detrimento do foco na doença.
Dentro de limites sociais aceitáveis, a ideia tem toda a validade, foi assim que se reduziram muito as infecções, mesmo antes dos antibióticos e das vacinas, ao promover a higiene dos espaços e das pessoas.
O que tem sido novo agora é a ideia de que é possível e razoável gerir as sociedades humanas em função do objectivo único de liquidar agentes infecciosos como instrumento para controlar doenças.
De tal maneira a ideia entrou na normalidade que houve, já há bastante tempo, uns académicos que suponho que são brilhantes - Harvard pode ter muitos defeitos, mas há um mínimo de qualidade académica que é sólido - que propuseram um sistema de vigilância que tinha como objectivo manter o desenvolvimento da doença dentro dos limites da capacidade de resposta dos sistemas de saúde.
A proposta era simples: fechava-se tudo até se atingir um limite de casos considerado gerível, depois abria-se a sociedade, acompanhava-se a evolução, quando os indicadores da doença - na verdade, da presença do vírus - atingissem de novo os níveis que se entendesse, voltava-se a fechar tudo e andava-se nete ió-ió até se encontrar uma vacina ou um tratamento eficaz.
Que estes investigadores desvalorizem os efeitos reais disto na vida das pessoas, o que isso significa de pobreza, disrupção, efeitos na saúde mental, etc., ao ponto de acharem normal determinar o funcionamento da sociedade com base neste modelo, é um bom indicador da loucura generalizada que faz um médico achar que ir atrás do vírus, e não da doença, não só é possível como é a maneira eficaz de gerir doenças infecciosas de elevada transmissibilidade.
E o essencial é mesmo isto: estamos a ser conduzidos por pastores que sabem tudo sobre como tratar as cabras do rebanho, mas nunca geriram rebanhos, o que lhes permite propôr medidas nunca testadas para que acabem as doenças no rebanho, sem ter a menor preocupação com o facto de, antes de tratar as doenças, ser preciso garantir que o rebanho é conduzido para onde haja pasto suficiente para que as cabras não morram de fome.
Ontem, por larga maioria, foram aprovadas mudanças constitucionais que, na pratica, eliminam barreiras de mandatos que permitem a Putin candidatar-se a presidente até 2036.
Pode contestar-se que as outras alterações constitucionais, votadas em bloco, eram sedutoras e foram o prato forte da propaganda. Ou invocar teorias de manipulação graves das eleições. Na verdade, as eleições já ganhas por Putin, não aparentam ser mais manipuladas do que o que acontece na generalidade dos Países Ocidentais.
Os Russos até já aceitaram que ele fosse formalmente o primeiro ministro , mantendo-se como presidente de facto, para “limpar” a impossibilidade de poder ser eleito, depois dos dois primeiros mandatos no poder supremo.
Putin apresenta legitimidade democrática. Ao mesmo tempo, pelo tempo que ocupa o poder e pela forma como o exerce, assemelha-se a um ditador. É uma figura pouco amada no Ocidente, pouco confortável com o retomar do papel de super potencia militar pela Rússia.
Mas o seu continuado apoio popular no seu País é difícil de contestar. Carisma próprio, trabalho exemplar ou será que a Rússia profunda exige um Czar?
PS: Por cá, ainda a propósito da TAP, a frase de ordem de ontem foi “agarrem-me senão eu mato-o” .
"Eu percebo os meus colegas. Mas eles não são de saúde pública e foram treinados para gerir doentes, não foram treinados para gerir epidemias. São coisas completamente diferentes, por mais que lhes custe ouvir isto. ... As pessoas que foram treinadas para gerir epidemias são de saúde pública e as que sabem de epidemiologia são principalmente da [especialidade] de saúde pública. Os outros são na sua maioria curiosos."
"Se se testar todas as pessoas, como sabemos que são assintomáticas na maioria dos casos, obviamente vamos apanhar mais, cinco ali, dez acolá, 20 ali, 30 acolá, 50 ali, chegamos aos 200 casos. Se não as testasse, estas pessoas eram todas assintomáticas e não surgiam nas estatísticas. Se testo notifico, aumento os números mas também aumento a probabilidade de quebrar cadeias de transmissão. Por exemplo, em Oeiras, onde neste momento está a ser efectuado um rastreio, os números vão obviamente aumentar. Isso já está a acontecer nos últimos dias. É um preço a pagar".
"a taxa de incidência tem a ver com o efeito dos surtos. Por exemplo, em São Domingos de Rana há agora um surto numa estrutura residencial [para idosos] e por isso Cascais vai aparecer com uma taxa de incidência enorme. No lar de São Domingos de Rana, em 46 pessoas, 41 estava infectadas. Mas se os surtos estiverem controlados as taxas de incidência querem dizer pouco. E as cadeias de transmissão? Aí é outra questão. Não será possível identificar tudo, como não é em ponto nenhum do país ... Os surtos são mais visíveis e alteram muito os números, mas os casos soltos são os que nos preocupam mais e obrigam a intervenções com mais recursos".
Estas citações são da entrevista de Rui Portugal hoje ao Público (declaração de desinteresses: nunca falei com Rui Portugal sobre este assunto, apesar de o conhecer, tanto mais que é meu primo) que espero que Filomena Martins e outros jornalistas leiam para ver se conseguem ter uma ideia de como devem ser interpretados os números.
Em parte são picardias normais e que sempre existiram entre os oficiais do Estado Maior e os operacionais no terreno. Os segundos são os que ganham as condecorações por actos de bravura, são os que se transformam em heróis e os que morrem, são os protagonistas principais dos principais filmes de guerra, os primeiros são os que ganham ou perdem a guerra.
Não é possível ganhar guerras sem bons desempenhos no campo de batalha, mas é na preparação desses desempenhos e na gestão anterior às batalhas que se ganham ou perdem as guerras, e essa é a função do Estado Maior.
É assim na guerra propriamente dita, é assim nos fogos, é assim nas epidemias e em muitas outras circunstâncias.
O que as epidemias novas têm de específico é que sabemos muito pouco sobre o "inimigo", embora saibamos que o "inimigo" não é o vírus, é a forma como impacta a sociedade.
É por isso que grande parte da informação de virologistas, intensivistas e outros operacionais da linha da frente não é muito útil para saber mais sobre a evolução da epidemia: estes operacionais estão concentrados no vírus, na doença, no doente que é preciso salvar, não estão concentrados em evitar que seja necessária a sua intervenção ou, no caso de ser necessária, na criação de condições para que seja feita nas melhores condições que seja possível criar.
É por isso que estou convencido de que Filipe Froes, e muitos outros, teriam mais a ganhar em ler, por estes dias, Sun Tzu que as revistas médicas em que todos os dias é produzida informação sobre o vírus, a doença, os tratamentos ou a epidemia.
Provavelmente já teriam concluído o que Rui Portugal aqui diz: "Não será possível identificar tudo, como não é em ponto nenhum do país" e, por isso, prosseguir uma estratégia - identificar todos os focos na fonte de forma a que seja possível quebrar todas as cadeias de contágio - cujo objectivo é impossível de atingir é um erro e um desperdício de recursos.
Infelizmente nem com os surtos a aparecerem em lares - tendo a sua origem nos funcionários, mas levando ao imediato cancelamento das visitas, uma medida sem efeito prático na gestão da doença e com muitos efeitos negativos - ou em hospitais, inviabilizando o discurso moral sobre o comportamento irresponsável das pessoas, parece abrandar a loucura dos que, habituados que estão aos laboratórios e às salas de cuidados intensivos, não compreendem que as sociedades e o mundo real em que todos vivemos é o que é, não sendo possível esterilizá-lo sem custos brutais e proveitos marginais.
Tal como os soldados no campo de batalha, ou os bombeiros no calor do combate ao fogo, também os profissionais da linha da frente na saúde estão convencidos de que com mais empenho, sabedoria e recursos, seria sempre possível fazer frente à natureza, baseando-se em frases de elevado valor intelectual como a imorredoira frase de penhor do valor dos bombeiros: "nunca nenhum incêndio ficou por apagar".
Só que na verdade o problema está na doutrina e não na linha da frente: "Portugal sem fogos" ou "vamos vencer o vírus" são a mesma mistura de arrogância e ignorância que nos caracteriza como espécie e nos faz pensar que tudo o que nos rodeia é controlado por nós.
"Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é."
Por alguma razão Álvaro de Campos é incomparavelmente mais popular que Alberto Caeiro.
Há uns meses, escrevi um post sobre Neelman. Vaticinava a possibilidade de que pudesse perder o seu investimento. Estava muito mal informado. Não sabia ( nem imaginava como possível) que o governo PS, lhe tinha concedido aos privados, em troca da sua posição na TAP, para todos os efeitos, uma garantia de proteção do seu investimento. Num completamente incompreensível acordo, garantiu no caso de nacionalização da TAP, a possibilidade de reembolso do dinheiro investido pelos privados: um absurdo completo.
Se não o tivesse feito, apenas para cumprir uma promessa eleitoral já de si estúpida, neste momento, o Estado, teria todo o poder do mundo: os privados estariam na mão de quem os pudesse ajudar, sob risco de perderem irreversivelmente todo o seu investimento, numa falência ou nacionalização. Uma demonstração clara do que acontece quando o Estado decide subverter as regras de mercado.
À absolutamente idiota concessão inicial, juntou um discurso musculado em defesa da TAP e contra os privados, sem qualquer poder real. Neste momento, os privados só perdem se a TAP for á falência. O que sabem ser o ultimo cenário desejado pelo Estado.
E agora?
Ou o Estado deixa a TAP falir e assume o dito por não dito, com custos políticos enormes;
Ou o Estado cede na sua luta com Neelman, assumindo uma humilhação publica;
Ou o Estado Nacionaliza, assumindo um humilhante pagamento aos privados e a completa inabilidade para aventuras em empresas . E suporta o ónus adicional de uma restruturação com despedimentos inevitáveis;
Ou, o mais provável, o Estado vai arranjar uns testas de ferro, para comprarem a posição de Neelman ( provavelmente por valor superior) , a serem compensados de forma “invisível”, para tentar mascarar a sua total incompetência.
Pior, nem podem invocar uma pesada herança de um governo anterior: tudo terá que ser assumido pelo governo PS: a reversão da nacionalização mal feita e o futuro da TAP. Um pesadelo mediático, um enorme prejuízo para Portugal. Neelman corta duas orelhas e um rabo e sai sempre em ombros!
PS: As intervenções publicas no privado são por norma um desastre. A TAP é apenas mais um exemplo.
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