Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Sobre as manifestações ocorridas no fim-de-semana, o sentimento que me ocorre é de uma certa inveja, por causa da capacidade de se mobilizarque a esquerda sempre evidencia. Tudo como dantes, portanto: os do costume na rua e os outros a resmungar enfiados no sofá.
Trump e Bolsonaro são objectivamente do pior que há. Apenas um pouco menos maus do que ditadores autocráticos como aquele que está na Venezuela, ou dos que presidem a China, Cuba ou a Coreia do Norte. É uma convicção que tenho justificada com dezenas de factos e é um dos poucos pontos em comum que tenho com a imprensa em geral.
Trump será certamente lembrado como o pior Presidente dos Estados Unidos de todos os tempos. E Bolsonaro, provavelmente também ficará com um lugar de destaque na história, sendo que, no Brasil, será difícil garantir o pior lugar. Neste país, a competição, pela negativa , é verdadeiramente feroz.
A imprensa, que esquece os autocratas, não poderia ser mais negativa em expor a catadupa permanente de erros clamorosos e até embaraçosos destes políticos, que de tão maus, suscitam vergonha alheia. São aliás tão gráficas e ignorando patifarias que vão sendo feitas por tantos outros, que chegam a irritar por serem tendenciosas, mesmo para aqueles que, como eu, estão normalmente de acordo com todas as criticas, mas que também não aceitam que sejam responsáveis por todos os males do mundo.
Não obstante, há que olhar para um ponto aparentemente surpreendente: apesar de tudo, mantêm aquilo que, para mim, é um inesperado apoio popular.
A explicação para o facto tem a ver com multidões de cegos ás ações de dois trogloditas? Ou terá a ver com cidadãos que preferem suportar um presidente ignóbil porque estão ainda mais fartos dos políticos do costume?
Estes dois bonecos dizem respeito ao número de casos diários covid e ao número de mortes covid no mundo até ontem.
O que me interessa é fazer notar que se em relação ao número de casos diários se continua a ver subidas, em relação ao número de mortes diários há uma clara tendência de descida.
Isto explica-se facilmente: o número de casos diários depende muito da política de testes, o número de mortes, com todos os problemas que existem sobre a atribuição de causas de morte é, evidentemente, menos sensível à política de testes, sendo um indicador mais fiável da evolução da epidemia.
O que acontece à escala global é mais ou menos o mesmo que podemos ver para Portugal, embora de forma menos evidente (até por estarmos a falar de pequenos números).
O que está a ser feito em Portugal (e em muitos outros lados) é uma estupidez sem nome que, ainda por cima é caríssima: testar estupidamente pessoas saudáveis sem que se perceba com que objectivo, como explica muito bem aqui Tiago Tribolet de Abreu.
Incomoda-me mesmo que, havendo todos os dias conferências de imprensa, não haja jornalistas a perguntar para que serve testar todo o pessoal das creches, ou fazer testes sistemáticos a sectores específicos, que não dizem nada sobre o dia seguinte e não acrescentam nada à gestão da epidemia.
Note-se bem o que diz a Organização Mundial de Saúde (sim, a organização, nos seus documentos oficiais e não os seus dirigentes em declarações avulsas):
"Viable virus has been isolated from specimens of pre-symptomatic and asymptomatic individuals, suggesting, therefore, that people who do not have symptoms may be able transmit the virus to others.(26) Comprehensive studies on transmission from asymptomatic individuals are difficult to conduct, but the available evidence from contact tracing reported by Member States suggests that asymptomatically-infected individuals are much less likely to transmit the virus than those who develop symptoms.
Among the available published studies, some have described occurrences of transmission from people who did not have symptoms.(21,25-32) For example, among 63 asymptomatically-infected individuals studied in China, there was evidence that 9 (14%) infected another person.(31) Furthermore, among two studies which carefully investigated secondary transmission from case)s to contacts, one found no secondary transmission among 91 contacts of 9 asymptomatic cases,(33) while the other reported that 6.4% of cases were attributable to pre-symptomatic transmission.(32) The available data, to date, on onward infection from cases without symptoms comes from a limited number of studies with small samples that are subject to possible recall bias and for which fomite transmission cannot be ruled out".
Ou seja, para o que interessa, a transmissão da infecção por parte de pessoas assimptmotáticas é muitíssimo menos provável, portanto estar a testar pessoas saudáveis, isto é, sem sintomas de doença, para saber se têm vestígios de vírus, sem qualquer certeza sobre o que significam esses vestígios, para as isolar de forma a controlar a disseminação de uma doença, sabendo que a probabilidade de pessoas assimptomáticas transmitirem o vírus é bastante baixa (existe, sim, claro, mas é aqui que entra a definição de objectivos do que se faz: queremos parar toda a transmissão da doença, ou queremos proteger os mais vulneráveis dos potenciais efeitos negativos da doença?) é uma opção errada e absurda.
E, no entanto, é isso que continuamos a fazer, sem que nas conferências de imprensa, e no resto, a imprensa cumpra o seu papel de escrutinar a afectação de recursos, sempre escassos, por parte do poder.
Não haverá por aí uns jornalistas que queiram fazer umas perguntinhas nas conferências de imprensa sobre afinal o que se pretende com esta loucura de andar a testar estupidamente tudo o que mexe, ao mesmo tempo que a doença vai prosseguindo o seu caminho, com cada vez menos gente internada e com mortalidades marginais face ao que é a mortalidade normal do país?
Agora que de repente juntar milhares de pessoas na rua deixou de ser sinónimo de barbaridade cívica e, pelo contrário, passou a ser uma demonstração de vitalidade das sociedades, já nos podemos deixar de parvoíces e ir ao supermercado, ao restaurante, aos centros comerciais, à praia ou onde quisermos, sem dramas, mascaradas ou medo?
Não sei de onde apareceu esta quase unanimidade à volta da ideia de que a sociedade se deve organizar em torno de uma ideia única: defender-se de uma epidemia.
Eu não estou interessado em sociedades que se organizam em torno de ideias únicas, sejam elas a defesa em relação a uma epidemia, a gestão da alteração climática, a criação de um homem novo, o fim da pobreza, etc., etc., etc..
Eu gosto de sociedades diversas, "Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós."
Não estou interessado em sociedades em que todos se olham de lado, procurando manter distâncias de dois metros, sociedades em que os avós, os tios e etc., não podem pegar nas crianças, sociedades em que sistematicamente se esconde a franqueza do sorriso, sociedades em se decide que as grávidas infectadas - e podem nem sequer estar doentes - não podem ter acompanhamento nos partos para não infectar os que lhe são próximos, etc., por aí fora (quem quiser ter uma visão mais profunda do terror autocrático que as boas intenções podem gerar devem consultar esta página).
Não estou interessado numa sociedade em que a imprensa se põe ao serviço da opressão, como nesta peça do Observador, em que o jornalista Edgar Caetano se limita a ir atrás da conferência de imprensa da OMS, sem se dar ao trabalho de ir às orientações realmente produzidas pela OMS, que não dizem nada do que o jornalista diz que dizem (tiro o chapéu ao facto de, ao contrário das versões iniciais da peça, agora já haver uma ligação para as recomendações da OMS, onde claramente se pode ler "Results from cluster randomized controlled trials on the use of masks among young adults living in university residences in the United States of America indicate that face masks may reduce the rate of influenza-like illness, but showed no impact on risk of laboratory-confirmed influenza.(62, 63) At present, there is no direct evidence (from studies on COVID-19 and in healthy people in the community) on the effectiveness of universal masking of healthy people in the community to prevent infection with respiratory viruses, including COVID-19.", para além de ser evidente que a OMS não recomenda o que o jornalista diz que recomenda, apenas altera a orientação anterior para dizer que se pode considerar essa hipótese, em circunstâncias muito restritas, e com base em ideias muito científicas como diminuir a estigmatização de que tem de usar máscara por estar doente).
A coisa é simples: eu não quero optar entre defender-me de uma epidemia ou perder liberdade, eu quero defender-me da epidemia em liberdade e usando o juízo de cada um em cada circunstância, sem prejuízo, evidentemente, de haver circunstâncias em que se definam limites à liberdade de cada indivíduo.
Só que essas circunstâncias e essa limitação não pode ser entendida como sendo uma questão técnica, essas circunstâncias e essas limitações são sociais e políticas, todos temos o direito de as questionar e decidir sobre elas.
Não estou mesmo nada interessado em sociedades em que se determina que os balneários de um ginásio, mesmo que tenham cabines individuais, não pode ser usado, sem que haja uma só alminha que explique qual é a razão para essa limitação.
Não estou interessado em sociedades em que o medo se combate a fazer dezenas de regras absurdas ou sensatas (infelizmente mais das primeiras que das segundas), mas sim naquelas em que o medo se combate com informação e transparência.
O facto de haver tanta gente disponível para apoiar o campo da limitação das liberdades por funcionários anónimos, sem questionar, e o facto de entre essa tanta gente estar tanto jornalista, parece-me profundamente deprimente.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n'Ele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».
Palavra da salvação.
Qualquer empreendedor ou empreendimento, quer o seja por necessidade ou por gosto, é perseguido em Portugal.
O Sócio gerente é considerado o único contribuinte que não é digno de apoio pelo Estado nesta crise pandémica. Mesmo que tenha apenas 1 Euros de capital. Como a esmagadora maioria dos Sócios Gerentes não podem ser considerados membros do grande capital, então estará a ser punido por ter o atrevimento de não ser tecnicamente um funcionário, alguém que tem que cumprir ordens no dia a dia. A única distinção técnica que um sócio gerente apresenta em relação a qualquer outro trabalhador. Dirigir, parece ser assim um pretenso monopólio do Estado.
O programa renda segura, para além dos terríveis vícios sobre os quais já escrevi, pelas declarações dos responsaveis, visa, não só o seu objectivo expresso, mas tambem absorver as casas que estão afectas ao alojamento local. O que nos traz mais duas ideias. A primeira é de que os empreendedores de alojamento local, não sabem resolver o problema por si mesmos ( vendendo, arrendando ou aguentando o período de crise), quando têm um produto ( habitação) apetecível . A segunda, é que a retirada de alojamentos locais do mercado por cinco anos, é uma medida necessariamente positiva, antecipada pelos altos responsaveis. Os nossos governantes, com a sua arrogância habitual, assumem conhecer o futuro, ultrapassando a lógica de mercado e a incerteza.
Uma explicação alternativa, ainda mais grave, é a de pretenderem corrigir o atrevimento de dezenas de milhar de empreendedores que, nos últimos anos, foram responsáveis pela criação de uma imensa riqueza, para o país e para eles. Este exemplo de sucesso trazido pela liberdade de iniciativa, já tinham começado a ser perseguidos em termos de licenças e em termos tributários.Provavelmente porque não convém que o Povo comece a ter a perigosa ideia de que pode viver bem, sem dependência do Estado.
Nestes dois exemplos, como em muitos outros, o que parece acontecer, é que o Estado aproveita todas as ocasiões para desincentivar a iniciativa individual, e a genuína e natural criação de riqueza, por uma raça pouco apreciada, a dos empreendedores e a iniciativa privada.
Ps: Os discursos oficiais e até a logica, vão no sentido contrario. Mas a evidencia aponta para que a solução verdadeiramente confortável para o Regime seria a de transformar toda a população em dependentes do Estado. O que só não faz, a contragosto, porque sabe que seria um desastre económico, embora não entenda porquê.
Uma perspectiva interessante sobre as recentes medidas do governo, é o que revelam relativamente ás desigualdades de tratamento de diversos grupos sociais. Olhemos para os diferentes graus de apoio e manutenção de rendimento preconizados.
Sócios Gerentes, ( com trabalhadores e mais de 80.000 Euros de faturação): 0
Precários : 0;
Trabalhadores independentes: em função de rendimento medio de 12 últimos meses mas com limites de 481 Euros ( Março e Abril) ou 219 euros (maio) ;
Precários da cultura: 1334, duas vezes;
Povo em geral: 70% do salário com o limite inferior do salário mínimo + complemento para um mês a 100%;
Funcionários Públicos : 100% em qualquer circunstância
As conclusões sobre realidades nem sempre são iguais. A mim, parecem-me indiciar um claro padrão de desigualdades, dos protegidos aos preteridos.
PS: Será que um socio gerente de pequena empresa, não é um artista e como tal pode aceder aos apoios dos precários da Cultura?
O ministério do Trabalho dos EUA divulgou hoje os números do emprego relativos ao mês de Maio: neste mês, a economia americana criou 2,5 milhões de empregos, sobretudo no turismo, na construção e na saúde. A recuperação bate todos os recordes desde que há registos, há 100 anos. O presidente Trump comentou no Tweet que eram grandes notícias, e acrescentou: «Parabéns, presidente Trump (estou a brincar, mas é verdade)».
Sendo a notícia extremamente embaraçosa para os subsidiados de causas que pululam nas redacções das televisões, sugerem-se as seguintes adendas (a negro, para que as acrescentem) e omissões (sublinhadas, para que não se esqueçam delas) :
A economia americana recuperou 2,5 milhões de empregos durante o mês de Maio, aparentemente um recorde histórico cujos números vários especialistas de economia põem em causa, por terem previsto que o desemprego poderia ultrapassar 20%, colocando a situação económica ao mesmo nível da Grande Depressão (NB: omitir que já em Abril, os números do desemprego tinha contrariado as previsões, descendo dos 14%, em vez de subirem).
O presidente Trump comentou no Tweet que eram grandes notícias, e acrescentou: «Parabéns, presidente Trump», reclamando para si méritos que não são seus, mas de todo o país, num esforço desesperado para garantir a sua reeleição (NB: deve ser omitido o comentário «estou a brincar, mas é verdade»).
Acrescentar, ainda: Só não disse que a situação relativa ao Covid-19 continua descontrolada nos Estados Unidos, com mais de 109 mil óbitos (NB: omitir o racio por milhão de habitantes, pois ele é de 330,28 nos EUA - números de 5 de Maio -, melhor que o de Espanha, 580,6 óbitos por milhão, ou o de Itália, 557,48).
E rematar da seguinte forma: A notícia não parece ter desmobilizado os milhares de pessoas que continuam a protestar nas ruas de todas as cidades contra o racismo e a desigualdade.
Hoje é o dia mundial do ambiente, e eu geralmente nem ligo muito a estas datas mais ou menos simbólicas.
Aliás, sempre achei que era bem melhor que o movimento ambientalista aproveitasse o enraizamento social da quinta-feira da espiga para levar gente ao campo que os dias mundiais do ambiente e afins.
Iria por isso passar sem fazer qualquer referência ao assunto, quando vejo vários jornais a dedicarem qualquer coisa ao assunto.
Também teria passado com ligeireza sobre isso, não se desse o caso de ver várias peças com a mesma base: em vez dos jornais escolherem qualquer facto a cujas ligações com as questões ambientais quisessem dar relevo, escolhem fazer uma ronda pelas mesmas associações de sempre, falando com os mesmos responsáveis de sempre, para concluírem coisas gerais sobre o assunto.
Mas ainda assim, não seria suficiente para dedicar tempo ao assunto, se numa dessas peças não visse isto escrito: "Como a biodiversidade é o tema escolhido, este ano, para assinalar o 5 de Junho, comecemos por aí. O número que a Zero diz que é urgente mudar a este nível é o 456. É essa a quantidade de espécies ameaçadas em Portugal, entre animais e plantas. ... é urgente fazer um trabalho similar (ao que foi feito com o lince) com as restantes espécies, com destaque para "o lobo-ibérico ou algumas aves necrófagas", alerta."
E é isto: uma ONG não faz ideia sobre o que deve dizer em matéria de prioridades de conservação da biodiversidade e escolhe umas espécies bandeira, como o lobo e umas aves necrófagas, por sinal, espécies em expansão e aumento de populações e jornalistas que acharam que fizeram o seu trabalho só porque ouviram, sem qualquer sentido crítico, umas ONG.
Devo dizer que até conheço a jornalista por uma vez ter apresentado um livro seu e a acho muito simpática, tenho ideia de que faz bom jornalismo, mas a biodiversidade não é a sua área de trabalho e não saberá que o lobo está em expansão, pelo que ao ouvir estas declarações não tem base para perguntar por que razão se escolhe falar de espécies em expansão a propósito de espécies ameaçadas.
E a ONG, como não é questionada quando diz o que passa pela cabeça da pessoa que falou naquele dia com a jornalista, também não sente necessidade de estudar um bocadinho os assuntos sobre que se debruça e, com bastante razão, conclui que para quem é, bacalhau basta.
Somos mesmo pouco exigentes, não é uma questão de sermos pouco exigentes com os políticos, somos mesmo pouco exigentes connosco e com os que andam à nossa volta.
E este é apenas um exemplo sem importância, muito mais grave, por exemplo, é um programa que lida com milhões de investimento ter como principal indicador de resultado - note-se bem, não é indicador de execução, é indicador de resultado - a percentagem da despesa executada.
E é assim há anos, ministros vão e vêm, secretários de estado vão e vêm, directores-gerais vão e vêm, técnicos vão e vêm, jornalistas que cobrem essa área de governação vão e vêm e nós, como sociedade, achamos normal e adequado medir o resultado de um investimento em função da percentagem da despesa executada face ao previsto.
Não há dúvida, para quem somos, bacalhau basta.
Paulo Tunhas, como é frequente, exercitando a sua liberdade: "Ódio à democracia: o poder é intrinsecamente ilegítimo sempre que não corresponde à imagem que desejamos que ele tenha (o que vale para os Estados Unidos vale ainda mais, talvez, para Israel, que suscita tal ódio em proporções épicas)."
Esta observação, bem como todo o artigo de que faz parte, corresponde bastante ao me parece que tem vindo a ser uma tendência das esquerdas modernas: negar a democracia, não na sua teoria e fundamentos, mas na prática.
Os problemas e as derrotas deixaram de ser para resolver nas eleições seguintes, os problemas e as derrotas devem ser resolvidas agora, contrapondo a legitimidade das ruas - que o mesmo é dizer, dos jornais - à legitimidade das urnas.
Não é, de maneira nenhuma, uma questão americana, apesar de ser muito visível a quantidade de impeachments e afins dos últimos anos, usados tantos pela direita (Clinton) como ainda mais frequentemente das esquerdas.
Frequentemente a contestação da legitimidade começa logo no dia seguinte ao das eleições, em vez da velha regra de que se as regras democráticas aplicáveis a todos, boas ou más, foram cumpridas, a legitimidade do governo está assegurada.
E quem não está de acordo, tem uma maneira simples de proceder: trabalhar para ganhar a eleição seguinte e bater os adversários nas eleições.
À medida que inimigos juramentados da democracia burguesa deixaram de ter margem para defender a superioridade da democracia popular sobre a democracia formal (para já não falar da defesa dos regimes não democráticos), passaram a contrabandear a ideia de que as regras não são justas, não são legítimas e, consequentemente, é legítimo actuar fora das regras para repôr a verdadeira democracia.
Sou absolutamente insuspeito de não gostar Neil Young - ainda não me conseguem apanhar na posição de definir o meu gosto artístico pelo alinhamento político dos artistas, a mim não me apanham a negar que José Afonso e José Mário Branco são músicos fantásticos só porque usaram os seus dons artísticos para defender coisas que hoje me parecem indefensáveis - e acho que fez dezenas de músicas melhores que esta (que não é nada má) que me parece um excelente exemplo para ilustrar a ideia de que, no fundo, as regras democráticas e a legitimidade do exercício do poder se medem mais pelo meu juízo moral sobre as políticas e os políticos que pelo cumprimento das regras aplicáveis a todos para permitir o acesso ao poder.
A mim não me preocupam especialmente Trump, Johnson, Le Pen, Bolsonaro (até ia acrescentar Ventura, mas convém não lhe exagerar a importância, para estar no mesmo patamar que Bolsonaro falta-lhe ganhar as eleições e para estar no mesmo patamar dos outros falta-lhe ainda muito mais), mas sim a assombrosa "transformação de qualquer pequena consciência individual em consciência legisladora do universo, dotada de imprescritíveis direitos a impor a sua vontade ao grosso da humanidade" e o apreço social de que gozam, em especial na imprensa, estas pequenas consciências individuais transformadas em imperativos éticos que todos temos de seguir, se não quisermos ser ostracizados.
Que tal deixarmo-nos de opiniões tremendistas sobre o exercício do poder nos países democráticos e concentrarmo-nos em apoiar regras básicas de dececência que permitam mudar os governos sem efusão de sangue, na boa parte do mundo em que tal não é, ainda, possível?
Meus caros decisores,
Podem ter a certeza de que os donos dos cafés e outros estabelecimentos comerciais selados no bairro da Jamaica sabem perfeitamente o que quer dizer esta imagem
E quanto a vossas excelências, não vale a pena passarem o tempo a queixar-se dos crescimento do populismo, ele nasce, cresce e multiplica-se pela vossa mão, de cada vez que selam cafés na Jamaica, ou deixam as escolas fechadas, ou dão a ideia de que é tão perigoso andar de transportes públicos que toda a gente tem de ter máscara, ao mesmo tempo que na vossa bolha social tudo se passa de forma diferente.
Num País marcado pelo formalismo, a escolha de António Costa Silva, um civil, como coordenador de um plano de recuperação económica, levantou imensas criticas.
A mim não me incomoda se ele é ministro ou tenha um qualquer titulo. Podemos estranhar que mantenha o seu atual cargo, que tenha feito um plano em dois dias e não receba qualquer compensação pecuniária . Mas em ultima analise, estes possíveis incómodos não têm qualquer importância. O que é relevante e conta é o trabalho que vai desenvolver e os resultados que apresentar.
Ninguém tem duvidas que a crise é inédita, profunda e que rumos orientadores e ações concretas são necessárias. O que importa o titulo, estatuto, nome e até currículo de quem o elabore, contando que seja bom? O que importa a cor do gato se caçar o rato?
O que realmente me preocupou foram as suas primeiras declarações no sentido de que será necessário mais Estado para resolver o problema. Fiquei gelado. Décadas de estudo levam-me exatamente á conclusão oposta. Melhor Estado, certamente. Mais Estado, não!
No sábado, no jornal das 20 da Sic, o pivô explicou-nos que a situação no Bairro da Jamaica se deve à especulação imobiliária. A política urbanística é a de um concelho comunista. Mas a gente subsidiada não toma nota.
No mesmo fim-de-semana, na Tvi, o pivô explica que a siuação no Brasil é «de longe» a pior do Mundo. O número de mortos por milhão no Brasil é inferior ao português, mas a gente subsidiada não repara. A gente subsidiada garante que os números no Brasil estão muito subestimados, mas jura pela veracidade dos de Portugal ou Espanha.
As televisões, em coro, afligem-se com os horrores infligidos por Trump aos EUA, que com 330 milhões de habitantes tem cerca de 120 mil mortos devido ao vírus. Pela mesma proporção a Itália deveria ter 19 000 óbitos, mas tem 33 000; a Espanha deveria ter 14 500 mortos, mas tem 27 000. Mas a gente subsidiada nunca vê defeito na Espanha gerida pelo manequim dos Preciados.
A tvi informa-nos, em rodapé, que correm nos EUA «violência e pilhagem contra o racismo». Sim: «pilhagem contra o racismo» ! A gente subsidiada jura pelos bandidos do Antifa, e diz que Trump submete a «repressão» as doces expressões de liberdade da violência, da pilhagem e do terrorismo.
A gente subsidiada não deve nada ao jornalismo, nem à espinha dorsal, nem ao pudor, como nada deve à inteligência. Deve tudo, apenas, ao subsídio.
O director de informação da tvi, defensor de que em tempos de crise se imponha a censura e se calem todas as vozes críticas, disse que a jornalista que escreveu que o maior índice de contágios no Norte do país se devia ao facto de as populações serem menos cultas e educadas, essa jornalista é do melhor que lá tem. Sendo o director o tipo de jornalista que é, não admira que considere superior a qualidade da jornalista que escreveu aquilo.
É verdade que tiveram que retratar-se, talvez por ainda não haver, na altura, subsídio do governo, e as audiências e publicidade privada terem alguma importância. Seja como for, aguardamos ansiosamente que a dita senhora explique agora a que se devem os picos de contágio na Grande Lisboa.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
aviso aos comunistas trotessequistas do BE: o jude...
O HPS é uma analista e peras, para além das altera...
Há um erro óbvio no cartaz; Montenegro não deveria...
O conselheiro anacleto ( premonição queirosiana r...
E se um desconhecido lhe oferecesse flores?