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O socialismo e os idiotas úteis acabaram com a TAP

por José Mendonça da Cruz, em 29.06.20

O senhor Neeleman, protagonista privado da aviação comercial, tem uma companhia aérea nos EUA, a Blue, uma companhia aérea no Brasil, a Azul, e tinha a TAP em Portugal. Tinha um plano a médio e longo prazo: aumentar o tráfego aéreo entre os seus hubs em Lisboa, nos Estados Unidos e no Brasil, recolher passageiros das rotas secundárias (os raios da roda) para alimentar os voos intercontinentais. Foi com esse plano que a TAP cresceu, pagou dívida, aumentou a frota, aumentou a receita e criou milhares de postos de emprego. 

Depois chegou a pandemia, que seria sempre um duro golpe no presente e futuro da companhia. Mas graças ao governo socialista e aos idiotas úteis, o golpe será fatal: a TAP vai regressar à insignificância e ao prejuízo crónico.

Pela mão dos socialistas e seus satélites, que abominam tudo o que seja privado e funcione, a privatização foi revertida. Soubemos desde logo que sem que o Estado mandasse, embora se responsabilizasse por prejuízos. (Os idiotas úteis aplaudiram.) E sabemos agora que com uma cláusula secreta assinada pelos socialistas que obriga o Estado português a indemnizar o accionista privado com uma penalização e mais o valor da empresa em caso de nacionalização.

A pandemia não seria necessariamente um golpe fatal, se o governo socialista tivesse sido célere no apoio à TAP, e tivesse sido competente na negociação com a UE, nomeadamente rejeitando a menorização da empresa. Em vez disso, o governo preferiu ser fraco com a UE e forte na hostilização dos privados que sanaram a situação da empresa e a fizeram crescer.

Obtendo a nacionalização da TAP, como desejavam, empurrando o accionista principal, os socialistas dispensam os hubs de Brasil e EUA, ou seja um futuro de crescimento e rentabilidade. Obtêm aquilo que sempre conseguem, a que se habituaram, e que propagandeiam como vitórias: uma companhia aérea pequena, irrelevante e deficitária, em resumo, uma empresa pública sem interesse económico ou social. Quanto aos idiotas úteis, os que em vez de uma empresa internacional rentável ansiavam por ter aviões a voar entre as suas capelinhas, obtêm exactamente aquilo contra que diziam protestar : uma empresa puramente regional, ou seja, provinciana. Podem todos limpar as mãozinhas à parede.

E já a seguir, já, jázinho, logo que chegue esmola do estrangeiro, os socialistas podem deitar-se a fazer o mesmo que o seu amigo Sócrates tanto amava: gastar rios de dinheiro em aeroportos sem aviões nem vivalma.

 

PS1. É tristemente divertido ver o debate público entre os dois herdeiros putativos de Costa, com o Medina das bicicletas a reforçar a posição do chefe na fuga a responsabilidades, através de críticas a DGS, ministra da Saúde e tudo quanto mexa; e o Nuno Santos do Porsche a enterrar a Tap e a si próprio com discursos de animal feroz sobre «intervenções assertivas»  e recusas de «ceder ao privado» (linguagem de troglodita que julgávamos ultrapassada), e sobre os «fanáticos» que não pensam como ele. Estamos nisto.

PS2. Lisboa estava a transformar-se numa interessante plataforma de distribuição de tráfego dos EUA e Brasil para a Europa, e da Europa para EUA e Brasil. Essa a utilidade de ter um aeroporto melhor. Quando constatarem quem nos substituirá nesse papel e nesse negócio, talvez socialistas e idiotas úteis tenham um pequeno vislumbre.

É a política que interessa

por henrique pereira dos santos, em 29.06.20

Os minoritários da covid não são uma massa uniforme de pessoas com ideias iguais, tal como os maioritários.

A clivagem essencial está entre os que defendem o que sempre foi feito para o controlo de epidemias e os que entendem que se justificam medidas extraordinárias nunca testadas antes à escala adoptada desta vez (e a outras escalas também não estão muito testadas mas vamos fugir dessa discussão).

A discussão técnica e científica da epidemia só interessa para nos permitir discutir as opções possíveis e a proporcionalidade de cada medida.

Se a epidemia matasse muito e se espalhasse rapidamente (normalmente não é o que acontece, mas vamos admitir que esta epidemia fugia ao padrão habitual em que uma expansão rápida não se compadece com mortalidades elevadas) talvez se justificassem medidas radicais de contenção da doença, se a epidemia se espalhar rapidamente mas tiver baixa mortalidade, então há medidas que devem ser evitadas por causa dos seus efeitos secundários na sociedade.

Isto não está muito longe do que fazemos com a prescrição de medicamentos, em que o que está sempre em causa é garantir que os efeitos positivos de cada medicamento é maior que os seus efeitos negativos.

A dificuldade numa epidemia é que a decisão não está centrada numa pessoa - o médico que acompanha o doente - e a informação necessária para tomar decisões não se consegue obter facilmente - por exemplo, quanto aumenta o risco de degradação da saúde quando aumenta a pobreza associada a uma medida com impactos económicos negativos e que parece razoável para gerir contágios?

Para o comum dos mortais não vale a pena perder muito tempo com a discussão estritamente científica, o que vale a pena é discutir política.

Ainda que assim seja, não é possível fugir à contaminação da discussão política por aspectos técnicos.

Por exemplo, se a infecção de transmite por aerossóis de forma relevante, há um conjunto de medidas que podem ser úteis ou necessárias ou as duas coisas, se se transmite essencialmente por grandes gotículas em contactos próximos frequentes e demorados, há outro conjunto de medidas, se se transmite principalmente por contacto com superfícies infectadas, há um terceiro conjunto de medidas.

Mas todas elas, se aplicadas à sociedade, com efeitos na gestão da epidemia, mas também na vida quotidiana das pessoas que não tem qualquer relação com a epidemia, são medidas de política, não são decisões técnicas.

É essencialmente por essa razão que a Direcção Geral de Saúde não deveria determinar coisa nenhuma, deveria fazer, como lhe compete, recomendações, com valor técnico, com certeza, mas sem valor legal, que seriam transformadas em normas legais, ou não, pelos processos normais de produção de legislação.

O que está em causa em toda esta discussão não é se a covid é muito mais impactante que a gripe (em Portugal, até agora, em mortalidade, manifestamente não me parece ser, com os números conhecidos, mas é uma mera opinião de quem não tem mais preparação que saber ler e usar o seu senso para formar uma opinião) mas sim se é razoável ou não ter casinos abertos e bares fechados.

Um exemplo concreto.

No Público de Sexta-feira há uma boa entrevista a Henrique Barros, presidente do Conselho Nacional de Saúde e do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Uma pessoa claramente mais qualificada que eu para discutir uma epidemia.

Nessa entrevista diz "Na fase anterior às vacinações generalizadas na infância, havia em relação a algumas doenças (que as pessoas assumima como pouco graves) uma espécie de entendimento que levava a que fossem encaradas como necessidade do crescimento. No sarampo, por exemplo, havia essa ideia de pôr os meninos todos juntos porque mais valia que se infectassem logo. E é esse tipo de discurso que se está a ouvir agora mas que é duplamente precipitado. Primeiro porque não sabemos sequer se a infecção dá imunidade duradoura. ... Em segundo, porque a maior parte das pessoas nessas idades são muito pouco assintomáticas (suponho que é um engano, deveria estar escrito são muito pouco sintomáticas) e isto pode querer dizer que estas pessoas que se consideram saudáveis ou têm os sintomas banais, como um cansaço ou uma tossiqueira, podem estar a transmitir a infecção a outras pessoas cujo prognóstico pode não ser tão benigno".

Por que razão, reconhecendo eu a autoridade de Henrique Barros nesta matéria e a minha falta de preparação, ao ler isto, fico de pé atrás?

Primeiro por uma evidente dissonância cognitiva (sem qualquer sentido pejorativo) ao falar da gestão de risco anterior à vacinação generalizada das crianças.

O problema não era a percepção das pessoas, o problema é que as doenças, como o sarampo, estavam na comunidade e, sem vacina, não havia maneira de evitar o risco de a contrair.

O que era uma questão de percepção generalizada, aliás correcta, é que havia um conjunto de doenças cujo risco era muito diferenciado com a idade, havendo um risco relativamente baixo de complicações na infância e um risco muito mais elevado na idade adulta (algumas com grandes riscos durante a gravidez).

E era essa análise de risco que fazia com que as pessoas, sabendo que não havia maneira de garantir que não apanhavam a infecção, preferiam controlar o que podiam controlar: ter a doença o mais cedo possível.

Uma pessoa que com todas as qualificações de Henrique Barros não entende o funcionamento da sociedade ao ponto de dizer o que disse sobre este assunto não me inspira grande confiança na discussão da melhor maneira de uma sociedade gerir o risco perante doenças que estão para lá do seu controlo.

Infelizmente, a minha disconfiança é acentuada com o que é dito posteriormente: reconhecendo que as pessoas mais novas não correm grandes riscos - acho extraordinária a utilização de casos de muito baixa probabilidade como demonstração de que não há risco zero, como tem sido frequente - sugere que a sua infecção deve ser evitada para não prolongar a cadeia de contágio até aos vulneráveis (ir à raiz do problema eliminando todos os contágios, defende Filipe Froes noutro lado, sem que ninguém lhe pergunte qual é a viabilidade de ter resultados com essa abordagem), sem que discuta se as medidas de política se devem concentrar em evitar todos os contágios ou se devem concentrar em reforçar a defesa dos mais vulneráveis.

Uma e outra opção são politicamente defensáveis, a primeira parece-me uma fantasia sem um único caso em que se demonstre a possibilidade de isso ser feito - liquidar todos os contágios com base em medidas não farmacêuticas -, a segunda parece-me mais viável, desde que não se tenha como objectivo reduzir o risco de contágio de pessoas vulneráveis a zero, porque isso é também impossível.

Em qualquer caso é de política que se fala e, para isso, os epidemiologistas, intensivistas, infecciologistas, virologistas, etc., não só também não pensam todos da mesma maneira, como não vejo razão para os considerar especialmente aptos a tomar melhores medidas de política que quaisquer outras pessoas.

Nesse aspecto concreto, António Costa tem razão em dizer que a informação técnica e científica que lhe é dada deixa muito a desejar.

O que escusa é de fingir que a sua obrigação não é tomar decisões, e assumir a responsabilidade dessas decisões, sem se esconder atrás da incerteza que é inerente ao conhecimento que temos da natureza e aos instrumentos de que dispomos para nos relacionarmos com ela.

É a vida António, é mesmo de política que se trata quando se discutem opções de gestão de uma epidemia, é ao governo que cabe fazer opções, não é à OMS, à DGS, às universidades e centros de investigação.

Eu sei que é injusto que se responsabilize o governo pelos efeitos das epidemias: é o vírus que infecta pessoas, não é o governo, tal como é injusto responsabilizar o governo de turno pela área ardida em cada ano, que depende essencialmente da meteorologia mas, mais uma vez, é a vida.

Já responsabilizar o governo por fechar administrativamente supermercados às oito ou às dez, ou optar por pôr a polícia a dispersar ajuntamentos ou fazer outras tarefas, ou ter bons ou maus transportes públicos, ou suspender ou não as consultas dos centros de saúde, isso é perfeitamente justo.

 

São muitos os mitos associados ao liberalismo. Os principais, de particular importância para a esquerda, são associar o liberalismo a capitalismo selvagem, á negação de politicas sociais e á “exploração do homem pelo homem”.

A ideia que pretendem vender é simples e até razoável, não fora assentar em falsos pressupostos:  que tudo é deixado á liberdade individual, que  o Estado não tem qualquer tipo de intervenção legitima, que o interesse próprio de cada individuo legitima a sua atuação e se sobrepõe aos interesses da sociedade, que não há lugar a proteger os mais fracos e a promover politicas sociais.

Até pode ser que alguém pense assim e se julgue um liberal. Há muitos liberalismos como há muitos socialismos e outros ismos.

O liberalismo, enquanto corrente,  assenta em pressupostos muito diferentes. Sendo, os mais essenciais, aqueles que defendem as liberdades individuais que não ofendem terceiros. Deixando ao Estado a obrigação de atuar quando é necessário. E só nessa circunstância se pede e exige que o Estado intervenha: o principio da subsidiaridade deve aplicar-se. Ora estes pressupostos, não apenas permitem mas obrigam á intervenção do Estado em muitas e variadas áreas. Da qual vamos focar apenas uma, a Economia.

A ortodoxia económica liberal, identifica claramente que o mercado e a liberdade dos agentes económicos é , de longe, o sistema económico mais eficiente. A liberdade individual permite, adicionalmente, ganhos adicionais ao desenvolvimento do cidadão. Mas também identifica patologias do mercado que compete ao Estado combater. É por isso  extenso o rol de exigências que um liberal impõe ao estado: correção de externalidades, regulação,  proteção da concorrência e atuação ativa em todas as falhas conhecidas de mercado . O que obriga a que um liberal não apenas seja adepto de Friedman mas também seja  Keynesiano. Ao contrario do que normalmente também é ventilado, as doutrinas de Keynes , não é uma “licença para matar” e intervir, em qualquer circunstância, pelo estado.

É pois ridícula a recorrente piada de mau gosto de que os Liberais são Estatistas quando as dificuldades apertam. O que se passa verdadeiramente é que os Liberais percebem, aceitam e exigem que, quando vem um maremoto, que impede o mercado de funcionar, lançando-o nas circunstâncias que Keynes descreveu ( na década de 30 ), se devam usar os instrumentos económicos preconizados, testados e validados, para evitar uma catástrofe prolongada. É exatamente em circunstâncias como a da pandemia  atual que se devem usar medidas de apoio e expansão por parte do Estado.

Alguns países, como a Alemanha, porque usaram no passado de contenção de medidas orçamentais, estão agora em condições ótimas para saírem mais rapidamente de uma crise e terem folga para reduzir ao mínimo a violência do impacto do sofrimento da sua população. Outros países, como Portugal, porque usaram políticas orçamentais injustificadas, estão agora numa posição frágil para enfrentar a crise, dependendo quase exclusivamente das ajudas Europeias para mitigar os cruéis efeitos da enorme depressão que ai vem.

Os Estatistas, porque exorbitam e não compreendem Keynes, gastam normalmente  mal e extemporaneamente os recursos produzidos pela sociedade. E quando chegam  momentos difíceis, não têm os meios para combater o sofrimento que sobre ela se abatem. É o caso Português: os Estatistas meios falidos e impotentes, o caso quase universal. 

 

 

PS: Esse é o drama de Portugal. Como os Estatistas nunca  admitem que o Estado tem limites á sua atuação, estamos a fazer de conta que existe capacidade para acudir á catástrofe económica e , em simultâneo, tentar conviver com infeções zero, que parece só ser possível com confinamento absoluto. Uma impossibilidade que conduz ao desastre. 

 

Filomena Martins versus Jorge Torgal

por henrique pereira dos santos, em 28.06.20

De vez em quando entretenho-me a ouvir os comentários diários de Filomena Martins sobre os números diários da covid que acho do mais divertido que existe nesta matéria, sempre gostei de non-sense em estado puro.

Só que Filomena Martins não é uma pessoa qualquer, é directora-adjunta do Observador.

Vou saltar por cima da opção editorial do Observador de pôr um jornalista a fazer comentários sobre números que é incapaz de interpretar em vez de pedir a alguém que perceba do assunto para fazer esse comentário - os jornalistas deveriam estar a fazer notícias, não vejo razão para passarem o tempo a fazer comentários para os quais não têm nenhuma preparação específica - e concentrar-me neste comentário, a partir do minuto 7.58. Note-se que dizer generalidades a partir de coisas sobre as quais não tenho preparação é o que faço aqui no blog, mas eu não tenho responsabilidade nenhuma, toda a gente que me lê sabe as limitações do que escrevo e consegue distinguir os assuntos sobre os quais sei mais, daquelas em que digo mais asneiras ou coisas mais imprecisas.

O que tem de interessante este comentário de Filomena Martins é que a jornalista que lhe faz perguntas refere explicitamente esta entrevista de Jorge Torgal em que comenta os mesmos números que Filomena Martins comenta.

André Dias, numa das várias trocas de mails que vamos fazendo (estive em férias no Facebook e portanto não tenho acompanhado o que por lá se passa, no principal canal de comunicação do André), chamou-me a atenção para esta outra entrevista de Jorge Torgal, também recente (ver a partir do minuto 40) que tem, em grande parte, as mesmas ideias da entrevista do Observador, mas em alguns aspectos, de forma mais clara.

Nesta entrevista à RTP3 Jorge Torgal diz uma coisa que ainda não me tinha ocorrido: no próximo Inverno, quando chegarem as constipações e gripes, vai ser bastante difícil gerir a percepção das pessoas das várias doenças, incluindo Covid, já que os sintomas são muito parecidos (por exemplo, digo eu, não Jorge Torgal, todo o mecanismo de separação covid e não covid no atendimento das urgências corre o risco de ruir às mãos das constipações e gripes que não se deixam distinguir facilmente da covid, na maior parte dos casos, pelo menos para as pessoas comuns).

Filomena Martins, que é uma jornalista que não sei se será especialista em saúde (não me parece, pela sua apresentação no Observador), resolve falar, falar, falar, sem dizer grande coisa, para não responder directamente ao que lhe é perguntado: como justifica o seu alarme face aos números da covid quando Jorge Torgal diz que os números em Lisboa mostram uma situação banal?

No pouco que acaba por dizer, essencialmente a sua justificação é a de que Jorge Torgal, médico, dermatologista com uma carreira inteiramente dedicada à epidemiologia e saúde pública, com formação e experiência no assunto, não está a perceber nada dos números, ao contrário de Filomena Martins, jornalista de generalidades.

Note-se que não tenho a menor simpatia por argumentos de autoridade e acharia normal se Filomena Martins questionasse os argumentos de Jorge Torgal (que são fortes, apresentando o contexto dos números, relacionando-os com outras doenças, articulando vários indicadores, etc., mas são evidentemente questionáveis), mas não, não é isso que Filomena Martins faz, o que faz é um processo de intenções - isto é tudo uma questão de perspectiva e Jorge Torgal quer é tranquilizar as pessoas, como as autoridades, e por isso diz o que diz - para concluir que Jorge Torgal (e todos os que não alinham no alarmismo de Filomena Martins), não tem a menor noção da realidade.

Uma demonstração fabulosa do jornalismo dominante, que jamais deixará que os factos influenciem o que o jornalista escreve ou diz.

Adenda, por causa de uma referência de Jorge Torgal, em que, aliás, acho que está a ser um bocado demagógico, fui ver os números da Nova Zelândia, aquele país em que a primeira ministra foi muito gabada por ter controlado, no fim do Verão, uma doença que será mais do meio e fim do Inverno. De facto, durante muitos dias não era detectado nenhum caso, a não ser um ou outro esporádico e com internalos grandes. Mas, na última semana, tem havido casos todos os dias, embora em número irrisório (2 ou 3, houve um dia em que foram quatro). O pico da época gripal na Nova Zelândia varia, mas o mais frequente é ser entre Julho e Agosto. Lá para Setembro ou Outubro teremos uma ideia mais clara sobre se a Nova Zelândia realmente venceu o vírus, como é frequente ouvir-se, ou se está na mesma situação que os outros: o vírus está em circulação e vai tendo flutuações, sendo provável que ocorram picos em circunstâncias que ainda conhecemos mal, bem como épocas de acalmia. A dimensão desses picos varia muito geograficamente, e ainda não sabemos bem que factores explicam essas variações.

Não é o PS, é o Regime

por Jose Miguel Roque Martins, em 28.06.20

Um comentador do Corta-fitas enviou-me um artigo do observador que  me tinha escapado, e que poderá consultar, aqui

 O seu autor, Pedro Caetano, denuncia violentamente o que considera ser  o nepotismo e o domínio do aparelho do partido socialista, por uma “elite” . Subvertendo o sistema democrático. Promovendo pessoas sem competência. Sendo responsável ultima pela mediocridade nacional.

Nada de novo, mesmo que o autor seja membro do partido socialista há mais de 30 anos e de nada indiciar que necessite de qualquer patrocínio político para a sua vida.

Concordo com a generalidade dos comentários feitos por Pedro Caetano.

A única ressalva que gostaria de fazer é que, se substituirmos  o PS pelo PSD, o texto continua a fazer sentido.

O problema em Portugal não é o PS. É um regime que tem que ser alterado estruturalmente e que não dá as melhores respostas aos problemas da população. Partidos como o Bloco de Esquerda e o  Chega, são respostas de cidadãos á beira de um ataque de nervos, que continua a crescer em números.

Os 45 anos de Abril já provaram que , o que temos, não presta.

 

PS: Uma regeneração do sistema seria o mais desejável. Se não acontecer, poderá redundar numa verdadeira revolução.

Domingo

por João Távora, em 28.06.20

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: Não perderá a sua recompensa».


Palavra da salvação.

Vitor Bento

por Jose Miguel Roque Martins, em 26.06.20

Não conheço nem nunca vi Vítor Bento. Mas tenho ao longo dos anos tido o enorme prazer de ler e ouvir o que ele tem para dizer. Hoje, comecei o dia a ouvir uma entrevista que deu á rádio Observador. Mesmo quando não concordo plenamente com ele, fico deliciado com a sensatez, conhecimento e inteligência dos seus argumentos.

É maior a reverência longínqua, diziam os Romanos. Estou, no entanto, plenamente convencido que Vítor Bento, como muitos outros, é mais um caso de desperdício nacional de talento e capacidade. Não que a sua carreira não seja brilhante.  Mas parece-me que, para além da sua enorme dimensão intelectual e enquanto economista, é, naturalmente, um Estadista.

Quando olhamos para a qualidade dos políticos que nos tem governado ao longo dos anos, é automático fazer a pergunta: como é possível que Portugal possa desperdiçar o contributo de pessoas como Vítor Bento na mais alta condução dos assuntos nacionais?

Esta noção de que, potencialmente, nada falta para sermos um tremendo País mas nos contentamos com a mediocridade do bom aluno que chumba no fim do ano, deprime-me.

A OMS e os gambuzinos

por henrique pereira dos santos, em 26.06.20

Por razões que francamente não entendo, a OMS continua à procura de Gambuzinos.

Quanto ao ressurgimento de casos na Europa, o melhor mesmo é olhar para a mortalidade excessiva no Euromomo

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Quanto à aceleração global da pandemia, o melhor é olhar para a mortalidade registada como Covid.

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Infelizmente não existe uma espécie de euromomo global que nos permitisse saber como está a mortalidade excessiva, o máximo que podemos é comparar os cerca de 5 200 mortos diários covid dos últimos dias com a média diária global de mortos no mundo que deve andar pelos 150 000 (quase 50 mil por doenças cardiovasculares, 25 mil de cancro, 10 mil de doenças respiratórias, 7 mil de doenças respiratorias infecciosas - que inclui a gripe -, etc., se os dados desta página estiverem razoavelmente certos).

Dissonâncias

por henrique pereira dos santos, em 26.06.20

Para combater o facto de haver, como seria de esperar, um número apreciável de testes positivos de pessoas assintomáticas, resultantes em primeiro lugar da coabitação, o governo resolveu, outra vez, recorrer à patusca figura jurídica do dever cívico de recolhimento.

Como evidentemente não faz sentido nenhum que pessoas que não estão doentes sejam impedidas de trabalhar, esse dever, na periferia operária de Lisboa, Amadora, Odivelas e parte de Sintra, tem várias excepções, uma das quais resulta de se determinar que não existe esse dever para se ir trabalhar.

Eu não sei bem quem contrataram para desenhar as medidas de gestão da epidemia, mas sei que é gente com muito sentido de humor.

Depois de determinarem que crianças têm de manter distâncias sociais nas creches e escolas, depois de determinarem num dia que os supermercados fecham às oito e no dia seguinte já podem fechar às dez agora fizeram umas regras que sugerem que as milhares de pessoas que se levantam às cinco e seis da manhã (ou antes) na Amadora, Odivelas, Sintra, etc., o fazem para ir jogar golfe ou para ir à caça, de maneira que o relevante para gerir a epidemia é regular essas saídas de casa.

Só que temos gente de inegável bom senso a desenhar este rendilhado de medidas administrativas e por isso, com certeza, é preciso equilibrar as regras para que as poucas pessoas que vão trabalhar possam continuar a sua vida.

É que se em vez destas regras se deixasse as pessoas gerir as suas vidas e se reforçassem os mecanismos dos sistemas de saúde para tratar dos doentes, de certeza que finalmente se materializariam os cenários apocalípticos que nos andam a prometer desde o início e que teimam em não se verificar em lado nenhum.

Lesivos

por José Mendonça da Cruz, em 25.06.20

O que se ouve nas tvs sobre a questão da TAP, cujos equivalentes já estão resolvidos segundo o interesse nacional nos países desenvolvidos, é a linguagem desadequada do ministro Santos, sempre ideológica, sempre ofensiva e suspiciosa da iniciativa privada, sempre estranha ao interesse nacional; e as fluentes patetices de Catarina Martins, que acha que o accionista privado da TAP é «lesivo».

É assim mesmo que se garante a falência de uma empresa interessante em particular, a fuga do investimento em geral, e a pobreza no fim.

Se cá nevasse fazia-se cá ski

por henrique pereira dos santos, em 25.06.20

Onde se dá o grosso da transmissão da covid?

Em coabitação.

O que pretendem as medidas que têm vindo a ser tomadas?

Que aumente o tempo de contacto na coabitação.

Eu sei qual é o argumento usado para defender isto: só há transmissão em coabitação porque alguém foi infectado fora de casa, se ninguém sair de casa, quebramos a cadeia de contágio e resolve-se o problema do contágio em coabitação.

Como lá muito atrás dizia um cientista sobre esta epidemia, é verdade que se em todo o mundo, ao mesmo tempo, toda a gente ficasse quatro semanas em casa, o vírus desaparecia.

Claro que esta solução implicaria que os doentes deixariam de ter assistência médica, morrendo em casa, infectando os de casa, ninguém recolhia o lixo, ninguém ia às compras, ninguém consertava uma torneira estragada, ninguém resolvia um curto-circuito, etc. e, ao fim de quatro semanas, uns tinham morrido, outros tinham deixado de ser infecciosos, não tendo o vírus como sobreviver.

O essencial era que isto fosse cumprido por todos, em todo o mundo, ao mesmo tempo.

Aparentemente a orientação política (há outra? a ideia de que existe uma orientação técnica e outra política na gestão de fenómenos sociais de larga escala parece-me completamente absurda) que temos em execução parte do princípio de que se ficarmos todos em casa tempo suficiente, quebramos as cadeias de contágio, mas sem atender ao pressuposto base inerente a essa política: todos têm de fazer o mesmo, em todo o lado, ao mesmo tempo, mais ou menos quatro semanas.

Ou seja, a alternativa à política clássica de tratar doentes, acompanhar cadeias de contágio conhecidas e preparar os serviços de saúde para responder às necessidades, sabendo que não há doenças potencialmente fatais sem doentes e mortes é, pelos vistos, a ideia de que se cá nevasse fazia-se cá ski.

E, com base na ideia de que se cá nevasse fazia-se cá ski, está o país inteiro a pagar uma enorme pista de ski.

Soluções perfeitas para problemas desconhecidos

por henrique pereira dos santos, em 25.06.20

Ninguém sabe as razões pelas quais algumas regiões e locais foram fortemente atingidas pela epidemia e outras regiões não, havendo os que dão ênfase aos factores sociais (densidade populacional, comportamentos, grandes ajuntamentos, etc.) e os que dão ênfase aos factores que influeciam a actividade viral (factores ambientais, nomeadamente, poluição, raios ultra-violetas, características do vírus, etc.) sendo provável que todos tenham uma parte da razão, só que não sabemos qual é a parte em que cada um tem razão.

Pelas mesmas razões, ninguém sabe de onde aparecem os surtos locais (aqui, na Alemanha ou na Califórnea) e os factores que os influenciam, havendo os que acham que tudo resulta de comportamentos irresponsáveis (brandindo a sua condenação moral pela irresponsabilidade dos que fizeram uma festa em Odiáxere) e os que acham que o vírus anda por aí e, por razões que não sabemos, tem picos que tanto podem ser atribuídos a festas (estes, de maneira geral, lembram que as festas se fazem a partir de círculos sociais próximos e portanto é difícil saber se a festa é a origem do surto naquela bolha social ou se é a circulação do vírus nessa bolha social que põe os holofotes nessa festa) como serem completamente inexplicáveis, como os surtos recentes em lares (por exemplo, o surto em Reguengos não é explicável por qualquer das muitas razões apontadas para o que se passa em Lisboa).

O que sabemos, de forma absolutamente segura, é que os contágios resultam, por esta ordem, de coabitação, de contexto laboral e de contexto social.

Infelizmente a comissária política que tutela esta área não tem explicado as percentagens que cabem a cada uma das situações, mas suspeito que a esmagadora maioria dos casos estão associados à cohabitação.

Pois bem, não sabendo nós de forma clara as razões para o que se está a passar - ou seja, havendo elevada incerteza na caracterização do problema - sabemos de certeza que a principal origem de novos casos está na coabitação (que não se resume a famílias nucleares, inclui lares, albergues, dormitórios de trabalhadores deslocados, etc.).

A resposta em que, de acordo com o Público, o governo está a pensar?

Voltar ao dever de recolhimento domiciliário.

Devo dizer que quando a DGS manda instruções para a noite de São João na manhã do dia 24de Junho, ou quando a senhora directora geral explica as excepções de distanciamento na aviação com o facto das pessoas viajarem a olhar para a frente, isso não me preocupa excessivamente e tem a virtude de me fazer rir.

Já quando, ao fim destes dias todos de exposição diária, nunca houve a assunção de responsabilidades do que quer que tenha corrido mal - fiquei especialmente incomodado, quando surgiram os primeiros problemas em lares, ao ouvir a senhora directora geral fugir de quaisquer responsabilidades referindo o facto das entidades gestoras dos lares não cumprirem os planos de contingência -, aí sim, fico preocupado: somos governados por responsáveis que ignoram que quando se perde uma guerra, a responsabilidade nunca é dos soldados, é sempre dos generais.

E generais que responsabilizam os soldados pelas derrotas são generais extraordinariamente perigosos, não para os seus inimigos, mas para os homens que os seguem, porque não só não aprendem com as derrotas, como tendem a procurar as soluções que garantam que salvam a sua pele e estatuto em vez de procurarem soluções que salvem o máximo possível dos seus homens, mantendo os objectivos que justificam a guerra.

Custos da Pandemia

por Jose Miguel Roque Martins, em 25.06.20

Discutimos muito frequentemente as vantagens e desvantagens das medidas de combate á Pandemia. O que, em abstrato e sem estimar os beneficios e custos de cada medida, tornam as discussões estereis. È verdade que ainda não existem dados. Mas já começam a existir algumas previsões que nos dão algumas ordens de grandeza. 

Ontem o Guardian  revelou  as ultimas previsões do FMI para o impacto da Pandemia na Economia Mundial: 10,5 biliões de euros.

Este numero não é mais do que uma estimativa (ainda)  grosseira das perdas financeiras incorridas pela pandemia, mas é uma ordem de valor informada. Como se pode ver, são muitos os paises que, só este ano, vão perder mais de 10% do seu produto. 

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Não se conhece o numero de vidas salvas pelas medidas que Estados e individuos tomaram. Apenas como escala, se 10 milhões de vidas forem salvas, cada vida custou , aproximadamente, 1 milhão de Euros. Assumindo os valores desta previsão e que os custos são sobretudo resultantes das medidas de combate á pandemia. 

A estes valores financeiros há a somar as vidas perdidas pelo atraso de cuidados médicos ( não encontrei estimativas crediveis) e por aqueles que resultarem de fome, subnutrição e outras caisas de morte associadas á pobreza. 

As estimativas de investigadores do Banco Mundial, apontam para que , entre 71 e  100 milhões de pessoas entrem em pobreza extrema, previsões  que têm vindo a aumentar  ao longo dos ultimos meses.  Uma percentagem ( ainda não estimada)  desses novos pobres irão morrer. 

Captura de ecrã 2020-06-24, às 18.22.45.png

PS: Ainda estamos longe de perceber os verdadeiros custos da crise economica provocada pelo confinamento. Mas seguramente estamos a falar de um valor por vida salva, muito superior ao que os SNS dos paises desenvolvidos assumem normalmente noutras doenças. Sobretudo se ás vidas salvas subtrairmos as vidas que se vão perder.

 

 

O mercado do cidadão

por José Mendonça da Cruz, em 24.06.20

Os demagogos eleitos ou nomeados que andam por aí a impor normas, multas e proibições deviam fazer uma visita (por obrigação, e prolongada) à Loja do Cidadão do Saldanha, no mercado 31 de Janeiro. Deve ser o nome do sítio, 31 de Janeiro, que escusa as instalações de um mínimo de ordem, asseio, cuidados sanitários e, evidentemente, eficácia. 

As coisas que eles já não dizem

por José Mendonça da Cruz, em 24.06.20

Nos tempos em que os governos não são da sua simpatia -- ou seja, socialistas, e de preferência com Bloco à tiracolo -- os serventes da Sic utilizam um instrumento para manchar qualquer notícia que possa ser considerada positiva para o executivo, ou dar a ideia de que algo foi feito bem e competentemente. No fim da matéria de facto, e terminada a intervenção de algum protagonista, os serventes acrescentavam: «Só não disse...», após o que inscreviam a sua crença de que na verdade tudo corria mal.

Com governos como os de Guterres, ou Sócrates, ou Costa, o «só não disse» é metido na gaveta. Ao contrário, quando alguma coisa corre «aparentemente» mal, e em vez do estribilho do «só não disse», a Sic parece buscar desesperadamente «o que falta dizer», e corre zelosa a entrevistar um ministro, um membro qualquer do governo, um sociólogo, alguém, para que diga que está tudo supimpa no mundo dos milagres e maravilhas.

Ontem, a Sic (e todos os orgãos de comunicação social) noticiou que a criminalidade violenta tinha aumentado 3% em Portugal no ano de 2019. Donde, a Sic foi a correr «auscultar» o ministro da administração interna, Eduardo Cabrita, que a descansou dizendo que Portugal é um dos países mais seguros do Mundo (imaginem o que a Sic de antanho diria que o pobre homem «só não disse» sobre o seu próprio descaso).

Ontem, a Sic noticiou (e todos os orgãos de comunicação social) que há um surto grave de infecções do coronavirus em Reguengos de Monsaraz. Donde a Sic informou pressurosamente que estava a ser feito um rastreio exaustivo (elaborem sobre como a Sic se divertiria com a diferença entre prevenção e aflição).

Ontem, a Sic noticiou (e todos os orgãos de comunicação social) que o aumento de infectados em Lisboa esgota os meios de vários hospitais da região de Lisboa, e coloca outros próximo do esgotamento. Logo, a Sic «colheu» declarações do secretário de Estado da Saúde, que disse que era assim, mas que havia outros  hospitais que estavam muito bem (entusiasmem-se com as oportunidades que a Sic de antanho teria para vituperar amplamente a criatura pelo que «só não disse»).

Eu julgo que é supérfluo elaborar sobre se isto é jornalismo ou outra coisa, e que tipo de coisa ela é. O certo, é que no domínio deste tipo de «informação» extravagante, aguardo ansiosamente que a senhora da tvi que era, segundo o seu director de informação, do melhor que lá têm e que acusou o Norte de ser pouco culto, queira explicar agora, a propósito dos números de Lisboa, se eles se devem ao facto de -- como ela antes dizia -- uma «população menos educada e mais pobre estar a potenciar uma maior incidência da epidemia» na capital. [Há, evidentemente, duas boas razões para que a senhora jamais faça isto. A primeira, é que foi repreendida. A segunda, é porque agora é verdade. Mas, evidentemente, não se pode dizer que há bairros degradados, transportes inadequados, e gente pobre, menos educada e ferreamente confinada num paraíso socialista.]

 

António costa, vendedor de ilusões e de sonhos

por Jose Miguel Roque Martins, em 24.06.20

Com total legitimidade democrática, António Costa ascendeu ao poder. Surfou a onda do crescimento iniciada pelo governo anterior, baseada essencialmente no turismo, que nunca teria crescido sem a liberdade que foi, então, dada aos privados.

Felizmente manteve a tão necessária ortodoxia financeira do governo anterior. As medidas tomadas pelo governo de Passos Coelho, antes tão criticadas, não foram alteradas, em termos fiscais, o que explica a subida da carga fiscal. Apenas “austeridade” passou a chamar-se “contas certas”.

Conseguiu um deficit menor do que o imposto pela Europa. Mas deixou-se de seguir, como antes, uma política mais troika do que a troika. Passámos foi a ser fiscalmente responsáveis.

A única reforma digna de nota que implementou, foi, para os funcionários públicos, a reposição dos salários, alguma progressão nas carreiras  e a diminuição das horas de trabalho para 35 horas semanais. Uma “reforma” que permitiu também dizer que se investia mais na Saúde.

Os outros Portugueses, continuaram basicamente na mesma mas com diminuição do desemprego, o que foi muito bom.  O turismo, com muito esforço e dificuldades, assente na precariedade e em baixos salários, foi o motor das melhorias alcançadas. Não foi um caminho ótimo, mas a única saída possível para todos aqueles que tinham caído na vala comum.

Em síntese, objectivamente, António Costa nada fez de relevante ou novo, durante uma legislatura inteira, a não ser transferir dinheiro do sector privado para o publico, aproveitando a folga concedida pelo turismo.

Já em termos psicológicos, estamos na presença de um verdadeiro prodígio que, é verdade, envergonha Passos Coelho.  

Conseguiu convencer os Portugueses de que a austeridade tinha acabado e que tinha sido o responsável por um crescimento económico que aconteceu apenas apesar das suas políticas. E o seu optimismo, conseguiu devolver um sentimento de esperança aos Portugueses, o que é verdadeiramente positivo e extraordinário! Créditos lhe sejam concedidos.

Acontece então a Pandemia que, temos que reconhecer, é um desafio formidável para qualquer um.

O pior é que o forte de António Costa não é enfrentar desafios. É fazer de conta que eles não existem. O estúpido do coronavírus, ainda por cima, não ouve nem discute. Um problema adicional.

Quando precisamos de um primeiro ministro, continuamos a ter apenas um super vendedor! Podemos, apesar de tudo, contar com a capacidade de nos iludir de António Costa. Se a pandemia não é contida, como acontece em Lisboa ( e noutras cidades da Europa), nada como uma explicação fácil. Os conselhos e freguesias atacadas, parecem ser aqueles em que mais gente depende dos apinhados transportes públicos. Mas o problema identificado é, primeiro,  na construção civil. Depois de jovens festivos e inconscientes. Como não se consegue resolver o problema dos transportes, como não podemos deixar de trabalhar, então podemos sempre instituir o fecho de cafés e comercio ás 20.00. Se nada funcionar, então é porque existe alguma nova justificação, apesar dos assertivos esforços anteriormente feitos. Garantida é uma nova explicação que, se não acalmar os ânimos (as pessoas estão outra vez em casa), pelo menos permite não assumir incapacidades. É o que António Costa faz como ninguém, iludir o seu publico, animar e fazer sonhar os Portugueses, dizendo o que eles querem ouvir.

Não está sozinho neste tipo de discurso  por este mundo fora. Nem é negativo animar uma população prostrada.

Mas nem o maior mestre consegue mentir, a todos, sempre. Nem é possível resolver problemas objectivos, sem primeiro procurar e  aceitar as realidades.

As ilusões e sonhos de António Costa e dos Portugueses, contra todos os meus desejos, parece-me que vão fatalmente bater numa parede.

PS: A profunda crise que se vive nas democracias Ocidentais e o aumento do radicalismo, tem muito a ver com esta forma de estar na política.

O reforço do aparelho repressivo

por henrique pereira dos santos, em 24.06.20

suecia.jpg

Num outro contexto, ando a ser acusado de nem percebo o quê por algures, lá atrás, ter feito referência a uma coisa em alemão, língua de que não percebo raspas. Espero que agora, usando um boneco em sueco, não me venham também dizer que isso tem um significado qualquer retorcido para além do significado normal: o google tradutor é uma coisa muito útil.

A informação diária sueca sobre a covid que está nas bases de dados mais usadas é exasperante porque tem variações muito acentuadas unicamente decorrentes do registo administrativo da informação.

Este boneco, da página oficial sueca sobre a covid tem informação interessante que, no conjunto, nos ajuda a discutir o que faz falta discutir: que medidas de política são úteis para convivermos com esta epidemia e com as próximas?.

À esquerda temos o número de casos (confirmação laboratorial) por classes de idade. No meio das três figuras da esquerda temos o número de cuidados intensivos, por classe de idade e na direita desses três gráficos, o número de mortos, também por classe de idade.

À direita temos três gráficos que dizem respeito aos mesmos indicadores (de cima para baixo, total de casos, cuidados intensivos e mortes) mas com a totalidade diária, ao longo do tempo.

O primeiro comentário, por mais repetitivo que seja, é o de que o número de casos depende da existência da doença, com certeza, mas depende também do número de testes e por isso é uma informação que, sendo essencial, deve ser interpretada sabendo bem as suas limitações.

Se olharmos apenas para o gráfico de cima, à direita, com a totalidade de casos, a coisa parece muito preocupante, com um aumento mais ou menos contínuo e uma estabilização em níveis muito altos.

Mas olhando para o número de casos em cuidados intensivos e mortes, a coisa é completamente diferente e a curva sueca não é, essencialmente, diferente das dos outros países. Uma nota para lembrar que falar dos números totais de cada país é uma simplificação excessiva porque se esbatem as enormes diferenças locais e regionais de incidência da doença, cuja explicação está longe de estar perfeitamente estabelecida.

O exemplo sueco tem uma grande virtude: permite deixar de lado as discussões sobre a real eficácia das medidas de confinamento radicais e coercivas, do género de fechar as lojas às oito da noite, porque, embora tendo havido, e bem, uma política de contenção social no contexto da gestão da epidemia, não se adoptaram medidas radicais de confinamento, na ausência das quais vários modelos matemáticos previam milhares de mortos (nomeadamente na Suécia), acabando por influenciar a aceitação das medidas absurdas com que temos convivido.

O que me interesse neste boneco é fazer notar que a incidência de casos, por idades, é uma coisa, a incidência de cuidados intensivos por classes etárias é outra e, por fim, que a incidência da mortalidade tem ainda outra distribuição etária.

É de supôr que a quase ausência de cuidados intensivos acima dos 90 anos, e a sua reduzida expressão acima dos 80, corresponda à aplicação do princípio médico de que só se devem aplicar tratamentos fortemente impactantes em doentes para os quais se espera que essa terapia represente um ganho real que a justifique (e não, não é apenas por causa dos custos é, em primeiro lugar, para preservar o doente e o que lhe resta de vida, evitando o encarnecimento tecnológico que nos leva a pretender ir ao limite da resistência à morte, mesmo quando isso se traduz num prolongamento da vida sem qualquer qualidade).

Muito provavelmente não se trata de uma segmentação por idade mas sim pela condição física que, naturalmente, se relaciona com a idade.

Ou seja, a ideia de que ao aumento de casos corresponde, necessariamente, um aumento de cuidados intensivos e, consequentemente, de mortalidade, é uma ideia que pode ser aceite, mas tendo em atenção que essa correspondência não é nem directa, nem perfeita: se o aumento de casos é em idades abaixo dos sessenta anos não parece haver grande problema, se o aumento é acima dessa idade parece haver um problema menor entre os 60 e os 70 anos, um problema sério acima dos 70 anos e um problema muito sério acima dos oitenta anos.

Impedir jovens de ir brincar ao São João nas praias de Matosinhos pode ser muito útil politicamente, pode até satisfazer a necessidade que todos temos de ter a sensação de que controlamos o que nos rodeia, mas a verdade é que não parece ter grande utilidade na gestão da doença.

Que se informem as pessoas dos riscos que correm, que se peça que as pessoas tenham uma boa noção das pessoas com quem estiveram em contacto para rapidamente se tracearem cadeias de contágio se elas existirem, que se peça às pessoas que estiveram nessas aglomerações que contactem os serviços de saúde o mais rapidamente possível se houver algum sintoma, que se preparem os serviços de saúde para respostas rápidas e eficazes a estas necessidades de traceabilidade e resposta à doença, tudo isso parece sensato.

Que se pense que é preciso forçar as pessoas a deixarem de ser pessoas, à força se for preciso, e que isso se faz reduzindo horários de centros comerciais ou proibindo a venda de bebidas alcoólicas em alguns sítios e reforçando o aparelho repressivo em vez de reforçar o aparelho de saúde, isso é que me tem custado a aceitar.

Santo Efraim nos valha...

por João Távora, em 24.06.20

Santo Efraim.jpg

Isto agora do governo pretender que depende do comportamento de cada um não ser infectado com o COVID 19 é uma crença tão conveniente quanto perigosa, a despertar os magotes de torquemadas adormecidos. Sem que isso dispense a prudência, enquanto não houver uma vacina a doença será uma ameaça de que ninguém está livre a não ser que se encerre dentro duma redoma. Já dizia Santo Efraim, compositor e doutor da igreja (306 - 373 DC) que são 3 as grandes tentações com que nos confronta uma crise como a que vivemos: a preguiça, o desânimo e a ânsia de domínio – esta última é no meu entender a mais daninha.

Cloaca

por José Mendonça da Cruz, em 23.06.20

Na Tvi, Pedro Pinto noticia que há escândalo em Madrid onde morreram «muitos velhinhos». Será cretino se lhe ocorreu aquilo, ou será cretino/a quem escreveu o texto, e cretino ainda quem aceitou ler a coisa. É indiferente. A Tvi é uma cloaca. 

Matar o pai...

por João Távora, em 23.06.20

estátua.png

Quem ingenuamente pensou que o ocidente tinha entrado na adolescência (etapa para a maturidade) no Maio de 68 poderá agora, em face à pandemia de vandalização de estátuas, concluir que hoje é a delinquência, ela própria legitimada pelo relativismo das últimas décadas, que se sente encorajada a assaltar o poder. Sempre a descer. Muitos acreditam que a sociedade existe como corpo pensante, mas ela deveria ser apenas a soma das partes de indivíduos solidários e com vontade própria. Se fosse verdade que ela se move na história como um cardume ou como um bando de pássaros migratórios, dir-se-ia que estes ataques às estátuas não eram mais que um fenómeno de automutilação grupal, uma espécie de rebelião contra o passado, como a revolta dum perturbado "adolescente colectivo" contra o pai, incriminado por todos os seus condicionalismos genéticos e culturais. A culpa pela insatisfação que carregamos vida fora já não é dos corruptos, dos gananciosos, dos tiranos; o frigorífico está sempre fornecido e a ignorância e alienação é tolerada e distribuída democraticamente pela televisão, social media e noutras fórmulas mais perversas. Curioso como o combate civilizacional (?) depois do despotismo e da desigualdade agora se está a virar contra o mais inexpugnável dos inimigos: a História. Na certeza de que, se sobrevivermos (como civilização) a esta contenda, um dia seremos julgados por ela, mais cedo do que imaginamos. Acontece que uma rebelião contra as nossas origens é sempre uma forma de autodilaceração. Porque para nos olharmos ao espelho e prosseguirmos em frente teremos sempre de aceitar o pai.

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