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Disclaimer: eu não percebo nada disto
Deu-me para esta coisa inglória e quixotesca de procurar contribuir para a racionalidade na gestão da epidemia em curso.
Como não percebo nada de epidemiologia (as minhas primeiras perguntas sobre o assunto vêm de alguma coisa que sei de biologia da evolução e a sua relação com microorganismos e afins), naturalmente fui procurando quem dava respostas que eu conseguia encaixar no que achava que sabia para, se fosse caso disso, mudar de ideias.
Durante este tempo, que tem sido de aprendizagem mais intensa do que pensei, ocupando-me muito mais tempo do que pensei (felizmente tenho de ir esvaziando o congelador que coisas que estão mais ou menos cozinhadas há algum tempo, até porque com o fim das visitas de filhos e netos tudo dura muito mais), fui ouvindo com atenção pessoas que me pareceu que tinham informação fidedigna e que me conseguiam demonstrar de onde vinha o que dizia, uns por me darem referências bibliográficas (para além de explicações coerentes e verificáveis à medida que o tempo passava), outros por experiência directa.
Desta opção resultavam duas visões paralelas que raramente se cruzavam.
Quando se olha para os dados da epidemia, enquanto epidemia, a coisa não está a ser muito diferente do que seria um forte surto gripal, sobretudo em mortalidade, que é o que interessa.
Quando se olha para a experiência de quem está na linha da frente, mesmo descontando todas as distorções que possam existir por se estar a olhar para a doença e para o doente, e não para a epidemia e para a sociedade, havia manifestamente diferenças relevantes para os surtos gripais, mesmo aqueles mais fortes de que vamos dando conta pelo caos nas urgências dos hospitais (que são recorrentes em surtos gripais fortes, quer aqui, quer em Itália e noutros países) e pelos picos de mortalidade que podemos facilmente ver aqui (os que não são daltónicos, como me fazia notar ontem um amigo). A talhe de foice, agora que fui olhar para os gráficos para pôr a ligação acima, há um aparente deslocar para a Primavera do pico de mortalidade associada à gripe e, mais interessante (mas muito mais especulativo), a subida de mortalidade dos últimos dias parece começar antes de começarem a ser atribuídas mortes ao Covid, o que poderá querer dizer (pura especulação, segundo aviso) que a epidemia já estava em curso, silenciosamente, antes de termos dado por ela, o que é coerente com o episódio dos doentes não diagnosticados com a covid em Santa Maria.
Procurando casar estas duas linhas de informação, o que me parece (eu não percebo nada disto, repito) é que se é verdade que esta epidemia não está a ter efeitos na mortalidade muito diferentes dos surtos gripais (podendo o seu efeito estar mesmo empolado pelo facto deste Inverno e o anterior terem sido bastante benignos do ponto de vista da gripe), esta doença não tem o mesmo impacto no sistema de saúde e nos profissionais de saúde por ser mais agressiva quando desencadeia pneumonias (os dois pulmões são afectados e a passagem para a falta de ar é mais rápida), a resolução do caso médico é bastante mais demorado (até por não haver medicação a que a pneumonia ceda) e a capacidade de contágio, que já de si é elevada (como a da gripe também é, não sei o suficiente para ter a menor ideia sobre se na mesma ordem de grandeza ou não), atinge especialmente os profissionais de saúde, nomeadamente porque as operações iniciais para ventilação do doente potenciam o contágio e alargam as formas de contágio.
Se isto for assim, é perfeitamente compreensível que uma doença cujo impacto na mortalidade seja semelhante ao de um surto gripal forte, tenha um impacto muito maior nos serviços de saúde (porque o tempo de ocupação de camas nos cuidados intensivos, por doente, é maior), e também no pessoal de saúde que está na linha da frente, onde existem muitos profissionais que manifestamente estão em grupos de risco, em especial os médicos homens mais velhos e experientes que têm histórias de tabagismo, hipertensão, diabetes, asma, etc..
E que isso potencie o medo social, até por esta tendência dos jornais para acharem que entrevistar bombeiros num decurso de um fogo é a melhor forma de produzir informação sobre a gestão do fogo: não é, é uma boa forma para dar emoção à informação, mas a informação não melhora com isso.
Como alguém poderia ter lido os meus posts anteriores como desvalorizando esta epidemia (e, provavelmente, teria lido com razão) achei por bem clarificar este ponto que, não alterando o meu ponto de vista sobre a gestão da epidemia numa óptica mais alargada, me faz dar mais importância ao aspecto da gestão dos serviços de saúde e dos profissionais de saúde.
Não é que eu passe a achar que é possível achatar curvas de epidemias instaladas com esta capacidade de contágio através de confinamentos sociais extensos, é simplesmente achar que, na protecção dos mais expostos, para além dos que estão nos grupos de risco que sempre identifiquei, a gestão dos serviços de saúde e dos profissionais de saúde, em especial os que estão em grupos de risco, deveria subir uns degraus na prioridade da preparação para um eventual novo surto no próximo Inverno.
Coronavírus hoje em Portugal – 2.995 casos, 43 vítimas mortais
As rotinas começam a implantar-se: pela fresca, antes de me sentar ao computador, atrevo-me a uma corrida de meia hora pelas redondezas, um exercício físico que me garante sanidade mental para o confinamento a que nos vamos habituando com o passar dos dias - com disciplina e menos altercações do que seria de esperar. Esta manhã quando batiam as 11,00hs nós os cinco respondemos ao desafio do Papa Francisco e rezámos um Pai Nosso em comunhão global. A oração em família é fundamental não só para fazer chegar o nosso clamor aos Céus, mas também para estimular o sentimento de corpo do grupo.
Com a família toda em casa dia após dia, temos estado a cozinhar a todo o vapor, a tentar agradar às hostes, mas chega a uma altura que o frigorífico se enche de caixinhas e tachos com restos, que hoje ao almoço serviram como uma refeição “extra”. O miúdo mais pequeno lá vai cumprindo as tarefas escolares a custo. Do colégio mandam-nos fichas e somos nós, os pais inocentes, que temos de assumir o difícil papel de professores. Comprova-se assim que o provérbio popular que diz “santos da casa não fazem milagres” não está longe da verdade. Ontem, quando nos apanhou a meio de uma conversa a respeito do COVID19 e a possibilidade de se alargarem os testes, disse logo que não, que sem aulas se recusava fazer testes.
De resto foi sem grande espanto que constatei por uma sondagem do ICS e ISCTE para a SIC a união nacional que impera (acima dos 70%), na confiança depositada nas instituições nacionais pelos portugueses na gestão da crise. Nem Salazar nos seus melhores sonhos e melhores dias ambicionou tanta unanimidade. Perante o medo implantado e o estado de emergência, o governo e o presidente da república passeiam-se impantes na revista às tropas antes da grande batalha que está por vir. Não lhes desejo mal, mas sempre digo porque sei do que falo, que a propaganda é sempre a parte mais fácil (e mais frágil) da equação e os actores em causa nisso são artistas.
Hoje, dia de aniversário do nosso Príncipe da Beira Dom Afonso de Bragança, herdeiro da chefia da Casa Real Portuguesa, cá em casa rezaremos por ele e pelas intenções da sua família: que Deus os inspire e guie os seus passos, no difícil papel que lhes cabe nestes dias de aflição de estar ao serviço dos portugueses.
Finalmente, soubemos há pouco que, depois do Príncipe Alberto do Mónaco, agora foi o Príncipe Carlos do Reino Unido a dar positivo no teste do coronavírus. Definitivamente o vírus é republicano.
A vacina contra o Covid 19 está a mais de um ano de ser uma realidade. O desenvolvimento de um novo medicamento, não deverá acontecer tão cedo.
A grande esperança para podermos contar com um medicamento que alivie a gravidade da epidemia, serão drogas já existentes e que se mostrem eficazes no combate a uma doença para a qual não foram desenhadas.
A OMS lançou há uns dias um programa a que chamou Solidariedade, em que participantes em todo o mundo integrarão um gigantesco conjunto de ensaios clínicos.
São apenas 4 os medicamentos que são considerados, como verdadeiramente promissores.
REMDISIVIR
Um medicamento falhado para o seu alvo original (Ebola), apresenta como referencias estudos laboratoriais e em animais de 2017, que comprovou a sua valia nos coronavírus que provocam a SAERS e MERS. Existem dois relatos de cura em doentes dados como terminais. Estão já em curso 6 testes clínicos, sendo que um deles ( doentes graves) deverá apresentar conclusões no dia 3 de Abril.
CLOROQUINA E HIDROXICLORAQUINA
Incluindo neste programa sobretudo pela publicidade que recebeu por parte de Trump gerando a necessidade de esclarecer a sua real valia. Tem um elevado nível de toxicidade e para além de um estudo com aparentes bons resultados, numa amostra muito reduzida que mereceu criticas dos especialistas, já foi considerado pouco ou nada eficiente noutro pequeno estudo realizado.
RITONAVIR/LOPINAVIR
Um medicamento desenvolvido para combater a HIV, foi testado com sucesso para a MERS em Saguis, embora tenha produzido resultados ambíguos em seres humanos, quer com MERS quer com SARS. O primeiro ensaio clinico contra o Covid 19, realizado num grupo de 199 pacientes reportado em 15 de Março, não validou o seu valor, mas os médicos alertam que a alta gravidade da condição dos pacientes não descarta a possibilidade da sua eficácia em estádios menos grave da doença.
Rironavir/lopinavir e interferon-beta
Uma variante do tratamento anterior que está a ser testada na Arabia Saudita para infectados com MERS.
Quase outros 100 medicamentos, como o Avigan/favipiravir ou Kevsara, estão, também, em ensaios clínicos fora do programa da OMS.
A falta de pistas verdadeiramente promissoras (com eventual exceção do REMDISIVIR) leva ainda a olhar para o passado e repristinar técnicas medicas caídas em desuso com as vacinas, como a transfusão de sangue de pacientes que tenham anticorpos formados em doentes infectados. Não será uma solução universal, mas poderá ser potencialmente útil em casos pontuais.
Certo é que, até Maio deveremos saber se podemos (ou não) contar com ajuda medicamentosa no combate e controlo da epidemia no curto prazo.
Depois das tentativas mais auspiciosas, encontrar um medicamento que já exista e seja eficaz, tornar-se-á cada vez menos provável.
Restará sempre o milagre do sempre imprevisível génio humano (leia-se iniciativa privada).
José Miguel Roque Martins
Convidado Especial*
* As opiniões manifestadas nos textos de convidados com a assinatura "Corta-fitas" só comprometem os seus autores.
Disclaimer: eu não percebo nada disto
"the Oxford results would mean the country had already acquired substantial herd immunity through the unrecognised spread of Covid-19 over more than two months. If the findings are confirmed by testing, then the current restrictions could be removed much sooner than ministers have indicated."
Este é um extracto de um artigo do Financial Times ("Coronavirus may have infected half of UK population") em que uma modelação teórica feita por quem sabe, sugere que apenas uma em cada mil pessoas infectadas precisam de tratamento médico, havendo um grau de disseminação pela população imensamente maior que o anteriormente esperado (ver aqui o estudo, eu não percebo metade do que lá está escrito, falta-me conhecimento).
Vai ser preciso confirmar com testes serológicos. Em princípio esta semana, na Holanda, sairá qualquer coisa sobre o assunto e há quem antecipe que as conclusões vão no mesmo sentido.
Se assim for, todas as premissas em que assentaram medidas radicais de contenção social ficam em causa, e é bom que se comece a ponderar seriamente na reversão das medidas mais graves para a economia, independentemente de se manterem as recomendações para uma grande contenção social e para a protecção dos grupos vulneráveis.
É possível que todo este alarido tenha sido claramente excessivo?
André Dias, que já aqui citei, e que sabe bastante mais disto que eu (não sendo difícil, ele sabe mesmo muito, muito mais que eu sobre o assunto) responde à pergunta:
"Os dados iniciais sobre surtos infecciosos são essencialmente ruído com muito pouco para usar como sinal. Primeiro, por algumas semanas não existe agente identificado, depois não há teste específico para o agente, depois só existem testes virológicos (onde estamos agora) e apenas depois aparecem testes serológicos / testes anticorpos.
Os testes virológicos só podem ser realizados em uma janela de tempo muito curto ou ser negativos, portanto, induzem um ruído gigantesco. Os testes serológicos indicam se alguma vez houve contacto com o vírus, para que possam ser feitos em amostragem e devolver dados estatisticamente significativos.
Não existem dados confiáveis para estimar a mortalidade a 1 % ou 5 %. Tudo isto é ruído. O número de pessoas infectadas pode ser o que sabemos ou 10 000 x maior (sim, dez mil vezes). Só com a chegada de testes serológicos começamos a ter uma imagem real de prevalência. Ainda na semana passada os Países Baixos anunciaram que tinham alcançado um teste de anticorpos desses e começaram a testar-se a si.
Para dar perspectiva, a gripe suína começou com estimativas de 30 % - literalmente extinção humana dentro de alguns meses - terminou abaixo de 1 %, abaixo da gripe sazonal e não fez mal. Este é o tipo de ruído com que estamos a lidar.
Os únicos dados minimamente confiáveis que temos de testes virológicos são do cruzeiro Diamond Princess, que esteve em quarentena, porque todas as pessoas a bordo foram testadas dentro de uma janela relativamente curta de tempo. Estes dados indicam 1 % de letalidade numa população muito antiga, num ambiente confinado e compartilhando uma cantina. Podemos ter a certeza de que o mundo fora do cruzeiro terá taxas muito mais baixas. Além disso, menos de 20 % das pessoas foram infectadas e ainda não há explicações para isso.
Uma vez que a letalidade não pode nem ser estimada, todo o raciocínio do medo e pânico é apenas vazio e irracional.
Extremo, extremo e paranóico cuidado é necessário com a libertação de dados iniciais sobre surtos, particularmente com letalidade. A Organização Mundial de Saúde deve responder criminalmente por não controlar estes dados e não garantir que indica a ordem de magnitude do ruído. Foi só e só isso que fez esse "surto"."
Quando, perante a incúria que levou à ausência (conveniente) de diagnóstico de casos do coronavírus um membro do governo diz que «não há racionamento, há racionalização», e um presidente da república, tremendo de medo, apela à união nacional e diz que testes para todos seria mau, e os jornalistas tomam por boa a sentença do membro do governo... quando isto acontece, sabemos que estamos no reino da mais crua mediocridade. Quando vemos gente com luzinhas à varanda, quando ouvimos o novo jingle da Tvi, um produto da mais extrema imbecilidade segundo o qual «vai ficar tudo bem», e o povo faz coro e gosta, quando ouvimos Cabrita ufano por ter fechado mais de 200 estabelecimentos e mandado prender vinte e tal pessoas, confirmamos que não há esperança. A Sic diz-nos que a confiança nas instituições, DGS e PR e PM incluídos, ultrapassa os 70%... É bem possível que sim, o que é uma confirmação ainda mais poderosa.
O título deste post é um disclaimer que vi usado recentemente a propósito do coronavírus e que adopto plenamente.
Só comecei a escrever coisas sobre isto porque o que via relatado não encaixava bem no que eu sabia sobre teoria da evolução e por isso comecei a fazer perguntas.
Devo dizer que frequentemente, sobre qualquer assunto, isto me acontece, não perceber nada do assunto, alguma coisa ficar desfocada, não bater certo com o que sei e eu começar a fazer perguntas. Foi assim que também comecei a escrever sobre fogos, assunto sobre o qual não tenho uma linha de investigação séria.
Em 99% das vezes em que isto acontece, o problema está no que eu sei, as minhas dúvidas são ignorância, alguém responde às minhas perguntas e eu meto a viola no saco.
Mas, às vezes, como é o caso do coronavírus, as minhas dúvidas vão-se adensando e encontro alguém que me dá uma explicação melhor que a corrente para o assunto, neste caso tem sido sobretudo o André Dias.
Agora o Pedro Bingre mandou-me a ligação para este documento que, no essencial, sintetiza a visão alternativa que me parece encaixar melhor no que sei de biologia da evolução.
Pode estar errada, claro, mas aqui fica uma síntese (cliquem no pequeno extracto e leiam o texto original todo, que vale a pena, mesmo sabendo que pode estar errado).
"March 23, 2020 (II)
Former Israeli Health Minister, Professor Yoram Lass, says that the new coronavirus is „less dangerous than the flu“ and lockdown measures „will kill more people than the virus“. He adds that „the numbers do not match the panic“ and „psychology is prevailing over science“. He also notes that „Italy is known for its enormous morbidity in respiratory problems, more than three times any other European country.“
Pietro Vernazza, a Swiss infectious disease specialist, argues that many of the imposed measures are not based on science and should be reversed. According to Vernazza, mass testing makes no sense because 90% of the population will see no symptoms, and lockdowns and closing schools are even „counterproductive“. He recommends protecting only risk groups while keeping the economy and society at large undisturbed.
The President of the World Doctors Federation, Frank Ulrich Montgomery, argues that lockdown measures as in Italy are „unreasonable“ and „counterproductive“ and should be reversed.
Switzerland: Despite media panic, excess mortality still at or near zero: the latest testpositive „victims“ were a 96yo in palliative care and a 97yo with pre-existing conditions.
The latest statistical report of the Italian National Health Institute is now available in English."
A entrevista de Miguel Sousa Tavares e José Alberto Carvalho ao primeiro-ministro, agora, na Tvi é a demonstração do que é um jornalista, e do que não é.
Coronavírus hoje em Portugal – 2.060 casos, 23 vítimas mortais
Aqui no confinamento os dias começam a ser muito iguais uns aos outros, não inspiram grandes crónicas. A nossa gente está bem, os nossos trabalhos a partir de casa e a gestão das tarefas domésticas começam a tornar-se rotina – a tripulação cumpre as tarefas e adapta-se à nova vida, conquistando os seus recantos de privacidade para sanidade mental de todos.
Tentando olhar mais à frente: desconfio que nos espera um governo do bloco central para gerir a crise. Não é preciso ser muito imaginativo para adivinhar o que aí vem quando voltarmos à rua e o centro político em protesto tiver mudado de posição. O regime como o conhecemos vai ter de se segurar ao parapeito, e isso é uma coisa boa.
Não nos falhe o ganha-pão, que por cá temos muita literatura e boa música.
Luis Aguiar-Conraria, entre outros, tentar chamar os epidemiologistas ao debate público da gestão da Covid (e, já agora, de qualquer epidemia, em qualquer altura pode surgir outra, é da natureza das coisas).
Tem toda a razão, fazem muita falta no debate, como demonstra o bom artigo de hoje no Público, escrito por Manuel Carmo Gomes.
Só que é compreensível o relativo recato e prudência na intervenção pública por parte de quem tem a sua reputação profissional em jogo, numa matéria tão sensível.
Um ignorante como eu, mas com consciência da sua ignorância sobre o assunto, pode dizer os disparates que quiser que isso não altera muito o seu contexto social, mas isso não é verdade para quem vive do seu trabalho nestas matérias.
A forma como Jorge Torgal foi tratado pela imprensa, comentadores e pessoas comuns, quando disse o que pensava, e que hoje se pode demonstrar que, podendo não ser totalmente rigoroso, não era nenhum absurdo, a forma como o Conselho Nacional de Saúde Pública foi tratado na imprensa, pelos comentadores, pelo público e, por pressão pública, desqualificado pelo Governo, a forma como qualquer sugestão, por mínima que fosse, de que ser prudente na abordagem da gestão da epidemia nunca poderia esquecer os mais expostos, mas também o dia seguinte para os outros, foi desqualificada no espaço público, é natural que tenha empurrado quem sabe do assunto para uma posição recuada.
E a forma como todas estas pessoas que toda a vida trabalharam no assunto foram reduzidas a pó pela forma irresponsável como a imprensa deu eco às trombetas do medo sopradas a partir de cenários catastrofistas feitos por matemáticos, como Jorge Buescu, com escasso conhecimento dos processos que estavam a modelar, também não contribui para que alguém se queira expôr e correr o risco de ser cilindrado por esta imprensa prenhe de drama e emoção.
Talvez nos sirva de lição para ver se na próxima epidemia ouvimos mais quem sabe, e ouvimos menos quem diz que sabe.
Manhã de entusiasmada palração entre os prisionários. Enfim um tema salutar, o futebol. Discutiam-se os maiores cérebros de tão umbricada ciência.
- Artur Agostinho! - disparei eu à toa, ávido da conversa de que a reclusão nos priva. Mas os presentes olharam-me logo, reparei bem, compadecidamente, com ternura até, fitos nas minhas alvas barbas. - Ribeiro Cristóvão! - ainda emendei, a julgar-me actualíssimo, um pós-moderno, fiel ouvinte dos relatos da Renanscença.
Não houve como não suportar a gargalhada geral. Uma avalanche das perigosas, muito cuspidas. E um nome ecoou na minha vergonhosa ignorância - Pedro (edro, edro, edro...) Guerra (erra, erra, erra...) - Pedro Guerra, então, a festejada celebridade, para mim, sem desculpa, totalmente desconhecida.
Sucumbido e calado, fui aprendendo. - Pedro Guerra, o guerreiro! - O homem dos mil saberes, o douto e o profeta; o arquivo dos mil milhares de dossiers; o arbitrólogo, como mais ninguém conhece os árbitros em Portugal; enfim, o mago da Comunicação Social desportiva.
Em suma, o cientista e o polemista. O mais humilde catedrático, o conciliador, de todos o amado. O amável. Gloriosamente, uma estrela da selecção nacional da Damaia. Expatriado político, benfiquista por adopção e do coração.
E sobretudo uma saudade dos velhos tempos de liberdade, em que os canais televisivos, sempre pluralistas, falavam de tudo o que fosse futebol - em simultâneo - e de nada mais, epidemias incluídas.
Portugal, no ranking da União Europeia, está em décimo no conjunto dos 27 países, no que toca ao número de infectados com a pandemia Covid-19. O que é uma boa notícia. É também uma boa notícia o facto de não haver uma explosão de casos de contaminação e sobretudo o de não haver um grande número de mortes e a maioria dos infectados detectados ter apenas sintomas ligeiros.
Mas a mesma sorte o país não vai ter na economia. A verdadeira mortandade vai-se dar nas empresas.
Primeiro porque as linhas de crédito com garantia do Estado tendem a ser destinadas a empresas com capitais próprios positivos e com resultados fechados. Ora há uma fatia de PME que não cumpre nenhum dos requisitos.
Os bancos estão a conceder esses créditos com garantia mútua a uns juros de 2% e 3%, muito acima do preço a que se financiam.
A ideia do Governo adiar o pagamento de impostos e contribuições sociais é muito positiva, mas se não se resolver o problema de liquidez das empresas a medida não tem grande eficácia.
Sobre o chamado lay-off simplificado, que é a capacidade das empresas suspenderem os contratos de trabalho por três meses porque a atividade está diminuída, pagando o Estado uma parte desse salário, é de lembrar que se aplica a empresas que têm 40% da redução do seu rendimento comparado com o ano anterior. Mas para beneficiar disso as empresas têm de provar que a quebra das receitas é reportada aos dois meses anteriores. Ora a crise começou em março pelo que as empresas só podem apresentar o pedido em maio (60 dias depois de março). Até lá quem vai pagar salários se a atividade parou?
Quanto tempo aguentam as empresas sem atividade ou sem clientes?
Depois com isto virão os salários em atraso e os despedimentos, e dispara o malparado (aguardemos pelas moratórias), tudo porque a economia fechou.
A análise macroeconómica também não é mais animadora. A flexibilidade da Comissão Europeia aos auxílios do Estado não é suficiente, e no limite pode criar uma crise de dívida soberana. Ao flexibilizar as metas de défice e dívida para todos os países ignorando que cada país membro tem rácios de endividamento diferentes, pode ser o gatilho para uma subida dos juros da dívida soberana e no limite o fecho dos mercados (que trouxe no passado recente a troika).
O Governador do Banco de Portugal defendeu num artigo do Jornal Económico que “é necessária uma resposta conjunta a um desafio comum”.
Carlos Costa defende agora na Reuters que o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) emita Corona bonds a 30 anos.“Tais ‘Corona bonds’ são não só um reforço mas também um complemento necessário ao recém-anunciado Pandemic Emergency Purchase Programme do Banco Central Europeu”, defendeu o Governador do Banco de Portugal no artigo da Reuters.
Carlos Costa lembra que “contrariamente às circunstâncias que conduziram à crise de 2008, a situação com que nos defrontamos agora reflete a propagação de uma crise sanitária para a economia real e desta para o sistema financeiro, com os seus efeitos a serem amplificados pelo sistema financeiro internacional e pelas cadeias de valor globais”.
Numa epidemia todos são potenciais vitimas. A disponibilidade associada a suportar os custos associados ao seu combate, é por isso alta. Os custos de um combate perfeito serão eventualmente insuportáveis mesmo para as mais ricas economias ocidentais.
O Imperial College do Reino Unido, revelou as suas previsões para três cenários da epidemia no Reino Unido. Nada fazer, implicaria cerca de 500.000 vitimas mortais. Ações moderadas de redução de contactos e salvaguarda dos mais idosos, resultariam em 260.000 mortes. Um confinamento severo de quase toda a população, até à existência de uma vacina, previsivelmente á distancia de 1 ano, reduziria o numero de vitimas a “meras” 20.000 vitimas.
Qualquer estudo previsional em realidades novas e complexas, por mais informado e competente que seja, comporta potencialmente erros tremendos. Mas dá nos balizas para pensar.
Os cenários a considerar são a escolha de um combate moderado e o total. Nada fazer não é obviamente uma opção. A diferença entre os dois cenários que restam são de cerca de 250.000 vidas.
Em termos económicos, um ano de confinamento severo dificilmente custaria menos do que 15 % do produto anual, uma estimativa grosseira mas razoável. No caso do Reino Unido, aproximadamente 430 biliões de dólares. Por calculo aritmético simples, cada vida salva custaria 1,7 milhões de dólares. Existem recursos para suportar este valor, ou mesmo 1/3 deste valor?
Infelizmente parece que as balizas da realidade ainda se sobrepõe aos desejos legítimos das populações, nomeadamente de minimizar vitimas.
José Miguel Roque Martins
Convidado Especial*
* As opiniões manifestadas nos textos de convidados com a assinatura "Corta-fitas" só comprometem os seus autores.
"Senhor, como é bom estarmos aqui!"
Mateus 17:4
Já andamos confinados há alguns dias, o ânimo começa a ser um bem menos abundante, e começa a ser-nos exigido ir buscar toda a boa vontade ao fundo da alma – é proibido embirrar. Hoje seria dia de Missa. É estranho um Domingo sem aquela tradicional agitação matinal para irmos ao Estoril à missa da… uma da tarde. A Igreja de Pedro, esposa de Cristo fica gravemente ferida quando não possa ser vivida em comunidade. O terço a Nossa Senhora, com a leitura do evangelho do dia, tem sido religiosamente cumprido por nós todos, com uma visita ocasional da minha sobrinha Sofia por WhatsApp.
Esta manhã voltei à minha corrida higiénica matinal por ruas normalmente desertas de S. Pedro do Estoril, e surpreendeu-me o número de pessoas e famílias que passeavam sozinhas ou em pequenos grupos a arejar a cabeça. Se o confinamento é para durar, há que arranjar estratégias para aguentar. Da janela, na praceta onde moro, deparo-me com os velhotes que vêm esticar as pernas à rua e que ficam à porta da tabacaria a cavaquear. Como dizia uma “amiga” minha no FB “é trade-off entre probabilidade de infecção e saúde mental”. Mas como também não os vejo aos abracinhos, presumo que o risco não seja grande.
Entretanto, pelos números de infectados dos países nossos vizinhos parece que a Europa do Sul se tornou no “epicentro da Pandemia” e preocupa-me ainda não serem evidentes os efeitos do confinamento social, não havendo provas de que alguma vez o serão. E para lá da importante questão económica (peço desculpa pela inconveniência) quanto tempo aguentaremos uma situação destas?
Termino com a questão que mais me preocupa neste momento: espero estar enganado, mas desconfio que a tragédia em Portugal vai surgir dos lares de velhinhos que, sem material de protecção para os funcionários, não estão preparados para defender os seus residentes.
Como é que é tão difícil a uma civilização que levou o homem à lua isolar os lares de idosos de um vírus?
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais?». Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. Entretanto, perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?». Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu». Perguntaram-lhe então: «Como foi que se abriram os teus olhos?». Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai lavar-te à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver». Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?». O homem respondeu: «Não sei». Levaram aos fariseus o que tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizera lodo e lhe tinha aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador fazer tais milagres?». E havia desacordo entre eles. Perguntaram então novamente ao cego: «Tu que dizes d’Aquele que te deu a vista?». O homem respondeu: «É um profeta». Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que ele agora vê?». Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Foi por medo que eles deram esta resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem reconhecesse que Jesus era o Messias. Por isso é que disseram: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Os judeus chamaram outra vez o que tinha sido cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é pecador». Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e agora vejo». Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?». O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos?». Então insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés. Nós sabemos que Deus falou a Moisés; mas este, nem sabemos de onde é». O homem respondeu-lhes: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer». Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?». E expulsaram-no. Jesus soube que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?». Ele respondeu-Lhe: «Quem é, Senhor, para que eu acredite n'Ele?». Disse-lhe Jesus: «Já O viste: é quem está a falar contigo». O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor». Então Jesus disse: «Eu vim a este mundo para exercer um juízo: os que não vêem ficarão a ver; os que vêem ficarão cegos». Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece».
Palavra da salvação.
Para os criados que noticiam nas televisões portuguesas Boris Johnson é um palhaço. Mesmo quando dedica 379 mil milhões de libras para apoiar a economia, nomeadamente para pagar 80% dos vencimentos de todos os trabalhadores de todas as empresas britânicas durante tempo indeterminado. Johnson não pretende reaver o que agora gasta, é tudo dado a fundo perdido, porque pretende que a economia desperte no dia imediatamente a seguir à pandemia.
Para os criados que noticiam nas televisões portuguesas não há como Costa, o seu verdadeiro herói. O Costa que ajuda a economia com o dinheiro dos outros: dos senhorios que têm que guardar os inquilinos no fim dos contratos, sejam eles faltosos ou não; das empresas que têm que preservar todos os postos de trabalho para obterem uns descontos ao fim de provas infindas de condicionalismos múltiplos, e desde que pertençam aos sectores que os socialistas julgam importantes.
E as regalias fiscais, o que são? São isto: pagas mais tarde, mas vais ter que pagar tudo até ao último cêntimo dê por onde der. É, no entanto, a primeira medida dos governos de Costa que não visa apenas o curto prazo. Aí está mais uma coisa que os criados podem celebrar.
Tenho ouvido este argumento vezes sem conta a propósito da epidemia actualmente em desenvolvimento.
Eu compreendo esta sensação de que perante um desastre temos de agir, é muito humana, é uma grande qualidade, mas quando tem utilidade fazer alguma coisa.
Quando a maré vaza é um erro nadar contra a corrente, o mais que podemos fazer é fincar os pés no chão, se for possível, ou nadar para o lado, para fugir da corrente, mas nadar contra a corrente só nos consome forças, sem qualquer utilidade.
Li hoje no Público o testemunho de uma família com um dos membros testado como positivo. Para meu espanto, estão a fazer todos os esforços para evitar o contágio dos restantes membros da família, e penso ser a indicação das autoridades, só que eu não entendo a vantagem de evitar o contágio dos restantes membros do agregado familiar, a menos que exista alguma condição médica específica de algum deles.
A não existir uma história clínica que coloque algum dos outros membros da família num grupo de risco, o mais racional seria que a família fizesse uma quarentena, com certeza, para evitar contágios de terceiros vulneráveis, mas que a fizessem em família, permitindo o contágio e a imunização de todos.
Este é um bom exemplo de como a falta de humildade de acharmos que controlamos o mundo nos pode levar à pura irracionalidade na gestão de uma epidemia que pode mais que nós.
É possível que em momentos iniciais de um surto se possa confiná-lo ou que se possa impedir a afectação de um país ou uma comunidade - temporariamente -, mas uma vez instalada a epidemia numa comunidade, a ideia de que podemos pará-la se tudo parar só é uma boa ideia em circunstâncias muito específicas.
Numa epidemia como a que está em desenvolvimento, de baixíssimo risco para pessoas abaixos dos cinquenta anos sem patologias associadas à respiração, e com uma definição bem clara dos grupos de risco, a opção por tentar parar o desenvolvimento da epidemia com medidas radicais como as italianas deve ser muito bem discutida, sem deixar que o medo tolde o raciocínio.
A Itália está fechada há onze dias e os resultados dessa opção não é visível nos números que vamos conhecendo, espera-se que ainda possa vir a ser no futuro. O que é visível nesses números é o progressivo abrandamento natural da epidemia, antes e depois dessas medidas. É natural que algumas medidas tomadas permitam diminuir a velocidade de propagação da doença, mas também é natural que a epidemia vá abrandando por si, as duas coisas estarão a actuar, sem que, neste momento, consigamos saber o peso relativo de cada uma na evolução da epidemia (a minha convicção é a de que a epidemia segue o seu curso, muito próximo do que seria sem grandes intervenções, mas só no fim disto tudo se poderá saber o que correu bem e mal).
As medidas que se justificam, nas circunstâncias que temos, são as de protecção rigorosa dos grupos de risco - o senhor Armando, que me vende os jornais e que com certeza está nos grupos de risco, embora não dos de mais alto risco, desconhecia, até ontem, que 70% das mortes são de homens, só para dar a noção de como não temos sido capazes de fazer chegar a informação aos tais grupos de risco, quanto mais acompanhá-los seriamente - e as que apresentam baixo custo económico e social, para um retorno elevado, como lavar as mãos frequentemente, reduzir contactos sociais, privilegiar o trabalho a partir de casa, evitar ou proibir aglomerações de mais de dez pessoas, etc., mas sabendo que a epidemia fará o seu caminho natural, com um rápido desenvolvimento inicial, um ponto de viragem e depois o seu desaparecimento progressivo (da epidemia, provavelmente não do vírus).
Então não podemos fazer nada nas próximas semanas?
Sim, podemos, proteger os grupos de risco e tratar, tanto quanto possível, os doentes.
Mas não podemos fazer nada para parar a epidemia?
Provavelmente não, o curso da epidemia é uma inevitabilidade e é mais que duvidoso que qualquer agravamento das medidas de confinamento das pessoas (incluindo as últimas que foram tomadas), altere o curso da epidemia, com o seu cortejo de sofrimento e morte inevitável.
Às vezes não tem mesmo de se fazer qualquer coisa perante a tragédia, tal como não perdemos tempo a parar o vento com as mãos.
Coronavírus hoje em Portugal – 1.280 casos, 6 vítimas mortais
Estive o dia fechado em casa, a família a ver séries e eu a ler jornais. Como é evidente que a opção errada é a minha.
Porque é que é sempre tão difícil explicar a temperança e a moderação? E estamos ainda no princípio. Daqui a pouco tempo teremos de aturar os nacionalistas e os ecologistas radicais aos berros a dizer: "Estão a perceber como podemos viver tão bem com uma côdea de pão e com as fronteiras fechadas?"
Deus nos ajude, que vêm aí tempos interessantes, como dizem os chineses, que também percebem disto.
Terríveis, estes primeiros dias entre as grades. Demorados, eternos, a arrastar as horas numa dor de grilhetas andantes no empedrado das vias. Deixando bem viva a carne dos homens livres mas injustiçados. Tudo é diferente: e, do menos mau, as esperas nas filas à porta do supermarket, por um pouco de alimento. É obrigatório, cozinhar na cela, essa uma ciência de quase ninguém. Pessoalmente, rejeito, em absoluto, o cheiro a fritos, a inglória tarefa de lavar depois a panóplia instrumental da cozinha. Assim me foi distribuída, misericordiosamente, uma refeição ultra-congelada de arroz de pato.
O tal microondas fez o resto. Imperfeitamente, acrescente-se. O alimento veio à mesa (de frio mármore, antes o conventual granito...) como numa manhã de inverno, cheínho de bocados de gelo, foi necessário - Carcereiro, quer uma rebelião já, sanguinária, arrasadora? - foi necessário, dizia, mandar o prato para trás até ele, enfim, regressar mastigável.
Entrementes, pouco sabemos do que vai lá fora. Consta, El-Rei está bem, e com Ele, a Família Real. Assim sendo, a Nação não perecerá ainda...
No mais, serviram vinho e, depois, maçã reineta. Para já, pese embora o tormento, a fome suporta-se. Lá vamos sobrevivendo.
Mas, ficou-me a ideia, estou para saber se comi arroz de pato ou arroz desse outro aquático açoreano, o atum.
"Tomar esta pandemia como uma batalha pode, no entanto, ser um erro, até porque é cada vez mais provável não ser possível ganha-la. Pelo menos enquanto não existirem vacinas. O vírus continuará a viver entre nós e é bem possível que a única vitória sobre ele seja a sua integração".
Do Editorial do Expresso.
O Portugal socialista divertiu-se a reverter reformas e a endividar-se, na crença de que o sol brilharia para sempre e a satisfação de clientelas não tinha preço. Caiu-lhe a crise económica e uma pandemia em cima, e mal sabe como recuperará.
Outros países, não. Perante a pandemia e a crise económica, o Reino Unido desse Boris Johnson que dá tanta azia aos jornalistas de causas tem soluções e meios para elas: como a disponibilização de 350 mil milhões de libras (cerca de 379 mil milhões de euros) de regalias fiscais, empréstimos e apoio às empresas. Nomeadamente, o governo britânico vai pagar 80% dos vencimentos de todos os empregados de todas as empresas que estejam retidos em casa e não possam funcionar em teletrabalho. É 80% para todos os trabalhadores de todas as empresas e indefinidamente, enquanto a pandemia durar; não é, como em Portugal, a alguns trabalhadores de algumas empresas de alguns sectores escolhidos sabe-se lá por que critérios. Quando o vírus se render, essas empresas britânicas recomeçarão a trabalhar no dia seguinte. As portuguesas não se sabe.
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