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Coronavírus hoje em Portugal – 7.443 casos, 160 vítimas mortais
À terceira semana de confinamento, fica comprovado que ensinar é uma especialização importante, e que se compreende que um pai esteja dispensado de ser professor dos seus filhos. É um enorme desafio assumir os dois papéis, mais ainda quando a idade da criança se aproxima perigosamente da adolescência, obcecada por comida, youtubers e jogos electrónicos. Custa-me desperdiçar estes últimos tempos de alguma cumplicidade zangado por causa duma redacção preguiçosa ou com um ataque de nervos à conta duns exercícios de matemática trapalhões que eu não sei corrigir. O potencial desgaste a que nos expomos é considerável, para mais em prisão domiciliária. De resto a vida continua, um dia de cada vez, diz que somos uns privilegiados, principalmente se comparando com a família de Anne Frank.
Quanto ao mais continuo a torcer o nariz a este clima de medo que vem sendo instigado, e a duvidar da sustentabilidade do confinamento a médio prazo, que como bem assinala hoje João Miguel Tavares, é um privilégio burguês. Se a solidão descamba em paranóia, a fome mata mesmo.
Enquanto Graça Freitas e a DGS se desgastam diariamente com estatísticas engatadas e sucessivas contradições (vai acontecer com as máscaras o que está a acontecer com os testes laboratoriais, depois de menosprezado o seu uso ainda vai ser obrigatório assim cheguem ao mercado) o nosso primeiro-ministro transfigura-se em estadista, profere sentenças fofinhas e até já prenuncia as consoantes quase todas, decidido que está em disputar um lugar na História segundo os especialistas. E arrisco a uma previsão: quando o pico da crise de saúde pública passar e vier a pesada factura duma economia em frangalhos, com o país na rua a reclamar empregos e pão, à primeira oportunidade António Costa sai de cena e passará a batata quente a outro(s). Incensado como mártir das circunstâncias, para chegar a presidente, só terá de se recolher com discrição para o sofá com um pacote de pipocas. Só temos aquilo que merecemos.
Há os que olham para uma epidemia como uma ameaça bélica, com um inimigo bem definido que é preciso vencer heroicamente, com sangue suor e lágrimas ou, ao menos, o sacrifício do isolamento social prolongado, mesmo que isso implique restrições severas à liberdade e a criação de uma economia de guerra.
Estes tendem a acreditar no poder ilimitado do homem e das suas criações, que procuram demonstrar com sofisticadas modelações matemáticas infalíveis, porque "os números não mentem".
Para ter uma ideia clara do que descrevi, penso que o melhor será ler hoje este artigo escrito por Jorge Buescu, cheio de certezas, números e gráficos que, logo no início caracteriza muito bem o problema matemático: "A epidemiologia estuda a forma de propagação de doenças contagiosas. Tratando-se de números, a Matemática tem de intervir. Ora, tal como acontece em Meteorologia ou em Climatologia, a situação é a de estarmos de posse dos dados numéricos actuais e de pretendermos conhecer a evolução futura: no caso da Meteorologia, se vai chover ou fazer sol na próxima semana; no caso da epidemiologia, o que devemos esperar da evolução de uma doença, como é o caso deste vírus. Em resumo: de posse dos dados presentes, queremos prever o futuro."
A Maria que estivesse a ler este artigo enquanto ia a caminho de regar as couves da horta tiraria uma conclusão imediata: se isto é como prever o tempo, o melhor é ter cautela com as previsões e não deixar de aproveitar o sol que está para pôr o milho na eira, porque daqui a uma semana dizem que continua a haver Sol, nem ir a correr a semear os nabos, porque dizem que para a semana chove.
Por razões totalmente estranhas ao bom senso e, neste caso, também ao senso comum, Jorge Buescu resolveu tomar como certas as suas previsões sobre o futuro e, com os números de ontem, a realidade era a seguinte: números de casos positivos a um sexto da previsão que achava mais provável, e a metade da previsão que achava excessivamente conservadora.
Mas a sua certeza, o fascínio dos homens (sobretudo dos homens, neste caso em sentido estrito) pelas bolas de cristal disfarçadas de complexas modelações estatísticas, arrastou consigo uma boa parte da opinião pública que passou, não só a aceitar, mas exigir, medidas imediatas e radicais (as palavras são do mesmo artigo) aos seus governos para nos defender do dramático tsunami que estava para chegar. Buescu não tinha dúvidas: "A taxa de infectados por coronavírus que precisam de cuidados intensivos é de 5%. As minhas projecções indicam que, no dia 23/3, teremos um número de infectados da ordem de 3000. Teremos portanto 150 doentes a precisar de camas de cuidados intensivos. Com grande probabilidade não existe esse número de camas disponíveis em todo o País. E portanto, os serviços entrarão em colapso por falta de meios e os médicos terão de tomar, como já acontece em Itália há mais de uma semana, decisões de vida ou de morte, decidindo quem fica com o ventilador".
A realidade é que mais de uma semana depois da data prevista, não há qualquer sinal do que foi afirmado como certo.
Este modelo mental de abordagem de uma epidemia é, infelizmente, dominante, actualmente, e levou a um conjunto de medidas com fortíssimo impacto social e económico em muitos países (não em todos e muito menos da mesma maneira imediata e radical como por vezes se pretende crer).
Felizmente o discurso dominantes começa a mudar e já se ouve os responsáveis pela aplicação destas medidas (na verdade a responsabilidade é da opinião pública que as exigiu) a dizer que os números demonstram que tinham razão, as medidas adoptadas fizeram efeito e a situação está a melhorar.
E está mesmo, o pico passou em Itália, terá passado em Espanha (mas só agora se vai começar a notar na mortalidade, há um desfasamento de cerca de sete dias) e os números dos Estados Unidos parecem sugerir (repito para acentuar bem a incerteza) que também aí o pico está muito próximo.
Como me explicava quem tem uma visão alternativa de uma epidemia, 12 a 14 dias depois de entrar na exponencial estamos no pico da infecção, mais sete dias entra a mortalidade no planalto, e depois começa tudo a descer, até acabar tudo na primeira semana de Maio, o mais tardar.
Sim, é a Maria a olhar para o Céu, a ver de onde vem o vento, a sentir a humidade na pele, para saber se semeia os nabos ou põe o milho na eira.
Digamos que é uma bola de cristal mais antiga, menos tecnológica, e com certeza não me permite planear um fogo controlado para daqui a dez dias.
O que fazem as pessoas do fogo controlado é olhar para as bolas de cristal modernas, preparar tudo para o caso de estarem certas, e continuam a olhar para o Céu, confirmando todos os dias em que sentido se está a coisa a encarreirar, vão-se adaptando e só confirmam o fogo controlado quando entram no intervalo de confiança das previsões meteorológicas: nunca mais de três dias.
Uma bola de cristal, é uma bola de cristal, é uma bola de cristal.
É repugnante ouvir um pedinte que desbaratou com clientes e amigos os fundos que lhe confiaram indignar-se quando lhe perguntam se não foi essa uma das causas de estar impreparado para o pior.
É repugnante ver celebrar um défice zero feito à custa de calotes, de cativações e da ruína dos serviços públicos, acompanhados do maior saque fiscal de sempre, da descapitalização das empresas, da asfixia da poupança privada.
É repugnante ouvir dizer que o maior saque fiscal de sempre foi uma baixa de impostos.
É repugnante ouvir um primeiro-ministro dizer que não falta nada a um Serviço Nacional de Saúde que o seu governo colocara em situação de ruptura antes da pandemia, e ao qual, chegada a pandemia, falta dinheiro, pessoal, camas, máscaras, luvas, testes, ventiladores, e muito mais.
É repugnante ouvir o Presidente desta República repetir, como nos fogos, que se fez o melhor que se pôde.
É repugnante ouvir uma Directora Geral de Saúde dizer que um vírus do chinês nunca vai chegar cá, semanas antes de ele chegar e começar a matar.
É repugnante ouvir a mesma Directora dizer que as luvas não servem para nada porque não há luvas; que as máscaras não servem para nada porque não há máscaras, que os testes não servem para nada porque não há testes nem houve preparação.
É repugnante e incapaz e cúmplice uma oposição que se cala.
É repugnante ver ainda nos mesmos cargos os membros do governo que defendem o combate aos privados, cujo pessoal, instalações e competência agora estão obrigados a «requisitar».
É repugnante ver ainda nos mesmos cargos os irresponsáveis e perdulários que «ofereceram» o horário de trabalho de 35 horas, que, segundo juravam, não teria nem custos, nem consequências no funcionamento dos serviços, mas teve custos proibitivos, e teve consequências graves, e contribuiu gravemente para a ruína do SNS.
É repugnante ouvir o PR que aprovou a medida, prometendo estar «muito atento» a eventuais consequências, estar depois, extremamente distraído das consequências para que fora sobejamente alertado.
É repugnante ouvir quem se apresenta como jornalista dizer que ninguém estava preparado para esta pandemia, sem escrutinar, sem identificar as diferenças entre o imprevisto absoluto, e a impreparação grave de quem arruinou o médio e longo prazo para só tratar do imediato e da propaganda.
É repugnante ouvir os mesmos travestis de jornalistas aplaudirem o fingimento de apoios do governo português ao emprego e às empresas -- aquilo a que Roque Martins chamou bem uma mão cheia de nada --, sem um reparo sobre a burocracia, as demoras, as ilusões, e indignarem-se com os seus ódios de estimação, Boris Johnson e Trump, países onde o apoio directo ao emprego e às empresas representa respectivamente 3,7% e 6,7% do PIB (na UE, 0,3%).
É repugnante ver esses mesmos celebrar o crescimento, enquanto Portugal caminha a passo firme e socialista para país mais pobre da Europa.
É repugnante ouvir os travestis de jornalistas que choravam o desemprego não terem nem uma palavra, nem um comentário, nem uma notícia para o facto de o lay off «simplificado» (palavra!) só produzir efeitos em finais de Abril.
É repugnante ver directores de informação (de desinformação, na verdade) censurar peças, opiniões e programas a pretexto de unidade, mas na realidade por cumplicidade, cobardia e demissão.
É repugnante ver as suas estações de televisão tomarem ares doutorais e condenatórios de quem tem que sair à rua, do mesmo passo que promovem campanhas irresponsáveis e obtusas segundo as quais «vai ficar tudo bem».
É repugnante ver eleitas a nobres actividades as acções «das autoridades» que prendem pessoas que queriam trabalhar. É repugnante a ausência «das autoridades» quando trabalhadores de lares de terceira idade vêm à janela gritar que os salvem da morte.
É repugnante ver celebrar a diminuição da dívida pública em percentagem do PIB, enquanto a dívida subia a novos recordes que deixaram o país mais vulnerável e impreparado perante crise biológicas ou económicas. É repugnante pensar que, depois da pandemia e da recessão trágicas que encontraram o país indefeso, nunca mais esta espécie de governo nem a espécie dos seus criados nos media voltarão a falar desse racio dívida/PIB.
É repugnante relembrar a trupe lamentável que fez da eutanásia uma prioridade, e a cantou, e a celebrou, e vê-la agora caladinha, a ver se ninguém repara que uma pandemia lhes vai oferecer abundância de «eutanásias-sem-querer».
É repugnante ver presidir a tudo isto quem optou pela quarentena sem boa razão para o fazer, e agora fala de unidade, e, em vez de temer a incompetência e o engano, anda preocupado com pesadelos radicais.
É repugnante prever que este governo incapaz e estes media sem brio nem vergonha dirão, no fim, que fizeram o seu melhor (o que, visto quem são, é verdade), que não era possível fazer mais (uma mentira ululante), e que foi tudo culpa -- as infecções, as mortes, a desorganização, as falências, o desemprego, a miséria -- de um evento extravagante .
Não se pode esperar que perante uma crise de tamanhas proporções, como a provocada pelo coronavírus, o Estado tenha meios para suportar todos os custos, evitando prejuízos para cada cidadão. A pandemia do COVID 19 é um choque inesperado, duro, em que ninguém, governo, trabalhadores e empresas, pode ser responsabilizados.
Os trabalhadores atingidos, contarão com o amparo do subsidio de desemprego ou do Lay-off simplificado que significarão importantes sacrifícios para aqueles que vivem no limiar da subsistência.
Para as empresas, o Estado multiplica as suas declarações de apoio, apelos para evitar os despedimentos e anuncia medidas em catadupa. Que depois de espremidas, significam que são as empresas que terão de ajudar o Estado e assumir todos os prejuízos.
Todas as medidas, até hoje anunciadas, têm em comum não dar ou compensar nada, rigorosamente nada, às empresas. Só adiar pagamentos, o que não sendo desprezível, não resolve o problema.
O Lay off simplificado é uma medida que permite que o Estado não tenha que pagar o subsidio de desemprego por inteiro, como lhe competiria. O trabalhador continua a descontar 11% da sua contribuição e a empresa paga outros 30%. Uma poupança de 41% para o Estado. As empresas aceitam a esmola pois a alternativa, o despedimento, é tão difícil, moroso e caro, que implica em muitos casos uma inevitável falência, ao invés apenas desse risco protelado. O que implicaria para o Estado ter que pagar integralmente o subsidio de desemprego aos trabalhadores: o verdadeiro objectivo desta lei.
Adiar o pagamento de impostos, dá a ilusão do esforço público. Que provavelmente não representa uma real perda de receita, já que muitas empresas, de outra forma, não poderiam pagar. Em troca do perdão de multas, impõe-se a obrigação de pagar uma menor percentagem das obrigações, garantindo o esforço supremo dos contribuintes, na esperança de escaparem a uma dívida maior. A concessão de empréstimos, alivia a tesouraria das empresas no curto prazo. Mas representa mais dívida e dificuldades futuras, para as poucas que o conseguirem.
O pagamento de rendas comerciais (de estabelecimentos encerrados) são adiadas, imperialmente transpondo o governo para os senhorios o dever de financiar as empresas prostradas. É aliás sempre surpreendente a facilidade com que o Estado faz os terceiros indefesos e de boa fé, pagarem pelas suas políticas.
A palavra de ordem é "endividem-se", mas continuem a assumir os custos e pagamentos que são do Estado. Dever. Dever acima de tudo.
Numa economia de mercado, não compete ao Estado subsidiar empresas. A sorte e o azar são factos inevitáveis na vida de pessoas e empresas. Parece-me até razoável que se deixe falir aquelas que não têm viabilidade, que possam ser substituídas por outras no futuro próximo. E a justiça não é normalmente um critério de decisão política quando não represente votos em número significativo. Nada de novo.
Há apenas dois pormenores que me deixam profundamente irritado: que um Estado de direito obrigue empresas a fechar por interesse público, mas não as compense de coisa nenhuma. Que as vítimas dessas políticas ainda tenham que se congratular "venerandos e obrigados" dos excepcionais esforços na sua pretensa salvação.
José Miguel Roque Martins
Convidado Especial*
* As opiniões manifestadas nos textos de convidados com a assinatura "Corta-fitas" só comprometem os seus autores.
"Câmara do Porto "deixa de reconhecer autoridade" à DGS. - A autarquia acredita que as afirmações de Graça Freitas esta segunda-feira sobre a possibilidade de ser criado um cerco sanitário na região do Grande Porto sejam "um lapso seguramente provocado por cansaço".
Em 1899 o Porto foi colocado sob cerco sanitário e a cidade insurgiu-se contra a capital do reino. Ricardo Jorge foi expulso da cidade, e a sua população que nunca fora republicana, apesar do episódio do “31 de Janeiro”, elegeu, pela primeira e única vez durante o regime constitucional, três deputados do PRP de Afonso Costa. Ficaram conhecidos pelos deputados da Peste. Como o Rui Moreira é monárquico, sugiro que instaure de novo a monarquia do Norte.
Com ruas desertas e por isso perfeitamente acessíveis para que se leve a cabo massiva operação de pinturas de zebras pedonais e outra sinalética de prevenção rodoviária numa cidade como Lisboa, que tanto carece de intervenções deste tipo — até em zonas de maior incidência humana, como a Baixa ou Belém —, o que se vê é um presidente do município fazendo entrega domiciliária de botijas de gaz, arrastando consigo imprudentemente, desrespeitando o distanciamento social que a própria autarquia recomenda, matilha de fotógrafos e «jornalistas» que não têm outro remédio senão obedecer-lhe.
A gestão autárquica duma cidade condenada ao cálculo eleitoralista, demagógico e populista — sim, claramente populista!, ou haverá outro nome para isso? — duns quantos aprendizes de feiticeiro, ávidos de ambição de poder, que a Política é outra coisa.
Enquanto não fazem disparates destes, Fernando Medina e os seus devem passar horas a fazer contas — e a desesperar — ao grosso dinheiro que o Covid-19 lhes veio tirar em receitas e taxas turísticas, deixando-os paralisados para encarar essa janela de oportunidade para trabalho efectivo em prol da cidade. Não dá para mais, como diz o outro.
E quem sabe até, a baixa dos índices de poluição que a drástica suspensão da circulação automóvel e aeronáutica veio trazer a Lisboa Capital Verde da Europa vá ainda ser esgrimada como resultado das boas práticas incentivadas pelo município, esse mesmo que tem aparado árvores a torto e a direito, sem ciência, apelo ou agravo. Tudo é possível no quadro actual...
E vamos ver se, após a lúcida liberalização do transporte público — mas quando já estava garantido o pagamento dos passes de Março —, uma vez chegado Abril e caso a população entenda (mal, mas pode acontecer, de facto) que não precisa de carregá-los, não saltarão de trás dos postes, de repente, brigadas e mais brigadas de fiscais (neste período em boa reserva domiciliária, pressume-se) a vigiar e multar quem ainda tenha de sair de casa para trabalhar ou algo irredutivelmente necessário. É que efeito político de agradar sim, mas só até certo ponto...
Vasco Rosa
Na foto, Fernando Medina com amigo doutros tempos, também ele vítima do coronavírus e de si mesmo.
Quando comecei a sentir desconforto com a abordagem bélica à gestão da epidemia, cheia de alusões à necessidade de travar o vírus, derrotar o vírus e etc., dei conta desse desconforto: o que sabia de biologia da evolução levava-me a ter cautelas em relação a esta ideia de que é possível estancar um rio ou parar uma avalanche.
Acresce que o exemplo que me davam de que isso era possível era uma ditadura que já em tempos quis extinguir os pardais fazendo barulho com panelas, para aumentar a quantidade de arroz que sobrava para as pessoas, do que resultou uma fome terrível: a falta de aves (o barulho das panelas não distingue granívoras de insectívoras) resultou em perdas colossais de produção por ter dado livre curso às pragas cujos predadores tínhamos eliminado.
O que dizia era muitíssimo cauteloso, nunca na vida tinha estudado epidemiologia, não sabia (nem sei) nada do assunto, e a pouca informação que tinha vinha da área da conservação, em que as questões éticas relevantes não são as mesmas, por mais que o PAN e outros radicais da libertação animal achem que sim.
Cruzei-me, no espaço sideral, com André Dias, esse sim, com sólida preparação em epidemiologia (vindo do lado da informática e da estatística, não do lado da medicina ou da biologia), com quem tenho aprendido muito nestes últimos dias.
O que a partir de certa altura ficou claro para mim é que isto não era uma discussão sobre curvas logísticas, de gompertz e coisas que tais, sobre as quais percebo ainda menos que epidemiologia, nem sei o que é uma curva logística (não é que me orgulhe da minha ignorância e no fim disto prometo ir estudar o que é).
A discussão era ontológica (isto tinha a ideia do que era, mas fui confirmar agora à wikipedia) e logo me havia de calhar a mim, que nunca tive queda para a metafísica.
A discussão era entre os muitos que acham que uma epidemia é um inimigo externo que pode ser controlado a partir de acções humanas concertadas de elevado impacto, e que não pára se não for travado, e os poucos, como eu, que acham que uma epidemia é como um rio ou uma avalanche: pode-se fazer uma barragem, desde que se saiba que o o seu objectivo não é parar o rio, mas apenas gerir a água, respeitando a sua natureza, para obter o que se pretende.
Partindo do pressuposto de que assim é, e com todo o respeito que tenho pelos que na DGS dizem que o pico da epidemia será lá para o fim de Maio, queria só deixar aqui a minha previsão de que dentro de quinze dias a três semanas, em toda a Europa e Estados Unidos, estaremos essencialmente a discutir os pormenores de como fechar o assunto sem perder muito a face (independentemente de, nos hospitais, a luta por salvar vidas se prolongar mais um tempo, uma luta pela qual tenho o maior dos respeitos, tanto mais que aprendi que esta doença é muito mais complicada que a gripe, do ponto de vista clínico, para aqueles em que evolui para pneumonias agressivas).
Não me peçam evidências, modelos, fundamentação, não tenho mais que a minha livre e ignorante interpretação do que fui ouvindo de quem me parece que saberá mais do assunto.
Quem faz previsões normalmente passa muito tempo a explicar por que razão falharam (obrigado, Luís, por me lembrares disso), eu não o vou fazer, eu sei que as previsões estão sempre erradas, o futuro nunca é nada do que dizemos que irá ser.
É um post à Zandinga, nada mais que isso.
Vi ontem uma reportagem sobre a equipa do Instituto Ricardo Jorge que tem estado a produzir a informação oficial sobre a evolução da epidemia em curso.
Tinha o mesmo padrão que tenho reparado com demasiada frequência: todos os que apareciam na reportagem eram homens.
E também tenho reparado na clara predominância de homens em muitas das equipas que têm trabalhado na modelação da epidemia (há muitas mulheres nessas equipas, com certeza, mas nem são a maioria, nem estão suficientemente presentes nas funções que definem a orientação geral desses estudos).
Conheço apenas uma modelação com mais impacto que contraria as ideias dominantes, "Fundamental principles of epidemic spread highlight the immediate need for large-scale serological surveys to assess the stage of the SARS-CoV-2 epidemic", é a tal que admite que a população que contactou com o vírus no Reino Unido é muitas vezes mais que aquela que se poderia supor a partir dos testes que se vão fazendo.
Tem como coordenadora e principal investigadora uma mulher, Sunetra Gupta.
Em coisas de elevada incerteza, como é a fase inicial de uma epidemia provocada por um vírus novo, e com elevado impacto nas nossas vidas, como é a ameaça de uma epidemia (e reforço a ideia de que o que tem mais impacto, nesta fase, é a ameaça da epidemia, sobre o impacto real da epidemia sabemos muito pouco), confesso que me deixa muito intranquilo não ver uma maior presença de mulheres no coração da produção de ideias e soluções relacionadas com o assunto.
Que seria que Victor Moura-Pinto conseguiria desencantar para fazer humor no meio da pandemia, perguntava-se, sempre bacoco,José Alberto Carvalho. Fácil: sob a capa de humorista, Moura-Pinto fez mais escrutínio e crítica em 5 minutos do que a Tvi numa semana inteira. É que Moura-Pinto, ao contrário dos muitos que passam hoje por jornalistas, não tem vocação de censor, nem de defensor do poder.
Coronavírus hoje em Portugal – 5.962 casos, 119 vítimas mortais
O mais difícil destas rotinas informes é a falta dos rituais inerentes a cada um dos dias, coisa que transforma a semana num amálgama de tempo indistinto, para além do dia e da noite. As idas ao escritório durante a semana, os dias de ginásio, os jantares com os amigos ou idas ao futebol, as reuniões profissionais ou políticas, as datas festivas e celebrações religiosas conferem uma plasticidade ao calendário que faz mais falta do que poderíamos pensar. Cá por casa a passagem do tempo é marcada pelas refeições, mais o almoço servido à mesa com alguma formalidade e empenho culinário, e pela recitação do terço ao fim da tarde. Para minha sanidade mental nos últimos tempos tenho assistido no máximo a uma hora diária de notícias na televisão. A parte que mais tenho gostado são as vistas aéreas da minha cidade semi-deserta. Para não desgastar com demasiadas exigências a salubridade mental da nossa pequena comunidade familiar os jantares são volantes, com relativa flexibilidade de horário. Nesse sentido ao domingo ninguém é obrigado a tarefas da escola ou laborais, os computadores preferem-se desconectados e eu não fui fazer a minha corrida matinal. Este dia também é marcado pela carência da missa dominical comunitária, e o facto de hoje não poder cumprir a visita semanal à minha mãe que sofre de um severo enfisema pulmonar causa-me alguma amargura – toda a gente sabe que a solidão também mata, quase tanto quanto a pobreza com que muitos se confrontarão nos próximos temos. Em compensação, a minha mãe com quem tenho falado todos os dias por telefone, parece estar a levar esta crise com algum fair play. Fumadora inveterada durante quase toda a vida, está habituada a respirar pouco.
Hoje foi dia de reabastecimento no supermercado, que me pareceu adaptado à crise, bem apetrechado com produtos frescos em todas as secções. A propósito: aqueles vídeos a ilustrar os comentadores de economia dos noticiários a falar da severa crise financeira a que estamos condenados com máquinas de contar notas de 50 e 100 euros em loop são só para nos enervar, não são? Na Suécia, que como sabemos são uns bárbaros, estão a enfrentar a epidemia de forma diferente da nossa, a vida prossegue com muito mais normalidade que aqui. Espero que sejam eles os enganados.
Voltando à irritação de António Costa com os holandeses na sexta-feira: é curioso notar que nem os enormes movimentos migratórios das últimas décadas mudaram velhos preconceitos e rivalidades nacionais. É disso que são feitas as nações e não é obrigatoriamente mau.
Esta reportagem do Observador sobre os lares merece ser lida.
Desde o princípio que sabíamos quais os grupos de maior risco em caso de infecção por coronavírus e a seu tempo se discutirão as responsabilidades que nos cabem a todos, não apenas de quem tem de decidir nestas matérias, frequentemente com opções mínimas face aos recursos e ao contexto.
O que me interessa aqui, neste post, é a frase com que arranca, porque é mais ou menos o que todos dizemos: “Os lares de idosos são as grandes bombas-relógio”.
Agora saiamos do nosso conforto e entremos na pele de um dos utilizadores desses lares que, como é frequente nessas condições, todos os dias vê televisão e todos os dias é massacrado com as reportagens dos camiões de caixões de Bérgamo, sem que ninguém lhe explique que são os cuidados no tratamento dos corpos que os justificam, e não a quantidade de pessoas mortas.
Todos os dias é massacrado com a ideia de que se alguém com mais idade for infectado, é desgraça certa.
E, de repente, dizem-lhe que a peste entrou no seu lar.
Quando se declara uma infecção no seu lar, não só já está instalada no seu espírito uma enorme intranquilidade, como ainda acentuamos a ideia de que não há nada a fazer, vai morrer toda a gente.
E, no entanto, na pior das hipóteses, nove em cada dez infectados nos grupos de risco não morre da doença.
Não sabemos bem se é assim, porque não sabemos quantos infectados já houve antes, no momento em que se fazem os testes, o simples facto de que cada vez que se testam todas as pessoas ligadas ao lar, porque há um caso conhecido, se revelar uma enorme taxa de infecção, sugere que é bem provável que a taxa de mortalidade seja, afinal, bem mais baixa daquela que neste momento se aceita, mas saltemos por cima disso e aceitemos como boa a taxa de mortalidade de 9%, 10 para facilitar as contas.
Claro que é uma taxa altíssima, claro que se for eu o décimo, não me vale de muito saber que os outros nove não vão morrer, mas o que devemos nós fazer a quem, na mais absoluta fragilidade e dependência dos outros, vê a morte de frente?
Continuar a insistir que vai tudo morrer, sendo mentira e ampliando a angústia e o desespero, isolando toda a gente, impedindo o contacto com quem se ama para mitigar o contágio de pessoas de muito baixo risco?
Ou estar lá, ir buscar a nossa humanidade onde ela estiver, dizer que há risco sim, mas que nove em cada dez pessoas naquelas condições não morrem, mesmo que infectadas, e aceitar o baixo risco da infecção para a generalidade das pessoas, para que se possa dar um fim de vida mais tranquilo ao tal décimo, ou ajudar os outros nove a lidar com o desamparo do momento?
Não conseguimos antecipar o problema dos lares e falhámos aos mais frágeis, é certo, e de certeza que é possível encontrar formas de mitigar os riscos sociais do contacto com os infectados (é o que fazem todos os dias os que lidam profissionalmente com a doença), mas ainda que não fosse possível, temos mesmo o direito de obrigar à solidão os mais frágeis numa altura destas, e de lhes roubar toda a esperança ao mesmo tempo, só porque estamos nós próprios assustados?
Ensinaram-me que o inferno era a ausência de esperança, é por isso que acho desumano voltar a faltar a estas pessoas, condenando-as ao inferno em vida.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: «Senhor, o teu amigo está doente». Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem». Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro. Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente, ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava. Depois disse aos discípulos: «Vamos de novo para a Judeia». Ao chegar lá, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Jesus comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. Depois perguntou: «Onde o pusestes?». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor». E Jesus chorou. Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas alguns deles observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito que este homem não morresse?». Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse Jesus: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?». Tiraram então a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora». O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir». Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.
Palavra da salvação.
Diz a pobre ministra da saúde, e repetem os papagaios das televisões, que o pico da pandemia foi «adiado» para Maio. Se esta gente ao menos falasse português saberia que o pico não foi adiado. Foi apenas o cálculo que foi refeito.
Atentem ao facto de a crise do coronavírus poder culminar numa crise de dívida soberana que pode quebrar a zona euro.
Vejamos. Os países têm carta branca para se endividarem para ajudar as empresas e a economia, mas nem todos os países da União Europeia têm um rácio de dívida pública sobre o PIB com folga. Itália, por exemplo, tem um rácio de dívida de 135%, Portugal tem um rácio de 118%. Se aumentarem a dívida (e vão ter de a aumentar porque as despesas que se preparam para assumir são muitas), quando descobrirem a vacina para a Covid-19, os países vão estar de tal modo endividados que as agências de rating não têm alternativa senão baixar o rating. Voltar a rating lixo é a mesma coisa que deixar de conseguir financiar-se a juros baixos. O défice vai ser ainda mais agravado.
O risco de default tornar-se-ia elevado. O caso de Itália (um amigo meu da área dos mercados chamou-me a atenção, para o risco de Itália se tornar numa segunda Grécia e não conseguir pagar a dívida) é paradigmático. Pode entrar em default, ou fazer haircut da dívida soberana, e com isso traumatizar os mercados e criar um clima de desconfiança em relação à União Europeia. No limite isto pode acabar com Itália a querer sair da zona euro, e estamos a falar de uma das maiores economias da zona euro.
Portugal, por sua vez, não está preparado. Não foi feita a reestruturação que era precisa e a economia cresceu à conta dos serviços, turismo e restauração. Tudo coisas que demorarão algum tempo a voltar ao normal. A poupança dos portugueses continuou muito baixa e o crédito estava a ganhar um novo boom.
Antevêem-se tempos negros para a economia europeia. Por isso o Governador do Banco de Portugal tem defendido em todos os jornais a emissão de dívida pela zona euro para ajudar a economia dos estados-membros vítima da pandemia.
O Governador do Banco de Portugal tem defendido a emissão de dívida mutualizada dentro da zona euro, as coronabonds. Sem as obrigações emitidas pela zona euro para financiar a resposta à crise, haverá uma crise sem precedentes na zona euro, a nível económico e político.
Esta dívida deveria ter maturidades longas, caso de 30 anos, de modo a “diluir o impacto nas contribuições anuais dos Estados-membros” para a amortizar, defendeu também o Governador.
Carlos Costa considera que a emissão de dívida é a única ferramenta financeira de que a comunidade europeia dispõe para responder aos efeitos da pandemia de Covid-19.
O Governador já disse que é bem-vinda a flexibilidade orçamental da Comissão Europeia (Bruxelas anunciou que libertava os países de cumprimento das metas do défice), mas que tal não é suficiente, uma vez que cada Estado-membro tem uma margem orçamental diferente (desde logo pela dívida pública), o que tornaria o combate ao impacto da epidemia dependente da situação orçamental de cada país.
“Para responder com êxito a esta emergência todos os Estados-membros, independentemente da sua situação orçamental e do nível de endividamento, devem manter-se financeiramente unidos e com idêntica capacidade de resposta”, defendeu o Governador do Banco de Portugal, avisando que falta de cooperação e de êxito no ataque a esta crise “pode pôr em causa o futuro do projeto europeu”, pelo que urge encontrar soluções que evitem uma “segunda crise da dívida soberana”.
Oiçam o Governador!
Decidi fazer este post depois de uma troca de comentários com André Carapinha na minha página de Facebok, no momento em que me diz: "ainda mais urgente é o que já se está a passar com milhares de pessoas neste pais, nas cidades e nos subúrbios simplesmente regressou a fome em duas semanas".
O André está nos antípodas das minhas posições políticas e sociais e foi de outra pessoa, também nos antípodas dessas posições políticas e sociais, que me lembrei imediatamente, por ter visto as suas declarações há dois dias: "“Receio que estejamos em risco de enfrentar situações de fome“, considera Isabel Jonet, acrescentando que “temos situações verdadeiramente desesperadas“. Em causa estão sobretudo pessoas com “rendimentos muito pouco estáveis, que trabalham a recibos verdes ou “de forma informal e foram dispensadas, ou a sua fonte de sustentou encerrou”. É o caso de trabalhadores de cabeleireiros ou empregadas domésticas".
No teclado do computador em que pessoas como eu, economistas brilhantes que desenham soluções para enfrentar o futuro, jornalistas em tele-trabalho que relatam números da Covid ou entrevistam médicos dos cuidados intensivos, é muito difícil vermos as vidas destas pessoas a quem simplesmente tirámos o chão de um momento para o outro, mimetizando os modos de actuação de uma ditadura brutal que precisa de se relegitimar permanente com actos heróicos.
Nem o registo histórico dessa ditadura que, com os seus "grandes saltos em frente" e "revoluções culturais", deixou um rasto de pessoas mortas de fome, nem a fragilidade da evidência científica de que a ameaça que enfrentamos seja de uma ordem de grandeza estratosférica, nem a evidência empírica de que diferentes abordagens ao problema têm resultados essencialmente semelhantes, pelo menos da ordem de grandeza da mortalidade, nem a evidência que resulta dos sistemas europeus de vigilância da mortalidade diária de que, até agora, os impactos da Covid na mortalidade estão dentro, eventualmente ligeiramente acima, do que é a mortalidade de uma gripe (escusam de argumentar que clinicamente e do ponto de vista de sobrecarga e risco dos profissionais de saúde a doença não tem qualquer paralelo com a gripe, já sei isso, a comparação não é clínica, e epidemiológica) - para os que têm dúvidas, podem ler aqui o relatório da semana de 8 a 14 de Março, a última disponível, em Itália - nos tem feito parar um bocadinho para pensar se realmente não estamos a criar mais problemas com a cura que com a doença.
Sim, estamos todos em casa, mas isso não significa o mesmo para todos: para mim, que faço parte dos protegidos e dos privilegiados, pode ser, no máximo, um incómodo; para milhares de outras pessoas significa não saber o que fazer para ter o que comer amanhã.
Detesto dramatismos e reconheço a enorme soberba de pretender que esta abordagem da doença é totalmente absurda quando tantos governos, apoiados pela melhor ciência e pelas melhores agências de gestão do problema, as adoptam.
Mas não tenho a menor dúvida do rasto de devastação social que aí está (ia escrever, "aí vem", mas na verdade não estaria a ser rigoroso, isto não é uma questão de consequências futuras, isto passa-se agora) e também me lembro de outros episódios históricos de cegueira colectiva em que a dissidência era rapidamente esmagada com grandes proclamações morais, como agora se faz ao pretender que alguém que se limita a dizer o que aqui estou a dizer é um mero darwinista social sem a menor compaixão pelos mais fracos e expostos.
Prefiro correr o risco de me espalhar ao comprido, de estar totalmente errado (volto a dizer que isso é o mais provável, é muito dificil aceitar a ideia de que tanta gente, tão qualificada e tão responsável está tão estrondosamente errada e que eu, um "pobre homem da Póvoa" aqui sentado é que estou a ver a coisa mais ou menos como deve ser) a deixar de dizer que nos faria falta um bocadinho mais de respeito pelos deserdados da vida, ao ponto de, ao menos, avaliar os efeitos do que estamos a fazer, fora do estrito quadro da paranóia de contenção de uma epidemia a qualquer custo.
Senhores jornalistas, protejam-se, ponham máscaras se quiserem, levem desinfectante no bolso, mantenham a distância social, não toquem em nada, mas vão lá, vão ver o que se está a passar lá.
Ao menos digam-me que é falso alarme, que estou enganado, que afinal não se passa nada.
"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo."
Lembrei-me disto quando comecei a ler comentários inacreditáveis sobre o facto de Boris Johnson ter testado positivo para o coronavírus.
Mas na verdade já tinha decidido que ia decidir se fazia um post sobre a Padaria Portuguesa.
Sou um cliente habitual da Padaria Portuguesa, vou lá de manhã comprar pão, o suficiente para, de maneira geral, já saberem que eu peço para cozerem melhor o pão (não é muito sustentável ter o forno a trabalhar só para cozer os meus pães mais um bocadinho, mas entre a sustentabilidade e a minha mulher, eu opto sempre pela minha mulher) e para ter reparado, num relance, que a SIC lá tinha estado numa reportagem, ao ver o Ibrahim e a Brigitte.
E como continuo todas as manhã a ir ao pão e comprar o jornal (lavo as mãos antes de ir, deixei de levar o saco de pano e passei a trazer o de papel deles, lavo as mãos mal entro em casa e antes de tocar em alguma coisa, garanto que o manípulo da torneira ficou como estava antes de lhe tocar para abrir a torneira, enfim, eu cumpro as regras de auto-protecção e levo-as a sério), sou testemunha da rapidez de adaptação que a empresa demonstrou, transformando em dois ou três dias a loja de padaria em mercearia, vendendo ovos, azeite, arroz, massa, feijão, etc..
Depois de ver o ressentimento de muitos comentários jubilosos pelo facto do seu dono ter escrito uma carta ao primeiro-ministro a explicar que ou há maneira de se apoiar a empresa, ou não há dinheiro para pagar ordenados em muito pouco tempo, como se alguém ganhasse mais que a satisfação da vingança de poder dizer "não são mais que eu" a um empresário falido, achei por bem explicar que tenho pena, mesmo muita pena, se a empresa falir.
Não por mim, o que não faltam são padarias à minha volta, e tal como deixei de comprar ao senhor Manuel e ao senhor António quando a mercearia passou a lavandaria automática, com pena minha, que o pão era óptimo, melhor que o da Padaria Portuguesa, já agora, passo a comprá-lo noutro lado.
O que me chateia, se a empresa for à falência, é ter a noção da aflição da Catarina, que um dia destes andava em bolandas para comprar o leite da filha de meses, porque tinha desaparecido à conta do corona (o leite, não a filha, claro), da Ana, da Patrícia, do Ibrahim, do André e por aí fora, vítimas laterais da maior e mais estranha experiência sociológica a que me foi dado assistir: o suicídio de uma economia na vã tentativa de parar o contágio de uma doença que, fora dos grupos de risco, tem um efeito definitivo marginal na larga maioria da população.
E tiro o chapéu ao empresário que não quis deitar a toalha ao chão, reinventando o conceito das lojas em dias, mesmo sabendo que, provavelmente, na falta de dinheiro rápido até que os clientes sejam autorizados a voltar, é um esforço inglório.
Coronavírus hoje em Portugal – 4.268 casos, 76 vítimas mortais
“Ninguém se salva sozinho” foi a ideia reforçada hoje pelo Papa Francisco na bênção “Urbi et Orbi” transmitida da Praça de São Pedro deserta para todo o mundo. Impressionante, é o mínimo que podemos dizer.
Cá por casa o confinamento já se tornou rotina, e o sentimento inicial de euforia pela anormalidade das circunstâncias já se esvaiu. Se estar sozinho deve ser difícil, também não é fácil a convivência de cinco pessoas numa casa relativamente exígua de três adultos, uma jovem universitária e um adolescente. Requer sensibilidade no respeito pelo espaço físico e psicológico de cada um, aceitando com o mínimo de disciplina o papel exigido a cada um das tarefas domésticas e outros deveres. Vale a pena o esforço pois desta inaudita aventura “Ninguém se salva sozinho”.
Sempre gostei muito da minha casa, ao longo dos anos decorada em cumplicidade com a minha mulher, apetrechada com bons livros, muitos deles por ler, que coexistem com boa música e boas condições de audição. Trabalho à distância para nós há muito que é o nosso modo de vida, e ainda não nos falta dramaticamente. Mas é diferente quando nos vemos impedidos das actividades sociais e cívicas em que normalmente estávamos empenhados. A angústia causada é a prova que a caridade e o “serviço” cívico são aspectos vitais para a nossa salvação. “Mal de quem não tem a quem (a que) servir, não me canso de repetir.
Hoje, para dar um ar de normalidade, recebemos da gráfica pelo correio o "ozalid" (prova para revisão) do próximo livro da chancela Razões Reais da Real Associação de Lisboa intitulado "Quando o Povo quiser". Trata-se de uma antologia comemorativa dos 10 anos da revista Correio Real onde se reúnem os melhores ensaios e crónicas nela publicados. Não é sem alguma ansiedade que esperamos pela oportunidade de agendar o seu lançamento, com a devida pompa. Disso daremos notícias na devida altura.
Com isto tudo, chegámos a sexta-feira e com ela ao inicio das férias da Páscoa, um facto que no confinamento do lar não fará grande diferença. Mas talvez mereça uma celebração com um Whisky irlandês ao final da tarde. Rejubilemos.
Entretanto o Expresso noticiou que "Marcelo e Ferro querem comemorar o 25 de Abril". Mas afinal não foram canceladas todas e quaisquer celebrações religiosas?
Homilia do Papa Francisco na celebração extraordinária de oração pela pandemia da Covid-19
Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos, todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.
Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro... E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).
Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.
A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.
Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela abençoada pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.
«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»
«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.
Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.
«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas más. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida nunca morre.
O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar.
O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança.
Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.
«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).
Vaticano, 27 de março de 2020
"Pois bem, tudo indica que o paraíso desejado, devidamente decorado por artistas, escritores e humoristas que já se estão a posicionar, instalados nas frisas, esteja mesmo para chegar."
Pouco mudou, afinal, em Portugal. O grande inimigo dos pensadores nacionais continua a ser a Padaria Portuguesa.
Esta nossa inclinação infantil e apressada de odiar os nossos ódios em matilha é só mais uma das razões por sermos um país pobre como, temo, descobriremos duramente nos próximos meses.
Achar que a PP (e outras empresas) deviam ter bolsos sem fundos para prever um evento como que vivemos é rasteiro e cobarde.
Por definição, e para quem não sabe, a boa gestão é feita através de investimentos e não de guardar montanhas de moedas como fazia o Tio Patinhas ou notas debaixo do colchão. A riqueza nas sociedades humanas acontece porque houve - e há - quem tome riscos. Nem todos os Descobrimentos a meio do milénio passado, foram feitos por conta do Estado como os portugueses. Já naquele tempo houve "privados" que se atravessaram. As coisas, dos ventiladores às broas de mel do Pingo Doce, não caem do céu. Existem, quase sempre, porque quem as faz, acha que vai ganhar com isso. Ganhar o quê? Dinheiro pois então, riqueza.
Achar que os "liberais" não podem recorrer ao estado durante um evento incomparável como que o vivemos é desonesto, estúpido e em especial inumano. Porque assinala que quem pensa e faz diferente - os tais liberais ou a PP entre milhares de outros - deve ser devidamente punido por isso, nem que seja com uma pandemia no focinho.
Pelos sorrisos e tom de certos escritos e ditos, quase que arriscaria dizer que a p**a da pandemia já valeu a pena, quanto mais não fosse para arrumar de vez com a Padaria e os liberais.
Pois bem, tudo indica que o paraíso desejado, devidamente decorado por artistas, escritores e humoristas que já se estão a posicionar, instalados nas frisas, esteja mesmo para chegar.
Vai ficar tudo como eles sempre quiseram.
Pedro Boucherie Mendes no Facebook
Pela parte que me toca, já chega o que chega: escrevi demais sobre esta epidemia, expus-me demais com esta epidemia (no espaço público, entenda-se, no que pessoalmente me diz respeito, pelo contrário), fi-lo de forma totalmente consciente, quer da dimensão da minha ignorância, quer dos riscos associados a deixar todo o espaço público à brigada do "fecha tudo, já!".
Na altura em que o fiz, a margem deixada à racionalidade e à moderação era muito, muito estreita, mas agora começa a haver algum contraponto à exigência populista do "fecha tudo, já!" e já não me parece útil ter um ignorante a passar tempos infindos a procurar informação e, sobretudo, a ouvir quem, sabendo muito mais do assunto, simplesmente não se ouve.
Pela parte que me toca, fiz o que achei que era útil fazer e agora vou-me dedicar às couves.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
"o Chega é formado maioritariamente por elementos ...
-tá? é do xis? tenho problemas com este pc por não...
Um dia destes o PS importa da Alemanha a coligação...
Os pais respondem pela conduta dos filhos menores.
Subjectivamente, podem não querer saber, podem que...