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Chega de escroques

por João Távora, em 17.02.20

André Ventura.jpg

Ainda estou a tentar perceber quem André Ventura queria atingir com este tweet, para além do claro propósito de relativizar da atitude alarve da claque vimaranense ontem com Marega. Não percebo se fala como adversário político da deputada Joacine ou como comentador benfiquista ressentido da derrota de sábado na Luz e adversário do Porto desprovido de simpatia pelos seus atletas, ou se simplesmente está a usar a velha táctica dos esquerdistas quando se vêm apertados de chamar hipócrita aos seus adversários, género “vocês são todos racistas só que não assumem”. Pela minha parte quero relevar que me faz muita confusão a quantidade de pessoas que acham aceitável qualificar (enxovalhar) uma pessoa pela sua cor da pele ou pertença étnica. De resto, se este triste episódio não nos autoriza a classificar os portugueses de racistas (há por aí muita gente a esfregar as mãos de contentes com a hipótese), já temos informação suficiente para chamar escroque ao André Ventura. 

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Economia e sustentabilidade

por henrique pereira dos santos, em 17.02.20

Uma boa parte das políticas de sustentabilidade que conheço partem do princípio de que o fundamental é dar cabo do capitalismo (um dos gurus mais vocais dessa tese é João Camargo, que vale a pena ouvir para ter a certeza sobre o que não fazer).

Aqui vão três exemplos de que talvez o problema não seja capitalismo a mais, mas literacia económica a menos.

No século XIX, um trabalhador em Lisboa gastaria cerca de 70% do seu rendimento em comida, dos quais 30% em pão. Hoje gastamos cerca de 16 a 17% do nosso rendimento em comida, o que inclui os cerca de 30% de desperdício alimentar que ocorre nas nossas casas - coisas que compramos e deixamos estragar, restos que não comemos, partes dos alimentos que são usáveis e comestíveis e deitamos fora, etc..

Se quisermos reduzir o desperdício alimentar, temos duas opções:

1) esperar (de preferência sentada, por causa das varizes) que toda a gente tenha a consciência do desperdício alimentar que geramos, por isso tenha a vontade de o diminuir e, depois, ainda tenha o tempo e a sabedoria para estar no supermercado e na cozinha o tempo suficiente para optimizar o uso de alimentos, gastando uma hora de trabalho para reduzir em 30% uma despesa que representa 17% do rendimento que se poderia obter gastando essa hora de trabalho a aumentar os rendimentos;

2) optimizar a eficiência da economia de produção, logística, conservação e preparação de alimentos, diminuindo desperdícios e aumentando a competitividade e o valor da nossa actividade económica.

Boa sorte para os que apostam todas as fichas na primeira hipótese, mesmo sabendo que quanto mais conseguirmos resultados na primeira hipótese mais facilmente obtemos resultados na segunda.

Os segundos e terceiros exemplos tomam-me menos tempo por estarem escritos em dois artigos de hoje do Observador.

"Durante alguns anos temos assistido à resistência dos moradores de Lisboa ao dito alojamento local o que é, no mínimo, irracional. Se os ditos moradores colocarem as suas casas numa plataforma de alojamento de curta duração e forem viver para junto da praia, não só é financeiramente proveitoso, como a sua qualidade de vida crescerá em muito se o seu local de trabalho também se deslocar."

Quem quiser aprender mais sobre isto, é ir ler o João Pires da Cruz.

"Do abandono, a que muito do nosso espaço florestal está votado, o fogo não é uma causa, mas sim um sintoma, uma consequência. Não estamos a pagar a pronto um padrão aceitável de fogo. Acabamos por pagar, a prazo e com juros, uma elevada factura (em vigilância, em meios aéreos, em reconstruções, em falências, em cheias, em poluição, etc.) que não apaga a dimensão trágica deste fenómeno recorrente, e que afecta tudo e todos: mortes, paisagens horríveis, perda de valor, bens destruídos, animais mortos, etc, etc… É desta forma dolorosa que queremos pagar a conta do fogo?"

Quem quiser aprender mais sobre isto, é ir ler o João Adrião.

 

«Não matem». Um texto magnífico

por José Mendonça da Cruz, em 16.02.20

O texto que junto, sobre a eutanásia, é humanista e um dos mais bem pensados, mais serenos e inteligentes, mais sabedores da realidade portuguesa que tive o prazer de ler. É a tomada de posição do Partido Comunista Português, datada de 18 de maio de 2018, e confesso que o li com alguma surpresa. Mas também me fez pensar que será talvez por estas coisas que o Dr. António Filipe ou o Dr. Honório Novo ainda são comunistas, ou por estas mesmas coisas que o PCP sobrevive.

 

Coisas

por henrique pereira dos santos, em 16.02.20

Frequentemente escrevo coisas de que me esqueço e que, às vezes, me voltam a aparecer sem que eu tivesse a mínima lembrança de que as tinha escrito.

É caso disto, de que transcrevo um pequeno excerto:

"A desvalorização das falhas de mercado associadas à gestão do território e a obsessiva preocupação com os produtores que existem, em detrimento dos produtores que poderiam existir, tem o mesmo quadro mental de quem entende que proteger a azinheira é proibir o seu abate, desvalorizando-a e aos terrenos em que existe, em vez de a conservar pela multiplicação do seu valor, promovendo o seu uso e potenciando o interesse do agricultor em ter azinheiras."

Há dias em que concordo comigo.

Isabel Camarinha

por henrique pereira dos santos, em 16.02.20

"7 euros para os que pior ganham e 650 milhões para o Novo Banco".

Ora aqui está uma boa ilustração do que é hoje boa parte do movimento sindical.

A frase revela confusão entre o valor de um pagamento pessoal e o valor de um pagamento para uma organização e confusão entre um pagamento anual e um pagamento único.

Não admira que a actual secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, não perceba muito de como funcionam as empresas: em 40 anos de vida profissional, nunca trabalhou numa empresa: começou aos 19 anos como funcionária de um sindicato e nunca, mas nunca, teve outro patrão que não sindicatos e confederações sindicais.

Quando um dia Portugal quiser ser um país crescidinho, faz uma coisa simples: a negociação entre patrões e trabalhadores passa a fazer-se empresa a empresa, com comissões de trabalhadores das empresas, e não entre confederações patronais e sindicais onde se podem encontrar representantes sindicais que nunca trabalharam fora do mundo sindical, isto é, que nunca verdadeiramente foram trabalhadores comuns como os que supostamente representam.

Domingo

por João Távora, em 16.02.20

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um só dos teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegítima, expõe-na ao adultério. E quem se casar com uma repudiada comete adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».


Palavra da salvação.

A Madeira acredita nas vacas voadoras socialistas

por José Mendonça da Cruz, em 15.02.20

Eu sei que o Dr. Miguel Filipe Machado de Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira, é uma pessoa distinta, advogado, escritor, político sério, pai de família, criador de rosas de fama internacional, e, julgo, social-democrata. Mas o que o Dr. Miguel Albuquerque decidiu sobre as tarifas aéreas para os habitantes da Madeira é mais uma demonstração de que a crença nos entorses igualitários e a descrença na iniciativa privada e na concorrência estão incrustadas na maneira de fazer política à portuguesa. O novo regime de tarifas aéreas é mais uma daquelas maravilhas socialistas que, no curto prazo, solta as asas da propaganda e parece oferecer um Pégaso, o qual, no longo prazo, se revela uma pileca daninha e imprestável.

Até agora, os madeirenses que quisessem viajar para o «cont-nente» eram subsidiados. Escolhiam a companhia aérea e a tarifa, e o governo regional devolvia-lhes depois tudo o que no preço pago excedesse 86 euros.

Mas, é claro, sabendo como os orgãos do Estado em Portugal -- tendo-se, embora, e à sua acção em alta conta -- funcionam mal, os reembolsos dos utentes atrasaram-se miseravelmente, tendo eles que esperar muitos meses para reaver o dinheiro prometido.

Ora, o Dr. Miguel Albuquerque, sendo uma pessoa distinta, bom pai de família e floricultor, tem uma solução rápida e festiva. Corrigir os atrasos? Não. Dinamizar os serviços? Não. Fazer as coisas a horas e em tempo satisfatório? Não. O Dr. Miguel Albuquerque tem uma solução socialista: transferir as demoras de reembolso para as companhias aéreas que prestam o serviço.

A partir de agora, os madeirenses, libertos da temperança que os atrasos de reembolso impunham [o que coloca a dúvida: seriam intencionais?] chegam ao balcão de uma companhia aérea qualquer e compram um bilhete para dali a uma hora, se houver; na tarifa mais cara da companhia mais cara, se assim entenderem; e pouco lhes importa, porque no acto só vão pagar 86 euros. As companhias aéreas que vão receber ao Totta, perdão, ao governo regional, porque o resto do valor do bilhete (sejam 20, 50, 200 ou 300 euros) é o governo regional que paga à companhia aérea. E a companhia aérea não vota.

Grande festa, bombos e pandeiretas, enorme regalia para os utentes? Parece. E consequências? Péssimas, mas só mais tarde.

A primeira consequência vem da mais que justificável desconfiança na competência dos serviços públicos. Pois se os utentes tinham que esperar meses para serem reembolsados, que devem as companhias esperar em termos de eficácia e prazos? É o primeiro factor que torna o mercado madeirense menos interessante.

Mais. Se uma companhia aérea é competitiva e oferece tarifas baixas, mas competência e esforço se revelam afinal indiferentes, pois que os madeirenses estarão a borrifar-se para as tarifas... se a competitividade não adianta nada, o que faz nesse mercado uma empresa competitiva. É o segundo factor a desaconselhar a presença nesse mercado.

E, então, qual poderá ser o resultado. O resultado poderá ser que madeirenses e governo regional se vejam reduzidos a uma ou duas companhias aéreas, a praticarem preços proibitivos e os horários que entendam, sem qualquer incentivo para apresentarem bom serviço, e plenamente justificadas nisso pelo facto de terem que esperar meses para que lhes paguem o que lhes devem. Os utentes madeirenses estarão subsidiados, porém sem opções, sem escolha, e com uma oferta pior. Em vez do Pégaso, a pileca. Oferta do Dr. Miguel Albuquerque, pessoa distinta e educada, advogado, político, escritor, criador de rosas, que, porém, faz como no socialismo. 

Na crista da onda...

por João Távora, em 14.02.20

Já foi assim com a república (até mataram o rei e o seu filho) e com outras modernices: só meia dúzia de países no mundo a legalizaram a eutanásia e só não se percebe o porquê deste atraso de vida que é Portugal. Sempre na crista da onda para ajavardar.

Erguei-vos, vítimas das vozes!

por João-Afonso Machado, em 14.02.20

Eu arriscaria dizer, ganha a Esquerda. A Esquerda é um omnipotente Benfica da política, rubra, no name boys por toda a superfície urbana e desorientada, ávida de desconstruir, qual traficante de droga que reivindica todos os seus direitos, inclusive o de traficar.

A seu tempo, a eutanásia terá cobertura legal. Não faltará muito para isso.

Não sou, entretanto, do grupo dos cruzados que se vestem de ferro e empunham espadas pesadíssimas por uma causa que só a inteligência pode vencer. Perdendo-a, terá de se vitaminar e regredir à 4ª classe para a recuperar.

Mas sempre aqui deixo, a propósito, duas notas, decerto de pouca valia.

Imaginemos, primeiramente o doente terminal que, incapacitado de o fazer pelos seus próprios meios, pede a alguém o mate - isso mesmo, o mate, eufemismos isabel-moreiranos à parte. Imaginemos, também, já na fase irreversível do percurso, o padecente se arrepende, quer voltar a trás mas é tarde.

Qual o estado de alma do seu auxiliador nestas circunstâncias? Que cara a sua - a de um no name boy engarruçado?

A segunda questão, manifestamente, fala pouco ao pragmático coração peludo da Esquerda. Institucionalizada a eutanásia, as gerações vindouras nascerão sob o epígrafe do "sofrimento, não!". Elas saberão, a vida tem limites temporais e, a terminar naturalmente, será sempre mediante dores fisicas e mesmo morais. Muito plausivelmente, o seu dia-a-dia será a obsessão por um sofrimento antecipado - o próprio medo de sofrer transformado em sofrimento, isto é, uma porta aberta para um terror quotidianamente vivenciado.

Fora eu um estratega do Ministério da Segurança Social e rejubilaria - não podendo aumentar as pensões, reduzam-se os pensionistas...

Mas não é preciso ir tão longe. Basta ler o comunista Gramsi, mais as suas diatribes contra a civilização ocidental, para ele de abate imperioso.

Semânticas

por João Távora, em 14.02.20

Ultimamente nas minhas teses e argumentações politicas tenho optado por substituir a designação de "esquerdistas" por "progressistas" pois estes últimos (os meus adversários) existem em todo o espectro partidário. Entenda-se "progressista" como um "activista do progresso", aqueles que acreditam na possibilidade da construção do "homem novo" e nos "amanhãs que cantam".

Os fantasmas e a sustentabilidade

por henrique pereira dos santos, em 14.02.20

O movimento ambientalista, que na origem tinha os pés na terra e era muito cauteloso na fundamentação científica e técnicas das suas posições, procurando responder a problemas reais das pessoas comuns, tem evoluído para uma deriva mediática em que o activo central que procura valorizar é o medo do futuro.

Abandonou a solidez da base científica e técnica do que diz - a ciência é uma coisa chata que umas vezes confirma as nossas crenças, outras destroi-as sem dó nem piedade - e prefere lidar com fantasmas.

Tem mantido posições totalmente acientíficas, não são anti-científicas como as dos terra-planistas ou dos criacionistas, ignorando toda a produção científica que diminua o dramatismo associado a coisas como os eucaliptos, os fogos, o glifosato, os organismos geneticamente modificados, e muitas outras coisas.

E, para se manter na crista da onda, o movimento ambientalista, ou melhor, a componente dominante do movimento ambientalista, há outras componentes minoritárias que não funcionam assim, tem uma grande necessidade de saltar de drama em drama, que vai elegendo em cada momento.

Um bom exemplo disto é a estridência da sua guerra contra o glifosato, ao mesmo tempo que ignora, por completo, que a diminuição do consumo de glifosato, em Portugal, tem vindo acompanhada pelo aumento de consumo de outros químicos, menos mediáticos, mas ambientalmente mais agressivos. Nota: o consumo de químicos por unidade de produção tem diminuído bastante e, sobretudo, tem havido uma enorme alteração da sua natureza, sendo hoje usados químicos bem menos impactantes que há quarenta anos, portanto esta tendência que refiro não pode ser lida de forma totalmente linear, apenas serve para ilustrar como a atenção mediática concedida a um problema eleito como drama - o uso de glifosato - convive perfeitamente com o silêncio sobre problemas mais graves, mas menos úteis mediaticamente - a sua eventual substituição por químicos mais agressivos, mas menos mediáticos.

Vem tudo isto a propósito de uma pequena frase de David Neeleman nesta entrevista: "o mesmo avião já não consegue chegar tão longe se partir de Madrid ou de Paris, o que dá uma enorme vantagem competitiva a Lisboa, pois o A321 LR consome metade do combustível nessa viagem do que um A330, que é o avião que habitualmente é utilizado. Foi por isso que encomendei 19 destes aviões".

Ainda ontem tinha ouvido referências ao facto do crescimento em torno de 20% no números de passageiros no aeroporto da Portela corresponder a um aumento em torno de 1% no número de vôos, o que aponta no mesmo sentido: a aviação está a evoluir rapidamente no sentido de se tornar mais sustentável.

Ora a aviação tem sido um dos alvos preferenciais dos radicais ambientalistas, por causa das suas emissões e efeito nas alterações climáticas.

O problema é real, e merece atenção, sobre isso não tenho qualquer divergência com a generalidade do movimento ambientalista.

Pessoalmente nem viajo muito e, recentemente, tendo de ir a uma conferência em Barcelona, andei à procura de maneira de lá chegar de comboio. Acabei por decidir ir de carro, articulando com pelo menos mais uma pessoa e, eventualmente, com um bocadinho mais de esforço, ainda daria para apanhar mais algum espanhol pelo caminho. A diferença de custo não é muito relevante para os vôos directos, embora seja alguma para vôos com escalas, a diferença do tempo de viagem (contando horários disponíveis e tempos de aeroportos, incluindo atrasos) é gerível e a alternativa do comboio é incomparavelmente pior em tempo e flexibilidade. Mas tudo seria muito mais simples se fosse de avião (há um ano ou dois fui de carro, aproveitando para fazer férias, a Bordéus, para uma conferência para que me convidaram e, apesar de ter combinado que me pagariam o dinheiro do avião para abater nas despesas da viagem, a verdade é que para os organizadores seria muito simples terem-me pago o avião e, até hoje, acabei por nunca receber o dinheiro correspondente, porque as organizações não estão preparadas para lidar com modelos alternativos de financiamento de viagens).

Há muito trabalho a fazer para melhorar a sustentabilidade da forma como nos deslocamos, e uma boa parte desse trabalho é mesmo na aviação.

Mas insistir que a única maneira de ser mais sustentável é viajar menos de avião, não construir aeroportos e coisas que tais é muito pouco útil, excepto para a tal opção de dramatizar tudo o que for possível para reforçar o medo do futuro de que se alimentam as organizações basicamente reacionárias, como são grande parte das que fazem parte do movimento ambientalista dominante.

Dúvidas

por João Távora, em 14.02.20

Não é o direito de morrer que está em causa nas propostas da eutanásia. É outra coisa: é o direito de matar. Hoje, matar alguém, mesmo que a pedido dessa pessoa, é sempre um crime. Com a instituição da eutanásia, deixaria de ser assim. As questões éticas e jurídicas daí derivadas, e não apenas para os médicos, vão muito para além do “direito” e da “liberdade” de um suicida, e merecem ser discutidas e esclarecidas. (...) A eutanásia é sobretudo mais uma frente na sua [dos progressistas] guerra ideológica contra o que, desde o jacobinismo, lhes ensinaram ser a grande dificuldade: as tradições, inspiradas sobretudo pela herança cultural do cristianismo, que foram sempre os obstáculos principais aos projectos de refundar a sociedade a partir do Estado.

Rui Ramos a ler na interga aqui

Abandonai toda a esperança...

por José Mendonça da Cruz, em 13.02.20

... vós que esperais um sobressalto perante a incompetência deste governo. 

Um cidadão com grave problema de saúde acorreu ao hospital de Lamego, uma Entidade Pública Empresarial, e depois de esperar 6 horas morreu sem ser atendido.

Apesar do estado caótico em que os fingimentos do governo precipitaram o SNS, apesar do funcionamento criminosamente incompetente desse tipo de hospitais que os socialistas preferem, para não haver nem privados nem liberdade de escolha à vista, apesar de tudo, a família -- cuja dor me merece o maior respeito, e cuja inteligência não me merece nenhuma -- considera que se trata de um caso de negligência médica.

Pode seguir a propaganda e a incompetência.

Temos aquilo que merecemos

por João Távora, em 13.02.20

Cristina Ferreira.jpg

Disseram-me que a Cristina Ferreira promoveu esta manhã na SIC um "debate" sobre a eutanásia em que os convidados eram todos a favor da dita - deve ter sido uma amena a cavaqueira, uma autêntica acção de promoção. Será que a intenção da entertainer era convencer das virtudes da antecipação da morte a sua audiência de reformados retidos em casa ou em lares de idosos, condenados a ver programas imbecis? É evidente que o debate está viciado, as cartas estão marcadas.
E todos os idiotas úteis que teimam em abster-se nas eleições mas agora vociferam indignados com a previsível vitória da eutanásia num parlamento com quase 2/3 de “progressistas”, da próxima vez lembrem-se que a participação cívica é algo mais que perorar nas redes sociais. Agora queixem-se!

Lofff.jpg

O Público de hoje traz um ataque feroz de Manuel Loff a Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, por causa duma controvérisa havida no Teatro Municipal, o Rivoli dirigido por Tiago Guedes.

Ler Loff — graças a Deus é quinzenal — ou vê-lo na rtp2 é um esforço olímpico de paciência para com as ideias dum totalitário empedernido, que agita a liberdade e a democracia a torto e a direito como bandeiras úteis mas tem zero de tolerância para quem não se alinha com a sua bitola política. Esse esforço de paciência é que é verdadeiramente democrático, e eu jamais pediria que alguém cortasse a voz deste que garbosamente se assina como historiador, o que já por si parece bastante para causar grave suspeição, na medida em que dificilmente se encontra naquilo que ele escreve — livros incluídos — uma réstea de contraditório ou de debate de ideias ou justaposição dialéctica de factos. É reconfortante ver ou ler a verdade dura e crua do totalitarismo em todo o seu «esplendor». É até vacinante!

Talvez por consideração a quotas ideológicas e políticas, jornal e televisão acolhem Manuel Loff, mas o benefício — «importa dizê-lo com frontalidade», como dizia o outro, que  foi quase o mesmo — para quem o lê ou ouve é extremamente reduzido. Talvez Loff sonhe, ainda!, com uma ditadura soviética no Porto (a felicidade livre na terra sob sol radioso), porém o seu ácido desespero por ver tão distantes esses admiráveis desígnios, que a cidade tarda em acolher desde tempos imemoriais, levou-o agora a uma acusação a Rui Moreira que vai para lá de todos os disparates: «o problema de Moreira é esta megalomania monárquica que afecta tanta gente na gestão do que é público.» Seria bom que nomeasse essa «tanta gente», como seria razoável que fosse honesto o suficiente — mas seria já pedir-lhe demasiado — para reconhecer que no exercício das suas funções institucionais o presidente da CMP tem sido absolutamente discreto quanto à sua preferência na chefia do Estado (como aliás seria razoável que fizesse). Mas aí está: acusá-lo de monárquico tem logo um adicional de negativo, que fica por explicar.

Continue, Manuel Loff, continue. A Liberdade agradece-lhe, mas não como julga...

Vasco Rosa

Não vos passa um arrepio na espinha?

por João Távora, em 12.02.20

O Estado, esse grande educador das massas, qual polvo cuja cabeça descomunal reside em meia dúzia de ministérios em Lisboa, consegue saber aquilo que precisar sobre a vida de cada um de nós: onde estamos, o que fazemos, de que padecemos, e (principalmente) o que pagamos... com uma minúcia aterradora. É natural por isso que estejamos dispostos a delegar neles as regras e condições em que nos poderão ministrar uma injecção letal. Com isenção de taxa moderadora.

Hoje, um dia triste cá na terra

por João-Afonso Machado, em 12.02.20

FAMA BOYS.JPG

A equipa viajou até Lisboa onde foi derrotada no último minuto do jogo. A equipa encheu o peito para vencer o Benfica aquando da sua recepção em Famalicão. Empatou. Porque lhe subtraíram um golo mal anulado. Deste modo a meia-final não seguiu para bingo.

É assim a vida longe das grandes máquinas ditas desportivas. Muito carregada de ilusões, amargurada por outras tantas desilusões. O jogo de ontem traduziu com exactidão a velha realidade da águia imperial trucidando os pequenos reinos livres que não prescindem da sua liberdade.

(Uma águia - imperial - que vem voando da Roma antiga, em círculos sobre o poderio germânico e a imensidão russa, com uma cria futebolística abandonada em Benfica.)

A hoste azul e branca famalicense fez o que pode. A lembrar os velhos ricos-homens de Ribadouro, ou mesmo as populações minhotas sublevadas... contra a águia de Napoleão.

No camarote de honra o tirano Vieira protestava, no maior desprezo pelo seu homólogo e anfitreão. Por pouco, um adepto não lhe pôs as mãos no gasganete - não fora a intervenção do dito anfitreão e homólogo...

Perder com mais dignidade não é possível. Em outra batalha contra as oligarquias que são as repúblicas cesaristas. Pelas nossas ruas não corre vergonha alguma: somente tristeza e talvez alguma revolta, afinal pelos dedos de quem o sonho não se tornou realidade?

Acidez 2 - mandem os liberais à frente

por José Mendonça da Cruz, em 11.02.20

12178.jpg

 

 

Se a esquerda, que é profissional, for inteligente, apoiará em bloco a proposta para a eutanásia de autoria da Iniciativa Liberal, a força parlamentar que também quer a morte, mas mais burocrática e solene. Por um lado, manchava a imagem de um inimigo da tirania estatal e do coletivismo; por outro, dava uma boa lição a amadores e maximalistas, que nestas coisas são o mesmo.

Acidez 1 - organizem-se que eu sigo-vos

por José Mendonça da Cruz, em 11.02.20

Parece que falhou a tentativa de domesticar o Ministério Público e de passar a meter na gaveta as coisas que possam incomodar corruptos. Depois de magistrados, juízes, juristas, media, comentadores e opinião pública se indignarem e pararem a manobra, é bom ouvir o senhor presidente da república quebrar o silêncio para congratular-se. 

Talvez agora que a Igreja se pronunciou, e se ouvem muitas vozes claras e críveis contra a eutanásia ; talvez agora que, ao contrário do que os «fracturantes» esperavam, a eutanásia não passa à sorrelfa, por entre cobardia e silêncio; talvez agora o senhor presidente da república possa ter também sobre isso alguns valores e uma opiniãozinha.

Antes que uma grande tragédia aconteça...

por João Távora, em 11.02.20

Heisel.jpg

Quem ingenuamente julga que a questão da violência das claques e da delinquência no futebol é um problema exclusivo do Sporting, está muito enganado. Porque será que o Estado que se quer meter em tudo, até na nossa vida privada, assobia para o lado nesta matéria tão urgente? Temo que o problema só seja encarado com seriedade quando acontecer uma grande tragédia - o monstro é incontrolável e se não for enfrentado, depois de matar alguém irá matar o futebol.
Aqueles que de boa-fé julgam que o problema do Sporting é Frederico Varandas deveriam pensar se haverá alguém com vontade e qualidades profissionais e humanas para o substituir, sabendo de antemão que se vai confrontar com os mesmos problemas da actual direcção: um clube em guerra civil e recursos tragicamente limitados para ombrear com os seus rivais. A reedificação dum Sporting vencedor (como o que existiu até aos anos 60) é um trabalho de hércules que exige não só um líder extraordinário (que não estou a ver de onde surja), mas de estabilidade para implementar uma estratégia vencedora (atravessar o deserto). Entretanto deixem a actual direcção terminar o seu legítimo mandato. Se no final tiver dominado as claques, devolvido o Sporting aos adeptos e as famílias poderem voltar a frequentar pacificamente as bancadas, já terá valido a pena.

Imagem - Heysel, Bélgica, 29 de maio de 1985 

Post publicado originalmente aqui



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