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Uma carta de 1928 recentemente chegada às minhas mãos, de Dom Manuel II para o meu bisavô João Ulrich consentindo o casamento de Maria Emília Casal Ribeiro Ulrich com o Marquês de Abrantes (meus avós), insinua num singelo parágrafo uma improvável amizade entre o rei e o meu avô José. Bem sei que tinham praticamente a mesma idade e que o meu avô pagou com o exílio a luta contra a república. Mas acontece que a Casa de Abrantes tinha, desde o início do conflito entre liberais e tradicionalistas, uma ligação fortíssima com a causa legitimista que por muitas décadas apoiou política e monetariamente contra o ramo liberal de que descendia Dom Manuel II. Talvez para um português actual não seja fácil entender até que ponto no século XIX era brutal esta fractura, mas a mim ainda hoje me chegam ecos desta cizânia que resultou numa sangrenta guerra civil. Sendo assim, a frase “Sou muito amigo de há muitos anos do Marquês de Abrantes: estou convencido que a sua filha não poderia fazer melhor escolha.” vem carregada de significado político e reconforta o meu coração monárquico. Exilado e longe da sua amada Pátria tomada pelo radicalismo revolucionário, Dom Manuel II demonstra uma enorme grandeza de espírito e de que matéria é feito um Príncipe.
Lembrei-me disto a propósito da conflitualidade que se adivinha nos discursos radicais emergentes da nova legislatura e seus protagonistas. Pela minha parte tenho dificuldade em entender que as pessoas não se possam relacionar cortesmente, por maior que sejam as suas diferenças políticas e ideológicas. Nada justifica a perda de compostura, há uns mínimos de urbanidade exigível aos deputados que nos vão representar no parlamento, mesmo que este se chame Assembleia da República. Que não lhes fuja o pé para a chinela e não comprometam os consensos mínimos de uma nação que se quer civilizada.
Rui Tavares tem hoje no Público um artigo extraordinário sobre os imensos perigos de André Ventura ter sido eleito para a Assembleia da República.
Ao que parece, Rui Tavares, que em tempos foi eleito por um partido formado por estalinistas e trotskistas, acha que eleger-se um deputado de extrema direita é uma coisa terrível cuja responsabilidade não é dos eleitores, mas sim de Passos Coelho, porque o candidatou em tempos à Câmara de Loures (nem o facto de, num cenário de perda acentuada de votos do PSD nesse ano, Ventura ter feito subir a votação do PSD acendeu uma luzinha que levasse Rui Tavares a pensar que se calhar a sua argumentação não batia certo com os factos), e do canal de televisão que convidou Ventura para falar de futebol.
Rui Tavares acha que os eleitores são uns tontinhos irresponsáveis que é preciso proteger dos homens maus, impedindo as televisões de ter comentadores de futebol da extrema direita e que a responsabilidade dos resultados de Ventura não é o seu discurso populista que fala a franjas do eleitorado que não se sentem representadas na Assembleia, mas sim de Passos Coelho.
No fundo, no fundo, Rui Tavares ainda sonha com o sistema eleitoral que vigorou largos anos em muitos países, em que os eleitores só tinham a possibilidade de votar nos bons candidatos previamente escolhidos pelo partido do poder, para não haver a possibilidade de fazerem escolhas erradas.
Tenha calma, homem, como a sua própria experiência demonstra, não basta ser eleito uma vez para condicionar os votos dos eleitores no futuro, é preciso fazer alguma coisa que os eleitores reconheçam como útil para ganhar a eleição seguinte.
Suspeito que Mamadou Ba ao falar da "bosta da bófia", ou o sectarismo de Joacine ao recusar-se a apertar a mão a Ventura e mandando-o dar uma volta, fazem mais pela reeleição de Ventura que o pobre de Passos Coelho, cujos candidatos nessas eleições, como Teresa Leal Coelho, ou Álvaro Almeida, para citar os dois mais importantes, não consta que tenham ganho muito por terem sido escolhidos.
Por estranho que lhe pareça, os eleitores fazem o que lhes apetece, e não o que lhes dizem que têm de fazer, eles são os únicos responsáveis pela eleição de André Ventura.
Ao que me dizem (sei muito pouco sobre o assunto), temos um problema de sustentabilidade no nosso sistema de pensões.
No tempo de Sócrates, o que foi reforçado no tempo da troica, esse era um assunto relevante e esteve quase a conseguir-se tomar medidas que tinham como objectivo dar maior sustentabilidade e segurança ao sistema de pensões.
O problema é que essas medidas implicam a perda de algum rendimento dos actuais pensionistas.
Com isso o PS conseguiu fazer passar a ideia de que Passos (e a direita) queria cortar seiscentos milhões nas pensões. Como em todas as mentiras eficazes, esta ideia tem um fundo de verdade: é mesmo preciso resolver o tal problema dos seiscentos milhões, a parte da mentira é que não é Passos (ou a direita) que quer cortar coisa nenhuma, é a realidade que é o que é, e isso não significa cortar seiscentos milhões nas pensões a pagamento, significa ter coragem para enfrentar o problema e ser impopular por uns tempos.
O argumento pegou de estaca e está de muito boa saúde, como se pode verificar pela análise de Pedro Magalhães ao voto por escalões etários: o PS é esmagador acima dos 65 anos, e "perde" em tudo o resto, ou seja, a vitória do PS é a vitória do medo do futuro que os pensionistas demonstram.
Como base de governo parece-me curto mas, sobretudo como contexto para eventuais problemas decorrentes de uma crise económica, o risco maior é o das expectativas defraudadas se se verificar que realmente há problemas sérios no nosso sistema de segurança social.
Nessa altura não vale a pena argumentar que a extrema direita isto ou aquilo: a responsabilidade por se chegar onde estamos e por nos prepararmos mal para o que pode vir por aí, é essencialmente da esquerda moderada e imobilista que nos pastoreia até ao dia em que as coisas correrem mal.
Nessa altura, como de costume, virão dizer que a responsabilidade é de outros, que bem se esforçaram mas o populismo alimentado pela imprensa e pelos interesses económicos é que lhes boicotou a acção política.
Só que a opção de fingir que não sabem o que se passa para poder ganhar as próximas eleições é vossa, não há maneira de fugir disso.
Nas semanas anteriores às eleições, quer Vera Gouveia Barros, quer Susana Peralta, resolveram embicar com a "ADSE para todos" proposta pela Iniciativa Liberal e também pelo CDS.
A proposta do CDS, tanto quanto li, é mais vaga e portanto não vou tratar dela (embora tenha sido sobre essa proposta que Vera Gouveia Barros se pronunciou).
O que me interessa, passadas as eleições, é o facto de um slogan ter conseguido chamar a atenção para a questão da liberdade de escolha na saúde.
O slogan é apenas um slogan e, na verdade, muito impreciso, para não dizer errado, visto que a proposta da Iniciativa Liberal está longe de ser uma ADSE para todos, na verdade é um seguro social obrigatório.
No entanto parece-me que o slogan da Iniciativa Liberal está perfeitamente dentro do que é admissível, mesmo tendo eu alguma distância de alguma demagogia que aqui e ali aparece no discurso da Iniciativa Liberal e que se pode admitir que esteja no slogan (que seja claro, votei na Iniciativa Liberal, colaborei do programa eleitoral e espero que a luta continue no sentido de estruturar melhor uma verdadeira opção liberal para Portugal, independentemente de saber que frequentemente não estarei de acordo. No dia em que achar que um partido deve ser exactamente o que eu penso, eu candidato-me).
Só que, no essencial, qualquer pessoa percebe o que o slogan quer dizer: essencialmente o que se pretende é que a liberdade de escolha dos mais pobres se aproxime da liberdade de escolha de que gozam os funcionários públicos que têm acesso à ADSE.
A imprecisão é a mesma que existe quando os supermercados põem o tomate nos legumes, quando é um fruto, e põem os figos e os morangos nos frutos: no rigor das classificações botânicas, são tudo erros, mas toda a gente se entende a partir destas imprecisões de linguagem.
Mas mais interessante que quem se incomodou por achar o slogan enganador, são as pessoas que partiram à desfilada a tentar demonstrar que há problemas complicados nos sistemas de saúde públicos que assentam em seguros sociais obrigatórios, esquecendo-se de assinalar os enormíssimos problemas que também existem nos sistemas mais estatizados, ao ponto do modelo do Reino Unido, que serve de referência aos sistemas estatizados, se ter tido de adaptar para não colapsar, sendo hoje, em muitos aspectos, um gestor da prestação de serviços de terceiros, não sendo por acaso que foi aí que nasceram as parcerias público privadas.
Todos os sistemas públicos de saúde têm problemas sérios: a) o sistema americano, o mais inovador, de maior grau de satisfação dos utentes que lhe acedem e que melhor paga aos seus profissionais, é um sistema com um gravíssimo problema de acesso, já que cerca que 18% da sua população não tem acesso aos cuidados de saúde, para além de ser um sistema caríssimo; b) os sistemas mais estatizados têm gravíssimos problemas de eficiência, pagam mal aos seus profissionais (um grande problema do sistema do Reino Unido) e acabam por criar um sistema dual em que só os ricos têm direito de escolha e garantia de tratamento adequado, os outros dependem de uma roleta no momento em que precisam dos cuidados de saúde; c) os sistemas assentes em seguros sociais obritgatórios têm problemas de restrição de acesso para os tornar sustentáveis e outras questões.
Mas o que me interessa em que vez de se discutir realmente as propostas em cima da mesa, a generalidade dos que comentam publicamente o assunto ou se entretêm a desmontar as ideias de que não gostam (esquecendo-se de fazer o mesmo às ideias com que simpatizam), ou se entretêm a demonstrar que um slogan como ADSE para todos é um slogan enganador, como se o eleitor médio fosse intelectualmente incapaz de distinguir a ideia geral de um slogan e o que a realidade vai impôr aos políticos na prática.
No fundo, no fundo, o crime da Iniciativa Liberal foi ter proposto slogans eficazes para as ideias que tinha para apresentar, mesmo que à custa de alguma imprecisão, como é o caso do "ADSE para todos".
Tivesse proposto slogans como "Gente de confiança", um slogan politicamente vazio que se limita a fazer um julgamento moral dos adversários, como fez o BE, e nenhum burburinho se levantaria.
No fundo, todos achamos que é preciso uma actuação política diferente, mas quando ela realmente aparece, entretemo-nos a criticá-la exactamente por ser diferente.
Na verdade o nosso problema não é a má qualidade dos políticos, o nosso problema é mesmo a nossa falta que qualidade e de exigência connosco próprios.
Reza a lenda que, certo dia, Alexandre O´Neill terá sugerido ao PS o lema de campanha que serve de título a este post. A sugestão não foi aceite, claro, mas descreve na perfeição os resultados de ontem. O PS ganhou, tranquilizando todos os velhinhos do país e o Dr. Rui Rio. Basta ouvir o seu discurso de viúva alegre, ontem à noite, para perceber o alívio. Se ele não quer ser deputado, imaginem Primeiro-Ministro... O que o Dr. Rui Rio quer, isso sim, é que o PS caia de podre para subir ao poder sem a chatice da campanha. E das sondagens. E da comunicação social. E dos críticos. Talvez mesmo das eleições. O único problema é que, entretanto, com o PS apodrece o regime. O Dr. Rui Rio, que voltou a oferecer a sua benevolência para as famosas "reformas estruturais", esquece que o PS não quer reformar nada porque o PS é o sistema. E que a única reforma ansiada tanto pelo PS como pelo Dr. Rui Rio, a da justiça, é exactamente a que não devem fazer enquanto todos os casos judiciais envolvendo socialistas, de Sócrates a Tancos, forem saudados no Largo do Rato como vis perseguições do Ministério Público.
Espero que o Dr. Rui Rio se abstenha de fazer a prova. Não é preciso ser um génio, um visionário ou um reitor que proíbe a carne de vaca em nome do futuro para adivinhar que os votos do Chega vêm de pessoal irritado por ter de se cruzar com Sócrates na Ericeira. Ou que os votos da Iniciativa Liberal vêm de ex-CDS perplexos com a modernice de Salgado, depois da renacionalização do BES, ter fugido para a Quinta da Marinha em vez de fugir para o Brasil. Bons tempos (digo eu, que sou um conservador).
O dia das eleições para a XIV Legislatura pode resumir-se a isto: PS ganha sem maioria. PSD perde mas tem um líder fanfarrão. Há três novos partidos no Parlamento (o Iniciativa Liberal, o Chega e o Livre). CDS e CDU com derrotas históricas. O CDS assume derrota e perde líder. Já os comunas ignoram derrota e líder faz longo discurso de exaltação do partido. PAN saiu reforçado. Aliança de Santana Lopes esfuma-se.
E agora? O que podemos esperar?
Vamos ter uns debates parlamentares animados com o André Ventura a fazer oposição independente, e pode vir a tornar-se no "PAN de direita". O Iniciativa Liberal vai agregar figuras que hoje estão no PSD, CDS ou Aliança para crescer nos próximos quatro anos. Mas vamos ver se consegue. Se o fizer pode vir a ser um partido que ocupa o lugar que hoje o Bloco tem para a esquerda.
O CDS corre o sério risco de se tornar insignificante. Porquê? Porque a tentação do Partido é tentar recuperar os deputados perdidos e por isso vai esolher um líder "moderno". Aposto já em Adolfo Mesquita Nunes. A questão será: Em que posição ideológica vai ficar o CDS? A direita conservadora vai rever-se nela? Correrá o CDS o risco de ser um Iniciativa Liberal mais ao centro? A direita conservadora vai ser "empurrada" para o Chega?
O PSD de Rui Rio vai esperar que o PS perca fôlego com a crise económica da próxima legislatura para tentar ganhar as eleições legislativas seguintes. Vê-se bem que ele não quer muito mudar o país, mas quer muito provar aos passistas e à ala direita do PSD que chegou lá. O discurso do Rio foi mais ou menos isto: "Tentaram derrubar-me mas não vão conseguir".
“Não há uma grande derrota” foi a sua mensagem eleitoral. A custo, muito custo, lá disse, em resposta aos jornalistas, que "para o bem ou para o mal era o responsável por tudo o que acontece ao partido". Viu-se que a sua maior preocupação foi falar para dentro do PSD para tentar mostrar que não tinha tido um resultado humilhante. Mas teve o pior resultado desde 1983, claro. Aliás só neste país é que a direita está a desaparecer, em todo o mundo está a aumentar.
Se somarmos todos os deputados eleitos da ala direita temos 77 do PSD + 5 do CDS + 1 do IL+ 1 do Chega, o que totaliza 84, apenas. A PAF (PSD + CDS) em 2015 (depois da crise e da troika) ganhou as eleições com 102 deputados.
Há uma nova geração vintage que é mais conservadora que a anterior, talvez com eles a direita não morra.
Rui Rio perdeu uma parte do partido quando disse que o PSD não era de direita. Tem a mania de dizer que é de centro. Mas deve a alguma direita que votou nele o facto de o PSD ter evitado o pior cenário projetado por algumas sondagens que a um mês destas eleições apontavam para a possibilidade de os sociais-democratas se transformarem num partido médio (seria a isto que Rio se referia como centro? :) )
Governo dos próximos quatro anos
Os socialistas estão obrigados a uma nova coligação parlamentar para poderem governar sem sobressaltos e para já, os olhares estão virados para os suspeitos do costume: o Bloco de Esquerda, que reforçou o estatuto de terceira força política nacional mas não conseguiu aumentar os 19 deputados eleitos em 2015, e já se mostrou disponível para viabilizar um governo socialista mas continua sem intenções de integrar o executivo; e a CDU, que não foi além dos 12 deputados eleitos (o pior resultado desde 2002, sendo que não conseguiram eleger nenhum deputado no distrito de Portalegre no Alentejo, tradicionalmente um bastião comunista), e também se mostrou disponível para apoiar o PS, no entanto foi mais moderado nesse apoio e garantiu que só irá tomar uma posição depois de conhecer as opções do novo executivo socialista.
António Costa tem agora o PAN e o Livre à disposição para o apoiar.
O que terá Costa de dar em troca? O BE quer a nacionalização dos CTT e outras coisas mais como "recuperar o investimento público, habitação e transportes respondendo à emergência climática”, segundo disse a líder bloquista.
Desconfio das concepções teológicas da História, porque não acredito que o futuro se encaminhe fatalmente para o progresso ou para o Apocalipse, para a democracia liberal ou para a sociedade sem classes. A História é contingente, reversível, tem becos sem saída, estagnações, acelerações, e em muitos casos parece reger-se mais pelo acaso do que por Hegel.
Pedro Mexia no Expresso
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.
Palavra do Senhor.
É irónico constatar como a teoria da Hegemonia Cultural (burguesa), que celebrizou o dirigente e intelectual comunista italiano Gramsci (1891-1937) e o projectou no campo da Ciência Política mais ao seu conceito de “superestrutura” (a ideologia, constituída pelas instituições, sistemas de ideias, doutrinas e crenças de uma sociedade), está, nos nossos dias, impregnada de uma indelével chancela marxista. De facto, hoje o marxismo domina a narrativa cultural e é facilmente detectável desde as produções intelectuais de massas (o chamado Soft Power, que se expressa pelo cinema, pelo jornalismo ou música pop) aos programas escolares em geral, de forma mais marcante nos ciclos de ensino mais precoce, principalmente nas disciplinas ligadas à História e às Ciências Humanas. É curioso verificar como, de uma forma ardilosa, as últimas gerações, nascidas nas prósperas democracias liberais, cresceram sob um padrão ideológico que cultiva o ressentimento social e o igualitarismo, por vezes fanático, promovendo uma tensão brutal e desequilibradora que apouca e condiciona o valor em disputa, que é o da Liberdade. A Liberdade de cada homem ou mulher se afirmar em plena autonomia psicológica e intelectual, de aprender a superar-se e fazer escolhas reflectidas e morais que não projectem sistematicamente para fora de si a responsabilidade dos seus falhanços. Foi graças a essa Liberdade que o Ocidente se afirmou no mundo.
Vem isto a propósito do modo como a História é ensinada às nossas crianças, que corresponde a uma forma de submissão mental que é plantada a jusante na capacidade crítica das novas gerações… apesar da proclamada liberdade de expressão que corre o risco de vir a ser um mero formalismo à medida que o pensamento único vai alargando a sua hegemonia.
Como dizia um amigo meu há dias, talvez a Escola se devesse limitar a ensinar Matemática, Filosofia e Latim. Concordo: era da forma que o Estado poupava muito trabalho aos pais que se vêem obrigados todos os dias em casa a desmontar os clichés e preconceitos que os miúdos aprendem e desafiá-los a pensarem pelas suas cabeças ministrando-lhes um pouco de verdade. Talvez dessa forma se estragassem menos famílias.
Texto adaptado do editorial da revista Correio Real nº 20
Quando perante a morte de figuras senatoriais tão marcantes como Mário Soares ou Freitas do Amaral a "rua" nos projecta tamanha indiferença ou até o mais impiedoso rancor - é compreensível, ambos passaram a vida a cavar as suas trincheiras - mais ciente ficamos da necessidade de uma figura consensual e agregadora que corporize a Nação que somos todos a cada momento da História. A entidade que reúne esses predicados só uma monarquia pode oferecer: é o rei.
Imagem daqui
É preciso que não nos esqueçamos nunca de que António Costa é a pessoa que, em 2015, conseguiu perder as eleições para Passos Coelho e Paulo Portas depois de estes terem tido de gerir o país em extrema dificuldade, durante quatro anos, em virtude da bancarrota socialista de Sócrates, e manietados pelo memorando da Troika negociado e acordado também pelo PS de Sócrates. Costa perdeu na altura e alcançou tal feito porque os portugueses não confiaram nele.
Passados outros quatro anos, e depois de ter andado a oferecer o que o país tem e principalmente o que este não tem, com o apoio e o silêncio da extrema-esquerda, António Costa não vai conseguir ganhar as eleições legislativas como pretendia (maioria absoluta). E vai atingir novamente tal resultado porque os portugueses não confiam nele, não acreditam nele.
Ora os portugueses não acreditam em António Costa porque ele, na verdade, não é de confiança, como o demonstra, mais uma vez, o triste episódio de hoje.
Numa arruada em Lisboa, António Costa fez frente e mostrou peito a uma pessoa aparentemente muito mais velha do que ele e um bom palmo e meio mais baixa. Se não fossem os seguranças de Costa a proteger o velhinho, este levaria que contar de Costa. Pelo menos um par de sopapos do nosso valente Primeiro-Ministro.
E porquê? Qua a razão deste acto de Costa tão violento quão corajoso? Por uma questão de honra, explicou depois o candidato. Porque o velhinho (posto ali a mando de alguém da direita, acusou logo, não obstante o homem se assumir do PS) se quis aproveitar, com mentiras, da tragédia de Pedrógão Grande. E isso ele não admitia.
Sobre a tragédia de Pedrógão Grande não vou falar, todos a conhecem. Analise-se então a terrível mentira do velhinho.
Em síntese, o homem disse que estava incomodado por António Costa, aquando da tragédia de Pedrógão, estar em férias e não as ter interrompido. Foi então que Costa se insurgiu e avançou violentamente para o coitado, que ou estava num degrau abaixo ou é muito mais baixo que o PM, berrando que era mentira.
E o que é a verdade, como já queria saber Pilatos?
A verdade é que, por altura dos incêndios de Pedrógão, Costa não estava em férias, com efeito. Recordemos que os incêndios trágicos iniciaram-se a 17 de Junho e só foram considerados extintos a 24 de Junho. Mas acresce que uns dias depois, a 28 e 29 de Junho, dá-se e divulga-se o extraordinário caso do roubo de Tancos. Mas mesmo assim António Costa vai alegremente passar a primeira quinzena de Julho em férias para Espanha. Tanto que, recordam-se certamente, foi Augusto Santos Silva quem assumiu as rédeas e o comando deste episódio de Tancos nos primeiros dias. Entretanto, e nessa altura, é verdade que António Costa interrompeu as suas férias, veio dois ou três dias a Portugal (por causa de Tancos), voltou para as férias em Espanha, e só voltou para o debate sobre o Estado da Nação, a 12 de Julho.
Tudo isto se passou em duas ou três semanas; o país (pelo menos a parte que não se encontrava de férias) estava em estado de choque. Incêndios terríveis, mortes trágicas, roubos em paióis militares, incompetência inacreditável da administração pública, e, num momento que o comum dos mortais pode naturalmente confundir, o Primeiro-Ministro vai de férias, que até interrompe por uns dias mas por causa do roubo de Tancos. É natural que se crie alguma confusão na cabeça das pessoas, até na de socialistas como a deste a que Costa fez peito.
É grave, a acusação confusa que fez o velhinho? Justifica a violência e o perder de cabeça de António Costa? – Não e não, a ambas as questões.
O que as pessoas retêm destes tempos, meu caro António Costa, é que logo a seguir à tragédia de Pedrógão Grande (e outros concelhos) e ao roubo de Tancos, o Primeiro-Ministro abandonou o país e foi de férias. E não há volta a dar: pior do que estar de férias enquanto se deram estes episódios trágicos, pior do que interromper (ou não) as férias enquanto eles se deram, pior do que tudo isso é, para os portugueses, António Costa ter ido alegremente de férias imediatamente após tais acontecimentos. Não as ter desmarcado.
É essa fuga do país (que só a si, António Costa, se deve), num momento em que era necessário apoio à população (independentemente do direito a férias), que os portugueses consideram cobarde e indigna e, por isso, mesmo socialistas como este que o abordou têm o direito de o confrontar e acusar, mesmo que com alguma confusão à mistura.
O direito que lhes concedeu, com a sua atitude na altura e que me abstenho de qualificar, retira-lhe por completo o direito de se indignar com as abordagens que lhe sejam feitas, como a de hoje. E seguramente não lhe dá o direito nem justifica a reacção que teve para com aquela pessoa. E muito menos invocando o direito à honra.
“Honra”?!? – Tenha antes vergonha na cara e acredite que é por atitudes deste tipo que os portugueses não confiam em si.
Vasco Lobo Xavier
Se as funções institucionais que exerço como monárquico obrigaram-me nos últimos anos a alguma parcimónia na participação e defesa pública das minhas convicções ideológicas e partidárias, tal não me impede nesta data de assumir o meu voto conservador e liberal no CDS de Assunção Cristas, uma pessoa que “lato sensu” reflecte a minha forma de ver o mundo – a política é a arte do possível. Estou convicto de que é quando os desafios parecem mais difíceis e as perspectivas mais pessimistas que é preciso afirmar as convicções de peito feito. De resto quero estar de consciência tranquila quando assuntos como a liberdade de ensino, a desestatização da economia ou a defesa da família; a eutanásia ou a prorrogação dos prazos para o aborto forem a votos no parlamento. Um país sem um partido conservador moderado e liberal forte é sinal de um país atrasado. Agora o que eu sei é que Domingo há que votar no CDS, que até ao lavar dos cestos é vindima e as contas fazem-se no fim.
Na fotografia - Filipe Anacoreta Correia, nº 1 da lista por Viana do Castelo com Assunção Cristas
Neste lamentável episódio de Tancos, que num país decente já teria feito cair o Governo, há uma personagem que parece querer passar pelos pingos da chuva. Não pode.
Tiago Barbosa Ribeiro é deputado à Assembleia da República, eleito pelo Partido Socialista, pelo Porto, e recebeu uma mensagem por SMS de um Ministro onde este dizia que iria prestar declarações à Assembleia da República mas que iria esconder deste órgão informação de que dispunha. E o deputado socialista fechou-se em copas e nada disse – isto são factos, não há como desmentir qualquer deles. Agora, a apreciação pessoal e subjectiva dos factos.
A meu ver, a atitude de Barbosa Ribeiro constitui, a um tempo, um enorme insulto aos seus pares, seja de que partido forem (e que deviam ter vergonha de serem apelidados “seus pares”), com especial desprezo para com aqueles que labutaram na comissão de inquérito. Zombou de todos eles. Desonrou com ignomínia deliberada as funções que lhe são confiadas pelo povo português. Cuspiu alegremente na cara de todos e de cada um dos deputados, escarrando com escárnio e estardalhaço e salpicos nas ventas de Ferro Rodrigues (nem tudo é mau), que uma vez mais mostra que não se sabe dar ao respeito nem consegue defender a honra da Assembleia de República.
Que Ferro faça o que diz que faz quanto ao segredo de justiça (e desconfio que nem lava as mãos depois), é um problema dele. Que Ferro Rodrigues permita que Barbosa Ribeiro faça o mesmo sobre o Presidente da Assembleia da República, enquanto tal, sobre todos os deputados, sobre as suas funções, sobre a própria Assembleia da República e, por via desta, sobre todos os portugueses, é uma ignomínia, é um problema de todos os portugueses, é mesmo um problema de regime: esta gente não presta, é indigna!
Temos um deputado socialista, de seu nome Tiago Barbosa Ribeiro, que, escondendo informação relevante relativamente ao Governo, e grave, desonra as suas funções, ofende os colegas, insulta a Assembleia da República, desonra o país. Que os socialistas engulam esta atitude miserável, já esperava. Que os bloquistas e o pan aceitem a bestialidade da coisa, não me surpreende. Mas os comunistas costumavam ter um mínimo de coluna vertebral e seriedade no tratamento destas situações miseráveis. Estão calados porquê?
Se os deputados e a Assembleia da República tivessem um mínimo de respeito por si próprios, a deslealdade (e agora estou a ser muito brando) deste tipo levaria a que fosse escorraçado daquela casa pela porta dos fundos, a que ninguém quisesse ser visto em tão miserável companhia, a que todos, sem excepção, considerassem que o homem não cumpria os requisitos mínimos para exercer aquelas funções ou sequer subir aquela escadaria.
Mas não. Neste país, Tiago Barbosa Ribeiro é de novo candidato a deputado à Assembleia da República nas listas do Partido Socialista. Pode até ser que seja eleito. Para exercer funções para as quais já mostrou ser indigno. É o país que temos. Socialista.
Vasco Lobo Xavier
O título deste post é de um slide que uso frequentemente nas apresentações que faço, ligando imagens de pequenos almoços com as paisagens que resultam das produções que lhes podem estar associadas (vincando como podem ser diferentes se os métodos de produção forem diferentes, apesar do produto ser o mesmo).
Ontem fui experimentar um cabaz de peixe (também sou utlizador dos cabazes da fruta feia, que têm como objectivo reduzir o desperdício alimentar, ao contrário deste do peixe que visa encurtar os circuitos de comercialização, ligando directamente produtores e consumidores).
Por razões que não interessam, resolvir tratar de dar destino ao cabaz inteiro entre ontem e hoje, e mais logo ainda espero fazer uns carapaus de escabeche que se aguentarão bem durante bastantes dias.
Do resto fiz várias coisas, e acabei a filetar um peixe espada preto, com a consequente produção de lixo (espinhas, pele, etc.), a que se juntou o outro lixo semelhante do outro peixe.
Juntei esse lixo todo e fiz uma caldo de peixe catita, que comi parcialmente hoje ao pequeno almoço, juntando uns restos de pão velho e um meio copito de vinho que tinha sobrado antes, isto é, fiz um belíssimo pequeno almoço, nutricionalmente equilibradíssimo e muitíssimo mais sustentável que o iogurte com banana que o senhor Presidente da República diz que todos os dias come ao pequeno almoço. Também mais sustentável que a esmagadora maioria dos pequenos almoços que hoje são a opção dominante, quer usem lacticínios, quer usem frutos secos e cereais processados, mesmo sem lacticínios.
Claro que isto tem custos, sobretudo em trabalho e conhecimento: há anos nem me passaria pela cabeça olhar para um peixe espada e pensar nuns filetes no forno "à bulhão pato" (com azeite, alho e coentros, para ser mais preciso) já que havia por lá uns coentros quase a ir para o lixo (como vai 20 a 30% da produção mundial de alimentos).
O que mudou foi o resultado do meu trabalho com o António Alexandre, que me permitiu aprender a olhar para muito lixo como matéria prima, ou seja, o meu conhecimento sobre como aproveitar comida, sabendo que isso implica mais trabalho da minha parte e muito mais risco (às vezes realmente a coisa sai mesmo mal). E me permite hoje saber que sou capaz de fazer uns pezinhos de coentrada, se estiver para aí virado. Há anos eu estava na posição de dois miúdos com que me cruzei no supermecado quando um deles tentava convencer o outro, sem sucesso, de que era possível fazer maionaise em casa, em vez de a comprar.
Durante anos o meu padrão de gastos em refeições era garantir que não custavam mais de 70 cêntimos por cabeça (era o máximo, não era a média), o que nem sequer é difícil, mas claro que não havia cá bifes ou postas de peixe, tudo era transformado e feito render no meio das coisas baratas: batatas, arroz, massa, feijão, coisas dessas. Por causa disso, muitos dos amigos dos meus filhos conheciam um arroz no forno frequente lá em casa. O que eles não sabiam era a quantidade de carne ordinária, gorduras e cartilagens que estavam a comer, mesmo os mais esquisitinhos com as gorduras no prato e, mais que isso, nunca sonharam que o sabor daquilo, bastante apreciado, estava exactamente ligado à minha necessidade de aproveitar ao máximo aquela carne, o que implicava não a servir inteira, porque metade iria para o lixo, depois de rejeitado tudo o que não fosse músculo.
Na minha geração é bem possível que nos lembremos, os que viveram uma infância burguesa e urbana q.b. como a minha, que a chegada de um prato de forno à mesa era sinal de dia de festa, por oposição aos fritos, cozidos e estufados do dia a dia. Mudámos esse padrão de consumo, em consequência da alteração dos termos de troca, a mão de obra era barata e a energia era cara, o exacto inverso do que hoje me permite usar o forno para aproveitar os alimentos mais ricos, mantendo a frugalidade, mas me faz evitar outras coisas pelo trabalhão que me dariam a fazer.
Por tudo isto, cometendo o erro de generalizar a partir da minha experiência directa, cada vez me parece mais útil que as matérias ambientais que são ensinadas nas escolas (muitas vezes com erros inacreditáveis nos manuais escolares, como acontece em temas como os eucaliptos, os fogos, as áreas protegidas, etc.) bem poderiam ser substituídas por aulas de cozinha e sustentabilidade, para os miúdos perderem o medo de experimentar, aprenderem a usar partes marginais de produções nobres, saberem como lidar com produtos de época menos habituais, valorizarem as produções de oportunidade, saberem o que significam as suas escolhas e terem a base técnica que lhes permita tirar partido da frugalidade, deixando os excessos para os poucos dias de festa.
Na verdade, lembrei-me disto tudo ao ver a manchete do Público de hoje, um grande espanto por afinal as rendas de casa estarem altas, por escassez de oferta. Ao fim de quatro anos a malhar no sector da habitação, atacando os potenciais investidores de qualquer maneira, que resultado seria de esperar, se não este?
É como o problema da comida: se não se tem informação, se nem sequer se percebe como funcionam as coisas, qual é a surpresa de alguém achar que é uma grande coisa deixar de comer carne de vaca, mantendo a ausência de qualquer preocupação com o desperdício alimentar e os métodos de produção de alimentos?
Boas soluções, de maneira geral, exigem informação e bom senso, o que significa estudar, aprender, ganhar capacidade para fazer, tudo coisas que se opõem ao pensamento mágico que hoje domina boa parte das discussões sobre sustentabilidade e políticas ambientais.
Não admira que de maneira geral as políticas sejam más e os resultados sejam sempre muito mais fracos que os esperados.
Para aqueles que não assistiram, aconselho a ouvirem este debate, ainda na sequência da populista censura à carne de Vaca pela Universidade de Coimbra e secundada pelo nosso 1º Ministro.
O Observador tem hoje duas verificações de factos que são bem o retrato dessa nova actividade da imprensa que é a verificação de factos (eu tinha a ideia de que não era precisa uma secção para isso, tinha a ideia de que era mesmo só essa a actividade da imprensa, mas eu sei que estou muito desactualizado).
Numa dessas verificações de factos propõem-se verificar uma afirmação de Carlos Guimarães Pinto, a de que o país não cresce há vinte anos.
Qualquer criança sabe que o país cresceu qualquer coisa e sabe que o que é relevante na afirmação é o facto do país ter crescido tão pouco que é perfeitamente razoável dizer que está estagnado há vinte anos. Pois bem, para o Observador, que reconhece essa estagnação, a afirmação não é verdadeira porque realmente se cresceu qualquer coisa (menos de 1% ao ano, em média).
Na outra verificação de factos resolve verificar se Catarina Martins é verdadeira quando diz que os contribuintes injectaram 25 mil milhões de euros na banca. O Observador diz que realmente o valor é basicamente certo, refere que desses 25 mil milhões mais de 5 mil milhões foram devolvidos, que com estes financiamentos o Estado teve um retorno em juros de mais de mil milhões de euros e, mais relevante, a maior fatia dos cerca de 18 mil milhões que sobram, correspondem à nacionalização de bancos ou à capitalização da Caixa Geral de Depósitos (acima de 10 mil milhões). Ou seja, ao custo das soluções que o BE defende para não haver injecções de 25 mil milhões de euros dos contribuintes na banca. Os 25 mil milhões de euros dos contribuintes reduzem-se para menos de 8 mil milhões e o Observador conclui que a afirmação de Catarina Martins é esticada, mas basicamente certa.
Com uma imprensa assim, naquilo que é a sua actividade central, a verificação de factos, qual é o espanto de termos políticas de má qualidade, políticos de má qualidade e governos de má qualidade?
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