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por José Mendonça da Cruz, em 28.05.19

A fúria do ateu ao ressuscitar... isso sim, seria um espectáculo digno de ser visto.

- Julian Barnes

O PAN é intrinsecamente totalitário

por henrique pereira dos santos, em 28.05.19

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Adenda 2, durante um dia ou dois (os fusos horários trocados baralham-me e portanto não sei) neste post estava escrito meio milhão onde na minha cabeça estava 500 milhões. Apesar de vários dos comentários de amigos meus sobre este número, entrei naquele mecanismo de 2+2=5 que impede de ver o erro na conta, tanto mais que a estimativa que me interessava usar era a mais pequena que encontrasse, porque mesmo para a estimativa mais baixa que existe sobre o assunto, o argumento do consumo destes 500 milhões de gatos e cães é um argumento poderoso, mas que aparentemente ninguém parece interessado em discutir

Adenda, esqueci-me de dizer que a escala de 1 a 8 representa a percentagem de votos no PAN em cada concelho

Pedro Magalhães fez este mapa, de forma totalmente amadora, de acordo com o próprio, mas é um mapa muito interessante para usar como base de uma discussão sobre o PAN, um partido que essencialmente responde a preocupações de urbanos que sonham com o restabelecimento de um paraíso perdido, ao mesmo tempo que ignoram a dura realidade da gestão dos recursos naturais que nos permitem viver confortavelmente, com índices historicamente baixos de mortalidade infantil, com uma esperança de vida longa, com baixíssimos níveis de miséria global como nunca houve na história.

Não tenho nada contra o PAN, tenho várias pessoas no facebook que estão muito ligadas a este partido (incluindo Francisco Guerreiro, agora eleito para o Parlamento Europeu), já colaborei em debates organizados pelo PAN (tendo previamente deixado claro que, não sendo aficionado nem caçador, iria defender a caça e a tourada como instrumentos de gestão da conservação do território, o que não representou qualquer problema para os organizadores do debate), já tive uma reunião com André Silva e respectivos assessores na Assembleia da República, a seu pedido, sobre questões de sustentabilidade (penso que o PAN agrada a minha sistemática defesa de que o dinheiro público para o mundo rural não deve ser usado para apoiar a produção de leite ou de carne mas o pagamento da gestão de serviços de ecossistemas), defendo claramente a diminuição do consumo de carne e de leite, como questões centrais da sustentabilidade e muito mais.

Que me lembre, devo ter sido das primeiras pessoas a admitir que o PAN poderia eleger um deputado nas eleições legislativas anteriores por ter visto a sua campanha, e a diferença, por exemplo, para a campanha do LIVRE. A campanha do PAN era muito focada no enraizamento social, pequenas acções, como pic-nics, com gente diferente, nem toda alinhada com o PAN, olimpicamente ignoradas pela imprensa, ao contrário do LIVRE que tinha uma campanha muito mediatizada, assente na cobertura jornalística do que dizia Rui Tavares, muito mais preocupada em difundir o que o LIVRE defende, que em ouvir o que as pessoas comuns pensam do LIVRE.

Se grande parte do que descrevo acima me poderia aproximar do PAN, há muitos anos que tenho uma posição radical sobre o movimento animalista, considerando que há incompatibilidade profunda entre a defesa dos direitos dos animais, enquanto indivíduos (Peter Singer é a base filosófica de tudo isto, um filósofo utilitarista radical que me parece profundamente desumano), e a defesa da conservação da natureza e a gestão sensata do património natural.

Os exemplos dessa incompatibilidade radical são imensos, uns mais fáceis de explicar, outros mais difíceis de defender.

Qualquer organização que queira discutir sustentabilidade a sério tem de olhar para os mais de 500 milhões (estimativa claramente prudente) de gatos e cães que existem no mundo, alguns ferais, que não levantam problemas estritos de consumo de recursos, mas com efeitos brutais na mortalidade de alguns grupos (por exemplo, os gatos são temiveis predadores, responsáveis por matar milhões de pássaros todos os anos), e muitos outros são animais de estimação com um peso não negligenciável no consumo de recursos, não apenas alimentares. Não tenho muitas dúvidas de que o PAN estará do lado dos indivíduos, contra os sistemas naturais nesta matéria.

Se é verdade que há questões filosóficas relevantes, e difíceis, na existência de touradas (uma sociedade decente não faz espectáculos que possam causar sofrimento), também é verdade que o abandono da tourada (seja por via regulamentar, como defende o PAN, seja por evolução da sensibilidade social, como estava a acontecer até os movimentos radicais anti-tourada terem provocado um movimento de resposta que voltou a fazer aumentar o número de espectadores das touradas) tem um efeito real de diminuição da competividade da gestão de terras marginais, com efeitos negativos na perda de biodiversidade e na gestão do fogo, por exemplo (para não falar dos efeitos de perda de controlo social sobre o território que o abandono do mundo rural tem vindo a provocar). Não tenho muitas dúvidas de que o PAN estará do lado dos indivíduos (paradoxalmente, forçando a extinção das raças de touros bravos por lhes retirarem a utilidade social) contra os sistemas naturais.

Estes dois exemplos (poderia escrever sobre muitos outros, como sejam o abate de espécies invasoras como instrumento de reposição do equilíbrio ecológico) são apenas consequências do problema central de partidos como o PAN, que está muito longe de ser um partido verde: o PAN pretende ser a voz dos que não têm voz.

Há muitos exemplos de como esta pretensão, a de ser a voz dos que não têm voz, que se opõe à pretensão das correntes políticas que pretendem dar voz a quem não tem voz, uma impossibilidade no caso dos animais, tem apenas um desfecho: a progressiva defesa da limitação da liberdade de terceiros, em nome de valores mais altos que ninguém sabe como validar.

Desse ponto de vista é muito elucidativo o facto do PAN aceitar facilmente a detenção de animais domésticos cuja única função é satisfazer as necessidades dos seus donos, mesmo com limitação quase total daquilo que seria o caracter intrínseco de um ser vivo, impedindo a sua reprodução, a busca por alimentação, a socialização entre pares ou com inimigos externos, o mero usofruto da liberdade de movimentos durante longas horas do dia, etc., sem fazer qualquer proposta de restrição à detenção, quer por razões de respeito pela natureza intrínseca dos indivíduos, quer por razões de sustentabilidade, e pelo contrário, aponte todas as baterias a uma actividade, como a tourada, em que os animais gozam de uma quase liberdade durante anos, são criados em grandes espaços ao ar livre, com total respeito pela sua natureza intrínseca, produzindo bens difusos que nos interessam a todos, apenas porque numa tarde participam num espectáculo que levanta questões filosóficas sobre a violência (como se a natureza não fosse, ela mesma, violenta e cruel).

O facto do PAN pretender decidir o que pode ou não fazer-se em cada comunidade, no que diz respeito à caça, à tourada, à produção animal, ao controlo da proliferação de cães e gatos ferais e vadios, não é apenas um pequeno preço a pagar pelo seu compromisso com a sustentabilidade e a natureza, é exactamente o inverso, a necessidade do PAN alterar do seu nome de Partido Animais e Natureza, para partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza é a forma encontrada para contrabandear ideias totalitárias de defesa dos animais como se fossem opções "verdes", para usar uma expressão que de maneira geral evito usar para caracterizar o movimento social transversal que entende que a sustentabilidade é uma questão séria que deveria estar no núcleo base de qualquer organização política, ao lado da liberdade e do respeito pela opinião das pessoas comuns.

A decência como desafio vital

por João Távora, em 27.05.19

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A vitória do Sporting na final da Taça no passado sábado, outros já o terão dito, representa além de tudo o mais, o enterro definitivo da peste brunista que num passado recente se apoderou e ia liquidando de vez o nosso amado Clube. De caminho também representou a afirmação de valores como o Fair play e da boa educação no futebol – até por contraste com a atitude do treinador adversário - um distintivo que sempre esteve no ADN do Sporting. Agora podemos envergar as nossas cores com a cabeça erguida.

Mas não será fácil fazê-lo sozinhos no ambiente doentio que grassa à volta do futebol. Tenho para mim que a sobrevivência desta indústria depende de uma inversão radical na forma como os clubes têm gerido a sua comunicação (e a sua conduta), transformando esta salutar paixão numa guerra sem quartel, com uma batalha verbal em que vale tudo, no total desprezo pela ética e civilidade, no demente propósito de amesquinhar os adversários. Basta escutar cinco minutos os protagonistas de alguns programas televisivos a dizerem disparates impróprios para crianças e pessoas decentes que gostariam de continuar a frequentar os estádios com as suas mulheres e os seus filhos em vez de os entregar às hordas alienados. Por isso não me surpreenderam os comentários hostis dos sequazes portistas a um tweet do escritor e comentador Francisco José Viegas, quando no rescaldo do campeonato apelava que os adeptos dessem os parabéns ao Benfica, deixassem de comentar os árbitros e que se concentrassem no jogo do Jamor.  Eu também acredito que o desporto, mesmo sendo espectáculo, tem de permanecer uma actividade nobre e pedagógica, caso contrário, não vale a pena.

Repito o que atrás afirmei: é urgente que se coloque um travão à grosseria que vem sendo transposta das antigas tabernas insalubres para os painéis das televisões e para as salas de imprensa dos clubes, criando um ruído insuportável que tanto mau nome dá à modalidade. Pela minha parte ficarei muito orgulhoso que o Sporting se torne exemplo de integridade e Fair-play, remetendo para dentro do campo toda a virilidade e arrebatamento, e que eu jamais me venha a envergonhar de frequentar um estádio de futebol.

 

Fotografia daqui

Publicado originalmente aqui

No dia seguinte

por João-Afonso Machado, em 27.05.19

A empregada da nossa casa foi ontem votar. No desejável, aliás. Mas não sabia para quê. No breve intervalo do pequeno-almoço, o cabo dos trabalhos - explicar-lhe que não se tratava do Parlamento português, mas sim do europeu.

Este é um dado importante, a contrariar a tese de que a abstenção - elevadíssima - não deriva da apatia lusa ante a problemática das eleições "europeias".

No resto, - como é sabido - temos um elevadíssimo movimento abstencionista que valerá 68,6% do eleitorado. Por mim - eu só não voto nele porque me traduziriam em votante da praia. Fosse antes da pesca no rio... E, de qualquer modo, é tempo da Constituição da República morrer de pneumonia, e, ao Presidente da dita, dar uma coisinha cardíaca.

Costa segue em frente, vitorioso, com menos de 10% do eleitorado. Os mais partidos no seu encalço (x% de 30%), a discutir vitórias e derrotas. É a festa. Sobre a qual a gente decente deve pensar.

(Não como Ana Gomes, a quem só assusta o fantasma da extrema-direita, qualquer coisa que o PPE, além dos mais, liquida num instante. Mas isso nada quer dizer, porque Ana Gomes foge de falar na abstenção).

Em suma:

- Não sabemos ao que andamos.

- Em Portugal - neste nosso Portugal dos brandos costumes - não vale a pena falar na "extrema-direita", totalmente inexistente. Previsão de futuro - a Esquerda, e o seu poderio na Imprensa, hão de pôr o CDS nesse estúpido e deslocado lugar.

- Mas, risco grave, se assim for, os tugas irão nessa conversa.

- A maioria dos portugueses (2/3) não sabem, não querem saber, não acreditam nesta história eleitoral.

- Há - haverá sempre - a militância quase só localizada à esquerda, e daí os resultados dos PS, BE, CDU (este o somatório PCP+favor PV).

- A Direita (que é Portugal) não consegue adequar o seu discurso às circunstâncias.

- Essas circunstâncias são como a noite e o dia, mas a realidade do presente. V.g. dos machos (ou fémeas) juntos adoptarem um filho. Em sociedade um qualquer barbado careca apresenta outro barbado careca qualquer, e diz - É o meu marido. - Já não é do outro mundo, queiramos ou não, é do nosso.

- Tem, pois, de haver uma actualização do discurso à direita. Qual? Como? Os senhores da política, devidamente assessorados, que o determinem.

- A vida nova (pior que melhor) tem causas outras. A dos animais, por exemplo. Esta malta urbana - só agora convivendo com eles - não percebeu (feito o credo, jamais entenderá) que cães e gatos sempre foram os velhos companheiros dos solitários. Por isso a emergência de um blá-blá-blá destituido de nexo, só apenas o varrer as ruas dos animais vadios e a guerra contra as touradas. Na prática não mais do isso e uma ideologia sem ideias. Mas não faltará muito, qualquer directiva da UE, qualquer negociação do PS e do PAN (riam-se, riam-se...), a bicharada alcança, por decreto, alma e transcendências congéneres. É esperar e ver...

- Enfim, o PS e a Esquerda vão na crista da onda. Sobra ver "o depois".

E por isso me manifesto absolutamente a favor de uma próxima vitória eleitoral (nas Legislativas) da Esquerda. Ela terá de suportar as sequelas das suas maquinagens. Com a vaga esperança (a última a morrer...) de que os portugueses saibam estabelecer a conexão Sócrates-Costa. 

Deixemos chegar os os dias que vém...

As pessoas não são estúpidas

por Pedro Picoito, em 27.05.19

Não estou muito preocupado com a abstenção. Os eleitores já mostraram que vão votar quando a escolha é clara ou o seu voto conta. É uma das enormíssimas vantagens da democracia. O que explica, parece-me, a menor abstenção na generalidade dos nossos vizinhos europeus: as ameaças eram maiores. Mas quem arranca o tuga à praia para escolher entre o PS de Pedro Marques e o PSD de Rui Rio, um líder que "estaria no PS se não fosse Sá Carneiro"? As pessoas não são estúpidas.

Rui Rio, que  tinha uma imagem de seriedade e rigor, conseguiu a proeza de ceder essa imagem a Costa, um dos principais ministros de Sócrates. É obra. Com a "crise dos professores", entregou de bandeja o seu único trunfo, destruiu o trabalho de meses e ainda mostrou que não acompanha de perto a política educativa do partido. Os resultados estão à vista. As pessoas não são estúpidas. 

Em parte, o mesmo se pode dizer do CDS, mas com uma agravante. O problema do CDS não é de liderança, é de discurso. Quer crescer ao centro, mas sem perder à direita. Quer ganhar novos eleitores, mas sem perder os fiéis. Numa semana é complacente com o Vox, na outra pinta as passadeiras de arco-íris. As pessoas ficam baralhadas. Mas não são estúpidas.

Santana, afinal, não vale tantos votos como pensa. O oportunismo paga-se (que o digam os Tories). As pessoas não são estúpidas.

Basta de Basta. Por enquanto (mas eles hão-de voltar). As pessoas não são estúpidas.

A votação do PAN é uma tragédia civilizacional. Só o terror do fim do mundo explica o resultado de um partido que quer legislar sobre a sesta nas escolas. As pessoas não são estúpidas, mas às vezes parecem.

Pior era impossível

por João Távora, em 27.05.19

A haver uma boa notícia nestas eleições, cuja brutal abstenção fere de morte a representatividade dos eleitos, é que a envergadura da catástrofe exigirá uma profunda reflexão de todos os participantes. Ninguém em boa consciência tem razões para festejar. No que à direita diz respeito, reduzida a escombros (note-se que os votos brancos e nulos foram a 4ª força política com mais de 7%, bem à frente do CDS) não tem tempo de se refazer das feridas até às legislativas de Outubro, e só um milagre evitará a repetição duma humilhação. A grande questão é: como operar esse milagre em três meses, numa direita que só será viável em coligação mas nunca esteve tão dividida. Pobre país...

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A propósito da notícia  "Fundação obrigada a sustentar Berardo e família para sempre", lembrei-me deste tempo (da fotografia), em que Berardo era "amado" pelos media  sempre que acusava Jardim de fazer "aldrabices" no BCP.

O mesmo Joe Berardo, que assumiu “respeitabilidade mediática” em 2007/2008 por fazer uma campanha contra a pensão de Jorge Jardim Gonçalves, o autor e fundador do BCP; e por se indignar com as regalias vitalícias do fundador do BCP, fez exatamente o mesmo na sua Fundação Berardo.
Isto só prova uma tese secular. Cuidado com os moralistas. Fujam deles. São sempre os maiores carrascos e críticos do comportamento dos outros e nas costas fazem exatamente o mesmo ou pior. São sempre os piores pecadores. São fariseus.

Domingo

por João Távora, em 26.05.19

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».

Palavra da salvação.

Gonçalo Ribeiro Teles, 97

por João Távora, em 25.05.19

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Hoje, quando o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles celebra o seu 97.º aniversário há que sublinhar a perenidade das suas ideias como líder monárquico que se foi afirmando desde a Convergência Monárquica de 1961 até ao regime emergente da revolução de Abril através do partido monárquico que ajudou a fundar, uma referência democrática e de vanguarda na abordagem de problemas fundamentais para o futuro de Portugal como cultura, paisagem e território. Esse duplo compromisso com a tradição monárquica e lealdade à Casa de Bragança na pessoa do Senhor Dom Duarte Pio e a modernidade ecológica — representada pelo seu alerta precoce para a degradação da tão estimada ruralidade e pela sua defesa dos solos agrícolas de qualidade — não se esgotou no passado recente: antes pelo contrário, vivifica-se e renova-se continuamente, diante do actual estado das coisas. Na verdade, a mensagem de Gonçalo Ribeiro-Telles parece-nos das mais poderosas e inspiradoras do nosso tempo. 

Estamos-lhe gratos por tudo que tem feito por nós, Senhor Arquitecto.

 

Imagem daqui

Talvez mudar de povo?

por João Távora, em 24.05.19

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A Europa começa aqui

por João Távora, em 23.05.19

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Tem sido confrangedor assistir aos noticiários da campanha eleitoral, já para não falar dos debates televisivos que alcançaram momentos dignos de uma caricatura humorística, tal a euforia e sobreposição de vozes que definitivamente não chegaram ao céu. Nos noticiários, muito por conta da edição feita pelos jornalistas, que pela natureza do seu trabalho acabam por salientar o excesso ou a tolice que vai acentuar o picante à notícia, fica-se com a ideia que os candidatos chegam a estas duas semanas que antecedem as eleições empenhados em por à prova a fidelidade dos cidadãos que já haviam decidido votar neles, e afugentar os poucos indecisos que procuram fazer uma escolha sensata. De facto, parece que até o mais cordato e sofisticado candidato, com uma camara de televisão à frente, perde a compostura e foge-lhe o pé para a chinela dificultando assim a descodificação da racionalidade que pudesse haver no discurso.

Dito isto parece-me que os portugueses se quiserem têm do seu lado informação suficiente para escolher os 21 deputados que os vão representar no Parlamento Europeu nos próximos quatro anos. De resto, sendo realista não vou ser hipócrita exigindo que toda a gente vote no dia 26 – se é para assumir desejos, confesso que são demasiados aqueles que eu gostaria de ficassem em casa. Contente ficaria eu que aqueles que pensam mais ou menos como eu, que desejam uma Europa garante de paz, que preserve a diversidade de nações e pluralidade de culturas que a compõem no reconhecimento das suas raízes comuns, se deixassem de desculpas de mau pagador e no Domingo descalçassem as pantufas para ir votar. É a esses, que entendem a Pátria como um legado antigo que hoje nos exige fazer das tripas coração para lhe dar um futuro, que eu apelo ao voto. Porque a Europa começa aqui, e eu quero o Pedro Mota Soares no Parlamento Europeu..

São Pedro, tu que foste imigrante no Mediterrâneo e chegaste a Itália vindo da Síria, livra-nos dos católicos.

Não de todos, claro, mas pelo menos do Salvini, que é tão, tão, mas tão católico que saca do terço num comício e dá a Nossa Senhora o lugar da Marine Le Pen à frente da extrema-direita europeia.

Que ele vá para casa fazer filhos, muitos filhos, a única maneira de combater a ameaça islâmica. Se não conseguir, então que reze o terço.

Que ele deixe em paz Nossa Senhora, que teve de fugir para o Egipto por causa de outro político que não gostava de crianças nascidas fora da aldeia dos pais.

Que  ele não invoque São Bento, que já teve muitas chatices com uns bárbaros do Norte parecidíssimos com o Geert Wilders, e recorra a São Paulo, o turco que evangelizou Roma, e a Santo Agostinho, o africano que se converteu em Milão.

Que ele não cite João Paulo II, Bento XVI e o Cardeal Sarah só para contrariar o Papa Francisco, e cite o actual Papa, um tal de Francisco.  

E, sobretudo, ah, sobretudo, que não cite o Chesterton sem perceber nada. Que o leia antes. Por exemplo: "Os piores nacionalistas não amam a Inglaterra, mas uma teoria da Inglaterra. Se amamos a Inglaterra por ser um império, talvez exageremos o nosso sucesso no domínio dos Indianos. Mas se a amamos por ser uma nação, podemos enfrentar qualquer acontecimento  porque seria uma nação mesmo que os Indianos nos dominassem. Só aqueles cujo patriotismo depende da história permitem que o seu patriotismo falsifique a história. Um homem que ama a Inglaterra por ser inglesa não se preocupa como é que ela nasceu. Mas um homem que ama a Inglaterra por ser anglo-saxónica é bem capaz de ir contra todos os factos  por uma fantasia." 

Ámen.    

Mudam-se os tempos...

por João Távora, em 22.05.19

O único carro de campanha eleitoral daqueles à antiga com megafones no tejadilho que encontrei até hoje nesta campanha para o parlamento Europeu, foi esta manhã, e espectavelmente era da CDU. Estava num chinfrim junto à estação de comboios de S. João do Estoril... a ser multado pelo funcionário da "Emel" cá do sítio.

Por falar em moda antiga: quem se lembra daqueles plásticos coloridos que o PCP e os Verdes penduravam por todo o lado, e que ficavam meses a esfarrapar-se nas árvores e candeeiros? Livrámo-nos de boa, hem? 

Vendido aos interesses

por henrique pereira dos santos, em 21.05.19

"Since the mid-1970s, when DDT was eliminated from global eradication efforts, tens of millions of people have died from malaria unnecessarily: most have been children less than five years old. While it was reasonable to have banned DDT for agricultural use, it was unreasonable to have eliminated it from public health use."

Este parágrafo, retirado do artigo "Millions Died Thanks to the Mother of Environmentalism", ilustra bem a encruzilhada em que está metido o movimento ambientalista, tanto globalmente, como em Portugal.

O artigo não tem muito de novo e as alegações precisam de ser lidas com cautela, em especial o seu título, manifestamente demagógico.

Mas retrata uma discussão que é fundamental que seja feita, bastaria o último parágrafo do artigo para se perceber que não se está a falar de questões menores: "In 2006, the World Health Organization reinstated DDT as part of its effort to eradicate malaria. But not before millions of people had died needlessly from the disease.".

Por mais dúvidas que se tenham sobre as alegações do artigo, não é crível que a Organização Mundial de Saúde tenha dado um passo atrás na proibição do DDT se o assunto não fosse mesmo sério e com muitos tons de cinzento que tendem a ser esquecidos nas discussões ambientais, incluindo as de conservação da natureza.

Basta-me recusar os brancos e pretos de todos os problemas ambientais (aquele em que tenho mais dificuldade em recusar uma visão binária é o da energia nuclear) e concentrar-me nos cinzentos para ser sistematicamente rotulado como um vendido aos interesses.

Basta-me dizer que a melhor ciência disponível em Portugal demonstra não existir grande relação (se alguma) entre eucaliptos e fogos, basta-me recusar alegações infantis de que um fitocida que actua sobre os mecanismos da fotossíntese possa ser um terrível veneno para os organismos que não fazem fotossíntese, basta-me fazer notar que a escassez de recursos induz comportamentos económicos que limitam os efeitos apocalípticos tidos como absolutamente certos no futuro para que qualquer discussão acabe de imediato: para dizer coisas destas só há uma explicação, os interesses que eu sirvo.

Esta característica social está longe de estar restrita ao movimento ambientalista, mas é especialmente complicada num movimento ambientalista que sempre viveu do simbolismo e da dramatização, criando uma ética interna estranha que condescende com o uso da distorção, deturpação ou falta de rigor, desde que sirvam o bem maior da luta ambientalista.

Um bom exemplo são as listas vermelhas e os livros vermelhos, isto é, as listas que avaliam o estatuto de ameaça das espécies, cheias de imprecisões no limite da honestidade (umas vezes do lado de cá, outras vezes do lado de lá desse limite), em que se evita dizer, de forma clara, que actualmente o lobo não é uma espécie ameaçada em Portugal, estando mesmo em expansão, porque se entende que dizer isto, que é factual, pode prejudicar a conservação da espécie.

O resultado é um progressivo desfasamento entre o discurso ambientalista e o discurso científico que tem vindo a liquidar o apoio social ao movimento ambientalista, justamente considerado como fundamentando mal as suas exigências e permeável às agendas pessoais, políticas e económicas dos aldrabões que existem em todo o lado, que preferem ambientes em que o rigor e a exigência em relação à factualidade sejam mais maleáveis.

O primeiro passo para mudar isto, reganhando o papel social que o movimento ambientalista já teve, seria banir de qualquer discussão a tenebrosa teoria de conspiração dos interesses de cada vez que alguém desafina do discurso oficial sobre cada matéria.

E, se não for pedir muito, estender o princípio à discussão política mais geral era também um bom antídoto contra o sectarismo.

É Costa ou é a Justiça?

por José Mendonça da Cruz, em 19.05.19

Jamé, Mendonça, Campos, e Pina lá tiveram o mínimo que mereciam, que é terem a conduta analisada pela Justiça, devido aos malabarismos com PPPs rodoviárias que por passes misteriosos passaram a custar mais milhões «ao Estado» (também chamado «contribuintes») em benefício imagina-se de quem. Sendo todos eles do Governo de Sócrates, não pertence, porém, nenhum deles ao Governo de Costa.

O que suscita a pergunta: era Costa que sabia muito bem o que se passava no Governo Sócrates a que pertencia e se absteve de convidar a «gente má» do antecessor? Ou é a Justiça que discrimina positivamente a «gente boa» que está no atual governo?

Abriu a caça à comenda

por Maria Teixeira Alves, em 19.05.19

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Começou a caça às comendas. Depois da indignação pública  – que me parece sempre próxima do ódio colectivo – às declarações de Joe Berardo na Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD, eis que o Conselho das Ordens Honoríficas abriu, na passada sexta-feira, um processo para retirar as duas condecorações a Joe Berardo, numa reunião no Palácio de Belém, em Lisboa. Caso fique provado que o empresário infringiu os seus deveres de titular da Ordem do Infante D. Henrique, pode ficar sem as duas distinções que recebeu.

O que é que despoletou isto? Foi a sinceridade de Berardo, provocatória, quando disse que pessoalmente não tinha dívidas? Foi ter dito que os bancos já não tinham a maioria da Associação Coleção Berardo? Foi ficar a saber-se que tinha mudado os estatutos da Associação dona da sua coleção de arte e tinha feito um aumento de capital à revelia dos bancos? O que é que mudou de um dia para o outro em Joe Berardo que tenha despoletado isto?

Joe Berardo sempre foi provocatório, sempre foi grotesco na falta de respeito pelos que não gostava, sempre foi dono de uma sobranceria atabalhoada (não se lembram do que dizia de Jardim Gonçalves em 2007?). Não há nada de novo em Berardo. 

Terá sido o motim público que se levantou? 

Seja como for, se as comendas forem retiradas a Berardo, vai começar a caça às condecorações atribuidas pela Presidência da República? Aos que envergonham o país ou só àqueles que passaram pelas Comissões Parlamentares de Inquérito e indignaram os deputados em direto? Por exemplo, a Zeinal Bava porque não tinha de memória nada do que levou a Portugal Telecom a desaparecer? A Sócrates porque vivia com o dinheiro de um amigo e estava envolvido numa teia de troca de favores? A Ricardo Salgado por ter mandado maquilhar as contas das ESI, escondendo dívida, e contaminado a rede de clientes do Grupo com a dívida dessa e doutras empresas do GES? A Helder Bataglia que era o responsável pela Escom? A quantos destes "inimigos públicos" se vão abrir processos disciplinares para retirar as comendas e outras condecorações?

E agora vejamos, Berardo é mais culpado que outros grandes devedores à banca que entraram em incumprimento? É pior do que João Pereira Coutinho, Vasco Pereira Coutinho, Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos, Manuel Fino, etc? Porquê? 

No fim do dia quem é que tem culpa de ter emprestado 50 milhões de euros a uma empresa (Metalgest) que tinha EBITDA negativo e faturava 50 mil euros? É Berardo ou a Caixa Geral de Depósitos?

Faço minhas as palavras deste tweet: "Portugal é um país onde as coisas não acontecem pelo seu mérito ou necessidade natural mas sim ao sabor da atenção mediática do momento. Daí que seja incrivelmente importante quem controla os Orgão de Comunicação Social e quem tem autorização para fazer comentário. Portugal é muito pouco democrático". in Ricardo Pais Oliveira.

Domingo

por João Távora, em 19.05.19

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 


Quando Judas saiu do Cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros». 


Palavra da salvação. 

Em louvor de Cristina Sá

por henrique pereira dos santos, em 18.05.19

Vários dos meus amigos confundem a minha defesa de menos Estado com a defesa de ausência de Estado ou de um Estado sub-financiado e com recursos insuficientes para cumprir adequadamente o seu papel.

Sou um fortíssimo defensor da ideia de que a burocracia é uma conquista da civilização e um traço distintivo das sociedades decentes, mas isso não quer dizer que eu tenha o menor pingo de complacência para com a burocracia estúpida e socialmente inútil em que se baseiam os pequenos poderes ilegítimos de milhares de funcionários públicos.

A minha defesa de menos Estado também assenta na ideia de que precisamos de um Estado melhor, adequadamente financiado para cumprir o que lhe compete e que saiba reconhecer o mérito dos seus funcionários, pagando melhor a quem o merece.

Por causa de uma questão fiscal fui ao meu bairro fiscal em Lisboa, onde me informam que tenho de ir pessoalmente à repartição de finanças de Arcos de Valdevez para resolver o assunto.

Perto de mil quilómetros num dia não se fazem de ânimo leve e liguei para as finanças dos Arcos para saber exactamente o que tinha de fazer e levar tudo preparado. A funcionária que me atende fica estupefacta com o facto de me terem dito que tinha de lá ir, dá-me todas as indicações para evitar a deslocação e resolver o problema noutra repartição de finanças, mas eu confio mais em pessoas que em instituições e decidi que nos Arcos tinha garantida a resolução do problema, ao contrário das alternativas.

Muito menos de uma hora depois de ter entrado nas finanças dos Arcos tinha resolvido um problema que no 10º Bairro de Lisboa parecia complicadíssimo, com um atendimento excelente, em eficiência e simpatia.

Quem me atendeu, ao telefone e presencialmente, chamava-se Cristina Sá e lamento que receba o mesmo que os seus colegas que me atenderam no 10º Bairro de Lisboa, razão pela qual achei que se o Estado não reconhece quem o serve bem, servindo bem as pessoas comuns, ao menos eu teria de o reconhecer publicamente.

Muito obrigado, Cristina Sá, das finanças de Arcos de Valdevez.

Sic transit

por Pedro Picoito, em 17.05.19

Então é assim. Houve um tempo em que Berardo, Sócrates e companhia, Faustos lusos e lusos faustos, patos bravos e patos mansos,  pequenos e grandes burgueses, venderam a alma ao poder, à glória, ao dinheiro, velhos afrodisíacos dos pobres de espírito. Tiveram mulheres, carros, viagens, acções, bancos, empresas, partidos, governos, assembleias gerais, maiorias absolutas, apartamentos em Paris, montes no Alentejo, museus em Belém e a terrível embriaguez de impor a sua vontade a todos os mortais. Hoje, arrastam-se pelos corredores vazios dos palácios por pagar, das casas emprestadas ou simplesmente da prisão, sem que o destino lhes permita ir ao café da esquina  ou olhar-se ao espelho. Valeu a pena? Cá me parece: a alma era muito pequena. E, mesmo que não fosse, o mundo de nada serve ao homem se perder a sua alma, quanto mais Portugal.

Política Agrícola Incomum

por henrique pereira dos santos, em 17.05.19

Anteontem, estava eu posto em sossego num seminário sobre financiamento da Rede Natura, e começo a receber mensagens de vários dos meus amigos mais militantemente empenhados na dignificação do mundo rural a protestar com o facto da Iniciativa Liberal ter proposto o fim da Política Agrícola Comum.

Não sabendo do que se tratava, lá vi de raspão qual era a questão: algures alguém tinha apimentado um ponto específico do programa da Iniciativa Liberal para as eleições europeias, "Europeias. Iniciativa Liberal quer acabar com os apoios da Política Agrícola Comum".

Já aqui há dias, não sendo militante da Iniciativa Liberal mas sendo votante e estando a colaborar na definição do programa para as legislativas, eu tinha criticado uma posição maximalista da Iniciativa Liberal sobre o mundo rural.

O presidente da Iniciativa Liberal respondeu-me (publicamente, não estou a fazer nenhuma inconfidência) com uma ideia geral certa (é normal todos acharmos que o Estado deve diminuir em todos os sectores menos no meu) e com uma segunda hipótese de ideia também certa: reconheço que o argumento da gestão da paisagem faz algum sentido.

É natural que a Iniciativa Liberal, que nunca teve responsabilidades em nenhum governo e, bem, não está preocupada com os votos que possa perder porque não se pode perder o que se não tem, apresente as suas posições de forma binária e, ainda mais, que sejam lidas de forma ainda mais binária pela imprensa e pelas pessoas.

O resultado é que uma formulação oficial perfeitamente equilibrada, "Defendemos, por isso, a diminuição progressiva da preponderância da Política Agrícola Comum no Orçamento Europeu", seja lida como tendo a Iniciativa Liberal defendido o fim da Política Agrícola Comum, esquecendo todos os cinzentos que existem entre o branco e o preto.

Não deixa de ser relevante que ainda hoje se argumente que os apoios à produção que ainda existem na Política Agrícola Comum são a única forma de garantir alimentação barata e de qualidade, procurando justificar a manutenção de uma afectação de recursos que crescentemente os contribuintes contestam (curiosamente, no tal seminário em que estava, ao mesmo tempo que ia continuando umas trocas de argumentos por mensagem, o representante da Comissão Europeia projectava o gráfico da evolução do peso da PAC e do Fundo de Coesão no orçamento comunitário, em queda constante, incluindo os 7% de diminuição para o próximo quadro comunitário de apoio). 

Como dizia ontem José Manuel Fernandes, a propósito de questões mais gerais, "O problema é que hoje, como há 12 anos, se acredita que os problemas se resolvem dando mais poderes aos governos, quando é exactamente o contrário que devia acontecer. O problema é que hoje se volta a regredir no poder das instituições independentes, acreditando que a mão do governo pode fazer mais pela economia do que a livre competição entre as empresas. O problema é que hoje continua a haver muito concubinato com empresários, sempre “em nome do interesse nacional”, claro está".

É verdade que me distancio do binarismo da posição da Iniciativa Liberal em relação à PAC, em especial por me parecer que reconhece mal as enormes falhas de mercado deste sector que se traduzem em soluções sociais sub-óptimas do ponto de vista da gestão do território, sendo o padrão de fogo e a perda de biodiversidade os sintomas mais evidentes.

Mas não podia estar mais de acordo com a ideia, que aliás corresponde à evolução da PAC, de que os recursos para o mundo rural deveriam apoiar cada vez menos a produção e cada vez mais ser dirigidos para a resolução das falhas de mercado, pagando a gestão dos serviços de ecossistema que o mercado não remunera.

A ideia de que só com esses apoios se pode obter uma alimentação mais barata carece de demonstração e de base social justa.

Por um lado é mais provável que mais competição se traduza num uso de recursos mais eficiente (e isso pode implicar o abandono de actividade das empresas e sectores menos competitivos, é certo).

Por outro lado o acesso à alimentação de qualidade por parte de quem não tem rendimentos suficientes para pagar o que custa, resolve-se nas políticas sociais, não nos apoios arbitrários à produção, em que é o Estado a decidir que se deve produzir leite ou carne, sem que se vislumbre qualquer interesse social no consumo excessivo de lacticínios e carne incentivado por preços artificialmente baixos.

A ideia de que a qualidade da alimentação só se obtém com apoios públicos representa uma grande falta de confiança nas empresas, na capacidade dos consumidores fazerem as escolhas que entenderem (por que razão deve ser o Estado a definir se as galinhas devem ser tratadas assim ou assado e não os consumidores?) e no próprio Estado, que se deve concentrar em criar e fiscalizar regulamentação justa, razoável e socialmente útil, para enquadrar a liberdade dos operadores do mercado.

O que me preocupa é que ainda hoje, grande parte dos principais agentes produtivos mais criativos do mundo rural estejam na trincheira do apoio à produção por parte do Estado, acabando por estar a defender os interesses dos operadores existentes, mesmo quando a sua ineficiência (por razões próprias ou de alteração dos mercados) aconselharia o seu encerramento, abrindo espaço para soluções que criem mais riqueza e valor social.

Mas não perco a esperança de que um dia sejam atraídos pelos riscos e oportunidades abertos pela liberdade económica, sem para isso terem de deixar de defender o seu direito a ser remunerados pelos bens e serviços difusos de interesse geral que gerem, sem que os mercados os remunerem, nomeadamente através de apoios públicos.

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