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Dar destino a terras sem destino

por henrique pereira dos santos, em 31.03.19

Este é um post em causa própria, ou seja, do meu interesse enquanto presidente da Montis.

No blog da Montis escrevi um post com o mesmo título deste e que acaba assim:

"O país está cheio de terras sem destino.
Pode-se esperar que o Estado resolva o problema (que é muito complicado), ou pode-se passar à prática ajudando-nos a dar um destino a algumas dessas propriedades.
É verdade que não é assim que o problema fica resolvido, mas há um bocadinho pequeno do problema que pode ser resolvido por nós, e esse bocadinho pequeno depende também de si.
A partir de um euro, a opção é sua."

É um post sobre a primeira semana de uma subscrição pública (agora chama-se crowdfunding) para comprarmos 8,5 hectares, cinco em Pampilhosa da Serra, 3,5 em Vouzela.

O país tem um grave problema de falta de gestão nas terras marginais.

É um problema económico porque resulta da falta de competitividade das economias que poderiam gerir essas terras (pastoreio, produção florestal, resinagem, etc.) mas é também um problema económico por realimentar essa falta de competitividade de duas maneiras: 1) aumenta enormemente o risco de investimento, por causa dos fogos que se desenvolvem onde se acumulam os combustíveis florestais (mato, raminhos, folhas, manta morta, etc.); 2) diminui a competitividade porque as actividades económicas associadas têm custos operacionais substanciais a tentar gerir o risco de incêndio.

Para além disso é um problema social, quer pelo impacto directo em vidas humanas, afectação de infraestruturas, criação de insegurança, etc, quer porque os governos, todos os governos, têm empenhado meios substanciais, que têm de ser financiados pelos impostos, em soluções que não resolvem o problema da convivência com o fogo e consomem riqueza que poderia ser mais bem usado noutras coisas.

Marginalmente é um problema ambiental, em algumas situações muito específicas (afectações de zimbrais, expansão de espécies invasoras, uma ou outra vez em que uma chuva torrencial logo imediatamente a seguir a fogo pode provocar problemas de qualidade de água, coisas deste tipo).

A generalidade das pessoas que se debruçam sobre o problema (para lá das questões de combate aos fogos, que são muito pouco eficientes para a gestão do fogo) alinham numa de duas opções (ou nas duas em simultâneo): 1) isto é um problema social que o Estado tem de resolver, e ficam à espera que o Estado resolva, sem explicar muito bem como e de onde vêm os recursos para essa solução (pessoalmente tenho defendido que o pagamento da gestão de serviços de ecossistema aos produtores poderia ajudar muito); 2) isto é um problema de má organização da actividade económica, a produção florestal é rentável e o que é preciso é ganhar escala, aumentar a tecnicidade, usar melhores clones, por aí fora.

As duas opções têm o seu papel parcial, mas na verdade não resolvem o problema das terras marginais no seu todo, quer porque o Estado, mesmo que consiga a posse dos terrenos, jamais terá capacidade para gerir áreas enormes com perdas económicas anuais pesadas, quer porque na verdade, mesmo com mais escala, mais tecnicidade, usando as melhores técnicas (no fundo, aproximando mais outros produtores do modelo de produção comercial das celuloses), a verdade é que esse modelo não rentável em grande parte do país (e, em algumas áreas, não é de todo desejável).

O que queremos fazer, e o que pensamos que temos vindo a fazer na Montis, é olhar para os problemas novos decorrentes das alterações económicas e sociais e propor soluções que são diferentes destas, sem esperar pelas mudanças de políticas públicas relevantes: muitas destas terras não têm hoje vocação nenhuma, ninguém sabe o que lhes fazer e a Montis sugere que muitas podem ser dedicadas à conservação da natureza, desde que geridas com esse propósito, o que implica conviver serenamente com o fogo.

Se isto lhe parece fazer sentido, se quiser mais informação, se achar que vale a pena experimentar, mesmo a muito pequena escala, para depois se avaliar de que forma podemos ser melhores na forma como as terras marginais podem contribuir para a riqueza do país (em sentido lato, incluindo portanto a riqueza em biodiversidade), então o que sugiro é que dê um salto à nossa campanha "Como coisa que nos é cedida" e, se ficar convencido, carregue no botão de contribuir para que nós possamos duplicar a área propriedade da Montis.

Um euro é um euro, e todos contam (para além de todos estarem abrangidos pelo regime de benefícios fiscais do mecenato).

Domingo

por João Távora, em 31.03.19

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 


Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’». 


Palavra da salvação. 

A velha confusão do PPM com os Monárquicos

por João Távora, em 29.03.19

Sobre um cartaz digital de campanha para as Eleições Europeias do PPM que circula nas redes sociais com teor abusivo, a direcção da Real Associação de Lisboa subscreveu um comunicado que pode ser lido aqui

Vítor Constâncio: “A CGD foi sempre uma instituição que não nos deu muitas preocupações”

Tragédia da Beira: causa efeito

por João Távora, em 28.03.19

Moçambique.jpg

O escritor José Eduardo Agualusa veio defender há dias em entrevista ao Público, a propósito da catástrofe provocada pelo ciclone Idai que “os países que mais contribuem para o aquecimento global devem responder pelos estragos causados ao planeta, sobretudo quando atingem os países que menos fizeram por isso, como Moçambique” e que “Portugal não faz o favor de ajudar Moçambique. Portugal tem obrigação de reparar os danos que causou”. Curioso é ver muitos daqueles que entendem cada fenómeno climático como consequência da acção humana incomodados com estas afirmações que afinal de contas são coerentes com o catastrofismo simplista que esses críticos apregoam na sua terra.  Quem faz de assuntos científicos de grande complexidade mera propaganda sujeita-se a isto - agora aturem-no. 

Isto não é uma piada, antes pelo contrário

por João Távora, em 27.03.19

Eu não sei se eles recorrem à família porque não têm mesmo mais ninguém obediente que saiba ler e fazer contas a quem recorrer, ou se na família deles nunca souberam fazer nada que não fosse às expensas do Estado: o facto é que as relações familiares directas e indirectas no Governo já envolvem mais de 40 pessoas. Confesso que não consigo entender porquê tudo isto não gera uma comoção nacional, dá ideia que as nossas gentes andam anestesiadas. Isto não é brandos costumes, é mansidão mesmo. Às vezes ser português parece-me um castigo.

As «genuine news» das «fake news»

por José Mendonça da Cruz, em 27.03.19

Esta forma de desgoverno a que uns chamam «nepotismo», outros «endogamia», outros «ceia de Natal», outros «reunião de padrinho e capi», vem sendo denunciada nas redes sociais (as tais que os nepotes consideram perigosas) e nos blogs (que os serventes do poder acusam de fake) há vários meses. É consolador e engraçado verificar que, embora de mau grado e com demora, os media tradicionais tiveram que abordar o assunto. É tal e qual como eles pensam e até já dizem: a Internet compromete a unanimidade dos lacaios; que pena a Internet não estar mais vigiada.

Porquê maltratar a Ceia e o Natal?

por Vasco Mina, em 26.03.19

Rui Rio diz que o Conselho de Mininistros parece uma "Ceia de Natal"

Os agricultores, os javalis e o resto

por henrique pereira dos santos, em 26.03.19

Recentemente houve um conjunto de notícias sobre os prejuízos que a expansão do javali está a provocar.

Este problema é bem real e mesmo projectos de conservação como aquele a que estou ligado na Montis têm vindo a sofrer prejuízos (neste caso, destruição de plantação de árvores).

Compreende-se por isso a preocupação dos agricultores, nomeadamente dos produtores de milho, sendo razoável o pedido de maior controlo das populações de javali.

Acontece que esse controlo através da caça pode resolver pontualmente alguns problemas, sendo uma ajuda, mas não ataca o problema central: o javali expande-se porque o abandono lhe proporciona abundante alimento e refúgio mas ainda não trouxe predadores naturais em quantidade suficiente, isto é, os javalis expandem-se muito depressa, o lobo também se expande, mas muito mais lentamente.

Para além de pedir ao Estado que resolva o problema, ou pelo menos que não empate tanto a sua resolução - que é aliás um problema mais sentido no controlo dos prejuízos causados por veados, por exemplo na serra da Lousã e arredores, à conta das concepções urbanas da vida selvagem que actualmente dominam as estruturas técnicas, quer do ICNF, quer das Câmaras Municipais que lidam com o licenciamento da caça - talvez fosse a altura dos agricultores, em especial os mais rentáveis e qualificados, começarem a pensar em formas de assumir alguma responsabilidade social na gestão de terras marginais que lhes são próximas, mesmo não sendo fundamentais para o seu processo produtivo, ao contrário do que acontecia há 70 anos.

Talvez seja a altura dos agricultores tecnicamente mais capacitados apoiarem claramente a expansão das populações de lobo, até porque hoje os prejuízos provocados pelos lobos são muitíssimo menores que os prejuízos causados pelo javali, de que o lobo é, a par do homem, o principal predador.

Se a responsabilidade pela conservação do património natural é, para mim, uma responsabilidade central do Estado, a par da responsabilidade pela conservação do património cultural (o que é diferente de apoiar a criação artística), não tenho muitas dúvidas de que não conseguiremos boas soluções para problemas tão complexos só a contar com o Estado: as terras marginais são hoje terras sem destino social.

Daí resulta a extraordinária recuperação dos sistemas naturais a que assistimos hoje, mas pagamos o imposto do padrão de fogo que estes dias de vento Leste um bocadinho mais forte sinalizam, para lembrar ao Senhor Ministro da Administração Interna que se deixe de tolices e trate do assunto a sério, falando com o seu colega da agricultura para começarem a pagar os serviços ambientais que são prestados, até agora gratuitamente, pela frágil economia que sobrevive dessas terras marginais.

Mas entretanto, enquanto o Senhor Ministro da Administração Interna conversa com Jaime Marta Soares para controlar os votos associados às corporações de bombeiros, e o Senhor Ministro da Agricultura distribui um chuveirinho de apoios aos produtores agrícolas que podem representar votos, talvez fosse bom que os agricultores que verdadeiramente produzem e criam riqueza se lembrassem que as suas terras são ilhas imersas em sistemas naturais em profunda transformação de que não se podem alhear.

Nada contra as reivindicações associadas aos prejuízos dos javalis, mas seria bom que a isso se associassem acções concretas de gestão das terras marginais, quando isso é possível e sustentável.

Manuel do Rato

por henrique pereira dos santos, em 24.03.19

Dizem-me que morreu hoje o Manuel do Rato.

O Manuel não se chamava assim, era Manuel Quental, mas era da casa do Rato, tal como o meu pai era o João do Aidinho por ser da casa do Aidinho, e eram dois grandes amigos, separados por milhares de quilómetros durante muitos anos.

Grande parte do que escrevo hoje sobre paisagem tem raízes mais fundas em conversas com o Manuel que na minha licenciatura e doutoramento em arquitectura paisagista.

O António, seu filho mais ou menos da minha idade, era o meu grande amigo quando eu estava no Covelo. Naquela altura o trabalho era bem a sério e bem cedo, de maneira que lá ia eu com o António para a rega, esbandeirar o milho, vindimar ou com as vacas para o monte, na posição privilegiada de quem não tinha obrigações mas dava uma mão, quanto mais não fosse para libertar o António mais cedo do trabalho para irmos ao que nos interessava.

Nunca soube se realmente o Manuel não percebia as entradas e saídas do António pela janela do quarto para corrermos as festas todas das aldeias ali à volta, ou se percebia muito bem o que se passava mas, desde que ao romper da manhã o António pegasse ao trabalho e o Manuel pudesse manter intocada a sua posição de pai severo e autoritário (e se era autoritário), deixava correr as coisas por saber que a vida é o que é.

Muito do interesse que fui ganhando em compreender o mundo rural nasceu à volta da mesa daquela casa, uma travessa para todos, cada um com o seu talher (nas primeiras vezes ainda vinha um prato para mim, que estaria habituado a outra maneira de fazer as coisas, mas rapidamente essa deferência da Ana passou à história) o jarro de vinho que se tinha ido encher à adega servia a todos directamente (aí sim, eu tinha direito a um copo de água, eu não bebia vinho, uma esquisitice que se aceitava à conta das manias da cidade, mesmo que se estranhasse tanto que quando a minha avó me viu beber água, com seis anos, me perguntou se eu estava doente) e falava-se sobretudo do trabalho que ainda era preciso fazer, da vaca que tinha a pata magoada, da chuva que faltava ou vinha a mais e milhares de outros assuntos que fazem a vida de um agricultor que sabe que o sustento da família depende do trabalho de todos e da orientação que ele lhe dava.

O Manuel era um homem culto (penso que teria a quarta classe, não mais, não tenho a certeza), lia bastante, era correspondente da Tribuna de Lafões (não tenho a certeza, hoje, de qual dos jornais regionais era correspondente, mas penso que era deste), era louvado, fazia avaliações de terrenos por muito lado e era um homem a quem se pedia conselho, por saber, por ser inteligente, muito inteligente, e por ter um sólido bom senso.

Numa das últimas vezes em que conversei com o Manuel, a Ana, já cega e que tinha passado um sofrimento horrível durante umas horas em que, sozinha em casa, desencaixou um osso que a impedia de procurar ajuda e não havia ninguém para ouvir os gritos, já tinha aceitado ir para o lar em Valadares, a quatro quilómetros de casa, e até estava muito satisfeita por afinal ter lá muitas raparigas do seu tempo.

O Manuel resistia a ir também para o lar, apesar das dificuldades em andar e outras mazelas próprias de quem tinha quase 90 anos, mantendo-se estoicamente sozinho em casa (com visitas frequentes das filhas e do António) e dizia-me, a rir-se de orgulho: vou visitar a Ana, desde que foi para Valadares, não lhe falhei um dia, e lá subia meio a custo para o trator, fazia os quatro quilómetros para Valadares, e voltava depois para a casa de onde não queria sair.

A última vez que o vi já foi mesmo no lar, quando finalmente se rendeu à evidência de que essa era a melhor solução para todos, começando por ele próprio.

A Ana morreu há meses e o Manuel deve ter achado que já lhe estava a faltar há demasiados dias.

Obrigado Manuel, eu duvido que acredite nisto, mas com poucas pessoas aprendi tanto.

Domingo

por João Távora, em 24.03.19

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

 

Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».

 

Palavra da salvação.

Milhão e meio de fotografias georeferenciadas

por henrique pereira dos santos, em 21.03.19

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Se conseguirem aumentar a imagem, verão que neste mapa estão milhares de pontos. Cada um deles corresponde a uma fotografia de Duarte Belo.

A imagem é da exposição que o Duarte inaugurou hoje na ARCO, no antigo mercado de Xabregas, e que vale a visita.

Se alguém procurar uma exposição de fotografia como objecto estético, é bem possível que a exposição lhe saiba a pouco - não porque não exista qualidade estética nas fotografias, mas porque não é esse o ponto de vista escolhido -, mas para quem, como eu, trabalha com paisagem, é fascinante ver como o Duarte foi fazendo um dos maiores arquivos de imagem de paisagens (em sentido lato) do país, com mais de um milhão e meio de fotografias rigorosamente georeferenciadas.

Espero, e tenho tentado ajudar (o Duarte também, diga-se), que um dia a Maria José Curado consiga ter no Observatório da Paisagem da Universidade do Porto um instrumento de registo, datação e georeferenciação de fotografias de paisagem que possa contribuir para diminuir a iliteracia que temos nesta matéria: mesmo académicos considerados descrevem paisagens míticas como se tivessem existido ontem, o que manifestamente a informação existente demonstra ser falso.

Estou convencido de que no dia em que cada um de nós tiver a possibilidade de ir repetir uma fotografia de há 50, 60, 70 anos, vamos ser mais fácil entender a rapidez e dimensão das alterações que ocorrem todos os dias em paisagens que na nossa cabeça são basicamente imutáveis.

Pode ser que a exposição seja mais um passo para que mais pessoas compreendam o poderoso instrumento de gestão patrimonial que estamos a perder ao desprezarmos o valor da imagem que fixa um determinado momento de uma paisagem.

E mesmo para quem nada disto interessar, a exposição continua a valer uma visita.

Dia do Pai

por João Távora, em 19.03.19

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Queria escrever um texto sobre a importância da paternidade, advogar em causa própria (tornei-me um pai a tempo inteiro), algo que nestes tempos de feminismos exacerbados e decadência da chamada “cultura patriarcal”, talvez seja um atrevimento. Não quero de todo contrariar o cânone contemporâneo de que Pai e Mãe devem partilhar funções em casa: de facto não está escrito nos cromossomas quem deve lavar a loiça, mudar a fralda ao bebé a meio da noite ou pendurar a roupa no estendal. Mas parece-me importante homenagear as virtudes masculinas inscritas na paternidade, mais ainda quando tenho a convicção de que os tempos modernos consolidaram a matriz maternal do Ocidente, em cima da marca feminina da cultura católica, e se chega ao democrático século XX da revolução Pop, pelas utopias do Maio de 68 “Imagine all the people”, que cimentou o império do amor romântico e outros sentimentalismos muito femininos, já para não falar do predomínio da psicologia, da introspecção, do autoconhecimento, do diálogo e da compreensão, de afectos e negociações, tudo atributos de forte pendor maternal – que me perdoe o Eduardo Sá que é um modelo de mãe. Toda a cultura moderna exorta o pai a ser mais como a mãe, a seguir estes valores pacifistas, a saber interpretar sinais subtis, nuances emocionais, desejos não explícitos, sentimentos implícitos, negociações infindáveis; e há que conceder que perante este caldo, o macho arrisca-se a perde-se em pieguices melosas, terrenos pantanosos que não são inteiramente seus; e pior que isso, os filhos arriscam à grande perda de terem de crescer com duas “mães” ternurentas e protectoras, e muita confusão nas suas cabeças. Sim, é importante que o Pai procure entender e tire vantagem da sensibilidade e da astúcia feminina da sua companheira, e saiba optar por diferentes estratégias para a aproximação com os filhos – em matéria de educação, levar a carta a Garcia exige equilíbrios sensíveis, muito afecto, diplomacia, algum contorcionismo e, principalmente, razão. Aqui chegados e entendidos parece-me que hoje em dia é preciso reclamar a libertação do papel masculino da repressão igualitária que arrisca fazer do casal uma cataplasma incipiente e incapaz de cumprir os seus desígnios. Tanto mais que acho injusto exigir à mulher outras disposições que não as suas mais naturais, que significariam uma sobrecarga ao instinto maternal que lhe confere demasiadas obrigações e, quem sabe, complexos de culpa. O facto é que a “veia masculina” do Pai faz falta às crianças, com tudo o que o excesso de endorfinas lhe confere, para cortar a direito quando é preciso, de empurrar as crias para a arena do risco e do desafio, ou de assumir a tirania de clarificar as meias tintas, de desmontar a manipulação, assumir a voz grossa para impor limites ao que não se pode mais tolerar, disfarçar a angústia numa resolução salomónica, sacrificar a acomodação e a paz que se tornou podre, impedir uma injustiça, pôr um adolescente na ordem... enfim. 

Fui educado por um pai que, talvez por ser muito brincalhão e afectuoso avant la lettre, do alto do seu 1,90 de tirania e potente voz de tenor, muitas vezes me desconcertou com as suas fúrias bravias – boa parte delas com alguma razão. Passadas mais de duas décadas de saudade, tenho a certeza que muita falta faz para a formação do bom carácter dum infante a complementaridade harmónica mas distinta das marcas paternal e maternal. Que a febre da igualdade não acabe com isso é o meu desejo. De resto, a vida descobre sempre caminho e um pai faz muita falta.

 

Na fotografia: o meu irmão e eu, debaixo da vigilância do meu pai, nos anos 60.

(Texto reeditado)

Um grande livro e uma grande tristeza

por José Mendonça da Cruz, em 19.03.19

Estou a traduzir um grande livro de um grande autor, livro do ano para muita imprensa realmente de referência, uma obra magnífica de história e literatura, que em outubro se verá. É um trabalho tão difícil e compensador quanto são compensadores os trabalhos difíceis. (Isso aí foi uma habilidade retórica, e diz-vos quem é o retratado.)

Dois reparos, apenas -- estranhos ao livro, ambos.

É útil o corrector ortográfico (o «corretor», será? Ou esse é só o da Bolsa?) para nos lembrar que nos esquecemos de uma vírgula. Mas de resto, que vastidão espantosa a da lacuna do instrumento! As coisas que ele ignora, ou julga que sabe, as palavras que  o deixam perplexo, e as que julga que estão erradas... O corrector ortográfico convence-me do triunfo da ignorância.

E depois, há essa coisa vil do acordo. Já não falo do «aspeto» e do «espeto», nem da «recessão» e da «receção», nem do ar estúpido dos meses reduzidos à minúscula. É pior, é a redução à incultura, o alheamento em relação às raízes, o desfiguramento, a falta de justificação e jeito deste português expeditamente acordado, pedestre, feio na página.

O acordo ortográfico convence-me do triunfo da mediocridade.

Estou a traduzir um grande livro de um grande autor, do inglês culto para o português equivalente («rente ao texto», como recomendava Sophia Andersen).

Depois, despeja-se-lhe o acordo em cima, e ele distorce-o torpemente. 

Procissão do Senhor dos Passos da Graça

por João Távora, em 18.03.19

Senhor dos Passos.jpg

Emocionado, ontem participei na Procissão do Senhor dos Passos da Graça, uma das mais antigas e genuínas manifestação da tradição católica da cidade de Lisboa, que, presidida pelo Cardeal Patriarca, todos os anos na Quaresma evoca o caminho de Jesus Cristo para o calvário. Éramos bastantes a atravessar as ruas da velha Lisboa, da Igreja de São Roque à Igreja da Graça, e nesse percurso muito rezei pelas minhas aflições. O caminho foi feito debaixo do olhar atento das gentes aglomeradas nos passeios, uma mescla equilibrada de etnias e culturas, residentes e turistas, respeitosas ou condescendentes. Consolou-me em particular constatar a presença de figuras públicas como a Duquesa de Bragança, de Marcelo Rebelo de Sousa e de Assunção Cristas que não se inibiram em afirmar a sua pertença a Jesus Cristo. Parabéns à organização que com tanto esforço e brio vem mantendo viva esta tradição com mais de 400 anos, para ela perdure pelo menos outros tantos.

Imagem Lusa

A prostituírem o Ideal monárquico

por João-Afonso Machado, em 17.03.19

Conheci Nuno da Câmara Pereira há 25 anos, num debate televisivo com um deputado socialista e professor da Faculdade de Letras do Porto sobre o 31 de Janeiro.

Câmara Pereira abriu o programa cantando o Embuçado. Na altura era miguelista...

Depois quis ser "Dom". Parece que de acordo com as regras próprias não foi possível. Furioso, resolveu vingar-se.

Apoderou-se então de um cadáver chamado PPM. Inventou uma nova dinastia e foi desassossegar uma pacata família, jurando-lhe ser a herdeira da Coroa portuguesa. Ela, infelizmente, acreditou..

Escrevi-lhe duas cartas abertas, na sequência de entrevistas suas, mas, de ambas, uma não foi publicada, a outra completamente ratada. Câmara Pereira tinha amigos, filiara-se na Maçonaria.

E quando o PPM já de nada lhe servia, endossou-o ao irmão Gonçalo. O cadáver era agora arrastado em câmara ainda mais lenta.

Representativo de nada - e talvez porque Marinho Pinto não se encontrásse disponível... -  foi descobrir no catedrático de Benficalogia, Prof. André Ventura, o seu candidato ao Parlamento Europeu. 

De conhecedor da insegurança nocturna lisboeta a agitado comentador do escalão CMTV, não se entende o lugar do monarquismo de André Ventura. Sabe-se apenas que ele pretende entrar na política portuguesa, um direito que plenamente lhe assiste, e que todos os partidos lhe fecham a porta. Todos? Não, o PP dito M persevera em enxovalhar o Ideal monárquico.

Domingo

por João Távora, em 17.03.19

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

 

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

 

Palavra da salvação.

História... da carochinha

por João Távora, em 16.03.19

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A propósito da manchete de hoje no Expresso que refere que as "Escolas estão a cortar aulas de História" (para dar lugar a aulas de "cidadania"), lembrei-me de um post lido aqui, há dias, em que o autor defendia a ideia nada descabida de dever a Escola limitar-se a ensinar Matemática, Filosofia, Gramática e Latim. Descontado o exagero (?), acredito que talvez dessa forma se estragassem menos famílias. Por exemplo, a disciplina de História, pelo menos até ao 9º ano, não passa de uma cartilha panfletária de propaganda aos clichés e estereótipos que sustentam a narrativa da oligarquia que nos pastoreia. (O meu filhote de 12 anos que frequenta uma escola católica, chegou no outro dia a casa convencido que a Revolução Francesa se dera porque a rainha gastava o dinheiro todo em jóias - ficou por explicar a justificação da perseguição chacina do clero). Certo era que com um cardápio assim minimal de disciplinas se poupava muito trabalho a pais extremosos como eu de passar a vida a desmontar os clichés que os miúdos aprendem na escola e a desafiá-los a pensarem pelas suas cabeças com dados alternativos.

Da barbárie

por João Távora, em 15.03.19

Ver os testemunhos dos muçulmanos acossados após o hediondo ataque de hoje a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia (curioso o nome da cidade) quando estavam a rezar, é como um murro na barriga, e deveria servir de alerta para o perigo das respostas maniqueístas para questões complexas como as do diálogo inter-religioso e dos refugiados. Gente fanática é gente fanática.

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Violência doméstica

por João Távora, em 14.03.19

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O fenómeno a que hoje chamamos violência doméstica será tão antigo quanto a humanidade e trata-se sem sombra de dúvida uma das expressões mais reles da barbárie a que o Homem se consegue rebaixar - a sua plena erradicação só será possível com a extinção do ser humano. A questão está em saber se o número de casos está realmente a aumentar ou se é a percepção que temos desta tipologia de crimes que se vem ampliando, com a crescente vigilância mediática sobre eles.

Independentemente da falta de uma perspectiva histórica conclusiva sobre o tema, parece-me que a questão merece ser reflectida sem preconceitos. Nesse sentido, pelo que me é dado observar empiricamente, receio que a violência doméstica (e entre namorados – um fenómeno recente) tende a aumentar nos próximos anos, por razão da fragmentação social resultante da decadência ou extinção das pequenas comunidades urbanas e rurais, assim como da crise que perpassa na família natural que não resiste à cultura do individualismo e da democratização do divórcio. Acontece que a estas micro estruturas sociais cabia também um papel de vigilância e projecção de expectativas com potencial repressivo aos desvios à norma (moral), que o Estado (ainda bem que) não consegue substituir. Seja na amalgama dos grandes centros urbanos, nos apartamentos das cidades do interior ou casa isoladas nos campos, actualmente os núcleos familiares (quantas vezes monoparentais) não respiram o oxigénio de uma pertença mais alargada. A liberdade individual é sublimada na proporção em que a responsabilidade social (comunitária) é desconsiderada. A plena democratização do divórcio e as relações “abertas”, a transformação do casamento civil numa instituição descartável, generalizou o fenómeno de famílias recompostas com fronteiras difusas, um fenómeno que não é acompanhado pela maturidade psicológica e grau civilizacional que essas escolhas e vivências implicam – educar "os meus os teus e os nossos" implica muita racionalidade e amor cristão (no sentido de serviço), que são requisitos pouco abundantes. Tudo questões incómodas de que não deveríamos desviar o olhar.    

O facto é que criámos uma sociedade fragmentada, que gera pessoas desestruturadas, problema para o qual suspeito que não haja ordenamento jurídico que lhe valha. O caso de uma mulher que se incinera a si e à sua filha de 10 anos e dum homem que espanque ou assassine a sua parceira, têm em comum uma profunda insanidade mental, a mais completa amoralidade. Que a natureza humana é capaz do melhor e do pior, sabemos que sempre assim será. Mas convém reflectir nas consequências do caminho que vamos percorrendo, se daqui a alguns séculos a nossa cultura e as opções políticas que tomámos não serão consideradas bárbaras.  

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