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Estava á espera que algum dos meus colegas de blog hoje escrevesse alguma coisa de verdadeiramente inteligente sobre o ano velho que agora finda e o novo que desponta daqui a umas horas, mas nicles. Assim tive de interromper o réveillon à moda antiga que organizei em minha casa (na foto) para vir aqui escrever estas singelas palavras. Bom ano novo para todos os nossos leitores, que o Sporting seja campeão e que a direita não perca por muitos, são os meus mais sinceros votos.
Quando alguém perguntar porque arde o país, porque escasseia a economia no interior, porque falta emprego no mundo rural, porque não se paga a gestão dos serviços de ecossistema a quem a faz, e essas pequenas coisas que um Estado decente tenderia a pagar por razões de coesão social, coesão territorial e soberania, penso que bastará fazer o que agora vou fazer: citar a finalidade e objectivos do Fundo Ambiental, e depois citar no que se traduz na prática.
Por mim, tenho uma proposta simples há bastantes anos (nem é nada original, lembro-me de a ter copiado de um país decente): o Estado financia-se através do Orçamento de Estado, o acesso a fundos autónomos e com objectivos específicos como o Fundo Ambiental ou o Fundo Florestal Permanente deve estar totalmente vedado a todas as entidades em que o Estado tenha um peso superior a 15%.
O Fundo financia entidades, atividades ou projetos que cumpram os seguintes objetivos:
a) Mitigação das alterações climáticas;
b) Adaptação às alterações climáticas;
c) Cooperação na área das alterações climáticas;
d) Sequestro de carbono;
e) Recurso ao mercado de carbono para cumprimento de metas internacionais;
f) Fomento da participação de entidades no mercado de carbono;
g) Uso eficiente da água e proteção dos recursos hídricos;
h) Sustentabilidade dos serviços de águas;
i) Prevenção e reparação de danos ambientais;
j) Cumprimento dos objetivos e metas nacionais e comunitárias de gestão de resíduos urbanos;
k) Transição para uma economia circular;
l) Proteção e conservação da natureza e da biodiversidade;
m) Capacitação e sensibilização em matéria ambiental;
n) Investigação e desenvolvimento em matéria ambiental.
O Fundo pode estabelecer mecanismos de articulação com outras entidades públicas e privadas, designadamente com outros fundos públicos ou privados nacionais, europeus ou internacionais, relacionados com o desenvolvimento de políticas ambientais para a prossecução dos objetivos do desenvolvimento sustentável.
57 - Transferência do Fundo Ambiental para o IHRU, I. P., no valor de 250 000 (euro), para realojamento das primeiras habitações dos pescadores da Ria Formosa.
58 - Transferência de verbas inscritas no orçamento do ICNF, I. P., no âmbito do Fundo Florestal Permanente, até ao limite de 3 716 675 (euro), para a GNR, com vista a suportar os encargos com a contratação de vigilantes florestais.
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60 - Transferência do Fundo Ambiental para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, até ao valor de 35 000 (euro), para apoio a projetos a desenvolver no âmbito da Economia Circular, mediante protocolo a celebrar.
61 - Transferência do Fundo Ambiental para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, até ao valor de 35 000 (euro), para apoio a projetos a desenvolver no âmbito da Economia Circular, mediante protocolo a celebrar.
62 - Transferência do Fundo Ambiental para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, até ao valor de 35 000 (euro), para apoio a projetos a desenvolver no âmbito da Economia Circular, mediante protocolo a celebrar.
63 - Transferência do Fundo Ambiental para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, até ao valor de 35 000 (euro), para apoio a projetos a desenvolver no âmbito da Economia Circular, mediante protocolo a celebrar.
64 - Transferência do Fundo Ambiental para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, até ao valor de 35 000 (euro), para apoio a projetos a desenvolver no âmbito da Economia Circular, mediante protocolo a celebrar.
65 - Transferência do Fundo Ambiental para a Direção Regional do Ambiente da Região Autónoma da Madeira, até ao valor de 70 000 (euro), para apoio a projetos a desenvolver no âmbito da Economia Circular, mediante protocolo a celebrar.
66 - Transferência do Fundo Ambiental para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte de 5 700 000 (euro), para os efeitos previstos na Resolução do Conselho de Ministros n.º 98/2017, de 7 de julho, que autoriza a realização da despesa com a aquisição de serviços para a remoção de resíduos perigosos remanescentes depositados nas escombreiras das antigas minas de carvão de São Pedro da Cova.
67 - Transferência do Fundo Ambiental para o Fundo de Serviço Público de Transportes, até ao valor de 3 000 000 (euro), para apoio a projetos de melhoria das condições de serviço público de transportes.
68 - Transferência, até ao valor de 150 000 (euro), do Fundo Ambiental para a realização do «Projeto Reabilitar como Regra», compreendendo o apoio à rede de pontos focais, mediante protocolo, nos termos da Resolução do Conselho de Ministros n.º 170/2017, de 9 de novembro, que determina a realização do «Projeto Reabilitar como Regra».
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75 - Transferência, até ao limite de 100 000 (euro), do Fundo Ambiental para a Transtejo - Transportes Tejo, S. A., para adaptação da frota de navios para transporte de bicicletas, no sentido de aumentar a mobilidade sustentável no transporte fluvial.
76 - Transferência, até ao limite de 40 000 (euro), do Fundo Ambiental para a Soflusa - Sociedade Fluvial de Transportes, S. A., para adaptação da frota de navios para transporte de bicicletas, no sentido de aumentar a mobilidade sustentável no transporte fluvial.
77 - Transferência de 10 500 000 (euro), do Fundo Ambiental para o Metropolitano de Lisboa, E. P. E., para financiamento da aquisição de material circulante e do sistema de sinalização.
78 - Transferência, até ao limite de 3 800 000 (euro), do Fundo Ambiental para a Metro do Porto, S. A., para financiamento da aquisição de material circulante.
79 - Transferência, até ao limite de 781 053 (euro), do Fundo Ambiental para a Transtejo, S. A., para financiamento do Projeto de Renovação da Frota da Transtejo.
80 - Transferência de receitas do Fundo Ambiental, até ao limite de 15 764 200 (euro), do Fundo Ambiental, para financiamento do Projeto de Expansão da Rede do Metropolitano de Lisboa, E. P. E.
81 - Transferência de receitas do Fundo Ambiental, até ao limite de 24 248 400 (euro), do Fundo Ambiental, para financiamento do Projeto de Expansão da Rede da Metro do Porto, S. A.
82 - Transferência de receitas do Fundo Ambiental, até ao limite de 5 103 000 (euro), do Fundo Ambiental para a CP - Comboios de Portugal, E. P. E. (CP, E. P. E.), para financiamento da aquisição de material circulante.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.
Palavra da salvação.
"No circunstacialismo de tempo e lugar acima exarados, na sequência de uma denúncia para a linha SOS e Ambiente, ..., a denunciar a falta de gestão de combustíveis, este Núcleo deslocou-se ao local. No local constatou-se que não foi criada a descontinuidade horizontal e vertical da carga de combustível, através da modificação ou da remoção parcial ou total da biomassa vegetal, nomeadamente por corte ou remoção, por forma a criar uma rede de faixas de combustível, uma vez que o estrato arbóreo se encontra sobre a referida artéria, bem como as edificações."
Este é o texto parcial de um auto de notícia que me foi remetido pela vítima da prepotência do Estado que a absurda política de gestão do fogo tem vindo a criar e fomentar.
Para sustentar a tese do auto, os senhores guardas fotografam a situação que consiste em ter umas tílias, dentro de uma propriedade murada, separada dos edifícios próximos por uma estrada estreita, cuja copa se estende para cima da rua e, marginalmente, dos edifícios. A fotografia do auto é tirada de fora do muro e diz nada sobre a gestão de combustíveis, apenas mostra uma tília com uma copa magnífica por cima de um muro.
Do lado de dentro do muro, o risco de incêndio pode ser avaliado por esta fotografia
Mas como a vítima da prepotência do Estado posta ao serviço das mesquinhices da vizinhança não quer complicações, ainda assim desramou a tília
Pois, ainda assim, os vizinhos não descansam e querem que o Estado obrigue a vítima a cortar as tílias.
Ou seja, se por acaso a vítima ceder (e eu espero que não) o que vamos ter no fim é a destruição de património paisagístico relevante, provocado por quezílias entre vizinhos, suportadas na má aplicação da lei pelo Estado, e exactamente o mesmo risco de incêndio que, neste caso, em Macieira da Maia, é um risco ridículo porque as áreas florestais estão totalmente cercadas de áreas agrícolas intensamente usadas e por tecido urbano disperso, isto é, com uma elevadíssima descontinuidade de combustíveis.
Quando alguém achar que ganha muito pouco, sendo isso frequentemente verdade, talvez valha a pena explicar-lhe que isso não é uma fatalidade, é uma escolha nossa, de sociedade, ao sermos mansos e coniventes com um Estado que (descrevo para este assunto, mas na realidade é verdade para dezenas de outros assuntos):
1) Trata a gestão do fogo como um problema de segurança interna e não um problema de gestão do território e uma falha de mercado;
2) Por causa disso adopta uma filosofia de gestão absurda, ineficaz e extremamente cara;
3) Por ser ineficaz, mas ser objecto de avaliação paupérrima, o Estado vai investindo no reforço do absurdo, mantendo a ineficácia, mas aumentando o custo;
4) Por ter uma filosofia de gestão absurda, legisla excessiva e estupidamente sobre o assunto porque o problema nunca mais se resolve;
5) Por legislar estupidamente sobre o assunto, o cumprimento da lei é residual e dura o tempo de um ou dois anos depois de grandes fogos, porque cumprir a lei implicaria arruinar pessoas, sem qualquer vantagem social;
6) Porque a lei não é cumprida (naturalmente) o Estado reforça os mecanismos de fiscalização, mas como tem uma filosofia absurda de abordagem do assunto, entrega essa fiscalização a quem não tem competência técnica para entender a lei e, muito menos, a forma de a aplicar (desviando estes recursos de fiscalização das tarefas que realmente deveriam estar a fazer);
7) E porque tudo isto se passa assim, o Estado gasta recursos imensos, aplicando-os nas coisas erradas, provocando ineficiências de gestão brutais, sem qualquer vantagem social relevante.
E isto é um fardo que contribui pesadamente para a nossa pobreza: um Estado ineficiente, a precisar sempre de mais recursos, para os aplicar de forma prepotente, ignorante e, neste caso, bastante estúpida, prejudicando as pessoas e a economia, quer porque induz ineficiência no processo produtivo, quer porque retira recursos a mais através dos impostos, sem com isso resolver o problema social que está na base da sua intervenção.
E nós achamos isto bem, ao mesmo tempo que nos queixamos do único resultado que é possível obter da forma como nos organizamos: a pobreza, quer económica, quer, como neste caso, patrimonial.
A ler o artigo "Integralismo e Modernismo" de Diogo Ramada Curto publicado hoje na revista do Expresso sobre a rejeição da república e do seu puritanismo conservador "pelos homens de arte livre, os humoristas, os modernistas e futuristas"; da influência de Maurras ao Municipalismo nos escritores e artistas de vanguarda do primeiro quartel do séc XX - a maior parte assumidamente monárquicos, de Amadeo de Souza-Cardoso, passando por Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Alberto Monsaraz, António Sardinha, Luís de Almeida Braga, Santa-Rita, Hipólito Raposo, Cortes-Rodrigues etc...
A realidade é muito mais complexa do que a pintamos.
Esta é uma fotografia de 2008, e - a acreditar no que se disse agora da viagem de Trump ao Iraque - mostra Obama, ainda senador, «a fazer campanha eleitoral junto das Forças Armadas».
Esta é uma fotografia de 2012, e mostra a primeira dama, Michelle Obama - segundo o que se diz agora da viagem de Trump ao Iraque - «a fazer campanha eleitoral junto das Forças Armadas» nos EUA.
A primeira fotografia também mostra - segundo o que se diz agora da viagem de Trump ao Iraque - Obama a revelar as caras de soldados em localizações e missões secretas.
Seguidamente, alguns pormenores que era fácil verificar, mas os palermas de serviço nos media não verificaram, porque leram a Newsweek ou o Guardian e ficaram muito excitados:
- toda a gente sabia que há Navy Seals no Iraque; a sua presença não é secreta (covert); se fosse «covert» nunca apareceriam, nem perante o presidente, porque «covert» significa a possibilidade de negar a autoria de qualquer acção ou sequer a presença;
- os militares que aparecem junto a Trump na foto do seu tweet não são Seals, são da 3ª divisão de infantaria;
- e sim, é claro que depois de criticarem Trump por nunca ter visitado tropas americanas destacadas para teatros de guerra, os media das fake news necessitavam agora de criticar Trump por ter visitado tropas americanas destacadas para teatros de guerra. Passarão a seguir para a «construção do muro» que, no entanto, já está meio construído por Clinton e Obama. Estes jornalistas estão próximos em sagacidade e conhecimento daquele rapper que comparava o muro EUA/México ao Muro de Berlim «construído pelos nazis», ou da infeliz que o comparava à muralha de Adriano (a qual, para infortúnio dela, serviu integralmente os seus propósitos).
"Em declarações ao Público, Pedro Soares, do BE, explica que "ninguém aceitaria que apenas 2% dos serviços de saúde ou dos serviços de educação estivessem sob responsabilidade do Estado", pelo que diz não compreender "como é que se pode aceitar que, no caso da habitação, que é igualmente um direito definido na Constituição, tal possa acontecer"."
Como os direitos definidos na Constituição são muitos e variados, usemos antes a lista de Sérgio Godinho: "A paz, o pão, a habitação, saúde, educação" para discutir a ideia de Pedro Soares e do BE.
Admitamos que há um consenso muito alargado sobre o papel do Estado na garantia da paz e vejamos o que diz Pedro Soares sobre a garantia dos outros direitos, saltando por cima do facto de Pedro Soares, apesar de apenas representar 10% do eleitorado, achar que a sua opinião é a opinião de toda a gente ("não há ninguém que", etc.).
Pedro Soares acha inacreditável que o Estado quase não tenha terras a produzir cereais, não ter moagens e não ser dono de muito mais que 2% das padarias do país, visto que o pão é um direito tão central como a habitação, saúde e a educação.
E tem muita razão: só o facto do Estado se ter demitido da produção, fabrico e distribuição de pão explica a tremenda escassez de pão que se encontra pelo país, e que essas actividades sejam completamente dominadas pelos interesses que só pensam no lucro, sem a menor consideração pelo bem comum, transformando a produção, fabrico e distribuição de pão num negócio privado.
Estou com Pedro Soares, é completamente inaceitável.
O jornal Público e o BE optaram por um presente diferente neste Natal: a Eutanásia. Sim, a edição de 24 de Dezembro tem como um dos subtítulos: “BE faz da eutanásia um compromisso para as legislativas”. Nas páginas interiores uma longa entrevista com José Manuel Pureza, deputado do BE e um dos principais defensores da legislação em favor da despenalização desta prática. No jornalismo e na política nada acontece por acaso ou, no caso, por distração de data. Assim, colocar esta entrevista, na capa do jornal, na véspera de Natal, é uma opção editorial e ideológica. Também não deixa de ser relevante que o referido deputado não tenha sido confrontado com a opinião do Papa Francisco sobre a eutanásia; não, não foi uma distração, mas sim uma opção conveniente quer para a opinião do referido deputado quer para a opção editorial do jornal pois assim não assumiram uma rota de colisão com aquilo que o Papa defende; tal confronto não seria conveniente quer para os leitores mais distraídos quer para o desejado apoio eleitoral em ano de eleições. Para os que não tenham presente o que o Papa Francisco pensa sobre a eutanásia refiro a sua intervenção quando ocorreu o caso do pequeno Alfie Evans: “Gostaria de repetir e confirmar, com força, que o único dono da vida, do início ao fim natural é Deus”. Mais, a opção pela eutanásia “é sempre errada, na medida em que a intenção da eutanásia é causar a morte”. Felizmente, vivemos num país livre com total liberdade política e editorial. Compete aos jornalistas e aos políticos manifestarem as suas opções e, com a mesma liberdade, compete aos leitores e eleitores acompanharem, ou não, as linhas editoriais e políticas. Obviamente, não acompanho!
A manhã despertou com uma luz cinza, desolada, profana: nem ouvi o sino tocar na igreja aqui ao lado. Vejo a praceta deserta da minha janela, onde junto aos caixotes do lixo esvoaçam uns farrapos de papel de embrulho colorido e rolam garrafas vazias, despojos da véspera. No parque em frente uma solitária criança aplica-se afoita no baloiço, num vai e vem estonteante e sincopado, insistente. Desconfio que ela preserva os seus olhos onde ainda brilha o milagre do Natal que foi ontem. Nas crianças é que depositamos a nossa esperança, não é verdade?
Curioso é como por estes dias se ouve demasiada gente preocupada com a exibição de muita hipocrisia e incoerência. As festas familiares às vezes forçadas induzem essa percepção. Pela minha parte não vejo as coisas assim: sendo os maus sentimentos e vulnerabilidades inevitáveis no relacionamento interpessoal por via da complexidade humana (que é nossa riqueza, também) julgo que a festa do Natal justifica que as pessoas contrariem gestos e atitudes que reflitam esses "desamores" e conflitos. Se os nossos sentimentos não são controláveis, os juízos que deles emanam envenenados são-no; e o que nos resta fazer é agir contrariando-os com vista à harmonia.
Como se pode exigir a paz no mundo se não a conseguimos implementar nem que seja por um dia nas nossas vidas? Bendita hipocrisia nos permite conviver com os outros. O que seria se assumissemos sempre as palermices que nos passam pelo traiçoeiro coração...
Um Santo Natal para todos os leitores são os meus votos.
Vivo o Natal de um modo decerto diferente da maioria das pessoas. Para mim, o Natal é, sobretudo, saudade. É, e quero que continue a ser - muito limitado quanto a alegrias.
No entanto, imensamente agradado por muitos - quase todos - fazerem desta época um momento de bem-estar espiritual e convívio familiar, aqui deixo expresso o meu voto de uma Festa feliz em que reine o Deus Menino.
Para lá de todas as vicissitudes, a inabalável certeza do Presépio.
A todos - parceiros do Corta-Fitas, leitores do blog e os mais, - um Santo Natal, as maiores felicidades... e Paz!
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
Palavra da salvação.
Ontem passei a manhã nas finanças de Cascais a resolver um problema da minha mãe onde estava seguramente mais gente à espera de ser atendida que na manifestação dos “coletes amarelos” à portuguesa (um embaraçoso equívoco) no Marquês de Pombal. Às tantas naquele ambiente macambuzio e coibido ouvi um colega de infortúnio perante a perspectiva de passar o resto do dia ali retido desabafar à sua companheira que “é melhor ficarmos, que isto com as finanças não se brinca”. Todos sabemos o que pode acontecer se cairmos em desgraça às mãos da inquisidora e eficiente máquina tributária. Foi antes de sair de lá com o preciosos impresso que me custou uma manhã de trabalho, que me chegou pelas redes sociais a iconográfica fotografia dos Coletes Amarelos cercados pelas forças da ordem na Rotunda, e foi então que me consciencializei de como o Poder está confortavelmente respaldado na eficiência destes dois vectores: a Máquina Tributária e as Forças da Ordem. No fundo o Estado bem pode falhar na justiça, na saúde, nas catástrofes, podemos continuar pobres e exauridos, mas a ordem está garantida: a oligarquia que nos pastoreia tem a faca e o queijo na mão.
A confirmarem-se as previsões que vejo hoje, e a ser certa a interpretação que faço do que vejo (o que está longe de ser seguro, não é uma área de que perceba muito), suspeito que entre o Natal e o Ano Novo haverá bastante área a ser objecto de queimadas.
A questão do post não é se esta previsão tem boas ou más probabilidades de estar certa, mas o apelo que faço agora e que é válido para qualquer altura em que as condições sejam razoáveis para queimar no Inverno: por favor, senhores da protecção civil, senhores comandantes dos bombeiros, senhores autarcas, senhores do ICNF, senhores jornalistas e senhores decisores, deixem arder, não corram a apagar estes fogos.
A menos que exista risco real, imediato e concreto de afectação de pessoas, infraestruturas, edifícios ou povoamentos florestais cujo valor social ou económico seja diminuído por estes fogos, deixem arder, controlem só o desenvolvimento da queimada, avaliem friamente a evolução que é possível esperar da queimada, para proteger os valores citados mas, na medida do razoável, deixem arder.
Arder agora, nas condições que se prevê que existam entre o Natal e o Ano Novo, é contribuir para os 50 mil hectares anuais de fogo controlado (é verdade que estas queimadas não são um fogo controlado, mas funcionalmente são muito semelhantes e desempenham o mesmo papel) que o Plano Nacional de Fogo Controlado tem como objectivo e, de forma mais substancial, é contribuir para uma gestão de combustíveis que nos permita ganhar controlo sobre o fogo, diminuindo o risco dos dias de meteorologia extrema que existem quase sempre no Verão.
E, ao Governo, talvez não seja pedir muito pedir que se deixe do discurso do Portugal sem fogos e passe a um discurso em que claramente se explique que as opções não são entre arder ou não arder, as opções são entre arder agora, de forma serena, sem efeitos relevantes sobre o solo e a biodiversidade, em mosaicos na paisagem, ou arder violentamente no Verão, de forma contínua e intensa, calcinando tudo pelo caminho e degradando o solo e toda a vida que contém, quando está de boa saúde.
Arder agora é uma vacina que a paisagem toma para evitar a doença no Verão.
A história conta-se em duas penadas. Há uns anos atrás o PSD mandou Rui Rio fazer o papel de idiota útil e vir para o Porto perder as autárquicas para Fernando Gomes. Ele prestou-se ao papel e, sem saber como, o pântano de Guterres foi completamente varrido por todo o país e caiu-lhe em sortes no regaço a Câmara do Porto, município para o qual não tinha qualquer ideia ou proposta para além do combate aos agentes da cultura, ao FCP, e umas vagas ideias confusas sobre o Parque da Cidade. O Parque da Cidade foi uma das coisas boas que se ficaram a dever a Fernando Gomes, que conseguiu que os proprietários privados, confiantes e de boa fé, permitissem a sua criação e fruição pelas pessoas antes de ficarem concluídos todos os acordos firmados. Rio não fez caso e rasgou os acordos em tirinhas, o que deu origem a diversos processos judiciais cujo destino viria a ser, indubitavelmente, o insucesso. Perante tal cenário, foram-se fazendo novas combinações, gastando-se milhões ao contribuinte, e Rio saiu do palco de rabinho entre as pernas. Vem daí o seu ódio à justiça e aos tribunais.
Daí que não se possa estranhar que o seu sonho, agora claramente manifestado, seja poder controlar o poder judicial (não tenhamos ilusões, é disso que se trata quando este PS e o PSD pretendem alterar os estatutos dos magistrados judiciais e os dos magistrados do Ministério Público). É bem certo que o PS acabou por deixar Rio a falar sozinho e a fazer as tristes figuras a que nos tem vindo a habituar mas também aqui não tenhamos ilusões: com a habilidade trapaceira que se lhes deve reconhecer, Costa e o PS voltarão à carga pois também sonham controlar o poder judicial (coisa que não têm logrado alcançar apenas com a pressão remuneratória, face à qualidade e honradez da maioria dos magistrados). Convirá não esquecer: Costa é aquele a quem telefonavam a pedir batatinhas aquando do inquérito do abuso sexual a menores desprotegidos, Ferro Rodrigues era o que na mesma altura pretendia evacuar (batatas também?) sobre o segredo de justiça, e os seus actuais apaniguados são praticamente os mesmos que acompanharam alegremente Sócrates no seu demencial percurso. Não me surpreende a campanha do PS e de Rui Rio, embora confesse estranhar bastante que esta seja a posição do PSD, mas é lá com eles.
A suposta separação de poderes e independência do poder judicial na verdade não existe completamente quando o poder legislativo e o executivo desrespeitam permanente o poder judicial (e têm-no feito, sempre, quer pela via remuneratória quer pela questão dos seus estatutos, praticamente imutáveis há mais de 30 anos). No fundo manda quem pode, obedece quem deve. Foi assustadora e muito perigosa a não recondução da melhor Procuradora-Geral da República que o país teve em muitos anos (e não me venham com inexistentes critérios formais). É igualmente assustadora e muito perigosa esta tentativa recente de criticar a actual Procuradora-Geral da República por ter dito o óbvio, aquilo que qualquer pessoa com coluna vertebral diria (simplificando: aceitei o cargo e as funções dentro de um determinado quadro e cenário, não o farei se o alterarem).
Perante os políticos que temos, perante este PS e este PSD, a sociedade civil (e a comunicação social mas esta, neste país, vale quase nada e ainda mendiga esmola aos contribuintes) deveria estar atenta ao que se está a passar. A sociedade civil e o Presidente da República mas este, como se tem visto, também tem valido de muito pouco…
Um dia destes, Hugo Novo (da Quinta Lógica, um projecto que vale a pena conhecer) chamou a atenção para mais uma noticiazinha sobre uma detenção pela GNR de uma pessoa que fazia uma queimada ou duas num dia em que as condições meteorológicas eram particularmente adequadas a essa actividade.
Quase ao mesmo tempo, Paulo Fernandes (que está estreitamente ligado ao Laboratório de Fogos Florestais da UTAD, uma das fontes mais fiáveis de informação sobre o fogo e a ecologia do fogo) fazia uma ligação para uma apresentação de Rui Almeida, do ICNF, sobre o Plano Nacional de Fogo Controlado, em que se assume que o país quer queimar, controladamente, 50 mil hectares por ano (o ano em que se fez mais fogo controlado no país não ultrapassou, nem de perto, nem de longe, os cinco mil hectares, deve haver muito poucos anos, em que se tenha queimado controladamente mais de mil hectares, para se ter a noção da dimensão da ambição expressa).
Na verdade vivemos num país esquizofrénico, que assenta a sua política de gestão de fogos no lema "Portugal sem fogos depende de todos", que persegue velhinhos que queimam na altura certa, ao mesmo tempo que o Estado promove um programa de queima controlada de 50 mil hectares (felizmente que o faz), sem fazer a menor ideia de como vai conseguir atingir esse objectivo (infelizmente), até porque continua obcecado com a perseguição ao uso do fogo, complicando legal e administrativamente o seu uso.
É verdade que o fogo é um instrumento de trabalho que comporta riscos, tal como como as facas de cozinha, os carros, os medicamentos, a electricidade, as máquinas industriais, os fogões, etc., etc., etc..
A forma de lidar com esses riscos é que é absurda porque pretende promover o risco zero através de medidas administrativas e legais preventivas, como se para os carros, que matam muito mais gente por ano, nós adoptássemos o mesmo tipo de medidas de controlo do risco prévio para qualquer viagem (por exemplo, de cada vez que alguém resolvesse ir de carro do Porto para Lisboa, tinha de pedir uma autorização, ou pelo menos comunicar, para as autoridades decidirem se as condições meteorológicas comportavam um risco aceitável para a viagem).
A minha proposta para lidar com as queimadas é radicalmente liberal: o fogo deve ser considerado um instrumento de trabalho como outro qualquer, o seu uso deve estar na esfera de autonomia do produtor e gestor do território, sem necessidade de licenças e outros actos administrativos, como princípio geral.
Porque é um instrumento de trabalho que comporta riscos, é legítimo que Estado se preocupe com a gestão desses riscos, começando por responsabilizar os utilizadores pelos prejuízos causados pelo mau uso do fogo.
Que o Estado tenha um registo nacional de utilizadores de fogo, a que facilmente qualquer pessoa pode aceder, inscrevendo o seu nome e telefone na Câmara, ou registando-se on-line, acho admissível.
Que a esse registo corresponda um seguro obrigatório, podemos discutir, não acho essencial, mas é uma possibilidade, pelo menos a prazo.
Que o uso do fogo por pessoas não registadas deva ser sancionado, pois com certeza.
Que o Estado tenha um programa de capacitação para o uso do fogo, acho muito bem.
Que o Estado tenha um sistema de alertas que determine a proibição de uso do fogo nos vinte ou trinta dias no ano em que é realmente muito perigoso o uso do fogo, dias esses definidos em função da meteorologia, e não do calendário, usando os contactos do registo nacional de utilizadores do fogo para informar todos os utilizadores registados da proibição de uso nos dias referidos, acho ainda melhor.
Que a prestação de serviços de uso do fogo seja razoavelmente regulamentada e sujeita a prévia qualificação dos operadores, é uma hipótese razoável (é diferente o uso do fogo pelo próprio, ou a prestação de serviços nesse domínio).
Resumindo, que o Estado faça a sua parte de gestão de risco, mas que deixe as pessoas e os mercados usar o fogo de forma sensata e útil, em vez de pretender transformar os menos de 5% da população que trabalha no sector primário em criminosos potenciais pelo simples facto de usarem uma ferramenta milenar de gestão, sobre a qual sabem, muitas vezes, dez vezes mais que os que decidem sobre o que eles podem ou não fazer com o fogo.
Nisto, como em muitas outras coisas, Lenine não tinha razão quando dizia que "confiar é bom, controlar é melhor" (citação que nunca confirmei se é realmente rigorosa mas para mim tem sido muito útil).
Há vaidade pessoal no texto que vou citar, sim, há, mas há sobretudo uma certa inveja: tenho dúvidas de que haja intelectuais em Portugal que escrevessem este belo texto para uma feira de feijões.
FABES CON COLÓN
Pregón de la XXVIII Feria de les fabes
JAIME IZQUIERDO
Colunga, 9 de diciembre de 2018
Buenos días. Querida alcaldesa de Colunga, estimados miembros de la corporación municipal, queridos alcaldes y concejales de concejos vecinos, señoras y señores diputados, vecinos, señoras y señores.
Como ustedes saben es un honor pregonar en una feria y más si esta está dedicada a les fabes: una de las principales señas de identidad de Asturias. Es un honor y una responsabilidad que acepto encantado y agradecido. Seré breve y espero que cuando termine no se arrepientan del tiempo que me han prestado y que no les podré devolver.
Decía Álvaro Cunqueiro que Cristóbal Colón era gallego. Y que si viajó a América no lo hizo por otra razón que traer pimentón para el pulpo. No pongo en duda el origen galaico de Colón, y más si lo dice Cunqueiro, pero sí su motivación: Colón fue a América y trajo pimentón, es verdad, pero lo que incitó el viaje fueron les fabes.
Me explico. En 1479, Cristóbal Colón se casó con Felipa Moniz, una joven de la nobleza portuguesa nacida en Madeira, en la isla de Porto Santo. Paseando un día por la playa encontró unas semillas alargadas traídas por la marea y no conocidas en Europa. El único origen posible de aquellas extrañas semillas eran las Indias, que en aquel tiempo se sabían al otro lado del mar.
Hay que recordar que entonces el mundo conocido tenía solo tres continentes: Europa, África y Asia. No hace falta que les diga que aquella fue la primera faba que llegó a esta parte del Atlántico. Así que podríamos decir que lo primero que descubrió Colón no fue América, sino les fabes, y fue aquel encuentro casual el que desencadenó su deseo de viajar al Este por el Oeste y cambiar con ello el rumbo de la humanidad.
Siento fascinación por Colón. Entre otras razones porque acabó triunfando a base de cometer una precisa serie de equivocaciones, errores y desencuentros a lo largo de su vida. Se equivocó en los cálculos de la distancia que separaba Europa de las Indias. Pensó que estaban más cerca y por eso se tiró al mar. Si hubiese realizado una estimación más próxima a la realidad créanme que no lo hubiera hecho. Una vez en el nuevo mundo se equivocó en el cálculo de latitud y gracias a ese error encontró el camino de vuelta empujado por la corriente del Golfo y, finalmente, murió sin saber a dónde había llegado, sin saber que había cambiado la geografía el mundo y sin saber que fue el primer europeo que vio una faba.
Todos los aciertos de Colón son fruto de sus errores pero, sobre todo, de una personalidad intuitiva y de un carácter empecinado e inasequible al desaliento.
La fabada como metáfora astur
A pesar de ser nuestro plato regional por excelencia, la fabada es relativamente reciente, tal como nos dice Eduardo Méndez Riestra en su Diccionario de cocina y gastronomía de Asturias. Los ingredientes canónicos de la fabada son, como protagonistas principales, les fabes, el chorizo, la morcilla y el lacón y, como actores secundarios, el azafrán, el aceite y la sal. Por supuesto que se permiten variaciones, que quedan a criterio del atrevimiento del autor, y eso da como resultado que en algunas cocinas se hagan buenas versiones de fabada y, en otras, se perpetren. Bernardo Fernández, que fuera vicepresidente del Gobierno de Asturias y al que cita Eduardo, dice que la fabada es un plato traicionero “al que le gusta hablar a nuestras espaldas.”
Recapitulando lo dicho hasta ahora. Un aventurero gallego, o genovés, —¡quién lo sabe!—, se tira al mar camino de Asia siguiendo el rastro de unas semillas, unes fabes, que pensó originarias de China porque se había casado con una portuguesa de Madeira. Con el tiempo se supo que aquello no era ni China, ni Cipango, ni las Indias sino un nuevo continente. Y aquellas semillas, y otras más como el maíz o la patata, se trajeron luego para Asturias y prosperaron hasta tal punto que el paisaje agrario del siglo XVII en la cornisa cantábrica era casi una copia del paisaje mesoamericano.
Muchos años atrás, había llegado a Asturias, desde Oriente próximo, el cerdo al cuidado de los primeros pastores, y después llegó, procedente de las islas griegas, el azafrán, no sé si antes o después que la cebolla, que venía de Asia, y el aceite de oliva que lo hizo desde el Mediterráneo. Todos esos ingredientes fueron recalando en nuestro pequeño país norteño hasta que alguien encontró la manera de juntarlos armónicamente y descubrió la fabada.
Es decir, por gracia de un aventurero inquieto que se casó en Portugal y con unos ingredientes oriundos de América, Asia, Grecia, Oriente próximo y el Mediterráneo inventamos la auténtica, auténtica, auténtica… fabada asturiana.
Estamos pues ante un maravilloso ejercicio de innovación, una combinación de influencias globales que acrisolan en lo local gracias al atrevimiento de una asturiana. Sí, sí, sí, de una asturiana. Estoy seguro de que fue una mujer la autora de la primera fabada porque toda nuestra cultura gastronómica es obra esencialmente femenina.
Por lo demás, mucho antes de que las universidades y los centros de investigación científica se autoerigieran en los guardianes notariales del conocimiento, los campesinos habían creado a partir de las especies silvestres, vacas de la montaña o de los valles, ovejas, cabras, cerdos, gallinas…habían inventado quesos, embutidos, panes, vinos, sidras…habían ordenado el monte, abierto caminos, levantado aldeas, construido molinos, puentes y castañeos. Habían creado la base cultural de la gastronomía del país y un paisaje asociado a ella y lo hicieron “a lo Colón”, es decir, tirándose p´alante, probando y equivocándose. Y al final, también como Colón, acertaron y descubrieron un nuevo mundo, a mitad de camino entre la cultura y la naturaleza, que ahora languidece para convertirse, como dice el escritor aragonés Severino Pallaruelo, en un país de anochecida.
El paisaje campesino, un patrimonio en peligro de extinción
Y eso es precisamente lo que estamos perdiendo en Asturias además de población: el paisaje que nos dio de comer, la cultura campesina y el atrevimiento para hacer cosas inéditas.
En Francia, que nunca denostaron el conocimiento campesino, recurren ahora a él para revitalizarlo como gestor del territorio. Las villas y las pequeñas ciudades galas están recuperando la agricultura de proximidad en sus periferias rurales. Y en sus parques nacionales las comunidades locales de pastores se han convertido en los mejores aliados del gobierno para conservar el paisaje y la biodiversidad y seguir haciendo excelentes quesos de montaña.
El arquitecto paisajista portugués Henrique Pereira dice que “o homem é um animal de clareiras”, es decir, que el hombre es un animal que hace y mantiene claros en los bosques para vivir y darles otra vida. Henrique escribe en sus libros bellos textos explicando los paisajes lusitanos a través de los platos y la gastronomía regional.
Son esas “clareiras” las que han dado origen en Asturias a los quesos del Oriente, a los vinos de Cangas, a les huertes del Nalón, a les patates de Navia, a la boroña de Piloña o Cabranes, a la ternera de tantos pueblos, a las castañas valdunas, a la fabada o a las pomaradas de esta comarca sidrera. Son esas clareiras una hermosa obra de arte y un patrimonio que no hay que mirar con nostalgia sino como oportunidad. Son esas clareiras la esencia de la cultura de un país.
Pensar en el futuro consiste en mirar para afuera e integrar para adentro, como hicimos con la fabada. Y también en mirar para atrás, para no perder la memoria, y mirar para adelante para no quedarse sin porvenir. Lo he dicho muchas veces y lo vuelvo a repetir hoy: Asturias precisa para su medio rural perspectiva retroprogresiva y visión agropolitana.
Termino ya. Pero no lo haré sin darles las gracias por su atención y sin dedicarte el pregón a Cristóbal Colón que nos trajo les fabes a los asturianos y el pimentón a los gallegos. Muchas gracias.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, as multidões perguntavam a João Baptista: «Que devemos fazer?». Ele respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo». Vieram também alguns publicanos para serem baptizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?». João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos foi prescrito». Perguntavam-lhe também os soldados: «E nós, que devemos fazer?». Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, ele tomou a palavra e disse a todos: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga». Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova».
Palavra da salvação.
"Os privados sugam o dinheiro ao SNS .. este milagre de dar lucro, poupar ao Estado e prestar bom serviço é uma coisa que...".
Marina Mortágua é economista, sabe, portanto, o que é eficiência de gestão: fazer mais usando menos recursos.
Sabe também, é forçoso, que o que tem defendido para a saúde, como para a educação, isto é, a apropriação colectiva dos meios de produção, é uma velha receita testada ao longo de todo o século XX e que ainda hoje está na base da tragédia humanitária da Venezuela.
Portanto, a questão é muito simples: Mariana Mortágua sabe que pode haver gestão privada que gera lucro e, ainda assim, sai mais barata ao Estado, mais, sabe que essa demonstração tem sido feita pelas actuais PPP da saúde (que, genericamente, funcionam bastante melhor que as PPP rodoviárias porque cumprem a regra de ouro para obter um bom resultado com PPP: o risco está do lado do privado, não do lado do Estado, circusntância que transformas as PPP de uma boa ideia numa fonte de rendas ineficiente, como acontece nas estradas).
O único milagre aqui é que ainda haja quem desvalorize a sua tremenda má-fé, achando que vale a pena ouvi-la sobre a definição de políticas públicas.
Queria escrever um texto sobre a importância da paternidade, advogar em causa própria (tornei-me um pai a tempo inteiro), algo que nestes tempos de feminismos exacerbados e decadência da chamada “cultura patriarcal”, talvez seja um atrevimento. Não quero de todo contrariar o cânone contemporâneo de que Pai e Mãe devem partilhar funções em casa: de facto não está escrito nos cromossomas quem deve lavar a loiça, mudar a fralda ao bebé a meio da noite ou pendurar a roupa no estendal. Mas parece-me importante homenagear as virtudes masculinas inscritas na paternidade, mais ainda quando tenho a convicção de que os tempos modernos consolidaram a matriz maternal do Ocidente, em cima da marca feminina da cultura católica, e se chega ao democrático século XX da revolução Pop, pelas utopias do Maio de 68 “Imagine all the people”, que cimentou o império do amor romântico e outros sentimentalismos muito femininos, já para não falar do predomínio da psicologia, da introspecção, do autoconhecimento, do diálogo e da compreensão, de afectos e negociações, tudo atributos de forte pendor maternal – que me perdoe o Eduardo Sá que é um modelo de mãe. Toda a cultura moderna exorta o pai a ser mais como a mãe, a seguir estes valores pacifistas, a saber interpretar sinais subtis, nuances emocionais, desejos não explícitos, sentimentos implícitos, negociações infindáveis; e há que conceder que perante este caldo, o macho arrisca-se a perde-se em pieguices melosas, terrenos pantanosos que não são inteiramente seus; e pior que isso, os filhos arriscam à grande perda de terem de crescer com duas “mães” ternurentas e protectoras, e muita confusão nas suas cabeças. Sim, é importante que o Pai procure entender e tire vantagem da sensibilidade e da astúcia feminina da sua companheira, e saiba optar por diferentes estratégias para a aproximação com os filhos – em matéria de educação, levar a carta a Garcia exige equilíbrios sensíveis, muito afecto, diplomacia, algum contorcionismo e, principalmente, razão. Aqui chegados e entendidos parece-me que hoje em dia é preciso reclamar a libertação do papel masculino da repressão igualitária que arrisca fazer do casal uma cataplasma incipiente e incapaz de cumprir os seus desígnios. Tanto mais que acho injusto exigir à mulher outras disposições que não as suas mais naturais, que significariam uma sobrecarga ao instinto maternal que lhe confere demasiadas obrigações e, quem sabe, complexos de culpa. O facto é que a “veia masculina” do Pai faz falta às crianças, com tudo o que o excesso de endorfinas lhe confere, para cortar a direito quando é preciso, de empurrar as crias para a arena do risco e do desafio, ou de assumir a tirania de clarificar as meias tintas, de desmontar a manipulação, assumir a voz grossa para impor limites ao que não se pode mais tolerar, disfarçar a angústia numa resolução salomónica, sacrificar a acomodação e a paz que se tornou podre, impedir uma injustiça, pôr um adolescente na ordem... enfim.
Fui educado por um pai que, talvez por ser muito brincalhão e afectuoso avant la lettre, do alto do seu 1,90 de tirania e potente voz de tenor, muitas vezes me desconcertou com as suas fúrias bravias – boa parte delas com alguma razão. Passadas mais de duas décadas de saudade, tenho a certeza que muita falta faz para a formação do bom carácter dum infante a complementaridade harmónica mas distinta das marcas paternal e maternal. Que a febre da igualdade não acabe com isso é o meu desejo. De resto, a vida descobre sempre caminho e um pai faz muita falta.
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