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Tinha ouvido um Vice-Presidente da Comissão Europeia a dizer que “one of the reasons that wildfires have such a devastating effect, this is a lot to do with the eucalyptus plants”.
Tinha lido uma ex Vice-Reitora da universidade de Coimbra e ex Presidente da Unidade de Missão para o interior falar dos chorudos subsídios públicos que motivaram a expansão do eucalipto (também a propósito de fogos).
Noutra altura já tinha ouvido o Presidente da República a falar da responsabilidade do eucalipto no padrão de fogo que temos.
O actual governo, não só pelos fogos, mas muito assente nisso, tem uma agenda de limitação da plantação de eucaliptos forçada pelo seu compagnon de route, Bloco de Esquerda.
E poderia citar um larguíssimo número de pessoas, inegavelmente pertencendo às elites do país e da União Europeia, divulgam e promovem mitos como o da ligação forte entre eucalipto e fogos que, na essência, são semelhantes aos mitos do carácter cancerígeno do glifosato, da ligação entre vacinas e autismo e várias dessas teorias new age em que o conhecimento científico e o pensamento mágico se equivalem.
E foi nessa altura que choquei com dois comentários irritados em que Nuno Gracinhas Guiomar respondia a um amigo que vinha com a conversa do costume sobre os interesses que justificariam estar a negar-se o que o amigo considerava uma evidência, como era o caso da ligação entre eucaliptos e fogos.
Com a autorização do autor, e ligeiras adaptações, aqui fica uma das melhores sínteses do que é o consenso científico sobre o tema, largamente esmagador, mas que uma boa parte das elites que decidem teimam em negar.
"Choca-me a leveza como atiras rótulos de incompetência ou de ausência de idoneidade a pessoas que lidam diariamente com estes temas há décadas. … o que me interessa é o conhecimento e independência do José Miguel Cardoso Pereira, do Paulo Fernandes, e de outros reputados investigadores reconhecidos internacionalmente, e com os quais já tive o prazer de trabalhar.
Nunca nenhum dos investigadores portugueses algum dia escreveu que o eucalipto não é parte do problema … . Mas daí a centrar o discurso da resolução dos incêndios no eucalipto é um erro tremendo. Cerca de ~75% da área ardida anualmente é explicada por incêndios superiores a 100ha, que correspondem a menos de 5% do total de incêndios (em média ocorrem cerca de 11000 incêndios em Portugal continental com mais de 0,1ha).
Se procurasses uma relação entre a área ardida anualmente e o número de incêndio por classe de dimensão, o melhor ajuste que conseguirias era com incêndios superiores a 1000ha, uma curva exponencial com R2 de ~76%.
Uma série de investigadores analisaram as áreas ardidas em função da ocupação do solo em Portugal (conheço seis estudos publicados em revistas importantes feitos por diferentes equipas, e utilizando diferentes abordagens e bases de dados, e eu participei num dos mais recentes). Nos estudos de susceptibilidade (selectividade ou preferência do fogo por tipos de ocupação do solo ou tipos de ocupação florestal), os matos destacaram-se das restantes classes de ocupação do solo, os carvalhos ardem mais em função da sua disponibilidade, os pinheiros e eucaliptos são moderadamente "seleccionados" pelo fogo, e o sobreiro e a azinheira são menos "seleccionados".
No entanto quando se estratifica a amostra por classes de dimensão de incêndio, esta selectividade "desaparece", ou seja, em situações de elevada perigosidade meteorológica (e se os combustíveis estiverem disponíveis - idade, humidade dos combustíveis finos...) arde tudo até que as condições permitam novamente o sucesso das acções de supressão.
No estudo que efectuámos (de 2016), em que nos centrámos na análise de 609 incêndios superiores a 100ha, a composição florestal não explica a variabilidade da amostra, mas sim a continuidade da área florestal, independentemente da espécie.
Noutro estudo que fizemos (de 2014), verificámos alteração do regime de fogo nas áreas sujeitas ao regime florestal nos anos 70 (temos dados para estas áreas desde a década de 1940), em que passámos de um regime de fogo controlado pela disponibilidade de combustível, para um regime de fogo dirigido pela meteorologia. Nestas áreas (baldios, perímetros florestais e matas nacionais) o problema do eucalipto não se põe, a florestação destas áreas foi essencialmente com pinheiro bravo. O que todos estes estudos nos dizem é que temos um problema geral de acumulação de combustíveis, e que essa continuidade vertical e horizontal dos combustíveis resulta do abandono do território, da ausência de gestão dos espaços florestais.
O aumento da área de eucalipto contribuiu para o problema, nenhum destes estudos contraria isso, e referir os factos tal como eles são não pode transformar-se numa luta de que há uns a favor e outros contra, isso é absurdo … .
Hostilizar a espécie antes de se encontrar um caminho viável para a sua substituição, assim como criminalizar o uso do fogo, são dois caminhos perigosos que, de acordo com o conhecimento formalizado, poderão agravar ainda mais o problema que temos, pois a estes processos sucede-se por norma o abandono.
Os dados que temos permitem-me ainda dizer que uma parte considerável da minimização do problema pode estar mais nas políticas agrícolas do que nas políticas florestais.
Sobre "onde começam os fogos" (157068 incêndios devem constituir uma amostra estatisticamente significativa, certo?): apenas 5% destes incêndios iniciaram em eucaliptais, e os incêndios aqui iniciados correspondem a 6% da área ardida gerada por todos os incêndios analisados. 50% dos incêndios iniciam-se nas áreas peri-urbanas, e 26% iniciam-se em áreas agrícolas.
Centrar nas causas ou no número de incêndios também não nos leva a grande coisa, e desvia-nos do essencial que é o da necessidade de gerir a acumulação de combustíveis.
E não nos leva a nada porque cerca de 50% dos incêndios concentram-se em pouco mais de 10% do território, e porque os grandes incêndios ocorrem aleatoriamente no espaço, embora nas áreas onde a recorrência do fogo é maior, haja menor probabilidade de ocorrência de grandes fogos.
As motivações para as ignições são muitas, e embora eu concorde com a necessidade de se encetarem esforços na sua diminuição, é difícil que tal se traduza na diminuição efectiva da área ardida. Se os esforços se concentrarem nos dias críticos (configurações sinóticas que favorecem a propagação do fogo acima da capacidade de extinção) talvez se consigam alguns resultados, mas só é possível concluir alguma coisa se o sistema se mantiver durante alguns anos de modo a atenuar o efeito imediato de um ano catastrófico.
O gráfico que partilhei é após 1980 porque a robustez dos dados permite que o façamos a partir daí à escala nacional (mas também porque é o período de maior crescimento da área de eucalipto). … E esse gráfico não defende, apenas demonstra que não há uma relação causa-efeito, no que se refere ao fogo (é o que eu estudo, não estudo outros efeitos).
E quem te disse a ti que não havia incêndios antes?
Tivemos de facto um período de tréguas que correspondeu à primeira metade do século XX [nota minha: neste ponto em concreto, que é um ponto em que há pouca informação directamente verificável, eu tendo a não subscrever esta tese, preferindo dizer que nessa época há uma alteração do padrão do fogo que o torna socialmente menos visível, mas trata-se de uma divergência de pormenor], mas antes disso não faltava fogo no país (tenho muitas páginas escritas depois de muitas horas de leituras de corografias e documentos técnicos do século XIX para contextualizar o fogo antes desse período de menor piro-actividade), e provavelmente havia ainda mais do que hoje (os relatos do final do século XIX apontam para incêndios nos montados e charnecas do Alentejo que duravam semanas), mas sem as consequências que a actual dispersão de edificado e pessoas traz.
Esse período de tréguas coincidiu com o auge da agricultura, ainda assim sistematizavam-se os dados de fogos (desde 1943) nas áreas sujeitas ao regime florestal. Esses anos foram o suficiente para apagar a memória colectiva do fogo em Portugal (distribuição, causas, combate). A década de 1960 é uma década de alteração, o vale do Zêzere era especialmente afectado todos os anos, mas é no Algarve que sucede um dos maiores incêndios do século XX, em Monchique, em 1966.
Nesta década registam-se vítimas mortais quase todos os anos, em diferentes pontos do país, sendo de destacar os 25 militares que morreram no fogo da Serra de Sintra em 1966.
Mas já em 1961 havia ocorrido um fogo catastrófico, conhecido como o incêndio de Vale do Rio.
Também tenho algumas páginas escritas sobre este período, aqui nos meus apontamentos, depois de ter massacrado os neurónios a tentar perceber como tinha evoluído o fogo antes de se terem iniciado os registos das ocorrências e da área ardida. O facto de não existirem dados sistematizados não quer dizer que não existia fogo.
Hoje é tudo muito mais fácil, com as imagens de satélite (ainda assim, no que respeita a áreas ardidas conseguimos recuar até 1975). Os registos de ocorrências nacionais começaram em 1978, mas nas áreas sujeitas ao regime florestal em 1943.
Tudo isto está publicado … . Podes ler os artigos e questionar os métodos, se as conclusões são suportadas pelos resultados, se a hipótese foi colocada correctamente.
Dispenso … o fomento de teorias da conspiração. … podias ter-te questionado sobre a razão pela qual os fogos se estenderam por extensões impressionantes no Caldeirão. Podias ter-te questionado porque razão é que o 2º pior ano de sempre (só superado por 2017) tem grande parte do Distrito de Portalegre como área de calamidade.
Por fim, uma pequena informação, a aceleração do fogo de Monchique coincide com a chegada da frente de incêndio aos estevais e montados da parte Este da Serra."
O arcebispo Carlo Maria Vigano, divulgou há dias uma carta com gravíssimas acusações ao Papa Francisco, de ter anulado sanções contra o cardeal McCarrick que terá abusado de jovens seminaristas e sacerdotes, assim como acusa vários bispos americanos e os Jesuítas de apoiarem a agenda LGBT. Trata-se obviamente de um acto desesperado de guerra que visa atingir mortalmente o sucessor de Pedro que, como seria de esperar, hoje se escusou a defender-se na Praça de São Pedro.
Acontece que na Igreja sempre conviveram facções, houve luta pelo poder e nela concorreram ambições, vaidades e pessoas diferentes, algumas certamente homossexuais, com inaudita capacidade de intriga. É da natureza dos homens e das suas organizações, não é difícil imaginar.
Mais grave que tudo isso são os comportamentos repugnantes denunciados um pouco por esse mundo fora, a inacção ou conivência da hierarquia com esse tipo crimes que nunca deveriam ter acontecido pelas mãos de homens de Deus. E nesse sentido importa perceber como foram possíveis tais actos, e qual a ”fragilidade” que é porta aberta a tais escândalos. Não importa se foram poucos em termos relativos ou espalhados no tempo, importa que a Casa de Deus (paróquias, escolas, santuários, etc.) tem de ser um local sagrado e de santidade – como caminho do pecador para o exemplo de Jesus Cristo.
O que me angustia por estes dias é como explicar as notícias que hoje são manchete a uma criança. Não basta dizer que o assunto é complexo: irónico é como o Papa Francisco que pela primeira vez em décadas conseguiu trazer alguma “boa imprensa” ao Vaticano, poder ver-se agora cilindrado na voragem mediática por causa de um arcebispo reaccionário (sim, reaccionário, que conservador sou eu).
Irónico é constatar que a maior crise que a Igreja hoje enfrenta, apesar dos encarniçados inimigos que há duzentos anos a sitiam e afrontam, acontece afinal por responsabilidade própria. Como já avisara o Papa Bento XVI aquando da sua visita a Portugal em 2010 “A maior perseguição à Igreja não vem de inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja”.
Nesta hora difícil, o Papa, pastor desta nossa Igreja peregrina que é legado de Pedro e esposa de Jesus, eleito para nos guiar neste tempo, com a inspiração e poder do Espírito Santo, necessita de muita oração dos católicos por todo o mundo a quem se impõe que se unam à sua volta. Para levar de vencida mais esta crise e devolver-lhe o prestígio e a autoridade que é exigível aos que professam a mensagem e exemplo de Cristo.
Há muito, - caro Henrique Pereira dos Santos (à cause do apontado na sua última crónica no CF), - há muito ando arredado do comentário político. Mais concretamente, desde que Costa se apossou do Poder. Foi aí que me apercebi da pouca fibra da nossa gente; e da inutilidade da devida oposição, a nenhuma valência dos argumentos honestos. Costa despreza-a com um sorriso "à Martim Moniz" (parece que a praça mudou o nome...), a Imprensa faz eco dele (do tal sorriso), algo impossível senão entre nós, e as manigâncias da Esquerda prosseguem. Resta esperar o futuro.
O Henrique Pereira dos Santos tem toda a razão quando confronta, e tira conclusões, acerca da malta dos jornais. Já por eles andei... Penso eu - e pensará o HPS - outras laudas virão, assim a situação vire no vento.
Para já, a denúncia do contrassenso é absolutamente inútil. Contra a ideologia marxista-leninista-trotskista, a relativiade do "movimento de massas", é a "aspirina" de todas as incongruências. Acrescente-se-lhe o "guronsan" de Costa, burocrata domiciliado em Sintra (portões vigiados) e o seu temor ao desemprego.
No mais, restaria a independência dos blogs. E dos jornais on line, ou mesmo no papel de antanho. Eu não tenho vergonha de me dizer leitor do CM. E do Observador. Mas a publicidade da Esquerda vai mais longe, muito mais longe, capaz de, de permeio, destroçar a concorrência. Essa a questão de há 44 anos.
Por isso o País continua a ser o que é - um domínio da Revolução. Isto é, dos tachos, dos burocratas e - mais recentemente - da destruição dos costumes.
Quem diria que Theresa May dançaria em público? Só mesmo em África! Deliciem-se com os comentários no "The Guardian".
Não chores mais oh fadista, que a Severa não morreu (bis)
Está viva e no Dona Amélia, ainda ontem a vi eu. (bis)
Porque estás triste e calado, porque não falas calão?
Porque olhas para o chão, porque não cantas o fado? (bis)
Bebe dois do abafado, corre o mal que te contrita.
Põe alegre a curvadita (?), não te ponhas mudo ao canto.
Enxuga as faces do pranto, não chores mais oh fadista. (bis)
Já te não vejo nas hortas, a provar o belo vinho.
Porque vagueias sozinho, por Alfama a horas mortas. (bis)
Esse cabelo não cortas, nem pra trás pões o chapéu.
Errante como um Judeu, teu caminho volta atrás.
Olha para aquele cartaz, que a Severa não morreu. (bis)
Porque é que o Fado não cantas, já que ela ressuscitou.
Pois do outro mundo voltou, pelo braço do Júlio Dantas. (bis)
Raptada d’entre tantas, aquela branca camélia,
Do Vimioso a Ofélia, no mundo estava dobrado,
Pois cantando o belo fado, está viva e no Dona Amélia. (bis)
Avelino Baptista - Fado Fadista
Disco Ideal Grande
Beka Record
Lisboa, 1904
Para conhecer mais, visite-me aqui.
Um destes dias tive uma discussão civilizada e cordata sobre o corporativsmo dos jornalistas, com um jornalista, e a páginas tantas usei este artigo para ilustrar as minhas teses sobre jornalistas que torcem as coisas até que a peça diga o que querem, mas sem que possam ser acusados de mentir directamente.
Perante os dados verificáveis, que contrariam a tese a que o jornalista quer dar força, opta-se por ouvir duas pessoas.
Uma das pessoas, Paulo Fernandes, é um investigador reconhecido internacionalmente pelo trabalho científico na área a que diz respeito o artigo e que contraria a tese a que o jornalista tem afeição.
Outra das pessoas, João Camargo, é um dirigente político que nunca escreveu nada de reconhecidamente relevante sobre o assunto em causa (na altura do artigo tinha uns artigos de opinião com muita circulação, mas cujo conteúdo técnico nunca foi avalizado pelos que produzem conhecimento sobre o tema em questão), tendo a grande vantagem de dizer as coisas que o jornalista quer que estejam escritas, sem que seja ele próprio a escrevê-las.
Perante a diferença de credibilidade dos dois testemunhos com estas proveniências sobre o assunto em causa, o jornalista usa um truque comum: o da suspeição sobre os interesses que motivam o testemunho que não lhe interessa para a defesa da sua tese.
O mais interessante disto é que se considere o eventual interesse económico pessoal como uma questão pertinente, mas não o mais que óbvio interesse político pessoal de outro dos intervenientes, não havendo necessidade de adaptar a pergunta feita a Paulo Fernandes, tendo em atenção a condição de dirigente do BE, casado com uma assessora do grupo parlamentar do BE "Esta condição [totalmente omissa na peça em causa] não levanta suspeitas quanto à isenção das suas opiniões?".
Esta duplicidade de critério no tratamento dos interesses pessoais económicos e os interesses igualmente pessoais, mas políticos, está muito longe de ser uma questão portuguesa: "Is it really true that political self-interest is nobler somehow than economic self-interest?" já é uma pergunta com bastantes anos e então feita nos Estados Unidos.
É pena o nosso jornalismo esquecer-se sistematicamente de que interesse próprio temos todos e de que não há nada de estruturalmente diferente entre o interesse económico do sindicalista que exige melhores condições salariais ou interesse pessoal do político que defende qualquer coisa que o possa beneficiar na eleição seguinte.
A diferença que interessa é apenas entre a defesa de interesses próprios de forma legítima e a defesa de interesses próprios de forma ilegítima.
Na peça que usei como exemplo, a grande diferença é entre quem diz umas coisas suportadas em coisa nenhuma para fazer avançar a sua agenda política e quem diz o que sabe a partir de investigação avaliada e avalizada pelos sistema científico.
O resto é a manipulação habitual de muitos jornalistas (que também têm interesses próprios) e com a qual muitos outros, corporativamente, contemporizam, aparentemente sem perceber que estão a minar o único activo que conta na sua profissão: a confiança dos seus leitores.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?». Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso, perguntou-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente? O espírito é que dá vida, a carne não serve de nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam». Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar. E acrescentou: «Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai». A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele. Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». Respondeu-Lhe Simão Pedro: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».
Palavra da salvação.
Um dia destes encontrei na rua o Senhor Ministro do Ambiente e conversa puxa conversa, falou-me do estudo que estava a ser feito sobre a valorização dos serviços de ecossistema, para poder desenhar uma política de pagamento desses serviços.
Não estou a fazer nenhuma inconfidência sobre conversas privadas visto que o próprio já se referiu ao assunto publicamente, várias vezes.
A conversa foi viva, embora limitada pelo meu atraso para um baptizado em que eu deveria estar, sobretudo porque assentou em várias das minhas divergências em relação às políticas deste governo e deste ministro em particular, incluindo esta forma de lidar com o problema de remunerar a gestão de serviços de ecossistema.
Eu penso que o governo está a lidar com isto da forma mais mainstream: temos de avaliar estes serviços, depois valorizar, depois arranjar um modelo justo para o seu pagamento, depois definir as regras de acesso a esse financiamento, depois abrir uns concursos (ou coisa do género, o modelo projectos piloto também tem muita saída), depois ter um júri muito isento que respeita escrupulosamente um caderno de encargos definido ao pormenor numas coisas e com buracos noutras (é uma inevitabilidade), depois um sistema de fiscalização, etc..
Confesso que gosto de coisas mais simples que vou procurar ilustrar com a gestão de combustíveis que precisamos de fazer para ganhar controlo sobre o fogo.
O Estado hoje assegura o financiamento de 50% de equipas de sapadores, num valor na ordem dos 26 mil euros por ano, e a média de gestão de combustíveis anda nos 40 hectares por equipa. Se fizessem só esta função (que não fazem), isto daria um valor na ordem dos 650 euros por hectare de combustíveis geridos.
Por outro lado, o governo lançou dois concursos, para uso do fogo controlado e de pastoreio na gestão das faixas de gestão de combustíveis da rede primária, em que assegura um pagamento de 100 euros por hectare.
O que proponho é simples: independentemente dos estudos e etc., talvez fosse útil ao governo confiar nas pessoas e pôr o problema ao contrário pagando, em função de resultados verificáveis, os mesmos 100 euros por hectare de gestão de combustíveis.
Para mim é indiferente saber se essa gestão de combustíveis seria feita com cabras, com fogo controlado, por resineiros, por caçadores, por conservacionistas, por produtores de medronho, por centrais de biomassa, por pensamento mágico (a base da maioria das propostas que conheço para gerir o fogo em Portugal) ou outra coisa qualquer, desde que o resultado fosse verificável.
Se se quiser, podem impôr-se restrições, como não aceitar propostas de limpeza de matos com pás frontais, ou retroescavadoras (ou, se se quiser uma formulação mais geral, que impliquem destruição de solo), não aceitar propostas de fileiras que se considere que têm condições para incorporar o custo desta gestão no seu modelo de negócio, como o eucalipto, o olival ou a vinha, enfim, as restrições que se entendessem para assegurar que o dinheiro servia para o que se pretende: remunerar a gestão do serviço de gestão de combustíveis (isto é, de controlo sobre o fogo) que o mercado é incapaz de remunerar.
Ponha-se um limite financeiro, abra-se um sistema de concursos que permita escolher as propostas com maior valor social dentro das que asseguram os objectivos do programa, mas dê-se às pessoas a liberdade de escolher a forma como chegam a esse resultado.
Há muitos anos, Michael Porter e Claas van der Linde escreveram o artigo Green and Competitive, que bem poderia ser usado para definir este tipo de políticas ambientais: regras claras e rígidas para todos e foco nos resultados, deixando as empresas e os indivíduos organizar-se como entenderem para obter os resultados.
Infelizmente continuamos a usar os mesmos modelos germânicos de uma silvicultura estatal e dirigista, de base tecnocrática, que até dão bons resultados quando o Estado é o dono do problema, mas são um desastre quando, como acontece em Portugal, uns fazem as regras mas outros é que lhes sofrem as consequências.
Por isso insisto tanto nesta proposta simples: 100 euros por hectare para garantir uma gestão socialmente útil de combustíveis, o resto vê-se depois, avaliando os resultados e introduzindo alterações que permitam resolver os problemas que necessariamente aparecerão, e potenciando as soluções que eventualmente tenham melhores resultados que o esperado.
Capital Airlines suspende voos na “rota da seda do século XXI”
Não é uma boa notícia para Portugal mas, espera-se, uma lição de contenção para os excessos de comunicação tão comuns em António Costa. Claro que amanhã virá dizer,como aconteceu com Monchique, que as novas parcerias da TAP são um sucessso e os voos diretos Liboa - Pequim uma exceção e depois de amanhã dirá que foram afirmações fora do contexto em que foram proferidas.
Parece uma montagem audiovisual mas não é! É Wolfgang Schauble travestido de Mário Centeno! O que importava mesmo, fica agora muito claro, para o atual Ministro das Finanças do governo de António Costa, era assumir a função de Presidente do Eurogrupo! Quanto à Grécia, que se aguentem os gregos! Vejam o vídeo! Nem Schauble teria sido mais claro: “A Grécia reconquistou o controlo pelo qual lutou. Com o controlo vem a responsabilidade. Os gregos pagaram caro as más políticas do passado, pelo que voltar atrás seria um erro…” Que tal oferecer a Mário Centeno o livro “Triunfo dos Porcos” de George Orwell? Até o insuspeito João Galamba considera “um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias". Volta Passos, estás perdoado!
How to Have Bullfights in California? Use Velcro.
A tourada à portuguesa faz parte do nosso espólio cultural. Tal como o Fado, o culto a Nossa Senhora de Fátima e o Futebol. Onde quer que se se encontre, por esse miundo fora, uma comunidade portuguesa teremos, pela certa, uma tourada. Mesmo contra as proibições locais, como acontece neste caso no Estado da Califórnia (EUA). Saber ultrapassar as dificuldades, contornar os problemas, em adaptação a outras culturas, é também outra nossa característica. As touradas à Espanhola estrão proibidas mas à Portuguesa seguem o seu caminho. É o Portuguese Way of Life. Até ver…
Muslim couple denied Swiss citizenship over handshake refusal. Quando os excessos de cumprimento das obrigações religiosas (em boa das verdades os radicalismos) ultraprassam normas de elementar bom senso civilizacional, não há tolerância, nem integração, possíveis. Acredito que até para os muçulmanos esta atitude seja considerada como de radical mas qual o peso dos radicais nas comunidades islâmicas?
(...) O problema dos partidos dos extremos, tanto à esquerda como à direita, é que põem em causa esses fundamentos, em função daquilo que são os seus objectivos políticos. O PCP é a melhor prova disso mesmo, com o seu patético apoio aos regimes mais abjectos, desde que vagamente comunistas. Mas também o Bloco de Esquerda sujou as mãos com a Venezuela de Chávez, com a ETA não-terrorista ou com o “prisioneiro Lula”. Desde que praticadas em nome dos mais fracos e dos bons princípios socialistas, as derivas autoritárias, a corrupção ou a estatização descabelada passam a ser subitamente aceites, quando não aplaudidas. É aí que Bloco, PCP e Frente Nacional se revelam filhos da mesma mãe – todos acomodam práticas populistas e iliberais em nome do seu “bem”, seja o “pobre” ou o “francês”. Já eu não aceito essas práticas – nunca, em nome de nada. Fiz-me entender?
A let na integra João Miguel Tavares aqui
Ao ver a indignação da esquerda portuguesa ao convite de Marine Le Pen para oradora da Web Summit, e a pressão da imprensa portuguesa sobre o governo para pedir explicações, lembrei-me daqueles tempos em que a Stasi queimava livros e proibia a publicação de outros. Tudo em nome de uma higiene cultural que tomavam como certa e justa.
A esquerda portuguesa está a fazer o mesmo quando quer proibir a presidente do partido francês Frente Nacional de ser oradora da Web Summit. Isto apesar da organização, em nome da defesa da pluralidade de opinião, ter defendido a sua presença. A pressão da esquerda levou Paddy Cosgrave a passar a batata quente da decisão tirana de proibição para o Governo português.
Caminhamos para um mundo onde os Republicanos nos EUA deixam de ser considerados legítimos para governar, a direita europeia deixa de poder ter espaço de opinião. Qualquer dia proíbem o CDS de falar em público (em nome duma higiene cultural qualquer). Vão proibir países com líderes de direita de estar na União Europeia. Um passinho mais e começam a queimar os livros de autores de direita, ou, mais higiénico, a proibir as livrarias de os vender.
Tiranos!
Em Paris, estes urinóis estão a gerar polémica mas divertem os turistas. Em breve, estou certo, o vereador do BE em Lisboa avançará com proposta idêntica. É que se trata de uma proposta alternativa e ainda para mais ecológica. A privacidade é, para a gente da esquerda bloquista, um mito da direita conservadora e por isso há que quebrar com os “moralismos”. Só têm mesmo de encontrar uma solução para as mulheres; ou, quem sabe, uma solução “universal” por causa das questões de género.
As reacções dos que têm certezas que só não vê quem não quer são hilariantes (uma das mais interessantes é a de um neófito no assunto que garante que o artigo não tem pés nem cabeça porque José Miguel Cardoso Pereira só estudou os fogos com mais de 5 hectares, ignorando os outros, o que é inadmissível visto que qualquer grande fogo começa por ser pequeno).
Mas vão ganhar a discussão.
Carlos da Câmara explicou pragmaticamente o problema citando Max Planck "A scientific truth does not triumph by convincing its opponents and making them see the light, but rather because its opponents eventually die and a new generation grows up that is familiar with it."
Quem procura "ugly little facts" faz artigos chatos, cheios de factos, ainda por cima pequenos e feios, desinteressantes na maior parte dos casos e falando da realidade, uma coisa que nos inferniza a vida e só atrasa o avanço do mundo que, como sabemos, só acontece quando um homem sonha.
E, sobretudo, não encontra um culpado rico, bem parecido, influente em quem possamos descarregar a indignação que nos causa a injustiça, a dor e a morte, sem que para evitar qualquer destas coisas tenhamos que mexer uma palha.
Para além disso, torna qualquer discussão muito fácil: se alguém diz que a terra anda à volta do sol, quando só quem não quer é que não vê que o sol é que anda a volta da terra, só pode ser por interesse e, quanto mais difícil for identificar esse interesse, mais se demonstra que esse interesse é inconfessável e digno de censura.
Uma boa demonstração disto é a quantidade de fotografias e comentários sobre a enorme regeneração de eucalipto, por semente, que muitas pessoas que levam anos e anos de trabalho de campo garantem nunca ter visto em anos anteriores, o que as leva a tirar conclusões gerais sobre o carácter inegavelmente invasor do eucalipto.
Que isso seja um fenómeno mais que conhecido de todas as pessoas que estudam a evolução pós fogo e que, mais que isso, a discussão do que significa esse facto desagradável tenha chamado tanto a atenção que Patrícia Tinoco Fernandes fez uma tese de doutoramento sobre isso, confirmando que a esmagadora maioria dessa rebentação de semente não tem qualquer viabilidade futura, é completamente irrelevante face a uma fotografia dramática.
É assim, somos assim, a realidade pesa-nos muito e temos mesmo necessidade de que o pensamento mágico esteja tão presente na nossa vida como o pensamento racional e daí não vem mal ao mundo.
Que as politicas públicas sejam crescentemente influenciadas mais pelo pensamento mágico e menos pelas serenas discussões sobre "little ugly facts" é que é pior porque, tarde ou cedo, vamos pagar com língua de palmo o esquecimento a que votamos a realidade.
Podemos ficar descansados, o chamado Diário de Notícias consultou ontem um pastor e a Quercus e descobriu os culpados do maior incêndio europeu do ano. São, respetivamente, o eucalipto, Das Kapital, e o anterior governo. Os 10 leitores do DN gostaram muito.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter dito: «Eu sou o pão que desceu do Céu». E diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José? Não conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?». Jesus respondeu-lhes: «Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Está escrito no livro dos Profetas: ‘Serão todos instruídos por Deus’. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».
Palavra da salvação.
Pedro Venâncio publicou ontem dados concretos sobre o fogo de Monchique, avaliando a severidade do fogo em três classes e cruzando a informação da área ardida com o uso do solo (tendo como base o COS, Carta de Ocupação do Solo, 2015).
Penso que a equipa de José Miguel Cardoso Pereira também produzirá dados do mesmo tipo rapidamente permitindo aferir melhor se há discrepâncias relevantes.
Deixando de lado os outros usos para nos concentrarmos nos três principais usos do território, eucalipto, matos e sobreiro, que no seu conjunto representam mais de 88% da área do concelho, os resultados são consistentes com aquilo que os que produzem dados sabem, contrariando a vox populii.
Como previsível, os matos ardem mais que o esperado, isto é, para uma ocupação do solo de 26,88% do concelho, os matos representam 31,77% da área ardida, os eucaliptos, para uma área de 44,47% de ocupação representam 41% da área ardida e os sobreiros, para uma área de ocupação de 17,36%, representam 15% da área ardida.
Ou seja, os matos ardem mais que o que representam na ocupação do solo, os eucaliptos e sobreiros ardem na proporção da sua presença no terreno.
Quando se olha para a severidade, os dados confirmam o que é verificado noutros fogos e é de esperar a partir do conhecimento que existe sobre a relação entre o fogo e a estrutura dos combustíveis: a severidade é maior nos matos (84% na classe mais alta, 12% na intermédia e apenas 4% na classe mais baixa de severidade), seguindo-se o sobreiro na escala de severidade (68%, 23%, 10%) e depois o eucalipto (55%, 34% e 12%). E antes que me moam o juízo com pormenores sem interesse, as percentagens foram arrendondadas por mim e por isso não dão exactamente 100%.
Resumindo, este fogo confirma o que tem sido observado na generalidade dos outros fogos, demonstrando que nem é verdade que os eucaliptos ardam mais, nem é verdade que ardam mais intensamente que o sobreiro.
O interessante nisto é que quem faz um post como este, estritamente citando dados, é imediatamente acusado de estar sistematicamente a branquear o eucalipto por ser um vendido às celuloses, como se verificar que está a chover fosse defender a chuva.
Já quem propaga fantasias, como troncos a rebentar, bolas de gases voláteis incendiados e etc., pode dizer o que quiser, desde que seja para malhar no eucalipto (ou noutro menino mau à escolha) usando argumentos sofisticados como "se gostas tantos de eucaliptos planta-os ao pé da tua casa", ou "vê-se logo que nunca andaste a apagar fogos, doutra forma saberias que um incêndio em eucaliptal é muito pior que no resto", ou ainda, um dos meus preferidos, "se sabes tanto do assunto, vai lá tu apagar o fogo".
Socialmente, e para a nossa imprensa, vale tanto o trabalho esforçado de pessoas como o Pedro Venâncio, que publicou estes dados no Facebook e teve a delicadeza de produzir dados complementares sobre severidade por uso de solo quando eu disse que gostaria de ter essa informação, e o trabalho de fundo feito por José Miguel Cardoso Pereira, ou Paulo Fernandes, como as afirmações de curiosas que imediatamente reagem dizendo que todos estes números têm de estar errados porque fizeram uma viagem pela autoestrada A1 e é evidente que há muito mais eucalipto, e mais eucalipto ardido, do que esses números, sabe-se lá obtidos como, dizem.
Ontem, aliás, vi a melhor demonstração disso: um curioso que tentou demonstrar a Paulo Fernandes que um artigo do próprio Paulo Fernandes diz o contrário do que o Paulo Fernandes diz que o artigo diz, criando um post hilariante, que deu origem a uma série de comentários surrealistas bem demonstrativos de como é fácil evitar que os factos nos influenciem as ideias.
O problema é que é com base nestes teatros do absurdo que se desenham políticas públicas e temos ministros que conseguem dizer que estão a celebrar o facto das pessoas estarem vivas, depois de arderem quase nove mil hectares de eucalipto, mais de 3 mil e trezentos hectares de sobreiro, um número incontável de colmeias, instalações agrícolas e gado, como se a economia que sustenta essas vidas seja um pormenor sem importância e com o qual o Estado não tem de perder tempo nem gastar recursos.
Somos um país muito estranho.
Em Janeiro (não agora), Jaime Pinto, preocupado com o facto da sua aldeia, em Góis, ter ficado no intervalo não ardido dos fogos do ano passado, decidiu contribuir para que o risco da aldeia ser arrasada por um fogo, que virá, mais cedo ou mais tarde, diminuísse.
Para isso convidou o Pedro Bingre, o Henk Feith e eu para uma sessão, co-organizada com a Câmara de Góis, em que se discutiu o fogo e a forma das pessoas se prepararem, em cada aldeia, para os dias em que tudo arde à nossa volta.
Uma sala cheia no Loural, uma discussão interessante, uma presença empenhada da Câmara e uma sala com bastante gente permitiram alguma discussão, da qual resultou depois um documento que deveria servir para que a Câmara tomasse as suas decisões e desse alguma orientação a quem dela precisa para perceber melhor o que se passa e, sobretudo, para se defender melhor.
Não sabemos se porque entretanto o Governo lançou o programa aldeia segura, a verdade é que o documento então feito, subscrito por Pedro Bingre, Henk Feith e eu (e quem nos conhece aos três sabe que seria impossível que todos concordássemos com todos os pormenores de um texto comum, é portanto um texto de compromisso entre visões diferentes do problema) ficou esquecido em qualquer lado.
O Jaime continua preocupado com a sua aldeia (com razão) e pediu-nos que ao menos circulássemos o texto da forma como nos parecesse melhor.
Sendo um texto relativamente longo (deveria ser a base para um folheto, ou qualquer solução desse tipo), acabámos por achar que eu o publicaria aqui, esperando depois que cada um usasse os canais de comunicação que tem para lhe dar alguma visibilidade como parte da intervenção cívica que todos podemos ter em relação ao problema da gestão do fogo e das suas consequências.
E eu?
Os fogos que hoje temos resultam da falta de gestão e serão, provavelmente, mais perigosos no futuro.
A quantidade de combustível (matos, folhada, silvas, ervas) acumulado à volta e dentro das aldeias, terá tendência para aumentar.
É normal que qualquer pessoa,que viva sempre, ou passe uns dias numa aldeia, se pergunte se está segura a dormir em sua casa.
Esta pergunta não pode ser respondida por mais ninguém a não ser cada uma das pessoas da aldeia.
E a esta pergunta não se pode responder quando tudo arde, é preciso saber responder-lhe hoje, amanhã ou em qualquer altura em que ainda exista tempo para resolver cada um dos problemas que nos façam sentir inseguros.
Em primeiro lugar não vale a pena pensar que talvez o fogo não chegue à aldeia, mais vale prevenir e partir do princípio de que podemos não saber quando chega o fogo, mas sabemos que é uma questão de tempo até que chegue.
Comecemos então por avaliar se a nossa casa está preparada para esse momento, ou seja, se há sítios em que uma fagulha qualquer, vinda de um fogo que ainda pode estar a centenas de metros, pode cair em qualquer coisa que possa arder: caruma e folhas no telhado e nos beirais, um silvado no quintal, um sótão em que possa haver uma fresta por onde a fagulha entre, um vidro partido numa janela de um compartimento que não é muito usado, uma telha partida ou em falta, etc.. Recordemo-nos que grandes incêndios florestais podem provocar fortes ventanias capazes de abrir janelas mal fechadas e levantar telhas soltas.
Olhemos para toda a casa lembrando-nos que essas fagulhas podem vir pelo ar, de bastante longe, e que são muito pequenas, facilmente entram em pequenos buracos ou frinchas que existam. De maneira geral não representam nenhum risco, excepto se caírem em cima de qualquer coisa que arda facilmente, como por exemplo em antigos sótãos, sobrados e soalhos de madeira.
Depois olhemos em volta da casa, num raio de 20 metros convém avaliar bem o que pode arder facilmente, ervas, matos, folhas, sobretudo coisas muito finas a que rapidamente o fogo se possa propagar. Todos os galhos, ramos e raminhos que estejam espalhados nos quintais e pudessem servir como acendalha numa lareira vão comportar-se como tal em caso de incêndio.
É então a altura de conversar com os vizinhos, com os que estão por ali todos os dias, mas também com os que aparecem uma vez por outra, para ver se todos olham para cada uma das casas da mesma maneira: quatro olhos vêem mais que dois.
Já agora aproveitemos para ver que sítio mais seguro existe na aldeia para onde se possa ir se tudo estiver cheio de fogo e fumo.
É muito importante ter a noção de que com tudo cheio de fumo, o que pareciam caminhos fáceis que todos fariam facilmente, podem ser armadilhas se não se tiver a absoluta certeza do que se está a fazer. No momento da fuga, não se pode percorrer um caminho que esteja rodeado de matas ou matos a arder, pois mesmo que as chamas não atinjam as pessoas, o calor intenso e a falta de oxigénio poderão ser fatais a quem estiver por perto. Devemos manter-nos sempre a uma distância do fogo igual ou superior a quatro vezes a altura das chamas. Os caminhos seguros são aqueles sem matos ou matas espessas nas bermas.
Se há um ou dois sítios na aldeia para que quem não se sinta seguro na sua casa possa ir, então é bom que o caminho para lá chegar seja muito bem conhecido e definido, evitando andar às apalpadelas numa altura em que se vê mal com o fumo e a calma tem fortes probabilidades de ter desaparecido com o medo que é inevitável que apareça numa situação de risco. Em casos extremos, se sentir que o fumo começa a intoxicá-lo apesar de o fogo se encontrar longe, rasteje ou gatinhe de modo a poder respirar o ar rente ao chão, com mais oxigénio e menos fuligem.
Olhemos então para o que rodeia a aldeia, para saber como se pode fazer para diminuir os riscos.
O mais importante não é evitar que haja fogo, o mais importante é que o fogo não seja tão alto e forte que ninguém possa fazer nada dele, deixando-o à solta.
Há três maneiras principais para poder deixar ao fogo menos combustível, ou seja, para criar condições para que haja menos fagulhas pelo ar, a chegar mais longe e para que o fogo possa ser conduzido para onde não possa fazer tanto mal ou até, se for possível, pará-lo antes que chegue ao que tem mais valor: floresta com valor comercial, campos e pomares, casas e pessoas.
Se existirem recursos para cortar mato, é bem possível que com os mesmos recursos se possa fazer muito mais usando o fogo e o gado, deixando o corte de mato para as situações em que não é possível resolver de outra maneira.
Deixar tudo como está, acreditando que connosco nunca vai acontecer, é a única opção que não é possível.
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Temos Diogo Lacerda Machado a dizer que não é assi...
Então alguém que publicamente corrija a AL.O prob...
Os guardas não podem ser, na minha modesta opinião...
Não, não é verdade
Um dos evadidos é algarvio (segundo consta) https:...