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Eles andem aí

por João Távora, em 16.04.18

Se eu me preocupo com o imperialismo anglo-saxónico? Sim, que os meus filhos chamem muffins aos queques.

Têm sido várias as notícias, nos últimos dias, sobre os problemas da habitação em Lisboa. Desde a questão dos despejos nos bairros de Alfama e do Castelo, aos prédios da Fidelidade, passando pelo Alojamento Local não tem faltado assunto para o tema da habitação em Lisboa. Também Fernando Medina veio ao debate com uma entrevista no DN. Segundo o Presidente da CML “o que nós estamos a construir em Lisboa é uma solução estrutural para o acesso à habitação das classes médias. Vai demorar algum tempo? Sim, mas é a resposta que é estrutural e que vai marcar o futuro do acesso à habitação na cidade de Lisboa”. Acrescenta ainda que “estamos a fazer com a Segurança Social no sentido de assegurar que vamos conseguir disponibilizar à cidade habitação para mais de 1100 pessoas, entre habitação permanente e residências universitárias, quartos para estudantes universitários”. Quanto aos valores dos arrendamentos o discurso é o seguinte: “Estamos a falar de rendas verdadeiramente acessíveis que são calculadas em função da capacidade de pagamento das famílias; estamos afalar de valores médios de T0 e T1 em torno dos 150/200 por mês; estamos a falar, no topo, de valores de T4 que podem andar entre os 400/600 por mês, é esta a gama de preços com a qual estamos a trabalhar.” Em simultâneo, o Governo fez saber, ver aqui, que quer pôr fim à necessidade de cauções e fiadores no mercado de habitação através da criação de um seguro, já negociado com as empresas do setor. Mas o discurso não cola com a realidade e tanto assim é que foi lançado um processo de arrendamento pela SRU Ocidental que é uma Sociedade de Reabilitação Urbana; para os que desconhecem, é uma sociedade de capital exclusivamente municipal, constituída no âmbito do Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de Maio, que tem por objecto promover a reabilitação da sua Área de Reabilitação Urbana. Ora está esta SRU a colocar, para arrendamento, 7 fogos T1 e um fogo T2 na Ajuda. Não se trata de um sorteio e por isso serão atribuídos aos candidatos que apresentem a melhor oferta. Os valores base de licitação são, para os T0 de 350,00€ e de 500,00 para o T2 de 500,00€ (confrontem com o discurso acima de Fernando Medina) e a ver vamos quais serão os valores finais de licitação. Mas não fica por aqui o procedimento: para a apresentação da candidatura é obrigatório o depósito de  500,00€ como garantia de interesse (que posteriormente será devolvido caso não seja a proposta ganhadora). Caso seja o ganhador vai ser ainda necessário o pagamento de uma caução (vejam acima as intenções do Governo) de 1.750,00€ ou 2.500,00€ (consoante a tipologia) para cobrir eventuais estragos. E, cereja no topo do bolo, “com a assinatura do Contrato, os Arrendatários pagam à SRU as rendas dos meses de maio e junho de 2018, devendo entre os dias 1 e 8 do mês de maio pagar a renda de julho de 2018 e assim sucessivamente.” Ou seja, o inquilino pagará, para além da caução, três meses de renda. Assi vai a prática de habitação acessível da CML! Discurso é apenas para entreter!

Autodeterminação de género

por João Távora, em 16.04.18

(...) "Esta lei que foi aprovada é essencialmente ideológica.  Baseia-se na ideologia de género que, pelo seu radicalismo, se opõe à ciência e à boa prática médica. Esta ideologia teve início nos anos 60, na sequência do movimento de contracultura. Nessa altura, a psiquiatria também foi atacada e procuraram destruí-la, negando, por exemplo, a existência de doenças psiquiátricas como a esquizofrenia. Os resultados foram desastrosos, principalmente em Itália, sob a influência de Franco Basaglia, com milhares de doentes a serem privados de cuidados psiquiátricos adequados.  A história repete-se.

A aprovação desta lei, juntamente com a discussão prevista para breve sobre a legalização da eutanásia, revela que existe um ambiente político de hostilidade face à medicina. Senão, vejamos: no caso da mudança de género, não se compreende por que razão os médicos são expulsos deste processo; não se compreende os motivos pelos quais se menosprezam a prática clínica e o conhecimento científico acumulado durante anos de estudo sobre este tema clínico. Por outro lado, também não se compreende a necessidade de se aprovar uma lei que legaliza a eutanásia, que não foi pedida pela maioria dos médicos, e que vai contra a tradição hipocrática da medicina." (...)

 

A Ler o Psiquiatra Pedro Afonso no Observador.

Domingo

por João Távora, em 15.04.18

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 


Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas». 


Palavra da salvação. 

Geringonça moral

por José Mendonça da Cruz, em 14.04.18

Não foram apenas a política e a economia a ficarem tolhidas pelas práticas necessárias para a constituição e sobrevivência da geringonça com que Costa reverteu uma derrota eleitoral; também a ética e a diplomacia são submetidas aos indispensáveis entorses.

EUA, Reino Unido e França bombardearam os locais de produção e armazenamento de armas químicas do governo sírio, visto Assad ter utilizado gás sarin contra homens, mulheres e crianças, e visto considerarem intolerável o uso de armas químicas contra populações civis. Os países que nos habituámos a considerar como nossos aliados e parceiros apoiaram e aplaudiram. O governo português não apoiou, nem aplaudiu; o governo português apenas «compreende» a acção e a oportunidade.

No comunicado do governo português quase vemos refulgir a assinatura de inteligência do ministro Santos Silva. É aquele tipo de inteligência que, no fim da vida, perguntada sobre o que fez, responde: «Fui esperta. Fui elíptica. Fui hábil. Furtei-me. Safei-me.»

Eles esforçaram-se. Eles aclamaram Lula como herói do povo, do combate à pobreza e à desigualdade; eles esqueceram-se, zelosamente, de que esse combate foi feito a crédito, ou seja, a custo de uma dívida pública estratosférica, esqueceram a ladroagem do PT, e esqueceram, mais zelosamente ainda, quem foi e o que fez um homem, um estadista de nível mundial, chamado Fernando Henriques Cardoso.

Eles gritaram que a democracia está em perigo por prender um ladrão (um ladrão dos deles) e troçaram xenofobamente da justiça brasileira. Deram, até, voz a Catarina Martins, reaccionária e fascista, que condenou essa justiça em nome do seu entendimento especioso e encapotado de «democracia». A Tvi, numa editorial ralmente obscena, chegou a convocar José Sócrates para, do alto das suas acusações como corrupto, acusar os que condenaram um corrupto seu amigo, Lula.

Foi tudo em vão. Mesmo com a demora duma missinha (o pretexto do adiamento dá toda a medida do carácter da criatura) e uns quantos discursos patéticos, Lula, o corrupto, o ladrão, com sentença passada em julgado, limpamente condenado, foi preso.

 

Complexo de Édipo?

por henrique pereira dos santos, em 14.04.18

Estive a ver uma reportagem absolutamente absurda sobre o fogo do pinhal de Leiria.

Absurda porque ninguém com um mês de antecedência consegue antecipar condições excepcionais como as de 15 de Outubro em lado nenhum do mundo (muito menos uma conjunto alargado de madeireiros que fazem reuniões que não deixam rasto), absurda porque se mostram evidências como púcaros de resinagem num pinhal como evidências de fogo posto, absurda porque se mostram garrafas de plástico intactas e cheias de combustíveis em áreas em combustão, absurdas porque se encontram garrafas de vidro envolvidas em prata como forma de não explodirem (para a próxima que puser uma cerveja no congelador vou tentar esta técnica para evitar que a garrafa rebente, para o caso de me esquecer dela tempo a mais no congelador), absurda porque tanto se diz que se vendem pinhais por um décimo do preço depois de um fogo como se diz que o preço desceu menos de trinta por cento, etc..

Mau jornalismo não me espanta, embore me espante a quantidade de pessoas com informação, formação e treino na análise do mundo que está disposta a embarcar na primeira teoria de conspiração que lhes sirva para pôr responsabildiades "neles" em vez de pensar objectivamente no que podemos nós fazer, mesmo quando a teoria é tão infantilmente sustentada em coisa nenhuma.

Mas o que verdadeiramente me intriga na reportagem é isto: o que leva uma jornalista filha de um silvicultor, e que atribui suficiente importância a essa circunstância para o referir quando lhe dizem que não percebe nada de silvicultura, a fazer uma peça inteira, de quase meia hora de televisão, sobre fogos, gestão florestal e comércio de madeiras, sem entrevistar um único silvicultor ou qualquer pessoa qualificada para fazer gestão florestal, seja por formação ou experiência, com a excepção do presidente do ICNF que está ali a desempenhar um papel institucional e não técnico?

Quem dá o que tem, a mais não é obrigado

por João Távora, em 13.04.18

A chamada "lei de autodeterminação de género" (tosse) foi aprovada por um voto, o da Dra. Teresa Leal Coelho, que assim alcança o estrelato e faz passar o PSD por moderninho. 

No futebol como na vida

por José Mendonça da Cruz, em 12.04.18

A Champions` League está para o capitalismo como a UEFA Cup está para o socialismo. A Champions é um sucesso económico para todos e tem como objectivo determinar qual o melhor intérprete da excelência; a UEFA Cup é remediada e visa determinar qual dos participantes é menos mau.

Música para os meus ouvidos

por João Távora, em 12.04.18

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Já não é a primeira vez que ao revisitar velhos amigos reparo que baniram os discos, os CDs e a aparelhagem sonora da sala, ou a têm desmontada a um canto. Isso entristece-me, principalmente quando são daqueles que tinha por melómanos, com quem partilhei na juventude a descoberta de novas sonoridades ou de velhos clássicos em audições que eram como que sessões religiosas. Claro que para a maior parte dos meus amigos ou colegas de escola a música nunca terá sido propriamente um culto, existia nas suas vidas porque era próprio da idade, era um pretexto instrumental no ritual de engajamento social ou de sedução e acasalamento, e que chegados à maturidade despromoveram-na a um acessório de consumo acidental pelo rádio do carro, uma distracção para as filas de trânsito, ou companhia no escritório através de “play lists” no YouTube. De facto, entrada que está a minha geração na meia-idade, corremos o risco de ficarmos moucos da alma, perdidos na gestão da carreira profissional, entalados a cuidar dos pais e dos filhos, e emergidos noutras actividades utilitárias de elevado reconhecimento social. 

Tenho para mim que a capacidade nos deixarmos encantar com novas ou velhas músicas exige espaço e dedicação, porque é uma extensão qualitativa da nossa existência, intimo encantamento a que temos de nos manter permeáveis e que nos eleva do contingente, como que uma abertura a um Dom de Deus que nos desinquieta contra a tentação do fechamento, da insensibilidade, da morte.
Sinal dessa alma arejada é mantermos uma aparelhagem sonora cuidada e a uso num sítio nobre da nossa casa, como na nossa juventude, que a dispúnhamos como se fora um pequeno altar no centro do nosso quarto. Tenho dito.

Notícias sem destaque nos jornais

por João Távora, em 12.04.18

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Por ocasião dos 100 anos da batalha de La Lys, foram inaugurados há dias na Igreja de St. James, em Twickenham nos arredores de Londres, estes vitrais em memória de S.M.F. D. Manuel II e dos combatentes portugueses na I Grande Guerra que o nosso último rei, apesar de no exílio, foi incansável no apoio. Twickenham foi a morada de exílio de D. Manuel II depois da revolução de 5 de Outubro e St. James a igreja que frequentava. Os seus paroquianos nunca o esqueceram. 

A propriedade das paredes dos hospitais

por henrique pereira dos santos, em 10.04.18

Frequentemente vejo comentarios deste tipo (é um comentário real, não verifiquei os factos, mas isso é irrelevante para o essencial do que é dito no comentário): "Por outro lado, os hospitais privados também vivem pendurados no Estado. Mais de 50% das receitas vêm do SNS e ADSE. E nos laboratórios de análises privados a dependência do Estado é ainda maior, mais de 70%. Portanto, esta iniciativa privada também tem muito pouco a ver com capitalismo ou economia de mercado."

É esta ideia que leva o PC e o BE (e a ala bloquista do PS) a estar sempre a fazer propostas de nacionalização de todos os cuidados de saúde (todos, não, em rigor defendem que quem pode pagar que escolha, os outros que sejam obrigados a recorrer a hospitais cujas paredes são do Estado).

Há neste tipo de comentários um erro de base: o Estado não faz donativos aos prestadores de serviços de saúde, o Estado paga cuidados de saúde a pessoas concretas.

Se esses cuidados de saúde não forem prestados em hospitais cujas paredes são de privados, terão de ser prestados em hospitais cujas paredes fossem do Estado.

Para as pessoas concretas, é-lhes completamente indiferente de quem são as paredes dos hospitais em que estão, o que querem é ser tratadas.

Para os funcionários, é-lhes completamente indiferente quem é o dono das paredes do hospital, o que lhes interessa é que tenham condições para trabalhar e o seu trabalho seja justamente remunerado (ou, ao menos, se for injustamente remunerado, ao menos que seja a favor do trabalhador).

No caso da saúde, vindo os recursos, de uma maneira ou de outra, dos contribuintes, parece mais ou menos óbvio que mais vale o Estado ter os seus próprios hospitais, evitando pagar os custos de capital e os lucros dos privados.

Isto é verdade, isto é, se o que o Estado está a pagar é o mesmo que pagaria e ainda mais os custos de capital (os privados, de maneira geral, financiam-se a taxas mais altas que o Estado porque representam um risco maior para quem empresta) a que se somam os lucros que remuneram esses capitais, não faz o menor sentido pagar a privados o que de qualquer maneira tem de ser pago pelos contribuintes.

O erro deste raciocínio está em considerar-se que a eficiência no uso dos recursos é sempre igual, o que está longe de ser verdade, isto é, os ganhos de eficiência de gestão podem ser maiores que os custos de capital e os lucros dos privados, acabando numa factura global mais baixa.

Há um erro secundário que consiste em pensar que a gestão privada é sempre mais eficiente que a gestão pública. De maneira geral isso é verdade, mas na condição do privado ter o risco de perder dinheiro, porque quando o Estado gera rendas sem riscos para privado (o que tipicamente aconteceu em muitas PPP rodoviárias, mas não nas PPP da saúde), o privado gera uma gestão tão ineficiente como a generalidade da gestão estatal, tal como uma gestão estatal que consiga limitar o princípio de que uns comem os figos e aos outros rebenta-lhes a boca (que é o princípio geral de quem toma decisões sobre o dinheiro dos outros), pode ser tão eficiente como uma gestão privada.

Eu sei que tudo isto é básico para qualquer economista, mas achei que valia a pena lembrar aos que não percebem nada de finanças, nem consta que tenham bibliotecas, como eu, que a discussão sobre prestação de cuidados de saúde por privados ou pelo Estado é uma discussão de custos relativos em cada momento e para cada tipo de interacção entre trabalhadores de saúde e doentes.

Pôr a tónica da discussão em quem é o dono das paredes do hospital só atrapalha no momento de decidir as melhores opções para, por esta ordem, os doentes, os trabalhadores de saúde e, já agora, os contribuintes.

O acusado inocente

por henrique pereira dos santos, em 10.04.18

Numa pequena troca de argumentos sobre as garantias do julgamento de Lula, uma advogada argumentava que era inconcebível que fosse preso quando ainda existem recursos pendentes, apelando a que quem discordasse se pusesse na posição de quem, sendo acusado, é inocente.

Seria bom que a discussão sobre aplicação da lei (vale sempre a pena vincar que os tribunais não administram a justiça, apenas aplicam a lei) em Portugal fosse razoavelmente mais racional e menos emocional, sobretudo quando o apelo emocional é feito em função do eventual acusado inocente, esquecendo que o centro da justiça é a vítima, e não o acusado (culpado ou inocente).

O exemplo de Armando Vara e do processo Face Oculta, descrito nesta peça do Observador, demonstra como a ideia, generosa, de que todos os recursos devem estar gastos antes da prisão de alguém, se traduz na prática numa grande falta de respeito pelos direitos das vítimas.

Tal como a rapidez de que a justiça brasileira tem dado prova (não, não é perseguição a Lula, desde 2014 a Lava Jato já investigou e deu origem a condenações em julgamento de 69 pessoas) por comparação com o que temos conseguido em Portugal em matéria de corrupção, nos deveria levar a olhar seriamente para a delação premiada como um instrumento válido de protecção das vítimas e não necessariamente como um abuso dos direitos de eventuais inocentes (que podem ser assegurados por muitas outras vias).

O triste espectáculo das dezenas de recursos de Sócrates sempre, sempre indeferidos (com excepção de um, decidido por um juiz acusado, noutros processos, de "vender" sentenças) é uma boa demonstração de uma das piores entorses criadas por uma justiça tão centrada em evitar condenar inocentes que esquece os direitos das vítimas: a existência de uma justiça para ricos, como Sócrates, que podem gastar rios de dinheiro em advogados e custas judiciais com recursos que não servem para mais nada se não retardar o seu julgamento; e uma justiça para pobres, os que não têm dinheiro para manipular passos e prazos processuais a seu favor.

Só que nada, rigorosamente nada, do que possa estar a correr mal no sistema judicial autoriza acusações gerais de perseguição política ou de estratégias complexas, por exemplo, para impedir Sócrates de ser Presidente da República, ou Lula de ser candidato, ou Puigdemont de ser Presidente em estados de direito e democracias maduras, como são as de qualquer dos três países citados (com todos os defeitos que tenham).

Em relação a processos ou decisões concretas todas as dúvidas são legítimas e todo o escrutínio é bem vindo, mas quando entramos na argumentação que implica a existência de estratégias concertadas por parte de todo o sistema judicial, tenham lá paciência, durmam sobre o assunto antes de dizer tanto disparate, só porque gostam do réu.

Uma espiral de loucura

por João Távora, em 09.04.18

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Como se tem visto nos últimos dias Bruno de Carvalho entrou numa espiral neurótica de total descontrolo emocional, e parece querer afundar o Sporting Clube de Portugal consigo para o inferno em que se enredou. O problema está em saber como se lida com um homem tresloucado, com muito poder destrutivo, e como se poderão minimizar os danos deste tumulto até que se vislumbre uma solução, que só pode ser encontrada através da convocação de eleições e numa nova liderança do clube. 

Também acho estranho como não haja à volta do presidente quem o confronte com a realidade. A doideira já se vem revelando há algum tempo, pelo menos desde a inaudita convocação da última Assembleia Geral. O amor ao clube, ou o brio profissional, deveriam ser razões mais que suficientes para a demissão dos actuais Corpos Sociais. E o que é que nos tem para dizer o director de comunicação Nuno Saraiva sobre catástrofe comunicacional, um verdadeiro caso de estudo, que se vem revelando o seu exercício de funções?
Resta-me aqui elogiar Jorge Jesus que vem demonstrando um enorme sentido institucional, afirmando-se neste momento como uma peça fundamental de bom senso e equilíbrio no meio de tanto desconchavo. Quem diria.

De Monsanto a Lula

por henrique pereira dos santos, em 08.04.18

Há já alguns anos, o movimento anti-transgénicos resolveu fazer campanha a favor de um coitado de um agricultor que teria sido impedido pela Monsanto de usar as suas próprias sementes.

Como no fulcro da história estava uma decisão de um tribunal canadiano, estranhei: na minha visão das coisas, dificilmente a Monsanto conseguiria levar um tribunal canadiano a decidir em função dos seus interesses, se eles fossem ilegítimos.

Não porque eu tenha qualquer ideia de que um juiz é por definição impoluto (seria sem dúvida fácil à Monsanto comprar um juiz, ou meia dúzia, não tenho dúvidas), mas porque o sistema judicial, exactamente por partir do princípio de que a natureza humana é o que é, tem uma série de mecanismos de protecção dos mais frágeis que tornam a qualquer pessoa difícil comandar as decisões de vários juízes (a dificuldade da Monsanto, ou seja de quem for, não é comprar meia dúzia de juízes, é conseguir pôr esses juízes todos a decidir nos processos que lhe interessam, com exclusão de todos os outros).

No processo em causa, o coitadinho do agricultor perdia todos os recursos, em todas as instâncias, de forma esmagadora.

Tive então uma longa discussão com a principal dinamizadora do movimento anti-trangénicos em Portugal, que me obrigou a ir ler todas as decisões do tribunal (estavam todas on-line, muito facilmente acessiveis, num inglês suficientemente simples para eu perceber, sem rodriguinhos nem palha gongórica) fortalecendo, a cada leitura, a minha convicção de que se tratava de um caso em que um vulgar burlão se servia dos bons sentimentos anti-OGM para passar a perna à Monsanto, conclusão a que, muitos meses depois, o movimento anti-OGM aderiu, deixando cair o seu mártir acidental.

Muito tempo depois, no auge do processo Freeport (declaração de interesses, estive envolvido no processo de decisão da avaliação de impacte ambiental até ser substituído por outras pessoas), um amigo meu, sólido e importante militante do PS, fundamentava a sua posição (a de que havia uma cabala, etc.) com a ideia de que se recusava a acreditar que seria possível ter um primeiro-ministro corrupto no país onde vivia e que era o seu.

Foi nessa altura que percebi o que me separava da quantidade de amigos meus mais activisitas e mais militantemente esquerdistas (as duas coisas não se sobrepõem, há muitos activistas da mais extrema direita, tal como há muitos esquerdistas que não partilham desta visão instrumental da justiça, o processo mental é que os aproxima e não o posicionamento político) que sistematicamente questionavam a justiça quando as suas decisões se afastavam do que defendiam ser o bem comum: eu acho que o sistema de justiça pode falhar, e falha, com certeza, mas a probabilidade de haver um político que actua fora da lei é muito mais alta que a probabilidade de um sistema de justiça (não falo de um julgamento, falo do conjunto do sistema, que incluem os recursos para tribunais de diferentes instâncias) ser política e economicamente manipulado e comandado.

As minhas razões não se prendem com qualquer superioridade moral da justiça em relação à política, mas com o facto de um político ser ele só, e poder tomar decisões sozinho (se aceito ou não uma contrapartida para tomar uma decisão será sempre uma decisão individual), enquanto o sistema de justiça está estruturado de forma a que o escrutínio exista de forma sistemática, sendo a decisão formada pela decantação de muitas decisões individuais, todas elas bastante escrutinadas.

Por isso o advogado de Lula se vê obrigado a dizer que a questão é uma questão corporativa (os juízes protegem-se uns aos outros) e outras coisas que tais, que possam justificar, aos olhos dos convertidos, como é que Lula é condenado em duas instâncias judiciais não havendo qualquer sombra de prova.

Só o recurso a teorias de conspiração mais ou menos elaboradas, mais ou menos credíveis (dizer que os tribunais são corporativos é razoável, porque é parcialmente verdade, dizer que Rajoy é um ditador é simplesmente estúpido), permitem o sistemático clamor de cada vez que um herói da esquerda é apanhado nas malhas da justiça (alguém se lembra do menor murmúrio com a prisão da ex-Presidente da Coreia do Sul ou de Sarkozy?). Tal como não se ouvem os protestos, que seriam mais que justos, sobre a ampla liberalidade do sistema de justiça brasileiro em relação à quantidade astronómica de pessoas abrangidas por foro privilegiado, essa sim, uma crítica realmente relevante ao sistema de justiça brasileiro.

Sempre haverá pessoas, como eu, que não pondo as mãos no fogo nem por mim, darão mais crédito a sistemas de decisão complexos, com maiores contrapesos, necessariamente mais lentos e burocráticos, e sempre haverá pessoas que a com a pressa de chegar a um mundo melhor, seguirão homens providenciais.

E sempre haverá tensão entre estas duas crenças base sobre a melhor forma de nos organizarmos colectivamente.

O que me preocupa é ver tanta gente inteligente, informada e séria a dar tanto crédito às teorias de conspiração que justificam por que razão e de que forma "eles" controlam tudo e a facilidade com que actualmente qualquer caudilho que seja um fora-da-lei (e o facto de ser um fora-da-lei não diz nada sobre a nobreza do que tenha feito antes pelo mundo e pelos mais frágeis) consegue levar atrás de si uma multidão de pessoas dispostas a prescindir da separação de poderes e do respeito pelo sistema de justiça, só para que "um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá".

Domingo

por João Távora, em 08.04.18

Leitura dos Actos dos Apóstolos 


A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade. 


Palavra do Senhor. 

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Novela 1 - Lula

Os portugueses estão a viver intensamente a evolução do processo judicial do Lula da Silva. Os telejornais acompanham ao minuto, choram com os apoiantes do Partido Trabalhista (de esquerda, claro). Os comentadores nem tentam disfarçar que são independentes na análise. São verdadeiros activistas contra os tribunais e a favor da libertação de Lula. A maioria da esquerda (UGT até fez um comunicado) portuguesa sofre genuinamente com a condenação do ex-presidente do Brasil, membro do partido trabalhista (de esquerda, claro). Pedem que a lei não seja cumprida. Isto é, que Lula da Silva não seja preso após o julgamento de todos os recursos na segunda instância. Estão revoltados contra a decisão do juiz federal Sérgio Moro que deu um prazo até as 17 horas desta sexta-feira, dia 6, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para se apresentar "voluntariamente" à Polícia Federal em Curitiba, que é a polícia encarregue da investigação da Operação Lava Jato.

Tudo porque o Luiz Inácio Lula da Silva alegadamente "tirou milhões de pessoas da pobreza durante seus dois mandatos como presidente do Brasil" (esquecem-se de dizer que foi tudo a crédito bancário). Mas Lula é o herói dos trabalhadores. No entanto também comandou um dos governos mais corruptos na história do país. Mas isso a esquerda prefere não acreditar.

Lula foi condenado (e bem) a 12 anos e um mês de prisão no processo do caso triplex do Guarujá. Ou seja, a justiça provou que Lula recebeu cerca de 3,7 milhões de reais em subornos da construtora OAS, num triplex do Guarujá, num esquema relacionado com a empresa brasileira Petrobrás, sendo a primeira condenação do ex-presidente no processo Lava Jato.

Os portugueses gostam muito de sofrer com os heróis dos descamisados, mesmo que sejam bandidos. Roubar aos ricos, nem lhes parece mal.

 

Novela 2 - Letizia

A outra novela que move os portugueses é o vídeo de Espanha em que se vê a Rainha Letizia a impedir (de forma irritante) que as suas filhas tirem uma fotografia com a avó, a Rainha emérita Dona Sofia. Os espanhóis não gostaram da forma como a Rainha de Espanha tratou Dona Sofia, a monarca emérita, à saída da Missa de Páscoa, em Palma de Maiorca. Mas não são só os espanhóis, não há português que não esteja irritado com a Rainha de Espanha por causa da sua pouca educada atitude para com uma Senhora mais velha.

Aquilo pareceu-em uma ciumeira da Rainha Letizia face à sogra. Claro que se os espanhóis dizem mata, os portugueses dizem esfola. Vivem a novela como se Letizia fosse Rainha também de Portugal (os portugueses não ligam nenhuma à família real portuguesa, mas vibram com a espanhola). Claro que sendo a Letizia plebeia e tendo vindo de uma família mais pobre, o seu gesto é aproveitado para a menorizar.

É para mim mais do que óbvio que aquela cena de Letizia a pôr-se à frente das filhas para não deixar a avó tirar uma fotografia com as netas, não tem nada a ver com o seu background social. Já vi cenas de igual nível em pessoas de todos os meios. Mas claro as pessoas  aproveitam as suas circunstâncias para a menorizar. Foi malcriada? Foi. Mas quem diz que se tivesse nascido condessa, não podia perfeitamente, em situação de irritação, fazer o mesmo? O que não falta para aí são pessoas a perder as estribeiras e a ter atitudes grotescas com outras que não gostam, não querem gostar ou deixaram de gostar. Nem tudo é determinado pelo meio social.

Ironia: os portugueses adoram o filho do povo Lula, mas odeiam a filha do povo Letizia. Conclusão. Uma mulher que ascende socialmente é imperdoável. Um homem que ascende socialmente é um herói. Pode até dar-se ao luxo de ser corrupto. "Rouba mas faz", diz a voz popular.

E ainda vêm com igualdade de género e outras ideias feministas. Poupem-me.

Quotas

por João Távora, em 06.04.18

A igualdade de "género" tem de ser garantida através do estrito cumprimento da lei, sempre no respeito das diferenças entre os sexos (haverá sempre tarefas e profissões tendencialmente mais masculinas ou mais feminina), não através de medidas despóticas que significam o reconhecimento do falhanço do Estado na regulação deste tema. Sobre a deriva da ditadura da igualdade aconselho a leitura deste artigo do Nuno Lobo no Observador

Eu sei que já disse isto

por henrique pereira dos santos, em 06.04.18

Ou melhor, não foi bem isto, o que disse foi o essencial disto, mas a propósito da ideia do governo pegar nos dinheiros do Fundo de Coesão e os investir nos metros de Lisboa e do Porto, isto é, pegar nos dinheiros que a União Europeia disponibiliza (os contribuintes europeus, para ser mais preciso, o que nos inclui a nós) para diminuir o fosso entre regiões mais pobres e mais ricas da União, e investi-lo nas regiões mais ricas do país.

Agora o que está em causa já não é o Fundo de Coesão, mas o Fundo Ambiental (o tal que paga meio milhão de euros para os festivais de música ficarem mais verdes e, para ficar feita a declaração de interesses, também entregará qualquer coisa perto de 50 mil euros a uma associação de que sou presidente, sob a forma de Prémio ICNF de conservação).

O Governo resolveu pegar nos dinheiros do Fundo Ambiental, nomeadamente do que antigamente era o Fundo de Carbono, e comprar carruagens de metro.

Primeiro a questão de linguagem: o Governo pega no dinheiro dos contribuintes, entrega-o ao Metro e diz que o Metro vai gastar 210 milhões. Saltemos por cima deste fait-divers.

O Ministro anuncia isto na Assembleia da República e, aparentemente, daí não resultam imediatamente perguntas da oposição (pelo menos os jornalistas não deram por isso) sobre as razões para, havendo recursos públicos para investir na descarbonificação da economia, o Governo optar por aumentar a macrocefalia do país, investindo onde estão os votos, e também a riqueza, em vez de investir nas economias que poderiam gerir o problema dos fogos, a conservação da biodiversidade e a criação de emprego nas regiões mais pobres.

Não vale a pena argumentar que não existem, ou não são possíveis essas economias, porque existem e o seu potencial de crescimento é grande, uma vez que lhes sejam pagos os serviços de ecossistema prestados, como demonstraram anteriores opções na aplicação dos fundos de carbono.

O que está em causa é uma verdadeira opção política: o Governo prefere investir em Lisboa em vez de pagar os serviços de ecossistema e depois persegue judicialmente as vítimas desta opção.

E é uma opção política com larguíssimo suporte político porque, tirando o Partido Comunista de vez em quando, não se ouve um pio das restantes forças partidárias, com medo de perder os votos dos utilizadores de metro de Lisboa e Porto.

O problema não é Catarina

por henrique pereira dos santos, em 05.04.18

Catarina Martins tem hoje uma entrevista de várias páginas no Público que terá tido também um reflexo extenso na Renascença.

Em si, isto não me levaria a escrever um post, quer porque Catarina fala todos os dias, quer, o que é mais importante, o que diz tem muito pouco interesse e rara aderência à realidade.

Catarina, previsivelmente, diz: "Temos um problema na Saúde, na questão das PPP: neste momento, o que existe é um monstro que está a sugar serviços do SNS e a negar condições de acesso à saúde a toda a população. O SNS está em risco de ter falta de profissionais, de falta de meios, porque o Estado está a alimentar o monstro que o suga, que é a saúde privada."

Que o diga é irrelevante, como seria irrelevante se dissesse que a terra é plana, o que não é irrelevante é que os jornalistas que a ouvem não se preparem para estas tiradas demagógicas, documentadamente falsas, neste caso, e não a confrontem com os números que existem de avaliação dessas PPP e que desmentem por completo esta parvoíce.

O que permite a Catarina falar todos os dias, sobre todos os assuntos, a dizer as maiores barbaridades, como esta, sem que isso se reflicta na sua reputação e credibilidade, é exactamente o facto dos jornalistas que a entrevistam não perderem dois minutos a confrontar o seu discurso com os factos.

E isso é absolutamente lamentável.



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