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A questão é de fé, discutivel não é

por João-Afonso Machado, em 30.03.18

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A procissão logo à noite será carregada de silêncio. Nas ruas o mesmo, por muita que seja a preocupação das mães com as asinhas dos seus anjinhos. Agora mesmo são três da tarde e o som lamuriento das sirenes dos bombeiros ouviu-se longamente, a furar a cortina de chuva caindo, o breu do céu. Digam lá o que disserem, hoje é um dia lutuoso.

E solene, diferente dos outros. Por cá é assim, e, por assim ser, mais me convenço de que Cristo subiu realmente o Calvário com uma cruz às costas, na qual foi depois pregado. Competirá, entretanto, ao mundo demonstrar que valeu a pena...

Paixão

por João Távora, em 30.03.18

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Salta-nos aos olhos a incapacidade da sociedade do bem-estar por estes dias em acompanhar com um mínimo de profundidade a densa questão filosófica que emana da inquietante Páscoa de Jesus Cristo. Tudo se resolve: com uma escapadela turística refugiamo-nos de qualquer convite ao questionamento da nossa essência e razão de existir, à inquietação, ao espanto. A geração mais bem preparada de sempre mal disfarça a inaptidão de questionar a existência para além do superficial e do plausível – uma hipnótica série de televisão resolve facilmente o tédio de tanto bem-estar. De resto, como referiu a estrela pop Stephen Hawking, "a Filosofia está morta", hoje não é mais do que um caricato e inútil capricho de una quantos excêntricos (e não foi sempre assim?). É um paradoxo: a Salvação vem perdendo procura na medida em que nos vamos dissipando na precariedade do entretenimento, infantilizados no apoucamento da nossa humanidade.

Hoje celebra-se a vitória do cinismo, tarda a ressurreição da esperança – até Domingo.

As reformas da esquerda

por Maria Teixeira Alves, em 30.03.18

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 O Governo desta geringonça de esquerda não é tido como muito reformista. Os governos reformistas foram, quase sempre, de direita e foi durante os governos de direita que se fizeram a maior partes das grandes reformas (como por exemplo a reforma fiscal de Cadilhe com a criação do IRC e IRS). 

Mas ao atual Governo não faltam as chamadas reformas "gauche", como este disparate, que faz capa do Expresso desta semana.

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Ainda me lembro do que os partidos de esquerda disseram quando as entidades estatísticas competentes vieram dizer que o défice das administrações públicas em 2015 foi de 4,4% (7.893 milhões de euros), por causa da operação de resolução do Banif que provocou um agravamento do défice de 1,4% do PIB em 2015, mais do que o inicialmente estimado que apontava para 1,2% a 1,25% do Produto Interno Bruto (PIB). E que por isso nesse ano Portugal terá fechado o ano nos 4,4%, um número pior do que inicialmente esperado. Isto com a resolução do Banif a contribuir para este desfecho.

"O anterior governo PSD/CDS “mais uma vez não cumpriu os objectivos do défice que se propunha atingir, apesar de todos os sacrifícios impostos aos portugueses”, algo que aconteceu “sem surpresa”, apregoaram.

Agora a recapitalização da CGD eleva défice de 2017 para 3% e a esquerda vira-se (e o Ministro das Finanças que é Presidente do Eurogrupo, pasme-se, veio dizer que o Eurostat estava errado) contra o gabinete de estatística. 

Os 3.944 milhões de euros que foram injectados no banco público serão totalmente reflectidos no défice do ano passado, elevando-o para 3% do PIB. É um erro, diz a esquerda.

A esquerda o que diz? Diz que se excluirmos esse efeito o défice foi de 0,9%, abaixo da meta do Governo revista em Outubro que apontava para 1,4% de défice. Agora já conta o argumento que antes não contava para o Governo de Pedro Passos Coelho. Os contributos one-off já não são importantes.

Pensamento mágico e casas concretas

por henrique pereira dos santos, em 29.03.18

"Sempre pensei que a aversão de muitos à Matemática se materializa no horror à Economia. A Economia impõe balizas e limites às políticas e à discussão pública, tal como a Matemática impõe regras ao raciocínio. Quem não gosta de Lógica não pode gostar de Matemática, tal como quem prefere o pensamento mágico à análise objectiva dos factos não pode gostar de Economia."

Nestes últimos tempos tenho-me lembrado de ideias que estão muito bem sintetizadas por este parágrafo de Luis Aguiar-Conraria.

Talvez a melhor demonstração prática sejam dois artigos muito próximos de Fernanda Câncio que são o retrato de um mundinho "lesboeta" que tem uma representação claramente desproporcionada no espaço público, com reflexos na forma como se discutem políticas públicas e votamos, aceitando as fantasias que qualquer um nos vende, como se pode verificar olhando para as sondagens e o êxito da encenação do OE de 2017.

Não me passaria pela cabeça falar de um dos artigos, é só um compreensível panegírico em louvor de um amigo. O artigo confunde os clientes do Frágil e do Lux com o mundo, Portugal e Lisboa mas isso é apenas uma típica hipérbole das classes dominantes quando morre um dos nossos, não há muito a dizer sobre isso, a não ser sublinhar, para o quero dizer neste post, a ancestral confusão entre os interesses das classes dominantes e os interesses das pessoas comuns que é típica dos grupos sociais privilegiados: é sempre mais difícil reconhecer o outro quando se vive numa bolha social confortável.

O outro artigo é uma espécie de reportagem sobre as dificuldades dos clientes do Frágil e do Lux (estou evidentemente a exagerar, não é exactamente sobre estes clientes, mas sobre os grupos sociais que grosseiramente poderemos designar assim, aceitando esta descrição como uma caricatura) encontrarem casas decentes para arrendar, a preços decentes, nos sítios de Lisboa em que este grupo de pessoas acham decente.

Independentemente de termos um problema na definição de cada um dos "decentes" do parágrafo anterior, verdadeiramente relevante é o facto de, em nenhum momento, se discutir seriamente as razões dos proprietários para evitar ter as suas casas no mercado de arrendamento, tendo à cabeça o medo das dificuldades em se livrar de um inquilino que não cumpra as suas obrigações, para além do medo do Governo (qualquer governo) alterar as regras a meio do contrato e, por exemplo, estender o congelamento de rendas mais não sei quantos anos, como fez o actual.

Isto é, como diz o parágrafo que citei na entrada do post, toda a reportagem assenta num pensamento mágico sobre o que devem ser as cidades, independentemente da economia que as suporta, porque o drama, o horror, a carnificina (atenção, qualificar o mero efeito económico resultante da lei da oferta e da procura na qualidade de vida de grupos privilegiados como carnificina não é um exagero meu, é mesmo do artigo original, por interposta citação) é um conjunto de pessoas que ganham muito acima da média, e mais ainda acima da mediana, entrando mesmo nos 10% de redimentos mais altos do país, não poderem ter uma quinta com porta para o Chiado.

Pois bem, e isto deixa de ser mera literatura, a Senhora Secretária de Estado responde que pode haver pessoas com 3 mil euros por mês no programa da renda acessível. Programa esse que assenta em benefícios fiscais, isto é, para que pessoas que ganham 3 mil euros por mês possam ter uma casa mais próxima do que são os seus sonhos, pessoas que recebem o RSI têm de pagar mais IVA de cada vez que vão ao supermercado comprar um quilo de batatas.

A reportagem que fala sobre este drama, este horror, esta carnificina tem honras de chamada de primeira página, tal como a generalidade dos jornais que se pretendem nacionais fizeram as suas manchetes com a morte de um homem que terá sido notável (e acredito que sim) a fazer bares e discotecas elitistas em Lisboa.

Nunca fui ao Frágil, posso por isso ter uma ideia errada a partir das fotografias que circulam, mas do que vejo, as preocupações com os problemas da habitação do bairro do Aleixo entram tanto na reportagem citada como entravam chungas, pretos, indianos e chineses no Frágil e no Lux, sem que isso afectasse minimamente a consciência da beautiful people que os frequentava.

Será só coincidência?

Rio, Costa e o Anel de Rubi

por Vasco Mina, em 29.03.18

António Costa na entrevista dada à Visão esta semana: "Temos de distinguir o que são soluções de governo, e isso eu sempre achei que soluções tipo bloco central são negativas para a democracia, porque a empobrecem, diminuem a escolha que os eleitores têm para procurar caminhos alternativos. Num sistema partidário como o que temos em Portugal, necessariamente as soluções de governo serão polarizadas ou pelo PS ou pelo PSD e, portanto, a junção dos dois diminuía a possibilidade de geração de alternativas"

Sou um daqueles que aguarda para melhor entender a estratégia de oposição ao Governo por parte de Rui Rio, mas ao ler as afirmações, acima, de António Costa recordo da letra de uma música de outro Rui (também do Porto):

"A saliva que eu gastei, para te mudar.
Mas esse teu mundo era mais forte do que eu.
E nem com a força da música ele se moveu.

Mas tu não ficaste, nem meia hora.

Não fizeste um esforço para gostar e foste embora.
Contigo aprendi uma grande liçao.
Não se ama alguém que não houve a mesma canção.

Mesmo sabendo que não gostavas,
Empenhei o meu anel de rubi.
Para te levar ao concerto,
Que havia no Rivoli.

Foi nesse dia, que percebi,
Nada mais por nós havia a fazer."

Será que Rio ficará agora a perceber que não adianta “gastar mais saliva” com António Costa? Valerá a pena “empenhar o anel de rubi”, ou seja, colocar em causa a identidade e a alternativa do PSD?

Fazer História em cima da memória

por João Távora, em 28.03.18

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 Já não é a primeira vez que o deputado socialista Ascenso Simões, um político cujas opiniões invulgarmente livres em tempos ganhavam letra de forma neste jornal, vem à praça pública para, ao mesmo tempo, piscar timidamente o olho à Monarquia e deplorar os monárquicos. Foi esta a difícil pirueta que Ascenso Simões ensaiou no Público de ontem, na sua “Carta Aberta a Dom Duarte Pio”. Curioso como articulista vê monárquicos atávicos e passadistas mas a sua oportuna miopia não lhe dá a conhecer republicanos de um jacobinismo fossilizado na sua própria casa. Da Carta, porém, aproveitam-se ideias interessantes sobre o papel da Família Real Portuguesa e do nosso Príncipe na “república” que temos, a quem cumpre, nas suas palavras “continuar a fazer História em cima da memória”. Essa ideia é aliás defendida por muitos de nós, os mais pragmáticos no movimento monárquico, para quem importa, dada a agenda política tão avessa à questão do regime, afirmar o Senhor Dom Duarte, indisputado Chefe da Casa Real Portuguesa, como “rei dos portugueses”, epíteto cuja aceitação geral diria muito mais de nós, enquanto povo, do que do Senhor Dom Duarte.

Ninguém ignora a discreta mas determinada e persistente intervenção do Duque de Bragança em vários aspectos da nossa vida colectiva. O Senhor Dom Duarte tem dedicado a sua vida, uma vida cheia, ao serviço, à representação nacional, calcorreando o mundo português de lés-a-lés, percorrendo a expensas suas o país inteiro, do mais cosmopolita centro urbano ao mais remoto município. É um homem que vence distâncias, rumando a latitudes longínquas, a paragens onde nenhum político português pôs os pés, para poder estar com as comunidades que falam português ou se sentem parte integrante do nosso mundo lusíada. Fá-lo por sentido de dever, sem esperar qualquer reconhecimento público ou atenção mediática. O Senhor Dom Duarte faz, sempre fez, o que sente ser seu dever, alheio a quaisquer calculismos conjunturais. Não deveríamos nós, portugueses, sempre lestos na crítica, reconhecer a sorte de termos alguém que tão livremente honra a nossa História e cimenta as relações ancestrais entre pessoas de todos os continentes? O Senhor Dom Duarte é rei dos portugueses em razão do seu serviço, por mérito próprio. Poderia ser Rei de Portugal se, nós, portugueses, o quiséssemos. Sê-lo-ia, por virtude nossa.

Como em tempos disse a Ascenso Simões, as Reais Associações em que assenta a Causa Real são grupos heterogéneos, política e socialmente transversais que espelham a diversidade de que é feito o nosso País. O movimento monárquico não se dirige a nenhuma facção ideológica, classe social ou elite cultural. Dirige-se a todos os portugueses que se interessem pelos destinos de Portugal e entendam que só pode “fazer-se história em cima da memória”.

 

Publicado originalmente aqui

Desafinado

por henrique pereira dos santos, em 26.03.18

Porque a quantidade assombrosa de pessoas que acham muito útil que os médicos sensibilizem os doentes para os riscos das correntes de ar, em vez de receitar os antibióticos adequados à pneumonia que têm, resolvi fazer um artigo desalinhando da União Nacional de limpezas de matas que pretende ostracizar qualquer pessoa que tenha dúvidas sobre a bondade de pôr vinte membros do Governo e um Presidente a tentar explicar ao Ronaldo como se joga à bola.

Domingo

por João Távora, em 25.03.18

 Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

 

Logo que se aproximaram de Jerusalém, de Betefagé e de Betânia, junto do Monte das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos. E disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós; e, logo que ali entrardes, encontrareis preso um jumentinho, sobre o qual ainda não montou homem algum; soltai-o, e trazei- mo. E, se alguém vos disser: Por que fazeis isso? dizei-lhe que o Senhor precisa dele, e logo o deixará trazer para aqui. E foram, e encontraram o jumentinho preso, fora da porta, entre dois caminhos, e o soltaram. E, alguns dos que ali estavam lhes disseram: Que fazeis, soltando o jumentinho? Eles, porém, disseram-lhes como Jesus lhes tinha mandado; e deixaram-nos ir. E levaram o jumentinho a Jesus, e lançaram sobre ele os seus vestidos, e assentou-se sobre ele. E muitos estendiam os seus vestidos pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho. E aqueles que iam adiante, e os que seguiam, clamavam, dizendo: Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor; Bendito o reino do nosso pai David, que vem em nome do Senhor; Hosana nas alturas.

 

Palavra da Salvação

Facebook, um monstro de sete cabeças II

por João Távora, em 24.03.18

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A campanha eleitoral de Obama em 2012, para ganhar a Mitt Romney, utilizou os dados disponíveis pelo FB para identificar 15 milhões de eleitores susceptíveis de votar no candidato. Na altura, bem nos lembramos das loas tecidas às democráticas redes sociais pelos mesmos que hoje rasgam as vestes indignados com o "lapso" ocorrido com os metadados que “permitiram a manipulação” dos eleitores a favor de Trump com anúncios "direccionados". Perceberam agra o problema? 

É evidente que quanto maior forem as empresas mais elas deverão ser escrutinadas, e o Facebook deve ser obrigado a um especial cuidado com a informação que recolhe dos seus utilizadores e a sua utilização deve ser devidamente regulada. Em Portugal, por exemplo, a publicidade nas redes socias e nos media em geral é proibida a partir de 90 dias das eleições.  

A quem serve o alarmismo criado à volta da questão? Pela minha parte não vejo qualquer problema com o tratamento do meu rasto na internet para que eu aceda com mais facilidade a determinados conteúdos ou produtos. Dá ideia que por vontade desta oligarquia puritana voltávamos aos anos 70, em que a propaganda eleitoral se cingia aos dois canais de televisão oficiais e umas românticas noitadas a colar cartazes nas paredes. A quem interessa um poder central a definir o que são notícias verdadeiras ou falsas?

A cidade visita as serras com os criados à tiracolo

por José Mendonça da Cruz, em 24.03.18

Dizem-me que o Presidente da República, a convocação do governo de Costa que aceitou pressurosamente, vai por estes dias cortar mato perante câmaras de televisão para dois sítios. Falsas notícias, seguramente, para envergonhar o presidente e a nós, a quem ele preside.

Dizem-me que o primeiro-ministro, indignado com o relatório sobre os incêndios de Outubro que o retrata e ao seu governo como criminosos por negligência, fugirá espavorido por estes dias, acompanhado de vários ministros, para cortar mato perante as câmaras de televisão em sítios diferentes daqueles para onde convocou o presidente. Falsas notícias,seguramente, para envergonhar o governo e a nós por sermos alegadamente governados por este.

Dizem-me que os media irão por estes dias a correr atrás do presidente e do primeiro-ministro para os ver cortar mato em sítios diversos, e calcorrearão o país, e emitirão inúmeras reportagens atentas, venerandas e não obrigadas, antes voluntárias, a todas as horas e em horário nobre. Falsas notícias, seguramente, para envergonhar os nossos media e cavar mais a falência que temem e de que se queixam.

Modernices

por João Távora, em 23.03.18

Esta coisa do IPMA (a nova designação do ultrapassado Instituto de Meteorologia e Geofísica, como é bom de ver) dar nome de gente à mais pequena ameaça de temporal como se fora um furacão no Golfo do México tem graça ao princípio, mas quando houver uma borrasca a sério vão ter que lhe chamar um nome feio para dar nas vistas.

"Nascer, viver e morrer entre brutos é triste"

por henrique pereira dos santos, em 23.03.18

Um bom artigo de Fernando Alexandre que me deixou cheio de inveja.

É que, no fundo, no fundo, tudo aquilo que tenho dito e escrito sobre a gestão do fogo e da paisagem está, essencialmente, muito bem resumido aqui, num artigo que não é sobre o assunto.

"o que distingue as nações bem-sucedidas das nações que falham são as escolhas das sociedades. Isto é, as soluções de governação que encontram e as políticas que adoptam.

Ora, um dos riscos da incompreensão da natureza dos problemas da nossa economia [paisagem], e da não correcção no funcionamento das instituições e nas políticas económicas [de gestão do mundo rural], é ficarmos mais expostos aos choques do resto do mundo [às condições meteorológicas extremas]. Outro risco é o do agravamento dos problemas estruturais. E quando deixamos que isso aconteça com a pobreza e com as desigualdades [com as paisagens e o mundo rural] desistimos do progresso.

Depois de quase duas décadas a marcar passo e com o mundo em acelerada transformação, é exasperante a quase ausência de debate sobre as políticas e mudanças institucionais que temos de fazer para ultrapassarmos muitos dos atrasos que persistem na nossa sociedade e na nossa economia [e no nosso mundo rural]".

Limitei-me a pôr entre parêntesis rectos o que eu deveria ter sabido escrever para o que há a dizer sobre a gestão do fogo estivesse "claro, claro, mais claro que a clara de um ovo".

A grande manobra

por João Távora, em 23.03.18

Se a acção de propaganda do governo agendada para amanhã, que vai por os ministros de enxada na mão a limpar as matas, fosse realizada há quarenta anos, quando só havia dois canais de televisão que como a maior parte dos restantes órgão de comunicação social estavam sob o controlo do Estado, o seu sucesso era garantido: assistiríamos embevecidos a uma comovedora unidade nacional garantida em torno do pequeno ecrã, das rádios e dos jornais que dantes eram patrióticos e agora se chamam "de referência". O que nos vale é a modernidade dos nossos tempos com a diversidade de canais de televisão e rádio e jornais privados e a nossa RTP tão independente, tudo factores que garantirão a indisponibilidade de todos estes meios e os seus jornalistas profissionais para embarcarem numa mera acção de publicidade ao governo de António Costa.

Facebook, um monstro de sete cabeças

por João Távora, em 22.03.18

A vantagem do Facebook em termos comunicacionais é permitir-nos com recursos razoáveis direccionar a comunicação a um público-alvo determinado, do ponto de vista etário, geográfico e para um certo perfil de interesses. Por exemplo, em tese, o seu algoritmo permite à Juventude Monárquica de Lisboa direccionar as suas publicações para um público “amigável” e circunscreve-las à região da Grande Lisboa e um grupo etário definido com uma margem de erro aceitável. Considerar isto um problema ou uma a ameaça à privacidade das pessoas é uma enorme saloiice, uma paranóia quase infantil. Eu sou do tempo em que a maioria das pessoas tinham o nome, a morada e o número de telefone escarrapachados numa lista distribuída gratuitamente às centenas de milhar em quase todos os lares do país. Mas o que seria dos pobres de espírito sem os seus fantasmas e teorias da conspiração...

A comunicação social que temos...

por Vasco Lobo Xavier, em 22.03.18

De tempos a tempos a comunicação social queixa-se de que ninguém a vê, ninguém a lê, ninguém a ouve, ninguém a compra. E chora, chora, chora, lamentando-se do seu público alvo, que não presta. A comunicação social portuguesa nunca imagina nem admitiria que quem não presta é ela e que as pessoas não a vêem, não a lêem, não a ouvem ou não a compram porque não acreditam nela e porque ela não presta. Mas é assim mesmo.

Hoje ouvi na rádio (não sei se na Antena 1 se na TSF) que a Comissão Técnica que realizou o relatório sobre os fogos (e que afecta mortalmente o governo da geringonça) admitiu que havia “informação não totalmente correcta no relatório dos incêndios de outubro”, pondo assim em causa o seu próprio relatório. Achei estranho. Cheguei a casa e bisbilhotei os jornais na net e aparecia esse título em vários deles, até no Observador.

Fui então à fonte, por desconfiar da canalização, e apercebi-me que aquilo que foi dito, na verdade, foi que a Comissão não podia (obviamente) garantir que fossem verdadeiros os dados em que se baseou para elaborar o Relatório, mas apenas garantir que o seu Relatório se sustentou, todo ele, em “documentos oficiais”.

Ora isto é completamente diferente daquilo que os títulos e chamadas de atenção pretenderam fazer crer.

A comunicação social portuguesa lamenta-se porque ninguém a lê, a vê, a ouve e compra? Eu acho extraordinário é que neste país alguém a leia, veja, oiça e compre.

Incendiar o país para andar de metro

por henrique pereira dos santos, em 22.03.18

O país tem um bolo financeiro robusto, oriundo da União Europeia, para apoiar políticas de coesão.

Naturalmente, estas políticas de coesão pretendem ajudar as regiões mais pobres a aproximar-se dos níveis sociais e económicos das regiões mais ricas.

Seria por isso de esperar que:

1) resultando os incêndios de problemas económicos estruturais do mundo rural;

2) tendo esses problemas na base uma séria falta de competitividade das economias que poderão gerir combustíveis;

3) sendo essa gestão essencial para ganhar controlo sobre o fogo,

o governo, qualquer governo (a percepção da falta de coesão territorial como um dos problemas centrais do país é largamente consensual), se empenhasse em usar os recursos disponíveis para a coesão na promoção da competitividade das regiões mais pobres.

Pois não é nada disso que se passa, o que se passa é o que governo decidiu (e essa é uma decisão nacional de afectação de recursos comunitários, não é uma decisão de Bruxelas) que os fundos de coesão, em grande parte, devem ser usados para aumentar o fosso entre as regiões mais ricas e as regiões mais pobres, alocando-os ao financiamento dos metros do Porto e Lisboa.

Economia circular, descarbonificação e outros narizes de cera que tais são os argumentos invocados, como se não fosse possível ter políticas de descarbonificação, economia circular e outras que tais nas regiões mais pobres, por exemplo, no desenvolvimento de um verdadeiro sistema de transporte a pedido que evitasse as centenas de camionetas vazias a circular todos os dias em regiões de baixa densidade, ou a gestão racional do fogo, para reduzir as emissões de carbono, ou o aumento da matéria orgânica do solo e na complexificação dos povoamentos florestais autóctones para aumentar as suas funções de sumidouro de carbono, só para citar três exemplos.

A responsabilidade política sobre as consequências dos fogos não se mede pelo que se passou no dia 15 de Outubro (ou não é sobretudo aí), a responsabilidade política sobre os fogos mede-se no facto do governo ter feito uma escolha clara: prefere deixar arder o país onde não há votos, se for esse o preço a pagar por aumentar um pouco menos o preço dos bilhetes nos metros de Lisboa e Porto, onde se ganham as eleições.

Não nos deixemos iludir

por João Távora, em 22.03.18

A palavra “ilusionismo” utilizada neste artigo pela Helena Garrido é um adjectivo simpático para definir o governo de aldrabões que nos calhou em desgraça, aquilo ao que os portugueses têm direito e que, segundo as sondagens, gostam. A gestão à vista da conjuntura pela geringonça, se não nos acelera alegremente para o precipício, adia irresponsavelmente as reformas que o País necessita para ser sustentável. O maior truque do diabo foi convencer o mundo de que não existe. 

Talvez ao contrário

por henrique pereira dos santos, em 20.03.18

Todos nós achamos que não deveria haver mortes nas estradas provocadas por incêndios.

Por isso todos achamos também que nos devemos pôr de acordo sobre as acções que é possível executar para diminuir o risco de isso acontecer.

A esmagadora maioria das acções que têm sido defendidas com este objectivo partem de uma lógica de gestão florestal: os grandes fogos resultam de falta de gestão logo, conclui-se, é preciso levar gestão florestal para onde fizer falta, custe o que custar.

Por isso temos um conjunto de regras que pretendem transformar todas as estradas seguras para quem nelas circular, afastando os combustíveis que alimentam os grandes fogos, na demanda, vã, de trazer segurança para a circulação em todas as estradas, mesmo durante um grande fogo.

Nessa demanda, vã, que parte do pressuposto de que a vida humana não tem preço e por isso se justifica o "custe o que custar", retira-se da equação a discussão económica e social das medidas que estamos a pretender adoptar.

Economicista me confesso e por isso acho que mesmo em circunstâncias destas é preciso trazer os números para a discussão, sob pena de estamos sempre a tentar aplicar soluções para as quais, simplesmente, não existem recursos.

Significa isto que se os números (como penso intuitivamente, sem os ver de perto) demonstrarem a inviabilidade da loucura a que a lei nos obriga, eu passo a estar no campo dos que resignam à fatalidade de ver gente morrer nas estradas por causa de grandes incêndios?

Não, de maneira nenhuma, significa apenas que acho que devemos voltar à equação base do problema, para ver se não é possível equacionar o problema de forma diferente para obter o mesmo resultado, isto é, a diminuição do risco de haver mortos nas estradas em consequência de incêndios em condições extremas.

Voltando ao essencial, para que morra gente nas estradas é preciso que existam condições na envolvente da estrada que sejam favoráveis a fogos de elevada intensidade (o problema que temos tentado resolver e que acredito que é o caminho errado, não por não ser lógico, mas por ser inviável) e é preciso o segundo factor que temos esquecido no momento de fazer a equação do problema: que existam pessoas a circular nessa estrada, naquele momento.

O que eu gostaria de ver discutido, sem preconceito, são os custos e benefícios sociais de medidas de redução do risco da estrada por intervenção da gestão da sua envolvente, face à alternativa de termos acções para evitar que circulem pessoas nas estradas de elevado risco, nos momentos de elevado risco.

O primeiro tipo de medidas exige intervenção física em milhares de hectares (terei ouvido, sem ter possibilidade de verificar, que o conjunto de áreas que estamos a querer gerir estritamente por razões de protecção civil, andará pelo milhão de hectares, 10% do país), de uma forma que é inerentemente deficitária: as recomendações técnicas exigem perda de produção por espaçamento das árvores e potenciam os custos de remoção de combustíveis por redução do ensombramento e da competição entre plantas em diferentes estratos, uma combinação que pontualmente pode fazer sentido mas que, à escala da paisagem, e de uma paisagem globalmente deficitária, é um desastre económico impossível de financiar.

O segundo tipo de medidas exige sobretudo gestão de informação e comunicação, que não é menos difícil que a intervenção física, é certo, mas que parece incomparavelmente mais barata e socialmente mais útil. Nesta aproximação ao problema, o que é preciso é saber com rigor e precisão quais são as estradas e regiões em que há risco em caso de incêndio, e quais são as situações meteorológicas que podem materializar esse risco, dois aspectos relativamente fáceis e corriqueiros, associando-se esta informação ao que é verdadeiramente difícil e levanta problemas que eu não sei avaliar se são, ou não, irresolúveis: um sistema de comunicação que rapidamente faça chegar às pessoas de uma região esta informação quando o risco passar um limiar a definir.

Com esta aproximação ao problema não é preciso estar a drenar recursos do país a manter, durante trinta anos, com gestão de combustíveis cada quatro a cinco anos, uma situação de risco compatível com uma situação meteorológica extrema que se admita que ocorra três dias nesses trinta anos, mas produzir informação, socialmente útil de vários pontos de vista, que permita rapidamente bloquear a circulação umas dezenas de vezes, nesses trinta anos, sempre que a probabilidade de ocorrência de fenómenos meteorologicos extremos ultrapasse o nível pré-definido numa determinada zona.

Talvez valha a pena deixarmo-nos da demagogia do "tem de se fazer alguma coisa, custe o que custar, porque não se pode repetir o que aconteceu" e olhar fria e racionalmente para o problema, tal como ele é, e é grande e complicado, sem deixar de fora qualquer solução possível.

Às vezes é preciso dar passos atrás para ganhar balanço que nos permita saltar o obstáculo.

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Que a presidência de Bruno Carvalho tem reforçado a militância dos adeptos do Sporting isso parece-me um dado que confirmado pelas assistências aos jogos nos últimos anos. Assim como o ruído das claques que durante a última década acedeu às redes de “media social”, que tomou como um prolongamento dos rituais de apoio ao clube nas bancadas – os sportinguistas “fanáticos” andam mais motivados por estes dias, e isso é positivo, digo-o sem qualquer desdém: são eles (nós) que preenchem os lugares no estádio, pagam as quotas, contribuem para a Missão Pavilhão ou outra, compram merchandising para oferecer aos sobrinhos ou afilhados, e alguns ainda compram o Jornal do Sporting no quiosque e, imaginem, participam na vida associativa do clube.

O problema quanto a mim é que o Sporting não é sustentável só com este núcleo duro, chamemos-lhe assim, tem de se elevar para olhar mais longe e reconquistar as margens e periferias, para ser uma marca atractiva num universo mais lato. Acontece que, tão importante quanto os militantes, é o universo de simpatizantes mais ou menos desprendido que não assina canais pagos de desporto e só vão ao futebol muito ocasionalmente, mas que socialmente funciona como que um “farol leonino”: na família ou no trabalho assume a simpatia pelo seu clube mas sem grande compromisso, seja porque o desporto tem um lugar secundário na sua hierarquia de interesses, ou porque não está para se chatear com mais polémicas, intrigas e aborrecimento… e porque não tem grandes expectativas que o clube lhe devolva um pouco de entusiasmo que despendeu algures no passado sendo campeão. É com este última grupo que eu me preocupo mais: para além dos meus filhos eu “eduquei” os meus muitos sobrinhos para serem resilientes sportinguistas. Levei-os ocasionalmente ao futebol, ofereci-lhes o Cachecol que hoje ainda guardam, mas com os anos e anos seguidos de frustrações foram-se desligando. Aqui chegados, queixam-se que o Sporting, não se sagrando campeão, praticamente só dá nas vistas com as polémicas estúpidas que saem nas parangonas dos jornais e que são peroradas nas TVs.
É por tudo isto que estou convicto que o Sporting para sobreviver a longo prazo tem de aumentar e atracção dos simpatizantes mais ou menos desprendidos. É evidente que a conquista do título é a fórmula mais eficaz para tal desiderato. Mas há outras, como por exemplo uma comunicação amigável que os seja capaz de cativar, que não esteja fixada nos escândalos e guerrilhas mais ou menos artificiais que os polemistas, numa violência inaudita berram insanamente na televisão. O futebol não pode expulsar da sua órbitra as pessoas razoáveis, que não o vivem como se essa actividade fora uma guerra sem quartel em que os grunhos são preponderantes.

Desconfio que por estes dias a forte militância sportinguista esteja a mascarar este divórcio que se adivinha crescente e exponencial das pessoas normais com o futebol. Na minha modesta opinião, o Sporting tem de, urgentemente, elevar-se da lama comunicacional em que é tentado chafurdar e acautelar uma política que não afaste definitivamente da sua órbita os simples simpatizantes. Ou começar a pensar nisso, pelo menos.

 

Publicado originalmente aqui

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