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Eu não percebo nada deste tipo de coisas mas quando um presidente de câmara, com o ordenado que se conhece aos presidentes de câmara, sejam elas Lisboa ou Mogadouro, adquire uma palhota de mais de 600 mil euros e refere que foram os papás que ofereceram generosa e gratuitamente 200 mil euros para o sinal da brincadeira (ele e a mulher apenas adiantaram 20 mil para o negócio), a investigação da origem da massaroca não passa do feliz adquirente para a geração anterior, tão generosa?
Todos os anos vejo as entradas para a Universidade em arquitectura paisagista.
Este ano foi assim:
Universidade; Entradas; Nota
Algarve; 9; 10,3
Évora; 2; 11,7
Porto; 30; 12,8
Vila Real; 5; 12
Lisboa; 14; 11,5
Nos últimos anos tem sido sempre assim, Porto enche todas as suas vagas à primeira, Lisboa e Algarve mais ou menos, Vila Real, e sobretudo Évora, é o mínimo dos mínimos.
Há com certeza razões gerais (há mais gente a querer estudar no Porto, até por razões de proximidade, que em Évora), mas há também com certeza razões que se prendem com as opções de gestão associadas a cada uma das escolas.
Faço já uma declaração de interesses: Évora é a escola onde estudei, o Porto é onde vou mais vezes dar uma ou duas aulas num ano (houve um ano em que substituí uma colega minha na sua sabática), a Lisboa vou mais irregularmente dar uma aula de vez em quando, tal como a Vila Real (de maneira geral, de borla).
A única (talvez esteja a ser injusto com Vila Real, mas não tenho informação suficiente), das que conheço melhor, que é uma verdadeira escola é a do Porto, e é também aquela em que o esforço de recrutar pessoas qualificadas foi maior, bem como o esforço de integração entre os diferentes professores (é a única em que vejo professores ir assistir a aulas de outros professores quando há um convidado pouco habitual, por exemplo).
Tanto quanto sei, foi uma opção da escola funcionar assim.
A minha pergunta é se os reitores das outras Universidades, que têm cursos sem capacidade de atração, têm algum incentivo para puxar pelas suas escolas e procurar reproduzir o que, aparentemente, funciona nas escolas que são atractivas.
Suspeito que não e que, por isso, não é de admirar que alguns cursos, de algumas escolas, continuem centrados no seu umbigo e sem a menor capacidade de se renovarem.
Em alguns casos, olhar para o conjunto do corpo docente dessas escolas é um exercício deveras deprimente, não tanto pelas pessoas em si, umas jóias de pessoas, de maneira geral, mas simplesmente porque há trinta anos que fazem a mesma coisa, da mesma maneira e sem ambição para fazer nada mais que isso.
E o problema é que podem fazer isso durante trinta anos, sem que nada de relevante perturbe a sua paz laboral.
A academia e eu não somos propriamente os melhores amigos do mundo, de maneira geral ignoramo-nos mutuamente, mas tenho encontrado na academia do melhor e do pior do país.
O que mais me incomoda é o facto da academia não distinguir, pelo menos tanto quanto devia, uns dos outros e, demasiadas vezes, manter uma estranha complacência para com a mediocridade mais evidente.
Mesmo acompanhando os noticiários só de relance, deu para perceber que aqueles enfermeiros espalhados pelo País inteiro, em greve e vigília, não eram comunistas. Falta ali qualquer coisa: os controleiros, os megafones, a costumeira agressividade. Os enfermeiros têm as suas razões, se calhar têm toda a razão, parece que se sentem insultados pelo Ministro da tutela e dispõem ainda de Costa a fazer troça deles.
Por isso é que Costa, devidamente escoltado pelo PCP, tenta resolver o problema negociando com um único sindicato, por acaso afecto à CGTP, por acaso desapoiante da greve.
É o supremo paradoxo: as tropas de Arménio Carlos não promovendo manifestações anti-governo, o PS valendo-se delas, de olhos postos (todos) na aprovação do OE.
Poder, a quanto obrigas!
“Fonte oficial do executivo” disse ao Diário de Notícias que o “Governo vai fazer aprovar uma lei que proíbe jogos e espectáculos desportivos em dias de eleições”, uma solução à boa maneira de Kim Jong-un para educar o Povo. Agora a culpa da abstenção é do futebol? Então o Povo depois de um dia obrigatório de reflexão, não tem tempo para votar por causa de duas horas de bola? Ou o problema é das redacções dos jornais que ficam sobrecarregadas e os painéis de comentadores da TV confusos e dispersos com tanto acontecimento em simultâneo?
Não é fazendo das eleições um acto religioso que o regime se faz levar a sério e seduz a comunidade para o voto, a receita é outra, mais trabalhosa e de resultados mais lentos: fazer as pessoas sentirem-se verdadeiramente representadas pelos órgãos de soberania. E já agora, diz quem sabe que uma boa limpeza aos cadernos eleitorais também daria bons resultados na redução da abstenção.
Há uns anos, por razões que nunca percebi bem mas que acho que se prendem com o facto de ser pai de quem era, pediram-me para fazer umas crónicas numa revista de surf.
Ainda hoje me divirto a imaginar as reacções de vários surfistas que conheço às crónicas proto surrealistas que escrevi nessa altura.
Hoje, que o Frederico está nos quartos do CT dos EUA, e que continuamos a discutir o que acontece e acontecerá aos donativos para ajudar as pessoas na aflição do pós-fogo, resolvi recuperar este texto em que, sem ser explícito, comentava os treinadores de bancada que passavam o tempo a malhar no Frederico, e outros juniores, quando perdiam, como se perder não fosse muito mais provável que ganhar e condição necessária para aprender.
Eram sempre os mesmo discursos apocalípticos, cheios de certezas sobre os erros dos outros e sobre a impossibilidade de algum dia terem algum futuro no surf de alta competição, apesar de qualquer desses juniores, já nessa altura, terem feito muito mais no surf que qualquer um dos comentadores mais extremistas.
"O mundo dos outros
Ia eu a numa zona razoavelmente movimentada de Lisboa quando me deparo com um casal de patos reais a atravessarem a rua, também a pé, com o sinal encarnado para os peões.
Os carros pararam, o que aliás estranhei, porque não é costume, pelo menos sem uma forte buzinadela.
Depois de passarem uma segunda rua perpendicular à primeira, pararam debaixo de uma das amoreiras (a que não tinha estacionamento por baixo) e começaram um banquete de amoras.
Não pude deixar de me lembrar das ruas e jardins que tinha visto no Lobito e em Benguela, numa altura de nem guerra, nem paz, entre as duas guerras civis.
As cidades angolanas do litoral tinham crescido desmesuradamente, e as suas infra-estruturas eram claramente insuficientes.
À sua volta a banditagem não permitia grandes aventuras, e portanto a produção de alimentos e outros bens andava pelas ruas da amargura.
Nos primeiros dias fui-me acostumando aos pequenos montinhos de carvão no chão, à espera de comprador, às mulheres com molhos de lenha à cabeça, percorrendo quilómetros a pé para os trazer, às centenas de pessoas de volta do que tinha sido a casa de milhares de flamingos e era agora uma água imunda de que se retirava o sal que se ia formando nas margens e muitos outros pequenos pormenores que me lembravam permanentemente a miséria que me rodeava.
Mas o que realmente me trouxe à memória tudo isto foi a lembrança da resposta que me deram quando passados alguns dias perguntei o que explicava as árvores com a casca arrancada nos jardins públicos da cidade.
Com toda a naturalidade disseram-me que numa terra onde falta tudo, incluindo os medicamentos, era natural que as medicinas tradicionais prosperassem, usando a casca das únicas árvores existentes num raio de quilómetros: as das ruas e jardins.
Ao ver os patos empanturrarem-se de amoras das árvores de arruamento lembrei-me das fintas à miséria que com elas se poderiam fazer noutras partes do mundo.
Mas a verdade é que não é assim tão fácil. As amoras estão aqui. As amoreiras estão aqui e são plantadas e mantidas por este modelo de sociedade. Não é fácil apanhar as amoras e pô-las onde fariam mais falta.
Com certeza é possível um melhor uso de recursos que acabam por faltar noutros lados, mas o que é verdadeiramente difícil é fazer os daqui conhecer os de lá e os de lá compreender os de cá.
O mundo dos outros parece-nos sempre tão simples.
Lendo revistas de surf, lendo blogs, comentários e etc., temos bem a demonstração de como é fácil dar opiniões, ter soluções e certezas em relação aos que os outros fazem e ao que se devia fazer para tudo dar resultados maravilhosos.
É mais ou menos como os do mundo das amoras pelo chão terem uns rebates de consciência, juntarem uns quantos euros que mandam, com a melhor das intenções, para o mundo dos das árvores descascadas pela miséria.
O que se espera é que mesmo que os problemas não fiquem resolvidos, pelo menos se aliviem as dores de quem pena na dura faina andar 15 kms, juntar o que fôr possível de pauzinhos, pôr um molho de lenha à cabeça, andar outros 15 Kms, preparar mais um montinho de carvão para vender e enganar a fome e a doença, antes de voltar ao mesmo noutro dia.
Mas podem esperar em vão. O mais natural é que o dinheiro siga por um atalho e acabe no bolso de quem já hoje não precisa. Quando se atira dinheiro para cima de um problema, o mais certo é que uma das duas coisas desapareça, mas raramente é o problema.
A verdade é que é preciso ir lá. A verdade é que é preciso conhecer quem lá está. A verdade é que é preciso conhecer bem o mundo dos outros para conseguir encontrar os mecanismos e os canais que asseguram que o dinheiro realmente chega onde faz falta.
Foi o que fez Mouhammad Yunus quando inventou o microcrédito: pequenos passos, pequenas mudanças, pequenas mudanças mas com as pessoas certas, nos sítios certos e sem fantasias de grandes obras estruturantes, de decisões históricas, de investimentos estratégicos de interesse nacional.
E eu, que não percebo nada de surf mas vivo numa casa onde é preciso ter atenção e verificar se o que parece um novo queijo no frigorífico não é apenas uma barra de wax que alguém não quer mole, pergunto-me se grande parte das pessoas que têm certezas, ideias maravilhosas, opções infaliveis, invariavelmente sobre o mundo dos outros, sabe mesmo como o mundo dos outros é tão difícil, complicado e falível como o nosso."
Nas próximas autárquicas António Costa está em muito maus lençóis.
É praticamente impossível repetir a vitória esmagadora de Seguro nas últimas autárquicas, Medina diminuirá a votação do próprio Costa em Lisboa, no Porto o resultado será provavelmente aquém do das últimas eleições, no Minho anda tudo à batatada no PS, Sintra está por um fio, Canavilhas e Maria de Medeiros, respectivamente em Cascais e Almada, dificilmente terão resultados brilhantes (e deixemos Loures no seu canto), etc..
No dia das eleições, e mais ainda no dia seguinte, Costa será matematicamente vencedor, mas terá de lidar com a percepção geral de um resultado poucochinho, com um pequeno crescimento à direita e à esquerda que não reforçam a sua legitimidade.
Sendo assim, por que razão anda Costa a apregoar em todo o lado que estas eleições são também para dar legitimidade e força a esta solução de Governo?
Há uma explicação simples: Costa quer fazer eleições agora, e não daqui a dois anos, e portanto vai dizer, como agora diz, que é preciso uma legitimidade reforçada do Governo para negociar o próximo quadro de apoio, que as autárquicas, embora tendo sido uma derrota para a direita, não foram claras desse ponto de vista, portanto demite-se e Marcelo convoca eleições para aproveitar o pico de popularidade de Costa que agora se verifica nas sondagens e que não é linear que se venha a manter no futuro, ganhando as eleições, forçando o PSD a substituir Passos Coelho e arrancando para quatro anos de bloco central, com Costa no comando.
Estes cinco parágrafos que escrevi não têm interesse nenhum, são uma mera especulação sobre o futuro e sem qualquer interesse para a vida diária das pessoas comuns.
E, no entanto, com maior ou menor elegância argumentativa, grande parte do que se lê nos jornais, quer nos comentários, quer mesmo nas notícias, são coisas destas, em vez de coisas que possam alimentar o debate sobre a substância das políticas.
Eu não entendo como chegámos aqui e como os jornais e televisões acreditam que é a amplificar este tipo de conversa de café que vão deixar de dar prejuízo e criar emprego.
Bruno de Carvalho não devia menosprezar os comentários de gente insuspeita que se têm publicado na comunicação social a propósito da malfadada entrevista que se autoconcedeu na semana passada ao canal do clube durante quase duas horas e meia. Nesta altura do mandato já duvido que servisse para alguma coisa, mas talvez fosse pedagógico obrigar o presidente a ver integralmente a gravação da sua entrevista. Eu não fui capaz, tive de mudar de canal, muito envergonhado, como se fora eu a fazer aquela figura. Este é um assunto que me incomoda verdadeiramente, que mina o meu orgulho no meu Sporting.
Depois, já sob um prisma mais acima de educação e subtileza, pergunto o que autoriza um presidente que manda construir uma estátua junto ao novo pavilhão, a gravar na pedra uma citação de si próprio se não um egocentrismo desmesurado? Terá Bruno Carvalho receio que os seus sucessores não lhe reconheçam a obra? Não teria sido mais honroso que outros o citassem um dia gratos?
Se é inegável que a gestão de Bruno Carvalho tem alcançado entusiasmantes conquistas para o nosso clube, desde logo a valorização dos activos, a competitividade da equipa principal e a consequente mobilização dos adeptos, tal não deveria autorizar a incontinência verbal do presidente que aparenta laivos patológicos, que muito o fragiliza e desacredita, e espero não chegue ao balneário – principalmente aí era importante que se preservasse a autoridade do seu cargo. Para mais, suspeito que com tanto despautério e fanfarronice, a tolerância dos adeptos em face um hipotético fracasso seja zero. Com “amigos” assim, quem precisa de inimigos?
Publicado originalmente aqui
Por acaso ouvi partes do discurso de António Costa na apresentação do candidato do PS à Câmara de Coimbra, e transcrevo uns pedacitos:
"E com toda a sinceridade, virem falar do aumento dos impostos indirectos ... é ignorar este pequeno dado singelo: é que o memorando da troica só obrigava a aumentar em 400 milhões de euros a receita do IVA ... pois apesar da meta ser só 400 milhões é o melhor exemplo de onde fomos além da troica porque a receita obtida com o gigantesco aumento do IVA, foi dois mil milhões de euros, muito para além daquilo que a própria troica exigia".
Fui verificar de onde vinha esta informação que era evidentemente um bom exemplo da prática de torturar os dados até que digam o que queremos.
Creio ser de um trabalho do Público sobre os três anos da troica, algures em Maio de 2014.
Nesse trabalho está o memorando comentado.
No seu ponto 1.23, o Memorando diz "Aumentar as receitas de IVA para obter uma receita adicional de, pelo menos, 410 milhões de euros durante um ano fiscal inteiro" e no comentário do Público, de 2014, é dito "Alterações do Governo ao IVA desde 2011 rendem encaixe superior a 2 200 milhões de euros".
Percebemos então que António Costa confunde o limite mínimo do objectivo a atingir num ano com o seu limite máximo e depois compara o valor mínimo para um ano com o valor obtido em três anos.
Omite que o enorme aumento de impostos resultou da decisão do Tribunal Constitucional que impediu o cumprimento do Memorando em matéria de contenção da despesa da administração pública "1.9. Assegurar que o peso das despesas com pessoal no PIB diminua em 2012 e em 2013", em consequência do que sempre esteve previsto no Memorando de Entendimento "Se os objectivos não forem cumpridos ou for expectável o seu não cumprimento, serão adoptadas medidas adicionais".
Ou seja, o único pequeno dado singelo relevante é que António Costa pode dizer o que quiser, incluindo retintas mentiras como esta, porque é do lado certo do espectro político e porque a imprensa estará mais interessada em apimentar títulos (um bom exemplo é o recente título de uma entrevista do Ministro da Defesa em que o DN acha normal retirar da frase do Ministro "por absurdo" para não estragar uma frase bombástica que dá uma manchete bem apimentada), que em fazer o que deve: escrutinar verdadeiramente o que é dito como forma de aumentar o custo político da mentira e da manipulação, pressionando os políticos para um debate público mais factual e menos manipulador.
E, já agora, demonstraria a utilidade da imprensa, devolvendo-me o tempo que perco a verificar as parvoíces que são ditas pelos chefes partidários, o que justificaria o dinheiro a pagar por um jornal, aumentando a probabilidade dos jornalistas manterem o emprego e serem bem pagos.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».
Palavra da salvação.
Segundo o PR, é a direita. Isto porque, apesar do virar à direita ser “coisa que eu em Portugal já não faço há algum tempo”, a dita área política não nota quando o Prof. Marcelo se lembra de fazer tal movimento. Presume-se que o Prof. Marcelo entenda por direita o espaço político ocupado pelo PSD e o CDS-PP. Assim sendo, a direita estava bem acordada quando nele votou nas eleições presidenciais mas agora adormeceu. Porquê? Será que a direita não nota mesmo neste (raro) movimento do Prof. Marcelo? Ou será que é o próprio, que tanto à esquerda tem virado, que ainda não notou que, de facto, não virou, nem pontualmente, à direita?
José Rentes de Carvalho discorre aqui sobre o fascínio dos aeroportos, das estações de comboios e das urgências dos hospitais. Os três são cenários de espera, de chegadas e partidas. O aeroporto exala uns laivos de euforia e mundanidade que não tem paralelo na plataforma da estação dos comboios, melancólica e proletária. De resto é nas urgências de um hospital, que a pobreza e o precário sobressaem na paisagem humana, e o olhar dos outros nos espelha despidos de máscaras e artifícios... mas com a inocência perdida.
A Igreja celebra, na liturgia de hoje, Santa Teresa de Calcutá. Faleceu há precisamente 20 anos em 05 de Setembro de 1997, poucos dias após o trágico acidente de automóvel da Princesa Diana que a vitimou. Madre Teresa foi, talvez, no Sec. XX, a maior testemunha do que é a Caridade. A sua obra é conhecida e reconhecida em todo o Mundo e fundou uma Congregação – “Missionárias da Caridade” – que deu e continua a dar continuidade à sua Obra. São muitas as intervenções públicas que fez ao longo da sua vida e recordo, muito especialmente hoje, esta sua afirmação: “Tudo o que não se dá, perde-se!”
Não por acaso, em 2012, a ONU instituiu o Dia Internacional da Caridade nesta data. Curiosamente, mas sem surpresas, a comunicação social (com excepção da Rádio Renascença) não faz hoje qualquer referência nem à efeméride, nem Madre Teresa de Calcutá nem ao Dia Internacional da Caridade. Por contraste, fomos inundados de notícias, artigos, reportagens sobre a Princesa Diana. Saliente-se que ambas se estimavam mutuamente e a Madre Teresa morreu quando se preparava para uma celebração em memória da Princesa Diana. Tenho, ainda que por motivos distintos, a maior estima por estas duas personagens; mas, confesso, sinto tristeza (e até alguma revolta) pela publicidade que a uma delas se faz e a condenação ao esquecimento relativamente à outra.
O nosso sistema republicano faz com que o Chefe de Estado emerja da liderança de uma facção política - parece que é o que o pagode gosta, mas tal nunca foi comprovado. Nenhum dos nossos presidentes ou ex-presidentes o pretenderam disfarçar, muito menos após os seus mandatos, quando voltaram para o seio dos seus partidários sem se isentarem de intervenção sectária – Mário Soares foi disso o exemplo mais despudorado. Por isso Faz-me confusão as virgens ofendidas e a crítica cerrada à intervenção de Cavaco Silva na universidade de Verão do PSD pelos comentadores das TVs, unanimes, sem qualquer contraditório, diga-se.
Julgava que era como cuspir para o chão, tinha felizmente desaparecido no Portugal actual. Mas não, por cá nunca podemos dar nada por adquirido e nos últimos tempos sou frequentemente sobressaltado com canos de escapes extremamente ruidosos, quase sempre de motos. Os problemas que isto causa numa sociedade civilizada são tão evidentes que me dispenso de enumerá-los. Parece que, além de absoluta falta de civismo e de bom gosto, são também sintomas de impotência sexual e de imbecilidade, segundo especialistas que já vi citados. E são também ilegais, mas isso em Portugal não quer dizer nada.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».
Palavra da salvação.
Esta é a fotografia da casa portuguesa, com certeza. Ao centro - em espontânea saudação fascista que deixa à mostra o bracinho branco, sem tónus nem manga de camisa - o suspeito de corrupção, fraude fiscal, branqueamento de capitais, recebimento indevido de vantagem, tráfico de influências e falsificação de documento. O homem que sabedoria política e literacia financeira do povo elegeram duas vezes Primeiro-Ministro: José Sócrates. Os jornalistas avençados aclamaram-no como animal feroz. Justamente. Nunca, sem ferocidade e apetite desmesurados, se concretizariam as suspeitas acima. Os jornalistas avençados celebraram o seu enorme dinamismo. Com justiça. Não conseguiria nem um défice de 11% - que os avençados juravam ser menos de 5% - nem uma bancarrota nacional quem não fosse dinâmico. E pressente-se-lhe o carisma. Ao menos o carisma suficiente para convencer os convertidos por avença, os cúmplices, os ignorantes, os iletrados e o gado ovino em geral. Foram maioria absoluta da primeira vez e mais de 39% da segunda. O nosso retrato.
Junto ao braço esquerdo do herói caminha – como soe dizer-se – um idoso. Foi um dos responsáveis pela implantação em Portugal de uma democracia representativa em economia de mercado. Contribuiu muito para esse feito. Ficou a seu grande crédito. Mas ao tempo desta fotografia, já não lhe devemos nada. Nesta fotografia já traz a boca aberta das dificuldades cognitivas, e a expressão perplexa com que, em fim de vida, renegou tudo e atacou «o capitalismo selvagem», o «imperialismo americano», os «privados» horrorosos, o «casino» dos mercados, e tudo quanto cheirasse a liberdade económica, social e política. Regrediu às ilusões e palermices da adolescência, como muitos senis fazem.
Sob o sovaco do herói segue um homem habilidoso, Costa, menos obeso do que é na actualidade, o sorriso ainda sem o esgar trocista, os beiços menos untados e ávidos. Mas já sonha suceder, e, por poucochinho e linhas tortas, sucederá. Na sua confusão de conceitos e na sua certeza das causas, os avençados chamam-lhe «hábil». É uma corruptela – passe a expressão sem segundo sentido. É, na verdade, habilidoso. Tem que ser habilidoso quem, durante anos, é braço direito e ministro do suspeito sem nunca suspeitar de nada. Tem que ser habilidoso quem, participando convicta e largamente na propagação da peste financeira, culpa a terapêutica pelas desgraças da falência. Foi habilidoso quem, com poucochinhos resultados eleitorais, equilibrou uma aliança que tem, num dos pratos, a sua sobrevivência pessoal, e, no outro, a entrega de sectores da sociedade e da economia a forças minoritárias e retrógradas.
Ao lado direito extremo da fotografia vai um tipo qualquer.
Falta um companheiro de estrada, uma figura - Marcelo, vindo para tirar uma selfie, alacremente.
Atrás dos três homens da primeira fila, mais abaixo, no putativo rasto de puns e mau hálito, fora de vista, agitados, saídos de debaixo de pedras ou pululando sobre fezes caninas avulsas, vão aos gritos os Galambas, os Cabritas, as Câncios, as Mortáguas, as Catarinas, os Teixeiras, os Baldaias e os avençados em matilha. Rosnam a quem não se junte à festa, mordem a quem descreia dela. A mesma fé de 2010.
Vem, depois, a mole indistinta (guarda-costas à parte) dos que apreciam ter um ministro das finanças para quem qualquer português que aufira mais de 1300 euros brutos mensais é altamente privilegiado. A mole invejosa concorda. A mole vive com 600 euros. Está contente, é maioria, sonha com «apoios do Estado» a que nunca chama o dinheiro dos outros. Vai vivendo, em vez de viver. Não ambiciona mais, não ambiciona muito. O que quiseram e não têm foi decerto por culpa dos outros, do liberalismo selvagem, dos privados, dos casinos, dos capitalistas, dos americanos, dos alemães, da vida. Basta-lhes o crédito para as férias, a praia de todos, esta política para as pessoas e um aumento de 50 cêntimos, a folga entre o abate do pau, uma vitória do Benfica.
Esta outra fotografia é um corolário. A reversão «estratégica» da TAP contentou sindicatos e fileiras de idiotas úteis. As reversões na educação e nos transportes devolveram verbas e protagonismo a parasitas. A reversão da reforma do IRC proclamou o programa: tirar aos produtivos para dar aos instalados. Uns tostões dados a parvos (parvos, do latim) alegraram-nos, e foram sobejamente compensados por aumentos de impostos em que os mesmos parvos não reparam. Outros agravamentos de impostos contaram com o apoio de legítimas herdeiras dos assaltos, das que querem ir buscar dinheiro aonde ele está. A dívida de Estado (a subir em flecha), empresas (estável), e privados (em queda) atinge os 725 mil milhões de euros. Mas é invisível para a mole, e os avençados só veem aquilo que lhes pagam para ver. E, por fim, a modernidade, a rentabilidade, o emprego, o contrato social da AutoEuropa, foram invadidos pelo que se vê na fotografia: o atraso, o bafio dos legítimos (embora não únicos) herdeiros de tiranos, assassinos em massa, torcionários e devastadores de economias. Eis o bafio, o sarro das cabecinhas comunistas, eis o negócio subscrito por Costa e acolhido pela mole, espelhados neste folheto. Uma das maiores empresas portuguesas, um dos maiores contribuintes para o PIB, um dos maiores empregadores e praticante de salários e regalias muito acima da média, é, afinal, para estes fósseis, o «trabalhador» com grilhetas, o «patrão» de chapéu alto em cima da bola de ferro que o agrilhoa. A mesma demagogia, o mesmo rumo à ruína. A mesma fé de 1917.
São fotografias portuguesas. Estas fotografias somos nós.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
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Tresanda a cheiro de água benta, que de resto é o ...
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Passos tentou!?Aumentou impostos, criou novos. Alg...