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Se o Senhor Presidente tivesse parado no momento em que fala do apoio ao leite português, teria mais razão de ser a sua participação numa campanha, embora não se percebesse por que razão não participaria numa campanha de apoio ao tomate português, à pera rocha portuguesa, ao azeite português, ao eucalipto português, aos lápis de cor portugueses, aos restaurantes portugueses, ou a qualquer outro sector económico português.
Mas o Senhor Presidente entende que deve apoiar a produção de leite em si mesma, argumentado que é muito importante para as crianças, jovens e para todos os sectores da sociedade.
Confesso que não entendo como em 2017 ainda se usa esta argumentação para apoiar a produção intensiva de animais, uma das mais insustentáveis actividades económicas que existem, com consumos de água e energia brutais e com impactos ambientais a jusante, nomeadamente nos solos e nas águas, que representam um custo brutal para a sociedade.
Note-se que a evolução das rodas de alimentos e das pirâmides alimentares recomendadas têm vindo a reduzir drasticamente o incentivo ao consumo de leite, mesmo das crianças. Aos jovens não faz falta nenhuma, podem beber leite, como eu bebo, porque gosto, mas não há nada de intrinsecamente bom para a saúde no consumo de leite por jovens e adultos, bem pelo contrário, quando o consumo não é limitado ("It recommends limiting milk and dairy to one to two servings per day, since high intakes are associated with increased risk of prostate cancer and possibly ovarian cancer").
Por isso, Senhor Presidente, tenho uma sugestão a fazer-lhe: deixe os produtores de leite a competir no mercado, deixe-me a mim, consumidor, premiar, ou não, os seus esforços para aumentar a sua sustentabilidade, deixe-me a mim, consumidor, decidir a quantidade de leite que me pareça adequado consumir, deixe-me a mim, consumidor, premiar os produtores que optem pela produção extensiva.
Se acha mesmo que deve entrar em campanhas para apoiar produtores portugueses, acho que seria bom ter todo o seu peso institucional a apoiar produtores portugueses que, para além dos produtos que apresentam no mercado, produzem também bens difusos socialmente úteis.
Tem agora uma oportunidade de ouro: entre, ou promova mesmo, uma campanha para desviar os apoios públicos à produção de bens e serviços de mercado para o apoio ao pagamento de serviços de ecossistema, como a gestão dos fogos, por exemplo.
Não vale muito a pena fazer platónicas declarações de amor aos que resistem a viver imersos em barris de pólvora criados pela falta de gestão e de competitividade das fileiras económicas que podem gerir o risco de fogo e, à primeira oportunidade, abandoná-los para concentrar apoios públicos em fileiras que têm mercado e que produzem externalidades negativas da dimensão das que são produzidas pela produção intensiva de gado.
Pense duas vezes, Senhor Presidente, os produtores de biodiversidade, os reguladores dos ciclos de nutrientes e da água, os gestores de paisagens ricas e diversas precisam bem mais de si que os produtores de leite.
Num zapping matinal, passei hoje distraidamente por parte de um discurso de Medina, pessoa que não me interessa para nada. Nesse momento, dizia o homem que pretendia mexer nas rendas das casas (não percebi como) de forma a que a “classe média” pudesse viver nas zonas históricas de Lisboa.
A “classe média”, esclareceu ele, era a que recebia, por agregado familiar, 700 a 1000 euros mensais. Depois subiu a coisa para os 1200 euros mensais.
Se, no entendimento dos socialistas, isto representa a “classe média”, coitadinhos dos pobrezinhos. Mas não vi, durante o dia todo, ninguém a incomodar-se com isto. Nem jornalistas, nem comentadores, nem políticos, da esquerda à direita, ninguém!
Este tipo goza com o pagode… E o pagode gosta e ainda vai votar nele. Ainda bem que não vivo em Lisboa.
Deixaram este comentário ao artigo do Jornal Económico sobre as propostas do candidato socialista para Lisboa , em que propõe, entre outras coisas, para fomentar o arrendamento de longa duração, "que seja reduzida a taxa liberatória de IRS que hoje os proprietários pagam quando têm uma casa arrendada, e que hoje está nos 28%, para 10%, para contratos de arrendamentos a 10 ou mais anos":
«Quer reduzir a taxa liberatória para contratos de arrendamento por 10 ou mais anos... mas ninguém lhe explicou que isso não existe? Os contratos são feitos por um ano, renováveis anualmente. Quem é o inquilino que se vai comprometer a ficar por 10 anos numa mesma casa arrendada?»
«Mais 200 Km de ciclovias... mas ele ainda não viu que as ciclovias estão às moscas? A taxa de utilização é baixíssima».
«Quer menos carros em Lisboa e aí está a conseguir. Vai haver menos carros às custas de expulsar as famílias de classe média da cidade».
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A Renascença fez uma peça interessante em que junta declarações sobre os fogos deste ano, feitas por antigos ministros com tutela na área da floresta, sendo Capoulas dos Santos ao mesmo tempo antigo e actual Ministro.
Capoula dos Santos, que, modestamente, se equiparou a D.Dinis, na vastidão da sua reforma florestal, faz afirmações extraordinárias que merecem atenção.
Capoulas dos Santos "considera o lançamento de equipas de sapadores florestais a medida mais marcante da sua anterior presença no Governo e refere que, embora muito criticada na altura, hoje "todos" dizem ser peça-chave na prevenção dos incêndios".
Confesso que não faço ideia de quem são os todos que dizem ser os sapadores a peça-chave na prevenção de incêndios, mas posso explicar por que razão eu não faço parte desses todos, procurando não repetir muito os argumentos que já me fartei de usar noutras alturas.
Suponho que o Senhor Ministro estará a dizer que os sapadores florestais são a peça-chave da prevenção porque fazem alguma gestão de combustíveis.
De acordo com os relatórios do ICNF sobre o assunto, a área média de combustíveis tratada anualmente por equipa de sapadores florestais é de 40 hectares. Saltemos por cima da primeira pergunta imediata: sabendo que muitas equipas tratam o dobro destes 40 hectares, o que fazem as outras? Ver este post, de 2009, e respectivos links do primeiro parágrafo, para ficar com uma ideia.
Portugal tem cerca de 6 milhões de hectares de espaços florestais, dos quais mais ou menos três milhões são matos e os outros três milhões povoamentos florestais.
Embora o que mais arda em Portugal sejam matos, a verdade é que as perdas económicas, e os fogos mais trágicos, são os que se desenvolvem em povoamentos (saltemos por cima da relação entre matos e povoamentos na gestão do fogo, para não complicar).
Admitamos então que o essencial é gerir o fogo em três milhões de hectares. Para isso, é preciso gerir combustíveis em cerca de 20% dessa área. Admitamos que é preciso fazer uma intervenção de gestão de combustíveis de cinco em cinco anos.
Com estes pressupostos, muito conservadores em relação ao que é preciso fazer, até por deixarem três milhões de hectares de matos sem gestão activa do fogo, precisamos então de, anualmente, intervir em 4% de três milhões de hectares, ou seja, 120 mil hectares.
Para isso Capoulas Santos propõe como medida estrutural, ter 500 equipas de sapadores, tratando uma média de 40 hectares, ou seja 20 mil hectares. Vamos admitir um aumento de eficiência para mais do dobro (100 hectares/ ano, por exemplo), Capoulas dos Santos assume que toda a gente está de acordo, começando pelo próprio, que tratar 50 mil hectares de combustíveis por ano, dos pelo menos 120 mil necessários, deixando sem gestão um terço do território que são matos, é a grande medida estrutural de gestão dos fogos em Portugal.
O que me espanta não é que um sociólogo tenha esta opinião sobre a gestão de um problema que não tem grande obrigação de conhecer, o que me espanta é o genuíno espanto de milhares de pessoas, começando em dezenas de jornalistas, pelo facto de Portugal arder como arde quando estas são as bases da gestão política do problema.
Há, no entanto, uma afirmação ainda mais reveladora da raiz de uma política de gestão de fogo desastrosa: a profunda ignorância.
""Penso que, nos últimos dois ou três séculos, foi o único período em que a área do montado aumentou em Portugal. Nessa altura, sustivemos o declínio do montado e invertemos a situação - o montado passou a crescer", um trabalho que Capoulas Santos indica como aspecto mais positivo.
Nos últimos 15 anos, "fui assistindo ao crescimento dos sobreiros", salientou o ministro, referindo-se a estes temas - a criação dos sapadores florestais e a aposta no montado -, como "as marcas" de que se pode orgulhar".
Eu sei que Capoulas dos Santos é um sociólogo de formação e a sua carreira profissional é a de político profissional apoiado na maçonaria, não tem portanto nenhuma obrigação de saber o que quer que seja sobre evolução da paisagem.
Mas acho estranho um sociólogo de Montemor o Novo, sempre ligado ao mundo rural e às políticas agrícolas (mais precisamente, ao dinheiro associado às políticas agrícolas que, apesar de tudo, é uma especialização diferente), nunca tenha lido José da Silva Picão, Mariano Feio, os textos clássicos sobre as transformações do Alentejo no século XIX, na sequência da extinção das ordens religiosas, ou sobre as transformações das políticas de protecção da cultura cerealífera.
Se tivesse lido qualquer coisa sobre o assunto, saberia que o montado se justificava economicamente pela produção de porco (o que desde logo significa que o montado de azinho era muito mais interessante que o montado de sobro), que o interesse pela cortiça é relativamente moderno (o abade de Dom Pérignon só no fim do século XVII, princípios do século XVIII, iniciou o processo da valorização da cortiça na produção de champanhe, e passaram muitos anos até que isso se traduzisse numa verdadeira inversão de valor entre o montado de azinho e sobreiro, que só se tornou esmagadora com a entrada da peste suína africana em meados do século XX, que liquidou, por muitos anos, o porco de montanheira em Portugal e reduziu drasticamente o valor do montado de azinho).
Mas, acima de tudo, teria reparado que o Alentejo (e grande parte do Ribatejo), era ocupado por charnecas imensas que apenas a produção de cereais de fins do século XIX e princípios do século XX veio alterar, trazendo à boleia a portentosa expansão do montado, quer de azinho e de sobro.
Pois bem, a peculiar visão do mundo de Capoulas dos Santos permite-lhe dizer, sem se envergonhar, que é a sua acção como Ministro da Agricultura que provoca a maior expansão do montado nos últimos dois ou três séculos, demonstrando-se mais uma vez que a ignorância é mesmo muito atrevida.
A mesma ignorância e estranha visão do mundo que lhe permite contabilizar como um grande êxito a sua política de prevenção que visa "suprimir os fogos florestais" com base em 500 equipas de sapadores florestais, êxito esse que é claramente visível na capacidade de supressão dos fogos demonstrada este ano.
"Vós que entrais, abandonai toda a esperança".
Na reportagem "O paradoxo da Igualdade" que aqui partilhei há dias, faz-se referência a um estudo que demonstra que nos países mais desenvolvidos e livres - como é o caso da Noruega, as mulheres assumem mais profissões e actividades tradicionalmente femininas (jardins de infância, hospitais, assistência social, etc.) do que em países como o Paquistão ou a Índia em que elas são condicionadas pela necessidade de sobrevivência. Afinal o Igualitarismo sucumbe perante a Liberdade de Escolha que confirma os estereótipos. Acontece que o género é essencialmente uma condição biológica, mais do que cultural - facto que não nos retira a responsabilidade de continuar a luta pelo que falta para uma plena igualdade de direitos entre homens e mulheres.
O que este episódio dos blocos de actividades da Porto Editora nos esfrega na cara é uma história velha que se repete e em que os actores são os mesmos: radicais que querem impor uma "igualdade" à conta da nossa liberdade.
É importante conhecermos o veneno que nos ameaça de morte. É importante resistirmos. A ler esta crónica amarga de Maria João Avillez.
Catarina diz que a Altice se apresentou no país dizendo que não gostava de pagar salários.
É mentira, mas isso é irrelevante para a imprensa.
Costa diz que todos os dias Passos Coelho diz mal dos bombeiros.
É mentira, mas isso é irrelevante para a imprensa.
Costa diz que a oposição acordou para a floresta com o fogo de Pedrogão.
É mentira, mas isso é irrelevante para a imprensa (para quem tenha dúvidas, bastam cinco segundos de pesquisa no google para encontrar propostas de CDS para créditos fiscais para investimento na floresta, por exemplo, ou propostas sobre cadastro há muito tempo atrás. Eu acho estas propostas pouco relevantes, mas isso é outra discussão, o que não se pode é negar que existam).
Costa diz que ninguém ligou nenhuma às propostas da reforma florestal durante a discussão pública.
É mentira, mas isso é irrelevante para a imprensa: o governo recebeu mais de 600 contributos para os diplomas em discussão pública mas não se deu ao trabalho de procurar dar-lhes resposta, ignorando-os olimpicamente, na sua quase totalidade (o ministro gaba-se de ter feito a reforma contra toda a gente, mas nem o facto de ser impossível ninguém ligar ao assunto e, ao mesmo tempo, estar contra, acende uma luzinha de objectividade nas redacções).
Caros jornalistas, não sendo vossas excelências a criar um verdadeiro risco político para os políticos que mentem tão descaradamente, depois não se queixem do populismo, que vive exactamente da falta de credibilidade de um jornalismo feroz para quem não lhe cai em graça, e complacente para quem é engraçado.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus». Então, Jesus ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o Messias.
Palavra da salvação.
Por estes dias, aqui e ali, tenho dado por mim a contestar teses de amigos meus que defendem que Trump abriu caminho aos supremacistas, que Passos Coelho está a conduzir o PSD pelos caminhos da xenofobia, que Ventura está a moldar uma sociedade mais racista, e por aí fora.
Agora foi a crónica de hoje de João Miguel Tavares a repetir a tese.
A minha tese é a de que as pessoas como Trump (ou os jornalistas individualmente, ou Costa, ou Marcelo, ou Passos Coelho, ou Merkel, ou Tsipras, ou Churchill, a tese é igual para todos) têm muito menos importância da que se lhes atribui, isto é, é muito mais a sociedade que produz Venturas, que Ventura que molda a sociedade.
Eu sei que as coisas não são preto e branco, mas também sei que coincidência não é causalidade: há anos que há pessoas que dizem barbaridades como Ventura (entenda-se barbaridades aqui como coisas de que discordo profundamente, como a defesa da pena de morte) e não é por Ventura as ter dito, e ter o apoio de um partido mainstream para uma câmara (não necessariamente para as barbaridades, não acredito, por exemplo, que os quase 10% de votos no BE queiram dizer que há 10% de eleitores que defendam a nacionalização de sectores estratégicos da economia, mas sim que há 10% de eleitores que acham que o seu melhor interesse é ter deputados do BE, quer concordem sempre, às vezes ou muito) que faz com que ganhem peso, pelo contrário, é porque essas teses têm maior ressonância na sociedade que pessoas como Ventura ganham peso.
De resto, ter o Presidente da República a dizer que foi feito tudo o que era possível logo nos primeiros dias do fogo de Pedrogão, ter Costa a dizer impunemente no parlamento que o governo anterior privatizou a PT, ter o BE e o PC a repetir incessantemente, com muito pouca oposição social, que a austeridade foi uma opção voluntária, ter jornalistas a gozar com Vítor Gaspar por dizer, fundamentadamente e com razão, que o crescimento do PIB tinha sido afectado negativamente pelo mau tempo num determinado trimestre, parecem-me contributos bem mais relevantes para a trumpificação que os tweets do Trump ou as barbaridades de Ventura.
É a nossa falta de exigência em relação à racionalidade e factualidade do debate público, escolhendo o que promover ou rebater mais em função do que pensamos que em função dos factos verificáveis, que abre caminho a que qualquer vendedor de banha da cobra possa ser recebido como uma sumidade, trumpificando a sociedade, como facilmente Nicolau Santos (que continuou sub-director de um jornal influente, depois de embarretado por não se defender das suas convicções aplicando os princípios básicos da sua profissão) poderá demonstrar.
E que alimenta a anomia que nos faz aceitar que um general prussiano continue director de um jornal, não se vendo qualquer relação entre isso e a progressiva perda de credibilidade no jornalismo tradicional.
Isso sim, é trumpificar a sociedade.
Nestes tempos de delirante aceleração e trapalhada é urgente reclamar aos poetas uma homenagem à feminilidade, à menina, à mulher sensível e poderosa.
Que não se envergonhe jamais a mulher de ser romântica, de ser feminina, de gostar de flores, da magia sedutora da maternidade - que é um poder absoluto, enfim, de ser profundamente diferente do homem. Também eu desejo uma sociedade em que a feminilidade tenha cada vez mais preponderância, em que as mulheres marquem cada vez mais a sua presença. Uma sociedade que assim se tornará certamente mais justa e harmoniosa. Nestes tempos em que a mulher se prepara para alcançar uma inevitável preponderância, era importante que ela não desistisse de o ser.
Isso sim, seria uma catástrofe, o fim do mundo.
(este texto também é uma homenagem à minha mulher)
Agora que arde Oleiros, talvez seja a altura de trazer para aqui uma das imagens que mais uso em apresentações em que falo de evolução da paisagem e fogo.
A imagem é retirada de um livro muito recomendável, de Duarte Belo, Portugal luz e sombra. Duarte Belo usa o espólio fotográfico de Orlando Ribeiro e, em 2011, procura o mesmo ponto de vista para voltar a fotografar o que Orlando Ribeiro tinha fotografado anos antes.
Para o que me interessa uma das imagens mais impressionantes é mesmo a de Foz Giraldo, Orvalho, Oleiros.
Dá-me a impressão de que fotografia não é exactamente do mesmo ponto (a posição da estrada no canto superior direito não é exactamente a mesma) e sem ter falado com Duarte Belo especificamente sobre esta fotografia, suspeito que é porque as árvores impediriam a vista do exacto ponto em que Orlando Ribeiro teria estado em 1945.
Não se pense que esta é uma situação especial, este padrão de alteração da paisagem é o padrão geral, seja a Sul (Mértola)
seja noutro ponto em que este ano se falou de fogos (Portas do Rodão)
seja nos calcáreos
Se amanhã alguém fizer o mesmo trabalho de Duarte Belo a partir do espólio de outros geógrafos (dos poucos que fotografam paisagens rurais nesse tempo, a maioria das pessoas fotografam pessoas, monumentos, cidades e aldeias ou curiosidades, embora por arrasto possam aparecer paisagens em fundo), a comparação apontaria no mesmo sentido, como se pode ver nos exemplos de A. Fernando Martins
ou Amorim Girão
Ao país sem mato, folhada e ervas que servissem de combustível ao fogo, sucede-se um país afogado em combustíveis finos que propagam o fogo à mínima condição favorável.
Ao país cheio de gente para acudir ao mínimo fogo nas suas terras, sucede-se o país sem gente que faça a gestão e que acorra ao mínimo sinal de alerta.
Pretender resolver os problemas contemporâneos com soluções anacrónicas (corpos de bombeiros voluntários formados a partir de comunidades cheias de ausentes), sem entender que a complexidade do problema exige mais conhecimento, estratégia e informação e que, ao mesmo tempo, as comunidades que mais directamente sentem o problema estão depauperadas de braços, conhecimento e capacidade, não parece grande ideia.
E, no entanto, a fortíssima teia de laços entre poder local, corpos de bombeiros e estruturas partidárias locais tem impedido a destruição criativa das estruturas anacrónicas que permita abrir o espaço para as soluções contemporâneas.
E a raiz dessa força é fácil de identificar: os fluxos financeiros do Estado central, mal escrutinados e mal avaliados pela convicção generalizada de que o dinheiro que entra nas corporações de bombeiros é, por definição, dinheiro abençoado usado para proteger o bem comum.
Pedro Filipe Soares, que assina coluna no DN como «líder parlamentar do Bloco de Esquerda», escreve hoje o artigo «O roubo do ouro negro do Brasil», que merece a nossa maior atenção.
O parlamentar não está preocupado com o nosso país devastado por incêndios que deixarão marcas tremendas em vastíssimas paisagens.O que o preocupa — como deputado português? — é que o aproveitamento dos recursos de grandes empresas estatais brasileiras possam sair da esfera pública e dessa forma deixarem de servir para a manipulação eleitoral obrigatória do povo brasileiro. Convém, de facto, que um governo confundido como estado possa distribuir recursos por eleitores dependentes, seja no Brasil, na Venezuela e em Portugal — sim! —, para que a revolução possa prosperar, pois de outra maneira ninguém se vai convencer de que será por aí que a sua vida vai melhorar.
Brasil e Portugal, dois países em que a emigração foi, é e será sempre um factor de progresso, estímulo e consciência. Isso sim, deve ser sublinhado e elogiado.
PFS apenas se interessa pelo valor que a Petrobrás e a Electrobrás têm, tiveram e possam ter para a conquista e domínio político e estatal dum grande país, que ainda não teve como se libertar de tutelas nefastas, e por isso não carece de mais nenhuma, caucionada por um jovem e demagogo «líder político».
Mas a preocupação dele neste momento é bem sintomática do que realmente para certos sectores políticos está em causa: não o progresso nem a salvaguarda patrimonial das nações, como território e sonho, mas só o controlo político e financeiro que permita políticas populistas e demagógicas capazes de garantir décadas de poder — e corrupção «benigna».
Entretanto, Lula da Silva faz campanha em regiões pobres do Brasil, procurando um levantamento popular que forme barreira da sua defesa diante da acusação de corrupção pela justiça brasileira.
Sobre isso Pedro Filipe Soares nada diz. É um demagogo encartado, que BSS vai um dia abraçar como padrinho, cúmplice e comparsa.
O Povo Brasileiro que se lixe!!
Denúncia feita, a recomendação do governo foi acatada e a Porto Editora retirou os livros do mercado. A fuligem é escusada.
Não sei se é do conhecimento dos leitores, mas anda agora na moda um tipo de programas de TV de debate sobre futebol em que os representantes de cada um dos “grandes”, alguns figuras públicas que deviam ter alguma vergonha na cara, analisam as jogadas polémicas da jornada, não através dum exame objectivo, mas sem qualquer laivo de razoabilidade e usando uma berraria insana, pretendendo impingir uma perspectiva fictícia que favoreça as cores do seu clube, nem que para isso tenham que mentir descaradamente. Patéticos, parecem crianças a discutir o tamanho do carro do pai. Curiosamente é esta a origem do André Ventura, personagem que ontem à noite na TVI 24 ouvi a reclamar a re-instauração da pena de morte e da prisão perpétua em Portugal. Como se em Portugal fosse o faroeste, antro da criminalidade mais hedionda e impune; e como se os países em que a pena de morte é contemplada na lei fossem exemplares oásis de paz. O que mais me custa engolir é que este discurso de ódio de André Ventura, que ignora a realidade pacífica em que vivemos, que se suporta de exemplos limite, de chocantes e hediondos crimes em paragens indeterminadas e impossíveis de verificação mas que servem bem para acicatar os sentimentos mais básicos de revolta e alarmismo, tem aceitação em muita gente… O crime compensa: está visto que Ventura atrai audiências e por isso as imbecilidades por si proferidas são notícia todos os dias.
Pela minha parte, aprendi com o meu Pai a orgulhar-me de pertencer a um dos primeiros países a abolir a pena de morte, um marco civilizacional que eu julgava perfeitamente adquirido. Nada é adquirido, e sabemos bem como o ódio medrou e venceu, na Revolução Francesa, na Alemanha Nazi ou nas tiranias comunistas. É estranho perceber que haja quem, sem pudor, apenas tendo em vista uns minutos de fama (e umas eleições autárquicas), assuma um discurso tão reaccionário. E choca-me perceber que entre muitos dos meus correligionários haja hesitação em condená-lo.
Segundo esta notícia do DN, “apenas quatro médicos aceitaram ir reforçar os cuidados hospitalares no Algarve durante o verão, através do programa de mobilidade especial, lançado pelo Ministério da Saúde este ano pela segunda vez. Mas a medida voltou a ter um impacto reduzido, ainda menor do que em 2016, quando sete médicos aceitaram a mobilidade para aquela região entre Junho e Setembro”. Ou seja, uma medida que foi um fiasco total e que serviu apenas para efeitos de propaganda do Ministério da Saúde. Obviamente e seguindo a praxis governamental, ninguém no Ministério vai explicar o fracasso e talvez o Presidente da República vá à procura de um destes quatro médicos para o tal abraço com muito afecto.
A uma entrevista de Francisco Vale no DN reagiu Guilherme Valente com um artigo no Público que é uma peça antológica de maldade e acinte, a pretexto — apenas — de que Vale declarou afastamento face aos livros de JRS. Raramente se viu tamanha brutalidade (Gradiva quer ser Salomé?!).
Guilherme tem sido valente em textos sobre educação e língua, demonstrando como ao longo de décadas se foi esmagando os critérios de excelência que haveriam de dominar o ensino, base de qualquer país digno desse nome, mas cada vez que alguém põe em dúvida a compatibilidade de uma obra editorial de valor com a edição de lixo literário, sai baforido e ataca tudo e todos, sem a mínima categoria pessoal e profissional (a de reconhecer valor a outros que não ele). Já uma vez, em tempos que já lá vão, reagiu em menos de uma hora a post meu neste blogue sobre o mesmo assunto, declarando-me in limine ignorante e incapaz.
O mundo está cheio de patologias, uma das quais é a do narcisismo e outra a da pequena grande vaidade de quem fez alguma coisa no meio disto tudo, e se quer ver reconhecido pelo facto. E quando esse reconhecimento não sobe aos altos patamares esperados, qualquer beliscadela inofensiva é recebida como faca afiada e traiçoeira num lombo despreocupado e desguarnecido. Vale não condiz com Valente, e so what?!
Entretanto, para quem segue este pequeno imbróglio sujo (Vale ainda não respondeu, creio) recomendo a leitura da entrevista de Zeferino Coelho à revista Bica, pois ajuda a conhecer o meio editorial predominante, a proveniência política dos seus mais influentes protagonistas, e o enorme impasse que vão deixar a quem fique depois de fecharem a porta.
Quem cá estiver que apague a luz — e mande a conta para o plano nacional de leitura!!
1) 80% das ignições ocorrem num raio de 2 kms das aldeias;
2) A variação do número de fogos nocturnos (e convém perceber que nocturno quer dizer entre as oito da noite e as oito da manhã, o que inclui muito dia e muita hora em que há actividade humana) é explicada pela meteorologia e corresponde a um número em torno dos 40% de fogos diários;
3) O fogo é registado quando se torna suficientemente grande para ser visto (o que de noite é dificultado pelo facto da coluna de fumo ser menos visível), não quando se dá a ignição original, que pode ter ocorrido horas antes;
4) A investigação sistemática dos fogos postos, pela polícia judiciária, permite ter uma ideia clara quer do perfil do incendiário, quer das suas motivações, e nada do que até hoje se verificou permite sequer pôr uma vaga hipótese de qualquer organização;
5) A variação regional das ignições (e da área ardida) é explicada pela meteorologia (e, em parte, pelo número de anos ocorridos desde o último fogo);
6) Acima de tudo, 1% das ignições são responsáveis por 90% da área ardida.
Se quiserem continuar a discutir soluções para o problema a partir das ignições, o máximo que posso fazer é desejar-lhe boa sorte para encontrar boas soluções a partir de premissas erradas.
Adenda:
Via Paulo Fernandes, chega-me este mapa com a densidade de ignições em Julho e Agosto deste ano. Reparem bem onde está a maior densidade de ignições e depois lembrem-se de por onde andaram os grandes fogos.
Só alguém com muita imaginação poderá pensar que diminuindo as ignições no Porto passa a arder menos em Mação ou no Fundão.
Lançar umas quantas imbecilidades para a comunicação social rendeu a André Ventura um protagonismo inusitado nesta campanha para as eleições autárquicas de Outubro próximo, de que o candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures é sem dúvida nenhuma a grande revelação. Confesso que não sigo os debates de futebol e talvez por isso este candidato, de quem se fala ter outras ambições dentro do PSD, tem-se revelado para mim uma má surpresa. Certo é que o personagem, com o seu discurso securitário e racista, granjeou enorme atenção por parte dos média, e de caminho cativou muita gente do meu círculo de quem eu imaginava mais algum critério de avaliação. As pessoas andam zangadas…
Mas no meu entender mais grave que o juízo proferido sobre todos os ciganos, foi a defesa da “prisão perpétua para os delinquentes”, algo que me parece inadmissível para um democrata-cristão, que defende a dignidade do recluso porque “todo o Homem é maior que o seu erro”. Que estas patacoadas, à maneira dum taxista com o grão na asa satisfaçam a exigência do eleitor e substituam um programa politico e uma estratégia de gestão de um concelho como o de Loures é que ainda tenho dúvidas. Mas o certo é que o comentador benfiquista já ganhou o primeiro desafio: está nas bocas do mundo e quando abre a boca tem logo uns quantos microfones à frente. Tiro-lhe o meu chapéu!
Fiz hoje, no Observador, um comentário a um texto que reflecte muito do que está na base da mitologia sobre os bombeiros voluntários que temos.
E resolvi fazer desse comentário um post:
"Eu compreendo o texto e as emoções que lhe estão na base.
Mas há uma questão central em que o texto, e é natural que assim seja, é omisso: "Os bombeiros foram seguindo o incêndio que estava já a queimar em direção ao Tejo.".
Do ponto de vista do combate esta é a demonstração de que, estrategicamente, há um problema sério de doutrina: os grandes fogos florestais não se seguem nem se combatem directamente (o que é diferente da situação de defesa de situações específicas, como a descrita, que não é uma operação de gestão de um grande fogo florestal, é uma operação de protecção civil), os grandes fogos florestais preveêm-se e levam-se à extinção retirando-se-lhes o combustível da frente que se pode prever.
Por mais heróis que sejam, e muitos são, o facto é que precisamos de bons profissionais e não de heróis, tal como nos hospitais, há cem anos, se percebeu que não eram as enfermeiras, heroínas e voluntárias, que nos permitiam salvar mais vidas mas sim enfermeiras preparadas e profissionalizadas.
Não precisamos de bombeiros florestais que seguem incêndios, correndo atrás deles, precisamos de bombeiros que saibam como vai evoluir o fogo e escolham a posição certa para esperar por ele nas melhores condições para o obrigar a extinguir-se.
Estes que temos agora são muito bem vindos para operações de protecção civil como a descrita, mas não são os bombeiros florestais de que precisamos, mesmo sendo, como muitos são, heróis."
Em Outubro do ano passado uma petição promovida pela QUERCUS (mas que reflecte o que muitos conservacionistas pensam sobre o assunto), terminava assim:
"A Quercus apela a toda a comunidade para abraçar a causa da proteção dos Carvalhos e dos Carvalhais em Portugal para que se possa criar legislação que conduza à sua proteção efetiva e, que inclua a proibição do corte destas árvores sem licença expressa das autoridades competentes para o efeito, à semelhança do que já acontece para o sobreiro e para a azinheira."
A QUERCUS é a mesma organização que, em sede de audição parlamentar, defendeu explicitamente o investimento dos proprietários na florestação com espécies autóctones. De resto, essa é uma defesa que é comum a mais ou menos toda a gente do mundo conservacionista.
Agora só falta explicar aos proprietários por que razão devem investir em espécies que se pretende que venham a ser protegidas e cujo corte não dependerá das opções de gestão do proprietário mas do que entender o Estado.
Boa sorte para as campanhas de sensibilização.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
óptimo, pode alargar a área de fogo controlado par...
Maria,num terreno da minha família foi o Estado qu...
a ideia de que é impossível juntar várias parcelas...
Não sei responder
Se o pagamento é feito contra a demonstração de qu...