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Da defesa do obscurantismo

por henrique pereira dos santos, em 30.06.17

“Isso tem de ser devidamente estudado. Estudos há, poucos em Portugal, alguns contraditórios, há muitos na Austrália e portanto vamos buscar a ciência lá fora se cá nós não a fazemos, ou se não há meios ou se é patrocinada pela indústria e poderá não ser a mais isenta, porque infelizmente também ocorre muito isso … há estudos diversos, mas há poucos estudos nesta área, e o que nós defendemos aí é claramente investigação científica isenta, paga pelo Estado e não por empresas, que fique bem claro”.

Ontem ouvi isto na Assembleia da República por um representante de uma organização ambientalista para justificar o facto de não ter estudos para fundamentar o que dizia sobre eucaliptos.

Este recurso à insinuação e à difamação, ou às suas variantes mais suaves de dizer que os números dizem o que quisermos, ou que estudos há para todos os gostos e por aí fora, corresponde a uma corrente obscurantista que tem muita visibilidade mediática, a suficiente para muitas vezes impedir a racionalidade do debate de questões complexas.

O problema central não é que alguém diga disparates como os do primeiro parágrafo (facilmente desmentidos por qualquer procura rápida no google), o problema é mesmo uma comunicação social que prefere, de maneira geral, repetir acefalamente coisas destas, em vez, por exemplo, aprender um bocadinho com quem sabe e é acusado de estar vendido à indústria por gente que não se sabe o que fez de concreto, até hoje, em matéria de gestão florestal.

Porque é que o DN só vende 7000 ?

por José Mendonça da Cruz, em 30.06.17

Fogos que matam, armamento à disposição dos ladrões, fugas de provas de exame. O governo nem pede desculpa nem faz ideia do que se passou. O DN fica frio.

O que interessa verdadeiramente ao DN?

Que o líder da oposição tenha pedido desculpa de um deslize infeliz. É, portanto, necessário zurzi-lo, como fizeram à uma no passado dia 27 todos os zelotas da página de opinião:

João Pedro Henriques que disse que «Passos Coelho “matou” 192 pessoas»

Pedro Tadeu, que chamou a «Passos, o bombeiro pirómano»

Paulo Baldaia, que acha que «A gula política pode resultar em suicídio», e

Ferreira Fernandes, poetisando que há «Pedrogão Grande, Pedro pequenino».

Todos no mesmo dia, na mesma página, com o mesmo zelo pressuroso.

Ups, terão pensado depois, quando viram a página monotemática: esta nossa excitação não será demasiado reveladora?

Descansem. Para os 7000 não é.

 

A alegre bandalheira

por José Mendonça da Cruz, em 30.06.17

Ardem 60 inocentes. Presidente da República e Primeiro-Ministro dizem que foi feito o que era possível e a ministra do pelouro diz que aconteceu «qualquer coisa».

As perguntas de um exame nacional de português chegaram ao prévio conhecimento de vários examinandos através de gente do círculo sindical. O ministro da tutela diz que se fez o que se pôde, foi assim e assim fica.

Num ambiente internacional em alerta anti-terrorista, com os assassinos do EI a serem expulsos dos coitos que ocupavam, instalações militares portuguesas são deixadas sem vigilância. Num dia são roubados 44 lança-granadas, 120 granadas ofensivas e 1500 balas de 9 mm. Os militares dizem que, se calhar, foram roubadas mais coisas, não sabem bem. E o ministro do pelouro diz que «é grave» e jura com temível e tardio vigor pôr trancas à porta.

Antes dos «rigorosos inquéritos» em que «não ficará nada por levantar» e que serão levados «às derradeiras consequências» de resultado nenhum, o governo encomendou um estudo para saber se a sua popularidade sofreu. 

Não sofreu. Uma sondagem da católica diz que 74% dos portugueses estão felizes.

E muitos deles, digo eu, gostam do estado do Estado e até querem mais.

 

Joaquim Leitão, o presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), enviou esta quarta-feira uma carta ao secretário de estado da Administração Interna, Jorge Gomes, a rebater as críticas da Secretaria-Geral da Administração Interna sobre os atrasos nos pedidos de ajuda aos fogos em Pedrógão Grande, que mataram 64 pessoas e queimaram 50 mil hectares.

É total a descoordenação entre os organismos do Ministério da Administração Interna. O que lá fazem o Secretário de Estado e a Ministra?

As ilhas não ardidas

por henrique pereira dos santos, em 29.06.17

Circulam insistentemente umas imagens de ilhas não ardidas no meio de áreas ardidas.

De maneira geral a sua descrição mediática e os títulos a que se lhes referem têm pouca relação com o que de facto se vê, servindo antes a moda do momento: dizer que há umas árvores que ardem, e outras que não ardem.

Um dos mais graves problemas da gestão do fogo em Portugal é mesmo o desconhecimento sobre o assunto.

Há muito boa investigação sobre a matéria (de primeiro nível internacional) mas há um problema gravíssimo de transformação desse conhecimento em acção no terreno (ilustrada pela imortal frase do actual Secretário de Estado da Administração Interna: "o fogo é imprevisível, o que há é uns académicos que têm umas teorias sobre isso") e há um evidente desfasamento entre a informação científica consolidada e o que o senso comum diz sobre o fogo.

Não é nada que seja especificamente português (José Miguel Cardoso Pereira cita com frequência um estudo espanhol que evidencia o desfasamento entre as causas de fogo avaliadas por investigação concreta, e as causas de fogo atribuídas pela sociedade) mas em Portugal este desfasamento é muito marcado.

Também por essa razão, e porque gostamos de aprender, uma associação de conservação da natureza de que faço parte lançou, no ano passado, um programa de passeios na zona do grande fogo de Arouca/ São Pedro do Sul, com o objectivo de se discutir no concreto o que sucedeu e o que iria acontecer após fogo.

Hélia e Elisabete Marchante (neste caso mais sobre o efeito do fogo na expansão de espécies invasoras), Manuel Rainha, Paulo Fernandes, António Salgueiro foram alguns dos guias que já tivemos e, lá pelo Outono vamos continuar, pelo menos com José Miguel Cardos Pereira e Henk Feith.

A ideia central da associação era contrariar ideias sobre o fogo que existem no ar e ajudar a compreender melhor as raízes e as opções de gestão do problema de que dispomos.

Do ponto de vista da associação os passeios têm sido muito úteis, mas não gostaria de deixar de notar que alguns agentes locais fizeram questão de se distanciar da iniciativa ("não queremos ser associados ao fogo, já basta o que o concelho perde turisticamente, o nosso objectivo é fazer esquecer o fogo o mais rapidamente possível") e vários orgãos de comunicação social que convidámos para ir acompanhando os passeios, ou ao menos para disponibilizarem espaço para os quais produziríamos conteúdos a partir dos passeios, não mostraram o mínimo interesse.

É por isso normal que o pós fogo tenha as suas modas, criadas por uma espécie de pensamento mágico que nega a informação produzida num contexto científico ("... os académicos das principais faculdades fortemente subsidiadas pelo sector — Instituto Superior de Agronomia e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro — assim como outros avençados...", João Camargo dixit, para justificar o desfasamento entre o que diz e o que diz a investigação), umas vezes incendiários, outras vezes as terras sem dono, outras vezes o eucalipto e, este ano, também as ilhas não ardidas e as árvores bombeiras.

Como qualquer moda daqui não vem mal ao mundo: incha, desincha e passa.

A única questão relevante é que há pessoas que acreditam neste pensamento mágico e se convencem de que por plantar uns carvalhos e uns castanheiros à volta de casa passam a estar seguros sem precisar de gerir de facto o espaço envolvente e, sobretudo, a carga combustível e os combustíveis finos.

A falsa sensação de segurança em situações de risco potencia o risco real, por isso seria bom que os propagadores destas mezinhas tivessem consciência de que de boas intenções está o inferno cheio.

O lançamento é amanhã

por João Távora, em 28.06.17

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A notícia de que o Carlos Bobone decidiu partilhar um pouco da sua imensa erudição e conhecimento em forma de Livro é para mim, seu amigo de longa data, uma das grandes notícias do ano.

Tendo tido eu o privilégio de o acompanhar no projecto do Centenário da República que durante 3 anos foi dinamizado com muitos dos seus ensaios e crónicas com vista à desconstrução da propaganda nas celebrações da revolução de 1910, fui testemunha da preocupação do Carlos, não em exibir a sua imensa sabedoria, mas com o cuidado de imprimir uma grande clareza nos seus textos, sempre com a tónica assente nas singularidades que dão colorido à informação, sem jamais comprometer um sério compromisso com a verdade, sempre complexa, como bem sabemos. Estes são sinais que alimentam a minha curiosidade a respeito do seu livro “Os apelidos portugueses - Um panorama histórico” a ser lançado amanhã 5ª feira às 18,00hs no Salão Nobre do Palácio da Independência, na certeza de que se trata de uma obra de grande exigência intelectual e científica, digna de um distinto historiador.

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A indústria e a gestão florestal

por henrique pereira dos santos, em 28.06.17

Tenho ideia (estou a citar uma coisa de que me lembro e que foi há tempo suficiente para eu não ter certezas) de ter ouvido um responsável de uma das empresas de celulose dizer que por cada unidade de valor gerada pela empresa na produção florestal, eram geradas nove unidades de valor na produção de pasta e nove unidades de valor na produção de papel.

No fundo, a gestão florestal é, inevitavelmente, um parente pobre nas fileiras com integração vertical, como a do eucalipto, e um intruso nas fileiras que não fazem integração vertical, como as que assentam no pinheiro e no sobreiro.

Na resina, em que Portugal manteve uma posição mundial invejável na transformação industrial, praticamente não houve, durante anos, produção nacional de resina, o que a indústria resolveu importando a matéria prima.

Mesmo no eucalipto, em que há integração vertical, a percentagem de área florestal directamente gerida pela indústria é de menos de 20% da área de ocupada por povoamentos florestais de eucalipto.

Em rigor, a indústria pode prescindir da produção nacional de madeira, como acontece com a resina, a tanoaria ou grande parte da indústria dos móveis, importando a matéria prima e externalizando os riscos associados à produção e gestão florestal.

Há anos que defendo, no entanto, que as empresas têm uma responsabilidade social sobre a sua cadeia de abastecimento (aliás reconhecida pelos sistemas de certificação) e uma responsabilidade para com o país, e por isso vale a pena olhar para a forma como a indústria tem gerido essa responsabilidade no que diz respeito ao seu contributo para uma gestão sensata do fogo em Portugal.

A fileira da cortiça practicamente esquece o assunto, apenas se preocupando quando está em causa o abastecimento de matéria prima. Esta atitude é compreensível porque a reputação da produção de cortiça é muito positiva: gera sistemas ricos do ponto de vista de biodiversidade, com elevada qualidade paisagística e que permitem uma diversidade de usos apreciável. Por outro lado, ao contrário das outras fileiras, não tem alternativa ao abastecimento de matéria prima nacional.

Não seria a altura da fileira da cortiça devolver parte do valor que cria a partir da produção florestal assumindo responsabilidades, directas ou indirectas, na gestão do território que suporta essa indústria?

No que diz respeito ao pinheiro será talvez útil separar dois sectores que são inimigos ferozes porque competem pelo mesmo recurso (não entro aqui com a resina, que neste momento tem uma produção nacional residual): o mobiliário, que precisa de madeira de árvores grandes, e o aglomerado, pelettes e etc., para quem tamanho não é problema.

Para além de umas teorias de conspiração sobre fogos florestais, e umas queixas permanentes sobre a fileira do eucalipto (como se impedir administrativamente os produtores de optarem pelo eucalipto resultasse numa opção pelo pinheiro, e não pelo abandono), a verdade é que a indústria  baseada no pinho tem uma influência residual na qualidade da gestão florestal no país. Com uma área de ocupação de cerca de 700 mil hectares, depois de ter perdido, nos últimos anos, meio milhão de hectares, a indústria continua, na larga maioria, divorciada da produção florestal. Apoia, e bem, alguma investigação, apoia, e bem, alguns produtores, mas está longe de ter presença própria, gestão própria e, consequentemente, acção real sobre a gestão do território.

Não seria a altura da fileira do pinho devolver parte do valor que cria a partir da produção florestal assumindo responsabilidades, directas ou indirectas, na gestão do território que suporta essa indústria, contribuindo para a diminuição do principal risco que limita a disponibilidade dos proprietários investirem em pinho?

Por último, a fileira do eucalipto, sobre a qual escrevi nos últimos dias (o que me valeu os insultos e difamações do costume por parte dos Alucinados Anónimos para quem o euclaipto é a quinta besta do apocalipse), embora mais presente na gestão florestal, demorou demasiado tempo a integrar (e ainda o faz imperfeitamente, muito imperfeitamente) a responsabilidade que tem no apoio aos produtores que lhe produzem a matéria prima.

Tivessem estas fileiras uma atitude conjunta de responsabilidade social sobre a gestão do território, fizessem elas esforços conscientes para apoiar a gestão sensata do fogo e uma gestão tecnicamente sofisticada da produção florestal e, provavelmente, daríamos passos relevantes no  sentido de tornar o fogo num elemento natural gerido de forma socialmente positiva.

E isso reflectir-se-ia na diminuição do risco de fogo, isto é, no aumento da competitividade da produção florestal e, por essa via, num aumento de valor do sector de que a indústria também iria beneficiar.

Rumores e a comunicação social que temos:

por Vasco Lobo Xavier, em 27.06.17

A nossa comunicação social anda sempre a chorar-se, a pedir que se comprem jornais, a pedir que seja lida, vista e ouvida. Não sei porquê, pois na maioria das vezes considero-a má, tendenciosa ou mesmo desonesta na informação que prestam aos seus consumidores. No fundo, não prestam. Veja-se o episódio mais recente, uma minudência no meio de toda esta tragédia e ineficácia. Passos Coelho fez um comentário tendo por base uma informação que lhe tinha sido dada e se verificou não ser verdadeira.

Jornalistas e comentadores caíram em cima dele como não se lembraram de fazer quando, aqui há uns anos, o profissional Nicolau Santos andou por aí uma semana inteira a propagandear um desgraçado qualquer que não era nada do que ele dizia. O problema agora passou a ser Passos Coelho. David Diniz já tinha ensaiado a coisa há uma semana, mas era algo tão esgravatado e mal feito que não deu em nada (hoje foi mais comedido, na SIC-N, mas tentou voltar à carga).

 Não interessa se aquele que informou mal veio de imediato a terreiro assumir o erro, não interessa se Passos Coelho rapidamente pediu desculpa por falar com informação errada, prestada por uma pessoa da zona e, pelo menos por isso, provavelmente detentora de alguma credibilidade e conhecimento. O culpado de tudo é Passos Coelho e o seu informador deve ser demitido (ou demitir-se, já não sei nem o assunto me merece que gaste tempo), clama o PS.

 Do PS vieram também as críticas de António Costa, o homem que tem fugido por entre os pingos da chuva enquanto a pede com fervor, juntamente com a Catarina em férias. Solenemente, ou com ar disso, e também ao ar livre, Costa discorreu longamente sobre o episódio dizendo que não se deveria falar tendo por base “rumores”, como acusava Passos de fazer. E os jornalistas a comerem a papa toda, já devidamente mastigada por Costa. Acontece que Passos Coelho não falou com base em “rumores”, mas sim numa informação concreta que uma concreta pessoa da região lhe tinha dado, o que lhe pareceu possuir alguma credibilidade embora a informação não se tenha revelado verdadeira. Pediu de imediato desculpas (excessivamente, a meu ver, mas eu não tenho de levar com jornalistas a perguntarem sucessivamente as mesmas coisas, hora a hora, para fingir que fazem o seu papel e justificarem o outro papel ao fim do mês), e a comunicação social deveria ter passado aos assuntos dignos de interesse mas infelizmente o episódio não terminou (nem conto que termine).

 Ora, a meu ver, se António Costa declara não opinar com base em rumores, como fez de tez franzida, e se os jornalistas se incomodam tanto com pessoas que, sobre este assunto do incêndio de Pedrógão Grande, opinam sem se sustentarem em factos concretos (um dia que apareçam…), seria talvez relevante começarem a indagar-se entre si e a perguntar a António Costa de onde veio o “rumor”, lançado com imenso êxito e largueza, logo no primeiro dia do incêndio, de que tudo teria corrido como previsto, de que não existiam quaisquer falhas dos serviços, técnicas ou outras, que teria sido feito tudo quanto era possível, humana e tecnicamente, que até já se tinha descoberto a àrvore que teria espoletado o incêndio, através de um raio de uma trovoada na altura inexistente, e ainda apurar quem soprou tais rumores aos jornalistas e também ao Presidente da República, levando-o a fazer a triste figurinha que fez dizendo isto tudo, ao lado dos responsáveis do governo e do DN.

 Esses rumores que foram postos rapidamente a correr, para apagar responsabilidades políticas (em vez de se tentarem apagar os incêndios e apurar responsabilidades), é que têm interesse, é que deveriam ser investigados e questionados pela comunicação social (e não uma porcaria de um episódio menor no meio disto tudo e já esclarecido). Ora se a comunicação social não faz o que deve, por ser incompetente, tendenciosa, ou desonesta intelectualmente, que razão teria eu ou qualquer outro consumidor para gastar dinheiro com semelhante comunicação social?

 

Post Scriptum: estava a acabar de escrever isto e, num programa da RTP 3, O Outro Lado, inicia-se um debate onde se vão discutir os incêndios e, pasme-se, “as declarações de Passos Coelho”. Com José Eduardo Martins, Rui Tavares e Adão e Silva. Três amigos declarados de Passos Coelho. Eu não conheço Passos Coelho e sou, como sempre fui, do CDS. Mas perante a comunicação social que temos, vou mas é ver outro problema e enfurecer-me pelo facto de os meus impostos pagarem também esta porcaria de programas.

A atitude política mais evidente, desde que se iniciou o incêndio em Pedrógão, é a fuga à responsabilidade política. Morreram 64 pessoas, destruídadas várias casas, famílias que apenas ficaram com a roupa que tinham vestida, queimados milhares de hectares de floresta... e das autoridades políticas nem um pedido de desculpas. O Primeiro Miniistro apenas levanta questões sem dar qualquer resposta sobre o que quer que seja. A Ministra da Administração Interna só ontem exigiu um estudo independente ao funcionamento do SIRESP e uma auditoria pela Inspeção-Geral da Administração Interna à Secretaria-Geral Administração Interna. Hoje, as conclusões do relatório de desempenho do SIRESP no incêndio de Pedrógão Grande dizem que o sistema esteve sempre a funcionar e que as operações não foram comprometidas. Mas também hoje e logo após a divulgação do relatório anterior, os comandantes dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera e de Pedrógão Grande contrariam a entidade operadora do SIRESP e sublinham que “houve falhas” no sistema durante o combate ao incêndio. As falhas do SIRESP são de há muito conhecidas e daí a pergunta: Ninguém asssume responsabilidade política pelo SIRESP?

Nem sempre a nova toponímia resulta...

por João Távora, em 27.06.17

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Quem adivinha qual o nome que imperou nesta rua pombalina?

Passos Coelho visitou áreas afetadas pelo fogo de Pedrógão Grande e falou em casos de suicídio por falta de apoio psicológico. Provedor de Santa Casa assume que deu informação errada ao líder do PSD.

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Em “Os apelidos portugueses - Um panorama histórico” a ser lançado na próxima 5ª feira às 18,00hs no Palácio da Independência, o que Carlos Bobone seu autor pretendeu fazer foi uma História que revelasse a ligação dos apelidos portugueses à emaranhada teia social e ideológica que sempre os envolveu. O apelido como fonte de controvérsias jurídicas e de distinções sociais, instrumento para afirmar exclusivismos de classe numas circunstâncias, ou para integrar minorias religiosas e étnicas, noutras; detonador de fortes emoções sociais, fonte de inspiração de lendas, sátiras, anedotas e provérbios, em que se sintetizaram orgulhos e despeitos, venerações e desprezos, reflexões e indignações.

O apelido, esse poderoso aglutinador de todo o prestígio das famílias, ciosamente guardado e protegido por figuras patriarcais, objecto de recomendações à hora da morte e de maldições a quem o não respeitasse; vestígio vivo, e por vezes solitário da passagem portuguesa por longínquas terras; o apelido, enfim, uma das mais frondosas árvores que a sociedade portuguesa plantou, é matéria de estudo que transborda da mais diversa documentação histórica, pronta a ser colhida por quem lhe preste atenção. Com esparsos elementos, recolhidos em todo o tipo de fontes, procurou-se formar um ensaio que alargasse os horizontes da onomástica, transportando-a para a dimensão da história cultural e conferindo-lhe um papel social mais eminente do que até aqui se lhe reconhecia.

Carlos Lourenço do Carmo da Camara Bobone nasceu em Lisboa em 1962. Alfarrabista, dono da Livraria Bizantina, colaborou nas revistas portuguesas Armas e Troféus, Raízes & Memórias e na Enciclopédia Verbo Século XXI. Estudioso de longa data dos apelidos portugueses, é autor de vários trabalhos de investigação nas áreas da História e da Genealogia.

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A Espada de Dâmocles

por João Távora, em 25.06.17

Há uma consequência política inevitável da tragédia de Pedrógão Grande, é que o governo começa o Verão com um saldo de 64 mortos pelos incêndios, com tolerância zero para mais qualquer desgraça. Não há malabarismo comunicacional que altere este facto. Com tantas fragilidades nas estruturas de comando operacionais António Costa começa a “fase Charlie” nas mãos do S. Pedro, com a Espada de Dâmocles. Se acontece mais alguma desgraça, de pouco servirão à geringonça a imprensa amestrada, a conivência dos sindicatos e os abracinhos de Marcelo Rebelo de Sousa. Agora pouco mais há a fazer do que rezar a S. Pedro... ou mais laicamente fazer como a Catarina Martins: “desejar” que chova muito até Setembro. Deus nos guarde, digo eu.

Uma entrevista fundamental e fabulosa

por henrique pereira dos santos, em 25.06.17

Obrigado ao António Salgueiro, pelo que diz, obrigado à Carla Castelo pelas perguntas que faz mas, acima de tudo, pela genuína vontade de compreender que é patente na entrevista.

Talvez mais de metade dos posts que tenho escrito aqui criticam, às vezes acidamente, a comunicação social, mas neste momento gostaria de realçar a poderosa demonstração do que é a utilidade do jornalismo e da comunicação social.

Domingo

por João Távora, em 25.06.17

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Não tenhais medo dos homens, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se. O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo. Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos. A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens, também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus. Mas àquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus».


Palavra da salvação.

A pressão jornalística portuguesa ao El Mundo

por Maria Teixeira Alves, em 24.06.17

Os jornalistas portugueses não se conformam. O El Mundo atreveu-se, tamanho desplante, a pôr em causa o Governo das esquerdas unidas. Mas que sacrilégio.

Tudo por causa do El Mundo ter noticiado na passada quarta-feira as críticas crescentes à "gestão desastrosa da tragédia" por parte do Governo do primeiro-ministro António Costa, prevendo até "o fim da carreira política" do governante português. No mesmo artigo, o jornal espanhol refere ainda que as principais reivindicações têm recaído "em particular" sobre a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

O artigo desta quarta-feira, intitulado "Caos no maior incêndio da história de Portugal: 64 mortos, um avião fantasma e 27 aldeias evacuadas", pretende fazer um rescaldo da situação em Portugal ao quarto dia do incêndio em Pedrógão Grande. São ainda apontadas falhas "na coordenação das autoridades, tanto a nível dos trabalhos de extinção, como da comunicação com os media".

Eis que de repente há investigações e denúncias ao jornalista (imagine-se). Queriam identificá-lo para o ostracizar? Para o banir? Para descobrir algum podre que o desacreditasse? Descobrem que não o descobrem e com tamanha lata questionam o El Mundo, como se o jornal não tivesse competência para escolher jornalistas, ou para decidir a credibilidade das reportagens que publica.

Mas o conteúdo da notícia é falso? Isso nem é tema.

O importante é expô-lo na praça pública. Os portugueses queriam queimá-lo na fogueira do mediatismo. Mas lamentavelmente não têm uma cara para acusar, um cadastro, um currículo. Querem obrigar o jornal a revelar o culpado de ter criticado um governo de esquerda. O El Mundo não sabe que isso é imperdoável a um jornalista em Portugal.

Chega ao cúmulo de os jornalistas portugueses, representados pelo Sindicato, pedirem explicações a um jornal espanhol, fundado em 1989 e que vende mais do que o Correio da Manhã  (vou rever a minha condição de sindicalizada), e que não recebe lições dos jornalistas portugueses. Quem é o jornalista que assina como Sebastião Pereira e que escreveu o artigo? A Comissão da Carteira também questiona.

O El Mundo nem queria acreditar e a editora de internacional vê-se obrigada a desligar os meios de contacto.

Respondeu ao sindicato de jornalistas portugueses. "Nada fizémos de errado, recorremos a um jornalista que utiliza pseudónimo e que já conhecemos bem". Respondeu a editora da secção de Internacional do 'El Mundo' ao português Sindicato dos Jornalistas. "Párem de me atacar no Twitter! Párem de me enviar emails! Párem de tentar telefonar-me! Em 22 anos nesta secção nunca me aconteceu algo assim, nem nos casos da Venezuela ou da Turquia!" Nem mais.

Mas o importante agora é saber quem escreve? Ou o importante e refletir-se sobre o que está escrito? Algum leitor lê a assinatura dos artigos? O importante é confiar no jornal e na credibilidade editorial de um jornal. Se o jornalista assina com pseudónimo, ou se não assina sequer não é importante.

Cito um comentário que li no Facebook. "Não consigo perceber que no ano 2017 quando não estamos de acordo com o que se escreve se comece a chamar de facho".

Está ao nível de uma Venezuela, no doubt!

Mea culpa

por henrique pereira dos santos, em 24.06.17

Num primeiro momento, desvalorizei o enésimo comentário a responsabilizar o neoliberalismo e o capitalismo pelos fogos, mas depois percebi que era só preconceito meu: se o chavismo conseguiu por a Venezuela com escassez de petróleo, seguramente conseguiria por Portugal com escassez de fogos.

Eucaliptocratas, diz ele

por henrique pereira dos santos, em 24.06.17

Normalmente não perco grande tempo com o que escreve Francisco Louçã, mas nestes dias tenho-me cruzado com uma ou outra coisa que escreve sobre fogos, como aconteceu hoje como texto que está no Público onde usa o neologismo que eu trouxe para o título do post.

Resolvi pois fazer um post sobre a profunda ignorância em que assentam discursos como este que, se fossem apenas de Louçã, não traziam mal ao mundo.

Infelizmente, por razões históricas e sociais, a diabolização do eucalipto tem fundas raízes sociais, acabando por influenciar o desenho de políticas públicas de uma forma completamente irracional.

Ouçamos pois os intocáveis (na intensa cobertura noticiosa, quantas vezes foram ouvidos bombeiros da Afocelca, operacionais das celuloses, responsáveis pela gestão do eucalipto, responsáveis por agrupamentos de produtores, como a Unimadeiras ou a Abastena, grupos de certificação florestal das associações de produtores?), através de uma mistura entre comentários informais do meu amigo Henk Feith, penso que director florestal da Altri Florestal (uma das duas celuloses que existem no país), que assinalarei entre aspas, e comentários meus, sem aspas. Mesmo tendo havido situações em que o meu português já foi corrigido, e bem, pelo Henk, num ou noutro pormenor pode haver um certo desvio do padrão da língua, dado que a língua materna do Henk é o neerlandês (holandês para os amigos, mas não para os próprios falantes da língua).

"se tirarmos os eucaliptos da paisagem portuguesa, também tiramos a única corporação profissional de bombeiros florestais do país da equação. Sabiam que 95% das intervenções de combate a incêndios da corporação Afocelca são fora do património das empresas de celulose. Já imaginaram as estatísticas dos incêndios em Portugal sem Afocelca? Estive estes dias no incêndio de Gois. Os únicos bombeiros que eu vi combater os fogos na floresta foram os Espanhois,que estiveram connosco a combater. Os colegas Portugueses estavam todos juntos às casas à espera do fogo lá chegar. É assim que está definida na estratégia da ANPC. Eu não discordo das prioridades estabelecidas, discordo com a estratégia para as concretizar. Para defender as casas, é preciso combater o fogo na floresta, e não ficar á espera dele junto das aldeias."

"Estivemos trÊs dias a combater e o dano (em propriedades da Altir, entenda-se) ficou limitado a 14 hectares numa propriedade de 600, dos quais 200 de pinheiro bravo e 400 de eucalipto (Propriedade Vale Lapão, por sul do parque eólico). Mas o que travou o incêndio foram as plantações de eucalipto, porque quando o incêndio la bateu em força vindo do sul, rapidamente abrandou e foi controlado por nós. Estivemos três dias a combater o incêndio fora da propriedade, sem apoio de ninguém a não ser os Espanhóis na segunda feira, em áreas abandonadas, com eucaliptos e pinheiros. Quando chegou à área devidamente gerida (por nós), o assunto ficou resolvido em poucas horas. E sim, passámos lá mais 24 horas para controlar reacendimentos, algo que também mais ninguém faz. E sim, meus colaboradores tiveram lá 36 horas seguidas a combater, a defender a sua casa, sem olhar para cansaço nem família. Porque eles sim acreditam na floresta Portuguesa e estão dispostos para a defender contra tudo e todos. Como era costume no mundo rural há décadas"

"Para nós, uma taxa de incêndio de 0,5% é aceitável em termos de gestão empresarial (é um KPI clássico). Acima disto, o dano por incêndio começa a constituir-se uma ameaça à sustentabilidade da nossa atividade empresarial. Ficámos acima deste valor em 2003, 2005, 2016 e 2017 (já). Mas em média estamos abaixo deste valor. Bem abaixo (0,3%). Estou convencido se a floresta que nos vizinha fosse gerida como a nossa, ficávamos facilmente abaixo dos 0,1%. Extrapola isto para o panorama nacional..."

"em 2017 estamos já acima dos 0,5%. Em Figueiró e Penela fomos fortemente atingidos. Estive lá. Foi impossível de travar devido à falta de gestão de grande parte da área que ardeu. Curiosamente, uma plantação nossa de 2015, Feteira, passou intocado enquanto tudo em redor ardeu. Em breve voupublicar no YouTube um vídeo sobre o efeito benéfico das plantações recentes nos incêndios, com um exemplo correto de um incêndo em 2016 em Castelo Branco"

Por umas contas que fiz aqui em cima do joelho, se a média nacional de área ardida ficasse pelos 100 mil hectares previstos (e não fica), a taxa de incêndio que teríamos no país, para comparar com os 0,3% desta empresa de celulose, seria um pouco mais de 1,5% se contarmos os matos, e entre os 3 e os 3,5% se contarmos só os povoamentos. Fiquemos pelos 1% (se é verdade que o que interessa é a área total de povoamentos, também é verdade que tipicamente mais de 50% da área ardida são matos) para comparar com os 0,3% e concluímos que o Senhor Louçã, do fundo do seu sofá, responsabiliza pelos fogos em Portugal os que ele chama de eucaliptocratas, isto é, as pessoas que conseguem ter uma taxa de incêndio de 0,3% para comparar com o que nós, como sociedade, temos para apresentar em termos nacionais, 1% (contas muito por baixo).

"eu defendo uma visão de "créditos de biodiversidade", em que as espécies produtivas como eucalipto, pinheiro bravo, pinheiro manso e sobreiro suportam a gestão das espécie "não-comerciais". Um pouco como o mercado de carbono, mas para floresta nativa. Uma fábrica que emite CO2 tem de comprar créditos de carbono; uma floresta comercial pode ter de comprar créditos de floresta de conservação. Quem planta 10 ha de floresta de produção tem de ter ou financiar 1 ha de floresta de conservação. Assim, o investimento florestar impulsiona a conservação da floresta. Em vez de proibir, promove-se o equilíbrio."

Ou seja, o eucaliptocrata que anda há três dias a bater com os costados no meio do fogo (não, não é na estrada, à volta das aldeias, é mesmo lá, nos sítios em que sabem que há oportunidades criadas pela gestão para parar o fogo), afinal defende uma solução de onerando a exploração permite financiar a conservação, mas o senhor Louçã, do fundo do seu sofá, acha que o mais eficaz é proibir a actividade económica que permite a libertação de recursos para a gestão, entregar mais não sei quantos milhares de hectares ao abandono que potenciam a dimensão social catastrófica dos fogos, liquidar a mais eficiente e a única estrutura profissional de bombeiros florestais e diminuir o rendimento de 400 mil pequenos proprietários.

Eucaliptocratas, diz o senhor Louçã. Obrigado Henk, obrigado Tiago Oliveira, e muitos outros, direi eu.

Tais quais, oliveiras, olivais

por henrique pereira dos santos, em 23.06.17

"eucaliptais intensivos jogam na mesma equipa que olivais intensivos em matéria de esgotamento de solos, biodiversidade, etc. Mas não tem, de perto nem de longe, o mesmo comportamento em fogos!"

Este comentário foi-me feito por uma pessoa informada, séria, bom rapaz e com formação e conhecimento em gestão de paisagem, a propósito do facto de eu ter dito qualquer coisa sobre a quase irrelevância da questão do eucalipto para a gestão dos fogos.

Vale a pena comentá-lo porque traduz um conjunto de mitos que toldam a discussão racional da gestão do território.

Olivais intensivos, eucaliptais intensivos, milharais intensivos, pomares intensivos, pecuária intensiva, etc., são tudo opções dos produtores que devem ser livres num mercado livre.

Mas é perfeitamente razoável que sejam impostas restrições quando a decisão de interesse individual colide com o interesse público: se, de facto, os eucaliptais tivessem alguma importância decisiva para a gestão racional do fogo, poderia fazer sentido limitar a sua expansão (na realidade, o que seria aconselhável, nesse caso, seria o seu arranque, e não meramente a limitação da sua expansão, porque a situação existente, pelos vistos, já seria incomportável). Não havendo qualquer relação relevante entre gestão do fogo e a presença de eucaliptos, faz tanto sentido aprovar a limitação à sua expansão como atirar balões de água para as frentes de fogo.

Mas poderia fazer sentido aprovar limitações à expansão de eucalipto como à expansão de olivais intensivos se, como é dito no comentário, houvesse perdas relevantes para o solo, a biodiversidade, etc..

Grande parte da fundamentação para este tipo de afirmações baseia-se num método de análise absurdo que consiste em comparar a biodiversidade de espaços produtivos com espaços não produtivos, concentrando-se num dos lados da equação (por exemplo, a biodiversidade) mas omitindo o outro lado da equação (o valor económico).

Os espaços produtivos são simplificações dos sistemas naturais (mais ou menos profundas depende do modelo de gestão desses espaços) e por isso, inevitavelmente, têm um menor grau de naturalidade e, normalmente, um maior valor económico. Há sempre uma troca entre estes dois valores, portanto o que faz sentido não é comparar os dois extremos do gradiente de "naturalidade" mas sim procurar encontrar pontos de equilíbrio que sejam socialmente óptimos, satisfazendo necessidades económicas e ambientais.

Comparar os efeitos dos eucaliptais intensivos (que são uma minoria dos eucaliptais do país) com os dos olivais intensivos é interessante.

Nos olivais intensivos existe rega, o que desde logo corresponde a uma alteração muito mais profunda dos sistemas, mas a existência de água permite arrelvar as entrelinhas, o que pode ser mais interessante para alguns grupos de fauna (por exemplo, coelhos, invertebrados, etc.). Por outro lado, com operações constantes e cargas humanas maiores no olival, para além de um maior uso de fitofármacos e adubos de síntese, é muito mais fácil encontrar grandes rapinas em eucaliptais, à procura de tranquilidade, que em olivais intensivos.

Portanto, do ponto de vista de biodiversidade não é nada verdade que os eucaliptais intensivos joguem no mesmo campeonato dos olivais intensivos: os dois têm, de maneira geral, uma relativamente baixa diversidade biológica, mas os primeiros são mais úteis para espécies mais ameaçadas e os segundos são mais úteis para espécies comuns, podendo, no entanto, ser importantes por produzirem uma base da cadeia trófica mais robusta.

Em relação ao solo os problemas são muito diferentes, mas quer num, quer noutro, os efeitos negativos, e a sua magnitude, dependem essencialmente das técnicas de gestão (por exemplo, haver ou não arrelvamento da entrelinha no caso o olival, passar uma grade de discos ou fazer um fogo controlado no caso do eucaliptal, podem gerar consequências bem diferentes na qualidade do solo).

O interessante disto, e as comparações com pomares de pera rocha ou campos de milho iriam dar ao mesmo, é que enquanto conseguimos discutir todas estas questões numa base relativamente racional para quase todos os usos do solo, o eucalipto tem um estatuto à parte: não é, objectivamente, uma espécie florestal cujo uso deva ser discutido com base na melhor informação disponível e de forma racional, é simplesmente uma bandeira política que se defende, ou não, sem qualquer relação com os factos verificáveis.

A cínica e indecorosa montagem mediática a que o IPMA se prestou

por henrique pereira dos santos, em 22.06.17

Tenho procurado evitar, agora, a discussão de responsabilidades políticas no fogo de Pedrógão Grande: é cedo, tenho pouca informação e prefiro não correr o risco de ser injusto.

Mas o que é de mais é moléstia.

O Governo num primeiro momento ensaiou a clássica estratégia mediática de contenção de danos, desvalorizando o que se estava a passar. Até aqui está dentro do cinismo típico de quase todos os governos nestas circunstâncias. E a probabilidade de ter sucesso nesta operação de comunicação seria muito elevada, não se desse o caso de ser impossível desvalorizar a dimensão da catástrofe humana.

Rapidamente o governo virou a agulha e passa agora todo o tempo a procurar consolidar a ideia de que condições meteorológicas excepcionais e imprevisíveis ocorreram e ninguém pode estar preparado para o desconhecido.

Nessa tentativa de manipulação (infelizmente não há jornalista que pergunte "se assim foi, o governo está a dizer que quando houver outra vez condições extremas como estas, as pessoas comuns que se amanhem porque o Estado não sabe o que fazer?") desempenha um papel essencial a credibilização científica da teoria de que ocorreram condições meteorológicas absolutamente excepcionais e imprevisíveis ("um nevão no Algarve em Agosto", para usar o exemplo de João Miguel Tavares).

É absolutamente indecorosa a utilização de serviços técnicos do Estado, como o IPMA (António Costa fez parte de um governo que usou o mesmo esquema com o Banco de Portugal a calcular défices virtuais para abrir espaço político ao aumento do défice do primeiro ano dos governos Sócrates, portanto sabe muito bem como isto se faz e acha normal) da forma como está a ser feita, prestando-se o IPMA e o seu presidente a colaborar no embuste.

O que o IPMA tinha a fazer era simplesmente dizer o que é tecnicamente razoável, que sim, que houve condições meteorológicas extremas, relativamente raras, mas que sempre existiram e sempre existirão.

Ao prestar-se à pura manipulação política como a que foi montada, com o primeiro ministro a fazer perguntas formais retóricas e o IPMA a mandar respostas encenadas (quem não se lembra das encenações de Costa fingindo estar a negociar com a coligação que ganhou as eleições, ao mesmo tempo que montava uma solução alternativa que pressupunha a ausência de resultados dessas supostas negociações), o IPMA diminui-se a si próprio e mina a sua credibilidade, contribuindo para a desconfiança das pessoas comuns em relação a um Estado completamente enfeudado à conveniência política do governo.

O IPMA resolveu contribuir para a chuva dissolvente que cai sobre as instituições públicas em Portugal, infelizmente.

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