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Rua de Stº Antº dos Capuchos em Lisboa
Antes de instalar o meu escritório em Cascais na centralíssima e animada Rua Visconde da Luz, ao lado do jardim com o mesmo nome, fui indagar sobre o eminente cascalense que se esconde por detrás do marido traído (para não usar uma terminologia vernacular) por Rosa Montufar Barreiros, amantíssima musa de Almeida Garrett, conhecida pela sua beleza lendária. Afinal não era apenas esse infortúnio que tornara célebre o oficial do exército liberal que nesta vila piscatória construiu uma casa de veraneio e plantou algumas árvores. Dos heróis derrotados dessa guerra civil, em matéria de toponímia sobrou para amostra a Bica d’el Rei D. Miguel, restaurada há pouco ali no Arsenal da Marinha, junto ao rio Tejo.
A verdade é que a maior parte das pessoas é indiferente à origem dos nomes das avenidas, praças, ruas ou fontanários das nossas terras. E no entanto, a toponímia das nossas cidades, vilas e aldeias esconde uma contenda encarniçada que com raras excepções só os vencedores admite, mesmo que eles tenham sido os mais requintados tiranos ou umas completas nulidades.
Está hoje cientificamente provado que o revisionismo de grande parte da toponímia nacional pelos republicanos de 1910 quedou-se como o seu principal legado. Em Lisboa, entre muitíssimas outras renomeações, a Avenida Rainha D. Amélia passou a chamar-se avenida Almirante Reis, o Cândido comandante da revolta que se suicidou espetando um balázio nos miolos dois dias antes da implantação da dita, convencido de que a revolução estava perdida – sem dúvida um grande feito. E temos o pobre Frederico Ressano Garcia, arquitecto das Avenidas Novas em finais do século XIX que dava nome a uma conhecida artéria que rasgava o planalto urbano em direcção ao Campo Grande: o seu nome foi descartado e a arejada avenida forçada a ser da República. Logo ali ao lado, a Avenida António Maria Avelar foi rebaptizada por avenida Cinco de Outubro. Se eu lá morasse tinha logo mudado de casa.
Bem pior é a quantidade de eminências pardas que empestam a toponímia das nossas cidades, como é o caso flagrante de Miguel Bombarda, vulgar psiquiatra e medíocre publicista republicano assassinado por um seu doente em vésperas da revolução de 1910, de que não se lhe conhece obra que se veja mas que bate Luís de Camões, Gil Vicente, Fernando Pessoa ou outra figura pública em qualquer lugarejo deste jardim à beira-mar plantado. Se um marciano aterrasse hoje numa cidade portuguesa pensaria que Miguel Bombarda e Elias Garcia (alguém lhe conhece feito ou obra?) são as mais gradas figuras históricas nacionais.
É curioso como na cidade de Almada se cruzam ruas Catarina Eufémia, Padre Américo, Aliança Povo-MFA, Dr. António José de Almeida, rei D. Carlos, 31 de Janeiro, José Afonso e Padre António Vieira e Sagueiro Maia. Mas a suprema ironia é a história de um militante e resistente monárquico, um bravo da Galiza com papel preponderante nas Incursões Monárquicas e na Monarquia do Norte, que depois do exílio atingiu o final da vida em grande miséria, e foi viver para uma habitação social atribuída por Salazar na… Avenida Defensores de Chaves. Definitivamente o António não era flor que se cheirasse.
Tenho para mim que os nomes de personalidades a atribuir a topónimos deveriam ser submetidos ao crivo do tempo, quer dizer, da história; e as ganas da homenagem dos seus partidários serem contidas por cem anos, ou mais, antes de se tornarem um factor de desvalorização imobiliária, que é o que acontece antes das pessoas comuns se esquecerem quem foi o pilantra com o nome gravado em determinada tabuleta.
Ninguém se incomodará com uma rua Gil Vicente, Rua Alexandre Herculano, Rua Eça de Queirós, Rua D. Pedro V, Praça Luís de Camões ou Calçada Marquês de Abrantes. Entretanto, diante da expansão urbana, deveríamos fazer como os antigos que sabiam dar nomes bonitos partindo do mérito dos próprios locais. Rua da Alfarrobeira, Rua das Gaivotas, Rua dos Mastros, Rua Navegantes, Rua do Poço Novo, Beco das Terras, Rua da Vitória, Rua da Saudade, Rua da Bela Vista, Rua do Alto do Moinho Velho, Rua das Gáveas, Rua da Horta Seca, Travessa da Espera, Rua da Misericórdia, Rua das Mercês ou dos Fiéis de Deus — tudo nomes que irradiam encantamento e que, por isso, estou convencido, têm o condão de ajudar a fazer dos seus habitantes pessoas melhores e mais felizes...
Publicado originalmente no jornal i
Está na moda publicar em jornais (aqueles sítios em que procuramos informação sobre o que se passou no mundo) umas peças sobre o que ainda não aconteceu.
Para além de não perceber a utilidade do exercício (eu, o Joaquim, a Felismina ou a Ana teremos com certeza dúvidas diferentes e delegámos nos nossos deputados a tarefa de as concretizar em audições parlamentares), a peça é notável pela forma como se esquece o que se sabe, para se focar numa tese que se pretende impingir aos leitores.
1) A primeira dúvida da Ana é se o anterior Secretário de Estado teve intenção de ocultar as estatísticas. Sobre essa dúvida constroi uma história, que é a sua interpretação da sucessão de factos conhecidos, mas sem a mínima preocupação de trazer à luz a única coisa que poderia ajudar a esclarecê-la: qual é o teor das informações sobre as quais foi escrito "visto". Isto é, se da sua leitura era claro que se pedia uma decisão sobre a publicação das listas, ou se a forma como a informação está escrita não é clara;
2) A segunda pergunta é extraordinária: se não foi um lapso, por que razão pretendeu Paulo Núncio não tornar públicas as estatísticas. Como a pergunta é completamente absurda, naturalmente o texto que a acompanha é também surrealista: é claro que sem esclarecer primeiro se há ou não intenção, não faz sentido pôr a hipótese das razões para essa intenção. Isto não é jornalismo, é conversa de café;
3) A terceira pergunta mantém o registo surrealista: partindo agora da hipótese de que houve intenção de não publicar (o que não está esclarecido) então será preciso saber de quem foi essa intenção que não se sabe se existe. Como jornalismo zandinga, é de primeira água;
4) A quarta pergunta é perfeitamenta razoável: qual é a relação entre a não publicação das estatísticas e o não tratamento e controlo por parte do fisco. Só que essa pergunta tem uma resposta clara e linear, que a jornalista não quis usar para não lhe estragar a peça: nenhuma. Como esta resposta desvaloriza tudo o resto, a jornalista diz que não é claro se existe ligação, como porta de entrada no registo surrealista das perguntas anteriores e apimentar a coisa;
5) A quinta pergunta não tem uma resposta tão linear, mas tem uma resposta razoável: o dinheiro que saiu pagou impostos? É uma pergunta semelhante a perguntar à jornalista se o dinheiro que recebeu de quem lhe paga o ordenado pagou todos os impostos devidos. Em princípio sim, mas só quando o fisco fizer a verificação da sua declaração de IRS é que a respota é cabal. Também neste caso não há qualquer razão para supor que o dinheiro não pagou impostos, sendo muito pouco provável que não o tenha feito (o dinheiro está registado e as análises que foram feitas a operações semelhantes não indiciam grande risco de fuga aos impostos, mas a jornalista preferiu esquecer-se destas informações). Para justificar a pergunta a jornalista diz que ainda não sabemos e depois não diz nada, só fala sobre o assunto;
6) Uma pergunta relevante: qual é a relevância destas operações de transferências bancárias para o controlo fiscal (enfim, deve haver gralhas na pergunta, portanto não se percebe bem). A jornalista, para manter a sua história, entra agora decididamente no campo das realidades alternativas, ao dizer que esta informação escapou ao radar do fisco, quando o fisco tem doze anos para a analisar e não tem de fazer nenhuma análise prévia às operações. E como não há nada a dizer (a resposta à pergunta é "praticamente nenhuma relevância) a jornalista não diz nada;
7) Uma pergunta razoável, sobre se é verdade que desapareceu informação dos ficheiros da AT, tendo a jornalista concluído, sem surpresa, que ainda está em investigação (e não tem nenhuma relação com a audição dos Secretários de Estado, claro);
8) Por fim, uma pergunta sobre o que pode mudar em consequência destas notícias. A jornalista, que surpresa, fala de propostas do PSD e do BE, sendo esta última uma proposta de proibição de transferências para paraísos fiscais não cooperantes com o Estado Português, e a que a jornalista, pelos vistos, leva a sério, esquecendo-se que a maioria das offshores são cooperantes e que propostas desse tipo não são para ser levadas a sério e por isso nunca poderão ser aprovadas.
E estamos nisto, a gastar o tempo dos jornalistas e dos leitores em histórias da carochinha, em vez de logo mais à tarde fazer uma notícia séria sobre as audições, que é o que qualquer pessoa normal quer.
As outras, as que querem saber o futuro, não lêem os jornais, lêem a sina.
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