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Vi qualquer coisa escrita sobre o facto de algumas comunicações entre Centeno e Domingues serem pessoais (até Louçã, o institucionalista, dizia que Domingues se portou mal por expor conversas pessoais).
Tanto quanto sei, mesmo que a Caixa Geral de Depósitos fosse 100% detida por Mário Centeno as comunicações referentes ao seu Conselho de Administração dificilmente poderiam ser consideradas pessoais (podiam estar protegidas pelo segredo comercial, mas isso é outro assunto).
Em democracias mais maduras, uma alegação destas seria considerada uma enormidade e, provavelmente, haveria uma discussão muito séria sobre a violação de deveres legais do Ministro:
"Agencies that allow employees to send and receive official electronic mail messages using a system not operated by the agency must ensure that Federal records sent or received on such systems are preserved in the appropriate agency recordkeeping system."
Sim, é muito grave a nossa complacência social para com a mentira em actos fomais do parlamento (lembro-me da mais absoluta indeferença de todos os grupos parlamentares perante uma denúncia fundamentada da utilização de mentiras facilmente comprováveis por parte de João Bilhim, nas audições anuais a que era obrigado na Assembleia da República), sim, é muito grave a aceitação de produção de legislação a pedido numa negociação para a contratação de alguém (é indiferente quem redigiu o diploma, o que é grave é o Estado adoptar procedimentos pouco transparentes e tomar decisões legislativas a pedido) mas é igualmente grave a nossa bovina indiferença perante a ideia de que um Ministro, em matérias de Estado, pode invocar o carácter pessoal de comunicações que se traduzem em decisões que são tomadas em nome de todos nós.
Em Portugal dificilmente alguém teria problemas por haver um "report, from the State Department’s inspector general, has renewed scrutiny of Clinton’s email practices, which critics say ... shielded Clinton’s activities from laws designed to ensure public access to government information".
E é pena, muita pena.
Depois do Código da Conduta, o Governo de Costa (António) está compondo - e fará aprovar em cavalgada desabrida - o novo Código da Percepção Mútua. A tempo de o diploma entrar em vigor antes da deslocação do seu ministro Centeno ao Parlamento.
Assim o grande mago das Finanças ficará obrigado a intercalar três minutos de reflexão entre cada palavra proferida, bem meditada, nada comprometedora, totalmente imune a gaffes.
Será só por isso que Centeno voltará a titubear, a gaguejar e a dizer que não disse que tinha dito que não tinha dito. Sem margem de erros de percepção mútua.
Dois homens têm um acordo entre si, embora estejam mutuamente equivocados sobre o conteúdo desse acordo.
Um dia destes, num debate, perguntaram-me o que pensava sobre a reforma da floresta proposta pelo Governo.
Na verdade tenho sempre dificuldade em responder a esta pergunta.
Se um dia um sector económico, os texteis, por exemplo, deixarem de sem competitivos e, consequentemente, houver perdas de clientes e falências, alguém acharia normal que o Governo fizesse uma reforma dos texteis com base em dez diplomas legais sobre matérias que pouco se relacionassem com a competividade do sector?
Pois é exactamente o que se passa: o sector florestal, e dentro deste a fileira do pinho, grande parte da fileira do eucalipto e os matos, tem um gravíssimo problema de competitividade, do qual resulta falta de gestão do território e uma série de ineficiências sociais, de que o exemplo mais visível são os fogos que temos.
Para gerir este problema, o Governo resolve reformar o sector legislando sobre minudências, como saber se as autorizações de florestação (a que a esmagadora maioria do sector não liga nenhuma) devem existir acima de cinco hectares ou acima de dois hectares.
O preâmbulo de um dos diplomas propostos, exactamente o que diz respeito às arborizações, é um bom exemplo da floresta de enganos em que vive Governo: "Desde logo, cria condições mais adequadas para a implantação e expansão de espécies florestais autóctones diversas e para a melhoria da respetiva produtividade, designadamente do pinheiro-bravo e do sobreiro e da azinheira, através da concomitante restrição à expansão da área de eucalipto".
Ou seja, num sector em que uma das principais ameaças e riscos é a ausência de gestão, em que a ausência de gestão é uma consequência de não haver economia que a suporte, o Governo acha que a melhor forma de aumentar a área do pinheiro, da azinheira e do sobreiro é restringir a expansão de eucalipto.
O facto da restrição de uma espécie competitiva redundar no aumento da área sem gestão, por abandono, e do facto limitante para a fileira do pinho ser a sua falta de competitividade (nomeadamente pelo elevado risco de fogo que é potenciado pelo abandono), o facto da área de distribuição potencial da azinheira ser totalmente distinta da área potencial para a produção de eucalipto e o facto de não haver memória e registo de áreas relevantes de substituição de sobreiro por eucalipto (o eucalipto expandiu-se por substituição de pinhal e ocupação de área de matos) são, para o governo, irrelevâncias.
Para mim, qualquer reforma da floresta que assente em diplomas legais sobre questões marginais e que, sobretudo, parta do princípio de que restringir a produção de uma espécie (qualquer que ela seja) resulta em condições mais adequadas para a implantação de outras espécies com exigências ecológicas e contextos económicos totalmente distintos é uma coisa sobre a qual não tenho mesmo opinião.
Nunca me pareceu útil discutir um delírio ("falsa crença baseada em inferência incorreta sobre a realidade externa que é sustentada com firmeza apesar das crenças da quase totalidade das pessoas e apesar do que se constitui em prova incontroversa e óbvia de evidência em contrário.", segundo a definição perfeita da proposta de reforma florestal que encontrei na wikipedia).
Os meus amigos que não puderam estar comigo no IDL em Lisboa para lançamento do meu livro "Crónicas Moralistas" e que não façam planos de participar na sessão do Porto no próximo dia 4 de Março, podem recebê-lo comodamente em casa através do meu novo site, aqui à distância de um clique.
O encontro com o outro é o que marca uma vida mesmo quando tal não acontece. Ir ao encontro do outro é o valor que acrescentamos nas nossas vidas. Ontem, o João Távora veio, uma vez mais, ao encontro comigo e com todos aqueles com quem ele procura encontrar-se. Escrevo sobre o lançamento do livro “Crónicas Moralistas” no qual o João reúne uma seleção de textos que escreveu entre 2013 e 2106. Lá encontrei a sua mulher, os seus filhos e enteados, os irmãos, os familiares, os amigos de sempre, o padre, os companheiros da política, os monárquicos, os companheiros de bancada do futebol… todos ao encontro com o João Távora. O livro foi apresentado por Pedro Mota Soares, Eduardo Cintra Torres e o cónego Carlos Paes e com eles o convite à leitura das crónicas, o que é o mesmo que dizer ao encontro da leitura da Vida que o João partilha com o outro. Ler as suas crónicas é saborear a elegância de uma escrita e, sobretudo, mergulhar nos valores que o fazem correr. É mais do que o sonho que comanda a vida, é a própria vida que caminha ao sabor do sonho.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um só dos teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegítima, expõe-na ao adultério. E quem se casar com uma repudiada comete adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».
Palavra da salvação.
António Costa tinha acabado de chegar ao Governo e queria fazer da sua bandeira política a banca. Achou que ali havia um filão de oposição política porque eram todos casos complicados e de difícil solução, porque há limitações financeiras e legislativas (se não houvesse falta de dinheiro e não se estivesse sob a alçada do BCE e da DGComp era fácil resolver. Por isso é que qualquer comparação com a intervenção dos ingleses no Lloyds Bank é absurda).
António Costa pensou que tudo se conseguia negociando e tendo o principal árbitro da legislação do seu lado (o Presidente da República) pôs mãos à obra.
Nomeou comissários para negociar com banqueiros, prometeu trocas e baldrocas Tudo em nome das negociações para criar soluções para o sistema bancário. Isto acabou com o Governo a criar uma legislação que permitisse ao BPI ser comprado em OPA pelo CaixaBank (retirando da equação os accionistas angolanos), e em troca foi lá buscar o vice-presidente do banco para ter um banqueiro que convencesse Bruxelas a aceitar uma série de coisas difíceis de aceitar, como um acordo para que os bancos não tivessem de suportar o excessivo peso das perdas do Fundo de Resolução com a venda do Novo Banco, e um aumento de capital da Caixa Geral de Depósitos que fosse significativo (e que não fosse considerado ajuda de Estado) para ajudar a CGD a fazer write-offs de créditos, reforçar imparidades, e pagar ao Estado os CoCos de quase mil milhões de euros.
Na cabeça do primeiro-ministro era um jogo de xadrez que bem jogado levaria ao xeque-mate. Angolanos fora do BPI, António Domingues na CGD para fazer um mega aumento de capital, sem que este fosse considerado ajuda de Estado, depois o BPI iria comprar o Novo Banco com benesses a garantias do Estado (de Frankfurt e Bruxelas) em nome da promoção da consolidação bancária. Os chineses e os angolanos que se acotovelassem no BCP. Costa e Marcelo facilitaram as leis para que tudo fosse permitido em tempo record, para não dar tempo para correr mal.
Na CGD António Domingues para além de pedir o fim da subjugação do banco ao estatuto do gestor público, pediu a isenção dos deveres de transparência em quatro emails (sem nunca falar do Tribunal Constitucional, diz o Público) e também total autonomia na gestão do banco público. O Governo aceitou as condições, mas sem nunca se comprometer por escrito com a questão do Constitucional. Mas na verdade essa questão nunca foi um lapso. O Governo aceitou aliás que fossem os advogados de António Domingues a desenhar a lei que melhor cabia a António Domingues e à sua administração e gestão para a CGD. O Ministério das Finanças confirmou que foi António Domingues a preparar a legislação que iria concretizar a excepção para si e para os restantes administradores da CGD. Mais. Aceitou que fosse a CGD a pagar a factura dos advogados e da consultora Mckinsey [que desenhou o plano de capitalização da CGD] à posteriori. Isto não será crime? Isto de levar a uma instituição pública uma factura de assessores jurídicos e consultores que não foram contratados pela CGD e são-no à posteriori. Não era preciso prévio concurso público?
Os emails enviados por António Domingues ao Ministério das Finanças antes da sua contratação, consultados pelos jornais, são segundo o Público uma extensa lista de exigências, explícitas e implícitas (fica por saber porque não transformou as implícitas em explícitas?), para que aceitasse assumir a presidência da Caixa Geral de Depósitos. António Domingues queria menos exigências de transparência sobre os rendimentos e património dos administradores e nenhum controlo político sobre a gestão, equiparando totalmente o banco público ao privado.
O Governo aceitou tudo e tinha a cobertura do Presidente da República para fazer passar tudo (promulgou em tempo recorde a mudança do estatuto do gestor público).O Governo e o Presidente sabiam que os advogados (que falharam a sua missão) de António Domingues fizeram a alteração ao Estatuto de Gestor Público achando que essa seria suficiente para libertar todos os administradores das obrigações de divulgar as declarações de rendimentos e património normalmente exigida a quem desempenha cargos públicos.
O jogo de António Costa foi sendo construido meticulosamente mas as peças do dominó começaram a ruir. O tempo não esteve do lado do primeiro-ministro. No BPI o processo arrastou-se numa sucessão de assembleias gerais suspensas por querelas jurídicas, ao ponto de o CaixaBank só esta semana ter conseguido comprar o BPI. O tempo não ajudou ao interesse do BPI no Novo Banco.
Na CGD, desde logo os entraves europeus a algumas exigências do então novo presidente CGD. Entrave a nomes de administradores e ao modelo de governo. Meses a fio à espera. As exigências de António Domingues ameaçavam ser um problema político mas com o Presidente da República a defender em coro a mudança de estatutos da CGD, o Governo pensou que podia resolver-se. Os fins justificam os meios. Tudo em nome de uma solução para problema da Caixa.
Deixaram todos correr a coisa da isenção dos deveres de transparência. Mas Luís Marques Mendes trouxe o caso a público questionando se seria um lapso uma vez que havia uma lei de 1983 que obriga os detentores de cargos público (todos sem excepção) a apresentar as declarações de rendimentos e património ao Constitucional. O prazo do Tribunal Constitucional para os gestores apresentarem as declarações ainda estava a correr quando o tema rebenta nos jornais, e, ou muito me engano, ou isso ajudou a que se traduzisse numa tentativa de forçar os gestores a regularizarem a sua situação antes do fim do prazo. Mas acabou com a saída deles.
No entanto a substituição de António Domingues não fechou o dossier político da CGD.
Com o tempo a escolha de António Domingues revelou-se a ser mais parte do problema político do que da solução e lançaram-no aos lobos. As mudanças de administração da CGD acabam por adiar todo o plano para a CGD para este ano.
O Novo Banco continua sem ser vendido e com uma conjuntura política mais difícil agora: um Ministro das Finanças enfraquecido pelas polémicas à volta da CGD.
No fim da história. O embaraço criado pelo convite a António Domingues promete fazer mossa ao Ministério das Finanças. O Novo Banco está em contra-relógio para a sua sobrevivência, como banco autónomo e fora do estatuto de banco de transição (o que implica vender 100% dos activos e das acções).
A CGD vai fazer um aumento de capital gigante depois de apresentar prejuízos exorbitantes e pode não cumprir os compromissos de regressar aos lucros já este ano. Porque os lucros não nascem nas árvores e o banco tem de fazer uma emissão de subordinadas de elevada subordinação com um juro altíssimo.
P.S.: O António Lobo Xavier desvendou porque razão não se lembraram os advogados de Domingues da lei de 1983. Está explicado: Lobo Xavier chama a atenção para o facto de a alteração no Estatuto ser da “competência do Governo”, ou seja, “o Governo podia legislar sobre essa matéria”, “coisa que fez ao abrigo das férias de verão disfarçadamente”. Contudo, a lei de 1983 que viria a obrigar a apresentação das declarações está no âmbito das competências da Assembleia da República e, por isso, “o Governo não podia mudar sozinho.
É já amanhã Sábado o lançamento e apresentação do meu livro "Crónicas Moralistas", às 15.30 no Instituto Amaro da Costa (Rua do Patrocínio nº 128) por Eduardo Cintra Torres, Pedro Mota Soares e Cónego Carlos Paes. Mais informação aqui no meu novo site.
Ministério das Finanças acusa CDS de assassinato político do carácter de Mário Centeno. Erro jurídico do Ministério das Finanças (mais um, nesta polémica): não se pode assassinar quem já se suicidou publicamente.
No limite, será profanação de cadáver.
As Catarinas (Ocatarinetabellatchitchix) são, como os corsos do Asterix na Córsega, acima de tudo individualistas. O BE não estará seguramente tão preocupado com os doentes terminais em sofrimento, quanto em suscitar mais causas ditas «fracturantes».E acerta em cheio, a avaliar pela reacção dos auto-proclamados «defensores da Vida».
Ponto primeiro: se uma pessoa quer morrer, quem e porquê há de lhe tolher esse desejo?
Nunca percebi a posição da Igreja Católica - note-se bem: a Igreja onde inquestionavelmente me filio - ao interferir, por norma, em estas e outras questões do Direito Positivo. Até porque sai sempre a perder - a desinformação e a demagogia são triunfantes... - quer na contagem dos votos, quer depois na manutenção dos seus fieis.
Ponto segundo: a eutanásia envolve um "pacto" entre quem quer morrer e quem se predispõe a ajudá-lo nesse desiderato.
Ora, como longe vão os tempos em que aos barbeiros, de permeio, competia sangrar os doentes, assim distendendo as suas normais funções, o referido auxílio, não provindo de qualquer carniceiro, só poderá ser prestado por um médico. O célebre "juramento de Hipócrates" e a experiência e os escrúpulos do corpo clínico em geral - tudo já proclamou não se entusiasmar com a "proeza".
(A gente gosta de ir a um médico que nos acalente a esperança na vida; não aos que façam coro com o nosso desalento...)
No mais...
Ponto terceiro: no mais o tempo dirá. Dirá, provavelmente, que as Catarinas (Ocatarinetabellatchitchix) são somente umas tontas. Que legislar por legislar é, afinal, apenas gastar papel. Que o Direito Positivo bate a pala ao Direito Natural. Que há, naturalmente, um lugar nelas para guardarem as suas «causas fracturantes». E que era bom os portugueses percebessem, de uma vez por todas, isto tudo.
... e tendo uma fraca biblioteca, estou nas condições ideais para fazer perguntas de ignorante.
Esta tal inflação de 1,5%, por causa da subida dos preços dos combustíveis, não é uma espécie de imposto que todos pagamos para que alguns tenham visto o seu rendimento reposto?
E que entre esses todos estão também os mais pobres, obrigados a financiar a classe média cujos rendimentos foram repostos?
A propósito da desastrada tentativa de retirada do estatuto de gestor publico e respectiva isenção de declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional à equipa de António Domingues pelo governo da geringonça, é curioso como a insuspeita jornalista Ana Sá Lopes neste editorial se dirige a Marcelo Rebelo de Sousa que veio a terreiro defender as trafulhices do ministro das finanças como se fora seu. Sendo esta a maior fragilidade do regime semipresidencialista que temos, parece-me no entanto escusado que o Presidente da Republica venha atolar-se desta maneira na lama, prescindindo dos mínimos de higiénica equidistância. Acontece que não vale tudo para proteger a estabilidade da frágil geringonça e "parecer bem" às esquerdas; Marcelo não é o chefe do governo e desta forma arrisca-se a descambar com ele pelo cano abaixo da credibilidade. Definitivamente os portugueses mereciam mais de um Chefe de Estado, se é que me faço entender.
Pelo que percebo, estes problemas todos na Caixa Geral de Depósitos resultam da opção do governo que consiste em manter a propriedade pública da caixa mas pretender que o esforço do accionista na sua capitalização não seja considerado como ajuda de Estado.
Para isso, a CGD tem de ser gerida como uma empresa privada, embora propriedade do Estado.
Se assim é, qual é o interesse em ser do Estado, se o Estado se tem de comportar como qualquer privado na sua gestão?
Privatizam a coisa, usam o dinheiro ganho na privatização para diminuir a dívida do Estado e o accionista que vá arranjar o capital onde quiser.
Tal como a coisa está a ser gerida parece-me que irão aparecendo sempre complicações em resultado desta opção por ser e não ser, ao mesmo tempo.
Eu, enquanto accionista forçado, sinto-me com o desespero da mãe de uma adolescente com quem foi comprar roupa com um caderno de encargos muito claro: conseguir encontrar roupa que fosse igual à de toda a gente, porém, diferente.
O Diário de Notícias será um diário de notícias?
O Diário de Notícias será um jornal?
Se o Diário de Notícias for um jornal, será um jornal de referência?
De quê?
Para ajudar nessas avaliações é indispensável ler esta opinião do ex-director do referido coiso, André Macedo, hoje. Depois da declaração de Sérgio Figueiredo, da tv, no mesmo jornal e ao mesmo ministro, esta será a segunda melhor cantiga de amor.
Vale a pena ler. É mesmo leitura obrigatória para quem ainda se canse com coisas como a crise da imprensa e o problema da credibilidade dos jornais.
Depois de prestar vassalagem ao ministro das Finanças (e durante), Macedo explica por que razão e em que casos uma notícia não deve ser notícia.
Eis algumas das frases que, de caminho e curiosamente, brande contra outros com a elevação possível:
«O sentido de exigência deve ser incentivado.»
«...preguiça mental e falta de sentido de exigência.»
«...falar de barriga cheia recusando compreender o contexto.»
« Não vale a pena fazer uma estátua a Centeno, nem exagerar nos elogios, mas reconhecer o talento e o esforço, à esquerda ou à direita, é cumprir os mínimos jornalísticos.»
«A carta secreta (uuuuu, que sexy)...»
«...carta secreta - que coisa ridícula e falsa - de Mário Centeno.»
Visto isto, o mesmo Diário de Notícias não gasta tempo com notícias assim e assim.
Pouco depois de Costa substituir Seguro, uma costista militante perguntou-me a opinião sobre Costa e sobre se ele poderia ser capaz de ter uma maioria absoluta.
Lembro-me de ter respondido qualquer coisa sobre a minha dificuldade em estimar o tempo que demoraria até que o seu sempre presente sorriso deixasse de ser visto como um sinal de simpatia e empatia e passasse a ser visto como o sempre presente sorriso de qualquer bom aldrabão. No momento em que isso sucedesse, e se viesse a suceder, a sua carreira política estaria em grandes dificuldades.
Suspeito que esse dia não é o dia de amanhã, mas em matéria de confiança entre as pessoas a única certeza é a de que a sua perda é rápida e muitas vezes imprevisível.
A famosa habilidade política de Costa é, em grande medida, o seu talento para dizer formalmente uma coisa que sabe que os seus interlocutores entendem de uma maneira, ao mesmo tempo que abre espaço para uma interpretação diferente no futuro. Combinado, naturalmente, como o seu evidente desprezo pelo valor da sua própria palavra.
Costa acorda uma coisa, que sabe querer dizer outra coisa, e espera que no momento que os que acreditaram nele se aperceberem de que fizeram um acordo diferente do que pensavam, ou seja tarde para recuarem sem perdas, ou as vantagens em manter o acordo fantasma sejam suficientes para que possa levar a sua água ao seu moinho.
A polissemia é uma grande virtude na poesia, veremos se também o é na política.
Não é novidade mas agora há provas documentais. O Governo aceitou que fosse António Domingues a desenhar a lei que melhor lhe servia. Os advogados contratados por António Domingues (que falharam redondamente na sua missão) mas que o Ministro das Finanças aceitou que fossem pagos à posteriori pela CGD é que desenharam a lei que retira os gestores do banco do estatuto do gestor público. Mas esqueceram-se da lei de 1983 que obriga à declaração de rendimentos do TC. Este é o caso mais flagrante de favorecimento de um Governo português a gestores de que há memória.
O Sócrates ainda tentava disfarçar.
Hoje o Corta-fitas faz 11 anos de vida, podem os nossos leitores confirmar na barra leteral deste blog - O prolixo Duarte Calvão abriu as hostilidades a falar de Presidenciais e de erros ortográficos aqui. Onze anos de Corta-fitas significam 24.884 posts escritos em 4.015 dias, mais ano bissexto menos ano bissexto, que deram azo a 12.1241 comentários, a dizerem coisas para desgosto do Miguel Sousa Tavares e do Pacheco Pereira. Que não nos doam os dedos nem nos falte inspiração para continuar a teclar pelo menos por mais 11 anos.
Não se fala de outra coisa nos jornais. Trump, Trump, Trump. Os jornalistas portugueses dão cabo do Donald Trump em cada letra que escrevem (não estou a proferir qualquer opinião sobre o presidente dos EUA, note-se). Mas não consigo deixar de olhar para os portugueses como uma continua caricatura do Eça de Queiroz. Continuamos a ser uma caricatura do Eça.
Há uma personagem do Eça de Queiroz que era director de um jornal de Aljustrel com o nome de Ecos. Era o jornal Ecos, de Aljustrel. Há uns anos Vasco Pulido Valente usou a personagem de um conto do Eça para ilustrar o ego desproporcionado dos portugueses. Na coluna que em 1999 escrevia no DN "Faz de Conta" - VPV comentava as opiniões exacerbadas que se proferiam quando se debatia no parlamento português a intervenção da NATO na Jugoslávia. Produziam-se manifestos anti-guerra, tal como hoje se proferem gritos anti-Trump e anti-políticas do Trump. VPV fez na altura a comparação com história do Eça sobre o director dos Ecos de Aljustrel. Quando Bismarck invadiu a França, o bom homem, a espumar de fúria, ameaçou com veemência: «Deixem estar que amanhã já dou cabo dele nos Ecos.»
Como se os Ecos de Aljustrel chegassem a Berlim, ou mesmo a Paris.
Assim estamos nós, a dar cabo do Trump nos Ecos de Aljustrel.
Depois queixem-se da falta de leitores e da queda vertiginosa da confiança da sociedade na profissão.
E sobretudo não fujam da responsabilidade que vos cabe por essa perda de confiança facilitar de facto o caminho aos demagogos e populistas.
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