Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Antes mesmo do encerramento, o chamado congresso dos jornalistas já tinha desaparecido dos noticiários. Lê-se este papelinho precioso e compreende-se porquê. São as conclusões, e, apesar do mal-estar que possa suscitar em qualquer pessoa medianamente letrada e razoável, vale a pena ler até ao fim. É um arrazoado breve sobre questões laborais, salários, sindicalismo, burocracia das redacções, participação em organizações estaduais, e essa coisa que o mundo próspero e moderno já esqueceu, mas que indigna os cultores do atraso: a precariedade.
Lavradas as queixas, arrumada a função, os alegados jornalistas regressaram às redacções. Foi como se nunca tivessem saído desse seu pequeno mundo.
Na RTP3, Manuel Carvalho, ex ou actual vice-director do Público, tanto faz, profetizava a propósito de Gates, Zuckerberg e outros visionários que ganharam milhões, que são as contradições do capitalismo (lembrou até saboreadamente que a frase é de Marx) e que assim o capitalismo morre (o que deve acontecer pela vigésima vez, digo eu).
Na Sic, o jornal das 20, a propósito do debate parlamentar sobre a TSU, alegrava-se porque «Costa trazia a resposta preparada contra uma oposição com telhados de vidro». Mais tarde, uma menina lamentava de Bruxelas que a direita, maioritária no Parlamento Europeu, tivesse elegido para presidente um deputado do PPE, porque isso não «reequilibra» (diz ela) as forças. E mais tarde ainda, o mesmo noticiário celebrava as palavras do presidente chinês, que, em Davos, atacava o proteccionismo, logo, Trump (a China celebrada por atacar o proteccionismo, palavra de honra -- já não há limite para as piadas involuntárias em que as redacções caem).
Público, DN, Expresso, TVi e a mesma Sic prosseguem a sua campanha patética contra o presidente eleito de outro país, tendo agora descoberto que as mesmas sondagens que tinham Hillary por eleita vislumbram agora que Trump é muito pouco popular.
E todos em uníssono batem em Passos Coelho por não fazer o que Costa diz.
Alegremo-nos, portanto, o Congresso foi leve, a pequena reunião trabalhista pelos vistos não estragou quem lá foi. Felizmente para todos, e para nosso entretenimento, sairam de lá como entraram: a debitar as mesmas ideias, enviesamentos e sentenças que o público recusa pagar.
Costa chama-lhes usualmente "Oposição", ao PSD e ao CDS. E "parceiros", ao PCP e ao BE. (Enquanto Manuel Alegre se comove e chora ao ver a Esquerda unida.) Num país normal, atento e informado, seria quanto bastava. Em Portugal não.
Em Portugal, os parceiros (PCP e BE) servem para votar contra a Oposição (PSD e CDS) e a Oposição pretende-se sirva para bombo de festa ou para - subitamente - acudir ao partido minoritário no Governo, quando os parceiros batem o pé e dizem não.
Tudo isto a flagrante propósito da "discussão TSU". Desce ou não desce? Creio bem, a abundancia dos argumentos dos economistas, a favor ou contra, são de momento o menos importante. Até por isto: Costa persiste em afirmar está tudo a correr pelo melhor.
E se está, está. Se não está, Costa mente e urge os portugueses se apercebam disso.
O ruído é imenso. Talvez a Oposição seja, no imediato, a grande perdedora por não votar ao lado do PS na "questão TSU". Tanto Passos como Cristas ficam a anos-luz da falácia e do descaramento de Costa, que já lhes lançou à cara a ignomínia toda. Mas não haja pressa! É de esperar o programa educativo do imparável ministro Brandão Rodrigues dê frutos e o eleitorado aprenda finalmente a distinguir (agora e nas urnas) a oposição dos parceiros do Governo.
Enquanto não, Costa continuará a jurar que os gatos são lebres. Mas, costuma dizer-se, à primeira quem quer cai, à segunda cai quem quer.
Como sabemos, o Público era, antes de David Dinis, um jornal pujante, em franco crescimento, com um número de leitores e vendas crescente e unanimemente visto com um jornal isento.
Agora, com a saída de alguns dos responsáveis pelos seus brilhantes resultados, vai ser o descalabro.
Uma pena.
Como julgo já ser consensual, a doença profunda de que Portugal padece chama-se ilusão. Ela manifesta-se de múltiplas formas. Dívida, baixa taxa de poupança, arrogância, desproporção entre direitos adquiridos e deveres practicados, amanhãs que cantam, fuga para a frente, incapacidade de racionalizar e argumentar, e acima de tudo negação. Com esta listagem creio que, qual psicólogo, o primeiro passo a interiorizar é perceber que não é com pura racionalidade que se convence o doente, nomeadamente se utilizarmos um estilo assertivo recheado de argumentos. Adoptar esta postura só leva a que o iludido se feche e adopte uma atitude defensiva, tornando impossível a sua cura. Preferível é deixar o doente falar e facultar-lhe espaço suficiente para se espalhar, algo que só o tempo e as circunstâncias que a realidade vai impondo conseguem fazer valer. Sobra assim ao lúcido socorrer-se da paciência que este exercício impõe, o que convenhamos não é a atitude mais fácil para o actor político que no dia-a-dia é chamado ao combate político.
A prova de que a racionalidade é ineficaz pode ser encontrada na forma leviana como o nosso (des)governo* encara a evolução da taxa de juro a que Portugal se financia nos mercados. Não admite que a mesma possa reflectir a opinião racional de inúmeros agentes que, embora outrora não tenham dado mostras de total racionalidade, têm tido nos anos mais recentes atitude bem mais alerta perante as diferenças entre cada devedor. Quando confrontado com o facto o ilusionista de serviço desorienta-se e responde de modo ludibrioso e por vezes até acintoso, tal é a diferença entre o que é e o que deveria ser. Com a agravante de que na cabeça de um socialista é uma contradição dos termos o facto de serem os mercados a regularem governos desmiolados e não o seu contrário. Direi pois que mais vale flanquear o ilusionista não o confrontando directamente, uma absoluta perda de tempo, antes falando para o povo sobre as consequências das ilusões. No caso das taxas de juro, e só relativamente à última emissão, é bom ter presente que a ilusão vai ter um custo adicional para os portugueses de cerca de 660 milhões de euros (ME), ou seja, 3000 ME * 2,2% * 10 anos. Simpaticamente para as luminárias de serviço assume-se que 2,2% é a diferença entre o que pagaria um governo de qualidade mediana em comparação com o actual (des)governo. Para isso recordamos que em Fevereiro de 2015 Portugal financiou-se a cerca de 2%.
*Para o BE e PCP isto nem sequer é tema porque as dívidas para estas cabeças não devem ser pagas
Pedro Bazaliza
Convidado Especial
Fotografia Observador
A opção de usar os dinheiros da política agrícola comum para apoiar actividades produtivas é uma velha teimosia do actual ministro e, quanto a mim, uma opção errada e reaccionária.
Que o aumento da produtividade das áreas de eucalipto é uma prioridade da política florestal do país, inteiramente de acordo. Que o Governo se concentre em criar condições para isso, em especial no acesso à licença e, se existisse, na extensão rural e apoio técnico aos produtores, encantado da vida.
Mas o financiamento desta opção, tal como o financiamento da fileira do leite e do porco, outras decisões do actual ministro (para "domesticar os mercados", justificou) é tão errado como andar a financiar festivais de música com pretextos ambientais idiotas.
O dinheiro dos contribuintes canalizado através da política agrícola comum deveria concentrar-se no pagamento de serviços que não podem ser apreendidos pelo mercado, os bens e serviços difusos de interesse geral cuja venda em mercado é difícil: serviços de gestão de combustíveis e consequente gestão do fogo, serviços de gestão do ciclo da água, serviços de conservação da nossa herança cultural, serviços de conservação e promoção da biodiversidade, etc..
Na medida em que a melhor maneira de obter resultados colectivos for pagar esses serviços a actividades produtivas com dificuldade de competitividade, que sejam pagos esses serviços.
Mas das duas, uma: ou a produção de eucalipto é uma actividade económica interessante (e é) e deve procurar resolver os seus assuntos no mercado, bastando que o Estado não atrapalhe, ou se precisa que o Estado a financie, nem que seja em componentes de interesse geral, como o real e verdadeiro interesse colectivo no aumento da sua produtividade por hectare, o melhor mesmo é pensarmos noutro uso para o território.
Ironia do destino, a assunção de que o PSD concorrerá sozinho à CML surgiu pela boca de Pedro Passos Coelho no dia em que uma sondagem apontava para a preferência dos eleitores á direita por uma coligação. Uma péssima notícia para aqueles que viam nas próximas autárquicas uma oportunidade de castigar a esquerda pela trágica gestão que vem praticando no maior município do país. Digo isto com a autoridade de quem nunca foi um sectário do CDS, antes um pragmático que acredita ser a união dos dois partidos fundamental para os portugueses poderem ambicionar uma alternativa ao triste fado do socialismo. Espero enganar-me, mas receio bem que as hesitações e a demora na definição duma estratégia e de um seu candidato para Lisboa não deixarão de ser cobradas a Pedro Passos Coelho na devida altura. Definitivamente os lisboetas mereciam um entendimento entre os dois partidos à direita: cansados que estão de verem a sua cidade transformada numa lixeira e num infernal campo de experiências de mobilidade e trânsito, uma Lisboa que perdeu a vergonha de expulsar os seus filhos para as periferias, a capital que o tripeiro Medina pretende reduzir a um cenário hollywoodesco para turista ver, com o lixo escondido debaixo do tapete. Assim, com Lisboa “a arder”, um dia ele será recebido em ombros pelos portuenses mais ressabiados.
Fotografia: Rua dos Anjos "Lixeiras de Lisboa" daqui
Evangelho segundo S. João 1,29-34.
Naquele tempo, João Baptista viu Jesus, que vinha ao seu encontro, e exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha frente, porque era antes de mim’.
Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se manifestar a Israel que eu vim batizar na água».
João deu mais este testemunho: «Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele.
Eu não O conhecia, mas quem me enviou a batizar na água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo’.
Ora, eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».
Da Bílblia Sagrada
Ao ouvir e ler a intensa barragem de propaganda sobre os futuros votos dos partidos sobre a TSU, lembrei-me da noite das eleições:
"O PS assume a plena responsabilidade que lhe foi acometida de garantir que a vontade dos portugueses não se perca no vazio. O PS fará tuda para cumprir o mandato que recebeu dos eleitores" (do discurso de derrota de António Costa, na noite de 4 de Outubro).
Com base nesta ideia de fidelidade ao mandato recebido, António Costa recusou abster-se para garantir um governo dos partidos mais votados, explicando que tinha recebido um mandato para mudar de políticas.
Foi mais longe, para assegurar essa mudança de políticas, prescindiu do programa com que se apresentou a eleições, abdicando de mexidas na TSU, uma das três exigências centrais do BE para viabilizar o seu governo.
Note-se que os partidos mais votados propuseram uma série de aproximações ao programa que o PS apresentou ao eleitorado, incluindo a adopção de medidas centrais do programa do PS no programa do futuro governo saído das eleições, como as que se referiam à TSU, para que a votação no PS se traduzisse nas alterações de políticas pretendida pelo eleitorado.
Depois disto tudo, a minha pergunta é simples: os partidos mais votados receberam algum mandato para viabilizar um governo do PS apoiado pelo BE e PC, assente em políticas que não foram a votos?
O programa do actual governo não consta nem da plataforma eleitoral do PS, nem da do BE, nem da do PC, como é normal por ser o produto de uma negociação posterior às eleições.
Se os partidos mais votados não receberam um mandato dos eleitores para viabilizarem este programa de governo em execução, qual é a questão que se levanta quando, legitimamente, adoptam o modelo de intervenção do PS e se recusam a viabilizar políticas (não são medidas avulsas, são políticas que estão em causa) que acreditam que não foram as que foram votadas nas eleições?
Uma das grandes vantagens da Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD (convém lembrar que foi iniciativa de Passos Coelho e muito contestada pelo PS) é a informação prestada por todos os envolvidos, ao longo dos anos, nos processos deste banco. Pouco importa se teremos, ou não, conclusões mas ficamos a saber como foram tomadas algumas das decisões que geraram concessões de crédito que todos nós pagaremos e bem caro. Vale a pena ler as declarações de Teixeira dos Santos que diz exatamente o contrário do seu antecessor Luis Campos e Cunha. Claro que Sócrates nega tudo. Cada um que tire as suas conclusões mas fica para o anedotário a afirmação de Teixeira dos Santos a propósito daquilo considerou como “coincidência” a indicação dos nomes de Vara e de Santos Ferreira: “são da minha responsabilidade. Foram uma decisão minha que transmiti ao primeiro-ministro.” E para cereja em cima do bolo no que à escolha de Vara diz respeito: “Fez carreira na Caixa, era diretor. tinha conhecimento dos cargos de direção da Caixa e capacidade de liderança. Fazia a ligação entre a administração e a Caixa e sinalizava que os quadros da Caixa poderiam chegar à administração”.
Clara Barata escreve no Público: "Betsy DeVos é conhecida no Michigan por ser uma multimilionária que tudo o que fez na vida foi financiar os lobbies contra a escola pública. ... defende a educação privada ou os cheques-educação ... No seu Estado a experiência não tem produzido bons resultados ... Um relatório federal de 2015 concluiu que "um número excessivamente alto" destas escolas estava na lista das piores ao nível estadual, diz o New York Times".
A Wikipedia informa: "Elisabeth "Betsy" DeVos ... is an American businesswoman, philanthropist, and education activist from Michigan ... DeVos was one of the architects of the Detroit charter school system and she is a member of the board of the Foundation for Excellence in Education. She has served as chairwoman of the board of Alliance for School Choice and heads the All Children Matter PAC ... Douglas N. Harris, professor of Economics at Tulane University, wrote in a New York Times op-ed that DeVos was partly responsible for "what even charter advocates acknowledge is the biggest school reform disaster in the country." In the National Assessment of Educational Progress, Detroit had the lowest reading and mathematics scores "by far" over any city participating in the evaluation. She designed a system with no oversight, said Harris, and where schools that do poorly can still continue to enroll students.
On the other hand, a study by the Center for Research on Education Outcomes found that: "the typical student in Michigan charter schools gains more learning in a year than his TPS [traditional public schools] counterparts, amounting to about two months of additional gains in reading and math. These positive patterns are even more pronounced in Detroit, where historically student academic performance has been poor." Ramesh Ponnuru of National Review said that "some 47 percent of charter schools in Detroit significantly outperform[ed] traditional public schools in reading." Defending DeVos' record in Michigan, Jay P. Greene, professor of Education Policy at the University of Arkansas argued Harris' New York Times article misled readers on the evidence and "falsely claimed that Detroit has failed to close failing charter schools", noting that Detroit has closed more charters than Louisiana, a state Harris cites as a model for charter school legislation.".
Passemos por cima do facto de uma jornalista encartada dizer de alguém que a única coisa que fez na vida foi financiar lobbies do que quer que seja e comparemos a informação de um jornal pago com a informação de um recurso não pago.
O que a comparação permite é perceber que a jornalista se limitou a escolher as partes da informação pública que lhe dá jeito para convencer os seus leitores de que pessoa em causa é muito má e, sobre um assunto evidentemente controverso como o cheque ensino, escolhe um dos pontos de vista, omitindo que existem outros que o contrariam, partindo do princípio de que os seus leitores não têm capacidade nem o direito de ter toda a informação que lhes permita ter a sua própria opinião, em vez de absorverem a opinião da jornalista.
Depois queixam-se de que os jornais estão as ser vítimas da internet, das novas tecnologias, da circulação de informação não verificada e por aí fora.
Em parte será isso, claro, mas o jornalismo é sobretudo vítima de maus jornalistas que confundem o seu ofício com o de propagandistas de causas.
A 9 de Janeiro o Governo, através de um despacho do seu Ministro do Ambiente (declaração de interesses: conheço-o pessoalmente há muitos anos, quando os dois trabalhámos com bastante proximidade, sendo Matos Fernandes do gabinete do membro do governo que tutelava o Instituto da Conservação da Natureza, quando eu era seu vice-presidente), veio tomar decisões sobre o Fundo Ambiental criado em 12 de Agosto do ano passado.
Este Fundo Ambiental resulta da fusão de vários fundos anteriormente existentes e não vou perder muito tempo a explicar o que penso sobre a forma como o Estado gere estes fundos autónomos porque já há muito tempo, quando foi criado o Fundo para a Conservação da Natureza, eu escrevi o que pensava, quer da sua arquitectura geral, quer da sua posterior regulamentação, e não vejo razões para alterar a minha posição base nesta matéria: todos os fundos públicos que não resultem directamente do Orçamento do Estado deveriam ter uma norma que impedisse que todas as organizações e instituições em que o Estado tenha mais de 25% de peso no seu capital de ser suas beneficiárias.
Já na altura eu explicava a minha descrença nos modelos de gestão adoptados: "Já estou mesmo a imaginar o Gestor do Fundo (que por inerência é o Presidente do ICNB) a pedir ao Presidente do ICNB (que por inerência é o Gestor do Fundo) a devolução do dinheiro do Fundo que o aplicará de novo, provavelmente, nas entidades públicas que fazem a gestão das áreas classificadas (que agora não me estou bem a lembrar quem seja)."; "Penso que o artigo 13º do fundo traduz bem a postura ideológica em que assenta este regulamento. Este artigo tem um título: "Publicitação dos apoios". Qualquer pessoa normal, mesmo não conhecendo a convenção de Aarhus (a meu ver evidentemente violada por este regulamento) pensará que um artigo com este título serve para criar uma obrigação de transparência na gestão do fundo, obrigando à publicitação dos apoios prestados. Engano, meus caros, o artigo serve para criar nos beneficiários a obrigação de publicitação do apoio dado pelo Fundo, usando o logótipo do Fundo (a aprovar pelo Director, by the way), mas com a ressalva do seu número 2, que já citei acima, de que os resultados passam previamente pelo director do fundo.".
Mais de cinco anos passados sobre estes textos, é o Governo que reconhece que os panorama de aplicação destes fundos estava longe de ser risonho: "Os resultados evidenciados pela incipiente execução dos fundos existentes na esfera do Ministério do Ambiente — o Fundo Português de Carbono, o Fundo de Intervenção Ambiental, o Fundo de Proteção dos Recursos Hídricos e o Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade — determinaram que, para garantir uma maior eficácia da política de ambiente, o Programa do XXI Governo Constitucional contemplasse a criação de um único fundo ambiental".
Só que o Governo não quis mudar as regras para tornar este fundo mais transparente ("A definição do plano anual de atribuição de apoios e utilização das receitas consta de despacho do membro do Governo responsável pela área do ambiente", uma lógica de decisão discricionária que é inaceitável em qualquer democracia madura) ou para o tornar num instrumento de apoio aos agentes económicos e sociais que geram mais valias ambientais (o Estado não deixa de ser o principal beneficiário dos fundos) mas simplesmente para ter à sua disposição um instrumento mais poderoso de propaganda política e auto-financiamento.
As regras do fundo implicam uma opacidade total, uma evidente violação das obrigações de transparência e participação pública a que o Estado português está obrigado, nomeadamente pela convenção de Aarhus e, sobretudo, pelo bom senso.
Se alguma dúvida houvesse, o despacho citado no início deste texto é muito esclarecedor.
O Fundo Ambiental, em 2017, terá um pouco mais de 150 milhões de euros.
Destes, quase metade, 62 milhões de euros, são para pagar o défice tarifário da electricidade, 16 milhões são para compromissos já assumidos, quase 25 milhões são cativações, reservas e aplicações financeiras.
32 milhões são para projectos definidas majestaticamente, pelo Ministro do Ambiente e quase 15 milhões (10% do Fundo Ambiental) são para candidaturas a apresentar a financiamento.
Quando se olha para as entidades beneficiárias dos projectos definidos pelo Ministro do Ambiente, o peso do Estado (central e local) é absolutamente esmagador e incluem coisas como dez milhões de euros para comprar veículos eléctricos para substituir frota mais antiga.
Mas a verdadeira estrela da companhia é o que o senhor Ministro decide em matéria de candidaturas para projectos de capacitação e sensibilização ambiental: dos um milhão e quinhentos mil euros para candidaturas deste tipo, um milhão diz respeito a candidaturas de Associações, Fundações e ONGs e os outros 500 mil (meio milhão de euros) são integralmente destinados às entidades organizadoras de festivais de música a quem o Ministro atribua um selo de "Festival Verde".
Não faço a menor ideia de como terá surgido esta ideia peregrina, o que sei é que há um governo que se sente totalmente à vontade para tomar uma decisão destas, sem dar cavaco a ninguém e sem medo que jornalistas, oposição, movimento ambientalista ou qualquer outra coisa, lhe pergunte a que propósito um fundo ambiental financia festivais de música com base em pretextos ambientais de treta.
O que verdadeiramente me incomoda não é ser governado por um um governo fortemente empenhado e comprometido com o capitalismo de compadres que caracteriza Portugal, o que me incomoda é ver como nós todos, pessoas, ONGs, jornais, oposição, etc., olhamos para o lado e deixamos tudo isto andar, como se não fosse o nosso dinheiro e a nossa vida que estivesse em causa.
Não deixa de ser deprimente olhar para isto tudo e lembrar-me de Caetano, "tudo esbarra embriagado de seu lume", como se tivéssemos perdido a capacidade mínima de indignação e pudéssemos ouvir tranquilamente dizer que "nem chegaste a perceber mas na voz que canta tudo ainda arde, tudo é perda".
Curioso aquele busto da república destacado à cabeceira do caixão de Mário Soares nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos como se fora um bezerro de ouro. Chesterton tinha razão quando afirmava que "quem não acredita em Deus tende a acreditar em qualquer coisa".
A Mário Soares, que em relação à área política que defendo era um adversário, devemos em muito o caminho da democracia, contra o caminho da servidão comunista. A Mário Soares devemos a admiração que merece qualquer político de talento, qualquer homem que respira, come, vive política, a quem a política corre no sangue e no cérebro, mesmo quando é contraditório, ou grosseiro, ou um pouco perdido.
A João Soares, antigo e bom colega de direito, «tipo porreiro», pessoa estimável, devo sentidos pêsames. Como a Eduardo Barroso, que não conheço, mas cuja atitude sempre humorada e cavalheiresca me encantava num defunto programa de futebol.
Dito isto:
O espectáculo a que assistimos hoje, em Lisboa e nas televisões, é obsceno. Hoje, em Lisboa e nas televisões, a oligarquia (que a si própria se intitula «Estado») declarou sonoramente a total indiferença a que vota os portugueses, as pessoas a que as televisões chamam «anónimos», ou «populares», ou «povo». Hoje temos aqui um teatro nosso em que se exige que participemos todos. Vocês, não. Trabalhem ou não trabalhem, andem pelas ruas ou não andem, fiquem em casa se sentirem as ruas tolhidas, adiem afazeres e compromissos que tenham, vão à merda com as vossas pequenas ocupações e os vossos incompreensíveis horários, estamo-nos cagando (assim mesmo), hoje as ruas são nossas, as ruas são sempre nossas.
Usaram para esta declaração o cadáver de Mário Soares, que foi enviado confrangedoramente, tontamente, a passear dentro de um caixão por Lisboa, para Norte e para Sul, agora para Oeste, agora para Norte outra vez, agora para Sul, agora para Sul e Sueste, agora para Leste, para Norte outra vez agora. Foi ao ralenti ou a passo de cavalo pelo meio de ruas vazias, que as televisões unanimemente declaravam pejadas de gente, de «populares», de «povo», de «anónimos», mesmo quando as imagens brutalmente as desmentiam. Hoje a oligarquia juntou-se para chorar umas lágrimas de crocodilo, dar uns abraços e aprazar negócios, e demonstrar a sua importância perante as serviçais câmaras. As «multidões» com que as televisões sonhavam, abstiveram-se. A abstenção cresce, cresce a apatia. Mas para isso, também, a oligarquia está-se cagando.
Menos mal que tenha estado ausente o primeiro-ministro António Costa. Aquilo que Soares combateu com risco da pele e da vida em defesa da democracia e do país, este acolheu e presenteou em nome da sobrevivência política.
Com algumas reacções à morte de Mário Soares nas redes sociais se comprova que tanto há gente alarve de direita como de esquerda. A grosseria é muito democrática. A diferença é que enquanto a direita se envergonha, à esquerda ela é arma para a revolução que não sobreviverá sem o ódio.
Faz bem rever o inesquecível debate de há 42 anos entre Soares e Cunhal. Basicamente por duas razões.
A primeira porque nele se confirma o apego de Mário Soares ao pluralismo político, que é quase tudo da liberdade.
A segunda é a empedernida cegueira de Cunhal. Nessa altura, ainda a sua triunfal cegueira. Igualzinha à de Jerónimo de Sousa, se então fosse este o interveniente no debate. Uma cegueira sem hipóteses argumentárias - contra os factos há todos os argumentos, nem que seja apenas o perpetuado (e revolucionariamente displicente) "Olhe que não! Olhe que não!".
Isto posto, Mário Soares terá muitos senãos mas este não é, seguramente, o momento do seu julgamento perante a História. Antes se trata agora de manifestar o respeito pela pessoa e pela memória de um homem que deixou a sua marca nos destinos de Portugal. Um republicano, laico e socialista que curiosamente foi à trincheira oposta (a nossa) buscar, para a chefia da sua Casa Militar, um general monárquico, católico e de direita, como o próprio se definiu.
Que descanse em paz!
O último post no facebook do Laboratório de Fogos Florestais da UTAD (um dos melhores sítios para ter informação actualizada e segura sobre fogos, em Portugal) é sobre um fogo que lavra há alguns dias em Espanha, numa zona onde habitualmente, por esta altura, há que faça umas férias de neve. O fogo continua, apesar de se registarem seis graus abaixo de zero.
Quando se juntam altas temperaturas, ventos fortes e baixas humidades, não há nada que possa fazer para um fogo a não ser a falta de combustível.
O que o Laboratório de Fogos Florestais faz notar, no seu curto comentário ao link com a notícia, é que as humidades baixas anulam o efeito das temperaturas baixas, permitindo fogos em dias muito frios, mas a inversa não é verdadeira: por mais quente que seja o dia, não arde grande coisa se a humidade for alta.
Já num post anterior do Laboratório se falava de um fogo de 300 hectares em Montemuro, entre o Natal e o Ano Novo.
No Sábado, numa iniciativa de uma associação a que pertenço, a Montis, quando se comentava este post olhando para as colunas de fumo que se viam para os lados de Montemuro (a 7 de Janeiro, com as temperaturas a variarem ao longo do dia entre os zero e os dez graus), Paulo Fernandes, que coordena o Laboratório da UTAD, referia ainda o registo de um outro fogo de 500 hectares agora no Inverno, também em Montemuro.
A Montis está a promover um conjunto de passeios em áreas ardidas no Verão, na zona das serras da Freita e Arada, onde arderam cerca de 30 mil hectares, com o objectivo de discutir o problema dos fogos fora do tempo em que tudo arde, procurando compreender melhor as raízes do regime de fogo que temos, de que forma podemos gerir melhor o fogo e de que forma está a evoluir a área depois do fogo. O próximo passeio, a 4 de Março, será sobre a evolução de núcleos de espécies invasoras pós-fogo.
Estes passeios têm juntado gente de diversas origens e formações, uns que gostam de passear, outros que se interessam mais tecnicamente pelos assuntos e têm permitido umas discussões informais interessantes.
Numa dessas discussões, quando perguntei a algumas pessoas mais ligadas ao combate se lhes parecia viável a ideia de que há fogos, em determinadas circunstâncias, em especial entre o Outono e a Primavera, que não devem ser combatidos, e que mesmo em épocas críticas é preciso deixar progredir o fogo, em algumas áreas, para aproveitar as oportunidades de combate criadas pela falta ou diminuição de combustível, permitindo que o ataque directo ao fogo seja mais eficaz, a resposta deixou-me preocupado.
Deram-me o exemplo de uma indicação técnica nesse sentido num fogo concreto em 2016, que o comando operacional não acatou: estavam muitos meios envolvidos no combate, incluindo meios pesados, e portanto a estrutura nacional de comando pressionava constantemente para que o fogo fosse extinto rapidamente, evitando que no sistema de informação de fogos florestais o fogo estivesse demasiado tempo "em resolução", sem que fosse extinto rapidamente.
O que arderia a mais não tinha a menor importância e o fogo teria sido extinto com muito menos esforço, muito mais segurança e muito menos recursos.
O que é preocupante é perceber como a estrutura de comando mais elevado na protecção civil está cada vez mais concentrada na gestão mediática do fogo, querendo a todo o custo apresentar menos áreas ardidas, fogos combatidos mais rapidamente, mesmo que isso signifique fazê-lo em piores condições e consumindo mais meios. Por isso se omitem referências aos fogos frios destes dias de vento Leste e baixas temperaturas, perdendo a oportunidade de fazer a pedagogia do fogo, perdendo a oportunidade de acompanhar estes fogos, a maioria fogos pastoris, perdendo a oportunidade para os enquadrar num sistema de informação eficaz que apoie o comando operacional quando, num Verão qualquer, e há sempre um Verão em que isso vai acontecer, seja preciso gerir um grande fogo na região.
Depois de cada ano de fogos catastróficos há sempre um fetiche político adoptado por políticos e comunicação social: depois de 2003 e 2005, era a desorganização do combate, que levou à reforma da protecção civil; mais tarde, era a limpeza das matas e a incúria dos proprietários, que levou a uma catrefada de legislação sobre obrigatoriedade de limpeza de terrenos e um sistema kafkiano e absurdo de autorização de queimadas; actualmente andam entretidos com os terrenos sem dono e com mais uma palete de diplomas legais, como se o problema da gestão da produção florestal fosse legal e não de competitividade, e como se o problema dos fogos fosse um problema de logística e organização, e não um problema de conhecimento e economia.
Infelizmente ninguém se lembra de fazer o que recentemente fez o Canadá: depois de um fogo terrível de meio milhão de hectares (meio milhão, 500 mil, não é erro, para se ter a noção de escala, Portugal tem nove milhões de hectares) adoptaram uma nova doutrina de gestão de fogo, tecnicamente sustentada na melhor informação sobre ecologia do fogo, abandonando finalmente as doutrinas de supressão do fogo e avançando no sentido da gestão do fogo, promovendo a queima para redução de combustíveis, deixando arder quando não estão valores em risco e o fogo, mesmo não controlado, serve os objectivos de gestão, etc..
Seria bom que em Portugal finalmente se alterasse a doutrina de fogo adoptada, se entregasse a gestão de fogos florestais a quem sabe de ecologia do fogo e não a especialistas em logística.
Quando se acabarem os fetiches político e mediáticos que têm permitido saltar de reforma em reforma, mantendo a doutrina, talvez estejam reunidas as condições políticas e sociais para deixarmos de medir o problema em hectares de áreas ardidas, e passemos a medir o problema em perdas (económicas, sociais ou ambientais) versus recursos alocados à gestão do problema.
Como contribuinte, eu agradeceria, como paisagista, eu também agradeceria, como pequeno proprietário, eu também agradeceria, como conservacionista, ainda agradeceria e como cidadão, eu votaria em conformidade.
O Correio da Manhã é o jornal com maior números de tiragens. Ou seja é o jornal preferido pela grande maioria dos portugueses e, de alguma forma, reflete a relevância dada pelo povo à política e aos políticos portugueses.
"Deixe-me explicar-lhe: Porque razão são tão elevados os impostos sobre o tabaco? Para desencorajar os fumadores. Porque razão multa o governo os condutores que excedem a velocidade ? Porque não queremos isso. Mas então, porque motivo tributamos as pessoas que trabalham? Se se tributa o trabalho e se dão subsídios àqueles que não trabalham, castigam-se os que trabalham e beneficiam-se os ociosos."
"Eliminem-se todos os impostos, menos dois: sobre o álcool e o tabaco, e estabeleça-se uma taxa única para todos os rendimentos provenientes do trabalho ou do capital. Haja um mínimo de regulamentos, mantenha-se a moeda estável, e fique por aí a intervenção do governo."
"A EU é uma operação estatal, na qual o povo não tem direito a voto…Juncker comporta-se como um dono, não como um servidor da coisa pública… Os Junckers deste mundo são inimigos do povo e da prosperidade."
Frases do economista americano Arthur Laffer roubadas a J Rentes de Carvalho aqui
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Onde está Pad é obviamente Psd.
E isto porquê? Porque o Pad teima em não falar abe...
Se o PSD ganhar as eleições com maioria relativa, ...
Se o PSD ganhar as eleições com maioria relativa, ...
Quem quiser colocar em causa o sistema dito libera...