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A frase seguinte é do comentário de Miguel Sousa Tavares, hoje no jornal da Sic. Ela surgiu a propósito de Trump, mas extravasa em muito o tema. É uma frase importante e cristalinamente reveladora sobre os conflitos de ideias actuais. A citação é juradamente fidedigna e literal. Disse MST (sublinhado meu): «Quando a vontade do povo é qualquer coisa que vai contra aquilo que nós temos como o bem comum e as melhores ideias, não é preciso ceder à vontade do povo, é preciso resistir à vontade do povo.»

E, então, porque é que a frase de MST é reveladora e importante?

Primeiro, porque o que a esquerda chique e nonchalante pensa e diz em público é o mesmo que a esquerda dura e profissional pensa mas cala: que a sua superioridade intelectual e ética a desobriga de acatar a vontade democrática, visto ser ela, esquerda, que entende, defende e promove o «bem comum» e as «melhores ideias».

Segundo, porque a esquerda debonnaire e vocal (e a dura, também, mas pela calada) compreendeu que há uma revolução em curso e que essa revolução é contra ela:  contra o relativismo, contra o muliculturalismo, contra a tolerância da intolerância, contra a tirania do politicamente correcto, contra as políticas legislativas, económicas e laborais celebradas nos salões e nos media, mas empobrecedoras e produtoras de servidão no terreno.

A guerra centra-se, agora, em Trump. A esta luz compreende-se bem o zelo diário de desinformação, omissões, invenções e mentiras dos nossos media. Esse combate vocal é feito de forma mais cordata, como com MST; ou de forma boçal e néscia, como na generalidade dos noticiários, ou nas crónicas do correspondente da Sic em Washington, um Ribas segundo o qual Trump é «um construtor civil que chegou à presidência» e, portanto, «não tem noção» do efeito das suas decisões.

A batalha seguinte é em França. Em França onde a esquerda se ilude com o lirismo arcaico de Hamon e aponta baterias a Marine Le Pen, sem perceber, por enquanto, que o perigo (para ela, esquerda) não vem tanto do ideário estatista a que antigos comunistas aderiram com tão grande facilidade, mas mais dos que, como Fillon, querem quebrar o sistema estatista e assistencialista por dentro do sistema. A esquerda doméstica e os Benoitzitos desta vida ainda não compreenderam nada. Deviam ler mais o Canard Enchainé. O Canard Enchainé tenta assassinar Fillon porque já percebeu tudo.

O padeiro anarquista

por henrique pereira dos santos, em 30.01.17

Um padeiro resolveu dizer uma coisa relativamente simples: muitos dos meus empregados têm dois empregos porque querem ganhar mais dinheiro. Quer eles, quer eu, preferíamos que fizessem esse mesmo número de horas que já fazem mas na minha empresa. A lei proíbe-me de os contratar mais de 40 horas, embora, naturalmente, não os proiba de trabalhar mais de 40 horas, o que acaba numa situação menos eficiente para as empresas, e mais penalizadora para os trabalhadores. O padeiro conclui, portanto, que deveria ser possível que, havendo acordo e interesse do trabalhador, as empresas pudessem contratar jornadas de trabalho até 60 horas.

Caiu o Carmo e a Trindade com uma simples opinião.

Passando por cima das centenas deturpações da opinião (nunca percebi a utilidade de contestar afirmações que não foram feitas como caminho para concluir que quem não disse uma idiotice é um idiota), esta opinião tem sido contestada essencialmente com os seguintes argumentos:

1) Se o padeiro pagasse mais aos seus empregados, eles não teriam necessidade de trabalhar mais que 40 horas. O facto de haver dezenas de profissões qualificadas que praticam horários, formais ou informais, de mais de 40 horas (enfermeiros, médicos, professores universitários, patrões, etc.) parece irrelevante para quem usa este argumento;

2) É imoral aceitar a existência de horários de trabalho de 60 horas (na versão maximalista, é um retrocesso civilizacional). Que o valor do trabalho seja uma função do valor criado e não uma categoria moral parece ser irrelevante para quem usa este argumento;

3) O que o padeiro paga é incompatível com uma vida digna dos seus empregados, mesmo que seja acima (ou igual, é indiferente para o argumento) do ordenado que o Estado estabelece como mínimo, ou seja do que o Estado estabelece como mínimo decente para uma vida decente. A única conclusão consequente deste argumento é a que é tirada pelo Partido Comunista: o ordenado mínimo deveria ser de 1200 euros por mês. Que o PC, enquanto entidade patronal não pratique o que quer impôr às outras entidades patronais é um mero pormenor sem importância. Tal como o facto dos outros padeiros do país não praticarem ordenados acima dos praticados pelo padeiro anarquista é outro pormenor.

Em todas estas linhas de argumentação o que é impressionante é o desprezo pela realidade: independentemente das nossas opiniões e convicções morais e éticas, o facto é que há milhares de pessoas a fazer horários muito mais extensos que 40 horas semanais, têm é de faze-lo ilegalmente (como é muito, muito frequente em todo o país, em especial nas micro-empresas que concorrem directamente com o padeiro anarquista) ou em mais que uma entidade patronal, com perdas para todos.

É verdade que a ideia de poder estender horários de trabalho até 60 horas semanais (que não é o mesmo que dizer que jornada de trabalho é de 60 horas, mas sim que as jornadas de trabalho de 40 horas podem ser estendidas, com o pagamento devido e por acordo com o trabalhador) levanta problemas muito delicados: a relação de trabalho não é simétrica e o patrão tem, com frequência, um ascendente muito grande sobre o trabalhador que lhe permite "formatar" a vontade do trabalhador.

Uma coisa é discutir problemas reais, postos por soluções reais, para realidades existentes, outra coisa, estupidamente frequente no espaço de debate público, é pretender discutir opiniões e propostas retirando da equação toda a realidade que limita o alcance dos nossos argumentos.

Senhores jornalistas, por favor, não poderiam passar da espuma das coisas e contribuir para aprofundar o debate em vez de simplesmente alimentarem a superficialidade emocional associada a realidades complexas?

Que tal fazerem uma reportagem sobre as condições de trabalho dos pequenos cafés e pastelarias de bairro, de base familiar?

Que tal fazerem uma reportagem sobre as pessoas que fazem jornadas de trabalho de mais de 40 horas, aposto que nos vossos jornais, em que aceitam tanta gente a escrever sem lhe pagar um tostão, não será difícil encontrar quem vá fotografar casamentos, depois do horário de trabalho, quem vá escrever livros, depois de acabar a jornada de trabalho no jornal, quem vá fazer uns extras numa rádio local, numa revista institucional, etc., etc..

E que tal perguntarem aos funcionários do PC (e respectivos sindicatos) qual é o seu horário de trabalho, se cumprem escrupulosamente as 40 horas estipuladas no seu contrato?

Deixem lá o padeiro fazer o seu trabalho em paz, deixem-no ter as opiniões que tiver sobre o assunto e façam o vosso trabalho com a mesma eficiência com que o padeiro faz o seu pão: talvez assim fosse possível ver jornais a abrir com o mesmo ritmo das padarias, em vez de os ver fechar por falta de clientes.

A propósito de livros

por João-Afonso Machado, em 29.01.17

MEMÓRIAS REDIVIVAS.JPG

Não sei se fará muito sentido divulgar num blogue um trabalho que se destina apenas a subscritores. Já na 2ª edição, sempre com todos os exemplares numerados, em conformidade com o seu adquirente devidamente identificado em lista integrante. Mas, de qualquer modo, aí vai:

Trata-se da correspondência de Camilo Castelo Branco, ao longo de quase 20 anos, com uma família minhota. Depois da descoberta de dúzia e meia de cartas inéditas do grande escritor, num arquivo em recuperação.

Por isso Memórias Redivivas. Porque elas eram já do filho de um dos correspondentes -  a quem Ana Plácido escrevia: «Camillo queria-lhe muito».

Não me limito a reproduzir cartas com uma ou outra nota de rodapé. Contextualizo-as, tento dar-lhes vida, restabelecer o diálogo (as outras fui buscá-las ao Centro de Estudos Camilianos...) entre quem as escreveu. Está lá o Camilo da ironia, do sarcasmo, do sofrimento, da gratidão. A relação de amizade vinha, senão da Maria da Fonte, pelo menos da boémia romântica portuense e anti-cabralista. Por isso estão lá, também, os seus amigos, a fidelidade e o empenho deles.

Talvez interesse aqui a ninguém. Ocorrendo alguma excepção, sempre acrescento: a 2ª edição está no prelo, a lista de subscritores vai aumentando... - procurem no Facebook o João Sem Terra, ele poderá adiantar algo mais.

Domingo

por João Távora, em 29.01.17

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa». 


Palavra da salvação

O problema é do que fica à porta

por henrique pereira dos santos, em 27.01.17

"A terminar, uma pergunta: “está em condições de dizer qual foi o saldo orçamental corrigido de medidas extraordinárias?”

"insistiu, duas vezes. “Responda à pergunta, por favor”."

"“Terá a resposta quando o diabo cá chegar”."

O problema não é termos um primeiro ministro que responde assim, trata assim o maior grupo parlamentar, trata assim o parlamento e, consequentemente, trata assim as pessoas que pagaram os impostos de que se fala nesta discussão.

Estão cumpridas as formalidades democráticas, está garantido respeito pela lei, o primeiro ministro é absolutamente livre de funcionar desta maneira, ninguém obriga, felizmente, os governantes a terem um mínimo de decência, só estão obrigados a cumprir a lei.

O que é grave é que a sociedade, em especial os seus mediadores mediáticos (passe o pleonasmo), ouçam isto, vejam isto e passem por isto como se fosse mero passo de dança, uma troca de galhardetes, uma bandarilhada.

O que é grave é a complacência, nossa e da imprensa (ou da imprensa e nossa) para com a opção do primeiro ministro entender que não tem de prestar contas aos seus cidadãos, através dos seus representantes no parlamento.

O primeiro ministro trata-nos a todos, e aos senhores jornalistas, como mentecaptos que se calam com piadas e nós, e os senhores jornalistas (naturalmente todas as generalizações têm de ser entendidas nas suas limitações) damos-lhe razão, não lhe perguntando em lado nenhum como é possível que não responda a uma pergunta destas, nem lhe perguntam como convive com tamanha falta de respeito pelos seus eleitores, nem escrevem editoriais a explicar por que razões é que responder assim é diminuir a qualidade do debate democrático e bloquear os mecanismos de limitação de poder característicos das democracias liberais sólidas.

É legítimo que o faça, mas é incompreensível que não se lhe faça notar qual é o verdadeiro significado de o fazer: o senhor primeiro ministro não é uma pessoa decente.

O excelente e subtil trabalho da imprensa

por henrique pereira dos santos, em 27.01.17

Um tipo qualquer diz: "“A comunicação social deveria estar envergonhada, humilhada. E ficar de boca calada. Deveria ficar só a ouvir durante algum tempo”.

Um jornal qualquer titula: Fulano de tal "pede à comunicação social para “ficar de boca calada”.

Devo dizer que tenho gostado imenso de ver a imensa subtileza de grande parte da imprensa procurando demonstrar na prática aquilo de que é acusada, ao mesmo tempo que finge criticar os seus críticos.

O resultado calculo que seja o pretendido, levando os seus leitores a concordar com a conclusão geral "Aqui, a comunicação social é o partido da oposição. Ela não compreende este país". Sobretudo este "Ela não compreende este país", que a grande maioria das pessoas reconhece perfeitamente como verdade.

Tudo isto seria apenas muito divertido se não houvesse um pequeno problema: uma imprensa livre, que resiste à manipulação cumprindo rigorosamente as regras da profissão, é muito mais importante para a democracia que qualquer governante.

Uma imprensa da treta, que cita fontes anónimas (não é o caso nesta peça, mas exemplos não faltam), que deturpa o que é dito para encaixar nos preconceitos dos jornalistas (seguramente o caso), que passa o tempo a procurar demonstrar a maior legitimidade democrática da rua e da democracia directa, em detrimento do voto e da democracia representativa, é muito mais preocupante que um reaccionário nostálgico de um mundo que acabou, por muito poder que temporariamente tenha.

Os defeitos da democracia liberal, as constantes referências à corrupção e à casta que domina o sistema, a identificação de grupos sociais responsáveis pelos problemas da maioria, são tudo temas velhos e revelhos na imprensa, em especial em épocas de maré vaza (os bancos e os banqueiros são um must nestas épocas, usados por todos os demagogos em todas as épocas, sejam eles Filipe o Belo ou Francisco Louçã, bovinamente ampliados por uma imprensa ressentida, preguiçosa e, muitas vezes, simplesmente ignorante).

Alimentem o medo e o desespero, deslegitimem moralmente a importância do formalismo das regras democráticas e a necessidade de aceitar os seus resultados, quaisquer que sejam, prestem vassalagem a ideias românticas cheias de boas intenções sem discutir a sua aplicação prática e tratem com benevolência quem defende ideias totalitárias com argumentos de Miss Mundo.

Depois não se queixem dos outros.

Afinal não descobriu a galinha dos ovos de ouro

por João-Afonso Machado, em 26.01.17

António Costa é assim. Com a mesma cara com que louva a sua «maioria parlamentar de esquerda», lança veneno sobre o PSD por lhe ter negado o voto favorável na pretensão de descer a TSU, em iniciativa - parlamentar -  dos seus parceiros - de maioria - contra essa mesma... descida da TSU. E, sempre com a mesma cara ainda, converteu o voto do PSD em voto contra o aumento do salário mínimo. E, e, e... geringonçando por aí.

Para isso, apareceu diante dos jornalistas com ares de beata ofendida com as «cambalhotas» do PSD. Como se a primeira cambalhota não fosse do próprio PS, antes de ser Governo e de «virar a página da austeridade» um feroz opositor à descida da TSU preconizada pelo Governo da coligação da Direita.

Entretanto parece que até se encontrou alternativa melhor: o fim dos pagamentos especiais por conta, de resto a mais feroz abordagem da pirataria tributária -o Estado a saquear, sequer esperando o contribuinte aufira rendimentos.

Seja como for, impunha-se uma tomada de posição do PSD. Já é tempo de Costa aprender a não «malhar na Direita» às segundas, quartas e sextas rogando-lhe amparo nas terças, quintas e sábados. Se escolheu o caminho da esquerda, que peça então à Esquerda o mapa emprestado.

E agora, provavelmente, - ou será que não? De Costa tudo se pode esperar... - vê-lo-emos menos tranquilo, já sem o assobiozinho regalado de quem recebe a féria certa à hora certa do mesmo dia, todos os meses. 

Jornais com causas mais altas do que a prosaica notícia

por José Mendonça da Cruz, em 25.01.17

Dois pequenos episódios para o debate sobre se o Diário é realmente de Notícias e se a opinião Público-ada tem a ver com os factos:

Por razões misteriosas DN e Público decidiram combater o presidente eleito de um país democrático estrangeiro. Assim, todos os dias apresentam historinhas sobre Donald Trump com que pensam demonstrar o bom fundamento da sua irritação e nojo. Ontem e hoje foram mais duas.

A primeira história tem a ver com «dois oleodutos controversos» cuja construção Trump autorizou, os quais, segundo os dois jornais, Obama vetara, e que agora vão prejudicar populações e ambiente. Esta é a história.

Agora, a realidade que DN e Público ignoram ou que, caso não ignorem, omitem deliberadamente: os dois oleodutos foram, de facto, chumbados por Obama, mas foram-no contra a opinião do seu próprio departamento de Estado e do estudo científico mandado fazer por este, segundo o qual a construção das condutas teria impacto desprezível sobre solo, áreas pantanosas, recursos aquíferos, vegetação, peixes, vida selvagem, e efeito de gases de estufa. A construção dos oleodutos tinha ainda o apoio de sindicatos e da maioria dos americanos (em sondagem), embora não de Obama e da militância ambientalista. O primeiro ministro da Energia de Obama, Steven Chu, explicou mesmo que «a decisão sobre a construção foi política e não científica». Os dois oleodutos transportariam (transportarão) 1,4 milhões de barris diariamente, de forma muito mais segura do que por camião ou comboio, como actualmente.

Mas, claro, Obama é santo e os nossos media seus profetas, pelo que contrariar a ciência, os sindicatos, o próprio governo e a maioria da população só revela sabedoria e visão.

A segunda  história é sobre o muro entre EUA e México. A julgar pelos media portugueses não existe qualquer muro ao longo da fronteira entre México e EUA, é apenas a perfídia trumpiana que pretende erigi-lo. Esta é a história.

Agora a realidade: a fronteiro mexico-norte-americana tem 3094 km de comprimento. O muro completo separaria (separará) o México dos estados americanos da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas. A extensão da fronteira com a Califórnia é de 220 km; a vedação estende-se, hoje, ao longo de 185 km. A extensão da fronteira com o Arizona é de 597 km; estão construídos 490 km de vedação ou muro. A fronteira com o estado do Novo México tem 290 km; estão construídos 186 km; é no estado do Texas que há menos muro construído (e mais policiamento): a fronteira estende-se ao longo de 1980 km, estando construídos 184 km de muro.

Assim, e segundo os nossos media, as centenas de quilómetros de muro construídos ou não existem apesar de se verem, ou, caso existam, são de geração espontânea. É isto que dizem aos seus leitores.

Eis, pois, em duas pequenas historinhas, dois pequenos instantâneos sobre preguiça ou desinformação (escolha que deixo ao gosto de cada um).

Eis, ainda, uma terceira historinha: já sabemos que segundo os nossos media a oposição ao governo não deve fazer oposição, e se os partidos apoiantes do governo não o apoiam a culpa é da oposição. Na esteira deste credo, a Sic contou e mostrou-nos que, hoje, na AR, PS, PCP, Bloco e Verdes zurziram o PSD devido às «contradições» sobre a TSU. A Sic deixou-nos ouvir e ver governantes e deputados do PS, do PCP, do Bloco e dos Verdes. Do PAN e do PSD é que não. Donde, a crer na Sic, o PSD entrou mudo e saíu calado. A menos que não tenha sido assim, e, então, deve-se a «erro técnico» ou a critério editorial (de novo, escolha cada um).

 

 

E já agora...

por henrique pereira dos santos, em 25.01.17

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Para o caso de haver dificuldade de leitura, aqui fica o essencial do texto:

A Fundação Francisco Manuel dos Santos tem o prazer de convidar V.ª Ex.ª para a apresentação do ensaio Portugal: Paisagem Rural, de Henrique Pereira dos Santos, no dia 9 de Fevereiro, às 18h30, na Livraria Bertrand – Picoas Plaza.
A apresentação conta com a presença do autor, e o debate será realizado entre Carlos Aguiar e Manuela Raposo Magalhães, com a moderação de António Araújo, Director de Publicações da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Livraria Bertrand – Picoas Plaza Loja C 0.9, Rua Tomás Ribeiro Cruzamento c/Rua Viriato, 1050-225 Lisboa.

Save the date

por João Távora, em 23.01.17

O lançamento público em Lisboa de "Cónicas Moralistas", a minha segunda colectânea de apontamentos e comentários, terá lugar no próximo dia 11 de Fevereiro pelas 15,30 no Instituto Amaro da Costa (Rua do Patrocínio nº 128 A em Campo d’ Ourique). O livro será apresentado por Eduardo Cintra Torres, por Pedro Mota Soares e pelo Cónego Carlos Paes, pelo que peço desde já aos meus amigos que reservem a data para estarem comigo nesse dia muito especial para mim. 

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Geringonça inclui 3 partidos e um Presidente?

por Maria Teixeira Alves, em 23.01.17

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O que se retira da primeira entrevista do Presidente da República, ontem à SIC, é que Marcelo Rebelo de Sousa é o motor e a alma do Governo de António Costa.

A sensação com que se fica na entrevista é que António Costa toma decisões no gabinete no Presidente. Ao longo de uma entrevista difícil de fazer – porque Marcelo raramente se deixa rebater pelos jornalistas (ele não está habituado a esse formato do confronto em directo num estúdio de televisão) – o Presidente da República falou como Primeiro-Ministro.

O discurso era o de António Costa (ou será o contrário?). Defendeu as políticas económicas como António Costa o fez, sempre no mesmo registo, isto é, sempre a dizer nas entrelinhas "ninguém acreditava mas nós, eu e o Primeiro-Ministro, conseguimos". Com críticas veladas à oposição, mas a enviar um recado ao PSD, para que se mantenha Passos à frente do partido durante toda a legislatura. "As lideranças da oposição têm de ter a duração de uma legislatura", disse.

A simbiose perfeita chegou ao ponto de Marcelo dizer que "há alternativas para o Novo Banco" como quem diz "já as tenho discutido com o Primeiro-ministro e logo decidiremos". Mesmo a referência que faz ao papel do Estado na resolução dos problemas da banca (que inclui o BCP vá-se lá saber porquê), revela que António Costa e Marcelo discutem frequentemente. Pode quase antever-se que "vão a despacho" no gabinete um do outro. Parece ser assim que António Costa governa e traça a estratégia de relacionamento com os partidos de esquerda que o suportam no Parlamento e com a oposição, em conversas com Marcelo.

O país pensado por Marcelo e executado por António Costa é um país que corre bem e falta apenas afinar umas válvulas (crescer mais) para ser o país das maravilhas.

P.S: O argumento sobre a subida dos juros foi francamente fraco. E quando Marcelo citou a taxa de juro a curto prazo como exemplo de que a subida dos juros a longo prazo não era tão má como parecia, revelou demagogia. Pois os juros de curto prazo serem negativos só revelam que os investidores não temem um default a 3 e 6 meses. Mas temem-no a 10 anos.

Também o alongamento da curva da dívida não é nenhuma reestruturação até porque a dívida está a aumentar. O alongamento da curva da dívida é um procedimento corrente do IGCP.

Marcelo evitou comentar a redução gradual do programa de Draghi e o impacto para Portugal.

De resto foi uma entrevista abrangente, o protagonismo de Marcelo dificilmente anteveria outro estilo de Presidente da República.

Domingo

por João Távora, em 22.01.17

Evangelho segundo S. Mateus 4,12-23


Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso, retirou-Se para a Galileia.
Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou».
Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me, e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os, e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O.
Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.

 

Da Bíblia Sagrada

Pacheco Pereira terá lata ou soberba?

por Maria Teixeira Alves, em 21.01.17

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Acabo de ler este artigo no Público de José Pacheco Pereira, intitulado Uma comunicação social cada vez menos plural. Nele Pacheco Pereira critica para não variar os jornalistas, o que já é quase uma missão (os jornalistas e Pedro Passos Coelho são os seus alvos de eleição).

Está tudo muito certo porque o jornalismo é tão susceptível de ser criticado como qualquer outra profissão. Mas não é que Pacheco Pereira diz esta pérola: "o jornalismo de direita e da direita, que, em bom rigor, não é jornalismo, mas sim propaganda e manipulação, e constitui um sistema de “pensamento único” que empobrece o espaço público e o torna frágil".

Não se me acaba o espanto, então o jornalismo da direita não é bom jornalismo, devo deduzir daí que o jornalismo da esquerda é bom jornalismo?

Toda a gente sabe que os jornalistas são maioritariamente de esquerda, isso para Pacheco Pereira é bom jornalismo (de direita é que não) e ainda acusa na mesma frase de ser " um sistema de pensamento único". Ora eu não conheço maior pensamento único do que toda a gente ser de uma fação e olhar para a história e para os factos sob a mesma perspectiva. Se Pacheco Pereira é defensor da pluralidade devia ser o primeiro a querer que o jornalismo fosse composto por jornalistas de todas as ideologias.

Depois diz que o contrário desse "jornalismo da direita" não existe (pasme-se!): "o contrário não tem hoje jornais, nem estações de rádio e televisão". Caramba que miopia. E vai mais longe ao pôr no patamar noticioso "os modelos como os blogues e páginas de Facebook anónimas como os Truques da Imprensa Portuguesa ou a 'geringonça', na tradição da Câmara Corporativa", que diz serem "uma péssima resposta"... Os blogs de que Pacheco Pereira é também autor, são artigos de opinião, de ironia, de confissões, de sugestões, de desabafos. Não pretendem ser resposta aos jornais.

Por outro lado as páginas do Facebook como a Truques da Imprensa Portuguesa (que fiquei hoje a conhecer) não passam de uma versão do seu programa "Ponto Contraponto" na SIC Notícias, ou seja aponta os "truques da imprensa", que é o que o que autor deste artigo faz precisamente nesse programa, (que passa lá para a 1 hora da manhã).

Se Pacheco Pereira olhasse para a sua Quadratura do Círculo e visse a cada vez menor pluralidade de opinião, talvez percebesse que o pensamento único está hoje no mesmo lado. Na crítica ao Governo? Claro que não. É na oposição ao anterior Governo e ao líder do PSD.

Ai de quem diga o contrário sobre o PSD, ou ai de quem não seja anti-Trump, e ai de quem não veja no Marcelo Rebelo de Sousa o melhor presidente que a República portuguesa já teve. Ai de quem não alinhe pelo mainstream opiniativo de que Pacheco Pereira faz parte.

Os jornalistas são pessoas que são de esquerda ou de direita como todas as outras pessoas. Como profissionais são o mais isento possível nos seus artigos. Depois se têm blogs ou páginas nas redes sociais é um direito que lhes assiste. Os jornalistas têm toda a legitimidade de terem o seu espaço de opinião

A Sic tem obrigação moral de poupá-lo

por José Mendonça da Cruz, em 20.01.17

A Sic devia poupar o pobre Luís Costa Ribas a mais intervenções em directo de Washington. Não por ele ser incapaz de informar (que isso a Sic também é); não para evitar que ela própria, Sic, insulte a inteligência dos espectadores (que, isso, os espectadores não esperam outra coisa); não, é pelo pobre pateta, para o pouparem a figuras confrangedoras como a que fez no início do jornal das 20.

 

Fogos, eucaliptos e vacas sagradas

por henrique pereira dos santos, em 20.01.17

Para quem não tenha dado por isso, arderam 800 hectares, em fogos de mais de 30 hectares, em Novembro. Em Dezembro/ Janeiro, mais 1700 hectares. Ou seja, tendo em atenção o desfasamento conhecido entre estas medidas de satélite e a realidade, Paulo Fernandes estima que, grosseiramente, se poderá falar de cerca de três mil hectares ardidos desde 1 de Novembro até hoje.

E continuará a arder enquanto se mantiverem estas condições meteorológicas, excelentes para fogos de Inverno. Ainda recentemente, em Espanha, estava a arder, há quase uma semana, numa zona em que as temperaturas estavam seis graus abaixo de zero.

Como comentava o Laboratório de Fogos Florestais da UTAD, confirma-se que as baixas humidades podem anular o efeito das baixas temperaturas na propensão para arder, não sendo a inversa verdadeira: por mais alta que seja a temperatura, não arde grande coisa com humidades altas.

Como um destes fogos foi às portas de Vila Real, logo alguém filmou e deu origem a umas notícias de jornal e comentários inflamados nas redes sociais, por parte de quem acha um drama arderem 300, 400 ou 500 hectares de mato nas actuais circunstâncias.

Tentei explicar que a notícia destes fogos era excelente, a única parte negativa é a mania de se porem bombeiros a apagar estes fogos, em vez de simplesmente os acompanhar e conduzir, para eliminar a probabilidade, aliás baixa, de haver perdas económicas (nestas circunstâncias não há grande probabilidade de haver perdas sociais e não há perdas ambientais).

Rapidamente me estavam a chamar nomes, a ironizar sobre o que eu sabia sobre o assunto, a fazer ataques de carácter, etc..

E, inevitavelmente, a falar de eucaliptos (a arder no cimo de Montemuro e do Alvão, áreas de pastagens pobres sem aptidão para eucaliptos e os pobres de espírito a repetir mantras sobre eucaliptos e fogos, como quem reza a Santa Bárbara de cada vez que troveja).

Eu já fui um feroz opositor da plantação e da expansão do eucalipto, mas fui lendo, fui falando com quem estuda o assunto e fui verificando que grande parte do que eu julgava saber sobre o assunto não se confirmava em lado nenhum. Continuo a não gostar de eucaliptos, mas escrevo livros que  gosto que sejam lidos em papel.

Mais que isso, comecei a notar que os mais destacados militantes anti-eucalipto nunca tinham trabalhado sobre o assunto, tinham áreas de conhecimento, no máximo, próximas, mas mesmo quando eram investigadores o facto é que nunca tinham investigado nada sobre o assunto. Podiam ser, por exemplo, eminentes especialistas de solos, explicavam que sabiam muito de solos (quem diz solos pode dizer alterações climáticas, lobos, paisagem, enfim, o que se queira), usavam as suas credenciais académicas como argumento de autoridade mas, por acaso, nunca tinham mesmo estudado o assunto e os dados empíricos que usavam raramente eram abrangentes, normalmente eram sobre um pequeno factor (por exemplo, os óleos presentes nos tecidos dos eucaliptos são muito inflamáveis) para fazer generalizações e tirar conclusões totalmente abusivas. E a quantidade de asneiras por parágrafo atingia números exorbitantes sem que isso afectasse minimimente a credibilidade desses vendedores de banha da cobra.

Nada disto seria muito importante se a larga maioria dos que de facto estudam o assunto não fosse ostracizada no debate público.

Quer nos fogos, quer nos eucaliptos (mas poderia ser com o glifosato) há uma regra simples: para se ser ouvido é preciso dizer-se o que é permitido, argumentar que todos os que dizem o contrário estão vendidos aos interesses e que o mundo acaba já amanhã se não se parar a destruição a que se assiste e todos podemos ver facilmente.

Por acaso até sou presidente de uma associação de conservação da natureza, até faço trabalho concreto em matéria de conservação, até escrevo contra o mau uso de dinheiros públicos no apoio à produção (incluindo de eucalipto) em vez do pagamento dos serviços de ecossistema, mas nada do que eu faça tem a menor importância a partir do momento em que me recuso a entrar na histeria, não fundamentada, quando não mesmo errada, sobre os fogos, sobre a produção de eucalipto, sobre o glifosato e outros símbolos de pureza a que é preciso prestar vassalagem se se quiser ser considerado um bom ambientalista.

O que me parece perigoso nisto tudo não é a pequena minoria radical, muito vocal, que vocifera contra toda a heterodoxia, isso é da natureza das coisas e os sectários tendem a ser polícias do pensamento dos outros. E quanto menos importância têm, mais cultivam a pureza da linha justa e mais sectários são (o verdadeiro caso de estudo na matéria são os trotskistas clássicos).

O que é perigoso, e não se verificava de forma tão evidente há uns anos atrás, é o silêncio da grande maioria dos sabem, que pode ser voluntário (como eu os percebo, realmente há mais para fazer na vida que aturar parvos radicais e radicais parvos que não têm qualquer pejo em reduzir toda a argumentação a acusações de corrupção) mas é também, e muito, um bloqueio real que os jornalistas fazem a quem não pensar da forma certa.

E no fim queixam-se todos dos populismos que vamos alimentando com a condescendência social para com os ignorantes atrevidos a quem damos o direito de definir o que está certo e errado, não porque não saibamos que estão errados, mas porque não queremos lidar com a sua evidente agressividade e intolerância e não queremos acabar a ser acusados de corruptos, de estar ao serviço dos interesses, de ser pagos pelos malandros a quem só interessa o lucro.

Por mim, tolerância zero para o obscurantismo que me prentender impôr um pensamento único seja em que matéria for: o direito à asneira é sagrado e eu não tenho a menor intenção de abdicar desse direito só porque há uns tontos a quem as acusações saem mais facilmente que os argumentos.

Ide ver se está a chover.

«Que horror, Trump prometeu na posse o mesmo que na campanha!»

por José Mendonça da Cruz, em 20.01.17

trump-inugural-address.jpg

Reina grande desconforto entre os comentadores das nossas televisões acerca do discurso de tomada de posse do presidente Trump. É que o senhor insistiu agora nas mesmas ideias com que ganhou a corrida à Casa Branca : prioridade ao interesse nacional americano, prioridade ao emprego, investimento em infra-estruturas, combate ao crime internamente e ao terrorismo externamente, e uma «política para as pessoas» (peço desculpa, não resisti à piada) em vez de centrada nos círculos de Washington. 

Amanhã, Público, DN, Expresso, Sic, Tvi e RTP indignar-se-ão também patetica e necessariamente: é que o embrião de socialismo a que eles chamavam «o legado de Obama» levou uma corrida em pelo. 

Da escrita

por João Távora, em 19.01.17

Há pessoas, quase sempre obscuros académicos, que escrevem de uma forma tão rebuscada, conjugando palavras difíceis escolhidas a preceito e sem critério aparente, frases tão extensas quanto incompreensíveis que mais parecem charadas. Ao principio, eu pensava que o problema era meu, mas depois percebi que essa é uma formula que eles usam para se armarem aos cucos disfarçando formulações de teses ilógicas ou mesmo a completa inexistência de uma ideia. Hoje estou convencido que fazem isso para gozar com o pagode, e riem-se dos que caem na esparrela de tentarem descodificar os seus textos.

Dúvida existencial

por henrique pereira dos santos, em 19.01.17

Em 2015 houve eleições.

De um lado, uma coligação exaurida, que tinha gerido o país sem dinheiro, não só aplicado um duro programa de austeridade, como tinha ido voluntariamente além da troica, aplicado medidas desnecessárias e que prejudicavam os trabalhadores e pensionistas, por puro preconceito ideológico, provocado uma devastação social absurda e cruel, feito recuar o país décadas ao mesmo tempo que aumentava o endividamento e falhava todos os objectivos a que se propunha, fossem no défice, no crescimento económico ou na dívida, só para citar o que lhe eram mais queridos e em nome dos quais foram tomadas medidas austeritárias contraproducentes e irracionais. E não contente com este registo, esse governo mais não tinha feito que ser um seguidor canino da chanceler alemã, aceitando com gosto todas as humilhações que a Alemanha impôs aos países do Sul para se vingar da derrota na segunda guerra mundial.

Do outro lado, estava uma proposta responsável e moderna, com uma estratégia para a década, um programa solidamente centrado num grupo de economistas reputados, demonstrando que havia uma alternativa que passava por devolver mais rapidamente rendimentos, criando um impulso económico que desencadearia um processo virtuoso de crescimento económico que permitiria baixar o défice e pagar a dívida sem sobrecarregar os trabalhadores e pensionistas, e sem estrangular as empresas e a economia com os impostos absurdamente altos que o governo anterior tinha criado no seu desespero para respeitar o défice, como se não houvesse vida para além do orçamento.

A dúvida existencial que me tem atormentado prende-se com o critério usado para classificar o chefe do segundo grupo, que se apresentava nas condições mais favoráveis para captar votos, como um génio político e o chefe do primeiro grupo, que se apresentava nas piores condições, como um evidente inepto político, se quando se confrontaram nas melhores condições para o segundo e na piores para o primeiro, o primeiro teve mais votos que o segundo.

Haverá uma alma caridosa que seja capaz de me explicar que critério de avaliação é usado para se chegar a estas conclusões, aparentemente consensuais na imprensa?

Capas do "i"

por Vasco Mina, em 19.01.17

Há capas dos jornais que falam por si e sem serem necessários comentários adicionais. Apenas recordar que Nuno Godinho de Matos é fundador do PS e foi administrador não executivo do BES na era Ricardo Salgado. Deu em 2014 uma entrevista ao "i" que aqui pode, em parte, ser consultada. No célebre debate televisivo entre António José Seguro e António Costa o ainda Secretário Geral do PS considerou o referido fundador do PS como exemplo da "promiscuidade total entre o sistema financeiro e o sistema político". Os apoiantes de Costa atacaram violentamente estas afirmações de Seguro que poucos dias depois seria derrotado pelo atual Primeiro Ministro. Nuno Godinho de Matos foi apoiante de Costa em Lisboa mas parece que já se arrependeu, segundo entrevista ao "i" em Janeiro de 2016, de nele ter votado nas legislativas.

 

Nuno Godinho de Matos.png

Capa I Ricardo Salgado.png

 

O dito por não dito e a imprensa

por henrique pereira dos santos, em 18.01.17

António Costa, com a habitual elegância e decência para com os adversários que caracterizam as suas intervenções na Assembleia da República, disse ontem "respeitar "muito quem como o PCP, BE ou PEV sempre foi contra esta medida e continua a ser contra esta medida". E que não tem "consideração por quem dá o dito por não dito, e que hoje não quer apoiar as medidas que no passado apoiou"."

Este António Costa é o mesmo que rasgou o acordo para a baixa do IRC, com o o argumento de que prioridade era apoiar as pessoas, não as empresas, depois apresentou um programa económico com uma forte baixa da TSU, depois no programa eleitoral do PS passou a fazer depender essa baixa da TSU para às empresas à consolidação de fontes alternativas de financiamento da Segurança Social, depois assinou (assinou mesmo, não fez declarações) dois acordos que garantiam o apoio ao seu Governo em que explicitamente se comprometia a não mexer na TSU das empresas e agora aprovou um abaixamento da TSU das empresas que paguem ordenados mais baixos, que era o que estava em discussão quando resolveu dizer o que está citado acima.

A questão não é tanto como é possível agir assim, isso é natural em António Costa, é-lhe uma segunda pele e há muito quem o felicite por isso, cantando loas às suas extraordinárias capacidades negociais e de flexibilidade.

Devo dizer que não acho excessivamente grave que um político funcione assim, muitas vezes é preferível um decisor mudar de opinião a manter-se coerentemente numa posição errada e o que critico em Costa não é o facto de não ter respeito por si próprio (isso é uma questão dele, não minha) mas o facto de tomar decisões erradas que me prejudicam, prejudicam o país e, sobretudo, que prejudicam os mais frágeis e com menos capacidade corporativa (os miseráveis, os desempregados, os velhos menos letrados e de baixos rendimentos, os filhos que nascem em famílias mais pobres e menos estruturadas, etc..).

A questão está em saber por que razão pode António Costa dizer estas cavalidades sem receio dos custos políticos e mediáticos de alguém as confrontar com um percurso como o seu.

A resposta é simples e hoje Manuel Carvalho ilustra-a na perfeição num página inteira do Público:

"Ligado ao Bloco e ao PCP, o PSD integra-se agora numa aliança espúria que serve apenas para provar que a política portuguesa se tornou ela própria uma interminável "geringonça" em que a previsibilidade é inexistente, a lógica improvável e os programas relativos".

Qualquer pessoa que leia apenas este prágrafo conclui, com toda a lógica, previsibilidade e sem qualquer relatividade, que há uma gralha no texto que fez sair um D a mais.

Mas não, quem leia o texto todo não tem a menor dúvida:

"Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
 
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes."

Pág. 1/3



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