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A «casa da Avenida», como ficou conhecida na família, deixou em mim uma marca indelével, como que um pilar da minha personalidade. Como casa da Avenida entendo não só o primeiro andar direito do n.º 232 da Avenida da Liberdade mas todo um ambiente caloroso de afectos e brilho que lhe imprimiam os meus avós, tios e todo o pessoal que lá servia, que, a seu modo, fazia parte da família.
Com esta crónica, que serve de introdução a uma biografia ficcionada que estou a escrever sobre o tema, pretendo fazer uma homenagem aos meus avós maternos, João e Chunchinha, que, com a minha bisavó, foram os grandes obreiros dessa casa acolhedora e aberta ao mundo, onde se cultivava a antiga arte da boa conversa, elegante e inteligente, como refere Augusto Ataíde no seu livro de memórias Percurso Solitário (Bertrand, 2016) ou Leonor Xavier em Casas Contadas (Asa, 2009), sem descurar a edificação dum sólido e fecundo núcleo familiar de matriz cristã onde cresceram a minha mãe e os meus tios. Ainda hoje nas reuniões familiares com a minha mãe e os meus tios se testemunha esse legado tão nobre de amizade, humor e graça, qualidades que sem mascarar dificuldades que em todo o lado existem, são sementes de civilização e carácter.
Pensando bem, aquilo que mais me marcou na Casa da Avenida foi a liberdade que me era concedida, a mesma que, pressupondo sentido de responsabilidade, fez dos meus tios e da minha mãe pessoas inteiras. Pessoa de enorme carisma, a Avó Chunchinha tinha, de facto, uma forma de relacionamento que sempre me cativou, talvez porque nunca pressenti qualquer sinal da complacência com que habitualmente os adultos se relacionam com as crianças.
Para a forte idealização daquela casa que germinou em mim ao longo da vida, contribuiu não só a enorme saudade das estadias felizes que até aos 12 anos lá passei, sozinho ou com o meu irmão José — onde éramos queridos e obtínhamos mais atenção do que aquela que poderíamos ambicionar em casa dos pais, em que a concorrência era grande —, mas também a memória do espaço físico e do fervilhar de vida circundante, ao mesmo tempo cosmopolita e de bairro, que naquela época fruía naquela zona de Lisboa ocupada por uma mistura bem equilibrada de serviços, comércio e habitação.
A Casa da Avenida foi estreada em 1892 pela minha bisavó Valentina Leitão aos quatro anos, quando para lá se mudou com os seus pais e irmãos. O elegante prédio de cinco andares com direito e esquerdo, situado no quarteirão entre a Barata Salgueiro e a Alexandre Herculano, onde então terminava a Lisboa cidade, tinha acabado de ser construído, e dele reza a lenda de ter sido o primeiro a ter instalação eléctrica de raiz. Os apartamentos eram grandes e tinham um pé direito alto como há muito não se usa.
A casa dos meus avós era atravessada por um longo corredor que ligava a parte nobre, com duas varandas voltadas para a Avenida da Liberdade, à zona de serviço, com entrada pelo n.º 77 da Rua Rodrigues Sampaio. Entre as salas da frente e a generosa cozinha e os aposentos das minhas tias e das criadas nas traseiras, ficavam mais quartos e duas casas de banho, que para um prédio do século XIX era muito avançado. O edifício também ostentava um curioso sistema acústico de intercomunicadores, numas mangueiras com bocal de cobre nos extremos, entre a portaria no hall de entrada e o interior de cada fracção.
A fachada era discreta, mas icónica me parece hoje a altaneira e pesada a porta principal, circundada de alvenaria trabalhada, cujo chiar do amortecedor antecipava um estrondo que me fazia fugir degraus acima, assustado. As escadas de madeira eram muito largas e enceradas almofadadas por uma passadeira encarnada, ladeadas de mármore de um lado e por um elegante e sólido corrimão de madeira que terminava numa estatueta graciosa, e numas largas escadas de pedra com um corrimão de bronze que precediam um hall aristocrático com elegantes frescos.
Vivia intensamente as minhas estadias naquele extenso mundo de descobertas e de liberdade. Se naquele andar tão soalheiro a vida fervilhava logo pela manhã cedo na área de serviço com os afazeres domésticos das empregadas, a chegada do barbeiro que vinha escanhoar a barba do Avô João, do padeiro, do marçano, a mulher-a-dias que esfregava ou puxava o lustro ao chão encerado, a Celeste que saía para a Praça a fazer as compras; a avó Chunchinha acordava mais tarde para, ainda deitada, me premiar com vinte-e-cinco tostões para um gelado com que me punha feliz a andar para a pastelaria Smarta. Depois, uma visita à sala verde onde se sentava a Bisavó Valentina (Avó Tina, como lhe chamávamos) a fazer crochet, dava direito a ouvir histórias, de desventuras de outros tempos que ela tão bem sabia contar, como aquela dum criado brasileiro dos seus pais que se suicidara para não ir para a guerra ou das escaramuças entre republicanos na Avenida, que obrigavam a família a deitar-se no chão do corredor para se protegerem de uma eventual bala furtiva…
Aos almoços uma ementa variada era servida na sala de jantar pela Celeste, sempre bem fardada — e como eu gostava daquela feijoada à brasileira, receita que desconfio tivesse sido importada pela minha Avó Tina. Depois do almoço abatia-se um profundo silêncio que só era quebrado pelas minhas solitárias brincadeiras com carrinhos de brinquedo no chão, pelos caminhos desenhados nos grandes tapetes, quando não tinha a sorte de ir com a Avó Chunchinha à baixa, para comprar algum prato de faiança «cavalinho rosa» para completar o serviço, ou bolachas Araruta e uma mistura de café na casa Pereira ao Chiado.
À noite, o jantar era quase sempre um momento de exaltação familiar, com a mesa cheia e boa conversa, quase sempre com uma ou outra visita de parentes ou amigos da casa, sempre acolhedora, iluminada por grandes lustres que irradiavam festa. Com sorte, os meus primos eram visita e logo armávamos em loucas correrias pelo interminável corredor, a desafiar o António na cozinha, que era noivo da Celeste. Isto até nos mandarem parar por causa de uma queixa do mítico Senhor Cruz, um vizinho muito doente que eu desconfiava ser apenas um pretexto para nos acalmar. Lembro-me do meu avô sempre elegante, com um lenço branco a sair do bolso do casaco, à conversa com os meus tios à volta duma pequena mesa de bar, servindo-se Whisky com gelo e Água de Castello.
Ao final da noite, com a casa já toda a dormir, aquele corredor de luz fosca parecia-me assustador de atravessar, com os murmúrios vindos dos saguões que soavam da sombra que se adensava lá mesmo ao fundo, que hoje acredito serem choros e lamentos das vítimas de histórias sombrias, acontecidas ali bem perto na rotunda ou lá em baixo ao Terreiro do Paço, e que marcaram de forma tão dolorosa a vida dos meus antepassados naquela casa.
As festas eram magníficas, não por luxos, que raramente os havia naquela casa, mas pelo empenho e generosidade dos donos da casa. Todas as festas do calendário eram assinaladas na Casa da Avenida, sempre cheia de amigos, tios e primos: do Carnaval com partidas para todos os (des)gostos, à Páscoa com ovos de chocolate para todos os netos, mas principalmente a Ceia do Natal, servida depois da Missa do Galo na igreja de São Pedro de Alcântara, com peru, chocolate quente, sonhos e muitas outras delícias da época, que comíamos depois de abertos os presentes que se amontoavam junto à árvore de Natal. A cor do papel de embrulho identificava a proveniência.
Com pouco mais de sete anos dispunha-me, afoito, a explorar as redondezas com umas moedas no fundo do bolso dos calções. Começava pela tabacaria Glória, esquina da Travessa do Enviado de Inglaterra com a Rua de Santa Marta, onde podia cobiçar uma revista do Patinhas ou um carrinho Matchbox, para o qual o meu dinheiro não chegava. Descia então pela fervilhante Rua de Santa Marta, zona de serviço das casas burguesas da Avenida, passando indiferente pelas mercearias, talhos e «lugares» de frescos, por sapateiros, relojoeiros e casas de penhores, até chegar à Rua de São José, onde dava meia-volta, para aí estoirar o dinheiro num qualquer pechisbeque de plástico com rodas numa qualquer drogaria mixuruca. Voltava então a subir a infindável Rua de Santa Marta, com um apetite cada vez mais aguçado, arrependido de não ter guardado o dinheiro para comprar um bolo.
É importante uma palavra sobre o pessoal doméstico, que de facto era parte da família: tenho consciência que nesse tempo, final dos anos sessenta princípio dos anos setenta, se vivia o final de uma era e o começo de uma outra, com uma radical democratização do consumo e uma inflação que tornava proibitivos os ordenados das empregadas. Foi a época do advento dos apartamentos pequenos, a revolução dos electrodomésticos, a vulgarização dos restaurantes e do pronto-a-vestir que substituíam uma ancestral organização doméstica. Na Casa da Avenida ainda tive tempo de me afeiçoar a figuras de referência como a Conceição costureira e a Celeste. Muitas tardes passei eu a brincar na companhia da Maria da Conceição, que me contava histórias dum universo misterioso que eram as suas origens humildes, de um irmão que perdeu em criança. E era a Celeste que me vestia em pequeno, e que eu tanto gostava de acompanhar às compras ou de ficar a vê-la moer a carne no passador, ou dobrar em meias luas a massa de rissóis. Pensava na minha ingenuidade ser ela minha amiga para a vida, e estranhei muito que tivesse desaparecido sem deixar rasto depois do 25 de Abril, supõe-se para emigrar com o seu António. Há pessoas que não suportam a dor de uma despedida.
Com a morte da minha Bisavó em 1973, os meus avós não puderam renovar o contrato de arrendamento, e no ano de todas as revoluções viram-se obrigados a mudar-se para um pequeno andar — ironia do destino — na Calçada Marquês de Abrantes. Apesar da mobília e da decoração que remetiam para a memória da Casa da Avenida, num país em convulsão e já doentes, foi com muita dificuldade que os meus avós enfrentaram a nova realidade. As mortes dos meus queridos avós ocorreram espaçadas de poucos meses pouco tempo depois, desconfio que por desistência, na dificuldade se adaptarem a mais uma nova era.
Será que, apesar dessa derradeira amargura, tiveram alguma vez a noção do extraordinário legado que nos deixaram? Prometo contar-vos esta história em que estou a mergulhar com todo o detalhe e verdade que me for possível.
A estes heróis não devemos nada menos que isso.
Por muito chocados que os Democratas americanos e os simpatizantes clintonianos por todo o mundo hajam ficado, face à vitória de Trump nas eleições deste mês, nenhum abalo, com a possível excepção do sofrido pela candidata derrotada, se revelou maior do que aquele que atingiu os jornalistas. Abrindo um bocadinho os olhos, conseguiram detectar uma revolta popular contra os poderosos estabelecidos, mas, em simultâneo, experimentaram a desagradável surpresa de se verem incluídos nesse número pelos desdenhados blue collars da Cintura da Ferrugem – Ohio, Michigan, Indiana e Pensilvânia -, bem como pelos mais entusiastas praticantes cristãos de vários credos, no Sul e no Iowa. Um destes homens dos Media, em voz alta, perguntava, amargurado: «Mas, então, nós também somos “establishment”?».
Eram e são. Assim como muitos inquéritos de opinião mostravam uma animosidade considerável contra os políticos empoleirados, um outro, publicado bem perto do sufrágio, revelava que só 14% dos Norte-americanos confiava na Comunicação Social do seu país. Nada de novo, um aspecto que faz profunda confusão aos Europeus, o da desigualdade de acesso ao tempo de antena televisivo, consoante o dinheiro de que os candidatos disponham para comprá-lo, sempre encontrou a assumida justificação de evitar que o poder caísse nas mãos da Imprensa.
No caso que agora importa, a colagem dos órgãos de informação à mensagem anti-Trump mais não fez do que agravar as coisas. Foi penoso ver a renitência das figuras de proa da CNN em acreditar no fracasso de Hillary, insistindo em não declarar o triunfo Republicano no Wisconsin, horas depois de já ter sido reconhecido por outras fontes, como postergando idêntico reconhecimento quanto à Pensilvânia, mesmo depois de o insuspeitíssimo New York Times o haver feito! E, contados todos os votos dos centros urbanos desse estado, mais favoráveis à Esquerda, com a “besta negra” adversária ainda na frente, assistirmos a John King a escorropichar o mapa dos condados e a, inconscientemente, desabafar que «já não sabia onde haveria de ir buscar mais votos»…
Essas e outras que tais levaram a brincadeiras como a reacção de atribuir à sigla CNN o significado de «Clinton News Network» e Michael Ramirez a publicar um cartoon divertido, parodiando outro famosíssimo caso de surpresa eleitoral, o da célebre prevalência de Truman contra Dewey em 1948, à revelia das sondagens, em que o vencedor erguia um jornal dando-o como tendo perdido, mas onde, na nova versão, o título, em vez dos nomes envolvidos na disputa de então, dizia «A IMPRENSA DERROTA TRUMP»
É tempo de dizer que as sondagens têm as costas largas. A maior parte delas, com efeito, davam Clinton à frente. Mas nos estados decisivos, salvo o Wisconsin, por pequena diferença, dentro da margem de erro. Os sacrossantos analistas é que dali retiraram vantagens claras e favoritismo, na acepção de probabilidade, quando ele existia, isso sim, na de simpatia, da parte deles. Claro que se pode perguntar para que poderão servir as auscultações do público, se eliminarmos as mais apertadas. Só vejo uma resposta, publique-se, mas sem retirar conclusões de uma virtualidade, sempre susceptível dum desmentido do Real.
Não se pretende, aqui, um apuramento de culpas. Havia uma pressão grande dos consumidores de programas televisivos mais interventivos, no sentido da diabolização do agora Presidente Eleito. Quando o apresentador Jimmy Fallon o entrevistou, desafiou-o a deixar revolver-lhe o cabelo, para verificar se usava ou não duma peruca. Pois choveram os protestos de seguidores fiéis e opinion makers de grandezas variáveis, dizendo que isso era humanizar quem não o merecia, o que era inadmissível, etc. e tal. Como o milionário novaiorquino, apesar de muitas características pouco apelativas, não deixa de pertencer à espécie, estamos perigosamente próximos dos banimentos revolucionários, da França de 1789, de Hitler, ou de Mao. Mas, enfim, esperemos que, desta feita, o vento não se esqueça de levar as palavras.
O problema maior esteve em, bastante antes ainda de se empolgarem com a infelicidade arrogante da antiga Secretária de Estado, chamando «deploráveis» aos adeptos do respectivo oponente, já os profissionais da Informação acharem em si o desempenho do papel de educadores, ao invés do de meros disponibilizadores de dados. A coisa vem de longe, aliás importada doutras paragens. Tomaram a sério o desígnio de encarnarem o Quarto Poder, o qual, na lendária origem imputada a Edmund Burke seria, inclusive, um estado, no sentido de estrato social, mas que na vertente de influência e impunidade combinadas terá sido cunhado por Balzac. Mais não fizeram que prolongar os vícios de décadas, comprazendo-se nos cordelinhos que mexiam e que levaram um outro “maldito”, Ezra Pound, a lastimar «o homem que acredita no que lê nos jornais».
A pesporrência é mais facilmente detectada pelos que fere do que pelos que a exalam. É muito natural que os desprezados e apequenados se tenham virado para o homem forte que lhes apareceria coincidentemente nestoutro 18 Brumário, uma correspondência à data da consumação do êxito eleitoral, o 9 de Novembro, sagazmente lembrada por Jean.Philippe Chauvin. Era um milionário não inteiramente feito por si próprio? Pois seria, mas não estava instalado no mando e era o único a ousar propor medidas radicais que protegessem empregos e segurança, investimento em obras públicas, defesa contra as imigrações, quer as concorrentes quer as hostis, e proteccionismo para salvaguarda da produção. Os acossados não se interessam por aumentar a riqueza, fazem é por não perderem os tostões que têm. Logo, abraçam as restrições, em vez do comércio livre. Para quem haviam de se voltar? Para os que os subestimavam, quer aos problemas, quer aos aflitos? Até o Diabo serviria. E o Sr. Trump, salvo para os bem-pensantes deste início de Século XXI, ainda está umas passadas atrás do Chifrudo.
O problema complementar maior reside em os interventores públicos que nos massacram com as mudanças político-sociais da nova era tecnológica ainda se julgarem nas duas centúrias que passaram. De nada lhes serviu relatarem a Primavera Árabe e as manifestações convocadas por SMS. Pouco lhes aproveitou acompanharem a campanha na Primária presidencial de Howard Dean, em 2004,, com a recolha de fundos alternativa, via e-mail, e pagamentos electrónicos domiciliários, ou a congregação de apoios contestatários do directório partidário nacional, por Bernard Sanders, ainda no presente ano. Menos ainda atingiram o uso eficaz do Facebook e do Twitter, por Donald Trump & Cª. Lastimaram-se, tarde e a más horas, de que, na sua óptica, ali pululassem as mentiras, ao ponto de despertarem Zuckerberg para modificações convergentes com tal preocupação, no seu invento.
De forma que não deram pela derrocada do seu estatuto e a ascensão dum Quinto Poder, longe de confirmar-se na concretização que no passado se sugeria, ou seja, não se consubstanciando na opinião pública. Ela é mera argila, conformada pelos variados moldes que sobre si ajam. E se, dantes, isso se traduzia maurraseanamente na opinião que se publica, hoje, o empenho orientador do esclarecimento foi substituído pela capacidade cúmplice da mobilização, via intercâmbios informáticos de likes e posicionamentos. A sempre exigente e sacrificial adesão deu lugar à disseminação viral de juízos que dispensam corpos articulados de ideias e disciplinas, prontamente substituídos por pseudo-espontaneidades. É a fantasia de agir, sem os constrangimentos da obediência.
Acima de tudo, os gentlemen of the Press não conseguiram entender que as pessoas acreditam no que querem e que se, até há pouco, sorviam as inverdades emanadas de instituições enraizadas, agora proclamaram a sua ilusória independência, voltando-se para origens que supõem mais próximas de si. Até que um novo engodo venha ocupar o lugar de honra? Pois sim, mas, por enquanto, acham-se vingadas, uma variante agradável, para as gentes que, em surdina, se sentiram humilhadas.
Não se pretende, aqui, um apuramento de culpas. Havia uma pressão grande dos consumidores de programas televisivos mais interventivos, no sentido da diabolização do agora Presidente Eleito. Quando o apresentador Jimmy Fallon o entrevistou, desafiou-o a deixar revolver-lhe o cabelo, para verificar se usava ou não duma peruca. Pois choveram os protestos de seguidores fiéis e opinion makers de grandezas variáveis, dizendo que isso era humanizar quem não o merecia, o que era inadmissível, etc. e tal. Como o milionário novaiorquino, apesar de muitas características pouco apelativas, não deixa de pertencer à espécie, estamos perigosamente próximos dos banimentos revolucionários, da França de 1789, de Hitler, ou de Mao. Mas, enfim, esperemos que, desta feita, o vento não se esqueça de levar as palavras.
Paulo Cunha Porto
Convidado especial
Uma das falácias mais clássicas na discussão sobre alterações climáticas é o uso da meteorologia para fazer demonstrações sobre o clima. Quer os negacionistas, que em cada nevão mais pesado se entretêem a ridicularizar o aquecimento global, quer os alarmistas, que a cada fenómeno meteorológico extremo, como um furacão ou umas cheias, apontam o dedo e dizem que está demonstrado o seu ponto de vista, pretendem, na realidade, que falar de meteorologia - o que acontece todos os dias na atmosfera - é o mesmo que falar de clima - que normalmente se caracteriza a partir de observações ao longo de trinta anos.
Ora nestes dias tivemos dois fenómenos meteorológicos, relevantes enquanto fenómenos meteorológicos, mas evidentemente insuficientes enquanto caracterização climática: o PIB do terceiro trimestre de 2016 subiu bastante mais que o esperado e os juros da dívida portuguesa a 10 anos subiram preocupantemente para uma zona unanimemente considerada de risco.
É normal que um governo que não faz a mínima ideia de para onde vai e a que clima quer chegar, que num dia faz uma declação bombástica sobre Portugal ser neutro do ponto de vista de emissões em 2050, e no dia seguinte deixa passar o prazo para travar prospecções de petróleo no Algarve, que num dia embandeira em arco com o efeito do turismo no PIB, e no outro insiste que receber turistas é o mesmo que alugar casas, que num dia quer um choque de consumo, no outro fala do virtuosismo de crescer pelas exportações, enfim, que um governo assim se concentre exclusivamente na meteorologia. Até porque sabe que a física e química da atmosfera envolvem processos muito complexos, o que lhe permite, em cada dia, escolher o fenómeno meteorológico que melhor defenda os seus pontos de vista, esquecendo todos os outros, o que é especialmente gratificante para quem não tem o menor pudor de dizer que o Sol é muito bom para secar o trigo, mas se estiver a chover fala do nabal, como se o cereal não continuasse na eira.
É também normal que uma oposição que se concentra na discussão sobre o clima, uma coisa chata, complexa e difícil de entender e explicar, tenha dificuldades no discurso quotidiano, até porque as pessoas decidem se vão à praia ou cavar batatas em função do tempo que está, e não da caracterização climática do sítio onde vivem.
São opções normais, quer do governo, quer da oposição.
O que já não é normal, e muito menos saudável, é que quem intermedeia o discurso público, procurando tornar inteligível o que é confuso, simples o que é complexo e autónoma a informação que tem origem em partes interessadas, alinhe pela ignorância e o facilitismo, não só confundindo meteorologia com clima, como ainda alinhando na escolha interessada de alguns fenómenos meteorológicos, em detrimento de outros.
"esta semana o registo positivo da economia deixou-o quase sem discurso",diz o director do Público sobre Passos Coelho, na mesma página em que sobre Costa diz "Portugal cresceu acima de todos os parceiros da zona euro; Costa ganhou uma arma (pelo menos para três meses) para deixar Passos Coelho sem discurso político".
Não entro na patetice de discutir se fulano ou sicrano tem discurso político (Sócrates, na opinião dos jornais, sempre teve, Cavaco, na opinião dos mesmos, nunca teve), o que me interessa é esta coisa extraordinária: nos mesmos dias em que o PIB tem um registo trimestral semelhante a vários outros trimestres ao longo dos últimos anos, registo esse que é bom mas tem uma importância limitada do ponto de vista climático (tal como um Inverno especialmente rigoroso diz muito pouco sobre o aquecimento global), os juros sobem acentuadamente, o que é um fenómeno meteorológico de significado semelhante que dá indicações, limitadas é certo, sobre o maior problema da economia portuguesa: a dívida.
O que faz a imprensa?
Contribui irresponsavelmente para o discurso meteorológico do governo (está um lindo dia, que interessa se a previsão para amanhã for de tempestade?) em vez de separar meteorologia de clima e escrutinar, duramente, quer o discurso meteorológico do governo, quer o discurso climático da oposição, contribuindo para elevar o debate público e centrá-lo na substância dos problemas, em vez do ping pong infantil sobre quem ganhou os jogos florais da semana.
Foi preciso vir António Lobo Xavier denunciar aquilo que toda a gente já sabia.
Houve um compromisso (escrito) entre António Domingues e o Governo que passava pela exclusão dos deveres de apresentar o património dos administradores ao Tribunal Constitucional, para além da questão dos limites salariais.
"Eu não vou em peças de teatro, até porque eu conheço o guião", disse Lobo Xavier na Quadratura do Círculo. "Isto noutras condições políticas era impossível de passar-se", disse o advogado que é administrador do BPI. "O Governo está a deixar passar - com uma enorme falta de solidariedade, com uma frieza chocante e próximo da indignidade - o odioso para os gestores da CGD das coisas que combinou com eles".
"As pessoas estavam em belíssimos lugares e foram desafiados para tratar da CGD. Puseram as suas condições como acontece sempre e foi-lhes prometido (aceites) e até escrito. Os compromissos estão escritos portanto não se pode dizer que o Primeiro-ministro não sabia e que só sabia o ministro das Finanças. Os governos não funcionam assim. Os compromissos eram do conhecimento de todos. Acharam é que bastava alterar o estatuto do gestor público para resolver os problemas todos que foram colocados (quer os salários, quer as declarações), quando o problema veio para a praça pública (através do Marques Mendes e depois PSD) o governo desresponsabilizou-se. Os gestores estão calados a cumprir o seu serviço e estão a ser vítimas de uma desresponsabilizacao inacreditável", denunciou António Lobo Xavier.
Sobre a recapitalização que deverá ser adiada para 2017 disse: "Eu não sei quem quer a recapitalizaçao rápida, este ano. O governo quer este ano? Se calhar aproveita adiar por causa do défice".
"Os gestores têm direito a argumentar em sua defesa. Deviam desistir e não argumentar? Ir embora? Entregar as declarações? Não revelar os compromissos que tiveram? Havia de ser eu", disse António Lobo Xavier.
Eu escrevi aqui um post irónico com um resumo da história da CGD em que dizia o mesmo.
É evidente que o Ministro das Finanças não podia ter assumido nenhum compromisso desta ordem de grandeza com António Domingues por engano sem o conhecimento do primeiro-Ministro, apenas porque falhou ao Conselho de Ministro da Arrábida
A história do CM da Arrábida onde o primeiro-ministro terá dito que a lei não ilibava os gestores da CGD de apresentarem as declarações, e nesse dia por acaso Centeno não estava e por isso não sabia, é de gargalhada.
Eleito Trump, os orgãos de informação propriamente ditos (mesmo os que nos EUA fizeram campanha pró-Hillary e anti-Donald) informam sobre e debatem os seguintes temas:
- o novo governo Trump e o comércio internacional; sinais e contra-sinais de guerra comercial com a China, consequências;
- o programa económico de Trump, nomeadamente o investimento em infra-estruturas e a baixa de impostos, efeitos sobre os mercados de acções e obrigações, efeitos sobre emprego, taxa de crescimento e inflação; efeitos sobre o dólar e taxas cambiais;
- posições de Trump sobre alterações climáticas, abandono ou contestação do tratado internacional, consequências nas relações internacionais; alterações ao programa energético americano, nomeadamente exploração do carvão limpo e aumento da produção petrolífera, consequências para o preço do crude;
- posições de Trump sobre imigração ilegal, efeitos nas relações internacionais, comparação com políticas semelhantes da administração Obama;
- posições de Trump sobre OTAN e contribuições de outros países para a segurança conjunta; riscos e preocupações para a Europa, e sobretudo para Letónia, Lituânia, Eslovénia e Ucrânia;
- posições de Trump sobre o Médio Oriente, o Estado islâmico, e sobre o tratado com o Irão; reconfiguração das alianças e riscos na zona geográfica;
- posições de Trump sobre Putin, reavaliação das relações entre Washington e Moscovo, hipóteses e consequências;
- efeitos da eleição de Trump sobre as próximas eleições na Europa, nomeadamente em França e Áustria.
E, de forma mais imediata e mais próxima de nós (mas nem assim):
- posições de Trump sobre imigração islâmica e recusa ou não de entrada aos milhares de imigrantes islâmicos, entrada essa que a Austrália e a agência da ONU chefiada por Guterres acordaram com a administração Obama, e se concretizaria em breve.
Sobre tudo isto, ontem, a TVi tinha a dizer que Steve Bannon, o chefe de estratégia nomeado por Trump (o chefe de gabinete, para desconsolo dos críticos mais excitados, é Priebus), «tem sido acusado de ser racista e misógino».
Quem se divertiu tristemente com os dislates proferidos pelos nossos orgãos de desinformação sobre a eleição americana divertir-se-á mais e decerto mais tristemente com a forma como abordarão a eleição francesa. Nomeadamente os ataques descabelados que lançarão contra Marine Le Pen, sem repararem que este feroz programa de «desliberalização» da economia é o mesmo que a nossa esquerda (quase tão nacional-socialista) todos os dias defende por palavras, actos e omissões.
Já sabíamos que há austeridade de esquerda, que é boa, e austeridade de direita, que é má. É como o proteccionismo anti-globalização: há as fronteiras de esquerda que são boas, e as de direita que são xenófobas. Mas ainda não sabiamos que há deportações em massa boas (de esquerda) e deportações em massa más (de direita): o ministro dos Negócios Estrangeiros vem agora bradar aos céus muito indignado com a ameaça de deportações de Donald Trump. Onde é que estava o escandalizado Santos Silva durante a deportação de 2,5 milhões de imigrantes ilegais feita pela administração Obama?
Sobre o assunto ler Luís Naves aqui no Delito de Opinião.
A realidade é esta, os juros da dívida pública a baterem números record de alta (e risco). Mas para o inenarrável «jornal» da noite da Sic trata-se do «efeito Trump» (que misteriosamente coloca os nossos juros acima dos 3,5% mas os de Espanha abaixo dos 2% e os da Alemanha próximos do zero).
E agora, para algo completamente diferente: quem queira ler boa informação, aliás, informação sob a tónica da inteligência e da elucidação sobre a realidade, deve (tem que) ler as edições de fim-de-semana e de segunda feira do Financial Times, onde Trump, a nova presidência americana, a realidade económica e política, a situação na América, na Europa e no Mundo, as hipóteses e os riscos do futuro na política, no investimento, no comércio internacional , tudo isso está tratado com seriedade e em benefício de gente pensante.
A distância entre o Financial Times e a Sic é a distância entre o mundo civilizado e as trevas.
P.S. E, já agora, para informação comum : o principal efeito Trump (e dos investimentos de triliões em obras públicas que o rpesidente eleito anunciou) será a reanimação do mercado de acções e a hibernação do mercado de obrigações, ou seja, exactamente o contrário do que a Sic propõe (ou por estupidez ou por má fé muito orientada, uma coisa ou outra).
"Os negros, os mesmos magníficos exemplares da raça africana que mantiveram sua pureza racial graças ao pouco apego que têm ao banho, viram o seu território invadido por um novo tipo de escravo: o português […] O desprezo e a pobreza unem-nos na luta quotidiana, mas o modo diferente de encarar a vida separa-os completamente; o negro indolente e sonhador gasta o seu dinheirinho em qualquer frivolidade ou diversão, ao passo que o europeu tem uma tradição de trabalho e de economia que o persegue até estas paragens da América e o leva a progredir”.
Che Guevara - diário - Guatemala 1958 através de Nuno Castelo Branco.
Estas manifestações anti-imigração, em si mesmo violentas e buscando sempre a agressão fisica - por um lado; o despudor de uns tantos gestores públicos em negócios privados com o Governo de Costa, sob o sorriso complacente do puritanismo comunista-trotskista - por outro:
Tudo me faz lembrar quão mais inteligente é o radicalismo da esquerda do que o de ("alegadamente"...) direita - enquanto este se sindicaliza nos ginásios, aquele ginastica-se nos sindicatos.
"E embora seja ladrão
Aquele que tenha mãe
Lá tem no meio da luta
Ternos afagos de alguém"
José Afonso canta isto, no lindíssimo "Quanto é doce".
Uma psicóloga resolveu dizer mais ou menos isto, num tom normativo e sem a ponta da beleza do texto, da voz e da música de José Afonso: qualquer que seja a opinião que se tenha sobre o que faz, pensa ou sente um filho, deve-se acolhê-lo como tal, sem que seja preciso considerar como bom o que faz.
O azar foi dizer isto a propósito de um tabu: há pessoas que não sentem a homossexualidade como natural. Tal como há outras que se incomodam com diferenças raciais, outras que acham que as diferenças de sexo (detesto a mania de chamar género ao sexo) determinam diferentes capacidades, outras que acham que nas terras onde vivem os que lá vivem devem ter mais direitos que os que chegam, etc..
O que me interessa fazer notar nesta história não é nada que diga respeito à psicóloga em causa (que se defenda do que disse e defenda o que pensa, não tenho nada com isso) mas sim o que diz respeito aos indignadíssimos que imediatamente a destrataram de besta para baixo e, sobretudo, apresentaram queixas na ordem dos psicólogos para que fossem tomadas medidas para pôr a pessoa em causa na ordem estabelecida: a homossexualidade é perfeitamente natural e quem pense ou sinta de forma diferente deve ser proibido de o manifestar, mesmo que em abstracto e não sob a forma de uma acção discriminatória contra alguém em concreto.
Das mais que justas guerras contra as discriminações várias que negam, a algumas pessoas, direitos iguais aos de toda a gente, independentemente das suas opções que não afectam directamente terceiros, passou-se para o dever de condenar ao ostracismo todos os que defendem essas discriminações no plano das ideias, ou simplesmente que têm sentimentos errados sobre o assunto, isto é, sem tomarem decisões que sejam a concretização prática de discriminações ilegítimas.
Do combate ideológico às ideias que achamos erradas ou estranhas no espaço público, quer-se passar para a ilegalização, tal como fazemos à proibição de defesa do nazismo, ao mesmo tempo que convivemos, sem dramas, com os estalinistas, a quem damos carta de alforria para defender Estaline.
É absolutamente legítimo considerar a psicóloga em causa como uma besta (se é ou não, eu não discuto neste post) por defender qualquer coisa que parece aberrante (o que também não discuto neste post), mas na verdade ser uma besta é um direito básico de todos.
O direito à asneira é um direito quase absoluto.
Procurar varrer para debaixo do tapete o facto da maior parte de nós ser, pelo menos numa coisa ou noutra, ignorante, preconceituoso, imbecil e todos termos, numa coisa ou noutra, sentimentos "errados", proibindo os sentimentos de terceiros como tão indignos que não podem ser expressos, é fazer uma auto-estrada para que um dia um populista qualquer tenha votações astronómicas, simplesmente normalizando o que deveria ser sempre normal:
admitir que não somos perfeitos e que os sentimentos errados não se gerem reprimindo-os com retórica e decretos mas com a tolerância de os trazer, sem dramas e indignações, para o espaço público.
Começando, naturalmente, por lembrar
"Quanto é doce quanto é bom
No mundo encontrar alguém
Que nos junte contra o peito
E a quem nós chamemos mãe
Vai-se a tristeza o desgosto
Põe-se a um ponto na tormenta
Quando a mãe nos dá um beijo
Quando a mãe nos acalenta
E embora seja ladrão
Aquele que tenha mãe
Lá tem no meio da luta
Ternos afagos de alguém"
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-Lhe: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas».
Palavra da salvação.
Magnified, sanctified, be Thy holy name
Vilified, crucified, in the human frame
A million candles burning for the help that never came
You want it darker
Hineni, Hineni
I'm ready, my Lord
Passados os cinquenta a morte passa a fazer parte do nosso dia a dia como Espada de Dâmocles, quase nos habituamos à surpresa de ver partir os muitos que amamos e outros que, sem uma relação pessoal mas sendo uma referência, simpesmente nos habituaram a uma reconfortante coexistência. Na música popular há nesta década uma extraordinária e irrepetivel geração que atinge uma idade perigosa e nesse sentido 2016 tem sido um ano muito fonesto. É o caso do poeta, músico e escritor Leonard Cohen que agora nos deixou, a quem Pedro Mexia dedica um belo panegírico hoje no Expresso.
A verdade é que nos meus tempos de Liceu não adivinharia o reconhecimento que o cantor obteve na hora da sua morte, em grande destaque nos noticiários de prime time dos canais generalistas. Lembro-me de descobrir Leonard Cohen ainda miúdo escutando em casa com a minha irmã as suas canções para “gente grande”. Elas eram um desafio para o meu limitado entendimento do inglês, onde se intuía uma densidade que nunca parei de desvendar, ou apenas trautear a arranhar numa guitarra emprestada. Fascinavam-me na sua música aquelas geniais harmonias e a sua voz sombria contrastando com um coro de cristalinas vozes femininas. É dessa primeira fase, até a Death of a Ladies' Man, a que mais gosto desvendada pelos discos Songs of Leonard Cohen e depois com Songs of Love and Hate discos que ainda hoje guardo muito gastos pelo uso e que a malta da escola achava monótonos e deprimentes. É um lugar comum afirmar que Songs of Love and Hate é um portentoso hino à melancolia, à solidão. Definitivamente não se seduzia uma miúda gira com Leonard Cohen - ou talvez o problema fosse mesmo meu. Depois, pelo que leio por aí descubro que sou dos poucos que gostam Death of a Ladies' Man que a produção de Phil Spector transfigura numa estranha coloração psicadélica como que plastificada, mas bela. Gosto muito da voz Leonard Cohen abafada atrás da "cortina de som", do desprendimento de "True Love Leaves No Traces", da elegante devassidão em "Paper Thin Hotel" e "Death of a Ladies' Man". Foi mais tarde o visionário álbum The Future que resgatou a minha paixão então mais adulta pela sua música e palavras que fascinam ou nos inquietam até hoje.
Curioso como Leonard Cohen confessa à beira da morte em You Want It Darker publicado há dias que, mesmo no desespero do Seu silêncio, se encontra pronto para o encontro com o Senhor. Será certamente uma figura de retórica de quem passou uma vida a desafiá-Lo e a procurá-Lo. Eu pela minha parte que sou teimoso quero crer que o Nosso Senhor o tenha já recebido em Sua infinita Glória. Leonard Cohen o trovador aristocrata que veio da neve, aquele generoso homem elegante, culto e educado que tirava o chapéu depois de cantar para nos agradecer as palmas, a nossa devoção. De resto, concordamos no essencial: “Love's the only engine of survival”.
"Uma coisa é ter uma perspectiva subjectiva sobre a realidade que é comum a todos; outra coisa, bem diferente, é criar uma narrativa que cria uma realidade fictícia que segue à risca os preconceitos de quem a criou. Ora esse é o problema do jornalismo dos nossos dias. (...) Lamento, mas os idiotas desta história não são são os leitores que deixam os jornais."
Henrique José Raposo hoje no Expresso
... de dizer uma palavra, mas cantai uma canção e a minha alma será consolada.
Não conheço António Domingues nem tenho razões para achar que não é uma pessoa estimável. Por isso, alegra-me que, apesar da idade, tenha aprendido duas lições.
Primeira, não se meta com poltrões, desses que lhe dão todas as garantias após o que lhas retiram.
Segunda, em se metendo com eles, adopte uma disposição mais condizente, sei lá, assim à imagem de um Vara.
Todos os partidos à direita do PS e qualquer pessoa intelectualmente honesta deve ver, rever repetidamente, e estudar com atenção os primeiros 17 minutos do noticiário de hoje, 6ª feira 11 de Novembro, da Sic. Com Trump, um utensílio da Eurosondagem e o Papa como pretextos temáticos esta é uma notável peça única de intoxicação ideológica e anímica.
(Um dia a direita compreenderá que está perante inimigos, não adversários.)
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