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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?». Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’. Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
Palavra da salvação.
Na quinta-feira passei entre dezenas de turistas pela calçada diante da livraria Lello do Porto, quando já estavam a baixar a tela oficinal na fachada em obras. A curiosidade dos estrangeiros é imensa, porque o edifício, nobre, construído por empresários privados, portugueses e franceses, livreiros e editores com oficinas próprias de qualidade superior, com os seus medalhões de louvor aos grandes clássicos da literatura portuguesa, é o tipo de loja que testemunha uma cultura comercial que se perdeu em grande parte, e que transcende em muito o ofício do livro.
A verdade é que a cobrança de entradas (cujo valor é deduzido em livros adquiridos) permitiu capitalizar a Lello com fundos que foram investidos em obras de restauro que nunca haviam sido feitas com essa profundidade e significado. É um exemplo e uma conquista que não precisou senão de quem quis visitar um templo de literatura e arte porque aí se sente num mundo melhor.
Viva a Lello e a cidade do Porto!
Bill Clinton, provavelmente o mais inteligente e encantador malandro do Mundo, um dos mais interessantes oradores do planeta, animal político through and through, não caiu no erro em que caiu a maior parte dos intervenientes da Convenção Nacional Democrata. Durante mais de meia hora traçou a biografia privada e pública da sua mulher, a candidata à presidência dos EUA. Bill só falou da mulher e da política. «In the Spring of 1971 I met a girl», começou ele, após o que fez um retrato de Hillary como «obreira de mudança» e valor «genuíno», de uma vida de empenho e dedicação ao serviço público, à defesa de deficientes, à promoção de programas escolares para crianças desfavorecidas, à defesa do ambiente, à defesa dos interesses do país. Fê-lo lendo notas (não texto) do ponto, fê-lo com graça e com sentido político, com insuperável wit, e mesmo pura e simples classe – como quando se referiu a si próprio como um «daqueles que têm mais ontens do que amanhãs».
E qual foi, então, o grande erro que Bill Clinton soube evitar? Pois o de perder mais tempo e esforço a atacar o adversário do que a promover a prata da casa. Bill falou da candidata sua mulher e ignorou em absoluto o outro, em mais uma demonstração (digo eu) do seu apurado faro político. O candidato a Primeiro Cavalheiro foi quem melhor serviu a sua ex-Primeira Dama que quer ser Presidente no lugar que ele já ocupou. Melhor mesmo que ela própria.
Ao contrário, para a maioria dos oradores pareceu que a principal questão era mais não eleger Trump do que eleger Hillary. As notas que tocaram para dizer isso traduzem-se bem para português, e os portugueses reconhecê-las-ão: Trump, disseram os oradores democratas, é rico e só pensa em si, não tem uma política para as pessoas, quer acabar com os apoios sociais, não tem cultura nem alma, é ignorante, quer matar os pobrezinhos, espezinhar os deficientes, enforcar os imigrantes e violar as mulheres, é insensível, insolidário, quer fazer a guerra mundial, é privado e é mau. Foram discursos atrás de discursos contra Trump, politicamente mal-avisados e intelectualmente indigentes, com um pico em Bloomberg, que de Trump disse que «reconheço um vigarista quando vejo um». Nem Obama, que tanto sabe de propaganda, escapou, embora Obama tenha uma desculpa egoísta. O seu discurso no terceiro dia da convenção teve uma metade de elogio de Hillary que, afinal, era um panegírico da sua própria governação, a parte que realmente lhe interessava; e uma segunda metade de ataques destemperados contra Trump, que decerto lhe encomendaram (e ele quer lá saber do efeito ou falta de efeito que têm, digo eu).
Houve, é certo, e sobretudo a anteceder o discurso final de Hillary, discursos e presenças emocionalmente poderosos, alguns mesmo arrebatadores, de apelo à união e de alerta contra os perigos de não votar democrata. Mas de políticas, de programas, de medidas concretas anunciadas nesta convenção, pouco, pouquíssimo, para além de proclamações de que os democratas é que são progressivos, caritativos e sociais, os democratas é que são patriotas, e compassivos, e bons, e defensores da pátria, e antes eles que o dilúvio. A convenção foi sobretudo Trump, e mais Trump, matar e esfolar Trump.
Política mesmo, política eficaz nos termos dos seus específicos propósitos, fê-la também Bernie Sanders, num discurso inteligente em que reservou o seu capital, deu algum fôlego de futuro ao seu movimento Citizens United, o Bloco de lá, e apaziguou os próprios adeptos que prometiam apupar Hillary e comprometer a convenção, mas afinal saíram dali animados com a ideia de que a revolução continua. Animados com isso e com a notícia dada por Sanders de que Hillary subscrevera o seu programa de educação primária, secundária e superior gratuita para todas as famílias com rendimentos anuais inferiores a 125 000 dólares, cerca de 10 000 dólares por mês. Sanders ganhou a implementação desse programa; Hillary ganhou a pacificação da convenção. Se Hillary for eleita, a reforma da educação talvez se chame «Hillarygrant», mesmo que devesse chamar-se «Sandersgrant». Mas é justo: também a reforma da saúde se chama Obamacare, quando afinal todo o programa foi concebido por Hillary e adoptado por Obama em troca do seu apoio e rendição.
Também houve, no segundo dia, o discurso de Michelle Obama, com o qual os «media dos afectos» ficaram muito emocionados. Dias depois, porém, não há rasto dele. Ou, por outras palavras: talvez daqui a 10 anos Melania Trump possa plagiá-lo.
Apresentada pela filha Chelsea num discursinho reverente e autómato, chegou por fim a vez de Hillary Clinton, na madrugada de 6ª feira. E a ideia com que se fica é a de que as tónicas da convenção foi Hillary quem as determinou, poucos ouvidos dando a Bill Clinton, a quem no entanto agradecera por continuar a ser o «explicador de serviço». Ao contrário do que o explicador fizera, Hillary aferiu cada uma das suas vaguíssimas propostas com a personalidade e as afirmações de Trump. Ela é que conhece os problemas dos trabalhadores, porque a família dela não tem o nome em nenhum edifício; ela vai pôr cobro às desigualdades, aos baixos salários, à falta de mobilidade social, porque ela une e Trump divide; ela vai melhorar a indústria, a saúde, a segurança social, a situação das mulheres e das várias comunidades porque sim, e, diz ela, porque não ouviram isso de Trump; ela vai ajudar a financiar as famílias endividadas – pois se o Trump é financiado porque não se há-de financiar as famílias?; ela é que vai investir em infra-estruturas, e quem paga são os ricos, os grupos empresariais e Wall Street; ela é que garante a segurança social, porque é uma líder e o Trump é «apenas um entertainer»; ela é que defende a ordem porque tem décadas de serviço público, e Trump «está no bolso do lobby das armas»; ela é que pode ser comandante-em-chefe porque é valente, e o Trump é orgulhoso e promove o medo.
Foi pouco. Foi muito pouco. Foi menos em conteúdo e emoção do que muitos dos seus apoiantes, e muitíssimo menos do que na mesma convenção fez o seu marido e ex-presidente. As coisas são como são.
Em resumo, a convenção nacional democrata foi uma convenção afinal pacificada; com uma organização de grande profissionalismo; juntando grandes personalidades (presidentes, vice-presidentes, mayors, governadores, senadores, militares, desportistas, representantes de todos os sectores da sociedade) em quantidade e de um peso que a candidatura Trump só pode invejar; teve adornos de celebridades como o cadáver de Paul Simon cantando Bridge penosamente, ou da fauna de Hollywood, da Broadway, do disco e da TV em bicos dos pés (e a palma de ouro da palermice vai para Sarah Silverman, apoiante de Sanders que, no entanto, ia estragando a vida à convenção e ao próprio Sanders, ao dizer que os apoiantes deste que continuavam a apupar estavam «a ser ridículos»).
Mas, tendo em vista o ponto central das intervenções e a prestação baça da candidata, fica a dúvida: quem ganha? O populismo de Trump, que em resposta a problemas e anseios concretos propõe medidas concretas e que diz que está tudo mal e com ele fica tudo bem? Ou as proclamações democratas de que está tudo bem e é perigoso mudar? Basta essa tónica de mata e esfola, de diabolização de Trump, acompanhada da proclamação das virtudes e feitos próprios para dar a vitória a Hillary (de quem 68% dos americanos desconfiam) ou não basta? Talvez. Mas apenas talvez.
Três notas:
Melhor. Houve um momento nesta convenção que escapou a toda a dúvida: o do discurso do senador Cory Brooker, de Nova Jérsia, na 2ªfeira. Quem possa, deve procurar esse momento, cerca da 1 da madrugada (em Lx) de 3ª feira na CNN e ouvir na íntegra: surpreender-se-á com o mais brilhante e poderoso orador da actualidade, um cultor da própria língua à altura do que foi para nós o Pe. António Vieira ou para os americanos Martin Luther King. O discurso com o refrão «We will rise» (poderia ser «I have a dream») foi simplesmente admirável.
Igual. Será talvez módica consolação verificar que a informação enviesada tem curso internacional. Após a divulgação de embaraçosos emails reveladores de que a direcção democrata boicotara deliberadamente Sanders para favorecer Clinton, a direcção inventou que os emails tinham sido divulgados pela Rússia de Putin a pedido de Donald Trump. Obsequiosa, a CNN perfilhou imediatamente a ideia fazendo dela cavalo de batalha. A Sic não inventaria melhor.
Pior. Segundo a proposta de Sanders subscrita por Hillary Clinton, esta garantirá, caso seja eleita, que os filhos de famílias com rendimentos inferiores a 125 000 dólares anuais, cerca de 10 000 dólares por mês, terão educação gratuita inclusive no ensino superior. À margem, recordemos que, segundo Centeno, é privilegiado em Portugal quem tenha rendimentos mensais superiores a 1300 euros.
Um sacerdote católico octogenário degolado quando celebrava a Eucaristia parece não ter dado muito que pensar aos media. Afinal, tratou-se de mais um atentado, sim, numa sequência nos últimos tempos quase diária, mas dos menos mortíferos. Um dia após já não era notícia.
E, no entanto, foi o primeiro crime claramente direccionado contra a Igreja Católica. Essa mesma que não incentiva a invasão os países islâmicos nem põe a ridículo Maomet. E simplesmente se limita a apelar à paz e a promover a solidariedade com os mais desfavorecidos, designadamente os exilados sírios, libios ou afegãos.
Terá sido por isso? Pelas suas palavras de conforto aos ditos exilados? Estaremos de regresso aos tempos dos mártires como S. João de Brito ou S. Maximiliano Kolbe (este em Auschwitz, ao lado dos massacrados judeus)?
Certo é o Estado Islâmico já não necessitar enviar as suas tropas de elite em missões de tão pequeno calibre. O EI dispõe de uma nova arma, os espontâneos (por norma de ascendência muçulmana) que se voluntariam para morrer matando primeiro. Resta-lhe depois reivindicar a paternidade do feito. Isto em plena Europa, "à luz do dia", sem que saibamos em que catacumbas nos havemos de proteger e salvaguardar a nossa integridade fisica e moral, juntamente com a dos que fugiram das remotas tiranias desses fanáticos assassinos.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros comentava a decisão de Bruxelas aplicar sanções zero em Portugal, e que o país teria de ter um défice de 2,5% em 2016, quando disse: "é preciso distinguir a austeridade e a lógica dita austeritária que tudo sacrifica a metas imaginárias de consolidação orçamental per si, do rigor que o Estado deve colocar na angariação e aplicação de despesas, na sobriedade com que o Estado se deve comportar e na necessidade que nós temos todos de aumentar o nosso saldo primário e chegar tão depressa quanto possível às metas do equilíbrio das finanças públicas de forma sustentável". Alto e pára o baile! Mas essa necessidade de aumentar o nosso saldo primário e chegar tão depressa quanto possível às metas do equilíbrio das finanças públicas de forma sustentável era o desígnio de Vítor Gaspar, Maria Luís Albuquerque e Pedro Passos Coelho. Oh Augusto Santos Silva, mas se há bandeira do anterior governo foi o aumento do saldo primário, foi em nome de esse feito que houve a austeridade!
Viva a retórica bacoca!
Passámos pelo cabo da Roca, ponta mais ocidental da Europa e imã para muitos turistas. Depois da estrada de Colares até ali, chega-se a um local que tinha tudo para ser um pólo de capacidade portuguesa para espantar e surpreender quem nos visita. Mas o que ali temos — além da natureza admirável que nos calhou em sorte — é a absoluta prova de falta de bom senso e boa governança: além da falta de avisos preventivos de segurança, depois do fatal acidente de há um ano, é a ausência de limpeza, quando ali chegam por hora mais de cem pessoas.
Fui ao posto de turismo dar conta da minha estupefacção e foi-me dito que a Câmara de Sintra tem sido repetidamente avisada e solicitada a prevenir e garantir esse cuidado de gentileza e civilidade que é o bom trato dos pontos turísticos, mas nada faz. Nada faz, e isso implica-nos a todos.
Não haverá na CMS — o seu presidente em primeiro lugar, pois claro! — quem vá ali ver o que aquilo precisa para ser um lugar de excelência? Será assim tão difícil?
Não me parece!!
Levas com um processo...
... em cima!
Comprei um Mercedes S, um excelente investimento, pois por cada euro dos 110.000 que custou vou ganhar ainda mais do que o meu estudo técnico dizia que íamos ganhar com as Scuts, vai ser ainda mais que 18 euros por cada 1, é 20 ou mais, é crechimento. Palavra de socialista! Tenho um estudo técnico a dizer. Mas a Mercedes quer que eu pague a primeira prestação. A Mercedes não percebe nada, é injusta e despropositada. Vou processar a Mercedes e pôr a tremer as pernas da indústria automóvel alemã!
Aumentei o meu pessoal em 25%, disse-lhes para não trabalharem tanto que já estava a fazer-me impressão, contratei mais 100 amigos para distribuir a carga de esforço, porque eu sou bom, eu é que tenho uma política para as pessoas. Mas agora o meu contabilista diz que tenho o orçamento desequilibrado e que para o próximo mês já não há. O meu contabilista é um tecnocrata, um neoliberal, um velho do Restelo, não sei mesmo se não é um traidor. Vou processar o meu contabilista e a contabilidade em geral.
Pedi 1 milhão de euros ao banco e eles emprestaram-me, porque eu sou importante, progressivo, hábil e tenho um Mercedes S. Por cada euro desse milhão eu vou ganhar mais que nas Scuts, mais que com o Mercedes S. Esse milhão vai dar 30 milhões de riqueza, vão ver. Mas o banco desconhece a solidariedade, só aposta pelo casino dos mercados, entrega-se ao capitalismo selvagem, e quer que eu pague a primeira prestação. Como se eu tivesse disposição ou tempo para ocupar-me de minudências assim. A banca não é patriota, não está ao serviço do país. Vou processar o banco, e a banca toda, e a matemática e a ciência económica também.
Dois cronistas a soldo do passado e da reacção escreveram crónicas com indicadores e números a dizer que a minha política é irreponsável e perigosa. Dizem-me que são inteligentes, mas julgo-os cegos. Vou processar a inteligência, os dados, a responsabilidade, o conhecimento, os indicadores e a visão.
Depois da sua actuação no colapso BANIF e de o encavalitarem nas contas de 2015 - depois de assim perpetuarem a discussão sobre as "culpas" do déficite desse ano - o Governo da Esquerda Unida desfruta agora a patriotica missão de salvar Portugal da ameaça de sanções pelo não cumprimento das metas orçamentais. É sabido de toda a gente.
As referidas sanções, por decisão conjunta da Comissão e do Parlamento europeus, poderão consistir no corte dos Fundos Estruturais e de Investimentos. Isto é, em menos (ou em nenhum...) dinheiro de muleta para a nossa economia que voltou a não sair do sítio.
Por isso a nossa Catarina, vice-primeira-ministra, a espernear e a vociferar. «Fanáticos e irresponsáveis», berrou-lhes ela, de cima de um tractor na feira de Odemira para Bruxelas. Virar a página do "deve", sim!, mas a do "haver" jamais!
E o resto é, e foi sempre e será, megafone e basbaques para endrominar.
A esquerda multiculturalista que nos pastoreia teve ontem uma noite de glória cavalgando a hipótese do terrorista ser um alemão de "extrema-direita". Azar dos Távoras o moço tresloucado é de origem iraniana.
... se se verificar que os autores do terror desta sexta-feira na Alemanha, uma vez descobertos, são de extrema direita, trata-se, evidentemente, de criaturas sinistras, xenófobos, bestas. Se, porém, os homicidas que atacaram num centro comercial e num McDonald`s forem islamitas, então são gente de paz levada aos extremos pelas pressões da sociedade consumista e das multinacionais americanas.
Sejamos claros: para os media portugueses, com as televisões à cabeça, Donald Trump é mentiroso e estúpido (aliás, como os americanos), xenófobo, misógino, perigoso e imprevisível. Toda a «informação» transmitida pelos media portugueses sobre as primárias americanas enferma desta convicção. Sob a força desse preconceito, dessa aflição subjectiva, os media portugueses tornam-se, assim, objectivamente estúpidos (porque não veem, não ouvem e não compreendem o que extravase essa monomania) e objectivamente mentirosos (porque o que se passa extravasa aquilo que eles contam).
O discurso de Donald Trump, há meses, perante o American Israel Public Affairs Committee teria dado a quem porventura tivesse tido acesso a ele uma oportunidade de verificar como o candidato republicano é competente na explanação de um programa e no anúncio de mensagens fortes e dirigidas a problemas concretos, perante plateias não necessariamente receptivas. Ontem, no discurso de aceitação da nomeação para candidato à presidência americana, Trump teve a primeira oportunidade de apresentar as suas ideias, não apenas à plateia republicana, mas à plateia de todos os Estados Unidos. Presos na sua narrativa sobre xenofobia e autoritarismo, os media portugueses não compreenderam, obviamente, a eficácia do discurso.
Em termos gerais, o discurso de Trump seguiu três tónicas principais: ele é o campeão do «little people» contra os interesses instalados (a que sempre cola Hillary Clinton); ele é o campeão da lei e ordem, contra a apatia e o politicamente correcto; ele é a novidade que a América ainda não experimentou para regressar à riqueza e ao respeito internacional.
Ora, acontece que estas três linhas de força confrontam directamente problemas americanos muito reais e sentidos, elas encontram ouvidos muito receptivos entre as vítimas do desemprego, do congelamento de salários e da ascensão social, dos recentes surtos de violência racial de origens diversas, dos atentados terroristas mais antigos ou o mais recente contra um bar gay, da deslocalização de empresas, e despertam a atenção entre os descontentes com as trapalhadas e desastres no Médio Oriente ou a ameaça chinesa...
Em termos nacionais e específicos, o discurso de Trump conteve mensagens muito claras, interessantes e calendarizadas para importantes sectores específicos dos eleitores. Ele dirigiu-se directamente a operários, comerciantes, pequenos empresários, agricultores, e à população afro-americana, e à população latino-americana (sim, ao contrário do que dizem os media portugueses, Trump tem políticas e apoiantes nesses sectores), às mulheres na sua situação familiar e profissional, à comunidade gay (suscitando um aplauso numa convenção republicana!!!) e aos evangelistas (para prometer liberdade de expressão política a todas as confissões religiosas). E com propostas claras e calendarizadas falou de saúde, educação e economia, dirigindo-se à população em geral, mas também, claramente, num gesto apaziguador para com o eleitorado republicano tradicional.
E mais: a história familiar, pessoal e profissional de Trump tornam a sua abordagem destes problemas particularmente crível.
Em termos de política externa, Trump foi ainda mais claro: muito mais relevante do que o aniquilamento do estado islâmico, «agora, já», ele prometeu o fim das políticas de «nation building», essa atitude de «farol da democracia» que meteu os EUA (e o Mundo) em trágicas trapalhadas no Iraque, na Síria, na Líbia e no Egipto. Os media portugueses verão seguramente nisto «isolacionismo» e «egoísmo» (não haveria como ganhar: o contrário seria «imperialismo»). Qualquer pessoa razoável apenas suspirará de alívio.
Ou seja: eu verei a convenção democrata com igual atenção daqui a uma semana, mas não me parece, para já (a julgar até pela confrangedora pobreza das suas réplicas tweetadas), que Hillary se aguente no balanço.
O BPN foi culpa de quem? De Oliveira e Costa, e de uma má legislação de supervisão bancária. Uma tradição tolerante e complacente na relação Banco de Portugal - Bancos, assente na diplomacia, e na resolução de problemas longe dos olhos públicos. A banca era considerada uma coisa para tratar dentro de portas. Sem criar alarme.
A solução encontrada (nacionalização) foi uma boa opção? Não. Quem a fez o governo de Sócrates. Quem a pagou? Os contribuintes anos mais tarde, já com o governo seguinte. Mas vá lá conseguiu vender-se ao BIC, ainda que sob uma chuva de críticas.
O BES foi culpa de quem? De Ricardo Salgado e de uma má legislação europeia para conglomerados mistos. Quem descobriu? Carlos Costa - Governador do Banco de Portugal e o instrumento ETRIC. A solução? Foi tomada pelo supervisor nacional com base na legislação europeia. A Resolução foi uma boa decisão? Talvez não. Mas foi provocada pela extensão dos problemas. Podia ter sido diferente? Dificilmente. O Governo do PSD foi culpado de alguma coisa? Não. Reparem que se o Governo tivesse aceite a proposta de Ricardo Salgado de dar 2,5 mil milhões para financiar o BES/GES hoje a CGD estaria provavelmente em resolução, se não mesmo em liquidação.
Banif. A culpa foi de quem? Da administração do Grupo Banif. Da legislação permissiva do passado e da fraca supervisão à luz dessa legislação. A solução de intervencionar o banco foi boa? Não. Mas a alternativa em 2012 sairia mais cara. O desfecho. De quem é a culpa? Da situação de impasse que foi criada pela trilogia: administração do Banif, governo anterior e DG Comp. Bruxelas queria liquidar o Banif desde o principio. Para lutar contra um tornado destes tinha que se ter sido mais eficaz na gestão do banco. O banco foi paciente, o governo foi paciente, até que Bruxelas apertou e já não havia mais tempo para uma solução de mercado. A resolução? Responsabilidade do Governo de António Costa? Sim. Mas haveria alternativa para o Banif naquela altura? Provavelmente não. Tudo foi precipitado pela notícia da TVI.
Mas a caríssima intervenção do Estado para vender o Banif é apenas da autoria do actual Governo. O mesmo problema que teve Costa, tinha antes Passos. Costa decidiu agir, mas para uma solução tão cara Passos também o podia ter feito, mas andou à procura de uma solução mais barata. Foi isso que atrasou tudo.
CGD. Culpa? De uma sucessão de gestões comandadas pelo Estado e sempre com a bandeira do benchmark do crédito à economia. "A Caixa Geral de Depósitos constitui um importante instrumento da política económica, prosseguindo uma função insubstituível de apoio estratégico às empresas e sectores de actividade que em cada momento são considerados decisivos para o desenvolvimento do país", lê-se na missão da CGD. Ora quando ninguém emprestava às empresas, ou emprestava a um juro alto adequado às circunstâncias de falta de financiamento, a CGD andava em contramão com o mercado, a emprestar para ajudar as empresas e as PME nacionais.
Quando os bancos andavam a concentrar-se no seu core business a CGD mantinha a função equiparada a fundo soberano do Estado a entrar no capital de empresas em nome dos centros de decisão nacional.
Hoje o resultado está à vista.
De quem é a culpa? É do Governo anterior? Não, claro que não. A CGD não pagou os CoCo´s ao Estado porque tem uma série de erros do passado, na altura vistos como bons, a pesar-lhe na rentabilidade.
A solução adoptada? Será responsabilidade deste Governo, da DG Comp e do BCE.
Novo Banco. De quem é a culpa? Provavelmente da própria resolução. Da própria legislação europeia. Do estigma de ser um banco de transição, que é temporário por definição, de uma má carteira de crédito herdada da gestão de Ricardo Salgado. A solução? Se for vendido com perdas não será culpa de ninguém, mas será responsabilidade dos bancos, se não for vendido a responsabilidade será do actual governo. Bem como a eventual solução da liquidação será responsabilidade do Governo. Não há nenhuma factura por cobrar ao anterior governo aqui, a não ser a de não ter conseguido vender no primeiro concurso. Mas na altura toda a gente achou bem o adiamento (eu não), porque se iria vender com perdas e ainda podia acabar por atingir os contribuintes, etc, etc.
Não são nada edificantes para a profissão de jornalista os comentários dos enviados e dos pivôs sobre a convenção republicana nos noticiários das TVs. Há muito que tomaram partido nas presidenciais americanas, estão em campanha e até parece que os portugueses votam.
(Este post contém linguagem do tempo novo. Pessoas mais sensíveis devem abster-se de ler)
Os palhaços que nos governam são os mesmos que inventaram as SCUTs, que, para não rir, toda a gente esquece intencionalmente que significa «Sem Custos para o Utilizador». Os palhaços da ideia, com João Cravinho à cabeça, defenderam que as SCUTs eram muito boas para o Orçamento do Estado (embora, naturalmente, Cravinho se abstivesse de dizer que eram boas porque escondiam dívida). Na altura, houve um «estudo técnico» daqueles que o PS produz para explicar que perdas são ganhos. As Scuts iam dinamizar a economia e sabe-se lá que mais e ninguém devia preocupar-se com os 14 mil milhões de euros que nas contas socialistas não havíamos de ter que pagar. (Mas temos.)
Os palhaços de agora, em quem a costela crapulosa pulsa com ainda maior premência, prometeram que baixavam as portagens das «SCUTs» em 50%. Os palhacinhos viabilizantes insistem que 100% é que era. Mas os palhaços principais resolveram afinal descontar 35% da promessa, e baixam as portagens das SCUTs em 15%. Trazem um estudo técnico, é claro, feito pela Universidade do Algarve a dizer que é muito bom e vamos ficar todos ricos. O palerma da geringonça a quem compete fingir que é perito em estradas diz que favorece «a circulação das empresas» e mais umas parvoíces assim. Compreensivelmente, os palhacinhos adjuvantes defendem que, vistoaisso, 100% era ainda melhor e ganhavamos todos ainda mais. E as «associações» de «utentes» acharão mesmo que os «utentes», além de não pagarem, deviam ser subsidiados para darem uso ao alcatrão. No seu cantinho, os bandalhos da comunicação social não vêem as «contradições» e «trapalhadas» que antes vislumbravam a cada esquina.
O povinho, que já devia estar com a mão a proteger a carteira, está afinal beato e feliz.
É estranha, esta política?
Não, não é estranha. É apenas uma faceta da falta de ideias dos socialistas. Sem ideias e sem programa sério para governar, os palhaços veem-se obrigados a entregar-se, sem pruridos nem pudor, às piores irresponsabilidades, a jurar pela demagogia mais rasca, a inventar n`importe quoi. E fazem bem. Se o povinho acredita, porque não haviam de o fazer?
O défice é como as SCUTs. A diminuição do IVA para a restauração, as 35 horas de trabalho para os funcionários públicos, os aumentos do funcionalismo público, não têm, dizem os socialistas, custos. Os socialistas têm «estudos» que são «técnicos» e dizem isso. A realidade sempre se encarrega de os desmentir gravosamente, mas os «estudos» que são «técnicos» enganam tolos durante um tempo, os custos só vêm depois.
A revogação da reforma do IRC, o ambiente anti-empresarial, anti «privados», o aumento da carga fiscal, nomeadamente nos produtos petrolíferos, a incerteza governativa (como a que fez a Navigator congelar o investimento numa nova fábrica e provoca a maior queda no investimento em geral), o atraso no pagamento a fornecedores para martelar a execução orçamental, a irresponsaibilidade criminosa com a banca... tudo isso não tem custos. Se instados, os palhaços do governo apresentarão um «estudo» que será «técnico» a dizer que é muito bom. Basta pagar com um cargo, uma promessa, um dinheirito qualquer. Entretanto, a canalha das redacções acenará com a cabeça em reconhecimento das oportunidades de carreira e das avenças em vigor. Sem custos, sim senhor, uma política para as pessoas, muito bom.
Horas depois de todas as estações do Mundo terem compreendido e noticiado que um suposto terrorista belga era afinal um estudante universitário a realizar uma experiência, e que, portanto, o inicial alarme era afinal falso, os canais de notícias portuguesas continuavam com imagens directas de uma rua de Bruxelas acompanhadas de perorações em espiral de «peritos» de segurança e terrorismo. Às cinco da tarde o não-acontecimento ainda é manchete e suscita longas considerações e depoimentos. Nem as conversações Angela Merkel/Teresa May sobre o Brexit, nem as assustadoras novidades sobre o défice externo e a poupança interna, nem as sanções da UE contra o caminho suicida da geringonça, nem os atrasos nos pagamentos do Estado, nem a avidez com que o Estado reclama pagamentos são notícia.
A qualificação de país periférico vai tomando tonalidades sempre mais sombrias, reais e confrangedoras.
Os indicadores mais recentes são os do défice externo (dos maiores da Europa) e da poupança das famílias (negativo). Como todos os indicadores mais importantes (dívida, juros da dívida, investimento, taxa de crescimento) e todos os alertas internacionais (UE, FMI, OCDE) e nacionais (CFP, INE, BP) também estes confirmam que estamos no sólido e firme caminho da tragédia. Na vida real, fornecedores do Estado e credores de devoluções do IRS contam-se entre os primeiros beneficiários dos patrióticos calotes do «tempo novo» (que não é assim tão novo, pois apenas foi interrompido em 2011). Mas não desesperemos: os efeitos da ufana e gorda gestão socialista logo chegarão a todos.
Calma, calma, minha gente: o Pokemon Go não é uma questão fracturante ou alguma força perversa; é apenas mais um cativante jogo electrónico para distrair os nossos jovens e criancinhas de outros entretenimentos que consideramos mais estruturantes. Uma luta antiga de muitos pais e educadores neste ocidente anafado e decadente.
O Politicamente Correcto é como o marxismo, dá aos estúpidos e ignorantes a ilusão de que adquiriram uma chave explicativa do Mundo.
Hoje, num noticiário da cmtv, a vozinha de uma «pikena» proferia que o assassino de Nice comia carne de porco, bebia álcool, não ia à mesquita e se drogava o que, segundo a autora ou autor do texto, «contraria a sua caracterização como radical islâmico».
Compreenderam bem: o animal matou dezenas de homens, mulheres e crianças aos gritos de Alá é grande e a caricatura de Estado islâmico pronuncia-o seu digno filho. Mas para alguém galacticamente estúpido na cmtv se a besta comeu chouriço então nada tem a ver com o islão.
No sábado passado ao fim da tarde estive quase meia hora na Avenida Emídio Navarro na vila de Cascais com um calor tórrido e o sol de frente à procura do antigo número 22, a casa onde os meus avós maternos passavam a época estival, para tirar uma fotografia. Em vão: tendo a numeração sido alterada há uns anos e a falta de uma referência arquitectónica relevante tornou a minha tentativa um logro. Nenhuma das fotografias que tirei orientado por solícitos e desconfiados autóctones acertou no alvo - até a daquela vivenda que eu intuí como certa. O falhanço foi mais tarde sentenciado de viva voz pela minha mãe depois de inspeccionar os retratos no meu telemóvel.
Daqui se depreende como a investigação histórica é uma ciência difícil e como é perigosa a tentação de deduzirmos uma determinada solução e promulgarmos um erro.
Depois de uma indignada conversa dos crescidos à mesa sobre o projecto do PAN de acabar com as charretes e carroças, pergunta-me o pequenote na sua inocência:
- Ó pai, acha que eles vão obrigar as pessoas a carregar os cavalos às costas?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Boa noiteA guerra começou no dia em que um homem (...
Se foossem os também exóticos eucaliptos seria mui...
A cidade tende sempre a concentrar o poder polític...
SubscrevoAdicionaria privatização total da banca, ...
O Sr. Dyson está rico. Bem o merece, ninguém é obr...