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Casamento e divórcio à esquerda

por Vasco Mina, em 31.10.15

Pacheco Pereira escreve hoje, na sua habitual coluna no Público, um texto notável sobre aquilo a que o próprio se refere como sendo o casamento e divórcio à esquerda. Defende as vantagens de um acordo entre PS, PCP e BE e enquadra-o politicamente numa perspetiva que ainda não consegui ler ou ouvir por parte de qualquer dos representantes daquelas forças políticas. Mais, a fundamentação do casamento à esquerda é hoje, brilhantemente, apresentada por Pacheco Pereira que assim se torna numa espécie de teórico desta inédita coligação. Pode discordar-se (e eu discordo) da abordagem política e de alguma da sua argumentação mas é notável a construção da fundamentação política de suporte a esta alternativa de esquerda. Mas com a mesma lucidez e profundidade políticas a que nos habitou desde há muito, alerta para os perigos do divórcio que a acontecer “ será muito mais gravoso e penoso”. Vai até mais longe com um recado para o PCP: “se entram numa solução deste tipo (a de um entendimento das esquerdas), têm que dar, neste caso ao PS, alguma margem de manobra para fazer o equilibrismo financeiro que é necessário para cumprir, sem qualquer zelo, o Tratado Orçamental, antes de haver alguma negociação que o modere”. Talvez Pacheco Pereira não tenha escutado a entrevista de Jerónimo de Sousa à SIC (ocorreu quase à mesma hora da Quadratura do Círculo” em que afirmou que “o problema não está no erro, está em persistir no erro. Obviamente que nós não fazemos isso [respeitar o Tratado Orçamental]”. Hoje, no DN, é a vez de António Filipe afirmar que "Governo de esquerda? Para já, chame-lhe um governo do PS…”

Como diria o Senhor de La Palice, só há divórcio se houver casamento e este ainda está na fase do namoro e pelas declarações dos dirigentes do PCP a solução passará por cada um ficar em sua casa juntando-se ao fim de semana. É a união moderna de muitos casais e é este o caminho desejado por um dos pares. Assim, não haverá divórcio pois não acontecerá um verdadeiro casamento. As consequências desta espécie de casamento alternativo estão bem descritas no artigo incontornável do Pacheco Pereira.

Duas ou três coisas maldosas e malevolentes

por José Mendonça da Cruz, em 31.10.15

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Já todos compreendemos que os votos de que possamos «viver tempos interessantes» são, na verdade, uma maldição. Mas enquanto sofre a gente pode divertir-se.

Esta, por exemplo: e se o PCP leva avante a sua de ter moções de rejeição autónomas... e se depois o PCP se abstem na moção PS/Bloco... e depois o PS e o Bloco têm que votar a moção do PCP, como derradeira hipótese de derrubar o governo? Não era uma bofetada de mestre a PS, e, sobretudo, ao Bloco? Nesse caso, quem lideraria e quem iria a reboque? Pensem nisso. Divirtam-se um bocadinho.

Outra, por exemplo: PS/Bloco/PCP enviam para Bruxelas o seu orçamento todo catita, mas Bruxelas devolve-o e diz «Não, não, arranjem lá uma coisa como deve ser!» E agora? (E então?) A frente tão unida não liga, ou desfaz-se em cacos? E quem se destaca heroicamente a partir a loiça? A noiva é abandonada no altar ? Pensem nisso. Divirtam-se mais.

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Segundo o Capoulas Santos o PS é o único partido de charneira que pode fazer acordos à esquerda ou à direita. Ora se levarmos isto à letra, chegamos à conclusão que o PS é o único que pode ser governo neste país. A não ser que haja uma maioria absoluta, o que cada vez é mais difícil com tantos partidos a concorrerem (a lista de voto era interminável), a favor da direita, um governo minoritário é sempre um governo PS. Isto nem em Cuba. Ao menos ali não há falsas expectativas de democracia.

 

Depois vem um deputado do Bloco de Esquerda dizer que "o Bloco de Esquerda não vai aplicar o seu programa porque não ganhou as eleições". Não porquê? O PS também não ganhou as eleições nem por isso deixa de impor o seu programa de Governo. Eu até acho que o Bloco pode muito bem impor o seu programa de Governo, pois se a segunda força política não conseguir formar Governo pode ser que o Presidente da República indigite a Catarina Martins. Isto é tudo uma questão de não aprovar o programa, o que deixa imediatamente o partido seu autor refém da seguinte força politica mais votada. Isto bem coordenado ainda vai acabar com a CDU a formar governo, ou quiçá, o PAN. 

P.S. Acho que na direita está tudo muito divertido à espera de ver o Bloco no Governo, a ser criticado pela população, a ser vítima de greves e constestações, a levar com insultos populares. A ser alvo de críticas nos editoriais dos jornais. Vamos ver como reagem esses grandes revolucionários à situação de governantes.

Uns e os outros

por José Mendonça da Cruz, em 30.10.15

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O Expresso da meia-noite fez hoje uma curiosa comparação, duvido que voluntária: trouxe ao debate dois ministros do governo cessante de Passos Coelho e um ex-ministro socialista.

Os ex-ministros cessantes do CDS e do PSD eram Pires de Lima, que regressa à gestão de empresas, de onde veio, e Poiares Maduro, que regressa à docência em Florença, de onde veio.

O outro ex-ministro, Capoulas Santos, depois da pasta da agricultura com Guterres é agora presidente de uma federação do PS.

Não sei porquê, deu-me para pensar se não será esta exactamente a diferença entre os que servem e os dependentes, ou, por outras palavras, os que se servem. E se não é esta a explicação do frenesim angustiado de António Costa.

O último escuteiro

por José Mendonça da Cruz, em 30.10.15

O deputado socialista Galamba ouviu o que Cavaco tinha a dizer na tomada de posse do governo da coligação vencedora das eleições, e não percebeu nada. Com o discurso que ele achou «mais cordato», mal reparando na substância, a demarcação cada vez mais clara do PCP, a pesporrência cada vez mais ameaçadora do Bloco, e uma direcção socialista cada vez mais coibida, será que Galamba vai ser o último a perceber?

Catarina parva et sinistra

por José Mendonça da Cruz, em 30.10.15

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A pequena actriz da esquerda bloquista que já fez de presidente da República e despediu o governo de Passos Coelho, que faz de secretária-geral socialista, deixando António Costa salvar a pele enquanto ela mete o resto ao bolso, deixou-se levar nas asas da excitação e apresentou-se a mandar no PCP, anunciando a toda a gente, e ao velho PCP também, o que o velho PCP ia fazer: assinar uma moção de rejeição conjunta, disse ela. Foi divertido ver o velho PCP explicar à euforia da menina que as decisões do velho PCP é o velho PCP que toma. «Não sei de nada disso», disse mais ou menos Jerónimo. «Aqui não é como em casa do Costa, aqui ainda mandamos nós», disse ele mais ou menos. 

É como diz toda a gente: isto vai correr muito bem.

Não passarão

por João Távora, em 30.10.15

A arrogância desta nova esquerda remete-nos para os tempos revolucionários. Sente-se na rua o incómodo das pessoas. Com obscuros golpes palacianos contra a tradição e jurisprudencia da nossa democracia eles meaçam roubar-nos o futuro: a confiança dos mercados, dos empresários, roubar-nos os timidos sinais de retoma, enfim, o trabalho que conquistamos com tanto custo.
Estes tempos são históricos e devem obrigar-nos a sair do sofá. Pelos nossos filhos, como fizeram os nossos pais.

Assim vai o acordo das esquerdas

por Vasco Mina, em 30.10.15

Jerónimo de Sousa manifestou ontem, na entrevista que deu à SIC, a posição inalterável de que o PCP não respeita o Tratado Orçamental. Mais em concreto, “O problema não está no erro, está em persistir no erro. Obviamente que nós não fazemos isso [respeitar o Tratado Orçamental]”. Quanto a acordo por escrito nem uma palavra e nem tão pouco sobre a amplitude temporal do putativo entendimento. Até para a apresentação de uma moção de censura conjunta não tem entendimento com BE e PS e questionado sobre o assunto respondeu: "E porque não uma moção separada?". Bem se esforçam, o BE e PS, para pressionar o PCP para um acordo assumido e assinado entre os três partidos. Têm até dia 10 de Novembro para conseguir tal feito mas, em boa das verdades e apesar da propaganda socialista e bloquista, o dito acordo é ainda e apenas um PNEC (Processo Negocial em Curso). 

Já não há paciência para o argumento do PPM

por Maria Teixeira Alves, em 29.10.15

De cada vez que aparece um socialista a comentar a aliança à esquerda com o PCP e Bloco de Esquerda (partidos que defendem a renegociação da dívida, a saída do euro e da Nato) vem com o argumento que já houve um governo que teve como coligação o Partido Popular Monárquico e que nem por isso tentou restaurar a monarquia. Caramba, mas há alguma comparação possível? Em primeiro lugar a Aliança Democrática (famosa AD de Francisco Sá Carneiro) foi uma coligação de centro-direita, formada em Portugal em 1979 pelo Partido Social-Democrata (PPD/PSD), pelo Centro Democrático Social (CDS) e pelo Partido Popular Monárquico (PPM) e reformadores.Teve como grande impulsionador o líder histórico do PSD, Francisco Sá Carneiro bem como os líderes do CDS, Diogo Freitas do Amaral e do PPM, Gonçalo Ribeiro Teles. Portanto o PPM (que tinha essencialmente no programa a defesa da nação, da terra, anti-federalismo europeu) entra para o Governo muito antes da entrada de Portugal na CEE (1985). Depois disso nunca mais teve expressão governativa, 

Depois o PPM fez parte de um Governo legislativo, coisa perfeitamente compatível com uma monarquia, ou com as ambições de uma monarquia. Não podia o PPM restaurar a monarquia só porque tinha isso no programa do Governo, porque a monarquia está vedada constitucionalmente. Portanto quem convida o PPM para o Governo, ou quem votou no PPM podia identificar-se com a causa monárquica, mas não votou nele na esperança que a monarquia fosse restaurada. Porque isso era impossível a um partido. A Constituição para ser alterada exige a conjugação da maioria dos deputados de várias forças partidárias. 

Não tem nada a ver com o PCP e o Bloco. Porque a renegociação da dívida aos credores europeus não precisa de alterações constitucionais. 

Chega de clichés que apesar de ben trovatos, no son vero!

Vamos lá a falar a sério. Onde é que está o acordo PS/PCP e BE? O que é que o PS prometeu a cada um desses partidos? É que o mais provável é que para formar a AD não tenham sido precisas tantas reuniões... 

105-48= 105

por João-Afonso Machado, em 29.10.15

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Duas vezes em um só dia é demais: a alusão, em crónicas de hoje, de Bacelar de Vasconcelos (JN) e de Francisco de Assis (Público) à II República como sendo a actual - como se 48 anos de salazarismo estivessem fora do Regime. A lavá-lo e a pontapear a História. Contas à moda do republicanismo socialista-maçónico.

Porque o art. 5º da Constituição da República Portuguesa de 1933 dizia claramente: «O Estado português é uma República unitária e corporativa». Não gostam os senhores aventaleiros? Paciência. Os Presidentes dessa longa República autocrática foram - quer queiram, quer não - quatro, a saber, Óscar Carmona, Salazar (interinamente, após a morte deste e até à eleição do seguinte), Craveiro Lopes e Américo Tomaz.

A gente percebe os intentos. Aliás, intentos esses deitados abaixo pelo insuspeito Vasco Pulido Valente em crónica de 2 de Outubro de 2010 no Público. De que fica um excerto, a parte final:
«Como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam "carbonários", vigilantes de vários géneros e pêlo e a "formiga branca" do jacobinismo? Como é possivel pedir a uma cultura política assente nos "direitos do homem e do cidadão" que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de "suspeitos" (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)? Como é possível ao Estado da tolerância e da aceitação do "outro" mostrar agora o seu respeito por uma ideologia cuja essência era a erradicação do catolicismo? E, principalmente, como é possível que a Monarquia, apesar da sua decadência e da sua inoperância, fora um regime bem mais livre e legalista do que a grosseira cópia do pior radicalismo francês, que o "5 de Outubro" trouxe a Portugal?».

 

Resta acrescentar que, pelos avisos dos tempos mais recentes, provavelmente anda estamos na República-zero desse abençoado paraíso político prometido...

Há que dourar a pílula...:

por Vasco Lobo Xavier, em 29.10.15

Subtis alterações vão surgindo, quase despercebidas. A jornalista Anabela Neves, da SIC, passou a tratar o CDS e o PSD como “partidos da direita”, quando o PSD nunca foi nem se considerou partido da direita, e a referir-se ao Bloco e o PCP como “partidos da esquerda”, quando eles nunca foram outra coisa que não de extrema-esquerda.

Há que dourar a pílula, não é? Pois é…

Intoxicação em roda livre

por José Mendonça da Cruz, em 29.10.15

O «jornalismo de causas», contradição nos termos que a Sic e a Tvi todos os dias exemplificam, anda eufórico. Hoje, no noticiário das 13 da Sic, a estação, manifestamente incomodada com nova descida da taxa de desemprego, advertia que essa descida era de «muito pouco» e às 7000 pessoas que encontraram emprego chamava, não pessoas que encontraram emprego, mas gente «fora da lista de desempregados».

Na Tvi, à mesma hora, festejava-se o facto de a PGR ter solicitado à estação os documentos de uma reportagem sobre a Octapharma e o desperdício de plasma nacional que depois vinha a ser importado. Mais uma vez, a Tvi tentou ligar o escândalo ao actual governo, chamando «protagonista» a Leal da Costa. Mais uma vez, a Tvi omitiu a legislação feita e mantida à medida pelo governo de José Sócrates, e o facto de a Octapharma ser, após a queda do governo, o «grande tacho» que Guterres disse a Sócrates que ele arranjou. A Tvi notará, a seu tempo, que estes seus festejos sobre os desenvolvimentos de uma reportagem confusa e gravemente lacunar terão sido um pouco obtusos.

Os «representantes do povo» foram mandados calar

por José Mendonça da Cruz, em 29.10.15

A frente popular na Assembleia da República invocou a tradição para manter os deputados eleitos em silêncio e em casa, e impedir a discussão de todo e qualquer tema político, ainda que muito importante. A AR recém-eleita só iniciará trabalhos a 9 de Novembro.

Há no ar uma leve sensação revolucionária. Sente-se ao longe uma ameaça. As pessoas já não se sentem seguras nem têm confiança naquilo que confiavam antes. Há uma sensação de que tudo pode escapar, e que qualquer coisa antes vista como marginal pode passar a ser legítima, mesmo o mais impensável que é ver um derrotado nas eleições chegar ao poder com um golpe palaciano que toda a gente agora ou por medo, ou porque o seguro morreu de velho, lhe chama democracia.

Hoje Fernando Ulrich, outrora o l´enfant terrible da banca, o banqueiro referência que punha ordem nisto quando falava para a imprensa, o banqueiro de direita, que nunca escondeu ser, disse (fiquei pasmada) a propósito do que se está a passar, "que é bom ao longo do tempo, numa democracia madura e adulta que toda a população, pelo menos algumas vezes se sinta representada, que se reveja em quem está no Governo e participa activamente na tomada de decisões", numa clara alusão aos partidos PCP e Bloco de Esquerda que estão a negociar saltar para o poder com o PS, que vai formar Governo.

Meu Deus ao que isto chegou! Até Fernando Ulrich está conformado.A fragilidade dos confrontos accionistas na sua casa [BPI] talvez tenham retirado ao banqueiro aquela força contestatária de antigamente (o que é perfeitamente compreensível neste contexto).

Era o banqueiro destemido que não se preocupava com mal entendidos, que enfrentou as deputadas no Bloco de Esquerda numa comissão com uma confiança brutal, que as punha na ordem. Era tal a segurança que se confundia com sobranceria. Esse banqueiro hoje mede as palavras e chega mesmo a admitir que a última coisa que quer são mal entendidos. "A última coisa que queria era fazer algum comentário que pudesse ser mal interpretado, o que às vezes acontece aos melhores, como eu e vocês sabemos. A última coisa que faria era dizer qualquer coisa que podia parecer que estaria a criticar a maneira como as pessoas votaram".

Isto está de tal maneira que o politicamente correcto impõe-se até aos mais inteligentes.

 Esta postura temerária voltou a demonstrá-la mais à frente quando diz: "Isto não estão tempos para mostrar algo que possa parecer arrogância", disse o banqueiro a propósito do capital recomedado pelo BCE para o BPI. Mas revelou mais do que isso, revelou um novo Ulrich que já sente que o chão lhe pode escapar. Não é o único. Estamos todos assim, o chão pode escapar-nos, é uma sensação permanente.

Estamos a perder as referencias  de bem e mal, de certo e errado, de justo e injusto, de mérito e desmérito. Já não podemos situar nada, há um terreno movediço.

Na política há um terramoto ideologico nos partidos. Antes podíamos dizer que o PCP era um partido que defendia os trabalhadores contra os privilegiados, que defendia os operários, hoje já não sabemos. Antes eram anti-Nato e anti-euro, queriam renegociar a dívida, mas agora já não é bem assim, defendem tudo e o seu contrário, desde que sirva contra os partidos de direita.

O Bloco de Esquerda mantém-se fiel às causas fracturantes (lamentáveis causas na minha opinião) mas já admite que afinal não é preciso ser Syriza. Em vez de ideologias e ideias agora há inimigos a abater em nome de lugares de poder a conquistar. Vale tudo, mas mesmo tudo para se manter com um papel relevante na sociedade.

Andamos todos uns contra os outros. Mesmo as amizades estão periclitantes à espera de ver para onde vão as conveniências.  Há uma leve sensação a guerras tribais, tu ou és da minha tribo ou és meu inimigo. Os conflitos crispados estão a atingir subtilmente todos os espaços. Sentimos que já não nos podemos ancorar no sentido de justiça, no conceito de democracia como o tínhamos por certo, não podemos confiar na entreajuda. Somos facilmente enredados em teias montadas por pessoas de má rês.

Hoje o Tribunal proibiu o grupo Cofina de publicar notícias sobre caso Sócrates. Uma coisa inédita. Já se pode proibir jornalistas de escrever, seja o Tribunal sejam os próprios jornais. O presidente do PS, Carlos César, veio dizer, sem dizer que estava a falar do caso Sócrates, que quer mudar a lei para evitar detenções sem acusação. Um caso que afectou também Ricardo Salgado. 

Há uma sensação de desconfiança. Os devedores não pagam. Os amigos não se comprometem. Os rivais fazem batota. Está tudo muito desnorteado e muito desconfiado.

Há uma sensação de insegurança no ar, de golpes orquestrados nos mantideros, de perseguições políticas não declaradas.

Isto não estão tempos para grandes seguranças. Temos de estar atentos às traições shakeasperianas. 

 

"Vai trabalhar, Sócrates!" III

por Vasco Lobo Xavier, em 29.10.15

O meu texto deu azo a muitos comentários, na sua grande maioria anónimos e insultuosos. Tive, por uma vez, o cuidado de analisar todos e cada um e de responder, mesmo aos que não mereciam, podem ir ver. No final, constatei algo que escrevi nos comentários mas pretendo também partilhar na primeira página do blog onde escrevo. Foi isto:

 

«Ora bem. Relativamente ao meu post “Vai trabalhar, Sócrates!” dei-me ao trabalho esta noite (alguns trabalhos dão gozo) de analisar umas largas dezenas de comentários, alguns favoráveis e outros reprovadores (onde incluo os insultuosos). Relativamente a estes últimos, respondi a quase todos, ou todos, e nenhum deles me fazia qualquer crítica decente ao texto que escrevi. Não houve ninguém que conseguisse contestar o que escrevi. Não gostaram do que escrevi, mas ninguém contestou qualquer facto ou constatação.

É de ficar contente quando os próprios adversários nos dão razão, sem modéstia o confesso. Muito obrigado a todos.»

Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI(Jorge Amaral/Global Imagens)

Na sessão de apresentação dos resultados do terceiro trimestre – bons resultados impulsionados pela margem financeira, que só em Portugal  (e cada vez mais o que interessa é a actividade doméstica, uma vez que o BPI vai ser essencialmente um banco doméstico depois do spin-off) subiu 25,3% num ano e em termos consolidados essa subida foi de 30,8% – Fernando Ulrich comentou os temas quentes. Relação com a accionista Isabel dos Santos: Não foi feita proposta de compra de posição adicional no BFA" -  desmentindo que Isabel dos Santos tenha proposto a compra de 10% do BFA. Falou do projecto de cisão que criará um banco doméstico com menos capital e menos lucros. A posição de 50,1% que o BPI tem no BFA rendeu um lucro de 105,5 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano.Falou da política e pela primeira vez referiu-se que era bom que as pessoas que votam nos partidos pequenos se sintam representadas no Governo, o que é uma clara alusão ao BE e PCP. 

Depois falou do tema mais importante para a banca: os rácios de capital que cada banco supervisionado pelo BCE tem de ter e que já sabe qual é. Rácio esse que explica que a CGD tenha de vender activos para pagar os 900 milhões de CoCo´s ao Estado, sem poder aumentar o capital para isso [isto digo eu, não Fernando Ulrich], e rácio esse que pode explicar a derrocada em bolsa do Banif (onde o Estado tem 700 milhões em acções especiais e 125 milhões em CoCo´s em atraso de pagamento). O presidente do BPI não comentou estes dois casos, mas sobre o BPI disse que "está confortável com o valor fixado, que é inferior aos rácios que o banco tem”. O BPI tem um rácio de common equity tier I de 10.6% (“phasing in").

O BPI apresentou resultados domésticos de  38.9 milhões e em termos consolidados (com internacional que é essencialmente BFA) teve lucro líquido de 151 milhões. No 3º trimestre de 2015 (Julho – Setembro), o BPI obteve um lucro líquido consolidado de 74,8 milhões de euros (32,3 milhões na actividade doméstica e 42,5 milhões na actividade internacional). 

Sobre a cisão do BPI em dois (spin-off dos activos angolanos):

"Vejo muito bem" o futuro do BPI sem África

“Não é o meu sonho de vida, ou o projecto que gostava que continuasse, mas a realidade é o que é. Manda quem pode - o BCE - obedece quem deve - o BPI. Estamos na fase de obedecer e executar. O BPI, na actividade doméstica, segue o seu caminho, segue a trajectória de melhoria de rentabilidade” 

“O facto de haver um veículo cotado com exposição a activos africanos é um excelente veículo de investimento para os investidores, e há vários nos EUA ou na China, que estão direccionados para África e poderão olhar para ele com mais interesse do que olham para o BPI, que tem actualmente uma parte portuguesa e africana”. “Estamos a demonstrar que o BFA tem um modelo de negócio resistente e resiliente”.

“O projecto de cisão é muito exigente, porque envolve a obtenção de muitas aprovações e acordos. Temos de obter o acordo da Unitel, que tem direitos atribuídos pelos estatutos e acordo parassocial, e das autoridades angolanas e portuguesas. Há um conjunto exaustivo de passos a dar e todos esses processos estão em curso e estamos em conversações e em trabalhos”

"Estamos em diálogo com a Unitel sobre este projecto, é um processo que está em curso e estamos a trabalhar com espírito construtivo com um objectivo que é comum a todos”.

“Não foi dirigida ao conselho de administração nenhuma proposta de compra” de mais de 10% do BFA, disse ainda Fernando Ulrich, sobre o possível interesse de Isabel dos Santos em comprar uma participação adicional no BFA avançado pela imprensa.

Situação política:

"Estamos em democracia há 40 anos, é uma democracia madura. Vivo isto com muita tranquilidade e muita naturalidade. A última coisa que queria era fazer algum comentário que pudesse ser mal interpretado, o que às vezes acontece aos melhores, como eu e vocês sabemos. A última coisa que faria era dizer qualquer coisa que podia parecer que estaria a criticar a maneira como as pessoas votaram. Portanto as pessoas votaram como acreditam que é melhor para o país,  eu entendo que é bom ao longo do tempo que toda a população se reveja em quem está no Governo. Entendo que é bom que, por vezes, toda a população, algumas vezes, se sinta representada, isso ajuda a construir uma sociedade mais equilibrada".

"Tenho confiança em Portugal e nos portugueses, que têm capacidade para superar obstáculos difíceis como se viu no passado e hoje as coisas estão melhores. O que quer que seja que aconteça vai acontecer numa linha de estabilidade. Vejo o que se está a passar com muita tranquilidade, prefiro encarar a realidade do que cenários”

“A forma exemplar como o país ultrapassou todas as dificuldades e era estranho que agora se aumentasse o nível de conflitualidade” 

“Como está na moda dizer, agora é o tempo da política e dos políticos por excelência. Votámos e agora compete ao Presidente da República e aos partidos cumprir a constituição.  “Estou a viver esta situação de forma tranquila, vivemos em democracia, as pessoas votaram e agora alguns estão mais contentes e outros menos. É a democracia”

 Sobre os testes de stress: "O valor de rácio que o BCE recomenda para o BPI é inferior aos rácios que o banco tem"

"Relativamente ao capital indicado pelo BCE - que agora indica a cada banco supervisionado qual o capital que deve ter - a resposta é sim, nós - tal como todos os bancos - já recebemos a indicação provisória do valor do common equity tier I em phasing in que temos de cumprir, mas o BCE recomenda que não seja divulgado o valor. Posso dizer apenas que o banco não vai fazer nenhum aumento de capital por causa dessa recomendação.  Ela vai ser tornada definitiva daqui até ao fim do ano. A nossa expectativa é que não haja diferenças  significativas entre aquilo que foi indicado como o valor preliminar e o valor o definitivo, mas a decisão final é do BCE. O BPI está confortável com o valor fixado, que é inferior aos rácios que o banco tem”. O banco tem um rácio de 10,6%.

"Não tenho comentário especial e nem vou comentar a situação do Banif e da CGD [sobre possíveis problemas ou necessidades de capital] não tenho nenhuma informação especial que a senhora não tenha"

O tempo e a esquerda

por Vasco Mina, em 28.10.15

Ouvimos, na semana passada, a esquerda a considerar que seria uma perda de tempo dar posse a um governo chefiado por Passos Coelho. Anteontem o agora líder da bancada do PS Carlos César (eleito com 5 votos contra e 9 abstenções bem reveladores da grande unidade em torno do seu nome) bradava conta a demora de Passos Coelho em apresentar a constituição do governo e, uma vez mais, indignava-se pela posição de Cavaco Silva (agora em autorizar tal demora). Ainda ontem ficou conhecida a constituição do governo (apenas 5 dias após a indigitação do PM) mas, hoje, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, considerou que “o que não é normal é que o Governo demore tanto tempo a apresentar o programa”. Quanto à apresentação do acordo à esquerda o mesmo dirigente do BE afirmou que “não há obrigação constitucional de apresentação de acordos. Como não há essa obrigação, não há perda de tempo”. Já para o PCP o tempo é outra realidade pois na opinião de João Oliveira, líder da bancada comunista, o putativo acordo será conhecido “logo que haja condições para isso”. Já para o PS o tal acordo tem, finalmente, uma data marcada: “ficará associada ao momento em que for discutido o programa de Governo [da coligação]”. Ou seja ainda dispõem de muito tempo até ao dia 10 de Novembro para se entenderem com os comunistas e conseguirem celebrar um acordo que, soube-se hoje, para o PS “ não é só um acordo de investidura, mas também um acordo de legislatura". Em resumo, quando de acordos se trata, o tempo é elástico para a esquerda, ou seja, é quando houver condições; mas se o que estiver em causa for a discussão do programa do governo eleito pela maioria dos portugueses então tudo é uma perda de tempo.

Já há acordo mas está quase

por João-Afonso Machado, em 28.10.15

O governo da Coligação não passa, nisso estamos de acordo, embora ainda quase a conhecermos se serão uma, duas ou três moções de rejeição a chumbá-lo.

Também estamos de acordo - a não ser que Cavaco Silva lance algum torpedo - seguir-se-á um Governo de António Costa, conquanto ainda não se saiba se o acordo que o sustenta é, ou não, de mera incidência parlamentar. O PCP sente-se muito à vontade comandando as tropas sindicalistas em parada, mas os olhinhos da Catarina brilham por uma cadeira, onde fique mais alta sentada, na solenidade do Conselho de Ministros. E uma cadeira de jeito, Catarina neste acordo é já uma vice-primeira, uma espécie de Paulo Portas da Esquerda.

(Costa, jogando em dois tabuleiros, intenta o movimento oblíquo de um bispo, mas D. Januário entretanto não está lá).

Temos acordo, em suma. O acordo, por isso, está quase concluido. Não sabemos é se temos Orçamento de Estado. Está caríssimo e muito atrasado na sua entrega. Os comunistas exigem preços exorbitantes e não garantem prazos. Que lhes paguem nada menos dum aumento do salário mínimo. Importante, importante é a rua e a UGT urge pô-la fora dela. Carlos Silva já o percebeu mas ninguém lhe liga. E não convém ainda agitar as águas esquecidas do BES ou alertar para a tempestade BANIF que se avizinha.

(Costa muda de tabuleiro e vai jogar o cavalo. Ia! O zeloso PAN impede-o. Mais um impasse).

Enfim, o acordo que temos é um cilindro sobre Centeno e o seu sonho de Ministro das Finanças. Falta-lhe ser político, isto não é para otários. Outro dia que passa... e nós continuando a aguardar o acordo que já temos, mas não temos firmado. Uma coligação negativa? - Isso são bocas da reacção!

Credulidade (do lat. credulitate), s.f., qualidade de crédulo, ingenuidade.

Credibilidade (do lat. credibilitate), s.f., qualidade daquilo que é crível.

 

Exemplo: padece de credulidade quem dá credibilidade à promessa de António Costa de que só votará a rejeição do Governo da Coligação se já tiver garantido um acordo com a extrema-esquerda para uma solução de governo estável, credível, cumpridor dos tratados internacionais, e não apenas porque quer tentar salvar a sua pele.

"Vai trabalhar, Sócrates!" II

por Vasco Lobo Xavier, em 27.10.15

No texto que escrevi estão, neste momento, quase 40 comentários, sendo que, daqueles que me criticam, muitos limitam-se a ser insultuosos e nenhum consegue apresentar um argumento para a crítica. Respondi na caixa de comentários mas apeteceu-me copiar essa resposta na página do blog, apenas para os que não têm paciência para se passearem nas caixas de comentários. Respondi assim:   

 

«Escolho o primeiro comentário (de momento estão 38) para dizer que acho engraçado que nenhum dos inúmeros comentários que critica o meu texto (ou me insulta) consegue fazê-lo recorrendo a algum argumento sério.

 

Repito o que disse no texto: quem gasta aquele dinheiro todo (que o próprio assume que gastou) sem que o tivesse ganho é porque o obteve de forma ilícita (e então é um criminoso) ou através de empréstimos pouco usuais (versão do próprio), para fazer uma vida tão faustosa quão preguiçosa, e assim é um desgraçado que não merece respeito de ninguém. Isto são evidências.

 

De qualquer das formas, pessoa que assim age é pouco recomendável, não é exemplo para ninguém. Não me compete dizer qual das situações é a verdadeira, mas não há terceira via. E nenhuma pessoa decente consegue argumentar contra estas evidências. Pode insultar-me por lhe fazer ver o óbvio, aquilo que não quer ver, mas não consegue contrariar o que eu escrevi.

 

Segundo ponto: não percebo a razão pela qual as televisões andam atrás dele a fazer propaganda a pessoa que, no mínimo, e mesmo que sigamos apenas a versão por si apresentada, é pouco recomendável: vive à grande à custa do outro, do amigo. Toda a gente pode pedir dinheiro emprestado aos amigos, nenhuma mais existe nesta situação que o próprio admite. Outra evidência inquestionável.

 

Terceiro ponto: queixa-se o homem de viver com dificuldades (o que é um insulto para a população portuguesa que ele deixou na bancarrota, mas enfim...). Tem boa solução: aprenda um ofício e vá trabalhar, em vez desta coisa de ir viver para casa da ex-mulher com o actual companheiro. Mais uma evidência.

 

Ofereço assim aos críticos nova oportunidade para tentarem argumentar contra estas evidências. Ou podem só continuar a insultar, à míngua de argumentos.

 

Cumprimentos de quem trabalha para pagar as suas contas,»

Pág. 1/9



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