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Com os patéticos ataques de Ana Gomes a Paulo Portas e da Comissão de Inquérito ao BES a Passos Coelho e ao Presidente da República está lançada a chicana politica em que o Partido Socialista aposta na tentativa de radicalizar um discurso vazio de soluções. Com José Sócrates na cadeia, o último primeiro-ministro que governou numa relação íntima com a oligarquia dos negócios, a António Costa restam poucas alternativas além de lançar a confusão e ajavardar a disputa para gáudio dos canais de notícias sedentos de conteúdos sensacionais e baratos. Acontece que a "merdização" da política apenas favorece a descredibilização dos partidos do "arco da governação" e promove as franjas radicais: em Ana Gomes já poucos acreditam, e a tentativa de aproveitamento da carta de Ricardo Salgado ainda vai virar o bico ao prego - trata-se afinal de atirar lama para a ventoinha. Como escreve o insuspeito Pedro Santos Guerreiro hoje no Expresso, “Querem falar da relação entre Salgado e políticos? (…) Então chamem ao Parlamento outras pessoas: Rosário Teixeira e Carlos Alexandre. Eles sabem.” Eu cá por mim obrigava os socialistas (e não só!) a assistir a um seminário sobre a decadência e queda do nosso rotativismo liberal no século XIX.
Todos se lembram da senhora - todos os dias fazendo-se notar dentro do templo com os atavios e o espavento costumeiros. A lançar um olhar ávido em busca da pia da água benta, a benzer, persignar-se, voltar a benzer, um beijo na ponta dos dedos, uma carícia em imagem próxima, o ror de jaculatórias bichanadas, os suspiros e uma lágrimazita pia, a esmolinha mais a vela acesa, a voz do sacerdote um som de fundo apenas... E aquele generalizado pensamento mauzinho dos fieis, na altura da comunhão: lá vai ela, tão lampeira, a laber-se toda para papar a hóstia. Restava a benção final, e a senhora sempre contricta, prostrada, tudo saíra já ainda os seus ímpetos se lançavam sobre uma das capelas laterais.
Jamais alguém quis saber se as suas virtudes eram apenas públicas. Havia muito mais em que ocupar o tempo. A maldade da ironia não ia além do adro e somente porque a beata se punha debaixo do pálio.
Com os seus botões - e com os botões de quem lhe desse azo - a senhora enfiava meio mundo no inferno e a outra metade num incomodíssimo purgatório onde, assegurava, o frio era polar e não havia lenha. O céu estava-lhe reservado, em exclusiva companhia do falecido senhor prior.
Cristãmente a deixavam na sua rezinguice, todos se lembram. Os mais velhos lembram também vê-la murmurar de través face à sucessão dos papas mais recentes. Ainda há pouco a ouviram - acerca do Papa Francisco - casquinar um eheheh! e acrescentar, reticente, ah!, esse... Todos se lembram e todos se escandalizaram.
Porque se perdeu a contagem dos anos da senhora. Talvez porque ela seja de sempre. Tão cumpridora, tão respeitadora, tão conhecedora, tão capaz de ser só no conclave e pôr em causa a autoridade do representante de Cristo na Terra.
Uma Terra um bocadinho maior do que a sua sala, decorada a estampas e gravuras votivas onde se embrulha em orações e vê a telenovela às escondidas. Convencida de que lá no Céu não a topam...
A senhora teve artes de aceder ainda à Internet. Ela e as mais senhoras iguais espalhadas pelo mundo. Há por aí um número incontável de Igrejas Católicas Apostólicas Romanas. E são todas e cada uma a única verdadeira. Há qualquer coisa que me escapa na natureza humana, realmente.
Não há semana em que Pacheco Pereira não se indigne com a «novilíngua», com a «língua de pau» de que acusa o governo. Esta semana, porém, acusou o primeiro-ministro do contrário, de ser indelicado e não diplomático ao chamar ao programa do novo governo grego «um conto de crianças». Pacheco preferia a mesura, o comentário branco, o respeitinho -- a língua de pau, em suma.
Crianças, aliás, pareceram logo a seguir o mesmo Pacheco Pereira e Jorge Coelho que, embora manifestamente ignorantes do assunto, tentaram insistentemente que não fosse ouvida a informação, inteiramente verdadeira mas incómoda, de António Lobo Xavier: de que os custos da unificação da Alemanha foram inteiramente pagos pela Alemanha, sem um cêntimo «solidário» de qualquer país da Europa.
Como as crianças, Pacheco, e Tsipras e Jorge Coelho, tapam os ouvidos e gritam muito para não ouvirem as verdades de que não gostam. Mas é claro que o primeiro-ministro foi claro e falou bem. Foi até suave. Podia ter chamado ao programa de governo grego «suicida, ou «tonto», como é; ou «irresponsável», como lhe chamou Jaime Gama.
O irresponsável António Costa, colado como uma lapa à irresponsabilidade dos socialistas portugueses, correu de imediato a abraçar a irresponsabilidade da grande maioria da comunicação social portuguesa, que em êxtase louvava a eleição de um grupo de irresponsáveis para a liderança da Grécia. Ao irresponsável António Costa nem importava o facto do partido socialista ter sido varrido da Grécia, havia que se unir aos vitoriosos, ainda que irresponsáveis. Só por aqui se vê a maneira como ele gere o dia a dia e, bem assim, o presente e o futuro.
Em menos de 48 horas, e esquecendo por ora o casamento com os neonazis, os amigos gregos de António Costa e que este tanto elogiava aumentaram o salário mínimo de quinhentos para setecentos e tal euros, decidiram readmitir funcionários, oferecer energia eléctrica a 300 mil famílias, cancelaram as privatizações, enfim…., começaram a desbaratar o que tinham e o que não tinham, o que até aqui nem faz surpreender que tenham o apoio de Costa e dos socialistas, pois é exactamente o que se preparam para fazer em Portugal. E porventura com igual resultado, que é a fuga de capitais da Grécia, a queda abrupta da bolsa, o aumento brutal dos preço dos empréstimos, a destruição total da confiança e, num brevíssimo espaço de tempo, a bancarrota e a miséria para o país. É isto que António Costa apoia e elogia com tanto entusiasmo.
Eu gosto que António Costa nos mostre o quão irresponsável é. Pelo menos os portugueses não poderão dizer que foram enganados.
Luciano Amaral esteve há uns dias no Instituto Amaro da Costa, a apresentar o seu mais recente livro Rica Vida - Crise e Salvação em 10 Momentos da História de Portugal “escrito para ser lido de forma agradável por leitor exigente”. O professor, historiador e cronista acredita que a crise da dívida que atravessamos é mais uma de várias “Crises Existenciais”, fenómeno exibe um curioso padrão de espaçamento temporal de 200 em 200 anos na nossa desgraçada História. Pegando nas palavras de Eduardo Lourenço tratar-se-á afinal de uma propensão endémica de “viver acima das usas possibilidades”, ou seja à custa do Império, dos restos do Império, das remessas dos emigrantes ou dos fundos europeus? Rica Vida - Crise e Salvação em 10 Momentos da História de Portugal conduz-nos, a começar no "faroeste mediaval" da fundação pátria, a uma revisitação dos lugares da nossa já longa História em que nos afundámos nessas “crises existenciais”, segundo o autor no sentido de uma reflexão que nos permita melhor entender o impasse do presente: “a melhor maneira de compreendermos a situação a que chegamos no contexto do Euro é colocá-la sob perspectiva histórica”, referiu. Mas, concluo eu, esta terra ainda vai cumprir o seu ideal: Portugal é no final de contas uma Nação resiliente, qual gato de sete foles. Perplexidades de monta que são razões de sobra para a leitura deste livro publicado no passado mês de Outubro pela D. Quixote.
Foi ou é, um dia será talvez. Novamente o velho mercado do Bolhão. Liberto das discussões políticas, somente colorido e pujante. O Passado tem marcas mais pesadas do que os anos. Marca! Assinala a diferença. E reclama.
O Bolhão foi tudo isso. A alegria, o símbolo, a vida, o quotidiano. Agora sustenta-se escorado em promessas e esperanças. Com ele, muita gente se aguenta sob a ameaça do fim.
Permanece um olhar de amanhã. E alguma fidelidade, a dos clientes mais inconformados. A vida aguarda por "quadros de apoio", "fundos comunitários".
(E a toutinegra, a pata atrofiada pela ratoeira, saltitava na ínfima gaiola. Trazida por tuta e meia para um mundo maior onde, ainda assim, não reaprendeu a ser canora, mas voltou a voar em cantinhos esconsos, memória verdejante das húmidas cameleiras do seu ninho).
Há imagens mais antigas, velhas de 40 ou 50 anos. Há realidades incontestáveis - seria tolice ignorar o turismo. Dizem os estabelecidos, não fora ela, era a «desgraça».
E persiste uma identidade à margem dos shoppings ou das lojas gourmet. O Porto, paredes meias com o Minho, representa quase o seu oposto. Mas, tantas as décadas, são-lhe sempre devidas a homenagem e a solidariedade.
O Correio da Manhã noticia hoje em grandes parangonas que “Sócrates admite ser dono dos milhões”. Vai-se ver e fá-lo apenas porque, alegadamente, nas peças processuais, os seus advogados não se referem ao assunto, negando-o, e ainda porque os seus advogados diriam, nessas peças, a benefício do raciocínio, que, ainda que Sócrates fosse o dono do dinheiro, a amnistia fiscal do RERT I e II afastaria o tratamento criminal.
Ora bem. Isto em que o Correio da Manhã se baseia, habitual em estratégias de defesa, é muito diferente de Sócrates admitir ser o dono dos milhões e, por mais voltas que se dê, não permite o título nem a conclusão do Correio da Manhã. Eu não gosto de José Sócrates, acho que mente de cada vez que abre a boca ou escreve umas linhas sobre si próprio, e não tenho a menor dúvida da culpabilidade dele, pois uma vida daquelas não existe nem num conto de fadas.
Mas a forma do Correio da Manhã fazer notícias e inventar destaques também tem muito que se lhe diga de negativo.
Com os depósitos a fugirem desenfreadamente dos bancos, a bolsa a cair 10% e os juros da dívida a ultrapassarem os 10% (belo primeiro dia para os nacional-socialistas gregos) já falta pouco para nos divertirmos a ver o querido Tsipras e a babada imprensa portuguesa queixarem-se da maldade dos depositantes, da perversidade dos bancos, da malquerença dos mercados, da cegueira da Alemanha e da Europa (e dos portugueses se não quiserem pagar 550 euros por cabeça para se solidarizarem com extremistas) e da injustiça do Mundo em geral.
O segundo momento de paródia também não tarda nada: ele virá quando o querido Tsipras e a imprensa portuguesa excitadinha compreenderem que a compra de dívida pública pelo BCE, que celebraram como uma vitória dos socialistas contra a austeridade (essa coisa que as tristes cabecinhas julgam que é um capricho, não uma consequência) é exactamente a medida que permite que todos os países europeus -- incluindo Portugal -- assistam sem sobressalto ao suicídio da Grécia por Tsipras.
O novo Governo da Grécia tomou posse esta terça-feira e há decisões que entram em vigor já esta quarta-feira. Não se pode dizer que não seja despachado o novo primeiro-ministro grego.
Vejamos: O salário mínimo sobe para 753 euros, vai readmitir funcionários públicos, vai ser facilitado o pagamento de impostos atrasados e aprovada a electricidade gratuita para 300 mil pobres. Vai ser o país das maravilhas. Como é que vai pagar isto tudo? Diz o chefe do governo grego Alexis Tsipras, que vai financiar isto tudo com o combate à corrupção e à fuga ao fisco. Vai pôr os gregos a pagar impostos? Extraordinário!
Para começar os que poderiam pagar já responderam com a fuga de capitais. Com igual despacho é a debandada geral.
Paralelamente o ministro da Energia do novo Governo grego anunciou esta manhã que o Executivo vai congelar a privatização da empresa de energia PPC, do operador de rede Independent Power Transmission Operator, e dos 67% da Autoridade Portuária do Porto de Piraeus.
Mas o bem intencionado Tsipras cumpriu o prometido e formou um Executivo reduzido (10 ministérios) e está preparado para renegociar a dívida com os alemães que não a querem renegociar.
Ao mesmo tempo e uma das primeiras medidas do novo primeiro-ministro grego, foi distanciar-se da ameaça feita pelos líderes da União Europeia de aumentar as sanções aplicadas à Federação Russa por causa da guerra na Ucrânia. Argumentou que não foi consultado.
Na segunda-feira, após a sua posse, Alexis Tsipras já tinha recebido o embaixador russo – o primeiro em Atenas a ser recebido pelo novo primeiro-ministro.
Esta é a primeira frente de guerra aberta à União Europeia. Poderá a Grécia estar a caminho da saída da União Europeia? A alemã Angela Merkhel continua esperançosa que haja um "aprofundar" da relação de amizade com Tsipras. Qual amizade? É o que apetece perguntar.
Parece claro que a Grécia se prepara para se distanciar do projecto europeu e procurará alternativa a leste, aproximar-se à da Rússia. Mais um muro de Berlim?
O Ministério da Defesa esse deu-o ao partido de direita na coligação. Será uma espécie de jogada de xadrez?
Não sou especialista deste tipo de coisas mas se mais de um terço dos professores que fizeram a prova deu três ou mais erros de ortografia num texto, isso por si só parece-me justificar totalmente a necessidade de uma prova.
Há alguns senhores que se intitulam "nacionalistas" e vivem na extrema-direita do espectro político português. Têm imensas ideias salvíficas, incluindo a ressurreição de Salazar e o abandono da União Europeia. Não são imensos, na liguagem gráfica uns zero vírgula qualquer coisa entre o eleitorado não abstencionista.
Pensemos. Sopesemos a euforia do nosso paroquial esquerdismo se, por conveniência, o PSD ou o CDS optassem por uma coligação governamental com os referidos cavalheiros.
Na Grécia, não obstante, o Syriza em coisa de uma hora coligou-se com os parentes helénicos dos nacionalistas portugueses, até anteontem rotulados de neonazis e apontados como detentores - falo de deputados - de um curriculo criminal diversificado; hoje baixaram, porém, à inócua condição de "nacionalistas" e de "militantes da Direita". Nos jornais da nossa malta.
Temos, pois, os "nacionalistas" e os - quê: "extremistas", "esquerdistas"? - do Syriza unidos no propósito de derrubar a Troika. Para o que apresentam esta arma infalível - negociar com a dita Troika. Mais: vangloriam-se de imposições imediatas - à Troika; e pedem tempo - para concretizar a dita negociação.
O suave "nacionalismo" do Axel, entretanto, já explicou opor-se à imigração e ao "multiculturalismo", do mesmo passo que reclama uma reforma do sistema educacional fundamentado na ortodoxia cristã. Muito concordantemente, Tsipras recusou prestar juramento sobre a Bíblia (algo inédito na Grécia) na tomada de posse como chefe do Governo.
Vai ser uma pândega...
Com a idade passou a precisar duns comprimidos para não se esquecer de tomar os comprimidos para a memória, que quase nunca se lembrava de tomar.
São sempre catitas os gritos da revolta. E as frases atiradas do cimo do palanque: «A Grécia vira uma página, deixa para trás a austeridade, o medo e cinco anos de humilhação»!!! A euforia é de Tsipras, o Grande.
A Grécia está, pois, salva da austeridade. E não só: festeja o triunfo da «Europa da solidariedade», erguendo o punho ao som dos hinos guerreiros da Internacional Socialista. Comentário de um destes novos cruzados, apanhado pela imprensa: «primeiro tomámos Atenas, depois será Madrid e a seguir Lisboa»...
Em suma: a odienta Troika tem os dias contados. A Troika é já cadáver (a gente também embala nisto dos slogans, na tolice dos comícios) e a Grécia conhece novamente a primazia no mundo mediterrânico.
Somente nos escapa o alcança desta longa, enigmática, profecia de Tsipras o Grande: «o novo governo grego estará preparado para negociar e cooperar com os nossos sócios de forma a encontrar uma solução justa para que a Grécia saia do endividamento e volte à coesão nacional».
Então o novo governo grego ainda não está preparado para negociar?
E dispõe-se a negociar com quem? Com a Troika? Mas a Troika é maligna, não negoceia, rouba e assassina! Dr. Louçã, sempre vai encabeçar o próximo Executivo? Não? Nem de mão dada com o Dr. Costa?
Provavelmente alguns mais distraídos não repararam ser este filme um remake do Pasok, o Libertador, com outros efeitos especiais; foi um desastre de bilheteira em França, mesmo intitulado Hollande, o Grego; e se não nos pomos a pau a odisseia chega cá, mais hard core do que nunca.
Os radicais deles são os nossos socialistas
Temos então, na Grécia, que o partido Syriza foi mandatado pelo presidente para formar governo, após anunciar que firmara uma aliança com os nacionalistas do ANEL, o partido dos Gregos Independentes, que, com os seus 4,75% de votos e 13 deputados assegura a maioria absoluta.
Temos, então, na Grécia, um governo que, como estabelece o programa do Syriza, se propõe
Entretanto, porém, o Syriza propõe-se «confrontar a crise humanitária», e para isso quer
3. dar electricidade gratuita a 300 000 lares, refeições gratuitas a 300 000 famílias, garantir e subsidiar a habitação, pagar as despesas médicas e farmacêuticas aos desempregados, dar transportes gratuitos a pobres e desempregados.
Ora, como tudo isso custaria dinheiro vindo dos contribuintes europeus, portugueses incluídos, para lhes pagar as receitas cessantes e a despesa aumentada, o Syriza deseja amenizar as coisas propondo-se «reanimar a economia» com as seguintes medidas:
4. aumento de salários e pensões; aumento do salário mínimo; criação de 300 000 postos de trabalho (resultado de um plano de dois anos que não é explicado, mas que, como o programa de 150 000 empregos de Sócrates, terá os mesmos resultados previsíveis); extensão do subsídio de desemprego; e nova legislação que impeça os despedimentos.
E como todas estas medidas são caríssimas e em larga medida contraditórias, o Syriza, prevendo algum desassossego, propõe-se também, previsivelmente, «aprofundar a democracia», através de
5. novas forma de democracia popular; regionalização; reabertura da televisão pública; e cancelamento da licença à comunicação social que se portar mal.
Temos, então, e portanto, o governo de um partido que se intitula a si próprio de «esquerda radical», e a que em Portugal se vem chamando de extrema-esquerda, mas erradamente. O Syriza é, afinal, um irmão do nosso Partido Socialista, pois, como se vê pelo seu programa, propõe o que o PS propôs com Sócrates e continua a propor com Costa: não pagar o que deve, e gastar mais na reanimação, ou seja, endividar-se para sair da dívida. É o que chamam «política de crescimento»
Temos, então, em aliança, um partido socialista e um partido nacionalista de direita, inimigo da imigração, do multiculturalismo, da homossexualidade, e declaradamente anti-semita.
Temos na Grécia, e em resumo, um governo nacional e socialista.
As ilusões que transpiram
Não há nada mais confrangedor do que um rabo escondido com o gato de fora. Não há nada mais desconsolador do que comparar a prudência informativa da imprensa europeia, mesmo a de esquerda, com a excitação pueril dos jornais de trazer por casa.
O Liberation francês titula razoavelmente que o governo Tsipras «permite esperar uma inflexão nas políticas de austeridade europeias» (note-se o cauteloso permite, note-se o razoável esperar, note-se a mera inflexão). Em Espanha, o El País escreve que «A vitória do Syriza antecipa um período de agitação na Europa» (note-se o realismo da previsão de um período de agitação). E o Guardian de Londres abstém-se de toda a especulação, e regista apenas (há quem diga «noticia») os factos da vitória do socialista Syriza e da aliança com o nacionalista ANEL. Escolhi propositadamente jornais tidos por tendencialmente próximos do PSF, do PSOE e do Labour para os comparar com a imprensa portuguesa.
Em Portugal, o Jornal de Notícias de Afonso Camões proclama entusiasticamente que a Grécia «é o princípio do fim da austeridade». O Público põe-se em bicos dos pés no pedestal dos seus 7000 leitores para advertir a Europa de que a «Grécia vira página da austeridade e deixa a Europa a fazer contas». E o Diário de Notícias de André Macedo não vê menos do que uma «Europa (que) estremece com a raiva dos gregos».
Qual é a diferença? A diferença é, em primeiro lugar, que enquanto os jornais estrangeiros citados escolheram a informação, os jornais portugueses citados escolheram o «wishfull thinking» (deles), escolheram o frenesim pateta. A diferença é que estes jornais portugueses não raciocinaram, estes jornais portugueses esqueceram-se desse pormenor despiciendo da democracia, estes jornais portugueses outorgam à Grécia não só o direito, como o poder de ir contra todos os contribuintes e eleitores europeus que elegeram governos que não querem imitar a Grécia, e, sobretudo, que não querem pagar as fantasias e trapalhadas gregas.
Que se vai seguir um confronto de ideias na Europa, não há dúvida. Clamar que 40% de gregos ganharam a 27 países ultrapassa em muito a tonteria. E, pior: depois de demonstrada a inviabilidade das ilusões de Tsipras, ou depois de cavada a falência das ideias do Syriza, ou depois de cavada a falência da própria Grécia, estas proclamações juvenis parecerão atrozmente ridículas.
Syriza quase na maioria absoluta. Força, Syriza! Força, Tsipras! Só mais um esforçozingo, Gregos, vá lá! Syriza à absoluta, já!
(e sim, coitados dos Gregos, mas se foram eles que votaram, então com toda a justiça antes eles que nós)
Ia já o texto no fim quando o bloco caiu no regato. Traduzindo em linguagem do presente, terá sido o inadvertido pisar da tecla CTRL essa incontrolável escorregadela em margens tão empasteladas pela chuva. De tudo resultando um bucolismo encharcado, preso entre pedras muito adiante, deixasse-o secar, garantiram, e haveria retorno, ao menos uma base para rascunho.
Foram, porém, os minutos em que tudo mudou, riscada a écloga e esboçada a tragicomédia. Mesmo não deixando de ser verdade que este era o regato de todos os seus dias entre as margens e os dilemas que lhe dividiam a vida. Algo mais complicado no rigor dos invernos em que os anos somam e pesam e não ganham impulso. A ideia era a perpétua necessidade de optar; ficou na recorrente de recomeçar. De qualquer modo, sempre com muito a ver connosco.
Não tenho nenhuma admiração, ou sequer respeito, pelo Dr. Mário Soares. Não acho que a democracia lhe deva grande coisa, embora desconfie que o Dr. Mário Soares deva imenso à democracia. O Dr. Mário Soares é o produto de uma elite paroquial, convencida sabe-se lá porquê de que nasceu para apascentar o povo. Raramente notei no Dr. Mário Soares um vislumbre de sensatez ou sabedoria, virtudes que a manha e a arrogância não substituem. O protagonismo que o Dr. Mário Soares assumiu no regime é um sintoma do respectivo - e relativo - falhanço: aquilo que convém estimar e preservar no país de hoje existe apesar do Dr. Mário Soares e não graças a ele. O Dr. Mário Soares, em suma, envergonha-me um bocadinho.
Alberto Gonçalves no Diário de Notícias
Evangelho segundo São Marcos
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.
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