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O Advento e o Presépio

por Vasco Mina, em 30.11.14

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 Tem hoje início o Advento que, como o nome indica, significa o tempo que está para chegar. Por isso é a Esperança que, nesta época, dá sentido à vivência dos cristãos. Não a esperança vaga mas sim a esperança do encontro renovado com o Deus que Encarnou e que também Ele nos Espera. Há mais de dois mil anos que o acontecimento se repete no coração daqueles que foram e são tocados pelo acontecimento da gruta de Belém. Durante séculos sempre os homens procuraram relembrar a Natividade de Jesus e Francisco de Assis, em Greccio, na Noite de Natal de 1223, fez uma representação “ao vivo” e é então que nasce o Presépio. Com o passar do tempo foram surgindo várias manifestações do Presépio quer na escultura quer na pintura. Por terras lusas tivemos o movimento do barroco com os seus artistas e entre eles o grande mestre Machado de Castro. A beleza que emana do seu presépio (fez vários) é algo que impressiona quem contempla a sua obra e por isso recomendo uma visita ao que se encontra exposto na Basílica da Estrela (a foto acima revela uma parte). Mas a verdadeira beleza do Presépio é o Encontro de Deus com cada um de nós. Aconteceu em Belém da Judeia mas também acontece no local em que cada um de nós se encontra. No tempo do nascimento de Jesus não houve lugar para Ele e para a Sua família na hospedaria. Será que, hoje, este Deus que se fez Homem teria lugar em nossas casas? Ele continua a aguardar o encontro e por isso a milenar pergunta que se coloca, a cada um de nós, no Advento é a seguinte: quero mesmo encontrar Deus? É que Ele continua no meio de nós e até nos disse que o encontraríamos entre os mais pobres. Assim, a beleza do Presépio que a Arte nos convida a contemplar torna-se verdadeira Bela quando, como nos disse o Papa Bento XVI na sua visita a Portugal, conseguimos tornar as nossas vidas em lugar de beleza. É que o verdadeiro Presépio não é de peças de barro mas sim personagens vivos!

O grande Siga

por João-Afonso Machado, em 30.11.14

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O Siga é famoso no Porto. Um percurso de vida ímpar e um sonho ainda não cumprido. Muito rapidamente:

Aos onze anos, o Siga roubou o seu primeiro automóvel. Deu umas voltas, foi detido, o carro voltou para o dono e o Siga voltou para casa: estava a cinco primaveras da imputabilidade.

Mas, a partir de então, não mais parou. Especializou-se no roubo de Fiats Uno, cujas portas era perito em arrombar. Foram dezenas deles. Pelo caminho, semeava a pânico sempre que se aproximava de qualquer escola secundária com os seus sequazes e o seu comerciozinho de droga. Volante excepcionalmente dotado, aos quinze anos voava pelas ruas da Foz perseguido pelos carros da polícia. Uns meses mais, resmoneavam os agentes, cansados do prende e solta - uns meses mais e poderá ser presente aos tribunais. 

Nado no Bairro da Pasteleira, o Siga tornou-se uma celebridade em toda a vastidão do planeta tripeiro. Deu entrevistas. E confessou então a sua grande ambição: roubar, desviar, um avião!

Hoje o Siga apagou já as trinta velinhas. Na pildra, naturalmente. Parece que, desde a sua imputabilidade para cá, tem conseguido viver alguns momentos de liberdade, ciosamente ocupados no tráfico de droga, na destruição de caixas multibanco, no assalto a velhinhas, etc, etc, A transacta semana foi notícia dos jornais, outra vez capturado em flagrante delito. Tornou, por isso, ao seu habitat.

Não sei que pensar disto tudo. A segurança das pessoas é fundamental, mas talvez se pudesse abrir uma excepção e deixar o Siga concretizar o seu anseio de sempre. É cerrar os olhos e ele que fuja com um avião. De  alguma companhias low-cost, uma dessas onde a minha velha mochila na cabe nas bagageiras.

Afinal de contas, há por aí tanta gente sem necessidade de aspirar a tanto, com obrigação de fazer por menos e realizar tanto mais... Falo de malfeitores, é claro.

 

«Isto está a correr lindamente»

por José Mendonça da Cruz, em 30.11.14

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O novo Secretariado de António Costa acabado de formar inclui entre os seus 15 membros um admirador indefectível de Sócrates (João Galamba), uma admiradora indefectível de Sócrates (Maria da Luz Rosinha), um antigo chefe de gabinete de Sócrates (Luís Patrão), um antigo secretário de Estado do Turismo de Sócrates (Bernardo Trindade), um antigo secretário de Estado da Indústria de Sócrates (Fernando Medina) e o senhor encarregado das questões fracturantes -- sobram eutanásia e bestialidade -- quando as questões sérias começam a correr mal (Sérgio Sousa Pinto). Não há, portanto, fantasma nenhum de Sócrates, ele corporizou-se felizmente. Mas, visto que estes membros do novo Secretariado não faziam parte do Secretariado que havia antes, Público e Expresso proclamam com fé comovente que se deu uma «renovação total».

Há-de ter sido para esconjurar fantasmas que Carlos César, o novo presidente do partido, avocou que é ao PS que compete «combater o abuso de poder e a corrupção», o que deixa toda a gente muito mais descansada.

Também a unidade da agremiação ficou garantida com o bater de porta de Francisco Assis, impedido de falar, as críticas de António Arnaut e João Proença à manobra, e o logro em que cairam os seguristas sobre a composição da Comissão Nacional, porque acertaram com os costistas uma coisa e viram publicada outra.

A encerrar o Congresso, António Costa explicou que «há um cada vez maior fosso ideológico, cultural e até civilizacional com a direita radical». Tem toda a razão, excepto numa minudência:  o fosso, ideológico, cultural e civilizacional existe em relação à modernidade e aos «adquiridos civilizacionais» (PSF dixit) do mercado livre e da globalização.

É como Mário Soares comentou: «Isto está a correr lindamente».

 

 

No chão dos factos

por João Távora, em 30.11.14

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 No contexto do chamado “Choque Brutal”, prestar demasiada atenção às minuciosas análises dos imaginativos editoriais jornalísticos ou dos comentadores políticos oficiosos empurra-nos inevitavelmente a todos para uma órbita longínqua da realidade política nua e crua. Ora o que acontece cá em baixo no chão dos factos é que poucas vezes o Povo português se comoveu negativamente com os crimes políticos ou protagonistas corruptos, antes pelo contrário. Contrastando com a vozearia tão persecutória quanto inconsequente que impera na praça pública - em que, reflexo de uma senha contra a autoridade, se condena recorrentemente a generalidade dos políticos à cadeia só por serem políticos - o facto é que a História nos vem demonstrando uma insensibilidade geral às transgressões ou tiranias sucessivamente perpetradas ao longo dos tempos. Sem falar da maior estátua que em Portugal é dedicada ao sanguinário Marquês de Pombal, imortalizado como grande estadista, veja-se como a república aproveitando as benesses dum regime democrático e liberal, se instala candidamente na sequência de dois abomináveis assassinatos perpetrados pelos seus partidários. Ou veja-se como Salazar se perpetua no poder década após década sem grandes incómodos e sob as graças do “seu” Povo e de como foram vitoriosas as sucessivas reeleições de políticos sentenciados como Fátimas Felgueiras e Isaltinos Morais. Ou finalmente, como um delinquente político como José Sócrates é reeleito em 2009 apesar de denunciado em flagrante delito na gestão danosa da coisa pública. Todos estes factos contrariam o mito da “sabedoria popular” cujo sentimento sempre se inclinou para o fascínio pelos maiores escroques, na expressão duma compassiva condescendência para com qualquer líder corrupto ou despótico por troca de obra feita, um pouco de pão e circo. Se bem que a "Operação Marquês" (?!) condene a narrativa do PS a uma revisão, (nomeadamente evitando carregar o discurso anticorrupção), atrevo-me a dizer que a vitimização José Sócrates como mártir, numa agenda gerida com subtileza poderá vir a revelar-se um tónico para a caminhada triunfal de António Costa às legislativas de 2015. O fenómeno Sócrates emana da essência dos portugueses que o toleraram e veneram. Essa essência não mudará de um dia para o outro e nesse sentido estou convicto que continuaremos a ter  aquilo que merecemos. Nada de bom, bem se vê. 

A Nóvoa subiu-lhe o Sampaio à cabeça

por José Mendonça da Cruz, em 30.11.14

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Quem quiser saber por que razão a maioria dos europeus e a maioria do Parlamento Europeu e a maior parte do Mundo pensa que o socialismo é arcaico e pomposo deve ler este artigo sobre a intervenção do antigo reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, ontem, no Congresso do PS (se conseguir aceder ao texto integral do discurso, tanto melhor). Desde a criação de uma «democracia democrática» à condenação do mercado livre como casino e à substituição do capitalismo, da Europa e das boas contas por qualquer coisa que não se sabe o que é, mas que há-de ser boa porque «a ousadia é metade da vitória», houve no discurso de Sampaio da Nóvoa fartura de diagnósticos falsos, abundância de presunções à séc. XIX e profusão de vacuidades gongóricas. E parece que era o convidado que suscitava mais expectativa. E parece que quer ser Presidente porque ninguém pode «omitir-se».O Congresso já prometia. Cada vez mais promete.

1º Domingo do Advento

por João Távora, em 30.11.14

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Evangelho segundo São Marcos  13, 33-37


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!».
 

Da Bíblia Sagrada

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... ou por outras palavras:

por José Mendonça da Cruz, em 29.11.14

 

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«O dr. António Costa quer hoje separar os sarilhos de um alegado caso criminal do seu antigo mentor da política do Partido Socialista e do seu plano para salvar a Pátria. O que seria razoável, se José Sócrates não encarnasse em toda a sua pessoa o pior do PS: o ressentimento social, o narcisismo, a mediocridade, o prazer de mandar.»

Vasco Pulido Valente, Público, 28/11

António Costa e braço direito de Sócrates em sintonia

por José Mendonça da Cruz, em 29.11.14

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 No discurso de António Costa, hoje, no Congresso do PS, e no de Pedro Silva Pereira, há momentos, ficaram explanadas as ideias-chave do PS para o futuro:

- o PS teve um «choque brutal» com a detenção de Sócrates e garante que, a confirmarem-se as suspeitas que recaem sobre o antigo primeiro-ministro, «não estava preparado» porque ninguém podia estar preparado. Costa e os restantes ministros de Sócrates garantem, pois, que nunca notaram nada de estranho ou discutível;

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- o PS não está disponível para qualquer acordo de regime, seja a reposição de pensões e salários, seja uma reforma fiscal ou outra, porque um governo que não seja do PS está, por definição, a ir ao fundo;

- o PS quer mudar a Europa, porque é europeu e socialista, e, não sendo a Europa socialista, a Europa está «prevertida»;

- o PS não toma nota da taxa de crescimento do PIB, nem do aumento das exportações, nem da diminuição do desemprego. O que o PS de Costa e Silva Pereira quer é que a «reanimação da economia» seja feita pelo Estado e pela «requalificação» das pessoas, tal como Sócrates reanimou a economia e requalificou as pessoas.

Não há fantasma nenhum de Sócrates, ouvi eu dizer?...

«Motus et bouche cousue»

por Luísa Correia, em 29.11.14

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Há na nossa praça pública uma gente que sempre me confrangeu. Para além da gritante incompetência, os seus comportamentos revelaram sempre, até no mais superficial trato com os outros, total falta de respeito e de escrúpulos, e sempre a coberto de uma falsa autoridade moral e de um discurso arrogante e manipulador. Alguma encontra-se hoje por detrás de grades, mas outra não, toda ela beneficiando da protecção da velha «ordem dos cata-ventos» que, infelizmente, é bem mais populosa do que poderia pensar-se.

Mas não vou falar nessa gente, porque acho que é disso que ela gosta. Espero apenas que algum dia consigamos enxotá-la, de vez.

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Ser-se «intocável» é...

por Luísa Correia, em 29.11.14

 

Banco Alimentar este fim de semana

por Vasco Mina, em 29.11.14

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Porque existem causas para além de casos, não deixe de alimentar mais uma iniciativa de recolha de alimentos que decorre, hoje e amanhã, em quase todo o país. Alimente esta ideia!

Outro Mundo

por José Mendonça da Cruz, em 28.11.14

 

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A entrevista do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho à RTP1, ontem, tranquilizou-me e deu-me esperança. Ela foi tranquilizadora de uma maneira detestável para os socialistas, e esperançosa de uma forma que o velho Portugal dos interesses abomina.

Passos Coelho foi institucional quando devia ser e acerca dos temas em que deve sê-lo. Afirmou a «confiança nas instituições», a tranquilidade de ver «a justiça faz(er) o seu trabalho», e absteve-se de comentar a situação do PS pós detenção de Sócrates, se fica com mais ou menos dos seus homens, porque «isso é com o PS». Houve quem lhe criticasse a frieza, e compreende-se; é outro Mundo de normalidade democrática quando comparado com as frases emocionais e patéticas de anarquistas serôdios às portas de uma cadeia (fruto talvez da tal «ética republicana»).

Foi pedagógico quando pareceu justo para a situação e para o seu governo que o fosse: como quando lembrou, a propósito da Justiça, que o que dá intranquilidade aos portugueses é a tentação de abafar casos quando  envolvem altos quadros do Estado; ou quando recentrou a questão do BES, recordando que a culpa «não foi da supervisão, foi da má gestão»; ou quando explicou que os que defendem a intervenção na PT «estratégica» estão a defender a nacionalização, ou seja, o uso de dinheiro dos contribuintes para resolver questões privadas, e que são essas intervenções do Estado que levantam dúvidas sobre que interesses estão afinal a ser protegidos.

Não passou nem meia hora para que viesse Vieira da Silva, ministro e amigo de Sócrates, criticar em nome do PS o governo porque «se demite em questões fundamentais». Assim confirmava o que Passos Coelho dissera na entrevista: que o procedimento do governo marcava «uma importante diferença». Marca. É outro mundo de mercado livre, previsibilidade e transparência.

Passos Coelho foi liberal onde devia -- na defesa da decisão de deixar os privados da PT entregues aos seus erros e longe do nosso dinheiro -- e prudente onde era bom que o fosse -- na defesa de uma solução para o risco sistémico da falência do BES, com redução ao mínimo do risco para os contribuintes. Esteve fiel ao mundo que recusou 2,5 mil milhões do nosso dinheiro a um Ricardo Salgado falido, um mundo nos antípodas dos que julgam que o dinheiro aparece sempre e que o governo «quis atirar o BES para o charco».

Foi categórico onde a credibilidade recomenda que o seja (a meta do défice abaixo dos 3% para 2015 é «um ponto de honra» para o seu governo) e serenamente optimista como ainda não o víramos sê-lo (quando considerou que era razoável uma «perspectiva de aumento de rendimentos e bem-estar», embora avisando que não é do curto prazo). O porta-voz socialista veria aqui uma prova de que o primeiro-ministro está «gasto» e que «não dá alento». Mas compreende-se que o PS não compreenda: este Mundo das contas certas está a anos luz da governação «feroz», «combativa», «optimista» e «dinâmica» que o PS tanto aprecia e que só abandona quando a bancarrota exige outro governo que endireite as coisas e dispare sobre as fantasias ruinosas.

Passos Coelho foi, por fim, claro e positivo sobre o futuro das contas públicas: a carga fiscal é «excessiva», e o governo quer baixar o IRS, mas «o que temos que fazer mesmo é reduzir a despesa para baixar os impostos». E deixou a justa dúvida sobre se o Tribunal Constitucional deixa. Não houve tempo para falar do IRC, mas ele baixou e continuará a baixar, «isso está feito», disse o primeiro-ministro.

Mas para Vieira da Silva, a entrevista foi «uma desilusão». E como não haveria de sê-lo para o porta-voz ad hoc do partido que subscreveu a reforma do IRC e, tão cedo mudou de líder, renegou o que assinara (já treinara isto com o Memorando) ? É que são mundos diferentes: o governo quer deixar mais dinheiro nas empresas para que estas invistam e empreguem; o PS quer tirar mais dinheiro às empresas, para o investir ele e ser ele a dar emprego.

E conseguiu o primeiro-ministro, nesta entrevista, ser entusiástico e caloroso, prometer dias radiosos, prever amanhãs que cantam? Não, não conseguiu. Não tentou. Foi reservado, foi comedido, foi político. É uma coisa dele. É uma coisa que dista galáxias e tem nojo a esse mundo em que se promete a salvação com proclamações suicidárias de renegociação da dívida (em vez de pela melhoria de juros e maturidades, como mesmo agora o governo fez novamente com a discreção apropriada), em que se promete obter «da Europa» o que «a Europa» vinte vezes reiterou que não dá (nem a nós, nem à Grécia, nem a Itália, nem a França) e em que se aposta em «políticas de crechimento» que, como com Sócrates, obtêm taxas de crescimento negativas, e em «políticas para as pessoas» que, como no governo socialista, não páram a subida em flecha do desemprego que ultrapassou os 10% antes da crise.

É, é de facto outro mundo.

Um homem bom

por José Mendonça da Cruz, em 28.11.14

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Morreu Sousa Veloso. Não o conheci e nunca falei com ele, mas tenho pena e tenho muitas saudades, morreu-me o conforto duma memória da infância. Era um homem gentil. A palavra caiu em desuso e parecerá amaneirada, mas era isso que ele era. Bonomia, afabilidade, simpatia escorriam-lhe da pose, da expressão, da indumentária e da fala. É possível que a sociedade e o Mundo mais aberto de hoje exijam uma atitude mais agressiva; é possível que a modernidade e a concorrência imponham ademanes mais categóricos; é possível que o crescente número de cães ao no entanto crescente número de ossos acarrete propensões mais pistoleiras. Mas Sousa Veloso não. Sousa Veloso era gentil. Era um homem capaz de levar um programa chamado TV Rural a surpresas de audiência.

Não estou convencido de que fosse o simples facto de só dispormos de um canal de televisão -- ou dois, não me lembro -- a suscitar o interesse pelo programa, nem estou convencido de que fosse a falta de outras solicitações, de telemóveis, sms, facebooks, twitters, consolas, cabo, a inflacionar os interesses agrícolas. Estou convencido de que era o homem e o seu génio comunicacional, esse dom aristocrata que sabe afeiçoar o discurso aos conhecimentos, à literacia, aos interesses, à dignidade e valia do interlocutor, fosse ele presente ou fosse abstracto, escondido atrás do éter. Esse dom e esse génio é que convocavam citadinos para as maravilhosas equações da potência do tractor em função da área de lavradio; para os encantos da calibração dos pêssegos e da pêra rocha; para os enigmas da maçã golden que afinal devia ser verde; para as alegres potencialidades do açude e da barragem; para a deslustrada vida das vacas e como preparar-lhes a forragem. E envolvia-nos em prol da riqueza, da produtividade da terra, da exportação lucrativa. Gentilmente. Pedagogicamente. Com amizade.

Disseram-me que era homossexual. Não sei se era e pouco me interessa. Se era, seria um reclame da opção (um reclame, que era como se chamava à publicidade e aos anúncios). Um reclame pela discreção e elegância, natural, não impositivo -- em bicos dos pés nunca. Lamentei nele apenas essa coquetterie de resolver pintar o cabelo. Ficava-lhe desadequado, claramente abaixo dele. Mas era uma fragilidade de somenos numa presença generosa.

Não sei se deixa família, se deixa quem sofra por ele. Se deixa, sofro com eles. Adeus e obrigado, engenheiro.

Para os que acham que faltam provas

por Vasco Mina, em 28.11.14

Casa de Sócrates em Paris está registada em nome de Carlos Santos Silva

Para os que entendem ser a prisão de Sócrates uma manobra de perseguição e uma "bandalhada" pergunto se este facto, agora revelado pelo Expresso, não levanta suspeitas.

2015

por José Mendonça da Cruz, em 28.11.14

O novo presidente da CE Juncker está decidido a promover um programa europeu de reanimação económica no valor de 214 mil milhões de euros, um canhão (delicioso o momento em que uma deputada europeia socialista portuguesa comentou o facto: «É pouco!»). E alguém reparou que, ontem, no Financial Times, o vice-presidente do BCE Vítor Constâncio esclareceu que a instituição está disposta até a recorrer ao quantitative easing se for preciso? 2015 promete. Ai que o país se salva antes de chegar o messias...

Aritmética rural e pedestre

por José Mendonça da Cruz, em 28.11.14

Um feitor que celebra com terceiro e em nome do proprietário um contrato ruinoso de 300 mil euros e recebe do terceiro 20 mil euros pelo benefício roubou ao proprietário 20 mil euros ou 320 mil?

Só com Sócrates é que se indignaram

por Maria Teixeira Alves, em 28.11.14

Alguém se insurgiu contra a violação do segredo de justiça nas buscas de hoje ao BES? 

Até estranhei, já me estava a habituar a indignações.

Sócrates tem razão

por Vasco Mina, em 27.11.14

“Não raro a prepotência atraiçoa o prepotente.” Está preso!

Socialismo, Intoxicação e Cabalas (SIC)

por José Mendonça da Cruz, em 27.11.14

Por uma questão de sanidade mental e desejo de estar informado deixei de ver a SIC de Alcides Vieira e a Sic Notícias de António José Teixeira há várias semanas. Regressei brevemente para gozar (perversa e indignamente) a forma como se contorciam perante a prisão de José Sócrates. Esmagados pela dimensão dos factos e sem um lamiré vindo do Rato, Sic e SicN começaram, de facto, por noticiar - isto ainda que logo no primeiro dia António José Teixeira tenha considerado que a detenção de Sócrates era uma «coincidência», suponho que malévola, suponho que destinada, segundo ele, a prejudicar o congresso do PS. Fê-lo perante o indisfarçado incómodo do seu colega de comentário, Ricardo Costa, que além de inteligente e sério é jornalista.

Foi divertido este breve interregno a ver Sic e SicN padecerem. Agora, porém, que Mário Soares, Vieira da Silva e o próprio Sócrates já deram o tom (é tudo «bandalheira, malandrice, injustiça», porcaria), a Sic e a SicN regressam ao seu natural, que não é dar notícias. A partir de agora Sic e SicN noticiarão e comentarão violações de segredo de justiça (em que participaram, aliás, mas a militância exige agora o sacrifício da auto-crítica); as não violações do segredo de justiça (como quando o juiz se abstem, como manda a lei, de discriminar os motivos de prisão preventiva); o funcionamento de polícias, tribunais e procuradoria, tudo gente de má nota até prova em contrário; o excesso de trabalho do juiz Carlos Alexandre, que há-de ser aquilo que está a toldar-lhe o critério ; as más condições prisionais em Évora; etc, etc, etc. A última coisa que Sic e SicN tratarão será o cerne da questão: o facto de o ex-primeiro ministro dos seus amores estar detido por se suspeitar que é ladrão, e que não governou só mal, governou para enriquecer.

Volto, então, à sadia prática de não ver nem Sic nem SicN. E nem consigo comunicar como é higiénica e salutar e benéfica esta decisão de deixar a Acção Socialista à audiência captiva da Acção Socialista.

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