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Desmentir Marx

por Maria Teixeira Alves, em 22.02.14

Ao longo deste meu tempo de existência como observadora da realidade, isto é, como jornalista, e tendo eu estudado sociologia, não consigo deixar de pensar o quanto Marx estava errado quando disse que a Luta de Classes era o motor da História. A luta de classes é o travão da História. Não há nada mais bruto, básico, pouco inteligente, que as lutas de classes. De todos os lados, atenção! É uma coisa tão primária e selvagem. É perpetuar preconceitos, é reduzir a realidade às diferenças de conceitos de estética. É redutor porque é cego aos detalhes próprios de cada um. Cala o mérito, aniquila o bem e esconde o mal, tudo atrás de chavões. Condena à partida ideias que nem chegam a ser ouvidas porque caem facilmente nos estigmas dos preconceitos. As lutas de classes são o grande travão da evolução da humanidade, porque são fruto de sentimentos de vingança, de inveja ou de soberba. Porque põe os conceitos sociais, em suma o senso comum, acima da riqueza individual. But... there is no such thing as society. There are individual men and women, and there are families, dizia Margaret Thatcher. Eu acrescento, o que há são as ideias e os actos. É isso que destingue as pessoas. Agrupem-nas por isso. Não tenho nada contra classificações. 

Reparem nisto: 

No final dessa década, Leonardo López, Julio Borges e Henrique Capriles fundaram o Primeiro Justiça, que rapidamente se tornou o maior partido da oposição na Venezuela. Os três rapazes personificavam tudo aquilo contra o qual Chávez fizera a sua revolução bolivariana – eram filhos de boas famílias e, em resumo, uns privilegiados. López estudou na prestigiada Universidade de Harvard, nos Estados Undios. 

 

Esta ideia de que ser de uma classe privilegiada é uma condição a abater e a travar, ou o contrário, se és de uma classe desprivilegiada és uma pessoa a desvalorizar, e a não ter em conta, é a condição desta teia de absurdos incompreensíveis onde o mundo se vê envolvido. Como é o caso do regime de Nicolás Maduro e das recentes convulsões que esse regime provocou na Venezuela.

Recortes

por João Távora, em 22.02.14

(…) O crédito “neoliberal” possibilitado pelo euro passou a ser a primeira ferramenta dos governos socialistas, do keynesianismo alcatroado e do Estado social. Guterres e Sócrates não reduziram a função pública e também recusaram qualquer reforma ao sistema de pensões, porque tinham à mão o tal crédito “neoliberal”. É por isso que é tão absurda a falácia dos últimos anos. Não, não há abismo entre Estado social e mercados, porque o Estado social é o maior cliente das praças financeiras; sem os mercados, os salários da função pública seriam infinitamente mais pequenos porque dependeriam da nossa receita fiscal. (…)

 

“Gaspar tem Razão” Henrique Raposo hoje na sua crónica do Expresso

Da Ucrânia e não só

por João-Afonso Machado, em 20.02.14

Os 60 mortos são a safra de hoje. Para já. Como na iminência das grandes tempestades, também os analistas aguardam com expectativa os resultados da noite que se aproxima ao jeito de uma maré cheia e desvastadora. A Ucrânia está "a ferro-e-fogo", acrescentam laconicamente.

Pois está. Parece que os insubordinados conseguiram manietar entretanto 67 polícias e apossarem-se do respectivo armamento... O Mundo já não pode ignorar o conflito. O qual parece surgir das cinzas da sua antiga divisão em dois, o da liberdade e o da opressão soviética. Com uns pós de inimizade étnica e religiosa à mistura.

Nada que todos não saibam. Interessante será atentar no posicionamento da Rússia, tão vizinha desta Ucrânia já em guerra. O que proclama ou pretende fazer Putin? E, já agora, quem são os já detectados agitadores disseminados entre a população em revolta? 

É que mesmo o nosso egoísmo não deverá esquecer esses entes misteriosos que se deslocam agil e livremente. A grande velocidade. Num instante podendo chegar cá.

Cair em palermices como tordos

por José Mendonça da Cruz, em 20.02.14

Este post do Blasfémias, que exigiu investigação, é, além de informativo, a plena demonstração da mediocridade do nosso jornalismo televisivo, nomeadamente da TVi que ontem ocupou 20 minutos de «telejornal» com um indecorosamente tendencioso choradinho sobre Fernando Tordo.

 

Será de Rainer Maria Rilke?

por Maria Teixeira Alves, em 20.02.14

Ouvi na SIC, Paulo Portas a citar Rainer Maria Rilke, na cimeira Lisbon Summit - The Economist Insights, sobre o amor, dizendo em inglês, "today more than yesterday and less than tomorrow", e como não conhecia, fui à procura da frase. Mas a frase não é do poeta alemão. A frase é de Rosemonde Gerard, poetisa e atriz francesa, casada com o autor de Cyrano de Bérgerac. A frase completa é assim: 

 

"For you see, each day I love you more. Today more than yesterday and less than tomorrow." *
 - Rosemonde Gerard

 

Não gosto de muito confrontar as pessoas com as suas gaffes, mas neste caso é apenas para repor a verdade, que descobri por ter gostado da frase citada pelo Ministro Paulo Portas.

 

*Car, vois-tu, chaque jour je t’aime davantage,
Aujourd’hui plus qu’hier et bien moins que demain.

Aborto – 7 Anos Depois

por Vasco Mina, em 20.02.14

O referendo (o segundo) do aborto realizou-se há sete anos e é tempo de avaliar os resultados da aplicação da Lei 16/2007 que exclui da ilicitude as situações de interrupção voluntária da gravidez, realizadas por opção da mulher, desde que praticadas até às 10 semanas de gestação e em estabelecimento de saúde autorizado. Assim, e de acordo com os dados da Direcção Geral de Saúde realizam-se, anualmente, cerca de 20.000 abortos. Tendo em atenção o total anual de gravidezes significa que uma em cada cinco termina com uma interrupção voluntária. Também se pode concluir que cerca de ¼ dos referidos abortos são reincidentes. Saliente-se que a IVG é totalmente gratuita (mesmo quando é realizada nas clínicas privadas pois o Estado comparticipa), isenta de taxas moderadoras e confere direito a uma licença de parentalidade (16 a 30 dias pagos a 100%). Outro aspecto que os defensores do “Sim” em 2007 se bateram foi o do acompanhamento das mulheres em consultas de aconselhamento e planeamento familiar;  após este tempo conclui-se que apenas um número muito reduzido recorre a estas consultas pois a legislação não as considerou como obrigatórias. Os próprios protagonistas da campanha em defesa da IVG, como o atual Presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (Miguel Oliveira da Silva) defendem a revisão da legislação em vigor e consideram que os números de abortos em Portugal não evoluíram positivamente: " Não diminuíram e deviam ter diminuído". Por tudo isto importa avaliar a implementação da Lei e corrigir os vários erros que se cometeram. É também esta avaliação que é conteúdo de uma Moção que será apresentada ao Congresso do PSD que decorrerá no próximo fim de semana. Tem, assim, o PSD a oportunidade de avançar com a necessária revisão de uma lei que tem revelado resultados indesejados!

Ucrânia e a União Europeia

por Maria Teixeira Alves, em 19.02.14

Enquanto a União Europeia discute a aplicação de sanções aos responsáveis políticos ucranianos, a violência cresce nas ruas de Kiev

 

 

Courrier internacional

O 28 de Maio da EDP

por Maria Teixeira Alves, em 19.02.14

Decorria o dia 28 de Maio do ano 2007 quando o BCP reúne os accionistas em Assembleia Geral no Porto, com o intuito de alterar os estatutos do banco para alterar o modelo de governo dualista adoptado em 2006. A finalidade era corrigir uma "falha" que deliberadamente tinha sido aprovada quer no BCP (então liderado por Paulo Teixeira Pinto), quer na EDP (liderada por António Mexia).

O mesmo autor e o mesmo executor de um modelo de governance especial, e um presidente da CMVM tolerante ou pouco atento aos detalhes. 

Na EDP, como no BCP, o modelo dualista tinha uma 'nuance' que favorecia os presidentes executivos. É que ao contrário do que está definido no Código das Sociedades Comerciais, o Conselho Geral de Supervisão (orgão não executivo no modelo dualista) não tinha poderes para destituir o orgão executivo (Conselho de Administração Executivo). Pelos estatutos, elaborados pela mesma entidade para ambas as empresas, o órgão de gestão executivo só podia ser destituído pela Assembleia Geral. Esse é o pequeno detalhe que Carlos Tavares deixou passar quando aceitou que o BCP e a EDP tivessem um modelo dualista à la carte. E esse pequeno detalhe foi o gatilho que fez disparar a guerra de poder no BCP, na famosa AG de 28 de Maio. Jardim Gonçalves que tinha aceite ser presidente de um Conselho Geral e de Supervisão sem poder de facto (as boas práticas recomendam que o órgão não executivo, composto por uma maioria de independentes, tenha poderes para destituir o órgão executivo) tentava então emendar a mão, tarde demais. 

O modelo de governo acabou por ser alterado no BCP, no tempo de Carlos Santos Ferreira, num BCP já de "maioria" angolana.  Hoje o modelo em vigor no banco liderado por Nuno Amado é o monista. 

Mas António Mexia não teve nenhum Jardim Gonçalves, e também não tinha nenhum accionista privado claramente predominante, até que a China Three Gorges comprou em privatização 21,35% da EDP. Obviamente que a primeira coisa que os chineses vão querer fazer é mudar os estatutos e não vão descansar enquanto não o fizerem. A China Three Gorges quer estar na EDP com poder para participar na escolha dos administradores executivos. The sunny days are over. 

 

Reparem agora na curiosa sucessão de factos:

 

- António Mexia é dado como potencial presidente do BES na sucessão a Ricardo Salgado (no dia 18 de Janeiro) pelo Expresso.


- Conferência de imprensa de Resultados do BES, (dia 13 de Fevereiro) Ricardo Salgado elogia António Mexia mas não alimenta tese de sucessor. Não é nada contra o presidente da EDP é que Ricardo Salgado não quer ser sucedido. E muito menos antes do tempo e em fóruns informais. O que facilmente se percebe.

- António Mexia dá finalmente (a 15 de Fevereiro) uma entrevista ao Expresso (o mesmo jornal que um mês antes o apontou como potencial sucessor de Ricardo Salgado) em que diz que o único sítio onde se vê a trabalhar em Portugal é na EDP. Tentando por isso desmentir que prevê ir para o BES. Podia ter desmentido na semana a seguir, mas não, esperou um mês, esperou pela reacção de Ricardo Salgado. Isto pode ser coincidência, ou talvez não.

- O Diário Económico dá hoje uma notícia "Chineses querem reduzir Conselho Geral da EDP para cortar custos". Os custos, esse argumento sempre nobre. Já em Março de 2013 dava a notícia de que a CTG quer mudar o actual modelo dualista e impor o modelo de governo monista (um conselho de administração e uma comissão executiva). O ponto essencial (e isto não está no artigo de hoje) é que a finalidade de todas estas mudanças é acabar com o artigo dos estatutos que deixa a destituição da administração executiva (hoje liderada por António Mexia) entregue a uma maioria da Assembleia Geral, difícil de obter. 

 

Expectante para ver as cenas dos próximos capítulos. 

 

O óbvio do lançamento do livro Vítor Gaspar

por Maria Teixeira Alves, em 19.02.14

Se António Vitorino foi o improvável apresentador do livro de Maria João Avillez sobre Vítor Gaspar, a ausência de Paulo Portas foi o óbvio do acontecimento.

O ex-Ministro das Finanças conhecido pela sua desconcertante sinceridade, não deixou de elogiar  Pedro Passos Coelho, que considerou  ser “em Portugal, o líder reformador”. Elogiando a sua capacidade para não ceder aos seus amigos. 

Não se poupou também a elogios a Maria Luís Albuquerque, actual Ministra das Finanças, de quem se diz "admirador", considerando-a "única".

A destacar há ainda a passagem de António Pires de Lima, actual Ministro da Economia, próximo de Paulo Portas.

"Quanto mais delicada e inesperada a pergunta, mais lenta e pausada a resposta. Felizmente para mim este aspecto não aparece no livro", diz o ex-Ministro, no seu típico humor, sobre as entrevistas de Maria João Avillez.

"Enquanto estávamos a trabalhar no livro, li uma frase numa carta de Isaíah Berlin (1969) "só me interesso por seres humanos e relações pessoais". 

Citou ainda o livro A lebre com olhos de âmbar, de Edmund de Waal, para dizer que tem em comum com a jornalista "o gosto das coisas pequenas".

Valeu a pena ouvir mais uma vez Vítor Gaspar.

Fado de Coimbra de 1927

por João Távora, em 19.02.14

 

Querem saber quem foi Margarida d' Oliveira?

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Monitorização Reforçada

por Vasco Mina, em 19.02.14

De acordo com Peter Praet, economista chefe do BCE, existem outras formas de saída  e que não apenas a vulgarmente designada por “limpa” ou o programa cautelar. Uma dessas alternativas seria uma “monitorização reforçada pós-programa”. Também segundo este destacado representante do BCE, o que é mesmo  “muito importante é encontrar uma forma de sinalizar o compromisso com as reformas".  A este propósito, estarão Passos Coelho e António José Seguro verdadeiramente empenhados em avançar com compromissos partidários que garantam a credibilidade de Portugal juntos dos seus parceiros europeus e credores internacionais? O PM tem manifestado nos últimos dias a importância de um consenso quanto aos objectivos da futura estratégia orçamental. Seguro tem dias e nuns parece estar disposto a consensos mas noutros nem por isso. Está na hora de os dirigentes dos dois maiores partidos encontrarem um compromisso para o futuro . Enquanto não o conseguirem qualquer das alternativas de saída do PAEF será sempre uma fraca solução.

Nunca por nunca capitular

por João Távora, em 19.02.14

Quem paga?

por João-Afonso Machado, em 18.02.14

Vão lá dez anos. Era um Porto insuportável, intransitável. Tudo por causa das obras, dos seus atrasos, a bandalheira do costume, ainda por cima na suposta "capital da Cultura" de então. Nem vale a pena relembrar as sucessivas derrapagens orçamentais especialmente incidentes sobre a Casa da Música, muito mais dispendiosa, contas feitas, do que o novo estádio do FCP, o imenso Dragão. Sendo que este (vá lá saber-se porquê...) cumpriu prazos, na hora ajustada era inaugurado, nisto do futebol não há margem para brincadeiras.

A Baixa era o caos e as gentes das lojas viam a clientela, já muito fugídia para as denominadas "grandes superfícies", escapulir-se por entre os seus dedos saudosos do matraquear nas "registadoras". A acção judicial proposta pela Associação dos Comerciantes do Porto contra a Casa da Música/Porto (sociedade anónima de capitais públicos) deu entrada em 2005 e era justa.

E essa justiça foi feita nas três instâncias. Com o acordão definitivo do STJ surgindo só agora, acrescente-se: nove anos depois.

Quanto a números: ao pedido inicial de 1,98 milhões de euros acrescem 700 mil euros de juros entretanto vencidos. Dissolvida que foi aquela sociedade, a responsabilidade indemnizatória recai sobre o Estado, obviamente...

... ou talvez não tanto: não recairá sobre todos nós, contribuintes?

Daí a premência em que o Estado pague já, evitando a acção executiva e o crescendo da dívida de juros e das custas judiciais. Insisto: por respeito aos cidadãos que nada tem a ver com o caso e há decadas sustentam o dito Estado.

ANTÓNIO JOSÉ SEGURO CONSIDERA-SE INCAPAZ

por Vasco Lobo Xavier, em 18.02.14

 

Quando eu pensava que já nada no PS e em António José Seguro me poderia surpreender vem o homem declarar-se incapaz para resolver os problemas do país (coisa que, de resto, já muito boa gente sabia mas nunca tinha imaginado que fosse pelo próprio admitida). E para não se sentir só, pretende abraçar com ele todo um país que se tem esforçado para resolver e ultrapassar os problemas enquanto ele se entretém a distribuir sucessivos disparates pela comunicação.

Um político que se apresenta a votos com a frase "considero que o nosso país por si só é incapaz de ultrapassar problemas» está não só a confessar-se incapaz como a apelar a todos que o declarem, não votando nele.

Claro, dirão os mais amigos, os cegos e mais uns quantos: repara que ele disse que o país era incapaz mas “não por não sermos capazes, mas por sermos parte da zona euro”.

A afirmação é de uma imbecilidade atroz: se todos os países que fazem parte da zona euro fossem incapazes de ultrapassar os seus problemas exactamente por fazerem parte da zona euro, a zona euro tinha o seu fim marcado para amanhã.

Mas não, dirão agora já só os amigos do peito e familiares mais chegados, António José Seguro, como confessa sermos incapazes de ultrapassar os nossos problemas (principalmente com ele ao leme), propõe uma “gestão solidária” da dívida portuguesa, sem que isso trouxesse encargos ao país, ficando o país só com 60% da dívida e um lorpa qualquer com os restantes 40%.

 

Acontece que António José Seguro não identifica o lorpa, o benemérito, o benfeitor maluco que ficaria alegremente com 40% da nossa dívida, provavelmente para os amiguinhos de AJS esbanjarem em Mirós.

António José Seguro atira-nos uma lorpice, toma-nos por lorpas, não identifica o lorpa que arcaria com a lorpice, e não percebe que com todo este discurso revela à saciedade que o lorpa é ele.

De tudo isto, com verdadeira relevância apenas se retira a sua confissão de ser incapaz de resolver os problemas do país. E lorpa, claro. Nisso eu acredito piamente.

 

 

post scriptum: estou mortinho por ver as reacções à lorpice de maltinha do PS que passa os dias a afiar as facas. Vai ser um fartote.

Eu já estou habituada a estar sempre em contramão com a maioria (mas já Oscar Wilde dizia "Tudo o que é popular está errado"). Mais uma vez, quando tudo dizia cobras e lagartos da decisão de venda dos quadros do Miró, fiquei a favor da venda dos quadros. Não por não adorar o Miró, mas por causa das circunstâncias, obviamente. Porque é uma colecção de um banco falido, o BPN. Porque sei que o Estado teve de assumir activos tóxicos do banco, no acto da venda, no montante de cerca de 4 biliões de euros, e terá de vender activos para tentar recuperar algumas destas perdas. Sei que há uma dívida à CGD (de linhas de empréstimo concedido ao BPN) que é preciso pagar, e que o dinheiro que resultar da venda dos quadros do Miró servirá para pagar à CGD. Se não houver dinheiro, o Estado terá à mesma de pagar à Caixa e terá de ir buscar o dinheiro a outro lado. Pois um banco não pode ficar com uma dívida a descoberto sem que isso não consuma o seu capital. A Caixa é um banco, o ser do Estado ou não, não evita que tenha de cumprir os rácios de capital impostos pelo Banco de Portugal, pela EBA, tem de se sujeitar aos testes de stress e ao AQR (exame às carteiras de crédito) feito pelo BCE. Sendo um banco, tem de adoptar as regras contabilísticas europeias de Basileia III (CRD IV/CRR); tem de cumprir rácios de Common Equity Tier I; tem de passar nos exames para entrar na União Bancária Europeia. Logo, não pagar à Caixa não é uma opção.

 

Bom, e não sou especialista em arte para saber se esta colecção é completa para se criar um museu. Mas sei que um museu não é uma forma de rentabilizar colecções, pelo menos no médio prazo. Porque os museus não dão lucro; as vendas de bilheteira raramente cobrem os custos com pessoal, os custos fixos; os custos de manutenção. No entanto levantaram-se vozes potentes contra o Governo por causa da venda dos quadros e não faltaram sugestões de pôr os quadros no museu dos Coches, a render...

Mas foi uma questão de tempo até aparecer um comentador lúcido, inteligente e ainda por cima com piada, e que vem fazer troça destes eruditos de trazer por casa que se fartaram de achincalhar o Governo por causa dos quadros do Miró. 

 

José Diogo Quintela a propósito do caso dos quadros do Miró e os espontâneos especialistas em arte contemporânea escreve: Histeria de Arte no Público. E diz estas verdades a rir:

"A maior parte dos jovens não considera o trabalho de operário especializado como uma carreira viável, mas eu garanto que as pessoas podem ganhar muito mais como operários especializados do que com um diploma de história de arte.” (...) "Olha, afinal parece que não foi o radical Passos Coelho que proferiu o disparate. Diz que foi o simpático Barack Obama, aqui há dias. Como é que um homem da esquerda, um humanista, um escritor, foi capaz de uma afirmação daquelas, prenhe da asquerosa visão economicista que normalmente associamos à direita troglodita, é um mistério". 

 

"Mas, de mistérios anda cheio o mundo. Por exemplo, ninguém diria que a colecção Miró, a mais importante reunião de obras de arte dentro das fronteiras de Portugal, um espólio tão excepcional que leva curadores de museus a ter ataques de choro em público, um pout pourri de pinturas que, se sair do país, faz imediatamente a taxa de analfabetismo subir 27% (dados do Pordata), ninguém diria que foi escolhida por banqueiros, esses escroques pontas-de-lança da direita dos interesses, semifascistas broncos".

 

"Nos Estados Unidos, a ideia retrógrada é que é preciso frequentar o ensino superior durante cinco anos para ter acesso ao conhecimento específico em História de Arte. Cá, não: confiamos na comunicação social para disseminar erudição. Ultimamente, um português só precisa de assistir a cinco minutos de televisão por dia para conseguir discorrer à vontade sobre Arte Contemporânea". 

Portugal, pátria dos sorteios

por João-Afonso Machado, em 17.02.14

A ideia pode até ser inteligente, visionária. Mas, quanto creio, é genuinamente portuguesa e para os portugueses. Em Portugal, tudo indica, a pátria dos sorteios.

É ver qual o país que comanda o ranking dos vencedores do Euromilhões...

Em duas penadas: quem obtiver mais facturas com o NIF obtem mais cupões; logo aumenta as suas probabilidades de ganhar. O quê? - um frigorifico, uma televisão? Nada - isso eram sonhos do tempo da "antiga senhora". Uma magnífica mota, um utilitáriozito? - para isso já cá temos o Fernando (Gordo) Mendes e o seu "Preço Certo". O Estado não brinca em serviço, oferece muito mais.

Quem coleccionar mais facturas com NIF e juntar mais cupões habilita-se a um (e vai uma e vão duas e vão três!...) - a um estrondoso automóvel de luxo!!!

Admito que a ideia resulte da estreita colaboração entre os Ministérios das Finanças e da Educação. Só acho é que os nossos governantes podiam também ser sorteados. Que tal se os mil primeiros a apresentarem a declaração IRS se candidatassem a sobraçar uma secretaria de Estado?

 

Reforma do Estado

por Vasco Mina, em 17.02.14

 

Alguém ouviu falar?

Segundo esta notícia parece que vai ser marcada reunião da Concertação Social para as próximas semanas. Será que vai ser criado mais um grupo de trabalho, como se fez para a Segurança Social e para a reforma do IRC e agora para o IRS?

 

Domingo

por João Távora, em 16.02.14

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios


Irmãos: Nós falamos de sabedoria entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que vão ser destruidos. Falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu; porque se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito, «nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam». Mas a nós Deus o revelou por meio do Espírito Santo, porque o Espírito Santo penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus.

 

Palavra do Senhor.

 

Braveheart

por Maria Teixeira Alves, em 15.02.14

O João Vieira de Almeida faz das suas paixões causas de solidariedade.  Juntou-se a três pessoas do seu escritório e partiram hoje para o Equador onde vão escalar o Monte Chimborazo, com 6.320 metros de altitude, e, ao mesmo tempo, reunir fundos para ajudar três instituições sociais:  Ajuda de Berço, Escolinha de Rugby da Galiza e Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças. "A paixão é o braço da razão" dizia Friedrich Hegel para quem "Nada grandioso no mundo foi realizado sem paixão". Assim é o João: paixão e caridade.

Apesar de considerar que Hegel dava demasiada importância à razão, e de achar que a razão é que é o braço da paixão, não consigo deixar de pensar nesta iniciativa da VdA na frase de Hegel. Que coragem... Boa Sorte!

O inferno somos nós

por João Távora, em 15.02.14

É um magnífico artigo de Eduardo Paz Ferreira chamado “O Papa que vai a Lampedusa mas não vai a Davos” do Expresso de hoje que inspira esta prosa. Este título é todo ele um tratado, se não vejamos: de facto Cristo actua no coração das pessoas, não nos "sistemas", e sempre que a Igreja cedeu a essa tentação (ou foi por eles foi capturada) não resultou bem. De resto o mais salutar é duvidarmos dos "engenharias políticas", senão façamos como que um zoom out: todos os dias testemunhamos com mais ou menos profundidade a “perversidade humana” (sempre convenientemente alheia), se não na nossa pele, através do sofrimento dum parente chegado, de um familiar desempregado, do vizinho velho votado ao abandono, ou na obscena praga dos sem-abrigo do nosso bairro. Mas desloquemo-nos deste prisma “paroquial” e detenhamo-nos na escala sucessivamente nacional, continental e finalmente global que tem no drama de Lampedusa um poderoso Ícone, e ponderemos como resultaria um “modelo” eficiente que pusesse termo a nível planetário a todas as atrocidades que atropelam a sagrada dignidade de cada ser humano concreto. Como a História nos comprova, qualquer “sistema” está condenado ao desprezo do individuo no seu livre-arbitrio, e actuaria de forma opressiva sobre cada um, sua comunidade e seus legítimos interesses, apagando ou redesenhando fronteiras, limites à propriedade, administrando artificialmente o sucesso pessoal ou colectivo de uns em detrimento de outros. Caídos na tentação de “cortar a direito” no fabrico de um mundo novo, o resultado não estaria longe de um banho de sangue.
A mensagem de Cristo é inequívoca e contrária ao discurso sartriano enraizado na adolescentrocracia do Ocidente: o inferno não são os outros. Esse inferno somos nós e como um incêndio propaga-se na medida da (in) capacidade de cada um a dar quotidianamente forma ao Amor (que não o do sentimentalismo de John Lennon, mas no sentido de abnegação e entrega) que devemos pelo próximo. É por isto que o Papa Francisco não vai a Davos - ele não é liberal nem socialista, apenas pretende desafiar cada um de nós para o único caminho possível de salvação: aquele que é inspirado em Jesus Cristo.  



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