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Perde-se um bom Ministro

por Maria Teixeira Alves, em 01.07.13

Vítor Gaspar fez o papel do odioso, mas conseguiu pôr o saldo estrutural primário perto do break even; conseguiu privatizar e receber bons encaixes com essas vendas; conseguiu estancar a sangria do nacionalizado BPN; conseguiu que Portugal fosse aos mercados a 10 anos; conseguiu  que o Ecofin aprovasse a extensão dos prazos de maturidade dos empréstimos que foi solicitada por Portugal; consigo no Governo foi possível fechar os acordos de renegociação de parcerias público-privadas (PPP) do sector rodoviário que permitem alcançar as poupanças este ano de 300 milhões de euros; fechou contratos de swap que tinham elevadas perdas potenciais para o Estado. 

Vítor Gaspar foi o ministro maldito, que fez o trabalho difícil que era "impossível" fazer. Para isso enfrentou os lobbys; o "terrorismo" Grândola Vila Morena; enfrentou Ministros colegas de Governo. Foi o crucificado do regime. 

Vítor Gaspar também admitiu que falhou quando não começou por fazer a dolorosa reforma do Estado no início da legislatura e achou que podia fazer primeiro o ajustamento do défice e só depois avançar com a reforma estrutural  do Estado, que implica despedimentos na função pública, para tornar o Estado eficiente.

O Governo é hoje menos independente com a saída de Vítor Gaspar e mais político, como todos os outros que até hoje tivemos.

O grande desafio da reforma do Estado está agora nas mãos de uma grande mulher, Maria Luís Albuquerque. Desejo-lhe a maior sorte do mundo, porque neste país contra factos há sempre argumentos (como dizia Miguel Poiares Maduro).

Pode a beleza tornar-se mais bela?

por José Luís Nunes Martins, em 01.07.13


O mundo não é uma pergunta. É a resposta.

 

Muitos são os que exploram o que há nas montanhas, nos mares e nos desertos... mas são poucos os que chegam a descobrir a divindade que há à volta do seu coração.

 

Cada vida é um dom. Há que aceitar esta verdade que se escuta até nas coisas mais simples. Cada homem tem algo de extraordinário, assim como cada coisa tem o seu lugar. Desprezar uma pessoa, ou um qualquer pedaço de mundo, é ignorar que até o mais pequeno dos fragmentos de um espelho partido consegue refletir a luz do sol e iluminar uma escuridão.

 

Aquele que se preocupa tanto com o seu vizinho como consigo mesmo, perdoando-lhe como se perdoa a si mesmo, conhece o valor da vida e o caminho para a felicidade. Nunca é complicado. Trata-se de, na maior parte dos casos, conseguir respeitar o outro, aceitando-o como igual e não como alguém de uma humanidade diferente. Há corações cegos, mesmo quando os olhos vêem.

 

Neste lugar sagrado de nós mesmos, onde os instantes não se medem, reside uma ideia simples: Cada homem é do tamanho da fé de que for capaz. Das desesperanças que consegue vencer. Não do tamanho dos seus aniversários, posses ou ambições... Só quem reconhece que a vida lhe chegou às mãos como um puro presente pode esperar compreender a essência do amor. A sua absoluta gratuitidade.

 

A consciência do dom, obriga-me. Por isso em português dizemos tão sabiamente: obrigado. O que me foi dado, compromete-me.

 

Não viver bem. Eis a raiz de um dos maiores medos perante a morte. Teme-se não tanto o depois, mas o que pode não acontecer antes. A verdade é dura. A vida não vivida dói-lhes.

 

Ter a própria morte por perto obriga-nos a viver melhor a nossa vida, com a absoluta urgência de apenas valorizar o importante. Só quem julga que vai viver aqui para sempre (como se a vida eterna fosse esta) se dá ao luxo imbecil de desperdiçar uma hora das suas; os demais, aqueles que estão conscientes do tempo limitado, podem, face a face com a sua morte, abraçar o melhor desta vida, e, quando lhes chegar o fim, não o temerão da mesma forma... por que terão dado a si mesmos uma vida boa, bela e verdadeira... que não acaba com a morte. Uma vida bem vivida é eterna, apesar da morte.

 

Aceitar o dom da vida implica honrar com a felicidade esse que é o supremo talento.

 

Há que aprender a moderar os juízos, sem condenar nem recompensar nada com precipitação. A realidade é efémera e a maior parte das nossas certezas são apenas transitórias, mundanas. Muitas tristezas nascem das pressas. Mas não haverá pior desgraça do que a de quem, no amor, não se entrega todo... de quem não está disposto a dar a sua vida por aquilo em que acredita...

 

Uma vida sem nada pelo qual valha a pena morrer, também não é digna de ser vivida.

 

Há que respirar paciência. Respirar a verdade de que a vida nos chega a cada segundo... respirar, percebendo que cada respiração é uma simples onda de vida que nos ilumina o interior.

 

Pode a beleza tornar-se mais bela? Sim, pelo amor. O dom de quem dá, o mesmo de quem recebe.

 

No amor, o mais sábio e ousado não é o que bem defende e ataca mas o que se rende e entrega...



(publicado no jornal i - 29 de junho de 2013)

 

ilustração de Carlos Ribeiro

 

Momento decisivo (1)

por Vasco Mina, em 01.07.13

O País vai “entrar em férias” e manifestações de rua só regressarão lá para Outubro. Isto porque em Julho e Agosto ninguém vai para a “rua” e em Setembro teremos as eleições autárquicas. Ou seja e depois de três semanas de protestos (greve dos professores, greve geral, etc) entraremos num período de “sossego”.

Mas se o povo vai a banhos o mesmo não acontecerá com o Governo e a coligação partidária que lhe dá apoio. Teremos, nas próximas duas semanas alguns acontecimentos que poderão ser decisivos quer para a manutenção deste Governo quer para a tão necessária estabilidade política. O próximo Conselho de Ministros analisará a proposta de Reforma do Estado que será apresentada pelo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. O documento final será apresentado até ao dia 15 de Julho. No próximo fim de semana terá lugar o Congresso do CDS-PP. São cada vez mais públicas e notórias as divergências entre Passos Coelho e Paulo Portas no que se refere à Reforma de Estado, quer quanto a alguns conteúdos quer quanto aos timings de implementação: a redução das taxas de IRS e IRC, a TSU dos reformados e pensionistas,…

O que estará em causa tem a ver com opções estratégicas para o país e também para a elaboração do Orçamento de Estado para 2014. O Governo conseguiu resistir, nas últimas semanas, a várias contestações quer das organizações sindicais, quer das associações patronais, quer da Frente de Esquerda (o encontro da Aula Magana), quer das oposições partidárias, quer da tão falada “rua” e quer ainda de muitas elites partidárias dos próprios partidos que integram a coligação. Há muito que não se assistia a uma contestação pública tão intensa e tão mediatizada (com o apoio da comunicação social). Mas agora o Governo terá de resistir às suas próprias tensões internas. Espera-se sentido de Estado por parte dos governantes e em especial de Passos Coelho e Paulo Portas. Mais, o Governo terá de apresentar uma Reforma de Estado que suporte a acção governativa até ao final do seu mandato. Espero que o superior interesse do País (que o Presidente da República tão insistentemente tem lembrado) consiga estimular o entendimento entre as partes pois não há tempo para perder com quezílias partidárias e para posturas que muitas vezes lembram os combates que ocorrem nas secções concelhias e distritais dos partidos. Esta é a última oportunidade (já perdeu várias) para, definitivamente, o Governo se afirmar politicamente capaz para levar por diante quer as reformas (que ainda não fez) quer a redução da despesa e da dívida públicas. Ou consegue agora ou jamais conseguirá!

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