Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Dispor de uma informação menos medíocre, menos incapaz, menos provinciana.
Hoje, às 18.30, todos os canais informativos (americanos, ingleses, franceses, alemães, espanhóis) transmitiam em directo um discurso de Obama sobre o fiscal cliff, a dissensão orçamental que, se não for solucionada até à meia noite, arrisca deixar os EUA sem orçamento e provocar um estremeção grave na economia mundial, europeia para começar. Não há questão mais actual nem mais grave, donde a atenção de todos os canais informativos. Todos?! Não, todos não. Os canais informativos portugueses não deram uma imagem ou uma palavra sobre o assunto. TVi24, SicN e RTPn davam pecinhas congeladas sobre a quadra ou, então, futebol (a RTP, claro).
Votos impossíveis para 2013, portanto... Primeiro voto: uma informação menos medíocre, menos incapaz, menos provinciana.
Para ouvir alto e em boas condições acústicas - "Duquesne Whistle", a genial abertura do novo álbum de Bob Dylan, Tempest, o meu disco de mesa de cabeceira do momento.
Bom ano a todos!
No Natal de 1906, a família Wall canta dois temas alusivos
Quem acompanha as insignificâncias a que dedico a minha escrita, entende o fascínio que sobre mim exerce este artigo do Daly Mail sobre um avô que resgatou do seu sótão o fonógrafo e uma série de cilindros com as mais antigas gravações sonoras “feitas em casa” até hoje conhecidas. Cerca de 24 minutos de registos diversos, feitos pelos seus antepassados e que inclui impressionante “retrato” duma longínqua festa de Natal de 1902 que aqui reproduzo, foram doados ao museu de Londres. (Para ouvir os ficheiros, clicar na ligação em baixo da respectiva imagem)
No Natal de 1904, o Senhor Wall e alguns convivas endereçam votos de Boas Festas
Da minha experiência com uma série de cilindros com que este ano fui presenteado - e que aqui deixei testemunho em devida altura - nenhum dos "gravados em casa", (cujas caixas referenciam a anedotas, fados e cantigas) está em condições mínimas de audibilidade, afectados por um fungo que ataca a cera. Em dois deles devidamente assinalados, consegue-se adivinhar cantorias e monólogos, mas para conseguir uma nitidez razoável será necessário investir um dia num sofisticado trabalho de filtragem sonora, com meios e técnicas que não são muito acessíveis. Um projecto que espero cumprir, porque o som é um precioso complemento da imagem... e porque se nos orgulhamos de exibir na sala o retrato do nosso avô, como seria fascinante possuirmos um seu “postal” sonoro como recordação, não vos parece?
Nota:
Agradeço a Victor Santos Carvalho que me fez chegar a "notícia" do Daily Mail
O talibã volta à carga. Não lhe interessa que o Governo já tenha dito que não iria mexer na recente lei do tabaco, ele quer mexer. Não lhe interessa a liberdade individual nem o facto da actual lei equilibrar os interesses de todos, ele só está preocupado com os seus interesses. Não lhe ocorre a ideia de respeito pelas opiniões dos outros, ele quer impor a sua.
Este Secretário de Estado da Saúde é perigoso: se bem repararem, ele foi buscar o odioso da carga fiscal para apoiar a sua ideia e quantificou os gastos com as práticas que pretende proibir para ganhar adeptos. No fundo, quer pôr doentes contra doentes. E sem perceber a perigosidade do que propõe. Que quer o homem? Proibir o tabaco, ou torna-lo um produto dos ricos. Proibir o álcool, já de si de ricos. Proibir o sal, o açúcar, o presunto finamente laminado e, obviamente, couratos, as tripas à moda do Porto, arroz escurinho de refogado forte. Provavelmente prender ou chicotear quem se dedicar a semelhantes orgias. Que virá a seguir? O café? Refrigerantes? Chocolate? Sancionar quem vive de modo a arriscar-se a apanhar sida? Taxa moderadora especial mais para quem se constipe por ter saído sem guarda-chuva? Outra ainda para quem nade para longe e se arrisque ao afogamento? E o tipo que não lava as mãos e apanha todo o tipo de bactérias? E o que anda de mota sem capacete ou o que excede a velocidade? Quanto nos custam?
Com doidos destes, não tarda nada estão a ordenar aos trabalhadores que só fiquem doentes no seu respectivo período de férias, para poupar na segurança social. Já para poupar na saúde, podia começar-se pela extinção do cargo do talibã.
A pândega política é fértil em iniciativas assim: haja uma data, um ajuntamentozinho, umas palavras de ordem... e temos aí nova organização, outro assomo de cidadania dos mesmos preocupados de sempre com a intervenção cívica.
E a vulgarização deste patriotismo descartável dá em a gente sequer ter reparado no parto feliz de mais uma - o Congresso Democrático das Alternativas; em 5 de Outubro, ainda por cima.
Com o arrumar do ano que hoje finda, descobriu-se, entretanto, a deserção de alguns notáveis: Vasco Lourenço, marechal abrilino, e Alfredo Barroso, denodado sportinguista. Em duas palavras, porque alguém (vindo da área bloquista, segundo se diz) estava tentando partidarizar tão ilustre e representativa entidade.
(A Esquerda mantém-se voraz. Obviamente. Dela jamais advirão Festas Felizes).
Sirva o exemplo para que encaremos com outros olhos o quase chegado 2013. Trata-se, somente, de desligar o complicador. E, já agora, atentar nesta premonição que nem Zandinga captaria: vem aí o ano das Autarquias (para além de ser também o das Autárquicas) - o ano em que os portugueses sentirão, enfim, quanto o Poder Local lhes pode valer neste calvário fiscal e de prepotência estatal. Num ressuscitar de solidariedade entre as gentes da nossa terra.
Para todos, o Bom Ano Novo possivel.
De passagem pelo Jornal da Noite da TVI deparo-me com a enésima reportagem a explorar à saciedade o filão Baptista da Silva onde se evita uma vez mais substância: as suas teses que tanto excitaram a nossa “gente limpa”. De resto há por aí bastantes doutorados e licenciados com curriculum académico e atestado partidário, que do pondo de vista substantivo se limitam a explorar a conveniente narrativa “não pagamos” do burlão. Estes dias de obscura desesperança favorecem a emergência de Baptistas da Silva que afinal por aí pululam em absoluta impunidade. E já agora porque não deixam o outro, o de imitação, em paz?
Depois do Natal vem o Domingo da Família… Da Sagrada Família. Será a família uma coisa sagrada? Hoje fala-se de famílias alternativas. Sociólogos e psicólogos falam-nos de famílias monoparentais, co-parentais, sem filhos, com filhos de outros… Em tudo isso ondes estará o Sagrado? O Sagrado é o Amor, o que equilibra e faz crescer: é o que humaniza. O mundo precisa de espaços sagrados e de relações sagradas: deseja famílias que o sejam. O resto parece, mas disfarça mal a violência que esconde.
Vasco Pinto Magalhães, s.j
Não há soluções há caminhos - Tenacitas
Evangelho segundo São Lucas
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.
Da Bíblia Sagrada
Hoje o Expresso em Nota da Direcção e Nicolau Santos na sua coluna, pregam aos críticos do "Caso Baptista da Silva" um ralhete moralista, disfarçado de pedido de desculpas. Terei eu também de pedir desculpas por qualquer inconveniência?
(...) Julgamos que somos muito trendy, muito cool, muito Príncipe Real, mas andamos a lixar a liberdade.
Sim, vivemos num ambiente vigiado, com um policiamento constante de vocabulário e das ideias, com patrulhas de petições em cada esquina e com pistoleiros de Facebook a chover dos céus. Julgamos que a "sociedade de informação" é sinónimo de liberdade e de tolerância, mas a verdade é bem diferente. Os canais de notícias, os directos e os berloques da internet tornaram-nos mais intolerantes e retiraram-nos tempo para pensar.
Henrique Raposo hoje no Expresso.
Acho muito bem continuemos a ser assim, sentados à mesa. Vitaliciamente sentados em volta do que mesmo a miséria que não podemos ignorar - nunca conseguirá esquecer. A mesa e o bacalhau, aquela roda imensa de vegetais cozidos a prestar-lhe vassalagem, o calor dos que nos dizem algo, o do tinto bem escolhido também, e a apoteóse, as rabanadas, o bolo-sempre-sempre-rei, mesmo a excentricidade do cálice de Porto. Natal adiante até ao Ano que aí vem.
Montras à feição das Festas não são destrutiveis. Lugares onde os géneros se escolhem um a um e se desconhece essas práticas desumanas da embalagem em série e da fatia já cortada. Um foco luminosíssimo na escuridão que se abate sobre a cidade de antigamente. A alegria de muitos, quiseram décadas de irresponsabilidade política não seja já o bródio de todos.
Talvez fosse até de omitir estas palavras de bem-estar, tão longe andam tantos da possiblidade de lhes sentir o sabor.
Passar o défice orçamental de 10 para 5,6% (5%, após decisão sobre a ANA) em ano e meio, em clima de paz social, é brilhante. É pura e simplesmente brilhante. É brilhante e honra um povo, é brilhante e honra um governo. Os miseráveis travestidos de jornalistas que rabiam e acham que não ou são cegos ou são estúpidos. E merecem cada vez menos público do pouco público que já têm.
Este "post" do Duarte pôs-me, nos dias que entretanto passaram, à procura das razões por que nunca li certos autores, não obstante estarem enquadrados nos ditos "clássicos" - isto é, aparentarem ter um papel cultural e artístico passível de apreciação universal - e serem objecto das melhores referências críticas. A resposta, desconfio, está na fria opinião de Fradique Mendes sobre o amor: "ninguém vê a mulher que tem de amar [...] antes de ter chegado o momento marcado pelo destino para que esse amor se acenda e seja útil ao conjunto das coisas" (Eça de Queiroz, Cartas inéditas de Fradique Mendes). Ora o que é a leitura sequencial da obra de um escritor senão uma espécie de namoro com a sua alma?
É altura de confessar: nunca li Vitorino Nemésio, porque achei intrincada a sua linguagem quando tentei. Nunca li Agustina Bessa Luís, porque a sua abordagem biográfica ao Marquês de Pombal me assustou. Nunca li Philip Roth, tão na moda, porque, precisamente, comecei pelo arrepiante "The Dying Animal". Não acabei Proust, porque não conseguia, nos seus parágrafos, associar os sujeitos aos verbos e aos complementos circunstanciais. Para mim, que leio com o objectivo simples - e meio herético, eu sei... - de me entreter, de rir ou de escapar ao mundo real, as primeiras impressões são decisivas. E quando essas impressões são amadoras e levianas como as minhas, decisivo é também que se gerem no momento certo ou sobre o livro certo. Tive de esperar vinte anos para saber apreciar Camilo Castelo Branco. E tive a sorte de conhecer Vargas Llosa através da sua Tia Júlia e do Escrevinhador. Depois, foi lê-los de empreitada, entusiasticamente.
Resta-me, portanto, fazer votos de que amanhã seja o momento certo - e "Quase que os vi viver", o livro certo - para reencontrar e aprender a "amar" Vitorino Nemésio, o escritor.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.