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Foi com surpresa que li esta notícia: José Maria Ricciardi, presidente do BES Investimento, vende quase 30 mil acções do BES e encaixa mais de 14 mil euros.
Bom, talvez precisasse para as férias!
CMVM identificou um gestor com cargo em 73 administrações
E há mais na notícia:
"No Relatório Anual do Governo das Sociedades cotadas, relativo a 2010, divulgado pela CMVM, consta que os membros executivos dos órgãos de administração das sociedade cotadas a exercerem funções a tempo inteiro acumulavam, em média, lugares de administração em 11,9 sociedades de dentro e de fora do grupo da sociedade cotada onde exerciam funções".
Não querendo ser desconfiada, cheira-me a tachos... é que estar em 73 administrações, não chega a estar um dia por mês em cada uma.
Existe hoje um problema que atinge as fundações da sociedade em que vivemos, o qual cresce de forma quase irrevogável, como uma espécie de tumor, e que muito em breve destruirá um dos mais importantes pilares da nossa essência colectiva. Falta de fertilidade.
No mundo de hoje há cada vez menos tempo, espaço e, principalmente, vontade de criar o novo. De construir sentidos para a vida. Consomem-se de forma capitalista os poucos sentidos pré-fabricados à disposição. As pessoas são muito parecidas... cinzentas – cada vez mais do mesmo tom de cinza – , cor do que já se consumiu, do que se desfez, daquilo que já não está aqui. A morte não é negra: é cinza.
A degeneração da capacidade criativa do homem de hoje, quando se trata de construir novos e bons caminhos para a sua vida, afecta a base do que (não) somos hoje enquanto grupo.
Esta decadência terá começado nos anos 60 do século passado, quando toda uma geração começou a imaginar um mundo em que ninguém faz nada e onde tudo é agradável. Este sonho gerou e alimentou a ideia de que a felicidade nascerá da inércia preguiçosa e infantil de quem quer um mundo melhor, mas que tudo o que está disposto a fazer por isso é reclamar... birras à espera do bem bom. Queriam um mundo melhor, mas não o criaram. Ergueram cartazes e sentaram-se à espera; no tempo que passou, evadiram-se daqui das mais variadas formas... alienaram-se, tornaram-se estranhos a este mundo. Diziam que eram sonhadores...
Esta absurdidade alastrou a um ritmo assustador e fará com que dentro de poucos anos não haja quem dê valor a uma obra de arte. A bondade do único, a singularidade, será vista como uma anormalidade e, enquanto tal, um crime hediondo contra a massa. Um atentado contra a tirânica reprodução do igual.
O mundo é hoje como um mar de preguiçosos conformados e orgulhosos das suas frustrações. Definhando ao estonteante ritmo do zapping entre canais de várias formas de anúncios que prometem felicidades instantâneas. Sempre fugas.
A falência do indivíduo, enquanto unidade original e de valor absoluto, é uma condição do sistema. Os mercados só sabem gerir massas. Um homem livre é, neste enquadramento, um terrorista. São cada vez menos aqueles que, contra a esmagadora maioria, se distinguem através da sua capacidade de dar sentido e significado à vida. Estes criadores não reprodutores desafiam a multidão com as suas obras subversivas, fogem a normas e a modas, parecem voar, porque flutuam bem acima do lodo onde os outros, como mortos, vivem.
No apocalipse do sentido da vida que se pressente, há, felizmente, este pequeno número de homens que não se rendem, poetas da existência; são aqueles que dão luz e cores ao mundo, que fertilizam a humanidade através dos seus trabalhos. Vão estendendo a mão a quem respira podridão, sem muitos sucessos, quase nenhuns... Mas a obra-prima destes artistas é inspirarem outros a serem absolutamente originais. Longe do êxodo das gentes para o nada. Afinal, a mais sublime das obras de arte é a criação de um artista.
Estes fundadores navegam, sem raízes, em pequenos barcos sem âncora, flutuando neste mar cinzento, entregando-se à missão de garantir que haverá vida humana depois da morte desta humanidade. Contam apenas com a sua arte e com a generosidade do senhor dos ventos. Rumo a um futuro puro, onde cada homem sabe que deve criar o sentido da sua própria vida. A fim de que cada um de nós seja, nessa altura, uma obra de arte original. Uma criatura criadora. Uma bondade generosa. Uma fonte de vida. Uma criação.
Deus ajude e inspire quem Lhe segue o exemplo.
(publicado no jornal i - 28 de julho de 2012)
ilustração de Carlos Ribeiro
“Ana Maria Martins, Joaquim Sousa Ribeiro, Maria João Antunes, Catarina Sarmento e Castro, Carlos Cadilha e Gil Galvão, tendo votado pela constitucionalidade em 2011, passaram-se para o lado da inconstitucionalidade em 2012. (…) Curioso ou não, todos foram indicados pelo PS”. Um artigo de hoje no Público regressa e bem ao acórdão 353/2012, que há três semanas chumbou os cortes dos subsídios de férias e Natal pagos por verbas públicas.
O que mudou entre a decisão que considerou constitucionais os cortes salariais da função pública decididos em 2011 pelo governo de José Sócrates e a decisão que considerou inconstitucionais os cortes decididos em 2012 pelo governo de Passos Coelho? Não, para o Tribunal Constitucional (TC), não interessa muito o que mudou – porque “é evidente” e, como é evidente, as evidências não têm que ser explicadas porque, precisamente, são evidentes.
Perceber a decisão do acórdão 353/2012 não é muito difícil. Para o que foi considerado "o acontecimento político mais grave dos últimos meses" (Fernando Ulrich) e que não será exagerado afirmar ter sido uma das decisões mais relevantes da história da instituição da R. do Século, o acórdão é curto - vinte páginas - e na verdade, os “fundamentos” da sentença esgotam-se em apenas quatro modestas páginas, entre a 16 e a 20.
Vejamos. Se, em 2011, “a transitoriedade e os montantes das reduções efetuadas nos rendimentos dos funcionários públicos se continham ainda dentro dos limites do sacrifício adicional exigível, o acréscimo de nova redução, agora de 14,3% do rendimento anual, mais do que triplicando, em média, o valor das reduções iniciais, atinge um valor percentual de tal modo elevado que o juízo sobre a ultrapassagem daquele limite se revela agora evidente” (cfr. pag. 19). Lá está – é evidente.
Acresce que, fontes seguras garantiram ao TC que “poderia configurar-se o recurso a soluções alternativas para a diminuição do défice, quer pelo lado da despesa (v.g., as medidas que constam dos referidos memorandos de entendimento), quer pelo lado da receita (v.g. através de medidas de carácter mais abrangente e efeito equivalente à redução de rendimentos)” (cfr. pag. 19). Que soluções alternativas? O TC não diz. Talvez sejam evidentes mas, aqui, a doutrina diverge.
Uma coisa é certa: é “daí”, como explica no parágrafo seguinte o TC, que se torna “evidente que o diferente tratamento imposto a quem aufere remunerações e pensões por verbas públicas ultrapassa os limites da proibição do excesso em termos de igualdade proporcional” (cfr. pag. 19). Et voilà.
Só estranho algumas coisas. Sendo tudo tão evidente, como pode o governo que não percebeu esta evidência ficar impune após cometer um erro tão grosseiro de tão evidente? Mais, se é evidente a inconstitucionalidade, como se explica que esse erro tão manifesto e grave possa produzir efeitos durante o ano de 2012? Ah, o estado de emergência? Mas então só há estado de emergência durante um ano? Interessante – se formos bem a ver, o TC decretou o fim da crise em 2013.
Exultemos, evidentemente.
(publicado originariamente aqui)
Há pouco mais de um ano, o PS desenhou a sua estratégia política: Sócrates inscrever-se-ia na Sorbonne, após uma mais do que certa derrota eleitoral, e Passos Coelho que se aguentasse à bronca com os efeitos das imposições da Troika sobre nós todos, desgraçados portugueses. E depois...
... E depois ( que se lixe o País, importantes são o voto e o Poder...) o interregno não seria grande, muito menos doloroso. Não tinha foros de travessia no deserto, apenas de um passeio se trataria, até ao Algarve por Canal Caveira, sem pagar portagens. Seguro conduziria - seguramente, prudentemente - sem se exceder na velocidade: gozando a paisagem.
Ontem mesmo tivemos sinais de que assim o PS congeminou o seu regresso aos paparicos da partidocracia. Primeiramente com o inopinado surgimento de António Costa na televisão, afirmando a não impossibilidade de se candidatar a 1º Ministro. Assim a modos de quem deixa o seu cartão de visita (dobradinho no canto, é claro). Depois, com a antevisão de um fracasso PSD nas próximas Autárquicas, aconselhando a Passos Coelho não arriscar o concurso a mais outro mandato governamental - na dominical análise do Prof. Rebelo de Sousa que - muito bem - veio desdramatizar o celebrado "que se lixem as eleições".
Porque que "se lixem" mesmo. Era dá-las de bandeja à Esquerda. Se, depois disso, continuasse a haver devotos dos socialistas e dos comunistas, então sim, seria legítima a conclusão que nada há a fazer deste País.
O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, revela ao Le Figaro que Europa está pronta para accionar o FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) em coordenação com BCE. Isto deve querer dizer que vão aplicar o controverso programa de compra no mercado secundário de obrigações dos membros do euro em piores condições de acesso aos mercados.
Não tenho pejo em confessar que tive todas as ambições idiotas do final do Séc. XIX. À semelhança de outros rapazinhos impertinentes, também eu tentei estar avançado em relação ao meu tempo. Como eles, também eu quis estar dez minutos adiantado em relação à verdade. E acabei por descobrir que estava mil e oitocentos anos atrasado.
Chesterton, in Ortodoxia
Evangelho segundo São João
Naquele tempo, Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia, ou de Tiberíades. Seguia-O numerosa multidão, por ver os milagres que Ele realizava nos doentes. Jesus subiu a um monte e sentou-Se aí com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?». Dizia isto para o experimentar, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Respondeu-Lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um». Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?». Jesus respondeu: «Mandai-os sentar». Havia muita erva naquele lugar e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil. Então, Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, fazendo o mesmo com os peixes; e comeram quanto quiseram. Quando ficaram saciados, Jesus disse aos discípulos: «Recolhei os bocados que sobraram, para que nada se perca». Recolheram-nos e encheram doze cestos com os bocados dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. Quando viram o milagre que Jesus fizera, aqueles homens começaram a dizer: «Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo». Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.
Da Bíblia Sagrada
Gostei do espectáculo de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres. A antítese de Pequim sem conceder na grandiosidade. Uma retrospectiva e retrato da mais cosmopolita cidade europeia, o maior entroncamento étnico da Europa em que por ironia do destino os "povos de todo o mundo" cumpriram a exortação de Carl Marx por via do capitalismo. A capital da orgulhosa e idiossincrática Grande Bretanha transformada numa passerelle para a extraordinária iconografia pop que o Reino Unido produziu e exportou para o mundo, como o fizera nos séculos anteriores com a revolução industrial e a própria democracia. Foi afinal um retrato da civilização ocidental, com todos os seus defeitos e virtudes, em que afinal a Inglaterra mantém excepcional influência e liderança.
Reconhece-se também em todo o guião um descomplexado estímulo ao orgulho nacional contrabalançado com a exibição do refinado e proverbial sentido de humor britânico, a regenerativa qualidade que as pessoas inteligentes cultivam de se rirem de si próprias.
De resto aos mais puritanos relembro que os espíritos verdadeiramente eruditos usam do privilégio de apreciar a arte efémera (quantas vezes perpetuada pelos insondáveis desígnios das modas), um privilégio proibido àqueles cuja sorte ou azedume gerou uma mente limitada ou preconceituosa. Um fenómeno que a democracia jamais conseguirá superar.
Convoquei a miudagem para que logo às 21,00hs larguem as suas rotinas e o Canal Disney para assistirmos todos juntos à transmissão da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres. Sabemos bem que em matéria de pompa e circunstância os ingleses são insuperáveis.
Descontando uns quantos fanáticos que estarão no estádio da luz, tudo aponta para que logo à noite mundo inteiro se reúna a assistir em directo a um acontecimento histórico.
Blanka Vlasic
Pelayo, o primeiro rei das Astúrias, rodeado por todos os dias de hoje, bronze que perdura, a cruz da Reconquista bem erguida... - Há muito de lenda, a realidade pouco foi do que se conta - avisava a Senhora, no fatal relativismo dos literatos distraídos. Como se a sua escrita corresse então numa rópia de factos, rigores, precisões matemáticas...
Talvez rudes peles sebosas o cobrissem somente. Talvez a coroa ainda viesse a ser adorno. E, em vez da espada, talvez utilizasse qualquer bocado de ferro, contundente ou perfurante - mas afamado e temido entre picos e defiladeiros do Reino inexpugnável. Lendário.
E transportado ao Presente num cortez, empolgante aparato de guerra. Porque não?
Os mitos também são a História. Serão mesmo as raízes que lhe dão consistência. Acautelemos as nossas, as de cada um. Que extraordinárias lendas contarão os vindouros a nosso respeito? Aqui em baixo, no planeta, que céu ou inferno viveremos na eternidade das palavras dos nossos sucessores?
A propósito das declarações e do plebeísmo utilizado por PPC, a Dra. Filomena Mónica numa recente entrevista ao DN mostrou-se muito enfadada com a qualidade da classe política. É irónico, mas não conheço personalidade publica mais possidónia, mais socialmente em bicos de pé do que esta nossa ilustre dama de sociedade. A seu favor vale-lhe a obra científica publicada - a outra (que não li) sustenta esta minha opinião. Mas acontece que na vida, nós somos aquilo que somos, temos o lugar que temos: é absolutamente impróprio pretendermos impingi-lo ao olhar dos outros.
Muito mais Dalai no Blog do Dalai Lima
A poucos dias de partir para banhos relaxar um pouco, oiço na telefonia uma douta especialista na matéria, avisando que a ciência descobriu que não se deve expor o corpo ao sol… entre as 11,00 da madrugada e as 17,00 da tarde! Tenho a impressão que também esteve a falar uns minutos sobre alimentação saudável, mas de tão deprimido, disso já não apanhei nada.
*Com a V. licença...
Porque não podem as nossas revistas ser assim?
Nem a proletarização das redacções, nem o tempo de férias, nem a histriónica bloguização do noticiário político nas TVs justificam que durante quarenta e oito horas, boa parte da Comunicação Social, com a SIC à cabeça, tenha vivido agarrada a uma frase bombástica de Passos Coelho, não pela sua substância mas pela utilização de um plebeísmo, afinal tão vulgar e bem aceite entre os camaradas da revolução dos cravos e pelas "elites" da esquerda, pá! Sintomáticas me pareceram as quarenta e oito horas que a oposição socialista, pela voz de Zorrinho, demorou a apanhar boleia do coro da SIC com alguns blogues e "fecebooks".
A frase do primeiro-ministro "Se algum dia tiver de perder umas eleições para salvar o País, que se lixem as eleições. O que interessa é Portugal" reflecte uma legítima preocupação de uma parte dos portugueses que têm consciência de como o clientelismo e a demagogia eleitoralista dos partidos conduziram, de promessa em promessa, de concessão em concessão, o país ao abismo da bancarrota.
De facto nunca foi tão pertinente como nestes dias, a máxima do Nobel da literaturade Anatole France “Não há governo popular, governar é criar descontentes”. Não estou nada certo de que o primeiro-ministro tenha a noção profunda deste paradigma, mas tenho a certeza de que a matéria que urge utilizar para as manchetes e ser debatida com bons especialistas nos Media são assuntos difíceis, como as máfias e os lóbis que sequestram o Estado e a política, o próprio sistema que tarda a reformar-se, o desmantelamento do sedento monstro que sufoca a economia e a iniciativa privada, ou a Justiça inoperante que apenas serve os mais poderosos. Aquilo em que uma "comunicação social responsável" se devia empenhar era no confronto dos governantes com as promessas que tardam cumprir e com as quais sustentavam uma suposta diferenciação de políticas com os seus antecessores.
O jornalismo, como a governação, deveria ser tido como coisa séria, e a sua orientação entregue a gente erudita, íntegra e sem agendas ocultas. No caso dos Media exige-se redobrada responsabilidade porque estes detêm demasiado poder que não pode ser fiscalizado nem é sufragado.
"A mesquinhez, o egoísmo, o disparate arrogante, a completa falta de sentido moral, a incapacidade crónica de amar: eis o retrato exaustivo de uma mulher “psicanalizada”.
Michel Houellebecq
in “Extensão do Domínio da Luta" roubado daqui:
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Sempre disse e continuo a dizer, ou escrever, no c...
Boa tarde,Não consigo ler o texto, o link pede din...
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